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1ª Edição
Brasil, 2020
Plágio é crime!
***
Acordo mais tarde hoje, me dou esse privilégio toda vez que fecho o
mês entregando os produtos que tenho compromisso. O dia seguinte reservo
para cuidar de mim, sair, fazer compras para casa, ir ao cinema e almoçar no
shopping pertinho de casa. Adoro fazer compras em várias lojas que tem no
Diamond, principalmente na padaria que fica em um supermercado gigante
nesse mesmo shopping.
Me levanto cheia de ânimo e gratidão, tomo meu banho, vou para o
andar de cima e preparo meu café com torradas e queijo cottage, adoro.
Me sento no canto onde tem um pequeno jardim de inverno e como,
desfrutando do sol delicioso que bate no sofá onde estou sentada. Observo as
pessoas e carros irem e virem e vejo que a vida flui como deve ser.
Termino o meu desjejum e lavo tudo, pois gosto sempre de deixar
tudo arrumado. Pego minha bolsa e saio para viver meu dia em gratidão a
tudo que tenho.
Desço de elevador e cumprimento Lúcio e vou a pé para o Shopping,
é pertinho e adoro fazer essa caminhada. Sinto o sol bater morno em minha
pele e fecho os olhos de contentamento.
Estou distraída pensando, quando ouço uma voz atrás de mim e gelo.
— Olá, menina brava. — Estaco e me viro lentamente, irada, sem
acreditar no que estou vendo.
— Você! É muita cara de pau, ou muito pau mandado mesmo! —
falo para ofender, dane-se.
— Bom dia para você, Lisa Melo. — O cara de pau diz, com um
imenso sorriso no rosto. Esse homem deve ser tão louco como o canalha de
seu chefe.
— O filho de uma égua parideira mandou você vir com uma nova
proposta? Já vou te adiantar, pega a proposta desse imundo e manda ele
enfiar no rabo. — Foda-se, não sou essa boca suja, mas esses homens estão
me dando nos nervos.
— Calma, menina brava! Ele mandou sim, e eu como um bom
empregado que recebo uma pequena fortuna, tenho que vir te fazer as porras
das propostas nojentas. Mas você aceita se quiser e tenho que fazê-las para
quando ele me perguntar se as fiz, não precisar mentir, odeio mentiras — diz
com calma e um meio-sorriso. Gostei desse cara.
— Minha resposta a esse verme de seu chefe sempre será não! O cara
para mandar pagar para ter uma mulher deve ser um demônio de feio, não é?
— Essa história já está me divertindo, não sinto receio com esse homem,
sempre tive esse feeling em relação as pessoas. Sinto que é uma boa pessoa.
— Você está coberta de razão, Lisa, eu mesmo disse a ele que isso
era um absurdo, mas ele não ouve ninguém, só faz o que quer — comenta
com um brilho triste no olhar.
— Como você trabalha para um ser asqueroso desses? Me parece um
homem de bem. — Arrisco dizer, enquanto andamos na avenida
movimentada.
Ele ergue os olhos e os fecha, quando os abre vejo seriedade neles.
— Esse homem me estendeu a mão quando eu estava no fundo do
poço, menina — diz com uma nota de gratidão misturada com tristeza.
— Então você faz tudo que essa criatura quer por gratidão? —
Espanta-me o caráter desse homem.
— Sim. Se não fosse ele, teria morrido nas mãos de traficantes, eu
devia a eles uma soma alta e ainda era alcoólatra. Minha vida era uma merda
e esse meu chefe, que você chama de escroto, foi o único que me estendeu a
mão. — Chegamos ao shopping e ele entra comigo.
— Você já tentou dar uns conselhos para esse cara maluco? — indago
sem entender o quanto eles parecem diferentes um do outro.
— Sim, mas como já disse, ele faz somente o que quer. É teimoso
igual a uma mula, mas quando você tem sua fidelidade, ele é o melhor cara
do mundo — diz com carinho se referindo ao amigo que para mim não passa
de um calhorda sem escrúpulos.
— Qual a proposta? — arrisco e o vejo ficar pálido e me olhar com
desgosto. Ele pensa que vou aceitar e pelo seu semblante ficou claramente
decepcionado.
— Ele quer você a qualquer preço. O que quer? — fala dando um
passo para trás e com o olhar frio e expressão distante. Bem diferente do
olhar doce que me dirigia anteriormente.
— Qualquer coisa? Um anel de brilhantes? Um colar de rubi? Um
apartamento? Uma viagem ao redor do mundo? — Conforme vou falando
seu semblante vai endurecendo mais e mais e vejo seu olhar se transformar
em desprezo.
— Sim, o que quiser. — Olho bem em seus olhos e falo baixinho e
suavemente.
— Pega tudo isso e enfia no cu de seu chefe e deixa o carro para
enfiar no seu, desgraçados. — Viro com os olhos cobertos de lágrimas de
humilhação e ando rapidamente para me esconder em algum lugar e chorar
muito.
Sinto uma mão enorme em meus braços, um puxão e me vejo sendo
esmagada por um abraço tão apertado que sinto dor.
— Eu sabia! Sabia, caralho! Sabia que não tinha me engando com
você, Lisa! — O homem que é um pau mandado me abraça com alegria.
— Me solta! — falo, indignada. — Não é isso que estou falando
desde o início? — O empurro com força, mas ele não arreda um milímetro.
— É isso aí, pequena, vou levar seu recado para meu amigo e patrão
bundão e quero muito ser seu amigo, se me permitir. Ainda que tenhamos
começado de forma equivocada — diz com os olhos brilhantes e com a
mesma ternura de antes.
— Não te conheço. — Sou curta e grossa. Depois das propostas que
esse homem me fez a mando de outro quero distância desses loucos.
— Prometo que não falo mais sobre as propostas absurdas que meu
amigo maluco mandou fazer a você. Ele que vá se foder e procurar outras
para comprar! — Pisca e me solta.
— Ele compra outras? — Fico abismada.
— Ele não tem limites, lembra? Faz o que acha certo e pronto. Mas
vamos falar de outras coisas. — Me puxa e paro em frente a uma loja de
chocolates que amo.
— Hum! Então gosta de chocolates? — Seu sorriso é gigante. —
Sempre soube que era preciosa. — Alarga o sorriso e entramos na loja.
— Bom dia, Artur. — Ouço uma mulher dizer.
— Artur? — pergunto, olhando para esse homem que entrou em
minha vida de forma estranha e inusitada, mas que me agrada de alguma
forma.
— Sim, Lisa, Artur a seu dispor. — Faz uma mesura galante e volta
para a moça que o cumprimentou.
— O de sempre, Artur? — Pisca para a mulher e confirma.
Vejo ela encher um saco de papel com barras de chocolates com
amêndoas e entregar a ele, que sorri largamente.
— Hoje você vai experimentar esse, Lisa. Depois que comer esses
aqui nunca mais irá querer outra marca, meu amigo é alucinado com essas
barras de chocolates com amêndoas — diz me estendendo o saquinho.
Sorrio, aceito e abro, pegando uma e mordendo. Fecho os olhos e
gemo alto. Delicioso!
— Ei, me dê um pedaço! — Artur pede e entrego a ele o saco com as
barras, ele pega e se despede da moça que me diz ser sua amiga.
O homem me acompanhou o dia todo, almoçamos, fomos a várias
lojas, comprei meus pães, frutas e livros.
Ele me ajudou a levar as sacolas até a portaria, onde Lúcio correu para
me ajudar.
— Bom, Lisa, como sua resposta é não, serei o portador das más
notícias, com muito prazer, para meu perturbado amigo — diz sorrindo e me
dando um beijo no alto de minha cabeça. — Gostaria muito de ser seu
amigo, se me permitir, sem segundas intenções, deixando isso bem claro, ok?
— Vou pensar e te falo... — digo, indecisa, afinal, não o conheço
direito e temos que ser cautelosos.
— Você está coberta de razão em se resguardar, mas qualquer dúvida
conversa com minha amiga de longa data, aquela da loja de chocolates, nós
somos sócios tem mais de 5 anos. — Sorri, pisca e vai embora.
Olho-o entrar no carro, ligar e piscar o farol quando passa por mim.
Sorri e retribuo. Dia louco esse. Mas foi muito divertido.
Essa semana fiquei preso nesse cubículo do caralho de apartamento
pequeno. Minha casa na Vila dos Ipês é imensa e me sinto asfixiado nesse
caixote. Sinto falta de caminhar nas ruas arborizadas e dos ipês que
compõem esse pequeno paraíso. Está começando a época de florada e os
cachos estão ocupando os lugares das folhas. E eu perdendo esse show da
natureza por causa de uma boceta que está se fazendo de difícil. Porra, já
estou aqui tem três dias e nada do Artur trazer a maldita que pensa que é
alguma coisa.
Toda vez que ligo para meu amigo, ele me diz que está tentando. Vou
ligar hoje e ver se finalmente consigo comer essa mulher. Essa miserável está
me dando canseira. Pelo visto vou ter que eu mesmo começar a agir. O que
me deixa mais irado foi que nunca precisei ir atrás de nenhuma mulher.
Cacete!
Pego meu celular e ligo para Artur, hoje ele foi novamente tentar
trazer a puta.
— E aí, cara? A puta já cedeu? — Passo a mão nos olhos, temeroso
de ouvir um não, já não penso mais com a cabeça de cima, a de baixo
comanda agora, nunca ouvi um não e receber pela primeira vez está difícil de
digerir.
— Nada, Raul. A mulher não cede, te aconselho a desistir. Escolhe
outra e vamos nós dois para o ataque. — Ouço ele dizer com a voz divertida.
Maldito!
— Nem fodendo, Artur, quero essa! Agora virou questão de honra. Se
você não conseguir convencê-la até o final de semana, pela primeira vez na
vida, vou atrás da uma mulher que rejeitou cada proposta que fiz. Se fosse
outra já teria comido e tirado da cabeça. Mas essa maldita se negando me
instigou a querer trepar com ela com mais vontade. — Ouço ele suspirar
fundo.
— Raul, pelo amor de Deus! Deixa a menina em paz. Ela não é como
as outras, já te falei isso mais de mil vezes, deixa de ser cabeça dura, homem!
Tem tantas mulheres neste mundo que trepariam com você sem essas
propostas inescrupulosas! Você é mais que isso, meu amigo! — Novamente
tenta me aconselhar com sua filosofia de vida certinha que me irrita demais.
— Eu quero essa mulher e ponto final. Vou esperar somente até o
final de semana. Se ela não vier por bem, eu já tenho um plano em mente e
em pouco tempo a terei abrindo as pernas para mim. E isso é uma promessa!
— desabafo, cansado de tanta recusa por parte dessa infeliz.
— Então, meu caro amigo, pode executar seu plano fadado ao
fracasso sozinho. E me exclua dessa sua ideia maluca. Estou fora e tenho
vergonha de sua atitude neste momento, você sempre foi um cara que admirei
demais. Porra, Raul, para que isso? Repense, amigo, deixa a menina em paz,
ela é inocente, diferente das mulheres que estamos acostumados, cara! —
Ouço ele defendê-la com garra e sinto raiva disso, não entendo o porquê. Só
sei de uma coisa, essa mulher se tornou uma obsessão em minha vida.
Doentia, talvez? O tempo dirá.
— Artur, estou há três dias aqui nessa pocilga, aguardando essa
boceta difícil de ser liberada, mas agora me cansei e vou para a Vila dos Ipês,
me pegue aqui quando tiver liberado os empregados e feito os pagamentos.
Me cansei disso, já te falei como será. — Artur se cala porque sabe que
quando me decido, dificilmente mudo de ideia.
— Como quiser, Raul. Em breve passarei aí e te levarei para a Vila
dos Ipês. — Desligo o telefone sem me despedir, estou cansado dessa
moleza que Artur tem para agir em determinados casos. Chega, minha
decisão está tomada e sei que a dele também. Ele não vai me ajudar porque
não concorda com o que quero e estou fazendo. Essa mulher o encantou de
alguma forma, será que já a comeu sabendo que eu queria primeiro? Me
pergunto encucado, mas tiro essa ideia maluca da cabeça, confio no Artur,
não na vadia. Em paz com tudo definido e decidido, pego meu telefone e ligo
para duas putas, ainda dá tempo de uma trepada antes de Artur chegar.
***
***
Acordo com o som do interfone. Fico quietinha, esperando o
descarado que me acordou de madrugada ir embora. Continua tocando, olho
o relógio e vejo que já são quase 10h. Puta merda, o Artur! Pulo da cama
correndo e vejo meu celular tocar e olho. Cinco chamadas perdidas. Tadinho.
Atendo o celular e interfone juntos.
— Artur? Pode subir.
— Lúcio, libera para o Artur subir, por favor.
Corro e escovo os dentes, visto rapidamente um vestido leve e quando
estou penteando os cabelos ouço a sineta que instalei na porta para me
chamarem, um som suave e delicado tinindo.
Saio correndo descalça e abro a porta com um sorriso gigante, gosto
de Artur.
— Bom dia, princesa! — Ele cumprimenta e me abraça. — Parece
que acordei a bela adormecida. — Sorri com carinho.
— Bom dia, Artur! Me desculpe, eu fiquei assistindo televisão até
tarde e perdi o horário. Entre e fique à vontade. — Me afasto da porta e ele
entra.
Vejo seus olhos correrem pelo ambiente e um sorriso rasgar seu rosto.
— Exatamente como imaginei. Tudo delicado, como você, Lisa —
diz sem segundas intenções, simplesmente expondo um fato.
— Eu gosto de coisas suaves e delicadas. Depois quero te mostrar
meu ateliê e tomar um café com você lá. Aliás, já tomou seu café da manhã?
— pergunto, caminhando para a escada que nos leva à cobertura, sendo
seguida por Artur que olha tudo com curiosidade e um largo sorriso.
— Já, mas tomarei de novo. — Ouço sua voz suave.
Quando chegamos no ateliê, me viro e olho para ele em expectativa.
— Uau! — Ele assobia e me olha. — Incrível! Menina, você me
surpreende a cada momento.
Caminha até as minhas araras onde ficam expostas os fios de pedras e
passa os dedos suavemente.
— São pedras naturais? — indaga, curioso.
— Sim, todas. Trabalho somente com elas, faço semijoias.
— Uau! Cada momento que passo, você me surpreende mais e mais.
Tão nova e tão madura — diz olhando tudo com interesse.
— Não foi fácil, mas consegui tudo com honestidade e trabalho,
Artur. Por isso fiquei tão ofendida com a proposta que o animal de seu patrão
mandou você me fazer. — Ele fica pálido e muito incomodado, sinto pena.
— Está aí uma coisa que me arrependo, Lisa. Peço do fundo do
coração que me perdoe. Já falei para ele que estou fora e me recuso a tocar
nesse assunto com meu chefe novamente. Ele é uma pessoa excelente, exceto
com mulheres, penso que sua mãe o deixou traumatizado com a raça
feminina — diz com pesar.
— Senta aqui, Artur, enquanto preparo nosso café e vamos
conversando. Chá ou café? — pergunto, colocando água para ferver.
— Café bem forte e sem açúcar, por favor — diz se sentando na
cadeira próxima à mesa.
— Mas o que a mãe desse homem fez que o tornou tão desprezível?
Ele me olha com tristeza, nota-se que ama esse seu amigo.
— Ela foi uma prostituta e ele foi fruto de um estupro. Ela jogava
isso na cara do menino sempre que podia. Então morreu de overdose quando
ele ainda era um garoto. Ele saiu de lá deixando a mãe morta, sem olhar para
trás. Lutou sozinho e venceu. Me ajudou de uma maneira que nunca vi
ninguém fazer. Eu era um viciado e estava jurado de morte, ele pegou
dinheiro emprestado e pagou minha dívida sem me conhecer e eu trabalhava
para ele há apenas uma semana. Depois desse dia jurei minha fidelidade a ele,
e cá estou.
— Faço as coisas por gratidão, pois não preciso trabalhar para ele,
tenho vários investimentos, mas deixando claro que tudo que consegui foi
com o salário imenso que meu amigo me paga. Sim, amigo, antes de patrão.
A falha dele é somente ao tratar mulheres. E se você conseguir sua confiança,
terá sua fidelidade independente de qualquer situação. Esse é meu amigo e
patrão. — Finaliza, com um sorriso sincero no rosto. E vejo que ele
realmente ama esse homem que para mim não passa de um escroto
asqueroso.
— Realmente ele foi um amigo verdadeiro para você, Artur, e
entendo sua gratidão e fidelidade, e apoio inclusive. Mas para mim ele não
passa de um cachorro sem vergonha. Um verme que se aproveita de sua
condição financeira para humilhar e obrigar as pessoas a fazerem o que ele
quer. Pessoas assim, uma hora acha um que os coloca no lugar — digo, pego
o café e coloco na mesa junto com queijos, biscoitos e pães.
Me sento e ele também e começamos a tomar o café em um clima
gostoso e amigável.
— Agora vamos deixar o assunto meu chefe de lado e vamos falar
sobre o que você quer fazer hoje — me diz, mordendo um pedaço fresco de
queijo branco.
— Podemos ir ao shopping, adoro passear por lá, o que acha? —
pergunto com os olhos brilhando, eu adoro ir ao shopping ainda mais com
uma pessoa para conversar, sempre vou sozinha, não tenho amigos, sou meio
antissocial.
— Claro que sim, Lisa. — Toma um gole de café e fecha os olhos.
— Delicioso!
Terminamos nosso café da manhã e descemos para ir ao shopping.
Subimos a avenida arborizada com imensos flamboyants cobertos de
flores e o chão forrado das pequenas pétalas avermelhadas que caem. Estou
feliz por ter essa conexão tão forte com Artur em tão pouco tempo.
Geralmente sou muito fechada com as pessoas que se aproximam de mim, e
Artur se aproximou de mim de uma forma bem inusitada.
Subimos conversando e rindo, entramos no shopping e vamos direto
para a loja de chocolates de Artur. Conversamos um pouco e logo em seguida
Sabrina e Artur vão para o escritório resolverem umas pendências. Enquanto
o aguardo, escolho vários chocolates e barras. Amo essa marca de chocolates.
Quando terminam, minha cestinha já está abarrotada, mas eles não
cobram minhas comprinhas. Insisto em pagar, mas eles me ignoram,
agradeço e saímos de lá para almoçarmos. Almoçamos e andamos no
shopping, olhando as lojas. Quando cansamos nos sentamos na pracinha e
tomamos sorvete.
E assim passamos uma tarde maravilhosa. Me senti muito feliz como
há muito tempo não sentia. Artur sempre um cavalheiro, me tratou com todo
respeito e vi em seus olhos o carinho de um amigo.
***
Ele me deixa em casa no início da noite e se despede dizendo que
ainda teria que ver se seu amigo precisaria de alguma coisa. E com um beijo
no alto de minha cabeça entra no elevador e vai embora.
Fecho a porta, subo com as compras e deixo todas na mesa. Depois
arrumo, estou muito cansada e anseio tomar um banho e descansar. Tomo um
banho bem demorado em minha banheira, coloco meu pijama fresquinho,
pego o romance que estou terminando e começo a ler. Suspiro de
contentamento, encosto nos travesseiros e acabo adormecendo.
Depois que Artur me avisou que iria sair no sábado e foi dormir,
fiquei encucado. Quem será a mulher que fez com que ele saísse em pleno
sábado, quando sei que gosta de ficar em casa? Ele ama cozinhar e sempre
fica na cozinha com Lili, inventando receitas e experimentos. E vamos falar a
verdade, o homem é bom cozinheiro. Sei que andou fazendo uns cursos de
culinária há pouco tempo.
Lili adora porque ela descansa no sábado. Sim, Artur tem a casa dele,
mas fica mais aqui do que lá, já chamei para morar aqui, mas o homem é
teimoso feito uma mula e não vem. Amanhã quando voltar do encontro deve
ir para sua casa.
Puta merda, sei que é feio isso, mas estou picado de curiosidade para
saber quem é a voz de anjo que fez Artur sair sem pestanejar no sábado.
Viro em minha cama de um lado para o outro quando tomo uma
decisão. Amanhã vou ver quem é essa mulher que fez Artur deixar seu vício
de lado, que é cozinhar com Lili e inventar novas receitas.
Me sinto tranquilo com a minha decisão e agora sinto o sono chegar.
Sorrio de satisfação me sentindo um verdadeiro Sherlock Holmes, ou um
maluco sem ter o que fazer. Foda-se, fiquei curioso, ou só mulher pode ser
curiosa? Artur, seu traíra sortudo! Coloco o despertador, pois preciso sair
junto com o meu amigo, pois não sei onde ele irá. Assim que deito eu
adormeço rápido, já passa de duas da manhã.
*
Quando ouço o barulho dele descendo a escada me levanto rápido,
me troco em segundos e desço logo atrás.
— Bom dia, pessoas — cumprimento, entrando na cozinha e vendo
ele e Lily tomando café e rindo de alguma coisa.
— Raul, o que está fazendo aqui a esta hora? — Lily pergunta com
os olhos arregalados. — Hoje é sábado, menino, e você gosta de dormir até
mais tarde. Aconteceu alguma coisa? — Vem e coloca a mão em minha
testa. Me abaixo para dar altura para ela fazer a conferência.
— Cara, o mundo vai acabar, Raul Magno Gorgoni acordou em pleno
sábado às 8h da madrugada! — diz e dá uma gargalhada debochada.
— Por que não posso querer acordar mais cedo? — pergunto,
emburrado.
— Claro que pode, só nunca vi isso, por isso estou abestado! — fala
imitando uma voz feminina fininha.
— Ah, Artur, vai se foder! — digo, puxo a cadeira e me sento, tenho
que comer alguma coisa antes de Artur sair, pois tenho que sair logo atrás.
Porra, estou me sentindo um verdadeiro detetive. Sorrio maligno.
— Vai sair, Raul? Quer que eu te deixe em um lugar específico? —
pergunta, educadamente.
— Não, tenho que resolver umas coisas, vou em meu carro mesmo,
obrigado -— agradeço sem dar detalhes.
— Ok, se precisar, à noite estou aqui ou em minha casa, ainda não me
decidi — diz e termina o seu café para logo em seguida se levantar. Me
levanto junto.
— Vamos sair juntos, Artur. — Beijo o rosto de Lili.
— Vocês vêm almoçar em casa? — ela pergunta.
— Não! — respondemos juntos.
— Vocês não tomam jeito mesmo, ficam comendo essas porcarias na
rua, tudo bem, farei uma janta fresquinha para quando chegarem e sem
desculpas, terão que comer, entenderam? — fala, já virando as costas e
começando a tirar a mesa.
Sorrimos um para o outro e vamos para fora.
Entro em meu carro e fico enrolando como se estivesse procurando
algo, até Artur ligar o carro e sair.
Espero de uns dois a três minutos e saio logo atrás. Ele continua
dirigindo suavemente, ainda estamos na Vila dos Ipês e aqui, o máximo
permitido de velocidade é 40 km/h.
Quando saímos pela portaria de entrada do condomínio, ele acelera o
carro e deixo que pegue distância e se misture com o trânsito. Vou seguindo
sem deixá-lo me ver, no momento tem uns cinco carros nos separando, mas
não o perco de vista.
Algum tempo depois ele está chegando perto da rua Augusto de Lima
e sinto um estranho frio na barriga.
Vejo-o parar em frente ao prédio onde mora a mulher das flores e
sinto meu rosto arder de ira.
Será que o desgraçado de Artur está fodendo a mulher que eu estou
lutando para comer e está me escondendo isso? Caralho. Se ele estiver
fazendo isso, irei ficar muito decepcionado com o homem que considero
como irmão.
O vejo cumprimentar o porteiro com intimidade e subir.
Caralho, olha o nível de intimidade da porra de meu ex-melhor amigo
com a reguladora de bocetas.
Sinto meu corpo tremer de ódio, ira e decepção. Desgraçado!
Não vou mandá-lo embora porque ele é muito útil, mas vou transferir
a porra do traidor para uma obra imensa que estou fazendo no Rio de Janeiro.
Fico umas duas horas observando e quando descem, vejo como estão
íntimos. Consigo enxergar a alegria da puta e a do traidor.
Eles vão a pé para o shopping e os sigo de longe. Vejo que entram na
loja de chocolates de Artur e sigo todos os passos deles. Quero saber tudo que
essa vagabunda faz para que eu possa executar meu novo plano em relação a
ela. Quero essa mulher comendo em minhas mãos e depois esfregar na cara
do pilantra do Artur que eu a comi enquanto ele estava fora. Amizade
quebrada, caralho de traidor. Combinamos de nunca foder a mulher que o
outro quisesse primeiro, depois tudo bem, mas antes, não! Ele sabia que eu
queria a porra dessa mulher.
Quando me canso de ver tanto melaço vou embora com ira no coração
e pronto para botar para quebrar. O estranho de tudo isso foi que Artur não a
beijou uma única vez, vai ver a vadia gosta de mostrar uma falsa descrição.
Mas eu vou desmascarar e destruir os dois. Amigo? Só se for do diabo! Pois
sim!
Chego na Vila dos Ipês tremendo de ira. Eles que me aguardem!
Tenho planos para os dois agora.
Ouço o barulho do carro de Artur chegando, muito tempo depois.
Agora o traidor está conversando com Lili. Como meu amigo pôde fazer isso
comigo? Por uma mulher qualquer?
Porra, sempre fiz tudo que pude por ele, até as minhas mulheres eu
dividia, penso com um aperto no peito.
— E aí, meu irmão?! Como foi o seu dia? O meu foi ótimo, um dos
melhores que já tive — diz me olhando e sorrindo de orelha a orelha.
Hipócrita!
— Foi ótimo, não tão bom quanto o seu, mas foi bom — digo,
fervendo por dentro.
— Aconteceu alguma coisa, Raul? — pergunta e senta-se de frente
para mim.
— Nada, Artur, nada que eu não possa resolver — digo e olho em
seus olhos para ver se ele deixa de hipocrisia e me conta logo que está com a
mulher das flores.
— Parece preocupado, Raul — diz e vejo sinceridade em seus olhos.
— Vou resolver, é coisa sem importância. — Resolvo colocar meus
planos em prática. — Na verdade, é um problema que estou tendo em uma
de minhas obras no Rio de Janeiro, Artur. E não posso ir lá agora porque
estamos finalizando o prédio da Afonso Pena. — Jogo a isca, vamos ver se
ele se oferece para ir.
— Mas até ontem estava tudo bem, o que aconteceu? — Noto a sua
preocupação.
— Problemas com as empreiteiras. — Passo a mão na cabeça e fecho
os olhos, me sinto mal em mentir para Artur, ainda que ele esteja mentindo
para mim.
— Porra, cara, quer que eu vá resolver? — Bingo! Não precisa que
eu o mande ir. Ele se oferece. Esse é meu amigo... quer dizer ex-amigo.
Porra, estou confuso. Mas foda-se. Ele vai e o caminho fica livre para a
continuação de meu plano. Ele aqui vai me atrapalhar.
— Cara, ia justamente te pedir isso, para você ir para lá amanhã cedo.
Quero que fique no Rio até a conclusão da obra e...
— Até a conclusão da obra? — ele me corta — Raul, isso deve levar
meses — diz, incomodado.
— Sim, Artur, verdade, mas será no máximo uns três meses, irmão.
— Baixo a cabeça em posição de derrota. — Mas se não quiser ir eu
entendo, afinal você está começando uma treta com a mulher que te ligou
ontem... — Tento arrancar algo dele.
— Não, sem problema. Somos apenas amigos — diz com calma e
meu coração sacode com culpa.
— Amigos? — Ele sorri e concorda.
— Sim, Raul, ela é uma moça honesta. Lembra da moça que você fez
as propostas indecorosas? — Meu coração quebra e sangra com o mau
julgamento que fiz do meu amigo. Minha vontade é de me esconder de
vergonha.
— Sim? — Tento disfarçar o mal-estar que sou acometido, se Artur
ao menos sonhar que o julguei ficará muito decepcionado comigo e isso me
matará.
— Propus a ela sermos amigos e ela ficou com muito receio. Depois
de conversar com Sabrina finalmente aceitou — diz sorrindo sem me
esconder nada.
— Perdão, Artur. — A desculpa escapa da minha boca em voz baixa
e sofrida.
— Perdão? Por que, Raul? — pergunta sem entender nada.
— Por te fazer muitas vezes agir contra sua boa índole no que se
refere a mulheres, eu devia te conhecer melhor. E por te julgar errado muitas
vezes. Me perdoa, amigo. Não precisa ir ao Rio de Janeiro, vou arrumar outra
pessoa — digo mergulhado até a alma no arrependimento.
— Não, eu vou, faço questão, até mesmo porque tenho umas coisas
para resolver lá, iria te pedir para ir em breve. — Sorri e isso alivia meu
coração.
— Posso saber o que é, ou é segredo? — pergunto, curioso.
— Claro, a filha da Sabrina mora lá e quero dar uma olhada na
menina. Sabrina me contou que precisa muito ir, elas estão com um pequeno
problema e Sabrina irá tentar resolver, sendo assim posso ajudá-la. — Artur
sendo Artur, penso. Esse homem faz o que pode para os amigos.
— Porra, cara, não sabia dessa história. Vá e tome o tempo que
precisar. Se precisar ficar lá mesmo depois da obra pronta sabe que tem todo
meu apoio, não é? — digo e me levanto, quebrado de arrependimento por ter
julgado meu amigo, e o abraço com os olhos cheios de lágrimas de desgosto
comigo mesmo. Tenho esse problema sério de confiar desconfiando, e isso
não é bom. Preciso aprender a perguntar antes de julgar ou acusar. Já agi com
muita injustiça nessa minha longa vida.
Ele me abraça e vamos para a cozinha jantar. A comida está quentinha
e cheirosa.
Quando digo que Artur vai ficar uns três meses no Rio de Janeiro, Lili
chora muito, a abraçamos e a acalmamos.
Depois do jantar subo e ligo para o escritório no Rio de Janeiro,
converso com o responsável pela obra e digo a ele que Artur chegará amanhã
para resolver os problemas e digo para fazerem o que ele mandar. O mais
interessante disso tudo é que a obra está realmente com problemas com uma
mulher que mora ao lado. Ela tinha concordado em vender seu lote e agora
com a construção iniciada a infeliz deu para trás e não quer vender mais a
porra do imóvel. Então tivemos que paralisar tudo e agora espero que Artur
resolva logo esse impasse, senão teremos mais prejuízos.
E de bônus a chapeuzinho estará sozinha e desprotegida, prontinha
para ser comida pelo lobo mau sem o lenhador por perto.
Sorrio de satisfação e pau duro. Me aguarda, dama das flores, vou te
despetalar toda.
Meu dia com Artur foi maravilhoso e espero que tenhamos mais dias
com esse companheirismo tão gostoso. Fico à vontade com ele, não vejo
segundas intenções em seus olhos.
Hoje acordo disposta e já dou uma bela faxina no apartamento.
Espalho essências pelo ambiente, utilizo jasmins, lírios e rosas. Adoro e não
deixo os difusores ficarem vazios nunca.
Troco as flores velhas por novas e quando termino de arrumar a parte
de baixo do apartamento, subo para preparar meu almoço, ou melhor, jantar.
Já são quase 19h.
Meu celular toca e vejo que é Artur.
— Boa noite, amigo! — cumprimento, feliz
— Boa noite, Lisa, como está, querida? — pergunta, sendo o
cavalheiro de sempre.
— Estou melhor agora que estou falando com meu amigo favorito de
todos.
— Quantos amigos você tem, Lisa Melo? — Sua voz tem um toque
de diversão.
— Amigo, amigo mesmo tenho… hum… bem...Você! — digo e rio,
me sentindo muito bem.
— Então está claro o porquê sou o preferido. Lisa, estou te ligando
para dizer que ficaremos sem nos ver por um tempo. Terei que fazer uma
viagem para o Rio de Janeiro para resolver um problema que está atrasando
uma das obras que meu patrão é responsável. — Fico triste ao ouvir isso. É
sempre assim, por isso quase não tenho amigos. Quando começo a me
apegar, de alguma maneira eles me deixam.
— Sério, Artur? Vou sentir sua falta, apesar de nos conhecermos há
pouco tempo. — Abro meu coração para ele, sem medo.
— Te entendo, pequena, me sinto do mesmo modo. De alguma forma
eu me sinto muito protetor com você, te considero como uma irmãzinha. —
Meus olhos se enchem de lágrimas.
— Quando voltará, tem data? — sussurro, triste.
— A obra está prevista para finalizar em três meses, se tudo der certo,
vai depender do problema que irei tentar resolver. Mas quero que me prometa
que qualquer coisa me ligará, ouviu? Eu irei tirar um final de semana quando
as coisas estiverem mais tranquilas e venho te visitar, tudo bem? — pergunta,
cuidadoso.
— Sim, eu prometo. Qualquer coisa te ligo e conto tudo! — digo e
tento animá-lo, porque vejo que está triste também.
— Vou confiar, Lisa. Qualquer coisa me liga, entendeu? Qualquer
coisa mesmo. Você tem um amigo aqui, como eu disse, apesar do pouco
tempo que nos conhecemos temos uma conexão maravilhosa.
Estou embarcando hoje às 10h e amanhã quando chegar eu te ligo,
combinado? — diz com mais força.
— Combinado, meu amigo querido, e você também, qualquer
momento que precisar conversar me chama, certo? — digo, feliz sabendo que
manteremos nossa amizade apesar dos meses distantes.
— Se arrumar um namorado, quero saber tudo sobre o safado antes de
você se apegar, promete, Lisa? — Ele agora tem a voz de bravo.
— Prometo, papai! E você se arrumar uma namorada quero saber
tudo, vamos ver se aprovo. Combinado, Artur?
— Combinado, querida! Temos um trato. Agora vou desligar senão
chegarei atrasado. Um beijo e se cuida! — despede-se de mim e sinto minha
garganta se fechar, vou chorar.
— Temos um trato. Boa viagem, Artur — despeço-me e caio no
choro. Preparo um chá de flor de laranjeira e me sento no sofá em meio ao
meu urban jungle. Fecho meus olhos e agradeço a Deus por ter me permitido
conhecer um homem tão simpático e gentil como Artur. Espero que nossa
amizade não se acabe com a distância.
Fico sentada pensando por horas e quando olho para a avenida, vejo
somente as luzes da cidade e quase ninguém na rua, olho meu relógio e
percebo que já é quase meia-noite. Puta merda, acho que cochilei.
Me levanto, apago as luzes e desço para tomar um banho. Quando
estou limpa e de pijama me deito e adormeço em seguida.
***
***
Já passou quase uma semana e nem sinal do Magnum. Será que fui
dura demais e ele desistiu?
Tem horas que meu medo me atrapalha demais. Primeiro homem que
me interessa de fato e fico fazendo charme.
Mas não vou ligar. Nunca fiz isso e não vai ser agora que farei.
Continuo meu trabalho, amo de paixão criar peças novas e essa
semana chegaram tantas pedras que a minha inspiração triplicou. Minha
playlist com músicas clássicas toma o ambiente com suavidade e trabalho
totalmente em paz e concentrada.
Saio do shopping de pau duro e assim que chego em meu carro pego
meu telefone, abro meus contatos e ligo para uma de minhas amantes.
Vou direto para o abatedouro, nem parece que trepei hoje de manhã.
Quando chego, tomo um banho rápido, meu pau está pesado, duro e
muito inchado, minhas bolas pesam, minha boca saliva só de pensar em Lisa.
Porra, essa mulher está me deixando louco.
A campainha toca e abro rapidamente a porta já puxando a mulher
pelos cabelos. Arranco sua roupa, coloco a camisinha rápido e entro de uma
vez em sua boceta já molhada.
Meto com força e seguro a mulher pelo pescoço, estocando com raiva
e desejo. Ela geme e dou um tapa forte em sua bunda grande, ela se esfrega
em meu pau enterrado até as bolas. Continuo metendo, mas falta algo e não
sei o que é, estou na borda, mas a porra do gozo não vem. Caralho. Arranco
meu pau da boceta da mulher, tiro a camisinha e mando ela chupar. Penso em
Lisa e o gozo vem com força, alago a boca e a cara da mulher. Olho com
desgosto a cara de puta que ela faz com a minha semente pingando de sua
boca e rosto. Saio da sala e mando ela tomar um banho e ir embora.
Quando ela se vai, eu me sinto um lixo e pego o telefone para ligar
para Lisa. Mas não tenho coragem, não depois de ter trepado há minutos. Me
sinto sujo e imoral. Estou ficando definitivamente louco. Porra, não tenho
nada com essa mulher.
Vou dar um tempo para me acalmar, depois quando estiver sob
controle novamente, pensando com a cabeça de cima, ligo para ela.
E assim a semana vai passando e eu sem um pingo de vontade de
trepar com outras mulheres. Até tentei várias vezes, mas a porra do pau só
fica duro quando penso em Lisa.
Fiz isso várias vezes, mas porra, ficar gozando em uma boceta
querendo e pensando em outra? Chega!
Seu tempo acabou, Lisa, quero sua boceta para acabar com essa
obsessão doentia e maldita.
Se prepara, borboletinha, agora vou entrar com tudo. Vontade,
artimanhas e pau!
Te como em breve, ou não me chamo Raul Magno Gorgoni.
***
Hoje vou ligar para a borboletinha. Quero comer essa gostosa até o
final de semana, senão vou enlouquecer.
Pego o telefone e ligo para ela. Porra, estou ansioso e meu coração
disparado, acho que preciso ir a um cardiologista urgente.
— Alô? — Quando ouço a sua voz de anjo, meu pau e coração
entram em sintonia e se manifestam juntos. Um fica duro igual aço e o outro
bate igual pandeiro.
— Lisa, tudo bem com você, querida? — Consigo falar, parece que
minha língua está colada no céu da boca.
— Magnum? — fala com doçura. Meu coração aperta, porra. Não
gosto da quantidade de mentiras que já criei para me dar bem com essa
menina. Nunca agi assim e estou começando a me sentir mal por estar agindo
como um escroto, mesmo sendo um.
— Sim. Trabalhando muito? — Mudo de assunto, vê-la me chamar
de Magnum me angustia.
— Trabalhando bastante. Eu estou terminando de montar um conjunto
aqui com as novas pedras que chegaram. — Conta com empolgação, já notei
que ela ama o que faz. Como Artur já havia me dito várias e várias vezes.
— Que maravilha! Será que você me convidaria para ver a sua
coleção de pedras e as peças criadas por você? — Tento induzi-la a me
convidar. Aguardo, para ver se morde a isca.
— Não te conheço o suficiente para trazê-lo para minha casa — corta
sem dó nem piedade.
— Prometo me comportar. — Sou descarado e insisto, tudo pelo
meu pau.
— Hoje não — diz com suavidade.
— Amanhã? — insisto, essa mulher está me dando canseira, caralho.
— Vou pensar — diz, está caindo na rede, meu peixinho, mas se
pensa que vou deixar rolar como ela quer está redondamente enganada. Raul
Magno não espera, ataca.
Continuamos conversando por muito tempo e quando nos despedimos
já tenho uma ideia em mente.
Estou ficando essa semana no abatedouro, trepo sem parar para ver se
tiro um pouco essa mulher da cabeça, mas já vi que somente quando comê-la
até desmaiar que ficarei livre dessa obsessão. E a quero esse final de semana,
já esperei demais.
***
Levanto-me cedo com a cabeça cheia de ideias e planos. Tomo banho,
me visto com um jeans lavado e camisa de linho azul. Aparo a barba e
penteio meu topete liso, deixando que fique tombado de lado. A mulherada
adora. Vou começar a jogar pesado com a borboletinha arisca.
Desço assobiando e entro em meu carro, dirijo até uma floricultura
perto da casa da borboleta fujona e compro dois buquês imensos.
Me lembrei de quando a vi pela primeira vez e como olhava com
adoração para as flores. Significa que gosta. Sorrio cheio orgulho.
Pego os imensos buquês e vou para o prédio onde a borboleta pousa.
Vamos ver se pousará em minhas flores e depois em meu pau, penso
assobiando e satisfeito por ser tão engenhoso.
Chego na portaria e o porteiro, que sei que se chama Lúcio, me olha e
seus olhos se arregalam quando vê os imensos buquês.
— Bom dia! — cumprimento, educadamente.
— Bom dia, as flores de Lisa chegaram mais cedo hoje — diz abrindo
a portaria e não acredito que o universo está tão a meu favor. Que caralho de
sorte é a minha. Nem precisei criar uma história mirabolante para ele me
deixar entrar, o cara abriu o portão e me convidou. Caralho! Como eu disse,
essa boceta tem que ser minha, até o universo conspira a meu favor. Ele sabe
o quanto já sofri ansiando por essa bocetinha tão difícil de pegar.
Sorrio com tanto prazer que sinto dor em minhas bochechas. Entro
rapidamente.
— Obrigado, hoje resolvemos vir mais cedo e trazer as mais frescas
para ela, sei que ficará feliz, é um agrado que gostamos de fazer aos nossos
clientes fixos. — Ele sorri e pega no interfone para avisá-la.
Esfrio.
— Não! Gostaríamos de fazer uma surpresa! — digo já me
encaminhando para o elevador, sei o andar que ela mora, como disse, no
dossiê que Artur me entregou sobre ela diz até a hora em que dorme.
— Obrigado! — agradeço ao porteiro e entro rapidamente no
elevador.
Suspiro e fecho meus olhos com prazer. Estou chegando, bocetinha,
quer dizer, b orboletinha, penso com malícia.
Quando chego em seu andar, saio do elevador e me aproximo de sua
porta. Meu coração parece que vai sair do peito. Porra!
Tem uma sineta na porta! Sineta! Tudo nessa mulher é delicado e
diferente do tradicional. Talvez seja isso que está me deixando meio louco.
Toco na sineta e ouço um barulho suave.
Aguardo, suando frio. Nem pareço um senhor de 43 anos.
Ouço passos e levanto os imensos buquês. A porta se abre e a vejo por
entre as flores.
— Pois não? — Sua voz suave enche minha alma.
— Flores para uma borboletinha pousar — digo feito um idiota,
encantado com sua beleza delicada.
— Magnum? — fala alto. — Como entrou?
— Pela porta — digo rapidamente, sem maldade.
— Engraçadinho! — Me encara, com seriedade.
— Obrigado, posso entrar agora? — digo sem freios na língua.
— Não te convidei. — Tenta fechar a porta, mas coloco o meu pé na
frente.
— Não acredito que vai me mandar embora depois do trabalho que
tive para chegar até aqui. Chegar na torre da princesa inatingível tem que me
render algum bônus! Não foi fácil, tive que passar por um guarda feroz que
fica na porta do castelo encantado — falo, descaradamente.
Ela sorri e vejo que consegui.
— Meu Deus, você é muito cara de pau, Magnum — diz e me sinto
mal novamente com a porra desse nome. Enquanto ela ri, passo igual uma
bala para dentro do apartamento e vou para bem longe da porta. Entrei!
— Posso te pedir uma coisa, Lisa? Mas é um segredo entre mim e
você, promete guardar? — pergunto com as flores já começando a coçar meu
nariz. — Antes, tome, são todas para você! — Entrego, fazendo charme.
Ela caminha e pega os dois buquês gigantes e agradece.
— Obrigada, adoro flores. — Cheira e dá aquele mesmo sorriso que
vi quando estava atravessando a rua no dia em que fiquei obcecado por ela.
Linda!
— Lisa, quero que me chame de Magno, odeio quando diz Magnum,
me lembra muito minha fase de sofrimento e pobreza. — Faço cara de
sofrimento e vejo seus olhos suavizarem. — Mas tem que me prometer que
não falará para ninguém, pois Magno será somente para nós dois, pode ser?
— pergunto ansioso, precioso ouvi-la falar meu nome verdadeiro, necessito
disso.
Essa mulher está me deixando maluco, já inventei tantos nomes para
me aproximar de mulheres, mas nunca senti necessidade de falar o meu
verdadeiro nome.
— Claro, Magno. Não quero te fazer recordar um passado que te faz
sofrer — diz com suavidade, com a sua voz de anjo.
Sinto remorso por estar sendo um filho da puta. Balanço a cabeça e
olho ao redor. A decoração da casa é bem feminina e delicada. Tudo aqui
reflete sua feminilidade e doçura.
— Seu apartamento é exatamente como imaginei, borboletinha. Todo
delicado e meigo, assim como você — digo exatamente o que sinto e a vejo
corar. Meu coração dispara, hoje ele está muito instável. Tenho que fazer um
check-up urgente.
— Obrigada, Magno. Vem, vou te mostrar meu ateliê e fazer um café,
quer um pouco? — pergunta já subindo a escada em forma de caracol. Porra,
que bunda linda. Ela está usando uma bermuda e camiseta, parece um pijama.
Será que eu a acordei?
— Lisa, eu acordei você, querida? — pergunto sem graça.
— Acordou — responde de forma simples e quando chegamos no
andar de cima fico satisfeito de ver como é organizado.
Vejo seu local de trabalho, suas pedras, sua mesa com ferramentas de
trabalho e um colar pronto.
Mais à frente, separado por uma porta de vidro, uma minicozinha com
uma mesa de vidro pequena e quatro cadeiras. Mas o lugar que me deixou
encantado foi o pequeno jardim com um sofá ladeado por duas poltronas,
tudo muito feminino, no mesmo estilo do resto da casa.
O sofá e poltronas fica em um deck de madeira. Perfeito!
Sigo para lá e me sento no sofá e sinto como se estivesse em casa.
Sentimento bom esse.
— Adorei esse cantinho, borboletinha — digo e olho a vista
magnifica e as árvores que margeiam a avenida coberta de flores vermelhas.
Sinto saudades da minha casa na Vila dos Ipês. A borboletinha ia
adorar, lá tem tantas flores. Posso levá-la qualquer dia desses e...
— Porra! Estou pior que pensei — digo alto, indignado com meus
pensamentos de levar Lisa para minha casa.
Porra! Lá não! Meu lugar sagrado. Bocetas lá? Nunca! Estou a poucos
passos de concluir meus planos. Comer a mulher e dar o fora. Até nunca
mais! Satisfeito com meus pensamentos no eixo novamente, sinto o cheiro
gostoso de café. Minha boca enche de água e percebo que estou com fome.
Vejo-a começar a colocar a mesa e me levanto para ajudar. Ela me
entrega os cestos de pães e biscoitos. Coloca queijo na mesa junto com as
xícaras.
Nos sentamos e ela me serve.
— Obrigado. — Tomo um gole do café. — Delicioso! — Abro
minha boca de merda e solto a pérola. — Já pode se casar.
Ela se engasga com o café e me olha ruborizada. Eu? Quero enfiar
minha cabeça de merda no vaso e dar descarga.
— Desculpe, Lisa...quando fico perto de você perco o filtro e só falo e
faço besteiras. — Ela sorri ao me ver tão desconsertado.
— Tudo bem, Magno. Mas me conta, em que trabalha? — Agora é
minha vez de engasgar.
— Desculpe, hoje realmente não dou uma dentro. Trabalho com
construção. — Quando percebo já disse, então tento consertar. — Vendo
imóveis, quer dizer...
— É um corretor? — pergunta com compreensão, deve estar me
achando maluco, até eu estou.
— Isso! Exatamente! — Não estou mentindo tanto, somente um
pouquinho, afinal compro e vendo imóveis.
— Que bacana, Magno! E onde é sua imobiliária? — Agora fodeu.
— Imobiliária? Ah, sim, imobiliária. Certo. Não tenho, trabalho em
casa mesmo. — Pronto. Falei uma verdade, finalmente. Não tenho escritório.
— Eu amo trabalhar em casa, é um privilégio, não é, Magno? — diz
com inocência e fico com remorso até na alma. Me sinto um merda!
Mentindo e tripudiando tanto em cima dessa mulher inocente. Porra! Sai para
lá, consciência, volta outra hora, combinado?
— Verdade, trabalhar em casa é ótimo. — Continuamos nossa
conversa, e eu minto mais e mais. Estou mais enrolado que fumo de rolo e
mais fodido que prostituta de luxo, penso com desgosto.
Passamos o dia juntos em sua casa e confesso que tinha muito tempo
que não me sentia tão feliz e relaxado. Quando me despedi dela, prometendo
que voltaria, senti um aperto no coração, queria ficar mais, e olha que não
tinha nem pegado na mão da senhorita.
Volto para o abatedouro, tomo um banho e me deito sem vontade
nenhuma de chamar uma puta para trepar.
Fecho meus olhos e repasso cada momento do dia. Me vejo sorrindo
em muitos e com dor no coração em outros, por ter mentido tanto para Lisa
Borboletinha. Adormeço pensando em seus olhos coloridos e doces.
Fiquei surpresa com a cara de pau de Magno em aparecer no meu
apartamento, penso divertida. Ele mereceu entrar por sua persistência. E
vamos concordar, o homem é de encher a boca de água. Lindo demais e
parece gostoso até pedir para parar. Virgem sim, besta não!
Resolvi deixar rolar para ver no que vai dar, se continuar a sentir essa
atração tão forte por Magno com certeza ele será o dono de minha virgindade,
pois darei para ele com muito prazer e safadeza. Assisto a filmes pornôs e sei
fazer umas coisinhas e outras, apesar de nunca ter praticado com ninguém.
Os dias passam e Magno liga todos os dias, de manhã e à noite. Já
fico aguardando ansiosa, conversamos de tudo um pouco e já me sinto bem
mais à vontade com ele. Hoje já faz uma semana que estamos tendo esse
contato gostoso, sem ele forçar nada, está tudo fluindo com naturalidade.
Tenho conversado muito com Artur também e ele me disse que vai
dar uma sumida porque está com sérios problemas com a senhora que mora
ao lado da construção. Me prometeu que assim que apaziguar a situação me
liga. Claro que não falei nada de minha recente situação, primeiro porque não
é nada sério ainda, nem sei se será. Segundo, prometi a Magno não contar
nada a ninguém.
Vejo que ele tem muito receio de um envolvimento mais sério E isso
com certeza será um problema. Mas como já procrastinei demais perder
minha virgindade, resolvi, depois de muito pensar, que será com ele.
Claro que não quero esperar mais tempo e se continuarmos a nos
entender, em breve serei uma mulher aventureira. Penso divertida, mas com
uma pontada de medo e insegurança. Magno é um homem de mais de
quarenta anos, muito experiente e vivido. Espero que não se decepcione com
minha falta de experiência. Farei o meu melhor. Já estou amadurecendo essa
ideia há alguns dias e acho que a minha mente já aceitou minha decisão, pois
sonho direto com Magno fazendo amor comigo. Tenho que me policiar e
vigiar para não me apaixonar por ele, claramente ele é o tipo de homem que
só gosta de transar e desaparecer.
Eu, sabendo disso, não coloco expectativas quando transarmos e ele
desaparecer. Dessa forma não serei atingida ou sofrerei com isso.
De bem e satisfeita com minha decisão, ouço o interfone tocar.
Está no horário de receber as flores que Magno me envia todos dias.
Eu adoro!
Desço rápido e quando abro a porta vejo Magno sorrindo de orelha a
orelha. Meu coração dispara e fico olhando, feito boba, o quanto esse homem
é lindo.
— Hoje quis trazer as flores pessoalmente, borboletinha. E aproveitar
e te chamar para jantarmos fora, o que acha? — Ele me entrega as flores e
beija a minha cabeça. Ele nunca tentou me forçar a fazer nada que não quero
e sempre mantém uma distância respeitosa.
Para falar a verdade, isso me incomoda, sinto tanta vontade de beijar
esse homem que salivo.
— Você não disse que viria hoje, Magno. Não me preparei para sair
e...
— Você é linda toda hora, Lisa. — ele me corta e senta no sofá, pensa
que já é o dono da casa, esse atrevido lindo. —Deixa disso e vamos! — Sorri
com charme.
Vou à cozinha, pego um vaso e encho de água, coloco as flores com
cuidado e levo para a sala, coloco na mesinha de centro e me sento ao lado de
Magno.
— Podemos jantar aqui, o que acha? — Me aventuro a ficar sozinha
com ele, já está na hora de começar a baixar a guarda.
— Tem certeza, Lisa? Vai cozinhar para mim, borboletinha? — Me
olha com atenção e sorri lindamente.
— Sim, mas você vai me ajudar! — falo de maneira rápida.
— Nãoooooo! Vamos pedir alguma coisa pronta? — sugere com
matreirice.
Quero ficar em casa hoje com ele. Vou cozinhar, adoro inventar
receitas na cozinha quando tenho tempo. E hoje quero fazer esse carinho para
Magno. Ele é sempre tão gentil comigo. Todos os dias ele me manda um
buquê de flores, isso quando não manda, também, chocolates.
Ele, mais do que ninguém, merece esse carinho e farei isso com muito
prazer.
Homem lindo da porra. Sorrio com safadeza.
Em breve eu te pego, delícia de homem!
Lisa Melo, deixa de ser safada mulher. Penso divertida e corada ao
mesmo tempo.
Tento induzi-la a pedirmos alguma coisa para comer, mas ela nega.
— Não, senhor, vamos cozinhar e você vai amar. Tenho um amigo
que adora cozinhar. Ele já fez tantos pratos gostosos aqui. Um dia te
apresento a ele, vai gostar demais, ele é um verdadeiro gentleman. O único
problema é que trabalha para um homem sem caráter, um ser asqueroso —
diz com o semblante irritado. Um aperto violento surge no meu coração e me
levanto de maneira rápida.
Sinto o sangue sair todo de meu rosto e uma tontura do caralho me
atinge.
— Magno? Você está bem? — Ela se levanta e me segura, com
suavidade, pelo braço. Não consigo responder, estou em pânico. Se ela
descobrir que o cara que ela abomina, sem caráter e asqueroso sou eu, estou
fodido. Tenho que comer essa mulher logo, senão todo o meu árduo sacrifício
em persegui-la terá sido em vão.
— Não... tudo bem... só uma ligeira tontura. Deve ser porque ainda
não almocei hoje. — Mais uma mentira. Caralho.
— Magno! Vem, vou fazer um chá com torradas para você enquanto
o jantar não fica pronto. E não precisa nem me ajudar. Pode se sentar e ficar
quietinho, tá? — pede suave e me segura pela mão me levando para a parte
de cima de seu apartamento. Subo e me sinto um desgraçado. Crise de
consciência depois de velho é uma merda.
Me sento em uma cadeira na cozinha de Lisa, ainda pálido e com um
ligeiro tremor nas mãos. Ela vê e corre para pegar um copo com água, me
obriga a beber e a vejo fazendo um chá como me prometeu.
Coloca a xícara na mesa junto com as torradas. Como e bebo mesmo
sem fome. Esse sentimento de remorso é uma merda. Parece que tenho um nó
na garganta. Vejo Lisa separar os ingredientes para o jantar e meus olhos
ardem. Caralho!
O que está acontecendo comigo?
— Lisa, me deixe te ajudar, querida, já estou bem. Deixa que
descasco os legumes. — Me levanto e chego por trás para ajudá-la.
— Não precisa, Magno, você não está bem. Sente-se e me deixe
cuidar de tudo — diz, picando tomates e cebolas. A olho com ternura e sinto
que pela primeira vez em minha vida tenho vontade de ter um lar assim
quando chego do trabalho.
Mas com ela será praticamente impossível depois de toda sujeira que
já fiz e ainda farei.
Penso em desistir... E sim, vou fazer isso. Vou ficar somente hoje e
desfrutar de sua companhia e sumir da vida dessa mulher perfeita, doce e
inocente. Não vou maculá-la com minha devassidão. Artur tem toda razão,
ela é diferente das mulheres que estou acostumado, são todas putas, assim
como eu sou um puto. Sinto pela segunda vez meus olhos arderem, senti isso
quando vi minha mãe morta por overdose. Nunca mais chorei. E hoje, em
menos de uma hora, sinto meus olhos arderem duas vezes.
Pisco com força. Pego uma faca e começo a descascar as batatas.
— Quero ajudar minha borboletinha a cozinhar! E vou aprender.
Como você é perfeita em tudo que faz, sua comida deve ser maravilhosa. —
elogio. Ela fica vermelha e a vejo mais linda ainda.
— Pare, Magno! — Me empurra e sorri com felicidade genuína.
Ficamos nesse clima delicioso até prepararmos nosso jantar. Arroz
branco, batata assada com frango, e salada de tomate cereja com alface.
— Cheirosa sua comida, borboletinha. Parece deliciosa. — Ela sorri e
busca um vinho branco.
Enche duas taças e colocamos nosso jantar na mesa. Nunca me senti
tão satisfeito com um programa tão simples. Almoço em lugares caríssimos e
elegantes e nunca me senti assim.
— Lisa, quero te agradecer por sempre me tratar com tanto carinho.
Nunca me senti tão querido como você tem me feito sentir ultimamente.
Obrigado e me perdoe se, por ventura, fiz algo que possa ter te magoado ou
então te magoar futuramente — sussurro, olhando em seus olhos e segurando
suas mãos pequenas e brancas.
— Eu que agradeço, Magno, por sempre ter me respeitado e nunca ter
tentado nada que me deixasse desconfortável. — Sinto como se levasse um
tapa na cara e fecho os olhos para ocultar minha vergonha e dor.
— Lisa... — Tento falar, mas minha voz trava.
— Magno, por favor, fique em paz. Você não foi nada mais do que
gentil e correto comigo. Eu prezo demais por pessoas corretas, com caráter e
que não mentem. E você tem sido assim comigo. — Sinto vontade de correr,
mas me forço a ficar no lugar. Depois de hoje vou respeitar essa mulher e
nunca mais a procurarei.
— Você não existe, Lisa. É a mulher mais especial que tive o prazer
de conhecer. — A verdade sai com facilidade da minha boca, e mais uma
vez a vejo corar. Minha vontade é pegá-la em meu colo e beijá-la sem parar.
Protegê-la do mundo e de pessoas como eu, sem caráter e mentirosas.
— Vamos parar com esse papo. Parece uma despedida! Credo!
Vamos jantar porque depois tenho uma barra de chocolate com amêndoas que
sei que ama. — Ela sorri lindamente e começa a nos servir.
Jantamos e como imaginei, sua comida é extremamente deliciosa.
Depois que retiramos a mesa, ela busca a barra de chocolate e a
dividimos, sentados em seu minijardim, um pequeno deck que ela fez em um
canto. O sofá ocupa o deck quase todo.
Conversamos sobre tudo e me sinto muito bem.
Me levanto.
— Lisa, querida, tenho que ir, amanhã preciso me levantar cedo.
Tenho umas pendências para resolver no trabalho — digo angustiado, minha
vontade é de ficar. Somente conversar com ela me dá mais prazer do que
trepar.
Ela se levanta e me olha triste.
— Pensei que ficaria mais, amanhã é sábado... — Se aproxima e sinto
seu perfume.
— Lisa... — Ela se coloca em minha frente e levanto os olhos.
— Qual sua altura, Magno? — Me pega de surpresa essa pergunta
tão fora de hora.
— Tenho 1.98m e você, pequena borboletinha? — pergunto com uma
vontade enorme de beijar essa mulher com desespero.
— Eu tenho 1,58m de naniqueza, a seu dispor! Você é imenso e
sempre quis saber sua altura. Estou impressionada, quase dois metros — diz e
fica na pontinha dos pequenos pés.
— Magno, eu gostaria muito que me beijasse. — Parece que levei
uma porretada na nuca e me sinto sem ar. Não posso beijá-la, porra, acabei de
decidir que sairia de sua vida.
Pego em seus braços macios e a afasto com cuidado.
— Lisa... melhor não. Você é uma menina centrada e eu um canalha
que não quer compromisso... Não quero magoá-la mais, querida... — digo
com dor na voz e no coração.
— E se eu disser que quero somente uma aventura e que escolhi
você? — pergunta seriamente e congelo no lugar.
Ela está me propondo, por livre e espontânea vontade, o que quis
pagar para ter? Trapaceei e menti descaradamente para transar com ela e tudo
o que precisava era somente ser o homem com a integridade que ela acha que
tenho?
Preciso sair daqui rápido antes que faça uma besteira e venha me
arrepender mais tarde.
— Eu vou dizer que você está enganada comigo, querida, não sou o
que pensa e....
— Magno — ela me corta. —Para você trepar com uma mulher ela
tem que te convencer implorando? — pergunta com raiva.
— Eu...— Sorrio sem graça e fico sem palavras.
— Por acaso você é virgem, Magno? Se for, pode deixar que serei
cuidadosa — diz com matreirice e com um sorriso imenso.
Meu pobre coração está trepidando mais que furadeira. Porra de
mulher encantadora.
— E se for? — Resolvo entrar em sua brincadeira.
— Você é? — pergunta me olhando fixamente.
Sim... Em fazer amor. Somente trepo, pequena, penso com tristeza.
— Não, sou um porco devasso, por isso mesmo não quero te
contaminar. Pense bem, querida. Você vai achar um homem que realmente te
merecerá e valorizará — digo me sentindo derrotado e amargurado em
somente pensar em outro tocando nesse anjo.
Ela me olha e relaxa.
— Tudo bem, Magno. Agora que decidi perder a minha virgindade,
vou procurar outro que queira me ajudar. Tem o Artur, vou pedir a ele, sei
que não me negará esse favor.
Engulo em seco e uma ira desmedida me toma e vejo tudo vermelho.
A agarro pela cintura e a ergo até ficarmos olhos nos olhos.
— Porra nenhuma que vai procurar Artur ou quem quer que seja para
comê-la ou entregar sua virgindade. Você vai continuar guardando-a para
quem realmente merecê-la. Lisa, isso é um presente especial pra caralho. O
homem que ganhar esse presente será um sortudo que te amará intensamente.
Vai por mim e espera o momento certo, pequena.
Ela estende as mãos e segura meu rosto barbudo.
— É você que escolhi, Magno.
A coloco no chão e saio em disparada.
— Não! Eu não te mereço. — Desço as escadas correndo e vou
embora como estivesse sendo perseguido por demônios.
Chego no meu apartamento e sinto o meu telefone tocando sem parar.
Olho no visor. Lisa. Porra!
Pego meu telefone e ligo para uma porrada de mulheres.
Vou esquecer essa mulher nem que morra trepando.
As mulheres chegam. São cinco e passo a noite trepando igual um
louco. Mas só consigo gozar quando penso em Lisa. Pronto! Mergulhei mais
ainda na lama e agora não me sinto digno nem de chegar perto de minha
borboletinha. Quando vou tomar banho, me agacho no banheiro e choro
como nunca chorei em toda minha vida. Me esfrego com força, me sinto sujo
e tento arrancar de mim essa podridão e devassidão que me enoja. Lembro o
que fiz e meu estomago revira.
Saio do banheiro com o corpo ardido e olhos inchados. Meu telefone
toca e vejo Lisa na tela.
Choro mais ainda e atendo, preciso ouvir sua voz.
— Lisa? — Soluço.
— Magno, está tudo bem? Fiquei preocupada com você. Desculpe
minha falta de senso, fui muito rude e sei que você, por algum motivo, entrou
em pânico. Não precisa me contar o porquê, mas podemos ser amigos, quem
sabe futuramente? — diz com inocência e sinto as lágrimas caírem por meu
rosto e se perderem entre minha barba.
Olho para a cama e vejo as mulheres que comi se beijando e me sinto
um lixo.
— Lisa... — Uma das mulheres chega e se ajoelha, tomando meu pau
todo dentro da boca.
Chupa com força, mas ele continua mole. A empurro com ira e nojo.
Tapo o celular.
— Sumam todas daqui. Agora! — Entro no banheiro e tranco a porta.
— Magno? Quer que eu vá até aí? — Gelo.
— Não, estou bem... somente com uma dor forte no peito... —
Massageio o peito que dói pra cacete.
— Magno, você tem que ir ao médico. Me passe o endereço, vou com
você.
— Lisa! — falo alto. — Estou bem, vou me afastar de você porque se
ficar perto, vou estragar sua vida. Você não me conhece direito. Vou deixá-la
em paz para que possa arrumar alguém que realmente te mereça. Por favor,
não me ligue mais — digo chorando silenciosamente e com o coração
arrebentado. Melhor agora do que quando ver sua decepção ao descobrir o
merda sem caráter e mentiroso que sou. O telefone fica sem som e isso me
destrói de vez.
— Ok, desculpe ter insistido. Fique bem, não te incomodarei mais —
diz com voz indiferente e desliga.
Caio sentado no chão, coloco minha cabeça entre as mãos e choro
dolorosamente.
Quando Magno saiu aqui de casa nunca imaginei que ele me tiraria de
sua vida com tanta frieza. Eu liguei para ele quando saiu quase correndo e a
maneira rude que me tratou ao me dispensar me fez chorar a noite toda.
Nunca quis alguém para namorar, relacionar ou mesmo transar, e
quando resolvo ceder aos meus desejos, ele me descarta como lixo.
Quase duas semanas se passam e quando penso em como me ofereci e
fui rejeitada, minha cara ainda arde de vergonha.
As flores e chocolates pararam de chegar e ele nunca mais me ligou.
O que será que ele esconde? Por que será que me rejeitou? Magno é o
tipo de homem que não dispensa mulher, isso está escrito em sua cara com
cores neon.
Como gostaria de conversar com meu amigo Artur e contar tudo o
que aconteceu. Mas ele está com sérios problemas, como já tinha me dito, e
não quero importuná-lo.
Hoje é dia de entregar mais cinco colares na loja e eles já estão
embalados e prontos na caixa. Adoro o dia de entregá-los, mas hoje estou
sem ânimo algum. Sinto falta de Magno, apesar de ter pouco tempo que o
conheço. Ele tocou em meu coração de maneira única. Sinto meus olhos se
encherem de lágrimas. Já pensei em ligar várias vezes para ele, mas quando
me lembro do que me disse, me forço a não ligar.
Tomo banho, lavo meus cabelos. Visto um vestido florido e botinhas
brancas. Pego a sacola e vou fazer minha entrega.
Cumprimento Lúcio e saio. Ando devagar. Hoje está um ventinho
gostoso e sinto meus cabelos serem açoitados pelo vento. Sorrio e o calor do
sol me aquece.
Quando levanto minha cabeça, vejo um Magno mais magro e abatido,
encostado no carro, me olhando com tristeza.
O ignoro e saio andando como se não o conhecesse, embora meu
coração esteja disparado.
— Lisa! — Ouço sua voz rouca e em seguida passos correndo.
Continuo andando.
— Lisa, borboletinha, por favor, me perdoe. — Me puxa suavemente
pelo braço.
— Me solta, Magno, não temos nada a falar, você foi muito claro da
última vez que conversamos — falo com um misto de ira e desgosto.
— Me perdoe, querida. Eu estou ficando louco, não consigo fazer
nada, só penso em você. Tenho medo de te perder e medo de te fazer sofrer.
Lisa, fiz coisas horríveis... Lisa, por favor... — Seus olhos estão fundos,
arroxeados e uma grande tristeza está estampada em sua face mais magra e
pálida, isso me deixa angustiada.
— Magno, você deixou claro que não me queria em sua vida — falo
amargamente quando lembro como me descartou.
— Lisa... fiz coisas que não são passíveis de perdão, tenho medo de
me envolver e te perder... Mas ao mesmo tempo não consigo ficar longe de
você. Tentei ficar, eu juro. Mas não consegui! Me ajuda! Me perdoa pelo
meu passado sujo... me dê uma chance e se um dia descobrir alguma sujeira
minha, já te peço perdão com antecedência e juro a você que me arrependo a
cada minuto de minha vida por tudo que fiz... Lisa, namora comigo? Me
perdoa? — pergunta e se ajoelha em plena avenida, baixando a cabeça.
— Magno, por favor, se levanta. — O puxo pelos ombros e ele nem
se move, o homem é uma montanha.
Ouço vozes e risinhos.
Olho para o lado e vejo uma pequena aglomeração de pessoas.
— Perdoa ele, mulher louca, ou então me passe, vou adorar consolá-
lo. Vou adorar cuidar desse pedaço de homem! — diz uma perua, rindo igual
uma hiena.
Olho com desprezo para a vadia oferecida e pego o rosto de Magno.
— Magno, levante-se, vamos comigo entregar esse pedido e
poderemos conversar no caminho. — Vejo seus olhos brilharem em gratidão
e um esboço de um sorriso surgir.
— Obrigado, Lisa! — Se levanta, pega minha mão e também a sacola.
— Pode soltar minha mão, disse que vamos conversar, somente isso.
— Corto sua ousadia. Vejo seu rosto entristecer, mas ele não diz nada.
Caminhamos em silêncio, cada um mergulhado em seus pensamentos,
mas sinto seu olhar em mim o tempo todo. Entrego meus colares e o chamo
para almoçarmos. Claro que ele aceita.
Fazemos nossos pedidos e quando a comida chega começamos a
almoçar, estou faminta e pelo visto ele também.
Deixo-o começar a falar.
— Lisa, me perdoa por tudo e me dê a honra e oportunidade de
namorar você? Me deixe te mostrar o quanto estou arrependido... — Ele me
olha com desespero.
— Por que isso agora? — pergunto desconfiada e ainda ferida.
— Descobri que você é mais importante em minha vida do que eu
supunha. Lisa, perdi o ânimo depois que tentei ser cavalheiro com você. Me
perdi e fiz muitas merdas... antes de te conhecer e depois. Quero consertar
tudo se me der uma chance, oportunidade. — Magno segura minha mão e
vejo que a dele está trêmula, e seus olhos avermelhados.
— Não acredito em você. — Sou dura. Sei que às vezes sou assim,
mas quando me entrego sou uma manteiga derretida. Abrir meu coração para
ele não foi fácil e ele me rechaçou, agora tenho medo.
— Me dê somente uma única oportunidade para te mostrar sua
importância em minha vida, borboletinha. Se você não me achar digno depois
de um tempo, te deixarei em paz, prometo de todo meu coração. Mas não me
negue uma chance de consertar as merdas que fiz — suplica com lágrimas em
seus belos olhos.
Baixo a cabeça e sinceramente, não sei o que fazer.
Vou ter que pensar com cuidado e analisar bem. Sei que Magno é o
tipo de homem que quando nos apaixonamos é praticamente impossível
esquecer.
Levanto meus olhos e ele me fita com ansiedade.
— Vou pensar, Magno. O fora que você me deu me machucou muito
porque você foi o primeiro homem que eu quis realmente me envolver.
Prometo que vou pensar com carinho — digo, o coração martelando no peito
com força. Mais ainda vendo a cara de dor que ele faz.
Ela baixa a cabeça em derrota e quando a levanta, vejo lágrimas
deslizarem em seu rosto barbudo.
— Eu realmente não mereço você, Lisa. Mas como sou um filho-da-
puta, vou esperar ansioso que me dê novamente outra chance — sussurra com
a voz rouca e triste.
— Combinado, agora vamos, tenho que comprar vários itens para
casa.
Ele se levanta também.
— Posso ir com você? — murmura, ansioso.
— Claro, desde que se comporte e carregue as sacolas — brinco no
intuito de tirar um pouco sua tristeza. Ele sorri, o primeiro que vejo em muito
tempo.
— Carrego o que você quiser, borboletinha.
Assim passamos a tarde, comprando os itens que tinham acabado em
minha dispensa.
Conversamos como nos velhos tempos e vi a cor voltar aos poucos
nas faces encovadas de Magno.
Nos despedimos na portaria, vi que ele esperou que eu o convidasse
para subir, mas ele teria que esperar um pouco. Afinal, já me teve nas mãos e
não deu valor. Homens!
Essas semanas foram as piores da minha vida. Deletei todos os nomes
de minhas ex-amantes do meu celular. Esperei passar um tempo para me
purificar das putarias e sujeiras que fiz no dia que rejeitei o presente mais
belo que alguém poderia me dar. Lisa me ofereceu sua confiança, pureza e a
pisoteei como o grande covarde e mentiroso que sou. Fiz a merda de trepar a
noite toda achando que a tiraria de minha mente. Mas me enganei, ela não
estava na minha cabeça, mas sim no coração.
Perdi o apetite, quase não comia, mas bebia várias vezes ao dia até
cair desmaiado de tão bêbado. Ainda bem que fiz essas merdas na minha casa
na Vila dos Ipês. Lá, Lili olhava por mim. Me viu bêbado muitas vezes e
chorando e cuidava de mim com amor e muita paciência.
Em um determinado dia eu a vi sorrir e fiquei sem entender o motivo.
Perguntei por que sorria de minha desgraça e ela me disse que estava feliz
porque finalmente eu estava amando e que queria conhecer a mulher que me
colocou de quatro.
Contei a ela as merdas que fiz e Lili ficou horrorizada. Me deu vários
petelecos na cabeça, mesmo eu estando arrasado e na lama. Me chamou
atenção com raiva e mandou eu consertar meus erros com Lisa e contar toda a
verdade. Irei fazer o que ela sugeriu... em partes. Vou reconquistá-la e pedir
perdão por tudo, mas não vou contar o que fiz, tenho verdadeiro pavor de
somente pensar que não me perdoará, e que então a perderei.
Resolvi parar de beber, mas continuei sem apetite, comia somente
quando Lili me obrigava e com isso perdi peso.
Depois de quase duas semanas sem trepar, me senti mais limpo para
procurar minha menina. Minha sim, porque eu vou reconquistar sua
confiança e amor também. Eu a amo. Foi amor à primeira vista. Somente eu
não quis ver, em minha total ignorância.
Se isso não for amor, não sei o que é então!
Tenho necessidade de ouvir sua voz, sua risada, sentir seu cheiro e me
sinto bem, amado e querido em sua casa. Lá transpira amor, lá é um lar.
Quero isso tudo para mim. Quero ter filhos com ela. Quero adorá-la, amá-la e
respeitá-la. Quero ser fiel e me entregar de corpo e alma somente para ela.
É isso que quero de minha Lisa Borboletinha Melo. E vou conseguir,
nem que para isso passe a vida toda rastejando, provando a ela que a amo de
todo coração. Espero que o passado nunca venha bater em minha porta para
cobrar as merdas que fiz, principalmente em relação a Lisa. Pagar para trepar
com ela... a tratei como uma puta qualquer e tenho verdadeiro terror de que
ela venha descobrir isso. Sei que não me perdoará.
Ela me fala com asco sobre a proposta que o vagabundo do patrão de
Artur fez... porra, tem noites que não durmo. Vivo assombrado com medo de
que Lisa descubra que esse homem sem caráter sou eu.
Quero o passado no passado. Sou um novo homem. Vou provar isso
para Lisa, penso aliviado e pronto para reconquistar minha menina.
Claro que a sigo de longe, nem por um momento deixei de montar
guarda perto de seu apartamento. Em algum momento do dia sempre passava
por lá e várias noites dormi dentro do meu carro.
Lúcio sabia e muitas vezes levou água e café para mim.
Fizemos amizade e ele me dizia que minha menina quase não saia.
Realmente a magoei. Caralho se isso não me machuca demais.
Hoje, Lúcio me ligou e disse que ela sairia para entregar mercadoria e
claro que, na hora exata, eu estava lá esperando.
Quando saiu e a vi, meu coração disparou e senti até tontura. Porra se
ela não é a mulher mais linda do mundo.
Corri atrás e chamei seu nome. Ela parou e me tratou com desprezo.
Mereço e aceito.
Rasguei meu coração para ela, só omiti a mancha que aterroriza meu
passado e somente Artur sabe. E sei que posso confiar nele. Claro que preciso
de um tempo para convencer a ele que a amo de verdade, minha pequena e
doce Borboletinha.
Ela me permitiu acompanhá-la ao shopping e ficar o dia em sua
companhia. Isso foi uma conquista e tanto para mim.
Quando voltamos ao seu apartamento eu ainda acalento a esperança
de me deixar entrar, mas tomo no rabo. Ele me despacha do portão mesmo.
Mas vou embora feliz. Só de Lisa ter me deixado ficar com ela
durante todo o dia já foi uma conquista imensa, porque minha menina é
turrona!
Resolvo parar em um bar para tomar uma cerveja.
Me sento em uma cadeira. Estou verdadeiramente feliz. Minha
cerveja estupidamente gelada chega e tomo um grande gole com prazer. Vou
trazer minha menina aqui. Tem um camarão que sei que ela vai adorar. Estou
disperso pensando em Lisa quando ouço uma voz melosa.
— Raul Magno!
Levanto meus olhos e sinto um arrepio percorrer o corpo quando uma
mulher puxa a cadeira e se senta ao meu lado. Sinto que vem merda por aí.
— Que surpresa te encontrar aqui! Cadê o gostoso do Artur? Depois
daquele final de semana pecaminoso que passamos, os três, fiquei somente
com Artur, você sumiu! — Enquanto fala sem parar, estende a mão e toca
em meu pau que encolhe de asco.
Pego sua mão com brutalidade e arranco com força de cima de mim.
— Quem é você, caralho? — Não me lembro dessa puta, aliás não
me lembro de nenhuma mulher pós orgias.
— O quê? Como assim? Esqueceu da nossa orgia àquele final de
semana inteiro? — pergunta, lambendo os lábios com cara de piranha que
pega todos.
— Não me lembro de você, já comi mulheres demais para me lembrar
de alguma. Agora vaza daqui, sua presença me incomoda. FORA! — falo
sem paciência e ela arregala os olhos.
— Você está falando sério? — Faz biquinho e aperta os seios
gigantes.
Olho com desprezo para essa mulher e se já comi realmente essa puta,
o que não duvido dado meu histórico de prostituto, tenho vergonha do que já
fui e com quem trepei. A mulher transpira vulgaridade. Me sinto sujo.
Levanto e saio da mesa sem dizer mais nada e volto para meu carro.
Depois acerto com João, sempre venho aqui quando quero ficar sozinho.
Hoje minha escolha foi infeliz. Ligo o carro e vou para meu recanto,
Vila dos Ipês.
O abatedouro está fechado, não tenho mais vontade de ir lá. Meu
contrato desse apartamento está para vencer e quando acontecer não
renovarei mais.
Quero focar e investir em uma relação com Lisa Melo, se ela resolver
me dar uma oportunidade. Já tem duas semanas que resolvi não me envolver
com as minhas amantes, agora ex, apaguei todas do celular separado
especificamente para esse fim. Cancelei o número e acabou.
Dirijo sentindo falta de Artur para conversarmos. Agora estamos sem
contato há dias, ele está empenhado em resolver o problema da velha cabeça
dura que não vende a porra do terreno ao lado de minha obra nem fodendo.
Se continuar assim, terei que ir pessoalmente ao Rio e botar para quebrar. Sei
que se eu for, vou ferrar tudo, não tenho paciência com essas coisas. Artur
sabe lidar melhor com esses casos delicados.
Ligo o rádio e está tocando uma música que fala muito ao meu
coração que agora voltou a pulsar por uma única mulher.
Sentimento bom esse, aquece o corpo todo, penso com um sorriso
feliz no rosto.
A música que toca é Please forgive me de Bryan Adams (Por Favor,
Perdoe-me). Adoro as músicas desse cara. São da minha época, penso
divertido.
...Por favor, perdoe-me
Não sei o que faço
Por favor, perdoe-me
Não posso parar de amá-la
Não me negue
Essa dor que estou sentindo
Por favor, perdoe-me
Se eu preciso de você tanto assim
Por favor, acredite em mim
Cada palavra que eu digo é verdade
Por favor, perdoe-me
Não posso parar de amá-la...
***
Minha Borboletinha está no lugar que preparei exclusivamente para
ela fazer suas peças. Utilizei um dos quartos, o que ela mais gostou, o de
flores de ipê rosa. A florada já passou, agora eles estão cobertos de folhas
verdejantes.
Ela fica horas lá desenhando e montando seus conjuntos. Não consigo
me imaginar sem ela em minha vida mais.
Estou em meu escritório e meu celular toca. Vejo Artur na tela e
tremo.
— Artur — digo, gelado e com o coração disparado.
— Fala aí, Raul, estou sentindo falta daí, cara, quero ver minha
amiga, e estou pensando em passar um final de semana aí, o que acha? —
Gelo mais ainda com sua pergunta, ele não pode vir, ainda não. Preciso de
mais tempo para contar a Lisa minhas mentiras.
— Não! Quer dizer, preciso de você mais aí do que aqui, Artur. —
Vou mantê-lo lá no Rio somente até criar coragem e contar tudo para Lisa,
essa omissão está me incomodando demais e o simples pensamento de perdê-
la me deixa insano.
Tem noites que perco o sono pensando nisso. Já tentei contar várias
vezes, mas não consigo.
— Quero visitar minha amiga Lisa, perdi o contato com ela. Acho
que trocou o número do telefone. — Quando diz isso, me lembro que a
presenteei com um Iphone e aproveitei e sugeri a ela a troca de número. Não
foi por malícia, mas para ter um pouco de sossego. Muitas pessoas ligavam
para ela querendo uma ou outra peça. E ela sempre tinha que justificar,
dizendo que tinha contrato de exclusividade com a loja que trabalhava. Às
vezes chegavam até a agredi-la com palavras quando dizia que não podia
fazer. E isso veio a calhar, porque assim, Artur não poderia falar com minha
Abelhinha. Eu adicionei todos os contatos, menos o dele, e como Artur disse
a ela que ficaria um tempo sem entrar em contato, ela não desconfiou. Mais
uma mentira. Iria eu mesmo contar tudo a ela. O mais rápido possível. E se
me metesse o pé no rabo, a reconquistaria, nem que para isso levasse a vida
toda.
— Vou organizar aqui e ver como estão as coisas por aí, e retorno em
breve, combinado, Artur? — Tento fazê-lo desistir por hora dessa ideia de vir
para cá. Vou resolver tudo antes, se vem sem eu contar a verdade para Lisa,
estou fodido.
— Combinado, Raul, e como anda as orgias sem seu amigão aqui? —
pergunta, debochado.
Sinto o sangue fugir de meu rosto quando vejo Lisa na porta sorrindo
suavemente.
— Bem, muito bem... — Entro em pânico.
— Raul? — Artur me chama.
— Tudo bem, te ligo assim que resolver tudo por aqui. — Desligo
ouvindo ainda seus gritos indignados. Foda-se, Artur.
Ela me abraça.
— Senti saudades, amor, e vim aqui te chamar para tomarmos café
juntos. — Sorrio todo derretido e esquecido do quão fodido estou.
— Com você, minha vida, tomo até água de sabão. — Faço charme
e a beijo com todo amor que tenho por ela.
Os dias vão passando e cada dia que passa amo mais esse homem. Ele
se tornou essencial em minha vida e agora fico mais em sua casa do que em
meu apartamento. Quando digo que vou ficar um final de semana em meu
apartamento, Magno surta.
Meu amor, esqueceu de adicionar Artur em meu novo telefone, ainda
bem que conferi e corrigi esse esquecimento. Quero muito conversar com ele,
matar saudades.
Aproveito e ligo para Artur e conversamos muito, conto a ele que
estou namorando e ele fica muito feliz por mim. Me disse que conheceu uma
mulher muito especial no Rio e está adorando trabalhar em outro estado.
— Quando você virá me visitar, Artur? — pergunto, sentindo muitas
saudades dele.
— Em breve, querida. Estou meio enrolado com essa mulher e ela
está me dando muito trabalho — diz divertido.
— Artur Campelo! Nada de safadeza com a mulher, respeite-a,
ouviu? Não seja influenciado pelo mau-caráter de seu chefe — digo,
carrancuda e com ranço do patrão de Artur.
— Claro que não, Lisa. Isso não faz parte de minha essência — fala
baixinho e triste. — Mas meu amigo e chefe é uma boa pessoa, prestativo e
quando ama, e quem ama, tem sua devoção e fidelidade eterna, já te disse
isso. O caso com você foi um vacilo que cometeu — defende o patrão,
asqueroso e cafajeste.
— Não quero falar desse homem, tenho asco dele. Odeio pessoas que
acham que dinheiro pode comprar tudo. Vamos mudar de assunto — digo,
ficando nervosa quando lembro do cara de pau que queria pagar para transar
comigo. Infeliz!
— Ok, pode se acalmar, vamos mudar o tema — fala, rapidamente.
E conversamos mais de uma hora de tudo um pouco, e por fim,
desligamos, prometendo ligar novamente em breve.
Hoje estou em meu apartamento, Magno teve que vir resolver um
problema e me trouxe, mas me fez prometer que à tarde voltaria com ele para
Vila dos Ipês.
Arrumo meu apartamento e me sinto meio deslocada aqui. Estranho.
Gosto da casa de Magno, os ipês, Lili e adoro ficar com ele no pequeno
pomar, principalmente debaixo da macieira.
Meu celular toca e olho: Magno.
— Amor? — Sorrio cheia de satisfação.
— Abelhinha, vou atrasar um pouco, o problema ainda não foi
solucionado, estou esperando o responsável chegar e posso me atrasar um
pouco. — Ouço vozes ao fundo.
— Você está em alguma obra? — pergunto ao ouvir gritos.
— Sim, querida, cercado de homens grossos e fedendo a suor — diz,
divertido.
— Raul, podemos dormir aqui hoje, querido. Vou preparar um jantar
bem gostoso para nós, te amo demais, minha vida — sussurro,
completamente apaixonada por esse homem.
— Vou adorar comer o jantar de minha namorada e depois comer a
bocetinha de minha borboletinha — diz com malícia.
— Combinado, estou esperando ansiosa seu pau duro... desculpe,
esperando você, meu amor. — Ouço sua estrondosa gargalhada.
— Porra, querida, você me faz tão bem! Te amo pra cacete, abelhinha.
— Eu também te amo demais, vida! — Desligo feliz e vou preparar
o nosso jantar.
***
Passamos a noite em meu apartamento e fizemos amor até de
madrugada, meu homem estava insaciável.
Voltamos para a casa na Vila dos Ipês.
Estabelecemos uma doce rotina aqui na Vila. Eu em meu novo ateliê
que Magno montou, e ele em sua sala de conferências.
Ele sempre aparece aqui de surpresa com uma maçã, uma flor colhida
em algum lugar de sua propriedade. E muitas vezes vem somente para
fazermos amor, o safado mais gostoso do planeta.
Continuei nossas conversas com Artur, e agora ele quer de todo jeito
saber o nome de meu namorado. Só disse que se chamava Magnum. Parece
que isso o acalmou e ele não tocou mais no assunto.
Está sumido há alguns dias.
Eu estou estranhando o comportamento de Magno, ele anda agitado e
irritadiço, não comigo, mas com as pessoas que trabalham para ele.
E muitas vezes o vi gritando ao telefone com um funcionário que
trabalha para ele em outro estado.
Teve uma noite que acordei e ele estava de pé na sacada chorando
baixinho.
— Magno, o que houve? — Ele simplesmente me abraçou e me
pegou no colo e dormiu agarrado comigo, me dizendo sem parar que me
amava.
Comecei a notar que ele fica assim todas as vezes que atende o
telefone de seu empregado, que trabalha em outro estado. Perguntei se tinha
algum problema e ele negou, disse que era somente problemas nas obras.
Comecei realmente a ficar atenta, tinha algo muito errado e iria
descobrir.
Não tenho mais um minuto de paz. O caralho do Artur está
desconfiado que eu sou o namorado de Lisa e já me perguntou um milhão de
vezes e sempre desvio da conversa.
Estou aterrorizado. Quando minhas mentiras começarem a pipocar,
estou fodido e acabado. Já tentei contar a Lisa várias vezes, mas desisto
quando ela diz que odeia mentiras e traições. Minha coragem evapora.
Estou sem sono e apetite. Na verdade, estou fodido. Se eu perder Lisa,
perderei a alegria que tenho agora e que antes nem sabia que existia.
Sei que ela já está desconfiada. Estou aqui, debaixo do pé de macieira,
tentando pensar em como agir com Lisa. Vou contar esse final de semana,
sem falta, como fui um canalha com ela. Faço esse juramento e me sinto com
um pouco mais de paz. Minha menina não merece viver comigo sem saber de
tudo.
Hoje ela se levanta cedo, claro que fazemos amor antes de
levantarmos. Não perco nenhuma oportunidade de estar dentro de Lisa.
Ela foi entregar suas mercadorias e não me deixou levá-la. Disse que
passaria em seu apartamento e daria uma boa limpeza nele, deixaria as
janelas abertas para arejar o ambiente. Escolheria mais pedras para trazer para
cá, pois tinha vários desenhos de novos conjuntos para fazer.
Com o coração na mão, vejo Lisa ir para seu carro e partir. Toda vez
que ela sai sem mim, fico com a impressão de que a estou perdendo. Deve ser
o remorso de viver em meio a tantas mentiras e omissões.
Fico um tempo aqui e me acalmo com a certeza de que não deixarei
mais passar desse final de semana, eu finalmente contarei toda a verdade para
Lisa. Aproveito e já a peço em casamento. Ela é tudo para mim.
Me levanto, pego uma maçã e mordo, me lembrando do dia em que
Lisa veio aqui e me viu quebrado. Sorrio com o coração transbordando de
amor por essa mulher.
— Esse sorriso eu conheço, é de um homem totalmente apaixonado e
entregue. — Congelo no lugar ao ouvir a voz que tem me tirado o sono.
— Artur? Mas que porra faz aqui? — pergunto suando frio, coração
retumbando, e irado ao mesmo tempo.
— Não sabia que tinha que pedir permissão para visitar meu irmão —
diz com desgosto, me olhando sério. Me arrependo e tento me justificar.
— Porra! Não me avisou... e deixou o trabalho no Rio... — falo, mas
sem argumento algum.
— Tranquilo, irmão, está tudo sob controle, agora vem, me conta
quem foi a sortuda que laçou o homem mais puto e escorregadio da terra. —
Puxa-me para um abraço. Se fosse em outra época o abraçaria com prazer,
mas agora o desespero me toma. Medo de Lisa descobrir tudo e receoso de
Artur me partir a cara. Porra, estou fodido!
Ele me puxa e saio andando igual a um robô, o medo me paralisa,
corta meus movimentos fluidos.
— Lili! — Entra já gritando na cozinha e abraça nossa mãe,
enchendo-a de beijos.
— Artur! Que saudades, meu menino! Você está mais magro. Não
comeu direito? — diz, brava e zelosa, como sempre.
— Estou bem, Lili, só trabalhando demais. — Sorri e a beija no topo
da cabeça.
— Ainda bem que estou fazendo uma canja bem temperada com
galinha caipira. Quero ver vocês três comendo muito! — fala, satisfeita.
— Nós três? — Artur pergunta arqueando a sobrancelha.
— Sim, você, Raul e a namorada dele. Ela é maravilhosa, linda,
educada...
— Porra, Raul, está maluco? — Arrasto-o com rapidez até o
escritório. Deixando para trás, uma Lili sem entender nada. Tenho que dar
um jeito de Artur ir embora antes que Lisa chegue. Preciso contar a verdade
para ela esse final de semana sem falta. Porra, já devia ter feito isso.
Fecho a porta e falo de uma vez.
— Artur, quero que você volte agora mesmo para o Rio... — digo e
ele me olha espantando.
— Tá maluco, Raul? Cheguei agora, cara — diz sem entender, nem
eu entendo como me enrolei em tantas mentiras.
— Você tem que ir, depois eu explico tudo com mais calma, agora
você não entenderia... — Tento ser mais suave, mas o homem é teimoso e
desconfiado.
— Não mesmo, quero saber tudo que está acontecendo e depois vou à
casa da Lisa. Estou com saudades, aliás, ela me disse que está namorando um
tal de Magnum... quero conhecer o cara. Se for um cafajeste vou meter
porrada na cara do desgraçado. Lisa é uma menina inocente e pura. — Sinto
o restinho de sangue sumir de meu rosto e viro de costas para Artur, trêmulo.
— Raul? Cara? Não vai me dizer que... Porra! Porra! Seu desgraçado!
— berra , irado. — Você fez exatamente o que disse que faria! Filho da puta
miserável. — Dá um murro na mesa com força, gritando e avança sobre mim
com ira. Me dá um soco tão forte que voo na parede e caio sentado. Sinto o
sangue escorrer de meu nariz e pingar em minha camisa branca.
Fico calado, olhando Artur impotente e deixo-o descarregar sua raiva
com toda razão em cima de mim. Ele me puxa novamente e me acerta mais
socos no rosto sem dó.
— Caralho, tanta mulher para você comer e tinha que continuar com
seu plano de destruir a vida da Lisa, cacete! Você, Raul Magno, não vale
nada! Te implorei tantas vezes para desistir... — Mais murros, eu já estou
ficando tonto, mas não reajo, Artur tem toda razão. Eu sou um escroto e
mereço ir para o inferno. Choro baixinho e as lágrimas se misturam com o
sangue, minha camisa e calça estão avermelhadas.
Sinto meu rosto e peito arderem pelos murros que recebo de Artur,
mas somente baixo minha cabeça e ouço ele me destruir com palavras,
calado, derrotado e desejando morrer nesse momento. Vou perder a única
mulher que amei em toda minha vida e tudo por culpa de minha obsessão e
mentiras. Soluço. Sinto meu coração doer com força e lágrimas me cegam
com abundância.
Hoje tenho que levar as peças para a loja. Já deixei tudo arrumado e
logo que acordo Magno já está em cima de mim chupando meus peitos com
lascívia e esfregando seu pau duro em minha perna. Adoro quando me acorda
assim, ele é insaciável e me tornei também uma devassa como ele. Fazemos
amor com carinho e paixão. Tomamos nosso banho juntos, ele desce e vou ao
ateliê pegar a maleta com os colares prontos.
Desço e ele está me esperando para tomar café. Olho com amor para
esse homem que aprendi a amar com tudo de mim. E sei que sou retribuída
da mesma forma.
Quando digo que vou sozinha fazer as entregas, Magno surta, mas me
mantenho firme. Preciso limpar e arejar o meu apartamento.
Meu coração quebra quando o vejo tão triste e me olhando sair no
carro com desgosto. Puta merda, o homem é lindo. Sorrio e assopro um beijo
para ele, me afastando devagar. Magno quer que eu use um de seus carros,
mas bato o pé. Eu tenho meu carro popular, maravilhoso, comprei com meu
trabalho, tenho orgulho dele. Saio admirando as árvores e vejo meu amor
caminhar para seu lugar de meditação, a macieira.
Sorrio e vou me distanciando até perdê-lo de vista. Rodo uns 5
minutos e meu telefone toca.
— Alô? — Reconheço o número, é da loja onde trabalho.
— Oi, Dandara — cumprimento a moça, que é uma das vendedoras
de lá.
— Lisa, tudo bem? — respondo que sim. — Você poderia trazer um
conjunto extra de peças? Nossa patroa está querendo presentear uma amiga
inglesa que chegou ontem e vai embora hoje à noite. Teria te avisado mais
cedo, mas ela me falou agora. — Merda! Vou ter que voltar à casa de Magno
para pegar mais um conjunto. É mais perto voltar daqui do que pegar em meu
apartamento.
— Ok, ela tem preferência de cor? — pergunto, já fazendo o retorno.
— Sim, ela quer uma cor clara, pode ser branco, bege, areia... —
sugere.
— Combinado, até mais tarde então, querida. — Desligo a ligação e
retorno para onde ficou meu coração e amor, vou chamá-lo para voltar
comigo, sua expressão abatida quando o deixei acabou comigo.
Quando chego, vejo que tem um carro diferente estacionado em frente
à casa de Magno, deve ser algum amigo.
Entro apressada e não vejo Lili, deve estar no pomar colhendo
algumas maçãs e frutas. Quando começo a subir a escada para pegar o outro
conjunto de colar, ouço gritos e barulhos de coisas sendo quebradas.
Paro assustada e ando rápido para o escritório de Magno. Será que é
um ladrão? Gelo e estendo minha mão para abrir a porta quando ouço a voz
que destruiria meus sonhos e quebraria meu coração de uma forma
avassaladora e dilacerante. A voz de Artur. O que meu amigo está fazendo
aqui e gritando tanto com meu namorado?
Abro um pouquinho a porta e pela pequena greta, vejo Artur dar um
murro tão forte em Magno que ele despenca no chão, e sangue jorra de seu
nariz, em abundância. Artur o segura pelo colarinho e o puxa com
brusquidão, gritando como um louco e com uma ira descomunal. Nunca o vi
assim, sempre foi tão dócil.
— Raul? Cara? Não vai me dizer que...Porra! Porra! Seu desgraçado!
— grita irado e vermelho. — Você fez exatamente o que disse que faria!
Filho da puta miserável. — O vejo dar um murro na mesa com força,
gritando e avançando sobre Magno com ira.
O que me deixa encabulada e sem entender é a aceitação de Magno
em relação a ira de Artur. Eles são imensos e se Magno quisesse, poderia ter
revidado com facilidade. Mas ele não reage e vejo lágrimas descendo de seus
olhos. Quero entrar e tirar meu amado dessa situação tenebrosa, mas algo me
segura...
— Caralho, tanta mulher para você comer e tinha que continuar com
seu plano de destruir a vida da Lisa, cacete! Você, Raul Magno, não vale
nada! Te implorei tantas vezes para desistir... — Minha alma gela e começo a
tremer. Me agacho, porque minhas pernas fraquejam. Continuo ouvindo os
dois, mas suas vozes pareciam vir de longe. Meu coração racha de uma
maneira angustiante. Ouço mais murros sendo dados em Magno, ou Raul, ou
Magnum. Qual seu nome verdadeiro?
Lágrimas já descem em cascatas por meu rosto. Esse homem que vejo
e não conheço, que chamo de namorado, não reage, e Artur continua
espancando-o. E ele continua calado, com a expressão de derrota estampada
em seu rosto tão machucado e coberto de sangue, já começando a inchar.
— Eu me apaixonei por ela, Artur, eu juro — Magno diz com voz
baixa e com um soluço que sacode seu corpo grande e muito machucado.
— Cala a boca, caralho! Você não presta, Raul Magno, enganou a
Lisa e planejou toda essa mentira sórdida. Porra, caralho! Tantas bocetas para
você comer, quantas amantes tem? — Sinto meu coração arrebentar de dor
ao ouvir que ele ainda tem amantes e me trai. Continuo quieta, agora quero
ouvir tudo até o final e me odiar, enquanto viver, por ter sido tão fraca.—
Não, cara, eu não tenho amantes... me apaixonei... — Magno fala baixo, com
um tom de derrota tão grande que mesmo tendo sido alvo de mentiras e
chacotas, me sinto penalizada por ele.
— Raul, eu conheço cada amante sua, dividimos todas. Você não é
homem de uma única mulher, sempre disse isso com orgulho. Te pedi tanto
para deixar Lisa em paz, te disse que ela era uma moça diferente das putas
que dividimos. Mas não! O grande Raul não pode querer algo e não ter. Você
acabou com a vida da menina, mentiu o tempo todo, seu desgraçado! —
Artur joga um ensanguentado Magno no chão e caminha pelo escritório,
irado. — Quando você me mandou para o Rio de Janeiro tinha tudo
arquitetado não é, seu miserável?
— Sim... — admite e mais uma faca é enfiada, sem dó, em meu
coração já esfacelado. Fecho meus olhos com força e tenho vontade de
morrer, sumir...
— Desgraçado! — Artur pega um vaso e joga na parede com força.
— Já imaginou quando ela descobrir o quão desgraçado, miserável e
mentiroso você é? Que foi você, Magno, o autor das propostas sujas para
trepar com ela, pagando-a e comparando-a como uma prostituta? Querendo
pagar para comer a menina enquanto participava de várias orgias, e ainda
querendo a única mulher que te pedi para deixar em paz? — Mais um murro
na cara do desgraçado. Vomito aqui mesmo quando descubro que o cara que
namorava, e me entreguei por inteiro, me tratou como mercadoria barata,
mentiu, traiu... Meu namorado... Magno.
Abaixo a cabeça e enfio entre os joelhos, e choro com berros
angustiantes. Meu coração está doendo, quebrado, sangrando e ainda me
sinto suja e usada.
Ouço passos correndo e alguém me puxa para cima, olho e vejo Artur
me amparar e Magno, Raul, Magnum... sei lá o nome certo desse desgraçado,
me encarar com um olhar assombrado.
Suas lágrimas misturam-se com o sangue que escorre de seu nariz e
sua camisa branca está vermelha.
Ele me estende a mão e vejo que está tremendo.
— Lisa... me perdoe, eu te amo... — Olho para ele com tanta
decepção e desgosto que ele desvia os olhos. Artur me aperta os ombros.
— Conta para ela todas as suas mentiras e tramoias, Raul, seja
homem! — Artur ordena, irado.
— Lisa... — Magno cai de joelhos e coloca as mãos postas, ele me
olha de baixo para cima.
— Me perdoe. Eu não sabia o que era amar, nunca namorei. Só trepei.
— Seu rosto inchado e azulado está muito machucado, mas não tanto quanto
meu coração. — Trocava de mulheres como mudo de roupas, não as
valorizava. Fiz coisas que me envergonho somente de pensar. Fui um verme,
menti, trapaceei, queria te comer... desculpe, queria você a todo custo quando
te vi pela primeira vez, naquele sinal, perto de sua casa, com dois grandes
buquês. Mandei Artur te seguir e descobrir tudo sobre você. Tenho um
dossiê...
Meu coração continua sendo esmigalhado a cada palavra que sai de
sua boca e sinto tanta dor que parece que vou ter um infarto. Coloco as mãos
no coração e fecho os olhos. Ele hesita, mas toma impulso e continua falando
e chorando.
— Eu o mandei te fazer aquelas propostas indecorosas, que hoje,
quando penso, tenho vergonha da maneira como agi... Obriguei um homem
de bem a proceder conforme minha deformada maneira de ver as mulheres.
Depois que consegui ficar financeiramente independente, pensei que, por ter
sido muito pobre, poderia comprar tudo que quisesse com meu dinheiro. E
passei a viver assim... Amor, me perdoe, amo você mais do que tudo neste
mundo, me perdoe, não me deixe. — Ele se arrasta de joelhos até onde estou
e coloca a cabeça em meus pés.
Olho para baixo e vejo o homem para quem entreguei meu coração
destruído no chão. Olho para Artur e ele olha para Magno com lágrimas nos
olhos. Sei que sente a dor de seu amigo.
— Vou te contar tudo, amor, tentei contar várias vezes, mas adiava
porque tinha medo de você me deixar. Menti no shopping, o meu nome...
nunca foi Magnum... — Soluça alto. — Meu nome completo é Raul Magno
Gorgoni. No início queria somente te levar para a cama. Como me arrependo
disso... — Levanta a cabeça e me olha nos olhos. Olho para ele, sentindo meu
peito arder, e pergunto o que me faz querer morrer.
— Você me traiu? Esteve com outras mulheres estando comigo? —
Ele baixa o olhar e sinto meu peito rasgar.
— Lisa... — Me olha arrasado e pálido.
— Me tira daqui, Artur, não quero ver esse demônio enquanto eu
viver. — Tento correr para fora, mas Artur me segura.
Artur olha para Raul com desgosto e sacode a cabeça. Ele então se
levanta e me olha nos olhos.
— Eu juro que nunca te traí, Lisa, ficava com outras mulheres antes
de ficarmos juntos. Juro que depois que fiz amor com você pela primeira vez,
nunca mais toquei em mulher alguma, somente você. Apaguei todos os
contatos de minhas ex-amantes e se encontro alguma, as descarto, dizendo
que tenho namorada e vou me casar com ela. Você, amor! Somente você,
Lisa! Me perdoe por tudo que é sagrado, me deixe te mostrar meu amor e
arrependimento. Me apaixonei por você, seu carisma, sua honestidade,
carinho, amor. Artur, me perdoe também, e diz para ela que nunca amei
ninguém. Você me conhece! Por favor, me ajude! — Magno olha de mim
para Artur, com sofrimento rasgando e distorcendo seu rosto.
— Raul, eu te avisei tanto, meu amigo. Porra! — Limpa os olhos
molhados e me olha com compaixão.
— O que você quer fazer, pequena? — Olho para baixo e enxugo
minhas lágrimas, quero esquecer esse casulo de mentiras que vivi com esse
homem.
Caminho até Raul e olho bem dentro de seus olhos.
— Raul Magno, eu te amei, confiei em você. Dei tudo de mim, meu
corpo, coração, confiança, lealdade. Mas você pisou em tudo isso com esse
emaranhado tão grotesco de mentiras. Eu não vou negar, ainda te amo, mas a
partir de hoje, juro a você que minha missão de vida será tirá-lo de meu
coração e vida. Você, Raul Magno, está morto para mim a partir de agora. —
Vejo-o empalidecer mais ainda, se encostar na parede e deslizar por ela sem
forças. Vejo a minha frente um homem que se perdeu e se quebrou em meio a
tantas mentiras.
Viro para Artur.
— Me tire daqui, Artur, por favor. — Caminho para fora daquela casa
maldita com a cabeça erguida e o coração em pedaços.
Olho para trás e vejo Magno me olhando sem brilho nos olhos e
coberto de sangue, e lágrimas descendo em cascatas por seu rosto castigado.
Seus olhos sem brilho e mortiços ainda me assombrarão por muito tempo.
Lisa descobriu tudo da pior maneira possível. Não deu para explicar,
ou melhor, eu adiei por medo. Ela não quis me ouvir. Sabia que ela agiria
assim, pois odeia mentiras. Por isso protelei tanto. Tinha medo de acontecer
exatamente o que aconteceu. Me sinto morto por dentro. Acabado. Sozinho.
Vazio. Me sinto sujo.
Me levanto de onde Lisa me deixou horas atrás e me arrasto até meu
escritório. Tento ligar para ela com desespero, dezenas de vezes, deixo outras
dezenas de mensagens. Clamo, suplico, imploro seu perdão. Ela não
responde, nem visualiza as mensagens. Ligo em desespero para Artur que
também me ignora.
Pego uma garrafa de uísque e bebo no gargalo mesmo, quando
percebo a garrafa já está no fim. Vomito no chão, pois estou sem comer há
horas. Me levanto e pego outra garrafa e saio me arrastando, tento subir as
escadas e caio batendo a cabeça na quina. Sinto mais sangue descendo,
morno e pegajoso, olho para o chão que começa a tingir-se de vermelho.
Sorrio e jogo a garrafa na parede.
— FODA-SE!
Vejo Lili correndo e me olhando escandalizada, sua cesta de frutas cai
espalhando maçãs e laranjas para todo lado. Sorrio e soluço, Lisa adora
maças, assim como eu.
— Raul, meu filho! O que aconteceu? — pergunta já chorando e
limpando meu rosto ensanguentado e machucado com delicadeza.
— Lisa me deixou, Artur a levou de mim. Filho da puta! — Tento me
levantar e tudo roda. — Quero Minha Lisa de volta, vou buscá-la. — Tento
me levantar novamente e meu estômago embrulha. Vomito e logo em seguida
caio na risada. Estou com nojo de mim mesmo. Podre em todas as áreas.
— Sou um lixo, Lili. Um verme asqueroso, perdi a mulher da minha
vida, sou um obcecado, mentiroso do caralho. Ela me disse que eu morri para
ela. — Soluço e começo a chorar. Ela me olha com pena e tenta me levantar,
sem sucesso, é claro. Sou grande demais e muito pesado, ainda mais bêbado.
— Não, filho... tudo nessa vida tem jeito. — Tenta me consolar.
— Para mim, não, minha merda foi muito grande. Ela não vai me
perdoar nunca. Menti, tripudiei, manipulei, a tratei como uma prostituta, no
início. Minhas intenções iniciais eram vis, maquiavélicas. A coloquei no
mesmo nível de uma puta, a tratei como tal... não vou me perdoar, nunca!
Artur me avisou, ele me avisou, Lili. — Ela vai correndo para a cozinha e
volta com um pano úmido e um copo com água.
— Bebe, filho. — Pego a água e bebo, enquanto isso ela limpa meu
rosto com suavidade, dói pra porra.
— Lili, liga para ela e diz que me arrependi, me ajuda! — murmuro
em desespero.
— Calma, Raul, vamos subir, você vai tomar um banho e amanhã
tudo parecerá melhor que hoje. — Tenta me consolar.
— Não vai, Lili, sem ela em minha vida, nada nunca mais será bom.
Ela levou meu coração. — Coloco minha cabeça entre as mãos e choro mais
um pouco.
Ela me ouve com paciência enquanto lamurio e choro sem parar,
finalmente consegue me levar para o banheiro e me faz tomar um banho.
Quando termino saio tonto e com enjoo, tombo na cama e apago.
Saio da casa de Raul destruída e amparada por Artur. Ele me leva
para casa em silêncio. Quando chegamos, me olha pedindo permissão para
subir e deixo. Chegamos e entramos.
— Lisa, nunca concordei com as atitudes de Raul em relação a você,
sabe bem disso, não é? — Balanço a cabeça em concordância, me sentindo
vazia. — Mas, pequena, ele agiu feito um louco com você, nunca vi Raul
fazer esse tipo de coisa tão engenhosa e elaborada para ficar com uma
mulher. Lisa, ele sempre teve todas que quis com muita facilidade... E com
você, ele agiu de maneira totalmente diferente e imprudente. Teve que lutar,
ainda que de maneira insana. — Pega meu queixo e me faz olhá-lo nos olhos.
— Ele realmente sentiu algo diferente por você, mesmo que no início não
admitisse. Lisa, não estou defendendo o Raul, ele foi longe demais em seus
planos, mas pare e pense. Se ele não tivesse um interesse diferente por você,
você acha que ele teria elaborado um plano tão complicado e mexido com
tantas pessoas para atingir seu alvo? Pequena, o homem me mandou para o
Rio de Janeiro e nunca me deixava voltar. Quando conversávamos, eu sentia
um Raul diferente, mais alegre, mais satisfeito. Ele sempre foi tão
carrancudo, centrado e vivia para o trabalho. — Mais lágrimas deslizam de
meus olhos.
— Ele ia para orgias e tinha mulheres aos montes... — Dói pensar em
Raul com outras mulheres.
— Sim, meu doce anjo, eu também sou um puto e nem por isso você
me condena — fala, tentando brincar.
— Mas você não era meu namorado — sussurro , sentida.
— Sim, meu interesse em você sempre foi diferente de Raul. Ele te vê
como uma mulher maravilhosa, sua futura esposa. Anjo, ele faltou te pedir
em casamento hoje. — Sorrio sem felicidade alguma.
— Ele morreu para mim, Artur — digo nervosa. — E só não te risco
da minha vida porque ele te enganou também — arremato. — Não quero
mais falar desse homem — falo limpando as lágrimas e querendo encerrar
esse capítulo feio da minha vida. Artur sorri triste e concorda.
— Ok, não vamos mais falar sobre ele por hoje. Estou doido para
tomar um café. — Balanço a cabeça e subo para fazer o café, ele me segue.
Conversamos sobre temas mais fáceis, enquanto preparo a bebida.
Artur vai embora prometendo me ligar no dia seguinte e me fazendo
prometer ligar para ele se precisasse de qualquer coisa.
Minha noite foi infernal, chorei a noite toda enquanto me lembrava
das mentiras de Raul.
Passo a semana toda em casa e não saio para nada. Fico o tempo todo
sentada olhando para o nada e odiando Raul cada vez mais, e a mim mesma
por ter sido tão tola e ingênua.
Meu telefone está entupido de mensagens e ligações do mentiroso do
Raul. O Ignoro completamente. Os dias vão passando e a dor não para, pelo
contrário, parece aumentar cada vez mais. Sinto falta do maldito e choro sem
parar.
Meu luto dura uma semana, até que no sétimo dia resolvo levantar,
sacudir a poeira e dar a volta por cima. Um dia essa dor terá fim.
Me levanto com novo ânimo e estabeleço minha rotina novamente.
Claro que sofro, mas me recuso a chorar e lamentar mais. E assim os dias vão
se arrastando até completar um mês sem querer saber notícias do mentiroso.
Artur me liga ou vem assiduamente. Mas o fiz prometer não falar nada sobre
Raul. Não quero saber.
Depois que Lisa me deixou minha vida perdeu o sentido. Não sinto
fome, não tenho vontade de trabalhar, só fico em casa bebendo sem parar.
Lili tenta de tudo para me animar, mas não consegue e resolve apelar para
Artur. O mesmo desgraçado que levou Lisa de mim. Quando ele veio ao meu
quarto não tinha mais nada a perder, eu investi com tudo nele e o deixei
arrebentado no chão. Ele sorriu e cuspi em sua cara de merda, mandei ele
sumir de minha vida.
— Você está me despedindo, Raul? – Ele sorri de lado e cospe
sangue no chão.
— Sim, desgraçado traidor! — Sei que ele não tem culpa, mas
preciso de um bode expiatório para descontar minha dor e frustração.
— Mas eu não aceito! — Se levanta com uma careta de dor, e se
arrasta até uma poltrona. — Raul, você só fez merda, caralho! Quase 50 anos
no couro e age como um menino! Por que não vira homem e faz alguma coisa
para reconquistar Lisa ao invés de ficar em casa enchendo o rabo de álcool?
— fala com uma careta de dor.
— Ela me odeia, caralho! E eu mereço. Fui um escroto desgraçado
com ela! — grito angustiado, com a mão no coração, essa porra dói.
— Não nego que você é um imbecil, mas até os imbecis pensam de
vez em quando – diz o maldito, com sorriso de deboche na cara inchada e
coberta de hematomas.
— Vai se foder! — falo alto, irado e muito bêbado.
— Eu não, ver você fodido já me satisfaz. — Sorri zombeteiro e
quero quebrar ainda mais sua cara já arrebentada.
Me deito na cama, que está uma bagunça. Cheia de roupas de Lisa
que abraço toda noite antes de dormir. Não deixo a Lili tirar nada e nem
arrumar. Tem várias garrafas vazias de qualquer bebida que contenha álcool,
jogadas pelo quarto. Nem escolho mais. Só encho a cara e anestesio a dor.
Meu cabelo e barba estão embaraçados e sem corte. Foda-se se ligo.
Deito emburrado e agarro as roupas de Lisa e cheiro com saudades. Meus
olhos se enchem de lágrimas e fungo baixinho.
— Cara, reage, como você quer o perdão e reconquistar Lisa de volta
parecendo um mendigo e maltrapilho? Você fede a álcool, caralho! — Ignoro
completamente esse pau no cu. Vou deixá-lo falar sozinho, quando se cansar
vai embora e terei paz para beber mais e me lambuzar em minha miséria.
— Raul, posso ajudá-lo a reconquistá-la, antes que você vomite seu
fígado de tanto beber, o que acha? — Meu coração dá um salto e me viro
para ele em expectativa.
— Mas você me bateu até quase me matar por ter feito as merdas que
fiz, seu desgraçado de merda, e agora vem dizer que quer me ajudar? Maldito
mentiroso! — acuso, mas com o coração disparado em expectativa, a
primeira, em mais de um mês.
— Primeiro lugar, o mentiroso da porra é você, em segundo, sim, se
quiser posso te ajudar, Lisa confia em mim. E sei que apesar de ter agido
como um cuzão, se apaixonou verdadeiramente por ela. Somente um cara
apaixonado faz tanta merda como você fez! — Troça o maldito. — E só vou
ajudar porque vejo que minha menina sofre por você, seu cafajeste do
caralho, obcecado e mentiroso — diz com um sorriso que somente meu
amigo dá, sincero e leal. Sinto meu coração aquecer com suas palavras. Ele,
voltando a me tratar como seu amigo, além de, é claro, saber que minha
menina ainda me ama.
Me sento na cama e olho para Artur, o vejo meio distorcido, bebi
demais esse último mês.
Acho que estou mijando álcool, penso com desgosto.
— Ela disse que me ama? — indago, suando e com o coração de
quase meio século disparado no peito.
— Não, ela disse que te odeia. Mas vejo o que ela não diz, ou seja,
que te ama. A bichinha está sofrendo muito. Venhamos e convenhamos, você
foi um asno com a menina, concorda? — fala baixinho e vermelho de raiva,
me olhando dentro dos olhos, sem piscar.
— Sim, fui um asno, você tem toda razão, Artur. Mas eu já a amava e
não sabia. Por isso tanto trabalho para ficar com ela, e quando vi que estava
me envolvendo demais, disse a ela que não dava para continuar e fugi. —
Rasgo meu coração para ele, sendo o mais verdadeiro possível.
— Gostei de ver essa hombridade em você. Ela te deixou de quatro,
meu amigo, desde o primeiro dia em que a viu. Sabe que nunca agiu assim
com mulher alguma. — Concordo com Artur.
— Verdade. O que posso fazer para reconquistá-la? Se não recuperar
meu amor, que é essa mulher, não tenho a menor vontade de viver —
arremato com angústia.
— Vamos começar devagar, vou falando com ela sobre você aos
poucos, contando as mudanças que vi em você. Comece a agir como um
homem de caráter, risca as mentiras da sua vida, seja romântico, sei lá, porra,
pesquisa na internet! — Sorrio. É exatamente isso que farei.
Me levanto, puxo Artur pela mão e o abraço.
— Temos um trato, amigo. — Afasto-me e aperto sua mão. — Agora
vá lavar esse rosto coberto de sangue e pede à Lili para passar uma pomada
nos inchaços, fala que indiquei a mesma que usou em mim quando você
arrebentou meu rosto. — Sorrio sinistro, já ligando meu notebook.
Coloco na barra de pesquisa como reconquistar uma mulher. Depois
de horas já tenho algumas ideias de como reconquistá-la. Raul Magno
ressurge das cinzas, ou melhor, do fundo do poço, pronto para reconquistar
sua Borboletinha.
Depois que decido esquecer de vez o Raul, minha vida começa a
andar e sinto menos peso no coração. Sei que com o tempo vou esquecê-lo e
quando olhar para trás não sentirei essa dor maldita que fere a minha alma.
Me levanto cedo e subo para preparar meu café. Após comer, arrumo
a cozinha.
Tenho vários desenhos de colares novos e muitas pedras que
chegaram. Me sento e começo a trabalhar. A sineta toca e desço para atender.
Abro a porta e vejo um imenso buquê de flores, nunca vi um tão
grande. Recebo sem nem imaginar de quem possa ser. Raul deu sossego e já
tem mais de quinze dias que parou de me ligar e mandar mensagens.
Confesso que senti uma dorzinha no peito quando as mensagens e ligações
pararam, significava que o mentiroso estava voltando a viver sua vida de
mentiras e vigarices, juntamente com putarias.
Artur não passa a semana sem vir aqui e às vezes saímos. Ele fala de
Raul em alguns momentos e sempre fico atenta às novas informações. Ele
está no fundo do poço, segundo Artur, não come e somente bebe até
desmaiar. Meu coração aperta quando me conta isso.
Mas Artur só fala de Raul quando eu pergunto disfarçadamente.
Pego o imenso e cheiroso buquê e vejo que nele veio um cartão. Abro
e congelo no lugar, meu coração dispara e meu coração traidor acelera.
“Me perdoe, te amo mais que minha vida.
Raul Magno.”
Fico irada com a ousadia desse ser que vive enfiado na mentira e jogo
seu cartão de merda no lixo, e as flores também.
Subo para o andar de cima e tento trabalhar. Mas não consigo fazer
nada, e quando não resisto mais, desço correndo, pego o buquê e o cartão que
estão no lixo e releio, sentindo um calor delicioso no coração.
Coloco as flores em um jarro de água e guardo o cartão em uma
gaveta em meu quarto.
E isso vira rotina. Todos os dias, exatamente as 11h da manhã, chega
um imenso buquê de flores e uma declaração de Raul. Em todas ele sempre
me pede perdão.
Eu já fico ansiosa quando vai chegando o horário. Fico sentada no
sofá aguardando a sineta tocar. Mas Raul não me liga ou me manda
mensagens, se comunica somente através dos buquês e cartões. Isso durou
trinta dias e de repente ele parou.
Espero todos os dias e nada. Pergunto a Artur disfarçadamente sobre
Raul e ele me diz que ele está bem.
Finjo que está tudo bem e fico esperando alguma manifestação de
Raul... algo novo.
A primeira coisa da lista que elaborei para ter o perdão e minha Lisa
de volta foi ter paciência. Essa é a parte mais difícil para mim. Minha
vontade é de ir para seu apartamento igual um troglodita e a tomar,
prendendo-a a mim para sempre. Mas não é assim que funciona e já tomei
demais na bunda por agir com imprudência.
Mandei flores por um mês e Artur me mantinha informado sobre suas
reações. Ele me disse que no início ela as rejeitou, mas depois se acostumou e
esperava com ansiedade os buquês e cartões. Confesso, sem vergonha
alguma, que quando ele me contou isso chorei igual criança. Eu ia conseguir
arrumar a merda que fiz.
Quero continuar mandando os buquês sem parar, porque ela está
gostando e feliz, porra! Mas Artur me diz que tenho que parar, Lisa tem que
sentir falta, segundo ele.
Dói mais em mim do que nela, tenho certeza.
Mas com tudo isso, ela não manifesta vontade de me ver ou falar
comigo, isso ofusca um pouco minha felicidade. Quinze dias se passam e
agora está na hora de uma nova tática. Sorrio feliz.
Mando chocolates, uma semana sem parar.
Não funciona.
Mando pedras naturais que sei que ama.
Não funciona.
Mando maçãs colhidas no pomar.
Não funciona.
Mando um gato siamês que sei que ama.
Não funciona.
Mando mais um monte de coisas e NADA FUNCIONA.
Começo a perder as esperanças e a beber novamente. Artur tenta me
consolar, juntamente com Lili.
— Cara, você tem que ter paciência, depois de toda a teia de mentiras
que teceu em volta dela, o que queria?
— Exatamente, filho. Você agiu com imprudência com a menina e
agora tem que ter paciência, como diz Artur.
Ouço eles falarem e baixo a cabeça arrasado e sem esperanças.
— Ela não vai me perdoar. Porra! Tem meses que tento reconquistá-
la, quando penso que estou conseguindo ela se fecha. Nunca quer falar
comigo, nunca atende minhas chamadas ou retorna minhas mensagens —
falo, com a cabeça nas mãos.
Lili e Artur se levantam e me abraçam. Soluço, sem esperanças.
— Raul, não desista, cara. Ela te ama. Mas o modo como a tratou,
minou sua confiança em você. — Meu coração se aquece novamente, não
posso desistir, mas tem dias que me bate um desespero tão grande que penso
que vou enlouquecer.
Artur, como o grande amigo que é, está cuidando dos negócios, não
tenho cabeça para nada, somente reconquistar Lisa. Estou obcecado, sou
obcecado. Caralho de vida sofrida a minha!
— Porra! Vocês têm toda razão. Não vou desistir, eu fiz a merda,
somente eu posso consertá-la. — Eles sorriem.
— Aí, cara! É assim que se fala. — Artur me abraça e dá um tapa na
minha testa. Sorrio, sei que é sua maneira de dizer que me ama.
— Pare de agredir meu menino, Artur, ele já sofreu e está sofrendo
demais, seu desnaturado! — Lili me defende e me sinto verdadeiramente
acolhido e amado, falta somente minha menina para minha família estar
completa e estou indo buscá-la. Pode demorar anos, mas não morro sem Lisa
em minha vida, como esposa e mãe de meus filhos, eu juro!
***
Com minhas esperanças e coragem renovadas, sei o que tenho que
fazer. Me olho no espelho depois de um banho demorado e aparo a barba.
Somente o cabelo que continua com o topete gigante, esse depois eu aparo.
Na verdade, não quis cortá-lo, minha Borboletinha adora agarrá-lo quando
me beija e estamos fazendo amor.
Agora, ela pode até se pendurar em meu topete, penso com um pingo
de alegria em meu coração atormentado, quebrado e ferido.
Estou bem mais magro, com olheiras imensas e escuras e com vários
cabelos brancos que não existiam antes de minha pequena me deixar. Sinto o
peso de minha idade pela primeira vez na vida. Estou cansado e com vincos
fundos em volta dos olhos e boca. Abaixo a cabeça e mais uma vez me
arrependo do que fiz a Lisa e as outras mulheres que passaram por minha
vida. Fui tremendamente egoísta e mau-caráter. Precisou eu perder a única
mulher que amei para cair na realidade e ver o verme que fui ao longo de
minha vida de merda.
Olho a minha camisa branca folgada e calça jeans caindo, mesmo
usando um cinto. Emagreci muito nesses meses. Também, só bebia e quase
não comia. Tenho sorte de ainda estar de pé, graças aos meus amigos fiéis e
sempre presentes, Artur e Lili.
Pego minha carteira, chaves do carro e celular. Vou sair pela primeira
vez depois que levei um pé no rabo para aprender a virar homem.
Desço as escadas e vejo Lili e Artur rindo de orelha a orelha, disse a
eles meu plano de reconquistar Lisa.
— Me desejem sorte, porque não sei quando volto. — Eles vêm até
mim e me abraçam.
— É isso aí, Raul. Você vai conseguir trazer Lisa novamente para
casa. — Artur fala e me dá tapas doloridos nas costas.
— Vem, meu filho, me dê um abraço e não volte sem a Lisa. — Lili
me beija e me sinto forte e preparado para buscar Lisa. Já sei o preço que
tenho que pagar e estou disposto. Fiz merdas demais.
Escolho o maior carro que tenho, Hyundai i30 preto e olho se Lili
colocou tudo que pedi. Confiro: saco de dormir, cobertores. Beleza.
Entro no carro satisfeito e com muita esperança de que Lisa me
perdoe.
Coloco uma playlist que adoramos e já ouvimos muitas vezes juntos e
para minha eterna vergonha a primeira música que toca é Mentira, de
Adriana Calcanhoto. Caralho!
Que é pra ver se você volta. Que é pra ver se você vem. Que é pra ver
se você olha pra mim...
Ressalto baixinho a última estrofe e sinto meus olhos marejarem.
Continuo ouvindo nossa playlist e confesso que estou trêmulo e
ansioso, Lisa é muito sistemática e gosta das coisas certas. E eu fui um tolo
em não valorizar isso.
Vou pensando em tudo que fiz e o que pretendo fazer e sei que terei
que me munir de calma e muita paciência, sei que ela não vai facilitar.
Conheço minha menina.
Chego em frente ao prédio onde mora e desço do carro, com as pernas
bambas, igual uma mariquinha. Porra!
Vejo Lúcio me olhando e descendo para me encontrar. Fico sem graça
e ao mesmo tempo ansioso. Lisa deve ter falado com ele sobre minhas
canalhices.
— Bom dia , Lúcio. — Corto logo, se for me agredir ficará mais
manso.
— Bom dia, Magno. Você sumiu, perguntei para Lisa e ela me disse
que estava resolvendo uns problemas. — Realmente minha menina é
perfeita, totalmente discreta.
— Sim, andei fazendo umas merdas e tive que parar um tempo para
refletir e ver como resolver — digo a ele sem entrar em detalhes.
— E está tudo bem agora? — pergunta, amável como sempre.
— Espero que sim. Estou empenhado em arrumar a bagunça que me
meti. Mas me fale, como está Lisa? — Ele me olha estranho.
— Bem, vocês não estão mais namorando? — pergunta ,
desconfiado.
— Bem... — Coço a cabeça e decido contar a ele parte da verdade e
esperar que me ajude.
— Ela é minha namorada, mas me dispensou devido a umas merdas
que fiz..., mas adianto, não foi traição, ao menos com outras mulheres —
digo rapidamente.
— Você a trai com homens, então? — pergunta, pálido e dá um passo
para trás.
Não consigo controlar e dou uma gargalhada tão alta que algumas
pessoas que passam na rua me olham, assustadas.
— Não! Eu gosto de mulheres, cara! Foram certas omissões de minha
parte... é isso! Preciso de sua ajuda, ela não quer nem me ver e isso está me
matando aos poucos.
Ele me olha demoradamente e solta a merda.
— Realmente você está acabado, com cara de velho. Mas se Lisa te
dispensou ela deve ter seus motivos e sou amigo dela e não seu — o maldito
diz e vira as costas.
— Lúcio! Por favor! Eu preciso subir e conversar com ela, explicar
tudo novamente, e dessa vez vou convencê-la com meu amor e sinceridade.
— Ele continua andando.
— Não. — Fecha a portaria e entra. Safado, eu sabia que não iria ter
sua colaboração, por isso o carro grande e saco de dormir. Vou acampar
nessa porra até Lisa se condoer e me receber.
— Foda-se você, maldito puxa-saco — grito e volto para o carro.
Entro, ligo o ar e pego um livro para ler. Aliás, trouxe vários. Me
ajeito no carro e leio com tranquilidade ouvindo músicas clássicas. Sempre
de olho na portaria para ver quando Lisa entra ou sai.
Anoitece e nem sinal dela. Tento ligar, mando mensagens, mas ela
não responde. Vou conseguir reconquistá-la, vou dar canseira em minha
pequena. O fofoqueiro já deve ter contato que estou aqui.
Saio do carro e vou ao shopping, janto, escovo os dentes e volto para
o carro, hoje fico sem banho. Amanhã vou a um hotel qualquer e tomo um
banho. Mas daqui não saio, daqui ninguém me tira.
Arrumo meu saco de dormir, já são quase 23h. A porra do carro é
mesmo espaçoso. Ligo o rádio, pego meu celular e olho para ver se ela me
mandou algo. Nada. Olho para cima e vejo a luz de seu apartamento acesa,
ela está na cobertura.
Fecho meus olhos e caio rapidamente no sono, me sinto calmo só de
saber que ela está pertinho de mim.
Lúcio me liga e diz que Magno está na portaria e quer falar comigo.
Claro que falo que não é para liberar sua entrada em hipótese alguma. Mas
quando olho pela janela disfarçadamente e vejo Magno, meu coração dispara
e minha vontade é descer correndo e agarrar aquele mentiroso topetudo e
beijá-lo até morrer.
Sabendo ainda que quer falar comigo, deixa meu coração quentinho,
pois ele sumiu tem mais de quinze dias e isso me deixou angustiada. Não
estou pronta para perdoá-lo ainda, mas quero que continue a demonstrar que
me ama. Mas confesso, a ira, raiva e decepção por ele mentir tanto no início
já está mais branda e se ele não desistir eu estou a caminho de perdoá-lo.
Eu quero muito perdoá-lo, mas tenho medo de ser enredada
novamente em mais mentiras.
Artur me diz sempre que ele está destruído e completamente
arrependido. Lili também me liga quase todos os dias e confirma tudo que
Artur diz sobre Magno estar no fundo do poço e sofrendo muito.
Confesso que saber que Magno parou sua vida e só bebe me faz
chorar por dias, sem parar. Mas a mágoa por ele ter mentido tanto ainda me
machuca demais.
Eu o vejo chegando e entrando no carro, será que o louco dormirá lá?
Balanço a cabeça, faço um chá e volto a fazer meus colares.
Horas depois, me levanto e já são quase duas da manhã. Vou até a
janela e vejo o carro de Magno no mesmo lugar. Meu coração sacode, puta
merda, ele está dormindo no carro. Sorrio e desço para dormir com uma
alegria que me faz querer cantar e pular.
Eu me deito e não consigo dormir. Só de pensar no desconforto que
Magno deve estar sentindo me deixa agitada e triste. Me levanto e vou até a
janela e vejo o carro coberto de sereno. Deve estar gelado lá dentro. Tadinho.
Volto para a cama e me forço a ficar lá até o dia clarear, porque dormir vai
ser impossível.
Vou ficar firme, ele mentiu, trapaceou, me enrolou. Merece sofrer
mais um pouco.
Quando amanhece eu tomo banho, faço meu café e olho pela janela
discretamente. Vejo ele de pé em frente ao carro, olhando para cima e meu
coração dispara.
Deus, eu amo demais esse homem! Vejo ele tomando café em um
copo de plástico branco e comendo um biscoito. Termina, joga no lixo o copo
vazio e entra no carro.
Fico de olho e vejo que nos horários de almoço e janta ele sai e vai
para o shopping.
Já tem três dias que está nesse batido. De manhã ou à tarde ele sai e
volta com os cabelos úmidos e com roupas diferentes, acho que está tomando
banho em algum lugar.
Meu novo vício é olhar o homem da minha vida, e estou por um fio
para descer correndo e trazê-lo para eu cuidar e amar. Vejo que ele está
magro e pálido. Hoje também noto que ele está tossindo muito e fico
preocupada. Peço a Lúcio para olhar e perguntar como ele está sem tocar em
meu nome.
Observo Lúcio conversando com ele e daqui vejo a expressão
preocupada do meu porteiro e meu coração dispara.
Caralho, está sendo mais difícil do que pensei, minha menina é
turrona. Sinto meu corpo quebrado de ter que dormir aqui nesse carro. E
como fiquei esses meses somente bebendo e comendo muito pouco, meu
corpo está debilitado e acho que acabei pegando a porra de uma gripe. Só me
faltava essa agora. Me sinto quente e o corpo dói pra porra. Só quero ficar
deitado, mas não saio daqui enquanto Lisa não me receber e me perdoar.
Vejo sempre sua sombra na janela me olhando e fico trêmulo de
vontade de subir e abraçar essa menina tinhosa que amo mais que a mim
mesmo.
Vejo Lúcio chegar e me olhar preocupado.
— Cara, você está tossindo desde ontem e está com o rosto muito
vermelho. Está com febre? — pergunta estendendo a mão e colocando em
minha testa.
Dou um pulo para trás.
— Sai fora, jacaré! Estou bem, somente um pouco resfriado e... —
Tenho uma nova crise de tosse.
— Um pouco resfriado é o caralho. Você está com febre, homem.
Precisa ir ao médico e voltar para sua casa para se tratar. Ficar aqui nesse frio
só vai piorar. E olha como o tempo está fechado para chuva. Se chover só vai
piorar seu estado. — Vejo preocupação em seus olhos.
— Fica tranquilo, Lúcio, não é uma gripezinha que vai me derrubar,
já passei por tantas coisas nessa minha vida que essa dorzinha em meu corpo
e cabeça não é nada — falo para tranquilizá-lo, mas me sentindo moído de
dor no corpo todo e cabeça. Minha vontade é de me deitar e me cobrir, estou
sentindo muito frio. Ele dá de ombros.
— Você é quem sabe, mas te aconselho a pensar melhor. — Volta
para dentro do prédio e fecha a portaria.
Entro no carro e sinto a ventania balançar o carro. Caralho, hoje o céu
vai desabar e acontecer um novo dilúvio. Estou tremendo de frio dentro dessa
porra gelada, mesmo com o aquecedor ligado.
A chuva desaba e o mundo alaga, nunca vi tanta chuva em toda minha
vida. Tremo de frio e me enrolo no cobertor e espirro sem parar. Minha
cabeça parece que vai explodir enquanto o mundo explode lá fora de tanta
chuva.
Deito-me, me enrolo e fico quieto, assim dói menos a cabeça e o
corpo.
Lúcio me interfona e me diz que Raul está muito gripado, tossindo e
com febre alta e que ficou preocupado porque ele não está se alimentado
bem. Meu coração dispara e choro de pavor. Olho pela janela e a chuva
castiga o carro. Meu Deus, chega de nos fazer sofrer. Já deu! Vou buscá-lo
assim que a chuva passar.
Chega! Ele já pagou por tudo que fez e se mostrou arrependido.
Agora eu que preciso perdoá-lo e tirar essa mágoa do meu coração. Estou
pronta para esquecer todo passado de mentiras.
Acabou, quero meu namorado de volta. Olho o relógio, só não desço
agora porque a chuva está violenta. Fico olhando pela janela e aguardando a
chuva passar, mas parece que vai ficar assim a noite toda.
Desço, tomo um banho quentinho com a consciência pesada porque
Magno está sozinho e doente no carro. Choro em desespero e sinto ódio de
mim mesma por não ter dado a ele, ao menos a oportunidade de conversar
comigo.
Tem horas que sou uma pessoa má. Choro alto e grito com desgosto.
Sempre fui assim, procuro andar ao máximo com retidão, porque sou difícil
de perdoar.
Preciso exercitar mais o perdão em minha vida.
Sento e espero o dia amanhecer. Estou quebrada, com dor de cabeça e
dor no corpo de ansiedade.
Olha pela janela e ainda vejo o carro, entretanto, não vejo Magno,
como todos os dias, do lado de fora. Meu coração dispara e desço correndo
em desespero absoluto. Lúcio me olha assustado.
— Lúcio, ele já foi ao shopping? — pergunto já sem fôlego e
chorando.
— Não, ainda está dormindo — diz me olhando pálido quando
entende meu desespero.
Olhamos um para o outro em entendimento e corremos para o carro.
Está gelado aqui fora e ainda chove fininho.
Tento olhar dentro do carro, mas os vidros são escuros e não vemos
nada.
Entro em pânico e bato com força na janela. Tento abrir a porta e
puxo com tanta força que corto minha mão. Limpo as lágrimas que não
param de cair.
— Calma, Lisa, você cortou a mão e espalhou sangue por todo seu
rosto.
— Ele está aí dentro, Lúcio, sinto isso. E não está bem. Se acontecer
alguma coisa com Magno, nunca, jamais me perdoarei, fui muito dura com
ele... — digo chorando sem parar. — O que faremos? — Lúcio pega seu
telefone e liga para um chaveiro. Depois que termina, pego o seu telefone e
ligo para Artur.
Ele atende no primeiro toque.
— Alô? — Sua voz é fria, sei que não conhece esse número. Soluço
desesperada. — Lisa, aconteceu alguma coisa? — Fungo alto. — Querida?
— pergunta agora temeroso e assustado.
— Sim, Artur, o Magno... — Me descontrolo e caio num choro com
soluços doloridos de desespero.
— Lisa! O que aconteceu com Magno, pelo amor de Deus? — Não
consigo falar e Lúcio pega o telefone e fala com ele.
— Ele estava com febre e tossindo ontem e hoje continua no carro, já
chamamos, batemos e ele não deu sinal algum. — Vejo Lúcio ficar mais
pálido ainda.
Me estende o telefone e pego.
— Lisa, você não sabia que ele estava passando mal? — Fico calada
com a consciência doendo por ter agido com tanta falta de empatia e amor.
— Sabia...— Faz-se um silêncio sepulcral do outro lado.
— Será que me enganei tanto assim com você? Será que aconselhei
meu amigo a se humilhar por um monstro? — Choro arrasada por saber que
ele tem razão, fui um monstro.
— Não... eu o amo. Não fale assim, por favor... — Ele desliga e fico
olhando o telefone com um arrependimento tão grande que parece que meu
coração vai ser arrancado sem anestesia.
O chaveiro chega e tenta abrir o carro, mas não consegue. Nessa hora
já estou sentada no chão, toda molhada e as mãos sangrando de tanto bater no
carro.
Vejo um veículo se aproximando em alta velocidade e assim que para
Arthur pula do carro e corre para onde estamos.
Ele tira uma chave do bolso e abre a porta do carro.
O que vejo ficará gravado em minha memória enquanto eu viver.
Raul Magno, encolhido em um canto, os olhos fechados e seu rosto
vermelho de tanta febre.
— Magno! — grito e tento chegar até ele, mas sou barrada por Artur.
— Deixa que agora eu cuido dele — me diz friamente.
— Artur, leve-o para meu apartamento, me deixe cuidar dele... — Me
ajoelho com lágrimas descendo por meu rosto, em desespero.
Ele me olha e vê minhas mãos sangrando e seus olhos se suavizam.
— Levanta, Borboletinha, Raul não iria gostar de ver a mulher que
ama nessa situação, ajoelhada e sangrando debaixo de chuva. — Me estende
a mão e me levanta.
— Vem, querida, vamos levá-lo para seu apartamento para cuidar
dele. Ele já sofreu para o resto de sua vida. — diz com os olhos vermelhos.
Sinto meu coração mais leve, mas doendo demais ao ver meu amor tão
debilitado.
Artur e Lúcio puxam Magno com cuidado e tento cobrir ele com um
guarda-chuva que Lúcio trouxe não sei de onde.
Eles sobem com ele pelo elevador e eu fico igual uma louca, só
chorando.
Corro na frente e abro a porta, Artur o leva direto para meu quarto.
— Você tem um cobertor elétrico aí, Lisa? — Corro para pegar,
ganhei de presente da minha patroa.
Trago rapidamente e quando entro no quarto, Magno já está nu e
Artur seca as partes de seu corpo que molharam.
Forramos a cama com um cobertor e cobrimos Magno com o outro.
Busco paracetamol líquido e Artur e eu conseguimos fazer com que engula
um pouco. Busco álcool e vou fazendo compressas em sua testa. E assim
passamos o restante do dia e a noite, e quando amanhece a febre finalmente
cede. Mas Magno continuava dormindo, estava muito fraco e debilitado.
Vou correndo fazer um café e suco de laranja. Coloco a mesa e como
rápido alguma coisa, desço com o suco e café para Magno e peço Artur para
subir e tomar seu café.
Fico sozinha com Magno que ainda dorme, agora respirando com
mais facilidade e sem a maldita febre.
Passo a mão suavemente em seu rosto encovado e nas olheiras
imensas. Pego seu imenso topete coberto de fios brancos, que antes não
existia e aliso sua barba bem aparada, que também está coberta de fios
grisalhos. Sua expressão mesmo dormindo é sofrida.
O quanto eu fiz esse homem sofrer? Penso com um nó na garganta e
vontade de chorar sem parar.
— Lisa... me perdoe... — Ouço sua voz baixa e fraca, mas continua
dormindo.
Sinto meu mundo afundar mais uma vez... acho que não vou
conseguir sair com vida desse sofrimento.
Pego sua mão grande e magra.
— Oi, amor, estou aqui, Raul Magno eu te amo mais que minha vida.
Me perdoe, amor, por ter demorado tanto a te perdoar. Eu te amo... Raul...
volta para mim... — digo com lágrimas, misturando-se a coriza. Estou com
falta de ar de tanta ansiedade e sofrimento.
Artur entra e me ajuda a tentar dar o suco para Magno.
— Já liguei para um amigo nosso que é médico e ele virá aqui para
medicar adequadamente o Raul. Ele está muito frágil devido aos últimos
meses... — fala com dor na voz.
Abaixo minha cabeça envergonhada por ter sido tão dura.
— Me perdoe, Artur. Eu fui muito dura, e...
— Ele mereceu, Lisa — ele me corta. — Foi terrível tudo que ele fez.
O importante agora é vocês se acertarem e deixar o passado para trás,
concorda comigo, Abelhinha? — Estende os braços abertos em minha
direção e corro para eles, que me envolvem com carinho.
— Sim, você tem toda razão, Artur. Obrigada por ser sempre esse
anjo em minha vida. — Ele beija minha cabeça. Quando ouvimos a sineta.
— Deixe que atendo, querida, deve ser o médico.
Ele vai e fico aqui segurando a mão de meu amado.
O médico examina Magno e diz que está tudo sob controle,
principalmente a febre, que foi consequência de uma inflamação de garganta.
Ele está começando a esquentar novamente e entro em pânico.
— Fique calma, Lisa, vou passar um antibiótico para ele e assim que
começar a tomar, melhora. Aconselho a comprarem o mais rápido possível.
— O médico conversa mais com Artur, mas não ouço nada. Pego a receita e
vou comprar os remédios.
— Ei, aonde você vai, pequena? — Artur me barra e pergunta.
— Buscar os remédios para Raul, ele precisa tomar rápido — digo
com a voz rouca de tanto chorar.
— Eu busco, pequena, aproveito e acompanho Gustavo até o carro.
— Me beija e me despeço do médico. Corro para o quarto e faço mais
compressas de álcool na testa quente de Raul.
Canto, converso e peço perdão a ele sem parar. Me deito ao seu lado e
como tem duas noites que não durmo, adormeço rapidamente de exaustão.
Mas sem soltar a mão de Raul.
Acordo com uma dor desgraçada no corpo todo e minha cabeça
parece que vai explodir. Estou em uma cama macia e tão obcecado por Lisa
que sinto seu perfume no ar. Continuo de olhos fechados porque a simples
menção de abri-los faz minha cabeça doer mais ainda.
Sinto a maciez e calor dos cobertores e sei que não estou naquela
porra dura do meu carro. A última coisa que me lembro é de minha conversa
com Lúcio. Ele me dizendo que eu precisava ir embora, pois estava com
muita febre. Lembro-me que entrei no carro e apaguei.
E agora estou aqui, nesse lugar quente, macio e perfumado. Suspiro e
me sinto fraco. Tento me mover, mas a dor alastra por meu corpo.
Tive a impressão de que Lisa falava muito comigo. Está na hora de
aceitar que ela não vai me perdoar. O mínimo que posso fazer por minha
Borboletinha é deixá-la em paz, viver a sua vida sem um mentiroso ao seu
lado, e deixá-la encontrar um homem mais novo que realmente a mereça e a
valorize.
Esse simples pensamento dói tanto meu peito que chego a sentir falta
de ar. Sinto as lágrimas escorrerem pelos cantos de meus olhos e molhar o
travesseiro.
Tento me levantar e descobrir onde estou. Vou viajar para algum
lugar e ficar uns meses fora até passar essa dor que vai acabar me matando se
continuar tão forte como está. Confio no Artur para resolver tudo para mim.
Quero sumir um bom tempo. Com essa decisão tomada, tento me levantar
mais uma vez e gemo alto, a dor é excruciante.
— Raul! — Ouço uma voz que sonho ouvir por meses e gelo, estou
ficando alucinado, amar demais faz isso?
— Raul, meu amor, você acordou! — Forço meus olhos a abrirem e
minha cabeça trinca de dor. — Graças a Deus! Me perdoe, amor, fui uma
pessoa rancorosa... — Viro minha cabeça pesada de dor e vejo Lisa ao meu
lado, com os olhos vermelhos e inchados. Estou ficando doido e alucinado.
Preciso viajar urgente! Recuperar minha sanidade perdida.
A miragem se senta e sorri tão largamente que fico feliz somente de
imaginar que tem uma alucinação aqui.
— Eu te amo tanto, Raul, me perdoe. Eu te perdoo também, meu
amor — fala de uma vez e me abraça. A miragem está muito cheirosa, macia
e quente.
— Lisa? — balbucio sem acreditar em nada que vejo, já penei demais
e estou descrente.
— Sim, amor, sou eu. Artur foi buscar seus remédios, você está com
febre devido à garganta inflamada — diz e acaricia meu topetão. Arrepio de
emoção.
— Lisa? — pergunto novamente igual a um retardado. Sem acreditar
que é realmente ela.
— Sim, amor, em carne e osso e com o coração pesado por não ter te
ouvido e perdoado há mais tempo. Poderia ter evitado todo esse sofrimento
— diz com tristeza estampada nos olhos inchados.
— Lisa, é você mesmo? Estou em sua casa? Em sua cama? Você me
perdoou? — pergunto, sem acreditar, não quero dar esperanças ao meu pobre
coração quebrado e depois arrancá-las novamente.
— Sim, amor, você passou mal no carro e Artur, Lúcio e eu o tiramos
de lá com febre e desacordado. — Me conta com lágrimas descendo e caindo
em seu queixo delicado.
— Me carregaram até aqui? — pergunto, incrédulo.
— Sim, e colocamos você peladinho para se aquecer nos cobertores
elétricos. Também fizemos você tomar paracetamol durante a noite, fiz
compressas e ao amanhecer sua febre cedeu, mas voltou em seguida. O Artur
trouxe um médico e ele viu que sua garganta estava inflamada e receitou
antibiótico. Artur foi na farmácia buscar, mas já deve estar voltando — fala
de uma vez, sem parar para respirar.
Olho encantando essa mulher à minha frente e quando penso em tudo
que fiz e no quanto eu quase a perdi, gemo alto.
— Raul! — Se levanta, sentando ao meu lado.
Tento sorrir, mas dói tudo e fico sério e quieto.
Eu a vejo pegando um copo de suco e tenta me fazer tomar. Não
desce, minha garganta dói pra caralho.
Coloco a mão na garganta.
— Dói muito... — Não consigo falar muito, ela me olha com ternura e
sorri, me dando um beijo no rosto barbudo. Fecho meus olhos de prazer e
felicidade.
Ela pega as compressas e volta a colocar em minha testa, sinto o
refrigério e fecho meus olhos, feliz como não estou há meses.
Estendo minha mão e seguro a sua com delicadeza. Adormeço.
***
Acordo com Artur me sacudindo suavemente.
— Acorda, bundão. Está na hora do neném tomar remedinho. —
Abro meus olhos que parecem estar cheios de areia e vejo Artur com um
comprimido para eu tomar.
— Para curar meu amigo que só faz merdas e trapalhadas. —
debocha com amor nos olhos
Tento me levantar, mas estou fraco demais, ele me ajuda a sentar e
fico tonto. Ele aguarda atento e quando melhoro me estende o remédio e
tomo com água.
— Obrigado, cara. Eu sonhei com a Lisa aqui... — falo com a cabeça
baixa e olhos cheios de lágrimas, estou ficando desidratado de tanto chorar.
Porra, gostaria de poder voltar ao passado e mudar toda merda que fiz a ela.
— Não, amigo, ela está realmente aqui, ansiosa e angustiada em ver
você tão debilitado. A mulher só fica chorando. Se você demorar a melhorar
ela provavelmente vai se desidratar — diz e sorri de orelha a orelha. E penso
que seremos dois, já me sinto ressecado, e saber que minha pequena sofre
como eu me entristece e alegra ao mesmo tempo. Sou um caralho de homem
egoísta. Isso significa que tenho chances...
— Ela me perdoou? — pergunto , com vontade de pular de alegria e
ir atrás de minha menina.
— Perdoou e se culpa por você estar nesse estado deplorável, magro,
pálido e feio pra cacete — diz com seriedade, mas seus olhos brilham de
satisfação em me ver melhor.
— Ela não tem culpa de nada, eu que fui um merda, mentiroso do
caralho. — digo e tento me levantar para explicar para minha namorada que
ela não tem culpa de nada.
Artur me empurra na cama.
— Nada disso, o senhor não aguenta no momento uma gata pelo rabo,
então sossega sua bunda magra aí na cama. Daqui a pouco ela estará aqui
com uma canja e vocês conversam, estarei na sala. Aliás, eu estou dormindo
aqui no quarto de hóspedes. Me sinto parte da família. — Pisca matreiro e
sai rindo de sua piada besta.
Aguardo ansioso por Lisa. Quando ela entra, carrega uma bandeja
com uma tigela branca cheia de canja, suco de laranja e fatias grossas de pão.
Meu tão sofrido coração dispara e falta sair pela boca de tanta emoção, amor
e carinho. Como pude ser tão miserável com essa perfeição de pessoa?
Nem que eu viva mil anos vou entender. O que posso fazer é amá-la
com tudo que tenho até meu último suspiro de vida. Isso eu posso e farei com
prazer, será minha meta de vida.
Sorrio tanto que dói meu maxilar.
Ela vem equilibrando a bandeja e não posso ajudar, não consigo nem
levantar os braços de tão fraco que estou.
— Olha a canja quentinha para meu amor — diz sorrindo e me olha
com seus olhos coloridos, transbordando amor e carinho. Meu coração fica
quentinho. Ela me perdoou! Agora é meu momento de falar tudo, sem omitir
nada.
— Lisa... amor... me perdoe por tudo... juro que jamais mentirei para
você... juro que a amarei enquanto viver... juro que serei eternamente fiel...
juro que será minha única mulher... juro que morrerei te amando... você me
perdoa, pequena? — desabafo com medo e lágrimas nos olhos.
Ela coloca a bandeja na mesinha ao lado da cama, se senta, pega em
minhas mãos e me olha nos olhos.
— Raul Magno, eu te perdoo de todo coração, eu te amo mais que
tudo nessa vida e viverei para te mostrar isso. E te peço perdão por ter sido
tão dura com você, amor. — Coloco o dedo em seus lábios.
— Não, amor, não diga isso, eu que fui o escroto da história. Você foi
só uma vítima inocente de um homem corrompido pelo desrespeito com você
e outras pessoas. Mas juro, Lisa, aprendi a lição e você nunca se arrependerá
de ter me dado uma segunda oportunidade — digo com ardor e sinceridade
em cada palavra proferida, falo do fundo do meu coração, com devoção.
— Acredito em você, querido. Vamos combinar uma coisa, agora
para valer. Deixaremos o passado no passado e nos concentrarmos no
presente, viver com respeito e da melhor forma possível, assim teremos um
futuro brilhante e cheio de alegrias — diz minha pequena, com sabedoria.
Sorrio.
— Trato feito, amor. A verdade sempre. — Ela se inclina e beija meu
rosto coberto de barba.
— Agora vamos comer a canja para ficar logo curado. — Senta-se ao
meu lado e me dá colheradas com suavidade, a canja mais gostosa que já
comi em toda minha vida. Que Lili jamais me ouça.
Quando eu termino de comer, suspiro feliz e tomo o suco de laranja
com abacaxi. Bebo tudo olhando-a nos olhos e dizendo, com meu olhar, que
a amo mais que tudo nessa vida, e em outras, se houver.
Ela limpa minha boca com um guardanapo, com carinho, e sinto meu
peito expandir de felicidade e amor por essa mulher e pela oportunidade que
estou tendo de reconquistar o que perdi com minhas burrices, obsessão e
mentiras.
Sinto o sono me tomar, e fecho os olhos, feliz, segurando a mão da
mulher da minha vida com força, com medo de perdê-la enquanto estou
dormindo.
Fico olhando esse homem que errou muito dormir com expressão
abatida e tão sofrida. Meu coração corta de dor e se alegra em tê-lo perdoado.
Ele está muito magro, pálido e descuidado. Em pensar que ele era um homem
que cuidava da aparência com extremo zelo.
Passo a mão em seu rosto barbudo e pego em seu topete que está
ainda maior. Olho com carinho para a quantidade de fios brancos que
surgiram nesse tempo que ficamos separados.
Lembro de tudo que ele fez para se redimir e meu coração dispara.
Me odeio por ter sido tão dura com ele. Tudo bem que ele errou feio, mas
segundo Artur, Raul estava se afundando e se autodestruindo cada dia mais, e
eu não dei crédito. Pensei que fosse exagero dele e de Lili. E agora vejo que
eles foram brandos ao dizer que Raul estava no fundo do poço. Sua aparência
e atitudes nessa última semana mostram como ele estava arrependido e sem
rumo.
Sinceramente não aguento mais chorar, se não estivesse menstruado
há dois dias diria que estava grávida.
Essa nossa situação me deixou destruída e muito emotiva.
— Lisa... — Ouço Raul sussurrar.
— Estou aqui, amor. — Aperto sua mão com carinho.
Ele se aquieta e penso que dormiu, mas então pergunta.
— Onde está Lisa filha, amor? — Me arrepio. Foi esse o nome que
ele colocou na gatinha que me deu de presente meses atrás. Quase surtei
quando a ganhei, mas como ela me lembrava muito ele, pedi a minha amiga
para ficar com ela até superar Raul.
— Ela está com minha amiga, vou buscá-la hoje... —digo baixinho.
Magno me pergunta fracamente.
— Por quê? Você não a quis, Borboletinha? — murmura ainda de
olhos fechados, com dor na voz.
— Magno! Claro que quis, muito, na verdade amei. Levei-a para ficar
lá somente uns dias, vou buscá-la hoje. — prometo a ele e vejo que sorri,
feliz e aliviado. Ficamos em um silêncio gostoso até que ouço seu ressonar
baixinho.
Me levanto e procuro Artur que está fazendo café.
Sorrio divertida e satisfeita, minha casa está bem frequentada, dois
homens lindos.
— Artur, vou dar uma saída e gostaria que ficasse de olho em Raul.
Não vou demorar. — Ele me olha assustado.
— Aonde você vai? — Sorrio, pego uma xícara e encho de café
fresco.
— Vou buscar Lisa Filha, a gatinha que Raul me deu. Ele perguntou
por ela. — Artur me olha curioso.
— Você a levou embora? — Tomo um gole de café e nego.
— Não, deixei ela na casa de uma amiga até superar o Raul, toda vez
que a via chorava toneladas e sentia muitas saudades dele, como achei que
não iríamos voltar, a deixei na casa de uma amiga por um tempo. — digo
triste por mim e Raul, sofremos muito.
— E vocês voltaram? — pergunta e me olha atentamente.
— Sim, resolvemos nos perdoar. Sinceramente eu quero o passado no
passado e Magno quer a mesma coisa — digo e quando percebo, sou
esmagada em um abraço apertado.
— Graças a Deus! Finalmente meu amigo e amiga terão paz. — Sorri
de orelha a orelha, me coloca no chão e me empurra.
— Vai buscar a Lisinha antes que Raul acorde. Porque se não te
encontrar aqui, surtará com toda a certeza do mundo.
— Claro, daqui a uns dez minutos estarei de volta. — Saio quase
correndo para buscar a gatinha.
Ligo para minha amiga e ela me recebe na portaria com a gatinha,
agradeço e volto quase voando. Devo ter demorado menos de dez minutos,
com certeza.
Quando chego, ouço gritos vindos de meu quarto.
— Cadê a Lisa? — Raul grita. — Responde a verdade porra, para de
me enrolar, Artur. Ela foi embora, não foi? Porra! Vou atrás. Ela me
perdoou, caralho! Aconteceu alguma coisa enquanto eu dormia? — grita
alucinado.
— Já falei que ela foi buscar a Lisa filha, você está surdo, cara? —
Artur responde com calma.
— Mentira! Ela deve ter pensado melhor e viu que não valia a pena
me perdoar, caralho! — Ouço ele fungar e entro vazada no quarto. A cena
corta meu coração. Meu homem, obcecado, magro, pálido, segurando seu
rosto barbudo e seu lindo topete grisalho caindo em sua testa.
— Estou aqui, amor, fui buscar nossa gatinha, a Lisa filha. — Ele
levanta a cabeça e vejo seus olhos vermelhos e seu rosto marcado por tanto
sofrimento. Não resisto, corro e o abraço, esmagando a gatinha entre nós. Ela
mia alto com raiva. Vejo Raul sorrir e seus olhos maravilhosos ganham
brilho, apesar de muito vermelhos.
— Lisa, amor! Não me deixe nunca, por favor! Eu te amo tanto,
pequena. — diz e me olha. A gatinha sai agitada e pula no chão, indignada.
— Gata atrevida, igual a dona — Artur zomba e sai do quarto, nos
dando privacidade.
— Fui buscar a gatinha, Raul. — Ele me abraça apertado.
— Desculpe, Lisa, é que sofri tanto com sua ausência e fiz tantas
merdas que tenho pavor de você resolver me largar e... — Beijo Magno
suavemente.
— Prometemos deixar o passado no passado, lembra? Você e eu
estamos proibidos de falar nele. — Empurro seu topete para trás. — Lindo
seu topetão, amor! — Ele sorri lindamente e seus olhos brilham.
— Cresceu mais ainda, agora você pode puxar à vontade quando eu
estiver te comendo — diz , malicioso.
— Raul! Para quem estava triste ainda há pouco, você está muito
saliente agora. — Estou explodindo de felicidade por ver que Magno está
mais corado e feliz.
— Amor, eu sonho com você dormindo ou acordado. Nós dois
fazendo amor, casados, com filhos, envelhecendo juntos. Tudo com você!
Somente você, amor. Quero tudo com você, Lisa Melo! — Acaricia meu
rosto.
Olho com carinho e amor para esse homem que teve que atravessar
um vale de trevas e espinhos para reconhecer seus erros. E o amo ainda mais,
por sua humildade em reconhecer suas falhas, mudar e por sua firme
perseverança.
— Simmmm! — respondo, transbordando de felicidade. — Aceito!
Quero tudo com você também, Raul Magno! Se isso não foi um pedido de
casamento, eu acabei de fazê-lo a você. Mas vou repetir para não ter dúvidas.
Raul Magno aceita ser meu esposo, pai de meus filhos e que possamos
envelhecer juntos e nos amarmos até a eternidade? — Sorrio e vejo seus
olhos se avermelharem.
— Simmm! Foi um pedido sim, amor. E obrigada por me dar essa
segunda chance, Borboletinha. Enquanto viver, farei de tudo para me redimir
de tudo que te fiz. Prometo que te farei feliz. E reforçando, adoraria ser seu
esposo e pai de seus filhos. Vou adorar fazê-los. Sinto saudades de sua
bocetinha suave, macia, rosada e quentinha — diz com cara de tarado, me
beijando com ardor. Sorrio e retribuo, mostrando a ele que estou mais que
disposta em colaborar.
Quando nos afastamos, me levanto e vou preparar algo para Raul
comer.
— Está na hora de seu antibiótico, amor, Artur te trouxe algo para
comer?
— Não, nada. Ele quer me matar de fome, amor — diz com um bico
gigante e manha até na alma.
Artur grita da sala.
— Estou ouvindo, Raul. Lisa, ele não quis comer nada, ficou igual um
alucinado querendo saber onde você estava. — Olho Raul que fica vermelho
e desvia o olhar. Lindo ver um homem gigante como Magno, tão maduro e
experiente, com essa súbita timidez.
— Sem problemas, amor. Vou preparar um lanche bem reforçado e
depois uma sopa maravilhosa e com um caldo bem grosso para você, viu?
Quero você forte e saudável novamente. — Ele sorri e seus olhos brilham
com intensidade.
— Obrigada Lisa, eu amo você meu eterno amor. — diz com
singeleza e subo para preparar uma refeição bem forte e saudável para meu
futuro marido. Meu coração palpita de amor e subo cantarolando feliz.
Ouço Artur dizer com voz divertida.
— Parece que todos aqui viram passarinhos verdes, somente eu não vi
nenhum. A alegria contagiou um homem obcecado e uma borboletinha dura
na queda. Porra, o que o amor não faz com as pessoas. — Viro-me e jogo um
beijo para ele que sorri largamente.
Os dias passam e a cada dia vou me fortalecendo da gripe e a da dor
que me assolava a alma de maneira desgraçada e miserável.
Lisa, minha borboletinha, me entope de comida e carinho. Estou me
sentindo um rei.
Quando Artur vem me zoar, Lisa o repreende e ele sai de mansinho
me olhando com olhos que prometem revanche. Levanto meu dedo do meio
todas as vezes sem Lisa ver, é claro. Estou adorando ser paparicado por ela.
Sei que já engordei um pouco e ela me diz que já estou corado.
Na verdade, me sinto ótimo, mas ainda finjo estar fraco para continuar
sendo o centro de suas atenções. Tudo bem, sou um velho safado. Mas porra,
é bom demais ter comida na boca, beijos, carinhos e ainda proteção contra
Artur, esse desnaturado.
Ele já descobriu minha safadeza e sempre ameaça de contar à Lisa. E
eu o ameaço de mandá-lo embora se ousar.
Agora, o único problema é que estou louco e pronto para fazer amor
com minha menina. Mas tenho que segurar, senão ela pode me mandar
embora. Já bati tantas punhetas enquanto tomo banho que meus dedos estão
calejados. Está ficando difícil.
Artur está cuidando de obras desde que Lisa me abandonou. E
continua. Ele sim é um amigo de verdade, um irmão. Agora que viu que me
estabilizei, tanto na área emocional, quanto na saúde, voltou a monitorar as
obras saindo todos os dias cedo e voltando tarde.
Hoje ele teve que fazer uma pequena viagem de negócios e estou
sozinho com Lisa. A vontade de fazer amor com ela está me tirando o sono e
a calma.
— Amor, como você está? — Ela entra no quarto e me vê deitado,
acabei de tomar banho.
— Estou ótimo, só meu corpo e cabeça que ainda doem um pouco...
— digo sem olhar em seus olhos.
— Raul, é melhor irmos ao médico porque não é normal ficar quase
um mês com gripe — diz e me olha séria.
— Mas no meu caso não foi só gripe, amor, foi emocional também,
você mesma disse... — murmuro e olho para fora da janela, não tenho
coragem de encará-la. Não quero ir embora, porra!
Eu a vejo ir para o banheiro e ouço quando liga o chuveiro. Só de
imaginá-la nua meu pau fica duro igual aço. Porra! Aperto meu comprimento
inchado com força e ralho com ele.
— Comporte-se! Quer que ela nos expulse daqui? — Quando levanto
a cabeça, vejo-a me olhando de forma estranha. Lisa está com uma toalha
branca envolvendo seu doce corpo. Porra! Estou fodido.
Penso na calçola de minha tataravó que nunca conheci, penso em
pessoas vomitando, brigando, xingando... Para ver se meu pau colabora e
murcha. E nada. Ele fica ainda mais duro. Efeito Lisa.
Ela caminha e para em minha frente.
— Raul, está tudo bem? — Minha cabeça está baixa, olhando seus
pezinhos lindos e tento me manter firme.
— Sim, amor. — Vejo a toalha cair aos seus pés e gelo. Porra!
Levanto meus olhos devagar e engulo em seco. Vejo suas pernas torneadas,
sua bocetinha depilada, sua cintura fina, seus seios brancos e rosados, seu
pescoço fino e delgado e sua boca rosada em um meio sorriso. Chego em
seus olhos e vejo que ela sabe de tudo.
— Raul, sei que você está cheio de saúde, meu namorado safado! Se
você não me comer agora, eu que vou te esfolar vivo. Sonho com esse pau
delicioso todos os dias e cansei de ver você batendo punheta ao invés de me
comer. Já chega! Safado, vem cá! — ronrona com um sorriso de loba e pula
em mim.
Porra! Sorrio tão largamente que minhas bochechas doem. Ela segura
meu rosto e me lasca um beijo tão gostoso e molhado que gozo. Pronto!
Acabou!
— Caralho! — Gemo com meu corpo ainda estremecendo com os
resquícios de meu gozo solo. E a vergonha me toma por completo.
Ela me olha com carinho e continua me beijando. Eu a beijo com
paixão porque amo demais essa pequena mulher.
— Amor, me perdoa, tem muito tempo que eu não...— Ela continua
me beijando e sinto meu pau começar a endurecer novamente. Ela o pega e
bombeia com força.
Sinto minha semente escorrer por seus dedos e caralho se isso não me
faz ficar mais duro ainda.
— Lisa... — Só gemo, estou incapacitado de fazer algo mais.
Ela chupa meu pescoço e gemo alto. Porra, deixa eu dar prazer a
minha mulher. Eu a viro de uma vez e subo em cima de seu pequeno corpo.
Ela me olha assustada e sorrio.
— Minha vez, amor. Quero que seu primeiro gozo seja enquanto
chupo seus seios deliciosos, o segundo enquanto chupo sua doce bocetinha e
o terceiro com meu pau atolado em sua boceta, até as bolas. — Sorrio como
lobo e parto para o ataque.
Ataco sua boca sem dar a ela chance de falar. Desço para seu pescoço
e o chupo, marcando-o. MINHA! Depois dou atenção para seus seios, que
amo de paixão, e sugo até minha abelhinha gozar e molhar meu pau, que está
deslizando em suas dobras molhadas, sem penetrá-la.
Beijo sua cintura e enfio a língua em seu umbigo. Chego no montinho
branco e macio e abro suas pernas, cheiro e gemo de prazer.
Passo minha língua por seus grandes lábios e vejo seu clitóris inchado
e vermelho, apontando para minha boca. Minha boca começa a salivar e ali
mesmo me deleito em seu sabor, sugando com tanta força que rapidamente
Lisa goza e grita alto e roucamente.
— Amo você, pequena — sussurro, com seu clitóris ainda em minha
boca.
Subo e a beijo com todo amor e devoção que sinto por ela. Ela segura
meu topetão e sorrio de lado orgulhoso, como senti falta disso.
Desço minha mão até a sua entrada e percebo que seu pequeno clitóris
está durinho novamente, o massageio com carinho e suavidade e ela geme em
minha boca.
Continuo aquela tortura sensual e quando sinto que ela está prestes a
gozar, paro os movimentos fazendo-a soltar um gemido de insatisfação.
Encaixo meu pau em sua pequena entrada e estoco com força. Gememos alto
e sinto suas paredes macias e quentes me apertarem. Fico parado, quietinho
enquanto Lisa massageia meu pau estremecendo e gozando com força. Ela
me aperta tanto que gemo e entro em desespero, começo a estocar com uma
velocidade que até eu desconheço.
— Humm! Bom demais, caralho. Lisa, tão quente e macia! — Gemo
e continuo estocando. Quando sinto meu corpo todo se aquecer, gozo com
tanta força que meu gemido sai rouco e grosso. Meu pau incha e se esvazia
dentro dessa caverna quente e macia. Minha Lisa. Enquanto gozo, grito alto
e gemendo que somente ela será eternamente minha mulher, namorada,
esposa e mãe de meus filhos, avó de meus netos.
Caio de lado puxando-a com cuidado para cima de meu corpo
relaxado.
— Lisa, eu te amo mais do que tudo nesse mundo, amo tanto que
chega doer, pequena. — Ela funga e me olha com amor, então passa a mão
em minha barba e cabelos desgrenhados.
— Eu também te amo, meu querido CEO obcecado, pai de meus
filhos, avô de meus netos e marido, por toda a eternidade.
Ela repete minhas palavras com amor e sorrio com o coração
finalmente em paz.
3 anos depois...
Estamos eu, minha esposa e nossa filha na sala da casa, na Vila dos
Ipês. Escolhemos morar aqui porque tem mais espaço para nossa pequena
Lisandra, correr e brincar. Ela adora ficar no pomar e comer maçãs. Picamos
em pequenos cubinhos, nos sentamos com ela sobre uma toalha rosa que ela
carrega para todo lado. Nossa menininha já consegue comer quase uma maçã
inteira.
Ela adora também as flores de ipês que caem formando um tapete
aveludado. Lisandra ama correr e pegar as flores para encher sua cestinha,
desfilando com orgulho angelical.
Comprei as cestas assim que as vi (são rosas e com laços gigantes),
pois eu sabia que elas adorariam. Sempre fico observando-as colhendo entre
risos, os mais diversos tipos de flores. Amo esses momentos, eles são
sublimes.
Artur deu gargalhadas quando as comprei e saí desfilando com
orgulho as cestas cheias de laços. Sorrio com a lembrança. Eu era o centro
das atenções, um homem barbudo e gigante com duas cestas rosas e laços
imensos. Foda-se se me importo. O que conta é a alegria de minhas meninas.
Mas valeu a pena, as duas fizeram a maior festa quando as
presenteei. Morro e vivo por elas.
Minha filha é a miniatura perfeita da mãe, tem os mesmos olhos
coloridos, que tanto me fascinam. Lisandra tem somente uma manchinha no
bumbum, igualzinha uma que tenho no mesmo lugar. Além disso, segundo
Lisa, nós temos o mesmo sorriso torto, quando vamos aprontar alguma
traquinagem. Sorrio envaidecido. Puta merda! Sou um sortudo da porra!
Duas mulheres lindas e que são meu mundo! Quando alguém fala que
Lisandra se parece mais com a mãe, menciono logo a marca que tem de
nascença e o lugar. Nossa bunda. Lisa sempre cora. Adoro provocá-la.
Hoje estamos sentados na sala e nossa pequena provoca o casal de
gatos, sim, a gatinha Lisa, agora tem o gatão Magno. Eles se acasalaram e
deram uma pequena ninhada de dois filhotes, um macho e uma fêmea. Os
bichinhos sofrem com Lisandra, ela os arrasta para todo lado, mas eles não a
machucam. Parece que entendem que ela é somente um bebê.
— Amor, olha como nossa filha interage com os bichinhos — digo
orgulhoso de Lisandra mimando os filhotes.
— Querido, ela ama esses gatos sim, mas está com um sorriso
estranho no rostinho, igual ao seu quando vai aprontar... — Lisa diz com
sabedoria, e não demora segundos para a pequena Lisandra pegar um dos
gatinhos que estava mamando e sair em disparada. A mãe do gatinho roubado
se arrepia toda e levantamos num salto, com medo da gata arranhar Lisandra.
Nossa filha o coloca na cestinha e o cobre com cuidado. Arrasta a cesta até
onde está o outro gatinho, pega com cuidado e o coloca junto com o outro
filhote. Os gatos adultos somente olham, atentamente. Nossa pequenina, pega
a gata no colo e vem para nosso lado, arrastando a cesta com os filhotes com
dificuldade e o gato pai logo atrás, miando alto. Olho com tanta ternura para a
minha filha, que meu coração parece falhar algumas batidas. Volto meus
olhos para Lisa que está com o mesmo olhar bobo em direção à nossa filha.
— “Todu mudo zunto. Papa e mama de Lisanda, papa e mama de
gatios, famia feiiz.” (Todo mundo junto, papai e mamãe de Lisandra, papai e
mamãe de gatinhos. Família feliz). — Nossa filha fala com doçura deixando
os bichinhos aos nossos pés e levanta os bracinhos gorduchos. A pego com o
coração doendo de tanto amor por esse pedacinho de gente que ajudei a fazer.
Meus olhos ardem e olho para minha esposa que me presenteou com essa joia
em meus braços e com uma vida tão plena, que se morresse agora morreria
feliz e realizado. Aqui na casa da Vila dos Ipês estão os meus maiores
tesouros: Minha esposa, filha, Lili e não poderia deixar de citar o meu irmão
Artur. Eu os amo de todo coração. Abraço as duas, nos aconchegamos no
sofá grande e macio, enquanto os gatinhos pulam da cesta voltando a mamar.
Olho para a pequena Lisandra e ela adormece segurando meu imenso topete.
Então encaro Lisa, puxando-a para um beijo demorado. Amo demais essa
mulher!
— Tal mãe, tal filha, ambas amam meu charmoso topetão. — Sorrio
orgulhoso e recebo de volta um sorriso carinhoso.
— Nunca vi um topete tão lindo e macio como esse... Ah, e grisalho!
— Pisca, sorrindo largamente, me beija no rosto barbudo, sei que ela ama
também a minha imensa barba grisalha. Fecho meus olhos de puro prazer e
contentamento. Sou feliz e a cada dia que me levanto cumpro a promessa que
fiz a minha Lisa, viver para fazê-la feliz juntamente com a minha filha. Elas
são meu mundo.
A Deus em nome de Jesus.
Obrigada Senhor por mais essa obra finalizada. Tudo que sou devo a
Ti!
Cada ideia, cada novo projeto, cada dia de vida, cada respirar.
Vivo para celebrar cada milagre que opera em minha vida. Testifico
sua grandeza a cada respirar.
Abençoe meus inimigos com sua misericórdia.
Abençoe meus amigos com bençãos duplicadas.
Te agradeço por tudo que fez, faz e fará em minha vida.
Obrigada Senhor!
Beijos