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Caso Prático

No dia 2 abril de 2019, foi celebrada, pelo


prazo de dois anos, uma convenção coletiva de
trabalho Y entre a empresa A e o sindicato X,
cujo entrada em vigor ocorreu um mês depois.
Na referida empresa:
- João é filiado no sindicato X;
- Ricardo é filiado no sindicato Z;
- António não está inscrito qualquer sindicato.
a) Imagine que em Maio de 2019 é
consultado por António no sentido de este
beneficiar da aplicação dessa nova
convenção coletiva agora celebrada entre a
entidade empregadora e o sindicato X.
- Filiação posterior

Ou

- Escolha Individual

Em que termos??
2) Suponha agora que em Agosto de 2020,
a empresa A cedeu a exploração do
estabelecimento à empresa B. Do ponto de
vista convencional, qual o estatuto dos
trabalhadores João, Ricardo e António?

Transmissão do estabelecimento
Artigo 498.º
1 - Em caso de transmissão, por qualquer título, da titularidade de
empresa ou estabelecimento ou ainda de parte de empresa ou
estabelecimento que constitua uma unidade económica, o
instrumento de regulamentação colectiva de trabalho que
vincula o transmitente é aplicável ao adquirente até ao termo
do respectivo prazo de vigência ou no mínimo durante 12
meses a contar da transmissão, salvo se entretanto outro
instrumento de regulamentação colectiva de trabalho negocial
passar a aplicar-se ao adquirente.
2 - Após o decurso do prazo referido no número anterior, caso não seja
aplicável ao adquirente qualquer instrumento de regulamentação
coletiva de trabalho, mantêm-se os efeitos já produzidos no
contrato de trabalho pelo instrumento de regulamentação
coletiva de trabalho que vincula o transmitente, relativamente às
matérias referidas no n.º 8 do artigo 501.º
3 - O disposto nos números anteriores é aplicável a transmissão,
cessão ou reversão da exploração de empresa, estabelecimento ou
unidade económica.
4 - Constitui contraordenação grave a violação do disposto no n.º 2.
3) Suponha agora que, imediatamente após
a cessão de exploração do estabelecimento,
a empresa B passou a aplicar a convenção Y
a João. Contudo, hoje B comunicou a João
que deixará de o fazer em breve, já que em
maio a convenção expirará o seu prazo de
vigência.

João protesta invocando que a convenção


goza de uma espécie de ultra-atividade.
Âmbito temporal CCT - vigência,
cessação e sobrevigência – arts.
499.º a 503.º
- As partes fixam o período de tempo durante
o qual a CCT vigorará.

- Ou sejas, as CCT perduram durante o prazo


definido pelas partes e renovam-se nos
termos nelas previstos – art. 499.º, n.º1.

- No silêncio das partes quanto ao prazo  1


ano, renovando-se sucessivamente por
idênticos períodos (art. 499.º, n.º 2)
- A CCT pode prever a sua não renovação;

- E quando a CCT prevê um prazo certo e


nada diz sobre a renovação?  Renovação
anual
Notas
- As CCT têm necessariamente de gozar de um
mínimo de estabilidade, porquanto regem
condições de trabalho que perduram no
tempo;

- Tendo consciência desta necessidade, o


ordenamento jurídico procura evitar a pura e
simples cessação da vigência da CCT,
condicionando os respetivos meios extintivos
e propiciando a revisão.
- A previsão de um prazo de vigência visa
articular estas duas dimensões:
- Função de conservação do vínculo;
- Função de flexibilidade, para adaptação e
renovação.

- Estabilidade assegurada por períodos de


vigência, de renovação sucessiva e
automática e ainda pelo prolongamento
da CCT cujo prazo de vigência terminou
(sobrevigência).
- Adaptação  assegurada pela
possibilidade de revisão e substituição por
nova CCT (denúncia unilateral, pe);
cessação pela revogação (bilateral) ou por
caducidade (efeito da denúncia).
Início da vigência vs Término da
vigência

- Início  após a publicação – art. 519.º,


n.º1
Cessação
1) Denúncia  culmina na substituição da
CCT ou na caducidade

2) Acordo de revogação
Denúncia
- Declaração de vontade que visa a
substituição ou cessação da CCT;
- Não tem efeitos extintivos imediatos;
- Culmina, então: na substituição da CCT ou
na sua cessação.
- Inicia-se mediante comunicação escrita
dirigida à outra parte, acompanhada de
proposta negocial global.
- Denúncia como acto construtivo –
acompanhada de proposta, elaborada nos
termos do art. 486.º (art. 500.º, n.º 1)
- Deverá ainda incluir os motivos de ordem económica ou
estrutural ou desajustamentos do regime da convenção
denunciada que determinam aquela denúncia. (n.º 2) –
fundamentação (alteração pela Agenda do Trabalho Digno –
possibilidade de requerer arbitragem para avaliar a
fundamentação da denúncia)

- Quem promove a denúncia deve remeter cópia da mesma


ao serviço competente do ministério responsável pela área
laboral, juntando a proposta negocial global. (n.º 3)

Ou seja, proposta negocial global + fundamentação +


comunicação
- Preferência pela substituição da CCT e não
simplesmente a sua caducidade
Não vale como denúncia a mera
proposta de revisão da CCT (art.500.º,
n.º 4)
Efetuada a denúncia acompanhada
da proposta?
- A CCT não cessa automaticamente;

- Iniciando-se o período de sobrevigência


durante o período que decorra a
negociação ou, no mínimo, durante 12
meses. – art. 501.º, n.º 3
- Sempre que se verifique uma interrupção
da negociação, incluindo conciliação,
mediação ou arbitragem voluntária, por
um período superior a 30 dias, o prazo de
sobrevigência suspende-se. (n.º 4);

- O período de negociação, com suspensão,


não pode exceder o prazo de 18 meses.
(n.º 5)
Reforma de 2019 – Lei n.º 93/2019
- Art. 501.º-A
- Suspensão do período de sobrevigência é determinado por
uma decisão arbitral;
- Se o tribunal concluir que existe uma probabilidade séria de
as partes chegarem a acordo para a revisão total ou parcial
da convenção denunciada  suspende o período de
sobrevigência.
- Esta suspensão não conta para o cômputo do prazo máximo
de 18 meses.
- Alterações Agenda do Trabalho Digno: quando pedida
e o tribunal conclua que não há probabilidade de
acordo OU quando as partes não cheguem a acordo ->
possibilidade de as partes recorrerem a arbitragem
necessária.
- Findos este períodos  a convenção
mantém-se em vigor durante 45 dias após
qualquer das partes comunicar ao
ministério responsável pela área laboral e
à outra parte que o processo de
negociação terminou sem acordo, após o
que caduca. (art. 501.º, n.º 6)

- Prazo de 45 dias  visa estabelecer as


condições/efeitos da caducidade
(demonstrado pelo art. 501.º, n.º 7)
- Caducidade  não determina a cessação de todos
os efeitos da CCT no Contrato de Trabalho  art.
501.º, n.º 8:

- Mantêm-se os efeitos acordados pelas partes


- Ou, na sua falta, os já produzidos pela convenção
nos contratos de trabalho no que respeita à:
- retribuição do trabalhador,
- categoria e respetiva definição,
- duração do tempo de trabalho,
- regimes de proteção social cujos benefícios sejam
substitutivos dos assegurados pelo regime geral de
segurança social ou com protocolo de substituição do
Serviço Nacional de Saúde, de parentalidade e de
segurança e saúde no trabalho.
- Caducidade poderá ainda resultar
 extinção de associação sindical ou
associação de empregadores outorgantes.
(art. 502.º, n.º1, al. b), subalínea ii))

- Procedimento de controlo à fraude à lei


art. 502.º, n.º 7
Revogação
- Acordo entre as partes com efeito
extintivo sobre a CCT celebrada entre
aquelas.

- Deve ser objeto de depósito e publicada


no BTE – art. 502.º, n.º 4.
Caso Prático
No BTE de fevereiro de 2020 foi publicada
uma CCT outorgada por um lado pela
Associação Portuguesa de Empresas
Metalúrgicas e, por outro, pela Federação
dos Trabalhadores Metalúrgicos, nela se
estabelecendo um prazo de vigência de um
ano. Nos termos da CCT, as novas tabelas
salariais produziriam efeitos a partir do dia 1
de janeiro de 2020.
1) Qual o início da vigência da presente
convenção?

2) Será a presente CCT objeto de


renovação? Art. 499.º

3) Imagine que, em agosto de 2020, a


Associação Portuguesa de Empresas
Metalúrgicas pretende denunciar a CCT.
Poderá fazê-lo? Em que termos?
4) Suponha agora que a CCT foi
efetivamente denunciada pela APEM. Foi
dito a António – filiado num dos sindicatos
da Federação outorgante – que, embora
tivesse havido denúncia, a CCT manter-se-ia
até ser substituída por uma outra, porque
entre nós vigora um princípio da
sobrevigência potencialmente ilimitada.

Será esta informação juridicamente


acertada?
5) Verificada a caducidade da referida
convenção, a sociedade A, membro da APEM,
reduziu imediatamente os salários de todos os
trabalhadores, aduzindo o argumento de que já
não estava vinculada pelas tabelas salariais da
CCT caducada. Quid iuris?

6) Suponha por fim que APEM e a FTM


optaram por revogar a referida CCT e celebrar
uma nova. Poderá esta última prever tabelas
salariais com salários mais baixos do que os
constantes da tabela anterior?
Art. 503.º
Sucessão de CCT
1 - A convenção colectiva posterior revoga integralmente
a convenção anterior, salvo nas matérias expressamente
ressalvadas pelas partes.
2 - A mera sucessão de convenções colectivas não pode
ser invocada para diminuir o nível de protecção global
dos trabalhadores.
3 - Os direitos decorrentes de convenção só
podem ser reduzidos por nova convenção de cujo
texto conste, em termos expressos, o seu carácter
globalmente mais favorável.
4 - No caso previsto no número anterior, a nova
convenção prejudica os direitos decorrentes de
convenção precedente, salvo se forem expressamente
ressalvados pelas partes na nova convenção.
Caso Prático
No passado dia 27 de março, os trabalhadores da fábrica
Autoeuropa realizaram uma greve com o propósito de
manifestarem o seu desagrado contra as novas formas
de organização do tempo de trabalho que a empresa
pretende implementar.

A greve, que havia sido convocada pelo Sindicato dos


Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e
Atividades do Ambiente do Sul, foi decretada por cinco
dias e consistiu numa paralisação total dos trabalhadores
junto às instalações da fábrica.

1. Classifique a greve descrita.


Greve
Noção jurídica de Greve
- Direito de matriz constitucional, previsto no art.
57.º da CRP e regulado pelo CT nos arts. 530.º e
ss.

- Não é cedida pela CRP, nem tão-pouco pela lei


uma noção jurídica da greve;

- Tarefa que a doutrina vem desenvolvido com


dados mínimos retirados do regime jurídico
existente: qualquer definição seria redutora e
poderia conduzir a uma limitação inadmissível do
direito à greve.
Greve como suspensão coletiva e concertada
de prestação de trabalho por um grupo de
trabalhadores tendo em vista exercer pressão
no sentido da obtenção de uma finalidade ou
objetivo comum.
Elementos identificativos
- A abstenção total da prestação de trabalho;

- Coletiva e concertada (conjunto de indivíduos) –


quanto ao movimento e quanto aos seus fins;

- Trabalhadores subordinados;

- Elemento finalístico.
A abstenção total da prestação de
trabalho
- Abstenção que parece resultar desde logo
das soluções/regime do CT: suspensão do
Cont.Trab.; perda do salário;
cessação/paralisação dos deveres de
subordinação e assiduidade;

- Greve clássica – abstenção total, da


totalidade dos elementos que constituem
a prestação de trabalho
- Greve clássica não integra como tal a
abstenção meramente parcial, com
paralisação de parte da atividade devida
ou que haja prestação de atividade mas
de modo distinto do definido pelo
empregador ou do que é usual, pe, greves
de zelo.
Coletiva e concertada
- Comportamento conjunto concertado quanto
aos seus fins;
- Conjunto de trabalhadores;
- ≠ de um conjunto de abstenções individuais.
Trabalhadores subordinados
- Fenómeno típico e característico de
trabalhadores subordinados.

- Greve de estudantes, greves de


consumidores não são greves para efeitos
jurídico-laborais
Elemento finalístico
- Móbil da abstenção;

- Pretensão comum aos trabalhadores


envolvidos.

- Motivos da greve?  Art. 57.º, n.º 2 CRP


e 530.º, n.º 2 CT São os trabalhadores
que têm competência para definir o
âmbito de interesses a defender.
- Interesses não se cingem aos interesses
meramente profissionais;

- Interesses próprios (não necessariamente


exclusivos) dos trabalhadores enquanto
tais.

- Interesses estes que podem ser das mais


diversas índoles.
Critérios de classificação
1) Fins: profissionais ou laborais vs
extraprofissionais não laborais;

2) Objetivo: greves ofensivas vs greves


defensivas

3) Finalidade: greves principais ou


autónomas(finalidade própria) vs acessórias
ou de solidariedade (apoio a outros
fenómenos grevistas).
4) Entidade deliberativa: sindicais vs não
sindicais (art. 531.º CT)

5) Modo de paralisação e dos meios


- greves próprias vs greves
atípicas ou impróprias;

- greves clássicas vs greves de


maior prejuízo
Caso Prático:

- Profissional;
- Defensiva;
- Principal ou autónoma;
- Sindical;
- Própria e Clássica.
Caso Prático
No dia 20 de março, foi decretada uma greve pela assembleia de
trabalhadores de uma empresa – uma fábrica de produção de
bens alimentícios – com o intuito de reclamar uma mudança de
legislação em matéria de gestão de resíduos, no sentido de
viabilizar soluções mais ecológicas e sustentáveis.

De acordo com a deliberação de greve, os trabalhadores não


deveriam ligar as máquinas da fábrica durante as paralisações
totais ao trabalho de duas horas após quatro horas de trabalho.
Pretendia-se, desta forma, impedir a produção durante o período
em que havia um regresso ao trabalho, pois as máquinas,
embora ligadas logo no início do regresso ao serviço, só
começavam a produzir após 8 horas de aquecimento.
- Extra-Profissional;
- Ofensiva;
- Principal ou autónoma;
- Não sindical;

E quanto aos meios e modo de


paralisação??
Greves próprias vs Greves
impróprias ou atípicas
- Greve própria  abstenção coletiva da
prestação de trabalho;

- Greve imprópria  ao cumprimento


defeituoso do contrato; cumprimento da
prestação em moldes diferentes dos habituais.
- Meios de luta laboral nos quais,
- Não ocorre uma verdadeira abstenção ou
ocorrendo é meramente parcial;
- Mera perturbação da prestação;
- Equivalente ao cumprimento defeituoso do
contrato;
- Com eventuais consequências
disciplinares.
- Greve de zelo – tarefas são efetivamente
todas exercidas, de modo tão detalhado e
minucioso que acabam por causar a
desorganização do processo produtivo;

- Greve de rendimento – diminuição do


ritmo de trabalho e consequente redução
dos resultados
- Greve da mala – sector dos transportes
consistente numa abstenção da cobrança de
bilhetes, embora os trabalhadores dela
encarregados se encontrem presentes e
realizem as demais tarefas de que estão
incumbidos.

- Greve da amabilidade – ausência de


cortesia para os cliente, mas executa
prestação principal.

- Greve administrativa – efetua prestação


principal, ignorando prestações acessórias.
Greves de maior prejuízo vs Greves
clássicas
- Verdadeira abstenção de trabalho;

- Inserem-se no âmbito da greve, enquanto


direito dos trabalhadores;

- Ilicitude é discutida somente por


referência ao modo e efeitos da mesma.
- Desequilíbrio entre o tempo formal de
paralisação e o tempo efetivo de não
aproveitamento da disponibilidade dos
trabalhadores pelo empregador;

- Com consequente desproporção entre a


perda salarial dos grevistas e o prejuízo
causado à entidade patronal;

- período formal de greve vs o tempo real


de inatividade
- Greve intermitente – paralisações por períodos
sucessivos e curtos, tornado inaproveitável a
disponibilidade nos períodos intercorrentes;

- Greve rotativa – paralisação por sectores


sucessivos, impedindo a laboração mesmo nos
sectores não formalmente em greve  quebra da
cadeia produtiva;

- Greve trombose – paralisação de um sector-


chave que provoca a inoperacionalidade, dos
restantes, mas a reivindicação é comum.
- Greve retroativa – desencadeada num
momento em que torna inútil todo o
trabalho prestado até ao momento.
E a Greve self servisse? – durante o
período de greve, normalmente de duração
prolongada, não ocorre uma paralisação
concertada  os trabalhadores
individualmente decidem quando parar 
imprevisibilidade
Greves de maior prezuízo:
- Maximizam os prejuízos do empregador;
- Mitigando as perdas salariais:
- Para alguns autores seriam ilícitas porque
não existiria proporcionalidade entre os
interesses prosseguidos e os prejuízos
causados;
- Mas a verdade é que não se deteta na lei
qualquer limite ao prejuízo decorrente da
greve, sendo inclusive uma das suas
finalidades.
No entanto, elas correspondem a uma
greve total clássica, pela soma dos
períodos de paralisação em todos os
sectores afetados, devendo, por isso, o
desconto remuneratório abranger o
tempo real de inatividade dos
trabalhos e não apenas o tempo formal
da greve de cada um.

Princípio realista/da substancialidade


Caso Prático:
Greve intermitente
Natureza Jurídica e Exercício
- Direito dos trabalhadores subordinados
enquanto tais.
- O momento decisivo para o exercício do
direito à greve é ADESÃO INDIVIDUAL.

- Adesão à greve presume-se pela


ausência do trabalhador no local de
trabalho, sempre que tal presença é
exigível:
- Presunção ilidível;
- Quando não é exigível, a adesão tem de ser expressa.
- Admite-se a greve à margem das associações
sindicais, embora denote caráter muito residual em
Portugal (531.º, n.º 2 CT).
- A competência primeira para declarar a greve
pertence às associações sindicais (questão da não
inconstitucionalidade desta solução);
- No entanto o trabalhador não sindicalizado pode
aderir a uma greve convocada por sindicato cujo
âmbito subjetivo e geográfico o abranja, mas não
poderá contribuir para a formação da vontade coletiva
da greve (duração, motivos, interesses,…)
- A par desta solução encontramos ainda o art. 531, n.º
2 CT, que permite declaração de greve por impulso de
assembleia de trabalhadores (atenção diferente da
comissão de trabalhadores), mediante a
verificação dos requisitos na lei postulados.
- No entanto, mesmo que declarada pelas
associações sindicais, estas surgem como
meio de exercício da abstenção coletiva e
não como titulares desse direito.
- O momento decisivo é, assim, a adesão
individual através da qual o trabalhador deixa
de prestar o trabalho que seria devido.
- Portanto, a greve é um direito dos
trabalhadores individuais, viabilizado pela
dimensão coletiva do fenómeno;
- Direito individual com uma dimensão coletiva
que faz parte do seu conteúdo e é condição
da sua efetivação.
Caso Prático
Com o intuito de protestar contra uma recente reforma laboral
implementada pelo Governo, o Sindicato dos Trabalhadores dos
Aeroportos deu, com oito dias úteis de antecedência, pré-aviso de
greve que teria lugar nos aeroportos de Lisboa e Porto. A greve foi
decretada por sete dias (3/4/2020 a 9/4/2020), mas apenas para a
parte da tarde, mais precisamente, das 14h às 19h. Responda,
justificando legal e doutrinalmente, às seguintes questões:

1) O empregador, entretanto, contrata novos trabalhadores a termo,


mas a tempo parcial. Poderá fazê-lo?

2) Imagine que, no dia 4/4, António, enquanto elemento do piquete de


greve, entrou nas instalações do aeroporto do Porto, para incentivar
alguns colegas seus a aderir ao protesto. Mais tarde, a administração,
invocando a entrada do piquete de greve no interior do aeroporto,
considerou a greve ilícita e decidiu sancionar disciplinarmente António
com 12 dias de suspensão com perda de retribuição. Terá razão?
- Pré-aviso de greve (art.534.º)
- Exigência que não elimina o direito à greve,
- Apenas o condiciona, representando uma
manifestação das regras da boa-fé neste domínio.
- Evitar “greves surpresa”.
- Exigências de antecedência mínima e 5 ou 10
dias úteis conforme as atividades em causa;
- Por meio idóneo;
- Proposta de serviços mínimos, quando aplicável.
- Dar conhecimento público:
- Tempo adicional para resolver conflito;
- Momento relevante para aferir a proibição do
empregador substituir trabalhadores grevistas.
Piquetes de greve
- Art. 533.º

- Grupos organizados de trabalhadores cuja função


consiste em, no decurso da paralisação,
desenvolver atividades tendentes a persuadir os
trabalhadores a aderirem à greve

- Meios pacifícos.

- Respeito pela liberdade de trabalho dos não


aderentes
- Admissibilidade ou não da presença de
piquetes de greve nas instalações da
empresa?
- Admissível nos termos previstos no regulamento
interno para a circulação de trabalhadores fora do
período normal de trabalho – Menezes Cordeiro

- Contrato de trabalho encontra-se suspenso 


acesso às instalações pode ser vedado pelo
empregador por força do direito de propriedade –
Bernardo Lobo Xavier; Pedro Romano Martinez

- Art. 405.º, n.º 2 + limites do art. 533.º - João


Leal Amado
Proibição de substituição de
trabalhadores grevistas
- Permite-se:

- A reorganização interna de serviço, da


atividade produtiva;
- A redistribuição de tarefas;
- Mudança de trabalhadores de atividade e de
local dentro do mesmo sector ou
estabelecimento da empresa.
- Mobilidade funcional.
Proibido:

- Art. 535.º, n.º 1

- O empregador não pode, durante a greve,


substituir os grevistas por pessoas que, à
data do aviso prévio, não trabalhavam
no respetivo estabelecimento ou
serviço nem pode, desde essa data,
admitir trabalhadores para aquele fim.
3) Qual a situação jurídica dos contratos de
trabalho dos grevistas?

Efeitos da Greve sobre os contratos de


trabalho?
Suspensão do Contrato de Trabalho
- Art. 536.º CT
- Impossibilidade temporária da prestação
laboral não imputável ao trabalhador.
- Sendo a greve lícita  suspensão do
Cont.Trab.: não há lugar à aplicação do
regime das faltas, justificadas ou
injustificadas
- Retribuição? Paralisa;
- Poder disciplinar? Mantem-se atendendo
aos deveres que se mantenham.
4) Suponha agora que a administração veio
invocar a ilicitude da referida greve,
atendendo ao compromisso assumido pelo
Sindicato dos Trabalhadores dos Aeroportos
em convenção coletiva de trabalho, “de não
decretar qualquer greve durante a vigência
da convenção”. Quid iuris?
Limites à Greve
a) Motivos?
- art. 57.º, n.º 2 obsta a qualquer tentativa de ilegitimar a
greve em função dos motivos;

- Greve como meio de pressão dos trabalhadores não


circunscrito ao âmbito da negociação coletiva e da relação
laboral

- Instrumento de autotutela perante quaisquer instâncias que


adotem decisões suscetíveis de os afetar

- Limites: não ser constitucionalmente ilícitos; não sejam


irrelevantes para os trabalhadores, objetivos não poderão
colidir com interesses fundamentais da coletividade e dos
cidadãos.
b) Limites Externos/Legais

- Decorrem da necessidade de defesa de outros


interesses constitucionalmente garantidos;

- Art. 280.º, n.º 1 CC – não poderá ter conteúdo


impossível, visar escopos indetermináveis ou ser
contrária à lei, ordem pública ou bons costumes.

- Princípio da substancialidade ponderar a


realidade vertida no caso e não a sua aparência.

- Serviços Mínimos
c) Limites legais específicos

- Legitimidade

- Processamento

- Deveres acessórios
d) Limites estabelecidos em CCT

- Diretos  Dever de paz social (relativo)

- Indiretos  processamentos a observar


em caso de greve (Art. 542.º, n.º 1) 
autolimitações do direito à greve pelos
seus titulares.
Dever de paz social
- Apenas admissíveis cláusulas que não
esvaziem por completo o direito à greve;

- Irrenunciabilidade do direito à greve vs dever


de paz social?

- Renúncia ao direito ≠ Limitação temporária


- Dever de paz social absoluto: impede o
recurso à greve durante a vigência da CCT,
independentemente da motivação e objetivos
subjacentes  verdadeira renúncia 
inadmissível

- Dever de paz social relativo: impede o


recurso à greve durante o período legal
mínimo antes de cujo o termo a convenção
não pode ser denunciada e relativamente a
determinadas matérias objeto de acordo
nessa CCT, tendo em vista a sua revisão 
mera autolimitação ao seu exercício  lícita
Dever relativo de paz social
- Natureza obrigacional;

- Caráter expresso, voluntário e relativo;

- Possibilidade de desencadear greve por sindicatos que não


tenham outorgado a convenção ou

- Sobre matérias da CCT por assembleias de trabalhadores 


art. 531.º, n.º 2

- Limitação que se afasta quando a greve tenha como fundamento a


alteração anormal das circunstâncias em que as partes fundaram
a decisão de contratar ou o incumprimento da convenção coletiva
– 542, n.º 2.
Serviços Mínimos
- Limite externo;

- Satisfação de necessidades sociais impreteríveis –


aquelas cuja paralisação total poria em perigo no
imediato a satisfação dessas necessidades essenciais
da coletividade

- Art.537.º, n.º 1

- Tutela do interesse geral da comunidade e de direitos


fundamentais dos cidadãos

- Equilíbrio entre o exercício do direito à greve e o


sacrifício de interesses coletivos dele derivados.
- Não pode levar à supressão do direito à greve dos
trabalhadores que têm a seu cargo a obrigação de
prestar tais serviços

- Em causa está a necessidade de assegurar a sua


manutenção no mínimo estritamente indispensável à
cobertura dos direitos dos cidadãos

- Apenas existe tal obrigação quando inexistam outros


meios aptos a satisfazer tais necessidades

- Proporcionalidade dos sacrifícios e menor restrição


possível de cada um dos direitos em conflitos

- Conceito de serviços mínimos  conceito flexível


Ou seja, a medida dos serviços mínimos
prestados dependerá:

- juízo de oportunidade em cada caso


concreto;

- ponderadas que sejam diversas


circunstâncias: grau de adesão à greve,
duração, número de empresas afetadas,
existência ou não de atividades sucedâneas.
Ou seja,
- Sector de atividade satisfaz necessidades
sociais impreteríveis?

- A prestação que paralisa satisfaz essa


necessidade?

- Indispensabilidade dos serviços mínimos?

(divergências?)
Definição de serviços mínimos - Art. 538.º

Regime de prestação – art. 537.º, n.º 4  redução


teleológica do art. 536.º  a posição dos grevistas
incumbidos da realização de serviços mínimos é igual à
dos demais trabalhadores em serviço.  crítica

Incumprimento da obrigação de prestar serviços


mínimos  intervenção ao nível administrativo e não
disciplinar  o trabalhador que incumpre os serviços
mínimos não fica sujeito ao poder punitivo privado do
empregador  requisição civil ?  divergências
Requisição Civil
- A entidade patronal providencia junto do
Governo a requisição civil

- Faz nascer um vínculo público entre o


requisitado e o Estado

- Ato administrativo criador de uma relação


pública entre Estado e requisitados, agora
sujeitos ao poder disciplinar daquele.
Greve Ilícita
- Seja quanto aos fins, entidade que a
convocou ou modo de processamento
- Greve ilícita vs greve irregular
- Art. 541.º
- Faltas injustificadas
- Grevistas de boa-fé

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