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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

PROJETO LER NO DIREITO


IDEAS PARA ADIAR O FIM DO MUNDO – AILTON KRENAK

DEIVID ANTÔNIO DOS SANTOS

Belo Horizonte
2022
A Obra “Ideias para adiar o fim do Mundo”, de Ailton Krenak se divide em três
partes. Consiste em duas palestras realizadas em Lisboa, nos anos de 2017 e 2019 e
a adaptação de uma entrevista realizada em Lisboa, em 2017.

O livro é uma crítica a lógica cartesiana de divisão entre ser humano e natureza.

A obra está organizada em três partes: “Ideias para adiar o fim do mundo”; “Do
sonho e da terra” e “A humanidade que pensamos ser”.

No primeiro capítulo, o Autor faz uma reflexão problematizando o entendimento


de humanidade, que aos olhos dos colonizadores, os europeus brancos eram
favorecidos por uma humanidade que precisava ser compartilhada sobre aqueles que
possuíam uma “humanidade obscurecida”. O principal fundamento do processo de
civilização seria trazer luz a essa humanidade, por meio do encontro e trocas com a
“humanidade esclarecida”, civilizada.

Essa dinâmica, introduzia crenças e costumes estrangeiros, além de sinalizar


um modelo de bem-estar para o mundo, um padrão de vida, o que caracteriza as
metrópoles como reproduções umas das outras. Com essa proposta, o
distanciamento da terra é inevitável e louvável, uma “abstração civilizatória”, abrindo
espaço para a exploração desenfreada dos territórios tradicionais, anulando suas
pluralidades e seus hábitos.

Segundo o autor, “os únicos núcleos que ainda consideram que precisam ficar
agarrados nessa terra são aqueles que ficaram meio esquecidos pelas bordas do
planeta, nas margens dos rios (...), são caiçaras, índios, quilombolas, aborígenes, a
sub-humanidade”.

Para finalizar a primeira parte do livro, o Autor expõe que aos contar histórias
está se adiando o fim do mundo, pois significa romper com a dinâmica historicamente
construída de distanciamento da natureza, para viver momentos de circulação intensa
pelo mundo, em conexão com os saberes tradicionais.

No segundo capítulo, o Autor aborda o complexo relacionamento histórico entre


o estado brasileiro e as sociedades indígenas, no reconhecimento da legitimidade
desses grupos em manter suas culturas e seus territórios. Para o autor, “o que está
na base da história do nosso país, que continua a ser incapaz de acolher seus
habitantes originais, é a ideia de que os índios deveriam estar contribuindo para o
sucesso de um projeto de exaustão da natureza”.

Para finalizar, no terceiro capítulo, o autor da ênfase ao conceito de


Antropoceno, que de acordo com ele “tem um sentido incisivo sobre a nossa
existência, a nossa experiência comum, a ideia do que é humano. O nosso apega a
uma ideia fixa de paisagem da Terra e de humanidade é a marca mais profunda do
Antropoceno”.

Para o autor, o “fim do mundo” não é uma preocupação exclusiva do


Antropoceno, nem da dita ‘sociedade civilizada'. Existem diversos “fins do mundo”
possíveis, e estes podem assumir tantos significados quantos se puderem atribuir.

O protesto do autor é para não desistir, a capacidade de adiar o “fim do mundo”


estaria, enfim, ligada à resiliência, à qualidade de não desistir. Tal característica
espelha a luta dos nossos povos originários que resistem e insistem em adiar o fim de
seu mundo, da sua cultura e da sua organização social.

Nas palavras do autor, “o tipo de humanidade zumbi que estamos sendo


convocados a integrar não tolera tanto prazer, tanta fruição de vida. Então, pregam o
fim do mundo como uma possibilidade de fazer a gente desistir dos nossos próprios
sonhos. E a minha provocação sobre adiar o fim do mundo é exatamente sempre
poder contar mais uma história. Se pudermos fazer isso, estaremos adiando o fim”.

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