Você está na página 1de 314

Mari Mendes

Copyright 2020 © Mari Mendes

Design da Capa: Matheus e Mari Mendes

Diagramação: Matheus e Mari Mendes

Revisão principal: Artemia Souza


Revisão geral: Tici Pontes

1ª Edição
Brasil, 2020

Reservados todos os direitos. Proibido a reprodução total ou parcial desta


obra, sem a autorização expressa do autor. Lei 9.610, de 19 de fevereiro de
1998, artigo 184. “Violar direitos autorais, pode acarretar pena de 3 (três)
meses a 1 (um) ano ou multa.”

Plágio é crime!

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos


descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.
“LIVRO REGISTRADO NA AVCTORIS”
Vindo do extremo da pobreza e se tornando um CEO renomado, Raul
Magno pensa que pode comprar tudo com dinheiro, principalmente mulheres.
Acostumado a tê-las a seus pés e descartá-las como lixo, pensa que todas são
iguais. Isso até ver uma bela mulher em um sinal e agir da mesma forma
canalha de sempre. Oferecer dinheiro em troca de prazer. Ela o rejeita e ele
toma isso como uma afronta e trama formas asquerosas para conquistá-la e
levá-la para a cama.
Ele só não contava que no meio do caminho se apaixonaria e as
mentiras e sua obsessão doentia o faria perdê-la de uma maneira que
destruiria seu mundo tão perfeito. Será que Raul conseguirá reconquistar a
mulher que o amou de corpo e alma? Lisa o perdoará por ter sido tão mau-
caráter? Raul teve que trilhar um caminho de trevas e espinhos para conseguir
enxergar que existem coisas que o dinheiro não pode comprar. Venham
conhecer a história de amor e perdão de Raul e Lisa.
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Epílogo
Oi, amores, tudo bem com vocês? Meninas e meninos, finalmente
criei coragem e nasceu Raul Magno, um filho assumido publicamente.
No início Raul é um ogro maldito! Safado, descarado, mentiroso,
obcecado, não valoriza mulheres, um verdadeiro traste. Mas podem ficar
tranquilos, ele vai pagar "tudim" que fez com a mocinha. Lisa é um doce de
pessoa, guerreira, responsável e muito amável. Raul consegue quebrá-la...
Tem momentos que queremos arrebentar a cara dele... e em outros queremos
guardá-lo em um potinho. Este livro é bem hot, como vocês gostam e me
pediram! Espero que gostem, me perdoem por algum erro, viu? E por
gentileza, amores, não se esqueçam de avaliar na Amazon. Muito obrigada
pelo carinho no Canal e por todo incentivo, viu? Pega que é para vocês!
Beijinhos e bye, byeeeeee!!!

Atenção: Raul Magno adora falar palavrões é um homem sem


escrúpulos, safado e cafajeste. O livro é muito hot, com cenas bem
detalhadas. Se você não gosta desse tipo de leitura, não recomendo.
Estou indo para minha casa, em uma vila, no interior de Minas Gerais,
conversando em meu celular com um potencial comprador das propriedades
que compro e reformo. Esse tipo de negócio me tornou um homem
milionário. Compro, por preços acessíveis, qualquer imóvel que esteja em
estado de decadência e os reformo com luxo e bom gosto. Tenho uma equipe
gigante que trabalha comigo, desde pedreiros a engenheiros. Não tenho
prédios ou escritórios para que minha equipe trabalhe para mim. Comando
tudo de minha casa na Vila das Flores. Só vou às obras quando requisitado
por um de meus profissionais.
Vila das Flores é uma reserva, escondida e perdida em meio às
montanhas de Minas Gerais, em um vale imenso e verdejante, que tem pouco
mais de 100 habitantes. É uma vila onde, para morar, as pessoas são
escolhidas a dedo. Para você adquirir um imóvel nesse lugar, é preciso
responder a um imenso questionário e se não se adequar às normas, não
consegue comprar um dos gigantescos e luxuosos imóveis que são vendidos
aqui a preço de ouro.
É um lugar que pensamos não existir nessa terra. São casas
construídas e integradas com a natureza, distantes umas das outras para
manter a privacidade dos moradores. Dificilmente encontramos pessoas aqui
nas ruas arborizadas e todas feitas de pedras, que são margeadas por lindos
pés de ipês. Essas árvores têm diferentes cores: roxo, rosa, branco e o
amarelo.
Minha casa foi construída entre os ipês que são nativos aqui em
Minas Gerais, principalmente no Vale dos Ipês, cada novo morador tem que
plantar cem pés de ipês quando compra algum imóvel. E todo ano é feito uma
averiguação para o replantio de alguma árvore que tenha morrido. Aqui é
quase uma mata, composta somente de árvores imensas dessa espécie
maravilhosa e as casas. Os espécimes estão espalhados pela casa toda, de
maneira que você parece estar vivendo em uma floresta.
A estrutura da casa é toda quadrada, parece um caixote de vidro e
madeira que se mesclam entre o frio e quente, nos passando uma sensação de
frescor e aconchego. O dono anterior quis integrar o ambiente interno com a
natureza, criando um vínculo entre os dois. A casa possui dois pavimentos,
sendo que o de cima é todo forrado com vidro de película fosca, te garantindo
privacidade e te permitindo usufruir da natureza em sua totalidade, sem as
pessoas do lado de fora verem o que se passa dentro de casa. E ainda
podemos tocar as flores dos ipês na parte externa quando está na época de
floração. Temos a impressão de que estamos em cima das árvores. Aqui em
meu cubo de vidro, tenho as espécies com as quatro cores. O que gera um
verdadeiro espetáculo quando florescem. As flores caem no jardim de
inverno, projetado especialmente para cada árvore dentro de casa. O telhado é
composto por partes de vidro (claraboias) e parece que temos uma gigante
colcha de retalhos coloridos na época que os ipês florescem.
Na parte de baixo da casa, onde fica a cozinha, salas, escritório, tem
as cortinas elétricas que somente são fechadas quando quero privacidade
total. Mas aqui essa é uma preocupação inútil, cada vizinho fica a mais ou
menos quinze minutos de carro. Então a privacidade é total. Por isso quis
morar aqui e até hoje não me arrependo. Apaixonei-me por essa casa assim
que a vi, foi amor à primeira vista. O ex-proprietário era um arquiteto que
trabalhava para mim e quis se aposentar e resolveu ir para o Rio de Janeiro,
onde vive a sua única filha, vendendo assim a casa que projetou com tanto
carinho. Ele me fez prometer que eu jamais cortaria as árvores que faziam
parte da construção. Prometi com prazer, pois nunca vi nada mais belo e
revigorante em toda minha vida. Aqui é o meu paraíso particular onde
recarrego minhas energias diariamente, após o estresse de trabalhar em uma
área tão complicada e cheia de detalhes, como construções e reformas.
Não gosto de pessoas em minha casa, aliás não gosto de conviver com
pessoas. Me irritam ao extremo. Faço porque é preciso. Quando estou em
obras grandes, geralmente fico o dia todo fora ou então em outro estado,
dependendo da grandiosidade da obra. Entretanto anseio que chegue logo o
final de semana para voltar para meu santuário ou terminar as obras à
distância. Estou tentando restringir meu trabalho somente aqui em Minas
Gerais. Já estou me sentindo cansado dessa vida. Afinal estou com quase
meio século de vida.
Vivo sozinho e tenho somente uma senhora que trabalha comigo, a
minha querida Lili, que cozinha e limpa a casa. Mesmo com 43 anos de idade
no lombo e quase dois metros de altura ela me trata como criança. Se bobear
coloca até comida em minha boca. Não fico com raiva disso, pelo contrário,
adoro, pois não tive uma mãe que me desse amor. Ela trabalha comigo tem
tantos anos que sinto como se fosse da família. Diz que é minha mãe, porque
meus olhos são castanhos esverdeados como os seus. Adoro esse cuidado que
Lili tem comigo.
E claro, tenho também um faz tudo em minha vida. Além de um
grande amigo, ele é também meu segurança particular, Artur Campelo . Esse
homem resolve todas as pendências e problemas em que não quero me
envolver. Ele me acompanha em todos os lugares que vou, exatamente como
uma sombra.
Lembro-me com perfeição quando o conheci. Éramos dois caras
fodidos na vida. Eu, querendo começar a alavancar minha vida, ele, um
drogado bêbado. Eu sempre o via passar perto do barracão que eu estava
reformando, que comprei com todas as minhas economias de anos. Como eu
não tinha dinheiro para pagar ajudantes, eu mesmo fazia o serviço, dia e
noite.
Ele parou um dia e me pediu emprego. Apesar de estar fodido e sem
um centavo concordei que trabalhasse comigo. Dias depois o vi chorando em
um canto e ele me contou que estava devendo a traficantes. Quando me falou
o valor eu quase caí para trás, mas o desespero dele era tão grande que fiz um
empréstimo e paguei suas dívidas.
O cara não acreditou e chorou tanto, me abraçando, que fiquei sem
graça. A partir daí Artur Campelo se tornou minha sombra e amigo para
todos os momentos. Fez cursos de especialização em segurança e hoje
trabalha comigo como um conselheiro, segurança e motorista. Onde vou meu
amigo está junto me escoltando. Somos praticamente inseparáveis. Até
mulheres costumamos dividir. Ele é meu irmão e amigo, antes de tudo. Hoje
em dia tenho que estar em vários lugares durante o dia e Artur cuida de tudo
isso também. Se não fosse ele jamais daria conta de acompanhar tantas obras
em andamento.
Claro que estou presente em todas as negociações, faço questão,
afinal sou o dono e tenho uma equipe que depende de mim. E só compro
imóveis grandes que depois de reformados vendo por milhões de reais.
Ganho uma quantidade absurda de dinheiro e com isso posso pagar toda a
equipe para ficar a minha disposição, mesmo que passem meses sem
trabalhar. Todos possuem contrato comigo e os pago mensalmente,
trabalhando ou não. Com isso eu ganho a lealdade e fidelidade de cada um
deles. Artur monitora também essa parte de pagamentos aos empregados.
Estamos agora em um projeto imenso, comprei um prédio que foi
abandonado há mais de 10 anos, pois interromperam as obras após o dinheiro
acabar. Foi uma longa negociação de mais de dois anos, mas finalmente o
comprei. É um edifício que tem mais de 30 andares, no coração de Belo
Horizonte, com a vista espetacular para o parque municipal, uma minifloresta
no centro de Belo Horizonte.
A reforma já dura alguns meses e o resultado está ficando majestoso.
Já tenho dois possíveis compradores e nem terminamos ainda. As propostas
são tentadoras, mas sei que quando finalizarmos aparecerão ofertas melhores,
então não tenho pressa.
Quando terminar essa reforma, que é uma das maiores que já fizemos,
sei que a venda me deixará bilionário e com isso posso até me aposentar se
quiser. Já tenho dinheiro para viver no luxo até o final de minha vida, mas
com a venda desse mega empreendimento, terei dinheiro para viver dez vidas
de luxo.
É mais uma realização pessoal de um menino que nasceu na pobreza e
passava fome. Devido a minha infância miserável tenho sempre a ânsia e
obsessão em deixar a geladeira lotada de comida e a dispensa abastecida para
suprir a carência de anos. Tenho medo da escassez e pobreza. E às vezes
acordo a noite sentindo a dor de relembrar de uma das piores coisas que um
ser humano pode passar: fome.
Por isso trabalhei e trabalho igual a um louco. Sou um homem
obcecado em tudo. Perdi minha mãe cedo para as drogas e nunca descobri
quem era meu pai. Mamãe era prostituta e eu sou resultado de um programa
onde ela foi estuprada e agredida quando exigiu que o homem usasse
camisinha. Ela sempre jogava na minha cara que eu era o maldito resultado
de um estupro.
Morávamos em uma favela chamada Morro do Marimbondo, em um
barraco feito de pedaços de madeira com apenas um cômodo. Chovia mais
dentro do que fora e o cheiro era insuportável, pois fazíamos nossas
necessidades em um buraco cavado por minha mãe, atrás do barraco.
Essa vida miserável durou até os meus dez anos, quando ela passou a
noite com um cara e no outro dia não acordou mais. Chamaram a polícia
quando eu saí gritando que minha mãe não acordava e depois acabei
descobrindo, por meio dos policiais, que ela tivera uma overdose. Lembro
que me senti sozinho quando disseram que ela estava morta, ela era má
comigo, sempre foi, mas pelo menos era a única pessoa que eu tinha nesse
mundo. Agora eu estava sozinho e perdido.
Antes que pudessem me levar para algum lugar eu fugi e caminhei
para longe daquele lugar, sem olhar para trás e já se passaram 33 anos desde
então... Hoje, com 43 anos, consegui juntar dinheiro para viver várias vidas
no luxo e sem passar fome e humilhações.
Sofri igual a um condenado para chegar onde estou... trabalhei
lavando banheiros, esfregando chão e como servente de pedreiro. Foi aí que
comecei a me interessar por reformas.
Juntei dinheiro e consegui comprar um lote em um lugar perto de uma
favela, reformei uma casa simples e a vendi. Meu primeiro investimento com
um lucro razoável... a partir daí comecei a construir e vender casas pequenas,
mas bem acabadas. Até que descobri que comprar imóveis decadentes e
reformar dava mais lucro, então passei a investir nessa área. E hoje posso
dizer que sou conhecido no meio e muito procurado também. E dizer, sem
falsa modéstia, que serei bilionário depois de vender esse prédio no centro de
Belo Horizonte.
Em mais alguns meses a reforma terá finalizado e o edifício estará
pronto e majestoso para um futuro hotel ou quem sabe uma sede para o
governo de Minas. Essas são as duas propostas que tenho por enquanto.
Agora estou analisando alguns projetos, quando o sinal fecha e Artur
para o carro com suavidade, levanto meus olhos e é quando a vejo...
Hoje acordei mais tarde porque fiquei trabalhando até de madrugada
para organizar e conferir o pedido que entrego, infalivelmente, todo dia 30 de
cada mês. Sou artesã de semijoias. Fiz um curso simples on-line e fui me
aprimorando com o tempo. Praticando, pesquisando, participando de
concursos e cursos e hoje, quatro anos depois, tenho um contrato com uma
rede de lojas que trabalham com a venda de joias e semijoias.
São cinco lojas no Brasil espalhados por cinco estados. Minas Gerais,
que é onde moro, precisamente em Belo Horizonte, Santa Catarina, Rio de
Janeiro, São Paulo e Fortaleza. As lojas são tão exclusivas que nenhuma peça
se repete nas outras. E diante dessa exigência dos donos, eu tenho que fazer
sessenta modelos diferentes de colares e brincos a cada ano.
Entrego cinco por mês, que são distribuídas juntamente com os outros
modelos feitos por designers de joias e artesãos como eu. Tenho um contrato
com essa empresa por 10 anos, e quando fui escolhida entre os mais de cem
participantes da seleção, não acreditei. Foi o dia mais feliz de minha vida. A
vaga foi disputadíssima. Em três meses, foram eliminados 90 participantes,
ficando somente 10, onde seriam escolhidos três finalistas que teriam de
apresentar algo bem exótico, único e diferente. No momento em que fui
selecionada para a final, eu já tinha ideia do que ia fazer.
Optei por trabalhar com o que mais gosto e admiro desde criança.
Pedras. Sinto um bem enorme em manuseá-las, sentir sua textura e a beleza
que cada uma tem, que é única e singular. Prefiro sempre as pedras naturais.
Para o colar e brincos que iria fazer para a seleção, escolhi arame de latão
folheado a ouro branco e pedras naturais vulcânicas, nas cores branca e preta.
Passei a noite criando as peças que teriam que encantar os jurados
para me garantir o contrato de dez anos. Dei tudo de mim, tanto por causa do
salário como também porque eu poderia realizar meus sonhos se ganhasse.
Eu finalmente poderia juntar dinheiro e comprar meu apartamento, ou talvez
uma cobertura, meu maior desejo.
Me lembro como se fosse hoje a minha luta até chegar onde estou,
com meus sonhos realizados, pelo menos parte deles.
Meus pais sempre pagaram aluguel. Após a morte deles, quando eu
tinha apenas 18 anos, eu continuei morando na mesma casinha e assumi todas
as despesas. À época eu fazia faxinas para conseguir sobreviver. Foi até que
um certo dia eu vi na internet um anúncio sobre um curso de artesã. Decidi
arriscar tudo e deu certo, hoje estou feliz em uma profissão que me faz bem e
garante meu sustento. Depois de muita luta estou onde eu queria estar.
Já amanhecendo, olhei para a peça que terminei e fico orgulhosa de
mim mesma. Ficou perfeita e esperava encantar os jurados. Mesclei o colar
com pedras brancas e pretas e fiz um amontoado aleatório das mesmas pedras
e coloquei na ponta do colar, fiz os brincos bem simples, deixando toda a
exuberância por conta do colar e da singularidade das pedras vulcânicas.
Embalei o conjunto em uma caixa de veludo vermelha e fui tomar
banho. Já eram seis horas da manhã, não conseguiria mais dormir, pois estava
muito nervosa e ansiosa.
O dia passou lento e os finalistas teriam que estar na loja onde
ocorreriam as avaliações, tudo seria televisionado. O evento começaria às
20h, mas antes das 18h eu já estava no local onde seria o coquetel. Quando vi
a quantidade de pessoas lá o meu nervosismo aumentou, pois não imaginaria
um número tão grande assim de telespectadores. A maioria parecia ter muito
dinheiro. Quando o resultado do concurso saiu eu não acreditei. Eu ganhei.
Chorei toneladas e todos os dias eu agradeço aos céus pela oportunidade.
Assinei o contrato e hoje estou aqui. Todos os meses entrego , com
prazer, cinco criações distintas e únicas.
Em menos de três anos consegui comprar meu apartamento. Uma
cobertura pequena, mas linda e aconchegante, localizada perto do Shopping
Diamond Mall e quase dentro da loja que sou contratada. Fiquei encantada
quando vi o imóvel.
Aos poucos eu decorei o meu apartamento em tons de rosa e verde.
Na parte de cima da cobertura fiz o meu ateliê e é onde produzo minhas
semijoias. Lá eu deixo araras enormes com vários conjuntos de pedras já
prontos. Aprendi a criar e deixar vários modelos prontos, caso ocorra algum
imprevisto. Sendo assim já tenho vários meses de trabalho adiantados. No
centro do ateliê fica uma mesa de vidro gigante onde trabalho. E nas paredes,
prateleiras imensas com todo tipo de pedras naturais que encontro.
Gosto de comprar fios de cascalhos e fios de pedras naturais. Tem
centenas aqui. Tenho também rolos de arames de latão folheados a ouro
branco, amarelo e rosê. Gavetas cheias de alfinetes, argolas de vários
tamanhos, fechos, terminais, base para brincos, tudo folheado a ouro, nos três
tons. Nas gavetas do canto estão meus alicates de vários tamanhos e cola para
joias.
No canto da cobertura tem um pequeno jardim natural, onde fica um
sofá verde-claro grande e duas poltronas rosa-bebê. Um mini freezer onde
deixo sucos, potes de comida natural já preparadas por uma colega minha que
faz porções naturais para vender.
Ao lado uma minicozinha que mandei construir, pois passo a maior
parte do meu tempo aqui.
No andar de baixo fiz a sala, os quartos e uma biblioteca. Adoro ficar
na biblioteca lendo depois do trabalho. Minha casa é decorada exatamente
como gosto. Gosto de delicadeza em cada canto e adoro flores naturais que
troco a casa semana. Eles estão espalhados por todos os lados.
Essa sou eu.
Lisa Melo, uma mulher guerreira com aparência frágil, mas forte
como uma leoa. Baixa, 1,58m, cabelos longos e castanhos, mas o que chama
atenção em mim são meus olhos multicoloridos. Um verde e outro azul. Já fui
muito discriminada na escola por conta disso, mas hoje me acho diferente e
bonita exatamente por conta desse detalhe.
***
Já entreguei as encomendas do mês e agora estou subindo a Av.
Olegário Maciel que tenho apenas que atravessar para entrar no edifício onde
moro.
O sinal fecha e paro, esperando, enquanto cheiro meus imensos
buquês de flores frescas que comprei em uma loja no caminho. Compro
flores nessa loja toda semana. Quando não venho buscá-las, eles separam as
que tenho costume de comprar e mandam entregar. Sonho um dia poder
morar em um lugar bem arborizado e florido.
Minha vida mudou totalmente depois que ganhei esse concurso.
Meus pais se orgulhariam de mim, penso com os olhos cheios de
lágrimas enquanto sinto o aroma das flores.
O Sinal abre e atravesso rapidamente, ainda não almocei e a fome já
me incomoda. Além do mais, estou com uma ideia maravilhosa para um
conjunto para a coleção. Tenho esses repentes de criatividade e tenho que
desenhar rápido para não perder nenhum detalhe. Chego em casa, preparo
meu almoço e enquanto degusto minha comida, eu desenho minhas próximas
peças.
Meus olhos focam em uma mulher que chama minha atenção de
imediato, algo que nunca me aconteceu. Fico confuso, pois as mulheres de
uma maneira geral é que me notam e me perseguem. Penso que o que me
chamou atenção nessa mulher é a quantidade absurda de flores que ela abraça
com carinho. Fico hipnotizado quando a vejo cheirar as flores e sorrir com
satisfação. Suas covinhas mexem com o meu pau. Imagino essa boca rosada
o envolvendo e chupando com gosto. Ela levanta os olhos para o sinal e olha
na direção do carro, desço um pouco o vidro e deixo uma mínima fresta e
quando sinto seu olhar em minha direção, meu pau sacode, exigindo essa
mulher.
Porra!
Seus olhos são coloridos, um verde intenso e outro azul anil. Fico
paralisado com tanta beleza, sua pele é muita clara, cabelos castanhos longos
e cacheados. Eu e meu pau decidimos que queremos essa mulher. Quero ela
gemendo enquanto devoro, com loucura, sua boceta quente.
Quando ela atravessa a rua e vejo que a estou perdendo de vista entro
em pânico.
— Artur, segue aquela mulher — falo alto, preocupado em perdê-la
caso entre em alguma loja ou prédio. Artur me olha como se eu estivesse
louco, e na verdade acho que estou.
— Raul, você está maluco? — Ele tem essa liberdade comigo, pois
antes de ser meu faz tudo é meu amigo de longa data. Já atravessamos vários
desertos juntos.
— Sim, eu e meu pau ficamos loucos e queremos aquela mulher que
está com aquele buquê gigante nas mãos. Quero comê-la hoje. — Ele
continua a dirigir, seguindo-a devagar e olhando incrédulo para mim.
— Cara, você tem certeza? E se essa mulher for casada,
comprometida? — pergunta. Então vejo-a entrar em um imenso prédio
espelhado. Fico mais tranquilo porque ela deve morar ali, em breve
descobrirei.
— Como nunca tive tanta certeza de nada em toda minha vida. E se
for casada, comprometida, qual o problema? Eu não me importo de dividir. Já
fiz isso antes. — Sorrio com malícia e vejo que Artur odeia esse meu lado
cafajeste. — Quero essa mulher em minha cama hoje, pague o que ela pedir.
Meu caro Artur, não tem nada que uma boa oferta não compre. Ainda mais se
tratando de mulheres, essa raça de exploradoras e alpinistas sociais — digo ,
orgulhoso, e com certeza do que falo, porque quando consegui ficar
milionário aprendi que dinheiro compra tudo.
Até hoje minha vida funciona assim. Ainda mais com mulheres, raça
de piranhas interesseiras. Quando era pobre só tomava no rabo. Então aprendi
a comprar tudo com meu dinheiro. E quero mais dinheiro, mais poder e mais
mulheres.
Artur me olha com desgosto, sei que ele desaprova meu estilo de vida,
mas foda-se, eu não me importo. Pago e mando buscar tudo que eu quero. Já
fui muito privado de tudo em minha vida, de coisas, amor, comida e paz... e
agora não me privo de nada. E hoje quero essa mulher nua em minha cama
sob meu total domínio e jugo.
— Raul Magno Gorgoni, vai chegar o dia, meu amigo, que verá que
tem coisas que o dinheiro não compra. Guarde minhas palavras — sentencia
meu amigo e algoz. Foda-se se me atenho às leis criadas por pessoas que
pensam que podem transformar o mundo em um campo de flores e arco-íris.
O mundo é cruel, quem tem dinheiro compra, quem não tem se vende. Eu
compro. Me adaptei, somente isso!
— Espero esse dia com ansiedade, pois eu mesmo vou comprar até o
dia e ele se renderá ao meu dinheiro — falo com altivez, arrogância e
soberba.
Ele não diz mais nada e vejo que a moça mora aqui, ou tem algum
conhecido morando, pois é um edifício residencial.
— Artur, descubra tudo que puder dessa mulher, eu a quero hoje, sem
falta, em meu apartamento. — Ele me olha sem acreditar e balança a cabeça
com incredulidade.
— Você surtou de vez, Raul. Tudo bem pegar mulheres em clubes,
bares e casas noturnas, porque a maioria que está lá quer curtir, não todas,
claro, mas a grande maioria como temos visto. — Me encara, como se
esperasse que eu fosse desistir da ideia, ou melhor, da mulher.
— Já te falei, Artur, todos têm um preço e com essa mulher não será
diferente, quero ela e pronto. Amanhã tudo voltará ao normal, só quero uma
trepada e estou disposto a pagar bem. — Artur arranca com o carro e me leva
ao apartamento onde fodo as putas, meu abatedouro.
Ele não fala mais nada, vejo que está chocado, pois nunca quis uma
mulher assim, que passeava na rua despretensiosamente. Sempre saio ou
saímos a caça, eu sei onde é mais fácil pagar para tê-las, ainda que não sejam
garotas de programas. Às vezes são mulheres que precisam de dinheiro para
ajudar o marido, filhos, algum parente, ou então algumas que são maltratadas
e precisam apenas de um carinho.
Todas querem algo.
Já disse que não importa se a mulher é comprometida ou não, não me
importo em dividir. Artur sabe bem disso e aproveita sempre. E vou dizer, já
paguei e peguei inúmeras mulheres comprometidas e foda-se. Fim de
conversa. Quero, pago e pego.
Artur dirige em silêncio até o meu apartamento que reservo para
minhas festas e orgias. Aqui rola de tudo e um pouco mais. Fica no vigésimo
andar com uma bonita vista. Chegamos e entro, coloco minha pasta de couro
na mesa e olho para o Artur parado à porta.
— Quero que você descubra tudo que puder dessa mulher e hoje à
noite estarei aqui aguardando-a de pau duro — digo, certo de que terei uma
foda espetacular. A mulher é linda.
Viro as costas e vou para o banheiro tomar um banho. Meu pau está
tão duro que arde, mas vou esperar para me enterrar na boceta quente e macia
da mulher das flores.
Ouço o barulho da porta se fechando e respiro aliviado de poder ficar
um pouco sozinho, eu gosto muito de Artur, mas não quando fica me
julgando. Entro no banheiro e ligo o chuveiro.
Termino o meu almoço e o esboço do conjunto está pronto e
maravilhoso.
Lavo o prato e copo que usei e vou trabalhar em minha peça, no
ateliê.
Fico entretida separando materiais para montagem da peça, demoro
bastante para organizar tudo e combinar as cores. Coloco uma música
clássica, adoro quando estou trabalhando.
Estou mergulhada em minha criação quando ouço o interfone. Atendo
e o porteiro me diz que tem um homem querendo falar comigo.
Estranho, porque não trago homens aqui, nunca trouxe, aliás nunca
namorei. Não deu tempo para isso, estava organizando e arrumando a minha
vida. Não vou deixar um cara que não conheço subir.
— Lúcio, eu não conheço esse homem, por favor, pode dispensá-lo?
— peço intrigada, mas sem querer saber de nada desse desconhecido.
— Ele diz que precisa falar com você, Lisa, insistiu muito, por isso te
chamei — diz o porteiro que sempre é tão educado comigo e com todos que
moram aqui.
— Vou descer, Lúcio, pede para ele me aguardar, por favor. —
Desligo o interfone e desço sem ao menos trocar de roupa.
Quando chego ao saguão fico parada por alguns instantes avaliando o
homem à minha frente, ele é muito bonito.
Ele me vê e caminha em minha direção.
Lúcio fica de olho e para ao meu lado, agradeço a ele com o olhar.
— Pois não? — digo a uma distância segura.
— Prazer, senhorita Lisa, sou Artur — diz educadamente, nota-se de
longe que é um cavalheiro.
— Não posso dizer o mesmo, pois nunca o vi antes... — digo cismada
e direta. Vejo o esboço de um sorriso em seu rosto bonito e fico sem
entender.
— Poderia conversar com a senhorita em particular? — pergunta no
mesmo lugar.
— Não — comento, simplesmente.
— Nem para falar sobre a loja onde você entrega suas encomendas
mensais? — pergunta com suavidade.
— O quê? Como sabe sobre isso? — pergunto com o coração
acelerado.
— Sei muita coisa sobre você e muitas pessoas, Lisa. Sou pago para
isso — diz, simplesmente.
Dou um passo para trás e meu coração martela em meu peito como
um tambor. Estou apavorada com esse homem aqui em pé diante de mim.
— Vou chamar a polícia! — argumento olhando para Lúcio que está
pálido também.
— Não precisa, querida, não vou te fazer mal, só tenho uma proposta
para você, por parte de quem me paga, ou seja, meu empregador — fala com
calma, as mãos estão nos bolsos de sua calça social preta.
— Não te conheço e não quero saber de nada sobre quem quer que
seja — declaro, já me encaminhando para o elevador.
— O dono da loja em que trabalha é o melhor cliente de meu patrão...
— fala baixo.
Viro-me rapidamente.
— E o que tenho com isso? — O medo me faz ser grosseira.
— Nada, só estou expondo um fato, mas se não quer conversar tudo
bem! — diz, e vira-se de costas caminhando para seu carro que está parado
na portaria do prédio.
— Espera! — grito e ele para imediatamente.
— Só quero conversar com você e te fazer uma proposta por parte de
meu patrão — diz com calma.
— Tudo bem, pode falar. — Claro que não vou entrar com esse
desconhecido em meu apartamento, aqui tem o Lúcio me dando suporte.
— Aqui na rua não é um bom lugar, Lisa. — Me irrito.
— É aqui ou pode ir embora. — Ele me olha fixamente e começa a
falar.
— Meu patrão quer ter uma conversa com você...
— Mas não quero ter nada com esse homem que parece que vê todos
como seus empregados — corto-o com grosseria. Odeio pessoas que acham
que são mais que os outros.
— Vou falar rasgado com você, ele te viu no sinal hoje mais cedo e
quer você por uma noite... — Dou um passo para trás, horrorizada. Porra,
retrocedi no tempo? Século XV? O cara me quer na cama e manda o capataz
vir me buscar e fazer essa proposta ultrajante?
— Não acredito no que estou ouvindo. Você se prestar a fazer um
papel tão ridículo desses te diminuiu como pessoa. Um pau mandado do
caralho! NUNCA! Volta e diz para seu patrão asqueroso, como um cachorro
mandado que é, para ele ir se foder! — Vejo que fica pálido e trava com força
o maxilar, suas mãos se fecham em punhos.
— Cuidado com suas palavras, mocinha — diz, pausadamente
— Não tenho medo de você! Some de minha frente. — Viro as costas
para entrar.
— Qual seu preço? — ele tem a ousadia de perguntar.
— Meu preço? Você, seu miserável, já parou para pensar que tem
coisas e pessoas que não tem preço? — digo, pálida e totalmente descrente da
raça humana.
— Todos tem, segundo meu patrão... — sussurra.
— Você acredita realmente no que esse monstro diz? — pergunto,
incrédula.
— Não — fala com os olhos fitando o chão.
— Então por que se presta a um papel ridículo desses? — afronto o
homem.
— Dois mil, cinco mil, dez mil? Por uma noite! Qual seu preço, Lisa?
— Levanta a cabeça e seu olhar endurece, me fita com frieza.
— A puta que te pariu! Vá se foder, miserável. — Viro-lhe as costas
e largo o desgraçado plantado no chão.
— Uma viagem para a Grécia? Um carro? — O miserável continua
me afrontando.
Entro irada e totalmente arrasada por ver que ainda existem pessoas
que pensam que o dinheiro compra tudo. Enxugo as lágrimas que descem
sem que eu possa controlá-las.
Trabalho para Raul Magno desde quando ele começou a reformar
pequenas casas para vender, muito novo, tanto ele quanto eu. Quando
adquiriu seu primeiro imóvel para reformar, trabalhava sozinho. Eu sempre
passava perto da obra e o via trabalhando dia e noite e um dia pedi para
ajudá-lo. Precisava de dinheiro para comprar minhas drogas, beber e pagar
minhas dívidas. Não sabia que Raul seria minha salvação.
Agradeço a ele até hoje com minha total e verdadeira amizade. Ele me
deu serviço quando ninguém me quis, me estendeu a mão quando queriam
me matar. Pagou as drogas que estava devendo e me fez prometer que não
compraria mais. Até hoje fico sem acreditar que um estranho tenha feito isso
por mim. Cresci nas ruas e não sei quem são meus pais. Não sabia, até
conhecer Raul, o que era ter uma pessoa que se preocupasse com você. O dia
em que Raul me deu serviço e pagou minha dívida com os traficantes, jurei a
mim mesmo sempre estar do seu lado. E tenho mantido minha palavra até
hoje. Já tive várias propostas de melhores empregos, mas nada no mundo
vale mais que minha amizade com Raul.
Fico puto quando vejo como ele se deixou corromper pelo dinheiro. O
homem perdeu a razão e acha que dinheiro pode comprar tudo. Entendo que
veio de um lar destruído, onde foi humilhado, mas quantas pessoas não vêm
de lares assim e não são tão escrotas? Eu mesmo sou um exemplo disso.
Penso e vivo assim, o dinheiro é para te dar conforto, mas o essencial da vida
é conquistado com esforço, e não comprado. E cada dia que passa Raul fica
mais preso a ilusão de que pode comprar tudo com seu dinheiro. Até entendo
porque ele não tem freios, tudo que quer e quis sempre conseguiu depois que
ficou milionário.
Entrei em contato com uma de minhas fontes e descobrimos rapidinho
quem era Lisa Melo, o que fazia, e como perdeu os seus pais em um acidente
muito nova. Ela se esforçou muito e se tinha a condição estável que vivia, foi
porque sempre foi uma guerreira.
Foi difícil para mim ter que ir até o prédio onde morava e fazer essa
proposta indecorosa. A moça é muito nova e batalhadora e não tem nada das
mulheres que Raul tem o costume de comprar e corromper.
Confesso que fiquei feliz quando me mandou tomar no cu, confirmou
o que notei logo que a vi, que ela é uma mulher de fibra que se valoriza e não
se corrompe por dinheiro. Sinto a alma leve quando saio de lá com um sonoro
e estrondoso não.
A mulher é feroz, penso sorrindo. Raul vai tomar no rabo de uma
forma doída e vai ter que bater punheta ou chamar uma de suas putas, senão
irá dormir de pau duro.
Ligo o carro e vou assobiando, sorrindo e feliz por ter feito minha
parte a pedido do safado do Raul, e volto para lhe entregar o sonoro não de
Lisa. Essa mulher subiu em meu conceito de uma maneira singular.
Termino banho e meu pau continua em riste, duro igual aço. Porra,
essa mulher realmente mexeu comigo. Mas em breve resolvo isso, quando ela
vier a foderei a noite toda e amanhã tudo voltará ao normal. Essa vontade
louca de comê-la é novidade para mim, mas sei que assim que entrar naquela
doce boceta, o antigo e centrado Raul Magno voltará.
Vou para a sala, encho um copo de uísque e vou para meu escritório,
sempre o deixo trancado porque trago pessoas que não conheço aqui e como
sou macaco velho e vivido, mantenho partes da minha vida privada bem
resguardada.
Pego meu notebook e começo a trabalhar, antes peço um almoço,
estou com muita fome. Assim que a comida chega, almoço e volto ao serviço,
mas não consigo me concentrar direito. A porra da minha mente sempre me
conduz a mulher que vi hoje cedo, a mulher das flores. Se ela visse minha
casa na época da florada de ipês iria ficar apaixonada e encantada.
Mas que porra é essa que estou pensando?
Nunca levei mulher alguma para minha casa na Vila dos Ipês, lá é
meu santuário. Me revelo em cada detalhe da casa, ficando assim totalmente
vulnerável. Porra, realmente estou ficando louco. Preciso comer logo essa
mulher ou terei problemas com ela, pressinto isso.
Eu me forço a voltar ao trabalho e finalmente consigo relaxar e focar
no que me garante minha boa vida. Quando olho o meu Rolex, vejo que já
são quase 18h. Puta merda, como o tempo voa. Artur não me ligou ainda,
mas também não precisa, sempre resolve tudo o que peço sem problemas.
Ele é minha fada madrinha, penso divertido, que ele não me ouça
dizer isso porque arrancará meu pau e me enforcará com ele. Melhor, fado
padrinho, existe isso?
Realmente estou ficando louco. E o silêncio de Artur me intriga, me
deixando com mais vontade de comer aquela gostosa.
Pego meu celular e ligo para Artur.
— Cara, vai demorar muito? Porra, meu pau está doendo e minhas
bolas estão cheias... caralho! Estou preparado para comer essa gostosa a noite
toda. Amanhã ela não conseguirá andar em linha reta! Depois você pode
comê-la o quanto quiser — falo com malícia e acaricio meu pau dolorido, me
sentindo bondoso ao dar a mulher para ele desfrutar depois que me fartar
dela. Realmente o Artur tem razão, sou um puto do caralho. Satisfação me
domina.
— Estou chegando. — Artur é seco e desliga. Porra, nem parece que
sou seu patrão. Cara abusado, mas foda-se, quero a mulher.
Me levanto sorrindo com safadeza e com mil ideias do que farei com
a mulher. Ela está fodida comigo, no sentindo literal da palavra.
Caminho ansioso pela casa quando ouço a fechadura se abrindo. Vou
para a sala com uma rapidez que quase caio quando esbarro no sofá.
Vejo Artur entrar e olho ansioso para vê-la entrar.
Quando o vejo fechando a porta e me olhando fixamente, pergunto
irado.
— Cadê a porra da mulher, caralho? — Ele coloca a chave do carro
no bolso, com calma. Isso que gosto em Artur, ele é uma das poucas pessoas
que não me temem.
— Ficou na casa dela — responde e me olha fixamente, vejo sua
desaprovação.
— Como assim ficou em sua casa? Não mandei você trazê-la? —
Passo a mão no cabelo querendo dar um murro na cara de Artur.
— Mandou sim, mas você se esqueceu que ela tem que querer isso?
Amigo, sinto muito te informar que a época da escravidão acabou e as
pessoas são livres, todas elas, para escolherem o que querem — fala com
calma e vai até a geladeira pegar uma garrafa de água. — Raul, lembra que
te falei que o dinheiro não pode comprar tudo? Pois bem, amigo, essa mulher
me mandou enfiar o seu dinheiro no centro do meu cu — comenta ,
divertido.
Vejo tudo vermelho, mas que porra é essa? Isso nunca aconteceu.
— Porra, Artur! Todas sempre aceitaram, qual o problema dessa puta
do caralho? — Ele toma um gole de água, fecha a garrafa e me olha
fixamente.
— O problema é que nem todas são compráveis, meu velho. Só de
olhar, você vê que essa mulher é uma guerreira, batalhadora e não uma
aproveitadora. Ela não é uma sugar baby, meu chapa! Você sim, pode ser seu
sugar daddy pela grande e imensa diferença de idade, vovô! — O desgraçado
ainda zomba da minha cara.
— Vovô? Qual a idade da gostosa? — pergunto, ainda muito puto e
sinto meu pau desinflar.
— Pode ser nossa filha, seu pedófilo! — Ri de minha careta.
— Tão nova assim? Menor de idade? — indago, agora já desgostoso
com minha tara. Puta merda, meu pau ficou flácido de vez. Menor de idade,
nunca, jamais!
— Não é para tanto, Raul, a senhorita tem 23 anos e você 43 anos, um
velho! — debocha, caminha pela a sala e se senta no sofá.
— Velho é um caralho! Dou de mil a zero em muitos boyzinhos por
aí! Você sabe, pois sempre que fazemos orgias e dividimos as mulheres
damos canseira nas coitadas. — O lembro, me sentindo o rei da cocada preta.
— É, meu velho, mas essa te mandou à merda! Fiz propostas
tentadoras, mas ela rejeitou todas. — Foda-se, ela não é menor de idade,
então a quero com mais força ainda, está para nascer a mulher que vai me
rejeitar. Essa não será a primeira. Quero que volte lá e faça novas propostas,
faça o que essa filha de uma rapariga quiser, mas traga ela para mim! —
ordeno, colérico e espumando de raiva da falsidade dessa mulher, todas tem
seu preço e essa não será diferente. — É puta como todas — arremato,
enchendo o copo de uísque e tomando tudo de uma vez.
Artur me olha estarrecido, como se eu estivesse louco. Não me
importo. Cresci e fui bem-sucedido na vida, não me importando com que os
outros pensam sobre mim.
Fracos não se dão bem em nada, são uns derrotados, penso com
soberba.
— Eu vou fazer o que me manda, como seu empregado tenho que
obedecer. E pela gratidão que tenho por você, Raul. Mas como amigo, estou
muito decepcionado com você. — Se levanta e vejo que realmente está
decepcionado, essa é uma das raríssimas vezes que Artur age assim.
— Cara, é só mais uma mulher, você já me ajudou a pegar tantas e
todas que eu quis e ainda dividiu comigo... — Tento apaziguar.
— Porra, Raul, essa é diferente das mulheres que você e eu estamos
acostumados a lidar... — Hoje Artur tirou o dia para falar merdas e me irar.
— Ok, pense o que quiser, mas resolva isso para mim e traga essa
mulher para eu trepar o mais rápido que puder — falo já arrancando o celular
do bolso e abrindo minha agenda. Seleciono três nomes e peço para virem
para o apartamento. Quero trepar a noite toda, meu pau voltou a ficar duro e
preciso sentir uma boceta quente e macia o envolvendo. — Artur, se quiser
participar, seja muito bem-vindo, amigão! — digo, sorrindo, cheio de luxúria
ao me imaginar dividindo as mulheres com Artur.
— Dessa vez passo, obrigado. Vou descansar, hoje meu dia foi
intenso e atípico. — Fico boquiaberto ao ver Artur dispensar mulheres.
Porra, a mulher o deixou abalado.
— Como quiser, mas faça o que for preciso, quero comer essa mulher,
agora é questão de honra — arremato, indo para meu quarto esperar as putas.
Ouço o barulho da porta, Artur foi embora. E pela primeira vez me
sinto desconfortável com a situação. Passa um tempo e ouço o interfone,
atendo e o porteiro diz que as mulheres chegaram. Mando subirem, abro a
porta e vejo uma morena, uma loira e uma ruiva. Meu pau torce em minha
calça social preta.
Elas entram e me olham com desejo e malícia.
— As três em meu quarto e peladas, daqui a pouco eu vou. Quero
todas se beijando e se acariciando — ordeno, enchendo mais uma vez o copo
de bebida, já estou meio bêbado e me sentindo meio sujo hoje... Caralho! O
que está acontecendo com o grande e onipotente Raul Magno Gorgoni? Será
o peso da idade, afinal não sou mais menino, embora muitas vezes aja como
tal.
Balanço a cabeça para espantar esses pensamentos fora de hora,
acaricio meu pau não tão duro e vou para o quarto.
Quando chego vejo as mulheres engalfinhadas se pegando de maneira
lasciva. Sento-me em uma poltrona e chamo uma.
— Você! — Aponto meu dedo para a mais peituda. — Chupa meu
pau e engole ele todo. — Ela caminha sorrindo com malícia, se ajoelha em
minha frente, pega meu pau e o massageia, ele dá um espasmo de prazer,
tombo minha cabeça para trás quando sinto sua boca quente se fechar em
volta dele.
Ela chupa com força a cabeça gorda e rosada. Eu gemo alto e ela
continua chupando. Quando estou perto de gozar a empurro e me levanto
rapidamente. Deixo-a de bunda no chão e sorrindo com malícia enquanto
aperta seus imensos seios.
Pego a que tem o corpo mais delicado, seios médios e cabelos
castanhos e longos. Ela está chupando o seio da loira quando a puxo e a
ponho de quatro. Coloco a camisinha apressadamente e me enfio em seu
buraco quente e largo. Porra, a mulher deve ter dado para um jumento. Entro
e saio com velocidade, aperto seus clitóris e quando goza, saio ainda duro de
dentro dela e puxo a loira. Meto com força e ela é mais apertada, mas em
nada me lembra a mulher das flores. Caralho, até no meio de uma foda
pensando na porra da mulher? Saio de dentro da loira com ira e chamo a
ruiva.
— Quero comer seu rabo! — Ela se deita na cama e levanta a bunda
e entro com força em seu rabo mais que rodado.
Porra! Hoje estou um porre, nem eu estou me aguentando. O que está
acontecendo, caralho? Três belas mulheres em minha cama e eu pensando em
coisas sobre elas que nunca me importei? Saio de dentro dela, arranco a
camisinha e mando as três me chuparem. Elas fazem um malabarismo e tanto
até que eu finalmente consigo gozar e encher seus rostos e bocas com meu
prazer.
Me levanto e vou para o banheiro, tomo um banho, mando se
arrumarem e as dispenso com uma sensação de vazio nunca sentida antes.
Subi afrontada com esse senhor que me fez a mais ridícula e
indecorosa proposta que já tive o desprazer de receber em minha vida. Mas
minha ira e ódio não é com ele, mas sim com seu patrão, o verme que o
mandou fazer essa proposta nojenta. Não me prostituí nem quando fiquei
sozinha e sem recursos ainda muita nova. Vou me prostituir depois que
conquistei tudo que tenho com honestidade?
Esse infeliz que mandou me fazer essa proposta asquerosa deve ser
aquele tipo de verme que acha que pode comprar tudo com dinheiro. Tenho
verdadeiro asco desse tipo de gente. Eles são arrogantes e adoram humilhar
as pessoas que são menos favorecidas financeiramente. Mas aqui não, otário!
Meus pais me ensinaram princípios que carrego no peito com orgulho. Um
deles é que não preciso me prostituir para conseguir nada na vida.
Claro que tem casos e casos e o meu caso é esse: trabalhar e conseguir
as coisas sem ajuda de homem nenhum. Ainda mais esse tipo que acha que
você tem preço por ter mais dinheiro que nós. Vai se ferrar, riquinho de
merda. Queria conhecer esse infeliz, ia fazer questão de enfiar a mão na sua
cara.
Sou doce, gentil e fofa, mas não venha querer me humilhar e diminuir
não! Se não nos valorizarmos, quem nos valorizará?
Cheguei até aqui trabalhando com integridade e pretendo continuar
assim. Claro que chegará o momento em que irei me envolver com alguém. E
defini em minha cabeça que entregarei minha virgindade para o homem por
quem sentir confiança, desejo e de preferência mais velho. E não para um
infeliz que acha que pode comprar tudo. Aqui não, pilantra.
Não pretendo esperar me casar para me envolver sexualmente com
alguém, não sou esse tipo de pessoa. Penso que você deve fazer o que te faz
bem e ponto.
Me reservo o direito de escolher o cara que será meu primeiro homem
e não vai ser qualquer um não. Já tenho meus requisitos estabelecidos e estou
bem com isso. Falo por mim, o cara não precisa estar apaixonado, só me
tratando com respeito está bom. Mesmo porque não pretendo me casar tão
cedo. Podemos ter um relacionamento sem estarmos apaixonados, mas
respeito, friso, não abro mão.
Penso irada enquanto eu termino o conjunto que desenhei hoje de
manhã quando cheguei da rua e tive a proposta mais ridícula de minha vida.
Quando embalo o conjunto, o olho com emoção e gratidão a Deus por
ter me permitido ganhar meu sustento com o que amo fazer. E o principal,
honestamente.
Desço, tomo um banho, coloco uma camisola longa, pego um livro
depois de preparar um chá de hibisco que adoro e vou para minha cama.
Vou tomando o chá vagarosamente enquanto leio uma obra de
Machado de Assis, sou eclética em minhas leituras, leio de Clarice Lispector
a Rick Riordan, também adoro romances apimentados.
Termino o meu chá e continuo a leitura, pouco tempo depois caio no
sono.

***
Acordo mais tarde hoje, me dou esse privilégio toda vez que fecho o
mês entregando os produtos que tenho compromisso. O dia seguinte reservo
para cuidar de mim, sair, fazer compras para casa, ir ao cinema e almoçar no
shopping pertinho de casa. Adoro fazer compras em várias lojas que tem no
Diamond, principalmente na padaria que fica em um supermercado gigante
nesse mesmo shopping.
Me levanto cheia de ânimo e gratidão, tomo meu banho, vou para o
andar de cima e preparo meu café com torradas e queijo cottage, adoro.
Me sento no canto onde tem um pequeno jardim de inverno e como,
desfrutando do sol delicioso que bate no sofá onde estou sentada. Observo as
pessoas e carros irem e virem e vejo que a vida flui como deve ser.
Termino o meu desjejum e lavo tudo, pois gosto sempre de deixar
tudo arrumado. Pego minha bolsa e saio para viver meu dia em gratidão a
tudo que tenho.
Desço de elevador e cumprimento Lúcio e vou a pé para o Shopping,
é pertinho e adoro fazer essa caminhada. Sinto o sol bater morno em minha
pele e fecho os olhos de contentamento.
Estou distraída pensando, quando ouço uma voz atrás de mim e gelo.
— Olá, menina brava. — Estaco e me viro lentamente, irada, sem
acreditar no que estou vendo.
— Você! É muita cara de pau, ou muito pau mandado mesmo! —
falo para ofender, dane-se.
— Bom dia para você, Lisa Melo. — O cara de pau diz, com um
imenso sorriso no rosto. Esse homem deve ser tão louco como o canalha de
seu chefe.
— O filho de uma égua parideira mandou você vir com uma nova
proposta? Já vou te adiantar, pega a proposta desse imundo e manda ele
enfiar no rabo. — Foda-se, não sou essa boca suja, mas esses homens estão
me dando nos nervos.
— Calma, menina brava! Ele mandou sim, e eu como um bom
empregado que recebo uma pequena fortuna, tenho que vir te fazer as porras
das propostas nojentas. Mas você aceita se quiser e tenho que fazê-las para
quando ele me perguntar se as fiz, não precisar mentir, odeio mentiras — diz
com calma e um meio-sorriso. Gostei desse cara.
— Minha resposta a esse verme de seu chefe sempre será não! O cara
para mandar pagar para ter uma mulher deve ser um demônio de feio, não é?
— Essa história já está me divertindo, não sinto receio com esse homem,
sempre tive esse feeling em relação as pessoas. Sinto que é uma boa pessoa.
— Você está coberta de razão, Lisa, eu mesmo disse a ele que isso
era um absurdo, mas ele não ouve ninguém, só faz o que quer — comenta
com um brilho triste no olhar.
— Como você trabalha para um ser asqueroso desses? Me parece um
homem de bem. — Arrisco dizer, enquanto andamos na avenida
movimentada.
Ele ergue os olhos e os fecha, quando os abre vejo seriedade neles.
— Esse homem me estendeu a mão quando eu estava no fundo do
poço, menina — diz com uma nota de gratidão misturada com tristeza.
— Então você faz tudo que essa criatura quer por gratidão? —
Espanta-me o caráter desse homem.
— Sim. Se não fosse ele, teria morrido nas mãos de traficantes, eu
devia a eles uma soma alta e ainda era alcoólatra. Minha vida era uma merda
e esse meu chefe, que você chama de escroto, foi o único que me estendeu a
mão. — Chegamos ao shopping e ele entra comigo.
— Você já tentou dar uns conselhos para esse cara maluco? — indago
sem entender o quanto eles parecem diferentes um do outro.
— Sim, mas como já disse, ele faz somente o que quer. É teimoso
igual a uma mula, mas quando você tem sua fidelidade, ele é o melhor cara
do mundo — diz com carinho se referindo ao amigo que para mim não passa
de um calhorda sem escrúpulos.
— Qual a proposta? — arrisco e o vejo ficar pálido e me olhar com
desgosto. Ele pensa que vou aceitar e pelo seu semblante ficou claramente
decepcionado.
— Ele quer você a qualquer preço. O que quer? — fala dando um
passo para trás e com o olhar frio e expressão distante. Bem diferente do
olhar doce que me dirigia anteriormente.
— Qualquer coisa? Um anel de brilhantes? Um colar de rubi? Um
apartamento? Uma viagem ao redor do mundo? — Conforme vou falando
seu semblante vai endurecendo mais e mais e vejo seu olhar se transformar
em desprezo.
— Sim, o que quiser. — Olho bem em seus olhos e falo baixinho e
suavemente.
— Pega tudo isso e enfia no cu de seu chefe e deixa o carro para
enfiar no seu, desgraçados. — Viro com os olhos cobertos de lágrimas de
humilhação e ando rapidamente para me esconder em algum lugar e chorar
muito.
Sinto uma mão enorme em meus braços, um puxão e me vejo sendo
esmagada por um abraço tão apertado que sinto dor.
— Eu sabia! Sabia, caralho! Sabia que não tinha me engando com
você, Lisa! — O homem que é um pau mandado me abraça com alegria.
— Me solta! — falo, indignada. — Não é isso que estou falando
desde o início? — O empurro com força, mas ele não arreda um milímetro.
— É isso aí, pequena, vou levar seu recado para meu amigo e patrão
bundão e quero muito ser seu amigo, se me permitir. Ainda que tenhamos
começado de forma equivocada — diz com os olhos brilhantes e com a
mesma ternura de antes.
— Não te conheço. — Sou curta e grossa. Depois das propostas que
esse homem me fez a mando de outro quero distância desses loucos.
— Prometo que não falo mais sobre as propostas absurdas que meu
amigo maluco mandou fazer a você. Ele que vá se foder e procurar outras
para comprar! — Pisca e me solta.
— Ele compra outras? — Fico abismada.
— Ele não tem limites, lembra? Faz o que acha certo e pronto. Mas
vamos falar de outras coisas. — Me puxa e paro em frente a uma loja de
chocolates que amo.
— Hum! Então gosta de chocolates? — Seu sorriso é gigante. —
Sempre soube que era preciosa. — Alarga o sorriso e entramos na loja.
— Bom dia, Artur. — Ouço uma mulher dizer.
— Artur? — pergunto, olhando para esse homem que entrou em
minha vida de forma estranha e inusitada, mas que me agrada de alguma
forma.
— Sim, Lisa, Artur a seu dispor. — Faz uma mesura galante e volta
para a moça que o cumprimentou.
— O de sempre, Artur? — Pisca para a mulher e confirma.
Vejo ela encher um saco de papel com barras de chocolates com
amêndoas e entregar a ele, que sorri largamente.
— Hoje você vai experimentar esse, Lisa. Depois que comer esses
aqui nunca mais irá querer outra marca, meu amigo é alucinado com essas
barras de chocolates com amêndoas — diz me estendendo o saquinho.
Sorrio, aceito e abro, pegando uma e mordendo. Fecho os olhos e
gemo alto. Delicioso!
— Ei, me dê um pedaço! — Artur pede e entrego a ele o saco com as
barras, ele pega e se despede da moça que me diz ser sua amiga.
O homem me acompanhou o dia todo, almoçamos, fomos a várias
lojas, comprei meus pães, frutas e livros.
Ele me ajudou a levar as sacolas até a portaria, onde Lúcio correu para
me ajudar.
— Bom, Lisa, como sua resposta é não, serei o portador das más
notícias, com muito prazer, para meu perturbado amigo — diz sorrindo e me
dando um beijo no alto de minha cabeça. — Gostaria muito de ser seu
amigo, se me permitir, sem segundas intenções, deixando isso bem claro, ok?
— Vou pensar e te falo... — digo, indecisa, afinal, não o conheço
direito e temos que ser cautelosos.
— Você está coberta de razão em se resguardar, mas qualquer dúvida
conversa com minha amiga de longa data, aquela da loja de chocolates, nós
somos sócios tem mais de 5 anos. — Sorri, pisca e vai embora.
Olho-o entrar no carro, ligar e piscar o farol quando passa por mim.
Sorri e retribuo. Dia louco esse. Mas foi muito divertido.
Essa semana fiquei preso nesse cubículo do caralho de apartamento
pequeno. Minha casa na Vila dos Ipês é imensa e me sinto asfixiado nesse
caixote. Sinto falta de caminhar nas ruas arborizadas e dos ipês que
compõem esse pequeno paraíso. Está começando a época de florada e os
cachos estão ocupando os lugares das folhas. E eu perdendo esse show da
natureza por causa de uma boceta que está se fazendo de difícil. Porra, já
estou aqui tem três dias e nada do Artur trazer a maldita que pensa que é
alguma coisa.
Toda vez que ligo para meu amigo, ele me diz que está tentando. Vou
ligar hoje e ver se finalmente consigo comer essa mulher. Essa miserável está
me dando canseira. Pelo visto vou ter que eu mesmo começar a agir. O que
me deixa mais irado foi que nunca precisei ir atrás de nenhuma mulher.
Cacete!
Pego meu celular e ligo para Artur, hoje ele foi novamente tentar
trazer a puta.
— E aí, cara? A puta já cedeu? — Passo a mão nos olhos, temeroso
de ouvir um não, já não penso mais com a cabeça de cima, a de baixo
comanda agora, nunca ouvi um não e receber pela primeira vez está difícil de
digerir.
— Nada, Raul. A mulher não cede, te aconselho a desistir. Escolhe
outra e vamos nós dois para o ataque. — Ouço ele dizer com a voz divertida.
Maldito!
— Nem fodendo, Artur, quero essa! Agora virou questão de honra. Se
você não conseguir convencê-la até o final de semana, pela primeira vez na
vida, vou atrás da uma mulher que rejeitou cada proposta que fiz. Se fosse
outra já teria comido e tirado da cabeça. Mas essa maldita se negando me
instigou a querer trepar com ela com mais vontade. — Ouço ele suspirar
fundo.
— Raul, pelo amor de Deus! Deixa a menina em paz. Ela não é como
as outras, já te falei isso mais de mil vezes, deixa de ser cabeça dura, homem!
Tem tantas mulheres neste mundo que trepariam com você sem essas
propostas inescrupulosas! Você é mais que isso, meu amigo! — Novamente
tenta me aconselhar com sua filosofia de vida certinha que me irrita demais.
— Eu quero essa mulher e ponto final. Vou esperar somente até o
final de semana. Se ela não vier por bem, eu já tenho um plano em mente e
em pouco tempo a terei abrindo as pernas para mim. E isso é uma promessa!
— desabafo, cansado de tanta recusa por parte dessa infeliz.
— Então, meu caro amigo, pode executar seu plano fadado ao
fracasso sozinho. E me exclua dessa sua ideia maluca. Estou fora e tenho
vergonha de sua atitude neste momento, você sempre foi um cara que admirei
demais. Porra, Raul, para que isso? Repense, amigo, deixa a menina em paz,
ela é inocente, diferente das mulheres que estamos acostumados, cara! —
Ouço ele defendê-la com garra e sinto raiva disso, não entendo o porquê. Só
sei de uma coisa, essa mulher se tornou uma obsessão em minha vida.
Doentia, talvez? O tempo dirá.
— Artur, estou há três dias aqui nessa pocilga, aguardando essa
boceta difícil de ser liberada, mas agora me cansei e vou para a Vila dos Ipês,
me pegue aqui quando tiver liberado os empregados e feito os pagamentos.
Me cansei disso, já te falei como será. — Artur se cala porque sabe que
quando me decido, dificilmente mudo de ideia.
— Como quiser, Raul. Em breve passarei aí e te levarei para a Vila
dos Ipês. — Desligo o telefone sem me despedir, estou cansado dessa
moleza que Artur tem para agir em determinados casos. Chega, minha
decisão está tomada e sei que a dele também. Ele não vai me ajudar porque
não concorda com o que quero e estou fazendo. Essa mulher o encantou de
alguma forma, será que já a comeu sabendo que eu queria primeiro? Me
pergunto encucado, mas tiro essa ideia maluca da cabeça, confio no Artur,
não na vadia. Em paz com tudo definido e decidido, pego meu telefone e ligo
para duas putas, ainda dá tempo de uma trepada antes de Artur chegar.

***

Depois que trepo com as mulheres as dispenso, tomo um banho me


arrumo e vou para o escritório trabalhar. Tenho uma reunião urgente com os
arquitetos e engenheiros que estão trabalhando no prédio que fica na Afonso
Pena. Encerro a teleconferência e espero Artur, já passa das 18h.
Arrumo meu MacBook Air e alguns papéis imprescindíveis e um
livro que estou lendo. Nunca fico sem ter o que ler. Eu termino um com outro
já em mente. Sou eclético, leio o livro que a sinopse me chamar atenção,
independente de tema. Confesso que semana passada li um livro que tinha
muito tempo que queria ler e confesso que fiquei chateado de ter protelado
tanto tempo, simplesmente sensacional. Orgulho e Preconceito de Jane
Austen. Gostei tanto que procurei mais livros dessa autora e já comprei.
Leio em e-books, mas gosto mais de livros físicos. Por isso em minha
casa na Vila dos Ipês tenho uma biblioteca gigante, com livros que abordam
todo tipo de assunto. Tem a ala dos Romances e Lili vive lá pegando livros
emprestados, ela adora um romance. Eu leio sempre também. Ela me sugere
alguns e a safadinha gosta de ler uns livros bem calientes. Eu terminei de ler
um que me deixou de pau duro e até serviu para eu usar em algumas de
minhas trepadas. A mulherada adorou, fiz umas coisinhas que Christian Grey
fez com a mocinha com minhas amantes. Sou bad!
Sorrio com o pensamento e sei que tem muitos homens machistas que
não leem esse tipo de livro, porque acham que é de mulherzinha. Mas se der
um mapa para essas porras machistas mostrando o passo a passo de como
encontrar o clitóris de uma mulher, não conseguirão achar. Machistas idiotas
do caralho, eles eu não! Penso divertido.
Vou para a sala, preparo uma bebida, aproveito e ligo para a mulher
que faz a limpeza aqui no apartamento. Ela virá amanhã cedo. Gosto de
deixar aqui sempre limpo porque posso arrumar uma boa trepada a qualquer
hora do dia e não hesito em trazer para cá.
Ouço o barulho da chave na porta e vejo Artur entrando com cara de
cansado.
— Boa noite, Raul, pronto? — pergunta, me olhando com a barba por
fazer e aparência de muito cansado.
— Tudo bem com você, Artur? Me parece muito cansado. — Pego
minha maleta de couro e caminho para porta.
— Cara, o dia hoje foi osso. Tive problemas com uma das
empreiteiras — diz e passa a mão na cabeça.
— O que aconteceu? — pergunto, preocupado, sempre vou às obras
que estou fazendo, pelo menos uma vez ao dia. Mas hoje tive uma reunião
urgente que durou o dia quase todo, referente ao prédio na Av. Afonso Pena.
— Por que não me chamou? — Olho para Artur.
— Raul, você já faz coisas demais e se eu não conseguir resolver a
porra de um problema com uma empreiteira, pode me dispensar — diz
aborrecido.
— Desculpe, amigo, não quis te desvalorizar, é que às vezes estamos
de cabeça quente e uma simples palavra muda toda situação. — Dou tapas
em suas costas tensas, compreensivo.
— Aí está o homem e amigo a quem sou fiel. Por que ele tem que
sumir e entrar o crápula do Raul Maligno que pensa com a cabeça de baixo?
— Fita-me com desgosto.
— Porque ser bonzinho 24 horas por dia cansa e fica maçante. —
Sorrio malicioso e entramos no elevador.
— Deixa o Raul Maligno se manifestar somente à noite. — Artur
entra na brincadeira, mas sem deixar de falar o que pensa.
— Ele tem que trabalhar de dia para pagar diversão à noite, cara! —
Sorrio feliz que nossa camaradagem se estabeleceu novamente. Aquela vadia
que fica fazendo rabo doce está fazendo meu amigo agir de maneira não
convencional.
Descemos até a garagem, entramos no carro e me encosto no banco e
fecho os olhos. Estou cansado também.
Artur liga o carro e saímos para a avenida movimentada.
Estou ansioso para sair daqui, não gosto desse movimento e
quantidade de pessoas, fico aqui porque preciso trabalhar. E por um novo
objetivo: a gostosa das flores.
Adoro minha casa na Vila dos Ipês, lá recarrego minhas energias e me
sinto renovado.
Permaneço de olhos fechados e sinto o sono me pegar.
Depois de nossa conversa, Artur me liga todos os dias e nunca mais
tocou na proposta indecorosa do verme de seu chefe. Eu peguei um ranço
desse homem sem escrúpulos que só de pensar que um lixo desse habita o
mesmo planeta que eu, me enche de asco. Quantas pessoas esse monstro já
não deve ter subornado? Passando por cima de suas vontades e crenças,
usando talvez um momento de fragilidade da presa que ele queria atacar?
Desde pequena tenho asco desse tipo de pessoas. Meus pais incutiram
em minha cabeça valores que são minha regra de viver. Jamais desrespeitar
quem quer que seja, independente de credo, cor, condição financeira. E esse
homem quebra uma de minhas regras principais: usar sua condição financeira
para fazer sucumbir os que têm menos recursos financeiros e impor sua
vontade. Nojento. Não quero nunca, jamais encontrar esse tipo em minha
frente ou vida.
Lúcio já foi pego pela simpatia de Artur, o defende agora com unhas e
dentes. Traidor, penso sorrindo.
Voltei ao shopping e conversei com a mulher da loja de meus
chocolates favoritos e ela me confirmou tudo que Artur já havia me dito. Eles
são sócios há mais de cinco anos e tiveram um breve caso. Mas continuam
amigos e se respeitam com muito carinho.
Ele não fica na loja, entrou somente com a parte financeira. Sabrina,
seu nome, me disse que Artur é um gigante com um coração mais gigante
ainda. Quando eles montaram a loja, ela entrou somente com a mão de obra,
pois seu ex-marido gastou tudo que tinham em bebidas e mulheres.
Era também agredida pelo ex e conseguiu sair da depressão com a
ajuda de Artur. Eles só se envolveram quase dois anos depois de separada e
quando soube que seu ex-marido havia morrido em um acidente. Em nenhum
momento ele tentou se aproveitar de sua fragilidade. Sabrina veio de outro
estado e deixou sua filha morando com a sogra, que era uma mãe para elas.
Sua filha estava fazendo faculdade na época e não quis mudar de estado e
deixar a avó sozinha. Então veio e ajudou a mãe na mudança e voltou assim
que sua mãe estava mais estabilizada, mas ficou as férias todas com ela.
Sempre que podiam se encontravam, mãe e filha.
E Artur, além de fazê-la se sentir valorizada como mulher, ajudou a
montar uma loja de chocolate, seu sonho desde criança. Arcou tudo, sozinho,
ela não tinha a mínima condição de investir financeiramente. Sabrina pensou
que ia somente trabalhar para ele, mas ele a colocou como sócia. Me contou
que quando começou a trabalhar na loja, ela pôde ajudar sua sogra e filha.
Ajudou a filha a terminar de pagar a faculdade e ainda mantinha as duas com
tranquilidade. Seu ex-marido era um imprestável e sua própria mãe o
abominava, juntamente com sua filha. Sabrina era profundamente grata a
Artur.
Quando ela fala dele, seus olhos se enchem de ternura. Estou satisfeita
em não ter errado em minhas primeiras impressões sobre Artur. Realmente
ele é um homem íntegro. Seu passado conta isso, juntamente com suas
atitudes. Fico com o coração mais leve e com uma nova amiga, poderia dizer
isso, pois senti confiança quando conversei com ela. Meu radar dificilmente
falha. Me despeço, não sem antes comprar barras de chocolates com
amêndoas.
Vou chamar Artur para conhecer minha casa. Preciso realmente de
amigos, sou muito só. Me dediquei a me estabilizar e agora está na hora de
me socializar mais. E já tenho dois novos amigos em vista: Sabrina e Artur.
Me despeço de minha nova amiga e passo na padaria que amo, no
shopping, escolho uma grande variedade de pães, bolos e biscoitos.
Passo na floricultura, compro minhas flores frescas e chego em meu
prédio cheia de sacolas. Lúcio quando vê, vem correndo me encontrar e
ajudar. Separo uma sacola de pães com variedades e dou a ele. Sei que adora.
— Não precisa, menina! — diz com os olhos brilhantes.
— Claro que precisa, Lúcio. Quem sempre me socorre? — Pisco para
ele e vejo que fica vermelho.
Ele me ajuda a colocar as sacolas no elevador e subo feliz. Hoje direi
a Artur que aceito ser sua amiga, senti sua integridade desde o início, apesar
da proposta indecorosa que me fez a mando do traste. Vi que fez a proposta
asquerosa com desgosto, dava para ver em seus olhos que estava
desconfortável. E só vou ligar para ele porque vi em seus olhos que não há
nada sexual em sua proposta de amizade, vejo nele somente um futuro bom
amigo.
Peguei seu telefone com Sabrina e mais tarde ligarei para ele. Tomo
um banho, arrumo as flores nos vasos e as espalho pela cobertura.
Subo, preparo um chá e coloco alguns dos pães que comprei na mesa,
tomo meu chá em paz, lendo meus romances.
Quando vejo, já está escurecendo. Pego meu celular e ligo para Artur.
Chama duas vezes antes de atender.
— Artur? — pergunto ao ouvir uma voz estranha e desconhecida, mas
muito máscula, forte e rouca. Me arrepio como se tivesse sentido uma
descarga elétrica. Fico sem palavras, primeira vez que fico impressionada
somente ouvindo a voz de alguém. Se esse homem for tão bonito quanto sua
voz é linda, deve ser a perfeição encarnada.
— Não. Artur saiu e esqueceu o celular, mas em breve estará de volta,
quer deixar algum recado? — fala, extremamente solícito e educado. Um
gentleman.
— Que horas ele volta? — Consigo falar, estou suando de
nervosismo.
— Já deve estar chegando, uns dez a quinze minutos no máximo. —
Sua voz grossa e rouquidão me deixa meio tonta.
— Então ligo mais tarde, obrigada e me desculpe pelo transtorno. —
Me despeço e desligo rapidamente sem dá-lo a chance de dizer mais nada.
Fico olhando o celular em minha mão e vejo que está trêmula. O que está
acontecendo comigo?
Quando chegamos à Vila dos Ipês meu coração se abre feliz e me
sinto leve. Adoro esse lugar, me traz uma paz ímpar.
Artur para o carro em frente à uma fonte gigante na entrada e desço
rapidamente, quero tomar um banho e jantar a comida deliciosa que Lili
prepara.
Entro, fecho os olhos e inspiro de prazer. Olho a noite que envolve
meu cubo de vidro que é a minha casa, meus pés de ipês que estão em
perfeita sintonia com o ambiente. Caminho para a cozinha e vejo minha
amiga e mãe, cozinhando. Avisei que viria e ela com certeza está fazendo
meu prato favorito. Amo arroz com pequi, galinha com quiabo e angu.
Sinto o cheiro delicioso de pequi invadir meu nariz e minha boca
enche de água. Caminho até ela e a beijo com carinho.
— Raul! — Vira-se para mim com um imenso sorriso nos lábios e
me abraça. — Que saudades, filho! Já te falei para não ficar fora de casa
mais que uma noite, pois não come direito, olha como está pálido e abatido.
Você emagreceu, meu filho? Está comendo direito? — Sorrio com o coração
cheio de amor e paz por ter essa mulher tão especial em minha vida.
— Sim, Lili, mas as refeições são horríveis e sinceramente sinto falta
da sua comida, de você e da casa. Você sabe o quanto amo tudo isso aqui,
não é? — Ela sorri afirmativamente e me empurra para a mesa. Me alimento
na cozinha mesmo.
— Vou tomar banho, Lili, e já desço.
— Não! Antes vai tomar pelo menos um copo de suco de laranja com
cenoura e hortelã, está muito pálido — diz já enchendo o copo de suco, e
tomo tudo com prazer. Confesso, adoro ser mimado por ela. Sempre quis ter
amor de mãe e quando Lili veio trabalhar comigo, jamais imaginei que
experimentaria isso de maneira tão intensa com essa mulher especial com um
coração que transborda bondade.
— Agora pode ir tomar seu banho, não demora porque o jantar está
quase pronto e sua comida favorita tem que ser quente. Cadê o Artur? — fala
tudo sem tomar fôlego. Sorrio.
— Foi ajudar uma senhorinha a levar seus cães para passear, sabe que
ele é um cavalheiro, não é? — digo, sorrindo largamente e indo para a sala.
— Você também é, meu filho. Só tem que deixar aflorar esse lado
amoroso com as pessoas. Somente eu e Artur conhecemos seu lado humano e
gentil, as outras pessoas só conhecem o Raul Maligno. — Me olha com
tristeza quando diz isso. Ela sabe de meu problema em confiar nas pessoas.
Penso que todos vão me trair em algum momento de minha vida e que terei
que prosseguir sozinho, assim como fiz quando deixei a minha mãe morta por
overdose para trás. Sempre me abandonam. Demorou para abrir meu coração
para Lili e Artur entrarem. Eles foram muito provados por mim e meu medo
de ser traído e abandonado antes de entrarem em meu coração.
Hoje eles são a família que nunca tive e os amo de todo coração. Não
são meus empregados, ela é a mãe que nunca tive e ele o irmão.
Subo as escadas para a parte onde ficam os quartos e olho as
claraboias, fico admirado por ter uma visão tão linda do céu estrelado. Vejo
também os pés de ipês em toda sua majestade. Realmente amo esse lugar.
Entro em meu quarto, o maior da casa, e tão bem decorado quantos os outros
dois.
Paro no janelão de vidro e contemplo a noite. Vejo a sombra das
montanhas e a lua iluminando a copa das árvores de uma maneira graciosa.
Fico ali alguns minutos contemplando a noite calma e ouço os bichos
noturnos mostrarem sua sinfonia belíssima em um coral fascinante.
Caminho para o banheiro, tiro minha roupa, ligo o chuveiro e tomo
um banho demorado. Olho uma marca de chupão arroxeado perto do meu pau
e fico irado. Eu odeio! Tenho asco dessas vadias me marcarem, caralho!
Aviso sempre que faço sexo sem beijo e chupões. A vagabunda deve ter me
chupado enquanto a outra me cavalgava e eu estava gozando. Esfrego com
força o lugar como se isso fosse fazer sair, porra!
Termino o meu banho, visto uma bermuda e uma camisa com manga
3/4 e gola em V. Penteio meus cabelos com os dedos. Me olho no espelho e
vejo um homem grande, moreno, cabelos pretos e curtos dos lados com um
topete castanho e liso imenso, adoro meu topetão. Meus olhos são castanho-
esverdeados e tenho uma barba bem-cuidada.
Rico, bonito, mas com um grande vazio no coração como se faltasse
algo de extrema importância para minha felicidade e paz ser completa. Afinal
tenho tudo, dinheiro, boa aparência, dois amigos que posso realmente contar
com eles. Mas ultimamente essa sensação de vazio tem aumentado e me
deixa com o sentimento ruim de que o tempo está passando e eu perdendo
tempo em não procurar preencher esse vácuo. Porra, se nem eu sei o que é,
como procurar?
Balanço a cabeça com força e desço, estou ficando um velho maluco,
só pode ser a idade.
Quando chego na sala vejo que Artur esqueceu seu celular no
aparador, está tocando. Penso em não atender, mas como somos amigos
chegados não vejo mal nenhum nisso e sei que ele também não. Por isso
atendo depois de chamar duas vezes.
— Artur? — Ouço uma voz feminina e suave do outro lado, e isso
me enche de calor, ouvir esse som doce. Parece que preenche e aquece aquela
sensação de vazio e buraco que estou sentindo em meu coração. Essa voz
parece a peça certa para preencher esse vazio. Estranho. Quem será? Alguma
amante nova do Artur?
— Não, o Artur saiu e esqueceu o celular, mas em breve estará de
volta, quer deixar algum recado? — Tento controlar minha voz que está
meio esquisita, não sei o motivo. Sou solícito e educado.
— Que horas ele volta? — Fecho meus olhos e absorvo melhor o
som melodioso dessa voz.
— Já deve estar chegando, uns dez a quinze minutos — falo, sentindo
esse estranho calor envolver meu coração e me sinto aquecido como nunca
senti. Porra, devo estar ficando gripado e com febre, vou pedir a Lili um
analgésico.
— Então ligo mais tarde, obrigada e me desculpe pelo transtorno. —
Se despede e desliga o celular em minha cara sem me dar a chance de dizer
mais nada. Olho o celular em minha mão suada e trêmula. O que acabou de
acontecer aqui?
Coloco o telefone no lugar, sentindo um coisa ruim ao largá-lo, como
se estivesse deixando uma parte importante para trás e vou para a cozinha.
Quando entro Artur já está lá sentado e conversando com Lili.
— Até que enfim a cinderela desceu — me diz com familiaridade e
Lili sorri.
— Ele foi tomar banho, pare de implicar com o menino, Artur! —
Sorrio convencido quando ela o repreende.
— Toma essa, seu escroto, somos filhos adotivos de Lili, mas ela me
ama mais — provoco, orgulhoso.
Lili olha para mim com cara feia.
— Não tem nada disso, Raul, amo os dois como filhos e não tem essa
de alguém ser melhor não! Ambos são meus filhos e moram em meu coração
— diz, brava.
Levantamos e a abraçamos felizes, ele a beija e eu também, ela ri e
bate em nossas cabeças.
— O dois na mesa agora, antes que o jantar esfrie, comam muito,
ambos estão pálidos e magros — diz sorrindo com matreirice.
Obedientemente nos sentamos à mesa e nos servimos, juntamente
com nossa amada mãe postiça.
Comemos em harmonia e fazendo piadas. Adoro esses momentos,
sempre quis ter uma família unida e eis aqui a que tenho. Perfeita.
No meio das brincadeiras me lembro do telefonema que atendi mais
cedo.
— Artur, hoje quando você saiu para ajudar a dona Luana alguém
ligou, tomei a liberdade de atender, pois combinamos assim, certo? Estou te
lembrando para não achar que invadi a sua privacidade — digo bem
humorado.
— Vai se foder, Raul, claro que tem liberdade para atender meu
celular, somos irmãos, lembra? Mas quem ligou? — Leva uma garfada de
arroz com pequi para a boca e mastiga com prazer.
— Não quis dizer o nome. Disse que ligaria mais tarde — digo,
observando seu comportamento e vejo que fica normal. Deve ser alguma
amante mesmo e já se cansou dela, porque não está nem um pouco curioso.
— Depois vejo quem é e retorno — fala comendo agora um pequi
suculento.
— Será uma possível amante já descartada? — Sondo, se for quero
comê-la pelo menos uma noite, se a voz me aquece o coração, imagine o
resto do corpo dessa mulher? Me fará pegar fogo. — Ele me olha e sorri.
— Pode ser, depois do jantar retorno e te falo. Se for ex e quiser pegar
te passo tranquilo — diz com cara de safado.
— Artur! — Esquecemos de Lili e somos lembrados quando ouvimos
seu grito indignado, ficamos envergonhados.
— Desculpe, Lili — sussurramos juntos e caímos na gargalhada,
juntamente com nossa mãe carrasca.
Terminamos o jantar e comemos a deliciosa sobremesa de milho
verde que Lili fez.
Fomos para a sala e ele pega o celular e olha.
— Estranho, nunca vi esse número. — Disca de volta e fico atento as
suas reações. Pode ser uma possível trepada das boas para o papai aqui.
— Alô? — Ouço a sua voz grossa e vejo seu rosto se distender em
um sorriso tão gigante que me incomoda. Pelo visto eu rodei, ele está muito
alegre para estar falando com uma ex-amante.
— Querida, que alegria receber seu telefonema — diz e sai, me
deixando de fora da conversa que muito me interessava. Caralho!
Sem poder ouvir, pois o pilantra saiu para conversar em particular
com a voz de anjo, sigo para meu quarto, muito desgostoso.
Passa um tempo e Artur vem ao meu quarto.
— Cara, amanhã vou sair cedo e só volto à noite. Se precisar de
alguma coisa, quando chegar me fala e farei com prazer. Sei que está tudo
tranquilo e como quase não saio nos meus finais de semana livres, farei isso
amanhã — diz com uma alegria irritante.
— Aonde vai? — pergunto rancoroso, sei que vai sair com a voz de
anjo.
— Vou sair com uma nova amiga — diz sorrindo, terno. Cara de
bunda!
— Aquela que te ligou? — indago despeitado.
— Sim, ela mesma, agora vou me recolher, amanhã saio cedo, boa
noite, Raul. — Se despede e me deixa para trás, com cara de merda. Porra,
vai sair e pegar a gostosa e eu aqui esperando a maldita mulher das flores
liberar a boceta para mim. Porra!
Estava desenhando uma nova peça quando recebi o telefonema de
Artur, então o convidei para vir à minha casa, resolvi atender seu pedido de
sermos amigos. Claro que depois de ter conversado muito com Sabrina, sua
sócia na chocolataria.
Fiquei mais tranquila e em paz, pois me senti muito bem na
companhia de Artur. Combinamos de passar o dia juntos.
Desliguei o telefone e fiquei trabalhando até tarde. Termino o desenho
e faria a peça em breve com as novas pedras naturais que chegaram.
Quero testá-las em meu novo designer, são cascalhos de Lápis-lazúli e
vou misturá-los com pedras da lua. Em minha mente exótica ficará belíssimo
e exuberante.
Desço, tomo um banho, preparo meu chá de menta marroquina, um
dos que mais gosto. Pego meu copo de louça rosa e resolvo ficar na sala.
Hoje quero assistir a um documentário na Netflix e escolho de um cantor
brasileiro que já faleceu. Raul Seixas. Amo suas músicas.
Ligo a televisão e procuro o documentário que já está em minha lista
de favoritos.
Começo a assistir e tomar meu chá, fico tão envolvida que não vejo as
horas passarem. Quando termina, já é quase uma da manhã.
Me levanto, desligo a televisão, apago as luzes e vou para meu quarto.
Escovo os dentes, caio na cama e adormeço em seguida.

***
Acordo com o som do interfone. Fico quietinha, esperando o
descarado que me acordou de madrugada ir embora. Continua tocando, olho
o relógio e vejo que já são quase 10h. Puta merda, o Artur! Pulo da cama
correndo e vejo meu celular tocar e olho. Cinco chamadas perdidas. Tadinho.
Atendo o celular e interfone juntos.
— Artur? Pode subir.
— Lúcio, libera para o Artur subir, por favor.
Corro e escovo os dentes, visto rapidamente um vestido leve e quando
estou penteando os cabelos ouço a sineta que instalei na porta para me
chamarem, um som suave e delicado tinindo.
Saio correndo descalça e abro a porta com um sorriso gigante, gosto
de Artur.
— Bom dia, princesa! — Ele cumprimenta e me abraça. — Parece
que acordei a bela adormecida. — Sorri com carinho.
— Bom dia, Artur! Me desculpe, eu fiquei assistindo televisão até
tarde e perdi o horário. Entre e fique à vontade. — Me afasto da porta e ele
entra.
Vejo seus olhos correrem pelo ambiente e um sorriso rasgar seu rosto.
— Exatamente como imaginei. Tudo delicado, como você, Lisa —
diz sem segundas intenções, simplesmente expondo um fato.
— Eu gosto de coisas suaves e delicadas. Depois quero te mostrar
meu ateliê e tomar um café com você lá. Aliás, já tomou seu café da manhã?
— pergunto, caminhando para a escada que nos leva à cobertura, sendo
seguida por Artur que olha tudo com curiosidade e um largo sorriso.
— Já, mas tomarei de novo. — Ouço sua voz suave.
Quando chegamos no ateliê, me viro e olho para ele em expectativa.
— Uau! — Ele assobia e me olha. — Incrível! Menina, você me
surpreende a cada momento.
Caminha até as minhas araras onde ficam expostas os fios de pedras e
passa os dedos suavemente.
— São pedras naturais? — indaga, curioso.
— Sim, todas. Trabalho somente com elas, faço semijoias.
— Uau! Cada momento que passo, você me surpreende mais e mais.
Tão nova e tão madura — diz olhando tudo com interesse.
— Não foi fácil, mas consegui tudo com honestidade e trabalho,
Artur. Por isso fiquei tão ofendida com a proposta que o animal de seu patrão
mandou você me fazer. — Ele fica pálido e muito incomodado, sinto pena.
— Está aí uma coisa que me arrependo, Lisa. Peço do fundo do
coração que me perdoe. Já falei para ele que estou fora e me recuso a tocar
nesse assunto com meu chefe novamente. Ele é uma pessoa excelente, exceto
com mulheres, penso que sua mãe o deixou traumatizado com a raça
feminina — diz com pesar.
— Senta aqui, Artur, enquanto preparo nosso café e vamos
conversando. Chá ou café? — pergunto, colocando água para ferver.
— Café bem forte e sem açúcar, por favor — diz se sentando na
cadeira próxima à mesa.
— Mas o que a mãe desse homem fez que o tornou tão desprezível?
Ele me olha com tristeza, nota-se que ama esse seu amigo.
— Ela foi uma prostituta e ele foi fruto de um estupro. Ela jogava
isso na cara do menino sempre que podia. Então morreu de overdose quando
ele ainda era um garoto. Ele saiu de lá deixando a mãe morta, sem olhar para
trás. Lutou sozinho e venceu. Me ajudou de uma maneira que nunca vi
ninguém fazer. Eu era um viciado e estava jurado de morte, ele pegou
dinheiro emprestado e pagou minha dívida sem me conhecer e eu trabalhava
para ele há apenas uma semana. Depois desse dia jurei minha fidelidade a ele,
e cá estou.
— Faço as coisas por gratidão, pois não preciso trabalhar para ele,
tenho vários investimentos, mas deixando claro que tudo que consegui foi
com o salário imenso que meu amigo me paga. Sim, amigo, antes de patrão.
A falha dele é somente ao tratar mulheres. E se você conseguir sua confiança,
terá sua fidelidade independente de qualquer situação. Esse é meu amigo e
patrão. — Finaliza, com um sorriso sincero no rosto. E vejo que ele
realmente ama esse homem que para mim não passa de um escroto
asqueroso.
— Realmente ele foi um amigo verdadeiro para você, Artur, e
entendo sua gratidão e fidelidade, e apoio inclusive. Mas para mim ele não
passa de um cachorro sem vergonha. Um verme que se aproveita de sua
condição financeira para humilhar e obrigar as pessoas a fazerem o que ele
quer. Pessoas assim, uma hora acha um que os coloca no lugar — digo, pego
o café e coloco na mesa junto com queijos, biscoitos e pães.
Me sento e ele também e começamos a tomar o café em um clima
gostoso e amigável.
— Agora vamos deixar o assunto meu chefe de lado e vamos falar
sobre o que você quer fazer hoje — me diz, mordendo um pedaço fresco de
queijo branco.
— Podemos ir ao shopping, adoro passear por lá, o que acha? —
pergunto com os olhos brilhando, eu adoro ir ao shopping ainda mais com
uma pessoa para conversar, sempre vou sozinha, não tenho amigos, sou meio
antissocial.
— Claro que sim, Lisa. — Toma um gole de café e fecha os olhos.
— Delicioso!
Terminamos nosso café da manhã e descemos para ir ao shopping.
Subimos a avenida arborizada com imensos flamboyants cobertos de
flores e o chão forrado das pequenas pétalas avermelhadas que caem. Estou
feliz por ter essa conexão tão forte com Artur em tão pouco tempo.
Geralmente sou muito fechada com as pessoas que se aproximam de mim, e
Artur se aproximou de mim de uma forma bem inusitada.
Subimos conversando e rindo, entramos no shopping e vamos direto
para a loja de chocolates de Artur. Conversamos um pouco e logo em seguida
Sabrina e Artur vão para o escritório resolverem umas pendências. Enquanto
o aguardo, escolho vários chocolates e barras. Amo essa marca de chocolates.
Quando terminam, minha cestinha já está abarrotada, mas eles não
cobram minhas comprinhas. Insisto em pagar, mas eles me ignoram,
agradeço e saímos de lá para almoçarmos. Almoçamos e andamos no
shopping, olhando as lojas. Quando cansamos nos sentamos na pracinha e
tomamos sorvete.
E assim passamos uma tarde maravilhosa. Me senti muito feliz como
há muito tempo não sentia. Artur sempre um cavalheiro, me tratou com todo
respeito e vi em seus olhos o carinho de um amigo.

***
Ele me deixa em casa no início da noite e se despede dizendo que
ainda teria que ver se seu amigo precisaria de alguma coisa. E com um beijo
no alto de minha cabeça entra no elevador e vai embora.
Fecho a porta, subo com as compras e deixo todas na mesa. Depois
arrumo, estou muito cansada e anseio tomar um banho e descansar. Tomo um
banho bem demorado em minha banheira, coloco meu pijama fresquinho,
pego o romance que estou terminando e começo a ler. Suspiro de
contentamento, encosto nos travesseiros e acabo adormecendo.
Depois que Artur me avisou que iria sair no sábado e foi dormir,
fiquei encucado. Quem será a mulher que fez com que ele saísse em pleno
sábado, quando sei que gosta de ficar em casa? Ele ama cozinhar e sempre
fica na cozinha com Lili, inventando receitas e experimentos. E vamos falar a
verdade, o homem é bom cozinheiro. Sei que andou fazendo uns cursos de
culinária há pouco tempo.
Lili adora porque ela descansa no sábado. Sim, Artur tem a casa dele,
mas fica mais aqui do que lá, já chamei para morar aqui, mas o homem é
teimoso feito uma mula e não vem. Amanhã quando voltar do encontro deve
ir para sua casa.
Puta merda, sei que é feio isso, mas estou picado de curiosidade para
saber quem é a voz de anjo que fez Artur sair sem pestanejar no sábado.
Viro em minha cama de um lado para o outro quando tomo uma
decisão. Amanhã vou ver quem é essa mulher que fez Artur deixar seu vício
de lado, que é cozinhar com Lili e inventar novas receitas.
Me sinto tranquilo com a minha decisão e agora sinto o sono chegar.
Sorrio de satisfação me sentindo um verdadeiro Sherlock Holmes, ou um
maluco sem ter o que fazer. Foda-se, fiquei curioso, ou só mulher pode ser
curiosa? Artur, seu traíra sortudo! Coloco o despertador, pois preciso sair
junto com o meu amigo, pois não sei onde ele irá. Assim que deito eu
adormeço rápido, já passa de duas da manhã.

*
Quando ouço o barulho dele descendo a escada me levanto rápido,
me troco em segundos e desço logo atrás.
— Bom dia, pessoas — cumprimento, entrando na cozinha e vendo
ele e Lily tomando café e rindo de alguma coisa.
— Raul, o que está fazendo aqui a esta hora? — Lily pergunta com
os olhos arregalados. — Hoje é sábado, menino, e você gosta de dormir até
mais tarde. Aconteceu alguma coisa? — Vem e coloca a mão em minha
testa. Me abaixo para dar altura para ela fazer a conferência.
— Cara, o mundo vai acabar, Raul Magno Gorgoni acordou em pleno
sábado às 8h da madrugada! — diz e dá uma gargalhada debochada.
— Por que não posso querer acordar mais cedo? — pergunto,
emburrado.
— Claro que pode, só nunca vi isso, por isso estou abestado! — fala
imitando uma voz feminina fininha.
— Ah, Artur, vai se foder! — digo, puxo a cadeira e me sento, tenho
que comer alguma coisa antes de Artur sair, pois tenho que sair logo atrás.
Porra, estou me sentindo um verdadeiro detetive. Sorrio maligno.
— Vai sair, Raul? Quer que eu te deixe em um lugar específico? —
pergunta, educadamente.
— Não, tenho que resolver umas coisas, vou em meu carro mesmo,
obrigado -— agradeço sem dar detalhes.
— Ok, se precisar, à noite estou aqui ou em minha casa, ainda não me
decidi — diz e termina o seu café para logo em seguida se levantar. Me
levanto junto.
— Vamos sair juntos, Artur. — Beijo o rosto de Lili.
— Vocês vêm almoçar em casa? — ela pergunta.
— Não! — respondemos juntos.
— Vocês não tomam jeito mesmo, ficam comendo essas porcarias na
rua, tudo bem, farei uma janta fresquinha para quando chegarem e sem
desculpas, terão que comer, entenderam? — fala, já virando as costas e
começando a tirar a mesa.
Sorrimos um para o outro e vamos para fora.
Entro em meu carro e fico enrolando como se estivesse procurando
algo, até Artur ligar o carro e sair.
Espero de uns dois a três minutos e saio logo atrás. Ele continua
dirigindo suavemente, ainda estamos na Vila dos Ipês e aqui, o máximo
permitido de velocidade é 40 km/h.
Quando saímos pela portaria de entrada do condomínio, ele acelera o
carro e deixo que pegue distância e se misture com o trânsito. Vou seguindo
sem deixá-lo me ver, no momento tem uns cinco carros nos separando, mas
não o perco de vista.
Algum tempo depois ele está chegando perto da rua Augusto de Lima
e sinto um estranho frio na barriga.
Vejo-o parar em frente ao prédio onde mora a mulher das flores e
sinto meu rosto arder de ira.
Será que o desgraçado de Artur está fodendo a mulher que eu estou
lutando para comer e está me escondendo isso? Caralho. Se ele estiver
fazendo isso, irei ficar muito decepcionado com o homem que considero
como irmão.
O vejo cumprimentar o porteiro com intimidade e subir.
Caralho, olha o nível de intimidade da porra de meu ex-melhor amigo
com a reguladora de bocetas.
Sinto meu corpo tremer de ódio, ira e decepção. Desgraçado!
Não vou mandá-lo embora porque ele é muito útil, mas vou transferir
a porra do traidor para uma obra imensa que estou fazendo no Rio de Janeiro.
Fico umas duas horas observando e quando descem, vejo como estão
íntimos. Consigo enxergar a alegria da puta e a do traidor.
Eles vão a pé para o shopping e os sigo de longe. Vejo que entram na
loja de chocolates de Artur e sigo todos os passos deles. Quero saber tudo que
essa vagabunda faz para que eu possa executar meu novo plano em relação a
ela. Quero essa mulher comendo em minhas mãos e depois esfregar na cara
do pilantra do Artur que eu a comi enquanto ele estava fora. Amizade
quebrada, caralho de traidor. Combinamos de nunca foder a mulher que o
outro quisesse primeiro, depois tudo bem, mas antes, não! Ele sabia que eu
queria a porra dessa mulher.
Quando me canso de ver tanto melaço vou embora com ira no coração
e pronto para botar para quebrar. O estranho de tudo isso foi que Artur não a
beijou uma única vez, vai ver a vadia gosta de mostrar uma falsa descrição.
Mas eu vou desmascarar e destruir os dois. Amigo? Só se for do diabo! Pois
sim!
Chego na Vila dos Ipês tremendo de ira. Eles que me aguardem!
Tenho planos para os dois agora.
Ouço o barulho do carro de Artur chegando, muito tempo depois.
Agora o traidor está conversando com Lili. Como meu amigo pôde fazer isso
comigo? Por uma mulher qualquer?
Porra, sempre fiz tudo que pude por ele, até as minhas mulheres eu
dividia, penso com um aperto no peito.
— E aí, meu irmão?! Como foi o seu dia? O meu foi ótimo, um dos
melhores que já tive — diz me olhando e sorrindo de orelha a orelha.
Hipócrita!
— Foi ótimo, não tão bom quanto o seu, mas foi bom — digo,
fervendo por dentro.
— Aconteceu alguma coisa, Raul? — pergunta e senta-se de frente
para mim.
— Nada, Artur, nada que eu não possa resolver — digo e olho em
seus olhos para ver se ele deixa de hipocrisia e me conta logo que está com a
mulher das flores.
— Parece preocupado, Raul — diz e vejo sinceridade em seus olhos.
— Vou resolver, é coisa sem importância. — Resolvo colocar meus
planos em prática. — Na verdade, é um problema que estou tendo em uma
de minhas obras no Rio de Janeiro, Artur. E não posso ir lá agora porque
estamos finalizando o prédio da Afonso Pena. — Jogo a isca, vamos ver se
ele se oferece para ir.
— Mas até ontem estava tudo bem, o que aconteceu? — Noto a sua
preocupação.
— Problemas com as empreiteiras. — Passo a mão na cabeça e fecho
os olhos, me sinto mal em mentir para Artur, ainda que ele esteja mentindo
para mim.
— Porra, cara, quer que eu vá resolver? — Bingo! Não precisa que
eu o mande ir. Ele se oferece. Esse é meu amigo... quer dizer ex-amigo.
Porra, estou confuso. Mas foda-se. Ele vai e o caminho fica livre para a
continuação de meu plano. Ele aqui vai me atrapalhar.
— Cara, ia justamente te pedir isso, para você ir para lá amanhã cedo.
Quero que fique no Rio até a conclusão da obra e...
— Até a conclusão da obra? — ele me corta — Raul, isso deve levar
meses — diz, incomodado.
— Sim, Artur, verdade, mas será no máximo uns três meses, irmão.
— Baixo a cabeça em posição de derrota. — Mas se não quiser ir eu
entendo, afinal você está começando uma treta com a mulher que te ligou
ontem... — Tento arrancar algo dele.
— Não, sem problema. Somos apenas amigos — diz com calma e
meu coração sacode com culpa.
— Amigos? — Ele sorri e concorda.
— Sim, Raul, ela é uma moça honesta. Lembra da moça que você fez
as propostas indecorosas? — Meu coração quebra e sangra com o mau
julgamento que fiz do meu amigo. Minha vontade é de me esconder de
vergonha.
— Sim? — Tento disfarçar o mal-estar que sou acometido, se Artur
ao menos sonhar que o julguei ficará muito decepcionado comigo e isso me
matará.
— Propus a ela sermos amigos e ela ficou com muito receio. Depois
de conversar com Sabrina finalmente aceitou — diz sorrindo sem me
esconder nada.
— Perdão, Artur. — A desculpa escapa da minha boca em voz baixa
e sofrida.
— Perdão? Por que, Raul? — pergunta sem entender nada.
— Por te fazer muitas vezes agir contra sua boa índole no que se
refere a mulheres, eu devia te conhecer melhor. E por te julgar errado muitas
vezes. Me perdoa, amigo. Não precisa ir ao Rio de Janeiro, vou arrumar outra
pessoa — digo mergulhado até a alma no arrependimento.
— Não, eu vou, faço questão, até mesmo porque tenho umas coisas
para resolver lá, iria te pedir para ir em breve. — Sorri e isso alivia meu
coração.
— Posso saber o que é, ou é segredo? — pergunto, curioso.
— Claro, a filha da Sabrina mora lá e quero dar uma olhada na
menina. Sabrina me contou que precisa muito ir, elas estão com um pequeno
problema e Sabrina irá tentar resolver, sendo assim posso ajudá-la. — Artur
sendo Artur, penso. Esse homem faz o que pode para os amigos.
— Porra, cara, não sabia dessa história. Vá e tome o tempo que
precisar. Se precisar ficar lá mesmo depois da obra pronta sabe que tem todo
meu apoio, não é? — digo e me levanto, quebrado de arrependimento por ter
julgado meu amigo, e o abraço com os olhos cheios de lágrimas de desgosto
comigo mesmo. Tenho esse problema sério de confiar desconfiando, e isso
não é bom. Preciso aprender a perguntar antes de julgar ou acusar. Já agi com
muita injustiça nessa minha longa vida.
Ele me abraça e vamos para a cozinha jantar. A comida está quentinha
e cheirosa.
Quando digo que Artur vai ficar uns três meses no Rio de Janeiro, Lili
chora muito, a abraçamos e a acalmamos.
Depois do jantar subo e ligo para o escritório no Rio de Janeiro,
converso com o responsável pela obra e digo a ele que Artur chegará amanhã
para resolver os problemas e digo para fazerem o que ele mandar. O mais
interessante disso tudo é que a obra está realmente com problemas com uma
mulher que mora ao lado. Ela tinha concordado em vender seu lote e agora
com a construção iniciada a infeliz deu para trás e não quer vender mais a
porra do imóvel. Então tivemos que paralisar tudo e agora espero que Artur
resolva logo esse impasse, senão teremos mais prejuízos.
E de bônus a chapeuzinho estará sozinha e desprotegida, prontinha
para ser comida pelo lobo mau sem o lenhador por perto.
Sorrio de satisfação e pau duro. Me aguarda, dama das flores, vou te
despetalar toda.
Meu dia com Artur foi maravilhoso e espero que tenhamos mais dias
com esse companheirismo tão gostoso. Fico à vontade com ele, não vejo
segundas intenções em seus olhos.
Hoje acordo disposta e já dou uma bela faxina no apartamento.
Espalho essências pelo ambiente, utilizo jasmins, lírios e rosas. Adoro e não
deixo os difusores ficarem vazios nunca.
Troco as flores velhas por novas e quando termino de arrumar a parte
de baixo do apartamento, subo para preparar meu almoço, ou melhor, jantar.
Já são quase 19h.
Meu celular toca e vejo que é Artur.
— Boa noite, amigo! — cumprimento, feliz
— Boa noite, Lisa, como está, querida? — pergunta, sendo o
cavalheiro de sempre.
— Estou melhor agora que estou falando com meu amigo favorito de
todos.
— Quantos amigos você tem, Lisa Melo? — Sua voz tem um toque
de diversão.
— Amigo, amigo mesmo tenho… hum… bem...Você! — digo e rio,
me sentindo muito bem.
— Então está claro o porquê sou o preferido. Lisa, estou te ligando
para dizer que ficaremos sem nos ver por um tempo. Terei que fazer uma
viagem para o Rio de Janeiro para resolver um problema que está atrasando
uma das obras que meu patrão é responsável. — Fico triste ao ouvir isso. É
sempre assim, por isso quase não tenho amigos. Quando começo a me
apegar, de alguma maneira eles me deixam.
— Sério, Artur? Vou sentir sua falta, apesar de nos conhecermos há
pouco tempo. — Abro meu coração para ele, sem medo.
— Te entendo, pequena, me sinto do mesmo modo. De alguma forma
eu me sinto muito protetor com você, te considero como uma irmãzinha. —
Meus olhos se enchem de lágrimas.
— Quando voltará, tem data? — sussurro, triste.
— A obra está prevista para finalizar em três meses, se tudo der certo,
vai depender do problema que irei tentar resolver. Mas quero que me prometa
que qualquer coisa me ligará, ouviu? Eu irei tirar um final de semana quando
as coisas estiverem mais tranquilas e venho te visitar, tudo bem? — pergunta,
cuidadoso.
— Sim, eu prometo. Qualquer coisa te ligo e conto tudo! — digo e
tento animá-lo, porque vejo que está triste também.
— Vou confiar, Lisa. Qualquer coisa me liga, entendeu? Qualquer
coisa mesmo. Você tem um amigo aqui, como eu disse, apesar do pouco
tempo que nos conhecemos temos uma conexão maravilhosa.
Estou embarcando hoje às 10h e amanhã quando chegar eu te ligo,
combinado? — diz com mais força.
— Combinado, meu amigo querido, e você também, qualquer
momento que precisar conversar me chama, certo? — digo, feliz sabendo que
manteremos nossa amizade apesar dos meses distantes.
— Se arrumar um namorado, quero saber tudo sobre o safado antes de
você se apegar, promete, Lisa? — Ele agora tem a voz de bravo.
— Prometo, papai! E você se arrumar uma namorada quero saber
tudo, vamos ver se aprovo. Combinado, Artur?
— Combinado, querida! Temos um trato. Agora vou desligar senão
chegarei atrasado. Um beijo e se cuida! — despede-se de mim e sinto minha
garganta se fechar, vou chorar.
— Temos um trato. Boa viagem, Artur — despeço-me e caio no
choro. Preparo um chá de flor de laranjeira e me sento no sofá em meio ao
meu urban jungle. Fecho meus olhos e agradeço a Deus por ter me permitido
conhecer um homem tão simpático e gentil como Artur. Espero que nossa
amizade não se acabe com a distância.
Fico sentada pensando por horas e quando olho para a avenida, vejo
somente as luzes da cidade e quase ninguém na rua, olho meu relógio e
percebo que já é quase meia-noite. Puta merda, acho que cochilei.
Me levanto, apago as luzes e desço para tomar um banho. Quando
estou limpa e de pijama me deito e adormeço em seguida.

***

Artur me liga no dia seguinte como combinado, dizendo que chegou


bem e apesar da distância mantivemos nossa amizade. Conversávamos quase
todos os dias. Ele me contava o que acontecia com ele e eu a mesma coisa.
Me contou que conheceu uma mulher e que ficou balançado por ela, mas
tinha coisas em seu passado que poderiam prejudicar o relacionamento com a
moça. Ele não quis me dizer o que era e eu respeitei a sua vontade.
Me perguntou se já tinha arrumado namorado e eu disse que não, que
ainda estava procurando. Ele riu e me disse que quando eu menos esperasse,
meu príncipe apareceria. Só ri dele, com a minha sorte para arrumar
namorados, eu ia morrer virgem e pura, com cem anos.
Quando percebi já fazia mais de um mês que Artur estava no Rio de
Janeiro.Ele, com uma suposta namorada, e eu? Sozinha e solteirona, como
sempre. Sempre me divirto quando penso nisso, pois não estou nem um
pouco interessada em arrumar namorado, amante, ou o que for. Estou muito
bem sozinha, obrigada.
Já tem quase um mês que meu amigo Artur foi para o Rio de Janeiro.
Ele me ligou e disse que a coisa está pior que imaginávamos. A senhora dona
do terreno se recusa a vendê-lo e Artur está tentando de tudo para convencer
a vovó teimosa.
E ninguém melhor que ele, que tem a paciência de Jó. Se fosse eu já
teria fodido tudo, não tenho paciência com pessoas que quebram a palavra,
mesmo sendo uma anciã. Vovó malandra. Mas confio no Artur e sei que ele
resolverá o problema.
Além do mais, a ausência de Artur deixou o caminho livre para o
lobão aqui. Pensam que esqueci da mulher das flores? Nem um momento
sequer. Trepo e gozo somente quando evoco a imagem dessa infeliz. Tenho
que acabar logo com isso. Dei um tempo para não ficar muito na cara de que
Artur foi para o Rio, meio que como uma tramoia minha para me deixar livre
para agir, perseguir e traçar essa boceta tão difícil de pegar. A mais difícil de
toda minha vida.
Esse problema na obra veio a calhar e apaziguar minha consciência.
Já andei averiguando os lugares que a moça das flores vai e vejo que
sempre frequenta os mesmos locais. Então é muito fácil simular um encontro
de forma acidental.
Agora Artur está mais tranquilo, parou de perguntar sobre Lisa. Disse
a ele que não tinha tempo para isso, que futuramente voltaria à caça. Isso o
tranquilizou e me deixou totalmente livre para agir. E vou dar o meu primeiro
bote esse final de semana. Tenho o dossiê dela completo aqui e sei de cor o
que essa mulher gosta. Ponto para mim, penso coberto de orgulho e
arrogância. Mal sabia eu que pagaria caro tão por isso.
Uma coisa não posso negar, Artur tem razão. A mulher é uma
guerreira. Conquistou tudo com muito trabalho e esforço. Segundo li no
dossiê, claro. Mas como não acredito em bocetas, vou descobrir as
maracutaias dessa mulher quando ela estiver totalmente entregue e
apaixonada por mim.
Conquisto, traço e mando passear. Meu modus operandi, penso com
satisfação, enquanto uma loira quica em cima do meu pau.
Essa porra já me chupou até doer e não consegui gozar, agora que
pula em mim e geme com falsidade, penso em Lisa e sinto o prazer me
sacudir e encho a camisinha com minha semente em segundos.
Fecho meus olhos e sinto os últimos resquícios de prazer, empurro a
mulher com rudeza, me levanto, arranco a camisinha cheia, dou um nó e jogo
na lixeira.
Ela se deita, abre as pernas e passa a mão em sua boceta vermelha e
inchada, me sobe uma ira tão grande que se não me segurar arrasto essa vaca
e a jogo na rua.
— Arrume-se e some daqui. — Sou grosso e foda-se se me importo.
— Como? — Ela se assusta e a pose de puta some. — Não vamos
trepar mais? — pergunta me encarando sem o mesmo sorriso ridículo no
rosto.
— Não, cai fora. — Vou para o banheiro e antes de fechar a porta,
falo: — Quando sair do banho não quero ver a sua cara de merda aqui. —
Bato a porta e vou tomar meu banho. Ouço passos e ela dá um murro na
porta.
— Desgraçado, ainda vai encontrar uma mulher que vai te pôr de
joelhos, te fazer rastejar. Miserável! — Joga um vaso no chão, ouço barulho
dos estilhaços. Sorrio cafajeste, peguei pesado dessa vez com a baranga.
Foda-se!
Termino meu banho, ligo para a senhora que limpa meu abatedouro e
peço para vir hoje. Me visto com jeans e camisa de algodão básica branca.
Coloco meu Rolex, pego minha carteira e celular, passo a mão em meu topete
castanho, aliso minha barba e pisco para a imagem do galã no espelho. O cara
tem pinta!
Pronto para dar prosseguimento ao meu plano, comer a doce
bocetinha de Lisa Melo.
Hoje será o grande encontro, planejado pelo destino, penso com
ironia. Claro que com a ajudinha de Raul Magno, o puto das galáxias.
Desço e vou até a garagem, entro no carro e o ligo. Dirijo rumo ao
meu objetivo, ou melhor, objeto dos meus sonhos mais molhados e inúmeros
banhos gelados.
Meia hora depois estaciono em uma rua ao lado do apartamento de
Lisa. Fico aguardando. Pouco tempo depois Penélope charmosa sai com suas
roupas rosas e delicadeza transbordando por todos os poros. Essa mulher
deve viver de luz e vomitar e cagar arco-íris. Tenho acompanhado sua vida
nesses dias como um lobo faminto, e nunca vi uma mulher tão delicada e
feminina.
Ela sai, cumprimenta o porteiro e sobe feliz da vida a avenida que a
leva ao shopping. Percebo também que é o único lugar que essa mulher
frequenta. Como faz para trepar? Sei que não leva homens para a sua casa,
pelo menos nunca vi, mas mulheres são bichos ardilosos. Elas enganam
qualquer um quando querem.
Deixo-a pegar uma boa distância e a sigo com segurança.
A vejo entrar no bendito shopping e ir direto para uma loja de
acessórios femininos, é aqui que ela entrega as peças que fabrica. Artur fez
uma pesquisa 100% perfeita sobre a vida dessa mulher. Eu sei até a hora que
ela dorme. Perfeito, facilita minha vida.
Ando rapidamente para a loja de chocolate e entro, sei que daqui a
pouco ela chegará. Ainda bem que nunca vim aqui e a sócia do Artur não me
conhece, odeio shoppings e aglomerado de pessoas. Estou aqui hoje por uma
causa bem nobre, a satisfação do meu pau que só quer a mulher das flores.
Exigente, esse filho de uma égua, penso com loucura e ironia.
Vejo a tal da Sabrina, sócia de Artur, atendendo algumas pessoas e
aproveito e pego uma cestinha, colocando alguns chocolates, vejo as barras
de amêndoas que amo. Artur as leva sempre para mim. Estou pegando as
barras quando a vejo entrar e sorrir lindamente.
— Olá, Sabrina! Vim entregar as encomendas do mês e abastecer de
chocolates a minha despensa. Minhas barras com amêndoas acabaram e
preciso levar mais.
Vejo que só tem uma barra branca, o sabor que mais gosto, a pego
rapidamente e coloco em minha cestinha.
— Ei! — Ela me olha com cara feia. — Essa barra é minha, liguei
para Sabrina reservar para mim e... — Olho para ela com deboche e levanto
a cesta acima de minha cabeça.
— Cheguei primeiro, querida, ali tem várias de chocolate amargo,
pegue-as, essa é minha. — Vejo que seu semblante cai e fico sem jeito,
porra!
— Lisa, hoje mesmo chegará mais, querida. Ele não tem culpa, eu me
esqueci de guardar para você, me desculpe. Mais tarde você passa aqui e terá
quantas quiser, combinado, amiga? — Sabrina diz com carinho e Lisa sorri
conformada, seu sorriso de covinhas me encanta e fico olhando igual bobo.
Ela se vira e começa a pegar outros chocolates, minha deixa para me
aproximar.
— Oi, Lisa... é Lisa mesmo? — pergunto na maior cara de pau.
Ela me olha com indiferença e responde.
— Sim. — Vira as costas, me ignorando completamente e continua
suas compras. Filha de uma puta.
— Podemos negociar, Lisa? — falo novamente. Porra, é muito
humilhante ter que ficar me rebaixando para essa metida a besta.
— Negociar o quê? — pergunta sem se dignar a virar e me olhar.
Puta, vou te mostrar quando se apaixonar por mim.
— A barra de chocolate. Se você tomar um sorvete comigo eu te dou
a metade — ofereço com o coração disparado, sem entender porque estou
suando.
— Não, obrigada, pode ficar com ela, mais tarde volto aqui e compro
— diz e se encaminha para o caixa — Sabrina, guarde essas barras amargas
para mim, mais tarde pego junto com as barras brancas — completa sorrindo,
como se eu não existisse. Porra, agora virou questão de honra derrubar essa
infeliz e fazê-la rastejar, implorando por minha atenção.
— Combinado, borboletinha — Sabrina responde e sem querer dou
uma gargalhada.
— Borboletinha? — repito, dando uma gargalhada e não consigo
parar de rir. Ela me olha com desprezo e sem rir. Mulher estranha da porra,
essa.
— Sim! Artur, meu sócio, a chama somente assim — fala e sorri com
carinho ao mencionar o nome de meu amigo.
— Borboletinha, toma um sorvete comigo? — insisto e olho pidão
para Sabrina me dar uma ajuda.
— Não — diz e sai da loja e se misturando à multidão.
— Ela é difícil de conquistar, mas quando você a cativa, tem nela uma
pessoa fidelíssima — Sabrina me diz. — S você está interessado vai atrás, se
esperar ela facilitar morrerá sozinho.
Ela me diz e antes de terminar de falar pego meu pacote e corro atrás
da borboleta esvoaçante.
A vejo entrando em outra loja. Porra, a mulher gosta de shopping
mesmo! Puta merda, que horror! Sorrio e entro atrás. A vejo olhando umas
peças de lingerie e fico atrás, quase encostado nela. Ela levanta uma pequena
calcinha rosa e digo baixinho em seu ouvido.
— Perfeita para cobrir sua borboletinha. — Ela se assusta e vira de
uma vez. Me olha com ira e enfia a mão, com calcinha e tudo, em minha cara
de pau.
Dou um passo para trás e a olho com ira.
— Está maluca, mulher? — Ela sorri malignamente e sai sem
responder.
Vou atrás, sou a porra de um obcecado quando quero e foda-se.
Ela olha para trás e para com as mãos na cintura.
— Se não parar de me assediar vou chamar a polícia, seu louco. —
Vejo, ao mesmo tempo, medo e raiva em seus olhos. Me compadeço da pobre
coitada e resolvo ser mais solidário.
— Não precisa ter medo de mim, conheço os donos da loja onde você
entrega suas criações. — Vejo que ela fica pálida.
— Conhece? Como? — Dá um passo para trás.
— Sim, já te vi lá, você que não me viu, estava no escritório de Ana e
Tarso conversando com eles, te vi pelas câmeras. E quis te conhecer. Simples
assim. Mentira. A vi na rua com seus buquês e quis trepar com ela ali mesmo
— digo e vejo a cor voltar ao seu rosto.
— E então? Toma um sorvete comigo? Somente isso. — peço com
suavidade.
Ela me fita, olha em volta e volta a me encarar.
— Depois promete que some de minha vida? — A borboletinha é
atrevida. Me encara com esses lindos olhos coloridos, porra, um verde e outro
azul.
— Não posso prometer isso… — digo sendo verdadeiro em meio a
tantas mentiras.
— Então minha resposta é não, passar bem. — Vira-se e começa a
andar.
— Prometo que se você não gostar de minha companhia, vou embora.
— Claro que não digo que tentarei várias vezes até conseguir o que quero.
Vejo ela sorrir e meu coração dá uma ligeira acelerada.
— Vamos então. — Ela escolhe uma mesa com dezenas de pessoas
ao nosso redor. Esperta! Gosto disso. Sabe se proteger.
Nos sentamos e ficamos nos encarando, ela não baixa o olhar, mas
vejo que é tímida, pois está num tom rosado lindo.
— Bom, Lisa... — ela me olha desconfiada. — Qual sorvete você
quer tomar?
— Pode ser uma casquinha de baunilha e chocolate — diz,
simplesmente.
— Só isso? — pergunto sem entender.
— Sim. — Sorri e fico olhando seu rosto igual um lunático.
— Moço? — Ela me chama e volto à realidade.
— Vou buscar seu sorvete e pegar um que adoro. — Pisco e vou
buscar nossos sorvetes. Pego o dela em um quiosque, e na loja ao lado
compro um magnum para mim, tenho verdadeira adoração por esse sorvete.
Chego, entrego o dela e me sento.
— Magnum — digo e olho com adoração para o meu sorvete.
Ela me olha e sorri, lambendo o dela. Meu pau dá uma guinada e
endurece em nanosegundos.
— Então, Magnum, vou tomar meu sorvete e irei embora, foi um
prazer te conhecer. — Levanto meus olhos rapidamente e vejo que ela
concluiu que me chamo Magnum quando eu disse o nome do sorvete que sou
viciado. Sorrio de orelha a orelha, o destino não podia ser mais favorável.
Estava pensando em como daria o meu nome para ela sem revelar o
verdadeiro. Artur poderia descobrir se ela o mencionasse em um dos
inúmeros telefonemas que trocam. Agora sei que são somente amigos. Pior
para mim, se Artur descobrir meus planos em relação a ela come meu rim
com pimenta.
Magnum. Gostei, parece meu nome e não foi eu que disse, portanto,
não menti. Caralho se não sou o cara mais sortudo do universo.
— Então, Lisa, sei que trabalha com confecção de semijoias, meus
amigos me mostraram seus conjuntos, são lindos. — Realmente fiquei
impressionado o dia que fui à loja de joias saber mais sobre Lisa. Os donos
da loja foram meus clientes e me receberam encantados. Sempre prometia a
eles uma visita, mas nunca apareci. Como disse, odeio lugares cheios, mas
por Lisa e sua doce boceta eu iria me sacrificar.
Confirmaram o que Artur me disse sobre ela, que era uma moça
decente e batalhadora. Já está ficando chato ver tantas pessoas endeusando-a.
Tento puxar assunto de todo jeito, mas a mulher não facilita. Agora
tenho pena do Artur quando veio fazer a ela minha s proposta s indecorosa s
e indecentes.
Sorrio e termino meu Magnum delicioso.
— Você gosta mesmo desse sorvete? — pergunta já terminando a sua
casquinha.
— Sim, adoro. Quando era pequeno não tinha condições de comprá-
lo. Ficava na porta da padaria olhando as imagens dos sorvetes e minha boca
enchendo de água. Jurei um dia poder comprar vários de uma vez só, e assim
fiz! Quando consegui um dinheirinho, a primeira coisa que fiz foi comprar
cinco sorvete desses, me sentei em um banco numa pracinha e comi os cinco
com prazer. — Fecho os olhos e digo saudoso, sentindo aqui e agora a
imensa felicidade que tive em poder realizar esse sonho.
De repente abro os olhos e fico pálido com a revelação que fiz sem
nem perceber. Mas que caralho?
Vejo que ela me olha com um novo olhar, mais carinhoso e
compassivo.
— Realmente tem coisas que nos marcam para sempre, te entendo. Eu
tive que batalhar muito para chegar onde estou — diz com suavidade, acho
que está sendo gentil depois do meu vacilão retorno ao passado.
— Sim, eu também, saí de um lugar miserável... — Eu estou ficando
puto comigo mesmo. Daqui a pouco a peço em casamento e...
— Caralho! — falo alto. Ela me olha assustada.
— Desculpe, Lisa. Me lembrei de algo doloroso de meu passado.
Perdão. — Quase coloco o pouco espaço que ela me deu a perder. Estou
confuso e misturando tudo aqui. Ela me olha desconfiada e balança a cabeça.
— Tudo bem, de passado sofrido eu entendo. — Suas pequenas mãos
estão na mesa e levo as minhas até as dela e as encosto com suavidade.
— Lisa, me dê a oportunidade de nos vermos novamente? Gostei
demais de nossa conversa, aliás, quis te conhecer desde a primeira vez que te
vi. — Isso também não é mentira. O dia que a vi no sinal com seu imenso
buquê de flores me deixou enlouquecido.
— Meus patrões falaram tão bem assim de mim? — Ela pensa que a
primeira vez que a vi foi na loja de meus amigos. Coitada!
— Falaram muito bem! — digo a verdade, eles são encantados por
ela, elogiaram sua pontualidade, compromisso e criatividade.
— Que bom, Magnum, mas eu não acho que... — murmura.
— Por favor, Lisa, me dê uma oportunidade... — eu a corto
rapidamente antes que ela me descarte de vez, porque aí fica mais difícil levá-
la para a cama. — Prometo me comportar — digo e faço a cara do burro do
Shrek. Ela me olha por segundos e sorri.
— Tudo bem, mas sem segundas intenções. — É a mesma coisa de
dizer para uma criança que está em uma loja de doces que não coma doces,
penso sinistro.
— Sem segundas intenções, prometo — digo a ela, pois tenho
terceiras, quartas e quintas intenções com ela. Ela passa o número de seu
telefone e passo o do meu. Claro que já tenho o dela, no dossiê tem tudo.
Tadinha, se acha tão esperta. Trepo e resolvo essa obsessão doentia por essa
fulaninha.
Sorri para mim e sorrio de volta. Primeiro round ganho.
Depois daquela conversa estranha com Magnum, fomos para a loja de
Sabrina, peguei meus chocolates e me despedi. Ele foi embora e segui para o
meu apartamento. Claro que no final o danado conseguiu o número do meu
telefone. O homem mexeu comigo de uma maneira que nunca aconteceu.
Tive que ser forte, minha vontade era de passar a mão em sua barba suave,
cheia e brilhante, muito bem cuidada. Seus cabelos lisos, aparados do lado de
maneira curta e um lindo e charmoso topete liso, castanho e brilhante. Mas
seus olhos castanho-esverdeados me cativaram. Lindos. Além de um sorriso
perfeito com dentes claros alinhados.
O homem era cheiroso de longe. E a altura do pedaço de mau
caminho? Ele parecia um muro de tão alto. Fora que os braços eram
musculosos e tatuados e o peitoral imenso.
Enquanto eu conversava com ele, ouvindo sua voz rouca, minha
calcinha estava se alagando a ponto de me incomodar. Uma coisa que achei
estranha foi a sensação que tive de que já conhecia essa voz grossa e rouca.
Pela primeira vez na vida senti vontade de dar para um homem.
Penso e sorrio divertida. Acabar de vez com essa virgindade e me dar bem.
Quem sabe? Vamos dar uma chance para esse homem cheiroso e
gostoso? Caminho e sorrio, enquanto converso comigo mesma até chegar em
meu prédio. Juízo Lisa!
Lúcio, como sempre, corre para me ajudar e hoje dou a ele uma barra
de chocolate. Ele sorri feliz e me ajuda a colocar tudo no elevador. Agradeço
e subo.
Coloco tudo nos devidos lugares e vou tomar um banho, estou
precisando, parece que fiz xixi na calcinha.
Tiro a roupa e me olho no espelho, ainda sinto a umidade entre as
minhas pernas.
Passo a mão com suavidade em meu clitóris inchado e o massageio
com suavidade. Gemo de prazer e penso em Magnum, continuo a massagem
até ser tomada por um delicioso gozo, solitário, mas delicioso.
Sorrio e entro no chuveiro, tomo um banho demorado. Saio e me
sento na cama, passo creme no corpo inteiro e coloco um vestido leve. Subo e
trabalho um pouco. Depois de assistir a um filme, me deito para dormir.
Acordo no dia seguinte com uma sensação de ansiedade. Olho o telefone e
fico com vontade de ligar para Magnum, mas me controlo. Vou aguardar e
ver o que ele fará.
Tenho um dia normal em meu ateliê. Ao meu lado, o celular
permanece mudo.

***

Já passou quase uma semana e nem sinal do Magnum. Será que fui
dura demais e ele desistiu?
Tem horas que meu medo me atrapalha demais. Primeiro homem que
me interessa de fato e fico fazendo charme.
Mas não vou ligar. Nunca fiz isso e não vai ser agora que farei.
Continuo meu trabalho, amo de paixão criar peças novas e essa
semana chegaram tantas pedras que a minha inspiração triplicou. Minha
playlist com músicas clássicas toma o ambiente com suavidade e trabalho
totalmente em paz e concentrada.
Saio do shopping de pau duro e assim que chego em meu carro pego
meu telefone, abro meus contatos e ligo para uma de minhas amantes.
Vou direto para o abatedouro, nem parece que trepei hoje de manhã.
Quando chego, tomo um banho rápido, meu pau está pesado, duro e
muito inchado, minhas bolas pesam, minha boca saliva só de pensar em Lisa.
Porra, essa mulher está me deixando louco.
A campainha toca e abro rapidamente a porta já puxando a mulher
pelos cabelos. Arranco sua roupa, coloco a camisinha rápido e entro de uma
vez em sua boceta já molhada.
Meto com força e seguro a mulher pelo pescoço, estocando com raiva
e desejo. Ela geme e dou um tapa forte em sua bunda grande, ela se esfrega
em meu pau enterrado até as bolas. Continuo metendo, mas falta algo e não
sei o que é, estou na borda, mas a porra do gozo não vem. Caralho. Arranco
meu pau da boceta da mulher, tiro a camisinha e mando ela chupar. Penso em
Lisa e o gozo vem com força, alago a boca e a cara da mulher. Olho com
desgosto a cara de puta que ela faz com a minha semente pingando de sua
boca e rosto. Saio da sala e mando ela tomar um banho e ir embora.
Quando ela se vai, eu me sinto um lixo e pego o telefone para ligar
para Lisa. Mas não tenho coragem, não depois de ter trepado há minutos. Me
sinto sujo e imoral. Estou ficando definitivamente louco. Porra, não tenho
nada com essa mulher.
Vou dar um tempo para me acalmar, depois quando estiver sob
controle novamente, pensando com a cabeça de cima, ligo para ela.
E assim a semana vai passando e eu sem um pingo de vontade de
trepar com outras mulheres. Até tentei várias vezes, mas a porra do pau só
fica duro quando penso em Lisa.
Fiz isso várias vezes, mas porra, ficar gozando em uma boceta
querendo e pensando em outra? Chega!
Seu tempo acabou, Lisa, quero sua boceta para acabar com essa
obsessão doentia e maldita.
Se prepara, borboletinha, agora vou entrar com tudo. Vontade,
artimanhas e pau!
Te como em breve, ou não me chamo Raul Magno Gorgoni.

***

Hoje vou ligar para a borboletinha. Quero comer essa gostosa até o
final de semana, senão vou enlouquecer.
Pego o telefone e ligo para ela. Porra, estou ansioso e meu coração
disparado, acho que preciso ir a um cardiologista urgente.
— Alô? — Quando ouço a sua voz de anjo, meu pau e coração
entram em sintonia e se manifestam juntos. Um fica duro igual aço e o outro
bate igual pandeiro.
— Lisa, tudo bem com você, querida? — Consigo falar, parece que
minha língua está colada no céu da boca.
— Magnum? — fala com doçura. Meu coração aperta, porra. Não
gosto da quantidade de mentiras que já criei para me dar bem com essa
menina. Nunca agi assim e estou começando a me sentir mal por estar agindo
como um escroto, mesmo sendo um.
— Sim. Trabalhando muito? — Mudo de assunto, vê-la me chamar
de Magnum me angustia.
— Trabalhando bastante. Eu estou terminando de montar um conjunto
aqui com as novas pedras que chegaram. — Conta com empolgação, já notei
que ela ama o que faz. Como Artur já havia me dito várias e várias vezes.
— Que maravilha! Será que você me convidaria para ver a sua
coleção de pedras e as peças criadas por você? — Tento induzi-la a me
convidar. Aguardo, para ver se morde a isca.
— Não te conheço o suficiente para trazê-lo para minha casa — corta
sem dó nem piedade.
— Prometo me comportar. — Sou descarado e insisto, tudo pelo
meu pau.
— Hoje não — diz com suavidade.
— Amanhã? — insisto, essa mulher está me dando canseira, caralho.
— Vou pensar — diz, está caindo na rede, meu peixinho, mas se
pensa que vou deixar rolar como ela quer está redondamente enganada. Raul
Magno não espera, ataca.
Continuamos conversando por muito tempo e quando nos despedimos
já tenho uma ideia em mente.
Estou ficando essa semana no abatedouro, trepo sem parar para ver se
tiro um pouco essa mulher da cabeça, mas já vi que somente quando comê-la
até desmaiar que ficarei livre dessa obsessão. E a quero esse final de semana,
já esperei demais.

***
Levanto-me cedo com a cabeça cheia de ideias e planos. Tomo banho,
me visto com um jeans lavado e camisa de linho azul. Aparo a barba e
penteio meu topete liso, deixando que fique tombado de lado. A mulherada
adora. Vou começar a jogar pesado com a borboletinha arisca.
Desço assobiando e entro em meu carro, dirijo até uma floricultura
perto da casa da borboleta fujona e compro dois buquês imensos.
Me lembrei de quando a vi pela primeira vez e como olhava com
adoração para as flores. Significa que gosta. Sorrio cheio orgulho.
Pego os imensos buquês e vou para o prédio onde a borboleta pousa.
Vamos ver se pousará em minhas flores e depois em meu pau, penso
assobiando e satisfeito por ser tão engenhoso.
Chego na portaria e o porteiro, que sei que se chama Lúcio, me olha e
seus olhos se arregalam quando vê os imensos buquês.
— Bom dia! — cumprimento, educadamente.
— Bom dia, as flores de Lisa chegaram mais cedo hoje — diz abrindo
a portaria e não acredito que o universo está tão a meu favor. Que caralho de
sorte é a minha. Nem precisei criar uma história mirabolante para ele me
deixar entrar, o cara abriu o portão e me convidou. Caralho! Como eu disse,
essa boceta tem que ser minha, até o universo conspira a meu favor. Ele sabe
o quanto já sofri ansiando por essa bocetinha tão difícil de pegar.
Sorrio com tanto prazer que sinto dor em minhas bochechas. Entro
rapidamente.
— Obrigado, hoje resolvemos vir mais cedo e trazer as mais frescas
para ela, sei que ficará feliz, é um agrado que gostamos de fazer aos nossos
clientes fixos. — Ele sorri e pega no interfone para avisá-la.
Esfrio.
— Não! Gostaríamos de fazer uma surpresa! — digo já me
encaminhando para o elevador, sei o andar que ela mora, como disse, no
dossiê que Artur me entregou sobre ela diz até a hora em que dorme.
— Obrigado! — agradeço ao porteiro e entro rapidamente no
elevador.
Suspiro e fecho meus olhos com prazer. Estou chegando, bocetinha,
quer dizer, b orboletinha, penso com malícia.
Quando chego em seu andar, saio do elevador e me aproximo de sua
porta. Meu coração parece que vai sair do peito. Porra!
Tem uma sineta na porta! Sineta! Tudo nessa mulher é delicado e
diferente do tradicional. Talvez seja isso que está me deixando meio louco.
Toco na sineta e ouço um barulho suave.
Aguardo, suando frio. Nem pareço um senhor de 43 anos.
Ouço passos e levanto os imensos buquês. A porta se abre e a vejo por
entre as flores.
— Pois não? — Sua voz suave enche minha alma.
— Flores para uma borboletinha pousar — digo feito um idiota,
encantado com sua beleza delicada.
— Magnum? — fala alto. — Como entrou?
— Pela porta — digo rapidamente, sem maldade.
— Engraçadinho! — Me encara, com seriedade.
— Obrigado, posso entrar agora? — digo sem freios na língua.
— Não te convidei. — Tenta fechar a porta, mas coloco o meu pé na
frente.
— Não acredito que vai me mandar embora depois do trabalho que
tive para chegar até aqui. Chegar na torre da princesa inatingível tem que me
render algum bônus! Não foi fácil, tive que passar por um guarda feroz que
fica na porta do castelo encantado — falo, descaradamente.
Ela sorri e vejo que consegui.
— Meu Deus, você é muito cara de pau, Magnum — diz e me sinto
mal novamente com a porra desse nome. Enquanto ela ri, passo igual uma
bala para dentro do apartamento e vou para bem longe da porta. Entrei!
— Posso te pedir uma coisa, Lisa? Mas é um segredo entre mim e
você, promete guardar? — pergunto com as flores já começando a coçar meu
nariz. — Antes, tome, são todas para você! — Entrego, fazendo charme.
Ela caminha e pega os dois buquês gigantes e agradece.
— Obrigada, adoro flores. — Cheira e dá aquele mesmo sorriso que
vi quando estava atravessando a rua no dia em que fiquei obcecado por ela.
Linda!
— Lisa, quero que me chame de Magno, odeio quando diz Magnum,
me lembra muito minha fase de sofrimento e pobreza. — Faço cara de
sofrimento e vejo seus olhos suavizarem. — Mas tem que me prometer que
não falará para ninguém, pois Magno será somente para nós dois, pode ser?
— pergunto ansioso, precioso ouvi-la falar meu nome verdadeiro, necessito
disso.
Essa mulher está me deixando maluco, já inventei tantos nomes para
me aproximar de mulheres, mas nunca senti necessidade de falar o meu
verdadeiro nome.
— Claro, Magno. Não quero te fazer recordar um passado que te faz
sofrer — diz com suavidade, com a sua voz de anjo.
Sinto remorso por estar sendo um filho da puta. Balanço a cabeça e
olho ao redor. A decoração da casa é bem feminina e delicada. Tudo aqui
reflete sua feminilidade e doçura.
— Seu apartamento é exatamente como imaginei, borboletinha. Todo
delicado e meigo, assim como você — digo exatamente o que sinto e a vejo
corar. Meu coração dispara, hoje ele está muito instável. Tenho que fazer um
check-up urgente.
— Obrigada, Magno. Vem, vou te mostrar meu ateliê e fazer um café,
quer um pouco? — pergunta já subindo a escada em forma de caracol. Porra,
que bunda linda. Ela está usando uma bermuda e camiseta, parece um pijama.
Será que eu a acordei?
— Lisa, eu acordei você, querida? — pergunto sem graça.
— Acordou — responde de forma simples e quando chegamos no
andar de cima fico satisfeito de ver como é organizado.
Vejo seu local de trabalho, suas pedras, sua mesa com ferramentas de
trabalho e um colar pronto.
Mais à frente, separado por uma porta de vidro, uma minicozinha com
uma mesa de vidro pequena e quatro cadeiras. Mas o lugar que me deixou
encantado foi o pequeno jardim com um sofá ladeado por duas poltronas,
tudo muito feminino, no mesmo estilo do resto da casa.
O sofá e poltronas fica em um deck de madeira. Perfeito!
Sigo para lá e me sento no sofá e sinto como se estivesse em casa.
Sentimento bom esse.
— Adorei esse cantinho, borboletinha — digo e olho a vista
magnifica e as árvores que margeiam a avenida coberta de flores vermelhas.
Sinto saudades da minha casa na Vila dos Ipês. A borboletinha ia
adorar, lá tem tantas flores. Posso levá-la qualquer dia desses e...
— Porra! Estou pior que pensei — digo alto, indignado com meus
pensamentos de levar Lisa para minha casa.
Porra! Lá não! Meu lugar sagrado. Bocetas lá? Nunca! Estou a poucos
passos de concluir meus planos. Comer a mulher e dar o fora. Até nunca
mais! Satisfeito com meus pensamentos no eixo novamente, sinto o cheiro
gostoso de café. Minha boca enche de água e percebo que estou com fome.
Vejo-a começar a colocar a mesa e me levanto para ajudar. Ela me
entrega os cestos de pães e biscoitos. Coloca queijo na mesa junto com as
xícaras.
Nos sentamos e ela me serve.
— Obrigado. — Tomo um gole do café. — Delicioso! — Abro
minha boca de merda e solto a pérola. — Já pode se casar.
Ela se engasga com o café e me olha ruborizada. Eu? Quero enfiar
minha cabeça de merda no vaso e dar descarga.
— Desculpe, Lisa...quando fico perto de você perco o filtro e só falo e
faço besteiras. — Ela sorri ao me ver tão desconsertado.
— Tudo bem, Magno. Mas me conta, em que trabalha? — Agora é
minha vez de engasgar.
— Desculpe, hoje realmente não dou uma dentro. Trabalho com
construção. — Quando percebo já disse, então tento consertar. — Vendo
imóveis, quer dizer...
— É um corretor? — pergunta com compreensão, deve estar me
achando maluco, até eu estou.
— Isso! Exatamente! — Não estou mentindo tanto, somente um
pouquinho, afinal compro e vendo imóveis.
— Que bacana, Magno! E onde é sua imobiliária? — Agora fodeu.
— Imobiliária? Ah, sim, imobiliária. Certo. Não tenho, trabalho em
casa mesmo. — Pronto. Falei uma verdade, finalmente. Não tenho escritório.
— Eu amo trabalhar em casa, é um privilégio, não é, Magno? — diz
com inocência e fico com remorso até na alma. Me sinto um merda!
Mentindo e tripudiando tanto em cima dessa mulher inocente. Porra! Sai para
lá, consciência, volta outra hora, combinado?
— Verdade, trabalhar em casa é ótimo. — Continuamos nossa
conversa, e eu minto mais e mais. Estou mais enrolado que fumo de rolo e
mais fodido que prostituta de luxo, penso com desgosto.
Passamos o dia juntos em sua casa e confesso que tinha muito tempo
que não me sentia tão feliz e relaxado. Quando me despedi dela, prometendo
que voltaria, senti um aperto no coração, queria ficar mais, e olha que não
tinha nem pegado na mão da senhorita.
Volto para o abatedouro, tomo um banho e me deito sem vontade
nenhuma de chamar uma puta para trepar.
Fecho meus olhos e repasso cada momento do dia. Me vejo sorrindo
em muitos e com dor no coração em outros, por ter mentido tanto para Lisa
Borboletinha. Adormeço pensando em seus olhos coloridos e doces.
Fiquei surpresa com a cara de pau de Magno em aparecer no meu
apartamento, penso divertida. Ele mereceu entrar por sua persistência. E
vamos concordar, o homem é de encher a boca de água. Lindo demais e
parece gostoso até pedir para parar. Virgem sim, besta não!
Resolvi deixar rolar para ver no que vai dar, se continuar a sentir essa
atração tão forte por Magno com certeza ele será o dono de minha virgindade,
pois darei para ele com muito prazer e safadeza. Assisto a filmes pornôs e sei
fazer umas coisinhas e outras, apesar de nunca ter praticado com ninguém.
Os dias passam e Magno liga todos os dias, de manhã e à noite. Já
fico aguardando ansiosa, conversamos de tudo um pouco e já me sinto bem
mais à vontade com ele. Hoje já faz uma semana que estamos tendo esse
contato gostoso, sem ele forçar nada, está tudo fluindo com naturalidade.
Tenho conversado muito com Artur também e ele me disse que vai
dar uma sumida porque está com sérios problemas com a senhora que mora
ao lado da construção. Me prometeu que assim que apaziguar a situação me
liga. Claro que não falei nada de minha recente situação, primeiro porque não
é nada sério ainda, nem sei se será. Segundo, prometi a Magno não contar
nada a ninguém.
Vejo que ele tem muito receio de um envolvimento mais sério E isso
com certeza será um problema. Mas como já procrastinei demais perder
minha virgindade, resolvi, depois de muito pensar, que será com ele.
Claro que não quero esperar mais tempo e se continuarmos a nos
entender, em breve serei uma mulher aventureira. Penso divertida, mas com
uma pontada de medo e insegurança. Magno é um homem de mais de
quarenta anos, muito experiente e vivido. Espero que não se decepcione com
minha falta de experiência. Farei o meu melhor. Já estou amadurecendo essa
ideia há alguns dias e acho que a minha mente já aceitou minha decisão, pois
sonho direto com Magno fazendo amor comigo. Tenho que me policiar e
vigiar para não me apaixonar por ele, claramente ele é o tipo de homem que
só gosta de transar e desaparecer.
Eu, sabendo disso, não coloco expectativas quando transarmos e ele
desaparecer. Dessa forma não serei atingida ou sofrerei com isso.
De bem e satisfeita com minha decisão, ouço o interfone tocar.
Está no horário de receber as flores que Magno me envia todos dias.
Eu adoro!
Desço rápido e quando abro a porta vejo Magno sorrindo de orelha a
orelha. Meu coração dispara e fico olhando, feito boba, o quanto esse homem
é lindo.
— Hoje quis trazer as flores pessoalmente, borboletinha. E aproveitar
e te chamar para jantarmos fora, o que acha? — Ele me entrega as flores e
beija a minha cabeça. Ele nunca tentou me forçar a fazer nada que não quero
e sempre mantém uma distância respeitosa.
Para falar a verdade, isso me incomoda, sinto tanta vontade de beijar
esse homem que salivo.
— Você não disse que viria hoje, Magno. Não me preparei para sair
e...
— Você é linda toda hora, Lisa. — ele me corta e senta no sofá, pensa
que já é o dono da casa, esse atrevido lindo. —Deixa disso e vamos! — Sorri
com charme.
Vou à cozinha, pego um vaso e encho de água, coloco as flores com
cuidado e levo para a sala, coloco na mesinha de centro e me sento ao lado de
Magno.
— Podemos jantar aqui, o que acha? — Me aventuro a ficar sozinha
com ele, já está na hora de começar a baixar a guarda.
— Tem certeza, Lisa? Vai cozinhar para mim, borboletinha? — Me
olha com atenção e sorri lindamente.
— Sim, mas você vai me ajudar! — falo de maneira rápida.
— Nãoooooo! Vamos pedir alguma coisa pronta? — sugere com
matreirice.
Quero ficar em casa hoje com ele. Vou cozinhar, adoro inventar
receitas na cozinha quando tenho tempo. E hoje quero fazer esse carinho para
Magno. Ele é sempre tão gentil comigo. Todos os dias ele me manda um
buquê de flores, isso quando não manda, também, chocolates.
Ele, mais do que ninguém, merece esse carinho e farei isso com muito
prazer.
Homem lindo da porra. Sorrio com safadeza.
Em breve eu te pego, delícia de homem!
Lisa Melo, deixa de ser safada mulher. Penso divertida e corada ao
mesmo tempo.
Tento induzi-la a pedirmos alguma coisa para comer, mas ela nega.
— Não, senhor, vamos cozinhar e você vai amar. Tenho um amigo
que adora cozinhar. Ele já fez tantos pratos gostosos aqui. Um dia te
apresento a ele, vai gostar demais, ele é um verdadeiro gentleman. O único
problema é que trabalha para um homem sem caráter, um ser asqueroso —
diz com o semblante irritado. Um aperto violento surge no meu coração e me
levanto de maneira rápida.
Sinto o sangue sair todo de meu rosto e uma tontura do caralho me
atinge.
— Magno? Você está bem? — Ela se levanta e me segura, com
suavidade, pelo braço. Não consigo responder, estou em pânico. Se ela
descobrir que o cara que ela abomina, sem caráter e asqueroso sou eu, estou
fodido. Tenho que comer essa mulher logo, senão todo o meu árduo sacrifício
em persegui-la terá sido em vão.
— Não... tudo bem... só uma ligeira tontura. Deve ser porque ainda
não almocei hoje. — Mais uma mentira. Caralho.
— Magno! Vem, vou fazer um chá com torradas para você enquanto
o jantar não fica pronto. E não precisa nem me ajudar. Pode se sentar e ficar
quietinho, tá? — pede suave e me segura pela mão me levando para a parte
de cima de seu apartamento. Subo e me sinto um desgraçado. Crise de
consciência depois de velho é uma merda.
Me sento em uma cadeira na cozinha de Lisa, ainda pálido e com um
ligeiro tremor nas mãos. Ela vê e corre para pegar um copo com água, me
obriga a beber e a vejo fazendo um chá como me prometeu.
Coloca a xícara na mesa junto com as torradas. Como e bebo mesmo
sem fome. Esse sentimento de remorso é uma merda. Parece que tenho um nó
na garganta. Vejo Lisa separar os ingredientes para o jantar e meus olhos
ardem. Caralho!
O que está acontecendo comigo?
— Lisa, me deixe te ajudar, querida, já estou bem. Deixa que
descasco os legumes. — Me levanto e chego por trás para ajudá-la.
— Não precisa, Magno, você não está bem. Sente-se e me deixe
cuidar de tudo — diz, picando tomates e cebolas. A olho com ternura e sinto
que pela primeira vez em minha vida tenho vontade de ter um lar assim
quando chego do trabalho.
Mas com ela será praticamente impossível depois de toda sujeira que
já fiz e ainda farei.
Penso em desistir... E sim, vou fazer isso. Vou ficar somente hoje e
desfrutar de sua companhia e sumir da vida dessa mulher perfeita, doce e
inocente. Não vou maculá-la com minha devassidão. Artur tem toda razão,
ela é diferente das mulheres que estou acostumado, são todas putas, assim
como eu sou um puto. Sinto pela segunda vez meus olhos arderem, senti isso
quando vi minha mãe morta por overdose. Nunca mais chorei. E hoje, em
menos de uma hora, sinto meus olhos arderem duas vezes.
Pisco com força. Pego uma faca e começo a descascar as batatas.
— Quero ajudar minha borboletinha a cozinhar! E vou aprender.
Como você é perfeita em tudo que faz, sua comida deve ser maravilhosa. —
elogio. Ela fica vermelha e a vejo mais linda ainda.
— Pare, Magno! — Me empurra e sorri com felicidade genuína.
Ficamos nesse clima delicioso até prepararmos nosso jantar. Arroz
branco, batata assada com frango, e salada de tomate cereja com alface.
— Cheirosa sua comida, borboletinha. Parece deliciosa. — Ela sorri e
busca um vinho branco.
Enche duas taças e colocamos nosso jantar na mesa. Nunca me senti
tão satisfeito com um programa tão simples. Almoço em lugares caríssimos e
elegantes e nunca me senti assim.
— Lisa, quero te agradecer por sempre me tratar com tanto carinho.
Nunca me senti tão querido como você tem me feito sentir ultimamente.
Obrigado e me perdoe se, por ventura, fiz algo que possa ter te magoado ou
então te magoar futuramente — sussurro, olhando em seus olhos e segurando
suas mãos pequenas e brancas.
— Eu que agradeço, Magno, por sempre ter me respeitado e nunca ter
tentado nada que me deixasse desconfortável. — Sinto como se levasse um
tapa na cara e fecho os olhos para ocultar minha vergonha e dor.
— Lisa... — Tento falar, mas minha voz trava.
— Magno, por favor, fique em paz. Você não foi nada mais do que
gentil e correto comigo. Eu prezo demais por pessoas corretas, com caráter e
que não mentem. E você tem sido assim comigo. — Sinto vontade de correr,
mas me forço a ficar no lugar. Depois de hoje vou respeitar essa mulher e
nunca mais a procurarei.
— Você não existe, Lisa. É a mulher mais especial que tive o prazer
de conhecer. — A verdade sai com facilidade da minha boca, e mais uma
vez a vejo corar. Minha vontade é pegá-la em meu colo e beijá-la sem parar.
Protegê-la do mundo e de pessoas como eu, sem caráter e mentirosas.
— Vamos parar com esse papo. Parece uma despedida! Credo!
Vamos jantar porque depois tenho uma barra de chocolate com amêndoas que
sei que ama. — Ela sorri lindamente e começa a nos servir.
Jantamos e como imaginei, sua comida é extremamente deliciosa.
Depois que retiramos a mesa, ela busca a barra de chocolate e a
dividimos, sentados em seu minijardim, um pequeno deck que ela fez em um
canto. O sofá ocupa o deck quase todo.
Conversamos sobre tudo e me sinto muito bem.
Me levanto.
— Lisa, querida, tenho que ir, amanhã preciso me levantar cedo.
Tenho umas pendências para resolver no trabalho — digo angustiado, minha
vontade é de ficar. Somente conversar com ela me dá mais prazer do que
trepar.
Ela se levanta e me olha triste.
— Pensei que ficaria mais, amanhã é sábado... — Se aproxima e sinto
seu perfume.
— Lisa... — Ela se coloca em minha frente e levanto os olhos.
— Qual sua altura, Magno? — Me pega de surpresa essa pergunta
tão fora de hora.
— Tenho 1.98m e você, pequena borboletinha? — pergunto com uma
vontade enorme de beijar essa mulher com desespero.
— Eu tenho 1,58m de naniqueza, a seu dispor! Você é imenso e
sempre quis saber sua altura. Estou impressionada, quase dois metros — diz e
fica na pontinha dos pequenos pés.
— Magno, eu gostaria muito que me beijasse. — Parece que levei
uma porretada na nuca e me sinto sem ar. Não posso beijá-la, porra, acabei de
decidir que sairia de sua vida.
Pego em seus braços macios e a afasto com cuidado.
— Lisa... melhor não. Você é uma menina centrada e eu um canalha
que não quer compromisso... Não quero magoá-la mais, querida... — digo
com dor na voz e no coração.
— E se eu disser que quero somente uma aventura e que escolhi
você? — pergunta seriamente e congelo no lugar.
Ela está me propondo, por livre e espontânea vontade, o que quis
pagar para ter? Trapaceei e menti descaradamente para transar com ela e tudo
o que precisava era somente ser o homem com a integridade que ela acha que
tenho?
Preciso sair daqui rápido antes que faça uma besteira e venha me
arrepender mais tarde.
— Eu vou dizer que você está enganada comigo, querida, não sou o
que pensa e....
— Magno — ela me corta. —Para você trepar com uma mulher ela
tem que te convencer implorando? — pergunta com raiva.
— Eu...— Sorrio sem graça e fico sem palavras.
— Por acaso você é virgem, Magno? Se for, pode deixar que serei
cuidadosa — diz com matreirice e com um sorriso imenso.
Meu pobre coração está trepidando mais que furadeira. Porra de
mulher encantadora.
— E se for? — Resolvo entrar em sua brincadeira.
— Você é? — pergunta me olhando fixamente.
Sim... Em fazer amor. Somente trepo, pequena, penso com tristeza.
— Não, sou um porco devasso, por isso mesmo não quero te
contaminar. Pense bem, querida. Você vai achar um homem que realmente te
merecerá e valorizará — digo me sentindo derrotado e amargurado em
somente pensar em outro tocando nesse anjo.
Ela me olha e relaxa.
— Tudo bem, Magno. Agora que decidi perder a minha virgindade,
vou procurar outro que queira me ajudar. Tem o Artur, vou pedir a ele, sei
que não me negará esse favor.
Engulo em seco e uma ira desmedida me toma e vejo tudo vermelho.
A agarro pela cintura e a ergo até ficarmos olhos nos olhos.
— Porra nenhuma que vai procurar Artur ou quem quer que seja para
comê-la ou entregar sua virgindade. Você vai continuar guardando-a para
quem realmente merecê-la. Lisa, isso é um presente especial pra caralho. O
homem que ganhar esse presente será um sortudo que te amará intensamente.
Vai por mim e espera o momento certo, pequena.
Ela estende as mãos e segura meu rosto barbudo.
— É você que escolhi, Magno.
A coloco no chão e saio em disparada.
— Não! Eu não te mereço. — Desço as escadas correndo e vou
embora como estivesse sendo perseguido por demônios.
Chego no meu apartamento e sinto o meu telefone tocando sem parar.
Olho no visor. Lisa. Porra!
Pego meu telefone e ligo para uma porrada de mulheres.
Vou esquecer essa mulher nem que morra trepando.
As mulheres chegam. São cinco e passo a noite trepando igual um
louco. Mas só consigo gozar quando penso em Lisa. Pronto! Mergulhei mais
ainda na lama e agora não me sinto digno nem de chegar perto de minha
borboletinha. Quando vou tomar banho, me agacho no banheiro e choro
como nunca chorei em toda minha vida. Me esfrego com força, me sinto sujo
e tento arrancar de mim essa podridão e devassidão que me enoja. Lembro o
que fiz e meu estomago revira.
Saio do banheiro com o corpo ardido e olhos inchados. Meu telefone
toca e vejo Lisa na tela.
Choro mais ainda e atendo, preciso ouvir sua voz.
— Lisa? — Soluço.
— Magno, está tudo bem? Fiquei preocupada com você. Desculpe
minha falta de senso, fui muito rude e sei que você, por algum motivo, entrou
em pânico. Não precisa me contar o porquê, mas podemos ser amigos, quem
sabe futuramente? — diz com inocência e sinto as lágrimas caírem por meu
rosto e se perderem entre minha barba.
Olho para a cama e vejo as mulheres que comi se beijando e me sinto
um lixo.
— Lisa... — Uma das mulheres chega e se ajoelha, tomando meu pau
todo dentro da boca.
Chupa com força, mas ele continua mole. A empurro com ira e nojo.
Tapo o celular.
— Sumam todas daqui. Agora! — Entro no banheiro e tranco a porta.
— Magno? Quer que eu vá até aí? — Gelo.
— Não, estou bem... somente com uma dor forte no peito... —
Massageio o peito que dói pra cacete.
— Magno, você tem que ir ao médico. Me passe o endereço, vou com
você.
— Lisa! — falo alto. — Estou bem, vou me afastar de você porque se
ficar perto, vou estragar sua vida. Você não me conhece direito. Vou deixá-la
em paz para que possa arrumar alguém que realmente te mereça. Por favor,
não me ligue mais — digo chorando silenciosamente e com o coração
arrebentado. Melhor agora do que quando ver sua decepção ao descobrir o
merda sem caráter e mentiroso que sou. O telefone fica sem som e isso me
destrói de vez.
— Ok, desculpe ter insistido. Fique bem, não te incomodarei mais —
diz com voz indiferente e desliga.
Caio sentado no chão, coloco minha cabeça entre as mãos e choro
dolorosamente.
Quando Magno saiu aqui de casa nunca imaginei que ele me tiraria de
sua vida com tanta frieza. Eu liguei para ele quando saiu quase correndo e a
maneira rude que me tratou ao me dispensar me fez chorar a noite toda.
Nunca quis alguém para namorar, relacionar ou mesmo transar, e
quando resolvo ceder aos meus desejos, ele me descarta como lixo.
Quase duas semanas se passam e quando penso em como me ofereci e
fui rejeitada, minha cara ainda arde de vergonha.
As flores e chocolates pararam de chegar e ele nunca mais me ligou.
O que será que ele esconde? Por que será que me rejeitou? Magno é o
tipo de homem que não dispensa mulher, isso está escrito em sua cara com
cores neon.
Como gostaria de conversar com meu amigo Artur e contar tudo o
que aconteceu. Mas ele está com sérios problemas, como já tinha me dito, e
não quero importuná-lo.
Hoje é dia de entregar mais cinco colares na loja e eles já estão
embalados e prontos na caixa. Adoro o dia de entregá-los, mas hoje estou
sem ânimo algum. Sinto falta de Magno, apesar de ter pouco tempo que o
conheço. Ele tocou em meu coração de maneira única. Sinto meus olhos se
encherem de lágrimas. Já pensei em ligar várias vezes para ele, mas quando
me lembro do que me disse, me forço a não ligar.
Tomo banho, lavo meus cabelos. Visto um vestido florido e botinhas
brancas. Pego a sacola e vou fazer minha entrega.
Cumprimento Lúcio e saio. Ando devagar. Hoje está um ventinho
gostoso e sinto meus cabelos serem açoitados pelo vento. Sorrio e o calor do
sol me aquece.
Quando levanto minha cabeça, vejo um Magno mais magro e abatido,
encostado no carro, me olhando com tristeza.
O ignoro e saio andando como se não o conhecesse, embora meu
coração esteja disparado.
— Lisa! — Ouço sua voz rouca e em seguida passos correndo.
Continuo andando.
— Lisa, borboletinha, por favor, me perdoe. — Me puxa suavemente
pelo braço.
— Me solta, Magno, não temos nada a falar, você foi muito claro da
última vez que conversamos — falo com um misto de ira e desgosto.
— Me perdoe, querida. Eu estou ficando louco, não consigo fazer
nada, só penso em você. Tenho medo de te perder e medo de te fazer sofrer.
Lisa, fiz coisas horríveis... Lisa, por favor... — Seus olhos estão fundos,
arroxeados e uma grande tristeza está estampada em sua face mais magra e
pálida, isso me deixa angustiada.
— Magno, você deixou claro que não me queria em sua vida — falo
amargamente quando lembro como me descartou.
— Lisa... fiz coisas que não são passíveis de perdão, tenho medo de
me envolver e te perder... Mas ao mesmo tempo não consigo ficar longe de
você. Tentei ficar, eu juro. Mas não consegui! Me ajuda! Me perdoa pelo
meu passado sujo... me dê uma chance e se um dia descobrir alguma sujeira
minha, já te peço perdão com antecedência e juro a você que me arrependo a
cada minuto de minha vida por tudo que fiz... Lisa, namora comigo? Me
perdoa? — pergunta e se ajoelha em plena avenida, baixando a cabeça.
— Magno, por favor, se levanta. — O puxo pelos ombros e ele nem
se move, o homem é uma montanha.
Ouço vozes e risinhos.
Olho para o lado e vejo uma pequena aglomeração de pessoas.
— Perdoa ele, mulher louca, ou então me passe, vou adorar consolá-
lo. Vou adorar cuidar desse pedaço de homem! — diz uma perua, rindo igual
uma hiena.
Olho com desprezo para a vadia oferecida e pego o rosto de Magno.
— Magno, levante-se, vamos comigo entregar esse pedido e
poderemos conversar no caminho. — Vejo seus olhos brilharem em gratidão
e um esboço de um sorriso surgir.
— Obrigado, Lisa! — Se levanta, pega minha mão e também a sacola.
— Pode soltar minha mão, disse que vamos conversar, somente isso.
— Corto sua ousadia. Vejo seu rosto entristecer, mas ele não diz nada.
Caminhamos em silêncio, cada um mergulhado em seus pensamentos,
mas sinto seu olhar em mim o tempo todo. Entrego meus colares e o chamo
para almoçarmos. Claro que ele aceita.
Fazemos nossos pedidos e quando a comida chega começamos a
almoçar, estou faminta e pelo visto ele também.
Deixo-o começar a falar.
— Lisa, me perdoa por tudo e me dê a honra e oportunidade de
namorar você? Me deixe te mostrar o quanto estou arrependido... — Ele me
olha com desespero.
— Por que isso agora? — pergunto desconfiada e ainda ferida.
— Descobri que você é mais importante em minha vida do que eu
supunha. Lisa, perdi o ânimo depois que tentei ser cavalheiro com você. Me
perdi e fiz muitas merdas... antes de te conhecer e depois. Quero consertar
tudo se me der uma chance, oportunidade. — Magno segura minha mão e
vejo que a dele está trêmula, e seus olhos avermelhados.
— Não acredito em você. — Sou dura. Sei que às vezes sou assim,
mas quando me entrego sou uma manteiga derretida. Abrir meu coração para
ele não foi fácil e ele me rechaçou, agora tenho medo.
— Me dê somente uma única oportunidade para te mostrar sua
importância em minha vida, borboletinha. Se você não me achar digno depois
de um tempo, te deixarei em paz, prometo de todo meu coração. Mas não me
negue uma chance de consertar as merdas que fiz — suplica com lágrimas em
seus belos olhos.
Baixo a cabeça e sinceramente, não sei o que fazer.
Vou ter que pensar com cuidado e analisar bem. Sei que Magno é o
tipo de homem que quando nos apaixonamos é praticamente impossível
esquecer.
Levanto meus olhos e ele me fita com ansiedade.
— Vou pensar, Magno. O fora que você me deu me machucou muito
porque você foi o primeiro homem que eu quis realmente me envolver.
Prometo que vou pensar com carinho — digo, o coração martelando no peito
com força. Mais ainda vendo a cara de dor que ele faz.
Ela baixa a cabeça em derrota e quando a levanta, vejo lágrimas
deslizarem em seu rosto barbudo.
— Eu realmente não mereço você, Lisa. Mas como sou um filho-da-
puta, vou esperar ansioso que me dê novamente outra chance — sussurra com
a voz rouca e triste.
— Combinado, agora vamos, tenho que comprar vários itens para
casa.
Ele se levanta também.
— Posso ir com você? — murmura, ansioso.
— Claro, desde que se comporte e carregue as sacolas — brinco no
intuito de tirar um pouco sua tristeza. Ele sorri, o primeiro que vejo em muito
tempo.
— Carrego o que você quiser, borboletinha.
Assim passamos a tarde, comprando os itens que tinham acabado em
minha dispensa.
Conversamos como nos velhos tempos e vi a cor voltar aos poucos
nas faces encovadas de Magno.
Nos despedimos na portaria, vi que ele esperou que eu o convidasse
para subir, mas ele teria que esperar um pouco. Afinal, já me teve nas mãos e
não deu valor. Homens!
Essas semanas foram as piores da minha vida. Deletei todos os nomes
de minhas ex-amantes do meu celular. Esperei passar um tempo para me
purificar das putarias e sujeiras que fiz no dia que rejeitei o presente mais
belo que alguém poderia me dar. Lisa me ofereceu sua confiança, pureza e a
pisoteei como o grande covarde e mentiroso que sou. Fiz a merda de trepar a
noite toda achando que a tiraria de minha mente. Mas me enganei, ela não
estava na minha cabeça, mas sim no coração.
Perdi o apetite, quase não comia, mas bebia várias vezes ao dia até
cair desmaiado de tão bêbado. Ainda bem que fiz essas merdas na minha casa
na Vila dos Ipês. Lá, Lili olhava por mim. Me viu bêbado muitas vezes e
chorando e cuidava de mim com amor e muita paciência.
Em um determinado dia eu a vi sorrir e fiquei sem entender o motivo.
Perguntei por que sorria de minha desgraça e ela me disse que estava feliz
porque finalmente eu estava amando e que queria conhecer a mulher que me
colocou de quatro.
Contei a ela as merdas que fiz e Lili ficou horrorizada. Me deu vários
petelecos na cabeça, mesmo eu estando arrasado e na lama. Me chamou
atenção com raiva e mandou eu consertar meus erros com Lisa e contar toda a
verdade. Irei fazer o que ela sugeriu... em partes. Vou reconquistá-la e pedir
perdão por tudo, mas não vou contar o que fiz, tenho verdadeiro pavor de
somente pensar que não me perdoará, e que então a perderei.
Resolvi parar de beber, mas continuei sem apetite, comia somente
quando Lili me obrigava e com isso perdi peso.
Depois de quase duas semanas sem trepar, me senti mais limpo para
procurar minha menina. Minha sim, porque eu vou reconquistar sua
confiança e amor também. Eu a amo. Foi amor à primeira vista. Somente eu
não quis ver, em minha total ignorância.
Se isso não for amor, não sei o que é então!
Tenho necessidade de ouvir sua voz, sua risada, sentir seu cheiro e me
sinto bem, amado e querido em sua casa. Lá transpira amor, lá é um lar.
Quero isso tudo para mim. Quero ter filhos com ela. Quero adorá-la, amá-la e
respeitá-la. Quero ser fiel e me entregar de corpo e alma somente para ela.
É isso que quero de minha Lisa Borboletinha Melo. E vou conseguir,
nem que para isso passe a vida toda rastejando, provando a ela que a amo de
todo coração. Espero que o passado nunca venha bater em minha porta para
cobrar as merdas que fiz, principalmente em relação a Lisa. Pagar para trepar
com ela... a tratei como uma puta qualquer e tenho verdadeiro terror de que
ela venha descobrir isso. Sei que não me perdoará.
Ela me fala com asco sobre a proposta que o vagabundo do patrão de
Artur fez... porra, tem noites que não durmo. Vivo assombrado com medo de
que Lisa descubra que esse homem sem caráter sou eu.
Quero o passado no passado. Sou um novo homem. Vou provar isso
para Lisa, penso aliviado e pronto para reconquistar minha menina.
Claro que a sigo de longe, nem por um momento deixei de montar
guarda perto de seu apartamento. Em algum momento do dia sempre passava
por lá e várias noites dormi dentro do meu carro.
Lúcio sabia e muitas vezes levou água e café para mim.
Fizemos amizade e ele me dizia que minha menina quase não saia.
Realmente a magoei. Caralho se isso não me machuca demais.
Hoje, Lúcio me ligou e disse que ela sairia para entregar mercadoria e
claro que, na hora exata, eu estava lá esperando.
Quando saiu e a vi, meu coração disparou e senti até tontura. Porra se
ela não é a mulher mais linda do mundo.
Corri atrás e chamei seu nome. Ela parou e me tratou com desprezo.
Mereço e aceito.
Rasguei meu coração para ela, só omiti a mancha que aterroriza meu
passado e somente Artur sabe. E sei que posso confiar nele. Claro que preciso
de um tempo para convencer a ele que a amo de verdade, minha pequena e
doce Borboletinha.
Ela me permitiu acompanhá-la ao shopping e ficar o dia em sua
companhia. Isso foi uma conquista e tanto para mim.
Quando voltamos ao seu apartamento eu ainda acalento a esperança
de me deixar entrar, mas tomo no rabo. Ele me despacha do portão mesmo.
Mas vou embora feliz. Só de Lisa ter me deixado ficar com ela
durante todo o dia já foi uma conquista imensa, porque minha menina é
turrona!
Resolvo parar em um bar para tomar uma cerveja.
Me sento em uma cadeira. Estou verdadeiramente feliz. Minha
cerveja estupidamente gelada chega e tomo um grande gole com prazer. Vou
trazer minha menina aqui. Tem um camarão que sei que ela vai adorar. Estou
disperso pensando em Lisa quando ouço uma voz melosa.
— Raul Magno!
Levanto meus olhos e sinto um arrepio percorrer o corpo quando uma
mulher puxa a cadeira e se senta ao meu lado. Sinto que vem merda por aí.
— Que surpresa te encontrar aqui! Cadê o gostoso do Artur? Depois
daquele final de semana pecaminoso que passamos, os três, fiquei somente
com Artur, você sumiu! — Enquanto fala sem parar, estende a mão e toca
em meu pau que encolhe de asco.
Pego sua mão com brutalidade e arranco com força de cima de mim.
— Quem é você, caralho? — Não me lembro dessa puta, aliás não
me lembro de nenhuma mulher pós orgias.
— O quê? Como assim? Esqueceu da nossa orgia àquele final de
semana inteiro? — pergunta, lambendo os lábios com cara de piranha que
pega todos.
— Não me lembro de você, já comi mulheres demais para me lembrar
de alguma. Agora vaza daqui, sua presença me incomoda. FORA! — falo
sem paciência e ela arregala os olhos.
— Você está falando sério? — Faz biquinho e aperta os seios
gigantes.
Olho com desprezo para essa mulher e se já comi realmente essa puta,
o que não duvido dado meu histórico de prostituto, tenho vergonha do que já
fui e com quem trepei. A mulher transpira vulgaridade. Me sinto sujo.
Levanto e saio da mesa sem dizer mais nada e volto para meu carro.
Depois acerto com João, sempre venho aqui quando quero ficar sozinho.
Hoje minha escolha foi infeliz. Ligo o carro e vou para meu recanto,
Vila dos Ipês.
O abatedouro está fechado, não tenho mais vontade de ir lá. Meu
contrato desse apartamento está para vencer e quando acontecer não
renovarei mais.
Quero focar e investir em uma relação com Lisa Melo, se ela resolver
me dar uma oportunidade. Já tem duas semanas que resolvi não me envolver
com as minhas amantes, agora ex, apaguei todas do celular separado
especificamente para esse fim. Cancelei o número e acabou.
Dirijo sentindo falta de Artur para conversarmos. Agora estamos sem
contato há dias, ele está empenhado em resolver o problema da velha cabeça
dura que não vende a porra do terreno ao lado de minha obra nem fodendo.
Se continuar assim, terei que ir pessoalmente ao Rio e botar para quebrar. Sei
que se eu for, vou ferrar tudo, não tenho paciência com essas coisas. Artur
sabe lidar melhor com esses casos delicados.
Ligo o rádio e está tocando uma música que fala muito ao meu
coração que agora voltou a pulsar por uma única mulher.
Sentimento bom esse, aquece o corpo todo, penso com um sorriso
feliz no rosto.
A música que toca é Please forgive me de Bryan Adams (Por Favor,
Perdoe-me). Adoro as músicas desse cara. São da minha época, penso
divertido.
...Por favor, perdoe-me
Não sei o que faço
Por favor, perdoe-me
Não posso parar de amá-la
Não me negue
Essa dor que estou sentindo
Por favor, perdoe-me
Se eu preciso de você tanto assim
Por favor, acredite em mim
Cada palavra que eu digo é verdade
Por favor, perdoe-me
Não posso parar de amá-la...

...Sim! Não posso parar de amá-la!

Canto junto com o cantor, prestando bem atenção na letra e porra se


não me sinto exatamente assim. Sorrio de lado.
Gostei dessa música, vou colocar em meu celular como toque de
chamada, penso satisfeito.
Vejo as árvores passando como um borrão enquanto dirijo sozinho
pela estrada vazia. Sozinho, mas me sentindo muito bem e em paz como
nunca me senti. Me sinto como se depois dessa decisão de me redimir com
Lisa, a sujeira que me envolve começasse se dissolver, quebrar e ir caindo em
camadas e com isso, vou me sentindo mais leve a cada dia que passa. Essa
mulher realmente mexeu comigo e de uma maneira profunda e boa.
A partir do dia que Magno apareceu aqui com cara de cachorro que
caiu da mudança e resolvi conversar com ele no shopping, ele voltou a me
ligar exatamente como fazia antes de me dispensar. Três vezes ao dia
mandava flores, bombons e algumas vezes passava e deixava na portaria com
Lúcio alguma cartinha linda.
Ele me dizia que, em sua época, se escreviam cartas em vez de
mensagens por whatsapp, pois isso ainda não existia. Ele adora exagerar.
Sorrio feliz. Me manda também, muitas mensagens por whatsapp, ensinei a
ele enviar emojis. Ele aprendeu e mandava sem parar, parecia um menino
quando ganhava um brinquedo novo. Magno estava se mostrando um homem
tão diferente.
Após passar uma semana desde a ida ao shopping resolvi que daria
uma chance a ele, ou melhor a nós dois. Já tinha me decidido que ele seria
meu primeiro homem quando nos conhecemos e agora lhe daria uma nova
chance, pois meu corpo e coração queria somente ele.
Hoje vou ligar para ele e convidá-lo para sairmos, pois sei que Magno
está somente esperando, como sempre faz questão de frisar, meu sinal verde.
Será dado hoje, penso, finalmente em paz com minha decisão.
Pego meu celular após separar as minhas pedras novas que chegaram
e ajeitá-las nas araras. Gastei o dia todo para organizá-las por cores, formatos
e peso. Enquanto isso, Magno me entope de emojis, olho feliz para o
resultado de um dia tão trabalhoso, mas satisfatório.
Quando vejo a quantidade infinita de mensagens de Magno, sorrio
feliz. Ele está se libertando e desprendendo bastante de sua vida ranzinza.
Está mais solto e feliz. Logo quando nos conhecemos era muito travado e
sisudo. Falava quase que somente em serviço. Agora o vejo mais leve,
brincando e sorrindo muito.
E puta merda, o homem é lindo, penso já ovulando, doida para dar
para essa montanha de músculos deliciosa.
Já chega, cansei de guardar minha pureza. Quero que Magno coma
essa tão resguarda joia, como ele a chama, e não a terra. Já disse, sou virgem,
mas não burra. Sei reconhecer um homem gostoso de longe. E Magno ocupa
o pódio de gostosura. Homem lindo e cheiroso esse!
Ligo para ele que atende de imediato. Sorrio.
— Gostaria de falar com Magno, por favor — digo fazendo charme,
me sinto à vontade para isso agora, ele me deu essa liberdade sendo esse
cavalheiro que se apresenta a cada dia.
— Quem gostaria de falar com ele, senhorita? — Ele entra na
brincadeira. — Vou logo avisando que ele só tem olhos para uma mocinha
chamada Lisa Borboletinha — fala fazendo charme.
Puta merda! Minha calcinha fica ensopada. A voz rouca desse homem
é um caminho certo para o prazer.
— Por quê? Ela é o que sua? — pergunto ansiosa, o coração
disparado.
— Para mim é namorada, falta somente ela me dizer o sim que
aguardo ansioso. Já a considero como minha namorada, a respeitando e sendo
totalmente fiel — diz, dessa vez sério, e meu coração parece um tambor.
— Mulher de coração duro, essa, hein? — digo suando frio.
— Eu mereço, fui um verme com ela... e espero do fundo de meu
coração que ela perdoe todas as merdas que fiz, por isso, aguardo com
paciência. Ela é um tesouro valioso. Vejo isso claramente agora — diz,
baixinho.
Estou vermelha e quente. Porra de homem gostoso e gentil, esse
Magno!
— E se essa mulher tão bem cotada em seu conceito resolver aceitar
seu pedido de namoro, o que você fará? — pergunto rapidamente, antes de
perder a coragem.
— Lisa? Caralho! Estou chegando aí. — Desliga em minha cara e
vejo chegando uma chuva de emojis de carinhas com olhos de coração.
Homem louco esse, sorrio de felicidade.
Corro para tomar um banho para podermos sair.
Saio do banheiro e me seco rápido, espalho creme de jasmim pelo
meu corpo todo, depilação a laser no jeito. Após secar os meus cabelos eles
caem por minhas costas, brilhantes e sedosos. Coloco um conjunto de lingerie
com renda, de seda branca, da Victoria Secrets, me sentindo uma verdadeira
Angel.
Um vestido longo branco com bainha de renda rosada e manguinhas
bufantes três quartos. Giro e me sinto linda. Quando pego minha bolsa e
caminho para a sala a sineta toca sem parar e sei que é Magno, ele parece
desesperado para que eu atenda logo a porta. Meu coração está disparado e
minhas pernas bambas. Merda! Primeiro namorado, beijo e homem!
Vou morrer de tanto nervosismo, fecho os olhos e caminho devagar,
respirando fundo.
Abro a porta com uma calma que estou longe de ter e Magno entra
igual a um raio e me agarra pela cintura, me beijando de uma maneira tão
desesperada que sinto meu mundo girar. Cruzo minhas pernas em volta da
cintura desse homem gigante e que parece querer me comer viva. Sua barba
me arranha de maneira que meu corpo todo arde de vontade de tê-lo para
mim. Ele beija meu pescoço e passa a barba sem parar em meu rosto.
— Porra, Lisa, finalmente! Minha namorada, minha! Porra! — E
volta a me beijar com a mesma fome. Me aperta tanto que fico sem ar. Me
esfrego com desespero nele. Sinto seu pau duro e ele me ajeita em cima de
sua ereção e se esfrega em mim com ânsia. Sinto meu corpo reagir a esse
estímulo e ele esquenta de uma maneira que sei que precede a um delicioso
orgasmo. Magno sente que estou tremendo e gemendo baixinho e me faz
deslizar com força em seu pau, mesmo com nossas roupas. Em nenhum
momento ele deixa de me beijar. Estremeço e sou tomada pelo melhor e mais
longo orgasmo que já tive em minha vida. Gemo alto, caio sem forças e
escondo a cabeça em seu pescoço grosso. Sinto Magno beijar minha cabeça
com carinho.
— Porra, Lisa, eu te amo, Borboletinha. Com certeza desde o
primeiro dia que te vi. Só não queria dar nome a essa obsessão do caralho. —
Me beija novamente puxando minha língua como força e gemendo alto.
Magno me carrega para o sofá e se senta comigo em seu colo, fazendo
uma careta enquanto ajeita seu pau duro feito aço. Me olha divertido e coro
toda.
— Amor, não precisa ter vergonha de mim. Sei que é virgem, já me
contou e prometo a você que sua primeira vez será quando, onde e do jeito
que você quiser. Vou somente até onde me permitir, Borboletinha — diz e
acaricia meu rosto com suavidade. Magno me olha com tanta ternura que
meus olhos se enchem de lágrimas.
— Obrigada, meu namorado — digo segurando seu rosto barbudo e o
beijando de leve, seus olhos brilham. — Já disse que amo sua barba e topete
gigantes? — brinco, desfazendo seu topete sempre tão arrumado e penteado.
Ele sorri e me dá um selinho.
— Gosto de penteá-lo e mantê-lo com gel, os fios são muito lisos e
finos. Hoje não deu tempo e vim do jeito que estava — diz e sorri
lindamente. Olho sua roupa; jeans lavado e camisa de linha verde com gola
em V.
— Você fica sempre tão lindo e arrumado em casa? — pergunto,
vendo seu peito estufar orgulhoso.
— Você me acha lindo, Borboletinha? — Sorrio e ajeito seus cabelos
macios.
— Magno! Você fica mais lindo ainda sem gel nos cabelos. — Ele
me olha fixamente e vejo seus olhos castanho-esverdeados brilharem.
— Lisa...eu te amo tanto, pequena! E gel, nunca mais! A primeira
coisa que vou fazer ao chegar em casa é jogar todos no lixo — diz e sorri
largamente. Magno me puxa para me beijar com ânsia.
Quando atendo o telefone e vejo que é Lisa, meu coração salta no
peito, batucando com força. Atendo ansioso, pois aguardo sempre seu sim
com expectativa. Já a pedi várias vezes em namoro, indiretamente é claro,
somente uma vez que falei abertamente e ela ficou mais de três dias sumida.
Depois disso só peço de maneira camuflada, esperando que seu
cérebro acabe aceitando o pedido.
No amor vale tudo, penso desgostoso e divertido ao mesmo tempo.
Como já disse a ela, espero o tempo que for preciso. Descobri a pérola
que Lisa é, e Artur tem inteira razão quando a defende e elogia com unhas e
dentes. Já me considero seu namorado e vivo para ela. Ainda que leve um pé
na bunda, ainda assim, me mantenho casto para ela. Fico encantado toda vez
que ouço sua voz de anjo, a aprecio com os olhos fechados.
— E se essa mulher tão bem cotada em seu conceito resolver aceitar
seu pedido de namoro, o que você fará? — Quando ela faz essa pergunta,
entro em pânico e sou tomado por uma crise de ansiedade tão grande que fico
por uns bons momentos sem ar e o coração querendo sair pela boca.
Ela aceitou! Porra!
Me levanto com rapidez e choque, ficando meio tonto, e me escoro na
parede. Tomo uma profunda respiração, de olhos fechados, e um sorriso tão
largo que meu rosto dói.
— Lisa? Caralho! Estou chegando aí — respondo rápido, desligando
o telefone, mas antes mando dezenas de emojis para ela. Saio em disparada
para encontrar a mulher da minha vida.
Dirijo igual louco, ainda bem que não sou multado. Chego em frente
ao seu prédio em um tempo recorde e quando Lúcio me vê, já abre a porta
sorrindo, e sorrio de volta, o cumprimentando. Aperto o botão do elevador e
quando entro fico sem acreditar que Lisa aceitou namorar comigo. Porra!
Quando o elevador para no andar que Lisa mora, saio correndo e
agarro a sineta e a balanço sem parar, estou em pânico total.
Quando ela abre a porta e vejo a mulher mais linda do mundo me
olhar com timidez, perco o restinho de controle que ainda tinha e a agarro
com força. Faço o que tenho vontade de fazer desde que a vi pela primeira
vez na rua com seus imensos buquês de flores. Minha Borboletinha, mulher
das flores.
A beijo com ganância, paixão e amor, tudo misturado e formando esse
sentimento tão puro e doce que faz meu pobre coração trabalhar dobrado.
Sinto seu cheiro de jasmim, seus cabelos perfumados, seus lábios
macios e rosados, seu pescoço suave e aperto sua cintura minúscula,
enquanto ela me rodeia com as pernas. Meu mundo sacode quando sinto sua
doce boceta apertar meu pau dolorido e inchado.
Eu a esfrego nele com desespero, mas ao mesmo tempo com cuidado,
sei que minha menina é virgem e preciso ser cauteloso, quero que nossa
primeira vez seja um marco de boas lembranças e prazer. Quando ela goza
meu coração se enche de alegria por vê-la tão à vontade comigo, se sentindo
segura.
A carrego até o sofá e a sento em meu colo, faço uma careta de dor ao
ajeitar meu pau, mais duro que aço. Quando olho para ela, está com o rosto
vermelho, ela é muito tímida e perfeita. Sorrio com carinho e a acalmo.
— Amor, não precisa ter vergonha de mim. Sei que é virgem, já me
contou e prometo a você que sua primeira vez será quando, onde, e do jeito
que você quiser. Vou somente até onde me permitir, Borboletinha. — Vejo
seus lindos olhos, que me fascinam por suas cores diferentes, se encherem de
lágrimas. E meu coração se enche do mais puro amor por essa coisinha
minúscula e preciosa.
Ficamos sentados no sofá conversando e quando ela se levanta e me
puxa pela mão, olho interrogativamente para ela.
— Magno, eu me arrumei para sairmos, mas agora quero fazer amor
com você, meu querido namorado — diz me olhando e ficando ainda mais
vermelha e bela, se é que isso é possível.
Pego seu queixo com carinho e olho dentro de seus olhos coloridos.
— Tem certeza, meu amor? Sabe que espero o tempo que for preciso
e... — Ela coloca o dedinho em minha boca me calando.
— Já esperei demais, Magno, e escolho você para ser o meu primeiro
homem. — Sinto meus olhos alagarem, agora o bundão aqui vai chorar.
— Amor... — digo engasgado, parece que o virgem aqui sou eu. Se
bem que nunca fiz sexo com amor, nunca amei. Então de certa forma, é
minha primeira vez.
Me abaixo e a pego no colo, ela é mais leve que uma bolha de sabão,
e mais cheirosa do que um campo de lírios.
— Meu quarto...— diz, baixinho, envergonhada, meu coração
transborda de amor por essa mulher.
— Sim, amor, seu quarto. — Eu a levo com cuidado e a deposito na
cama grande e macia, suavemente. — Quando vi sua cama pela primeira vez,
em uma de minhas visitas, a imaginei nua aqui, tantas vezes, que perdi a
conta. Fiquei satisfeito em ver o tamanho da cama, gigante como eu gosto.
Minha menina gosta de grande, penso malicioso e que ela nunca saiba
desse pensamento devasso.
Vejo ela me olhando com expectativa e sinto meu pau ganancioso se
sacudir e inchar de maneira dolorosa. Abro o zíper para não o esmagar e me
coloco em cima de Lisa, com uma perna de cada lado de seu pequeno corpo.
Desço a cabeça e beijo com paixão minha menina, seus lábios macios
se abrem e aprofundo o beijo, gemendo e sentindo suas mãos macias me
acariciarem nos braços e costas. Sinto ela levantando seus quadris e tentando
se esfregar em mim. Meu pau se contorce com desespero.
Desamarro as alcinhas de seu vestido e puxo com suavidade. Gemo.
Estou diante de uma perfeição plena em minha frente. Seu colo, branco e
aveludado enche minha boca de água. Tiro seu vestido e o que vejo me
alucina, fecho os olhos e conto até dez. A lingerie que está usando é de uma
pureza e inocência que me faz ter vontade de comer essa mulher de uma
forma alucinada.
— Porra, Lisa! Perfeita — digo enfiando a cara barbuda em seus
doces seios e mordendo por cima do sutiã. Ela geme e me segura pelo topete.
— Quero você, pequena. — Abro o fecho do seu sutiã com facilidade
e rapidez, quando vejo seus seios saltarem livres diante de mim, gemo
baixinho em desespero. São perfeitos, médios, branquinhos e os biquinhos
pontudos e rosados. São só meus! Caralho!
Desço de boca aberta sobre eles e faço a festa. Chupo tanto que ela
goza somente com meus cuidados em seus doces seios. Quando ela dá os
últimos tremores, olho como louco para Lisa, com a minha boca cheia de
água.
— Quero chupar sua boceta agora. Quero que goze em minha boca,
pequena. — digo já descendo, e arranco a calcinha com os dentes.
Ela agarra meu topete novamente e caio de boca na fonte de meu
prazer. Sua bocetinha é pequena e delicada. Depilada e rosada. Está ensopada
e seu mel escorre para sua doce bunda. Levanto suas pernas, as coloco em
meus ombros e enfio a cabeça na fonte.
Sugo com força seus grandes lábios e puxo seu clitóris com os dentes,
suavemente, passando a ponta da língua de forma lenta, mas com pressão.
Sinto seu pequeno clitóris se inchar mais em minha boca, durinho igual um
pedrisco e dou um puxão com força. Ela estremece em minha boca e seu
pequeno corpo sacode com força, e a pequena Borboleta grita tão alto que
estremeço de satisfação.
Continuo chupando devagar, igual a um gato lambendo sua tigela de
leite quando acaba.
— Magno... — Ela puxa minha cabeça e solto sua doce bocetinha, sei
que está muito sensível.
Subo beijando seu corpo delicado e paro em sua boca, a beijando
como se saboreasse a comida mais gostosa do mundo. Ela me beija de volta e
sinto seu desejo voltando. Enquanto a beijo, tiro a calça e a cueca e puxo com
os pés. Levanto meu rosto e ombro, puxo a camisa pela cabeça, me sento e
puxo as meias. Volto para minha menina rapidamente, não sem antes vê-la
arregalar os olhos ao ver meu pau gigante, beijando meu umbigo.
— Magno? — Ouço o medo em sua voz.
— Tudo bem, pequena, você foi feita para mim e eu para você. Eu te
amo mais que a mim mesmo. Prometo te dar prazer mesmo sendo sua
primeira vez. Seu prazer será minha prioridade, tudo bem? — digo
acariciando seu rosto suavemente e vendo seus belos olhos coloridos,
confiantes em mim.
— Acredito em você, querido. — Essas palavras são a sua rendição e
confiança em mim, e agora minha missão em fazê-la feliz triplicou, penso
com um nó na garganta.
Deito-me em cima de Lisa e esfrego meu pau em sua doce bocetinha,
sinto seu pequeno clitóris ficar durinho e continuo. A beijo com paixão e
amor e desço para meus dois montinhos de néctar. Mamo, chupo até os
biquinhos ficarem vermelhos, inchados, duros e pontudos. Assopro as
pontinhas e Lisa estremece. Desço a mão e acaricio sua pequena boceta
encharcada, procuro seu pequeno clitóris e está tão duro que espeta a ponta
de meu dedo.
A cabeça de meu pau está em sua entrada, empurro devagar e tiro
suavemente, somente a glande. Continuo massageando seu clitóris e
chupando seus seios, vejo ela endurecer o corpo e seu clitóris tremular em
meu dedo, seu gozo a sacode e aproveito enquanto goza e entro de uma vez,
até o talo. Assim a dor é de uma vez.
Eu a beijo com amor e desespero quando sinto sua maciez e calor. Ela
continua sacudindo o pequeno corpo e eu? Estou aqui, com o pau enterrado e
as bolas pesadas de tanto prazer e desejo. Ela aperta sua bocetinha e perco o
controle mantido a ferro e a fogo até agora, desço a cabeça e abocanho um
seio e puxo com tanta força que ela geme.
Meu pau expande, incha, sacode e jorra minha semente morna dentro
da mulher de minha vida, com abundância. Sinto tudo ficar escuro e um
zumbido forte em meus dois ouvidos me faz desabar em cima de minha
menina.
Fico caído e meio desmaiado em cima de Lisa e quando o mundo
volta a fazer sentido para mim, sinto suas pequenas mãos me acariciando.
— Eu te amo, Magno — Lisa diz com calma, acariciando meu topete.
Acho que ela se apaixonou por ele sem gel. Sorrio satisfeito e relaxado.
Tombo para o lado trazendo comigo minha pequena.
Acaricio suas costas macias e beijo o topo de sua cabeça cheirosa.
Ela se deita em meu peito e sinto seus pequenos seios macios,
esmagados em meu peito duro. Meu pau traidor e sem consideração sacode
avisando que está pronto novamente.
— Obrigada, Lisa, por esse presente que me deu. Sua confiança,
amor e pureza. Enquanto viver, farei tudo para fazê-la feliz, minha
Borboletinha. Eu te amo demais. — Sinto uma imensa vontade de chorar e
abraço com força seu pequeno e doce corpo.
Ela sacode e vejo que meu pau duro novamente a assustou, sorrio.
— Borboletinha, fique tranquila, eu não vou deixar esse safado abusar
de você, prometo. — Sinto seu corpo suave tremer e ela soltar uma deliciosa
gargalhada. Sorrio de orelha a orelha quando ela me olha com os olhos
brilhantes e cheio de amor.
— Eu sei, Magno. Que sempre me protegerá, até mesmo de seu pau
safado. — Pisca sorrindo, me deixando boquiaberto com sua frase tão
inusitada e difícil de ouvir de uma boquinha que anda tão certinha.
— Minha menina, está aprendendo a falar putarias? — Ela sorri e me
beija.
— Já ouviu aquele ditado, diga-me com quem andas e direi quem tu
és? — sussurra com sua mão agarrando minha barba, agora.
— Então eu virarei um anjo — digo com descaramento. Ela gargalha
novamente. E mais uma vez sorrio a ponto de quase rachar meus lábios.
— Tomara que a parte boa seja a influenciadora — fala com cara de
sapeca.
A levo para o banheiro, tomamos banhos juntos e depois conversamos
muito sobre tudo. Ela é maravilhosa. Me mostrou suas novas pedras e
fizemos uma comida gostosa e simples.
Estava ficando tarde e eu não queria ir embora. Estava cagado de
medo de me mandar dormir em minha casa.
— Magno, está tarde e... — Puxo Lisa para mim, beijando-a com
paixão.
— Deixa-me dormir aqui, Borboletinha, por favor? Não vou embora!
— digo fazendo bico e olhando com desgosto para a porta.
— Não, querido, você não vai embora. Vai para nosso quarto e vamos
dormir agarradinhos. — Sorrio largamente, aliviado. A pego rapidamente e
saio correndo com ela para o quarto.
Não resisto e a faço gozar três vezes, somente chupando-a. Ela está
ferida em sua doce bocetinha, afinal hoje foi sua primeira vez e meu pau não
é pequeno.
Eu a ensino a me masturbar e somente de ver suas pequenas mãos não
conseguirem contornar meu pau, me deixa alucinado, e com poucas carícias,
eu gozo igual um lunático. Parece que estou tendo um ataque epilético.
Mulher gostosa da porra!
Depois do banho, dormimos agarrados, igual biscoito casadinho.
Escuto uma respiração baixinha cadenciada. Abro meus olhos
procurando a fonte do barulho e quando viro minha cabeça vejo o homem
mais lindo do mundo dormindo ao meu lado. Seus cabelos sem gel ficam
lindos e estão espalhados pelo travesseiro, meu namorado tem um topetão
liso e sedoso que acho lindo, tanto com gel como sem.
Quando Magno passa gel, fica com cara de CEO foda e quando não
passa gel, fica com cara de MC bad boy fodão. Olho com carinho para esse
homem em minha cama e fico feliz por tê-lo escolhido para ser meu primeiro.
Ele foi extremamente carinhoso, claro que doeu, mas a dor foi aplacada pelo
orgasmo que ele me fez sentir na hora. Mas ao mesmo tempo, penso em
quanta experiência esse safado tem. Ele parece um deus na hora de fazer
amor, sabe exatamente o que fazer e onde tocar. — Safado! — falo alto sem
me conter e puxo seu topete com força.
Ele acorda assustado.
— Amor, o que foi? — Seus cabelos caem em seus olhos e ele fica
ainda mais lindo. Puta merda, estou é muito fodida mesmo!
— Você ficou com muitas mulheres, não é Magno? — falo com uma
ligeira raiva, muito despeitada e com ciúme.
— Amor? O que foi isso agora? — pergunta com os olhos arregalados
de ansiedade.
— Você, Magno, ficou com muitas mulheres, comeu muitas, trepou?
— digo sem entender essa onda de ciúme que me enche agora. Infantil? Sim,
eu sei, mas puta merda, dói quando o imagino fazendo com outras tudo o que
fez em mim.
Ele se senta na cama rapidamente e segura minhas mãos.
— Amor, eu tenho 43 anos e claro que fiquei com muitas mulheres,
você sabe disso, já te contei. Mas não amei nenhuma. A única que tem meu
coração e alma é você, pequena. Aliás, você tem tudo, amor, o pacote
completo de Magno. Você tem meu amor, alma, pau, boca, coração, tudo,
querida, exatamente tudo. E nunca fiz amor em minha vida, a primeira vez
foi com você, a mulher que amo, que me ensinou a amar com sua
graciosidade e perfeição. Lisa Melo, eu te amo e quero ficar o resto de minha
vida somente com você, querida. Sei que é cedo para isso, mas não quero
outra mulher em minha vida. Somente você, amor, é a única que anseio para
ser minha esposa e mãe de meus filhos. — diz com os olhos vermelhos.
Santo Deus, ele é lindo. Me derreto toda e a crise besta e infundada de ciúmes
some depois dessa declaração maravilhosa.
Pulo em seu colo e o beijo com amor. Ele me beija de volta e sinto
todo seu amor e compromisso nesse beijo.
— Desculpe-me, Magno, quando o vi dormindo aí, tão lindo,
imaginei quantas mulheres o viu dormir assim e a maneira que me deu prazer
foi perfeita e pensei nas outras que tiveram o mesmo... — Ele coloca o dedo
em meus lábios com carinho e sorri.
— Querida, em primeiro lugar, nunca dormi com mulher alguma, era
somente sexo. As despachava assim que terminava. — Coro quando me
conta essas coisas, e vejo ele sorrir. — Pequena tímida, essa minha
Borboletinha! Segundo lugar, meu anjo, nunca fiz amor com ninguém,
somente sexo e vou te contar, Lisa, é totalmente diferente. Fazer amor é
perfeito, pequena, é a conexão do corpo e alma juntos. É lindo, amor, e isso
só consegui com você. Borboletinha ciumenta, eu te amo demais! — Me
derreto mais ainda e me sinto amada de fato.
Levantamos e tomamos banho juntos, Magno não deixa passar batido
e me faz gozar novamente e dessa vez ele mesmo traz seu prazer. Fico
olhando como ele se toca e fico sem entender como não dói, porque ele
segura seu pau com tanta força que as veias em seu braço dobram de
tamanho. Ele goza, gritando meu nome e sorrio envaidecida.
Nos vestimos e vamos preparar nosso café da manhã. Fazemos juntos
e comemos com tranquilidade. Fico encantada com nossa conexão e sintonia.
Eu estava esperando Magno esse tempo todo, ele é o homem da
minha vida.
Passamos o final de semana em verdadeira sintonia. Fomos ao
shopping, ao cinema, fizemos compras para minha casa e também muito
amor.
Quando estamos em casa, enquanto eu trabalho em uma nova peça,
Magno fica sentado no sofá do minijardim lendo. Cena linda essa. Me sinto
reconfortada e a sensação de que Magno está no lugar certo me enche o peito.
Ao meu lado, em minha casa. Deus, como eu passei a amar esse homem tanto
assim?
Volto a fazer a peça e quando eu a termino, algum tempo depois, olho
e vejo Magno dormindo placidamente, e meu coração se enche de amor por
esse homem gigante e tão amoroso.
Embalo a peça e a coloco na caixa. Me levanto e caminho suavemente
para não o acordar. Me sento na poltrona ao lado e acaricio seu rosto
barbudo. Ele se mexe e geme baixinho.
— Eu te amo... — sussurro.
— Eu também, pequena — responde com suavidade.
Nosso final de semana foi perfeito e quando ele teve que ir embora,
levou meu coração com ele. Antes mesmo de sair, já estava com saudades e
uma vontade imensa de chorar ou ir junto. Vi que ele passava pelo mesmo
que eu.
— Vem comigo, pequena. — Me pede com ansiedade.
— Não posso, Magno, tenho que entregar peças essa semana — digo
com os olhos cheios de lágrimas.
— Eu te trago no dia, Lisa. Por favor? — Balanço minha cabeça e o
abraço apertado.
— Magno, não faz assim... por favor. — Ele me ergue pela cintura e
devora minha boca. Me deixa deslizar suavemente por seu corpo com pesar,
me olha dentro dos olhos com intensidade. Vira-se e sai rapidamente, quase
correndo.
Quando fecho a porta, meu celular bipa, corro e olho.
Magno.
— Te amo mais que tudo nesse mundo, Lisa. — E muitos emojis de
coraçõezinhos pipocando sem parar em meu celular.
E eu? Chorei de contentamento e amor.
Saí da casa de Lisa quase correndo, senão não sairia jamais. Minha
vontade era de ficar lá até o dia de minha morte, por velhice.
Porra, o lugar parece um casulo de tão aconchegante e cheio de amor.
E a mulher que escolhi para amar e ser fiel até o último segundo de minha
vida, mora exatamente nesse casulo encantado. Lisa faz esse lugar ser tão
especial, que minha vontade é de jamais sair de lá. Caralho, vou escrever
livros de poemas, virei poeta. O que o amor não faz, ou melhor, Lisa me tem
amarrado pelas bolas, coração e alma.
Me despeço de Lúcio, que agora se tornou um aliado, e entro no meu
carro. Minha vontade de voltar é grande e ligo rápido o carro e saio cantando
pneus, senão tenho que voltar para pegar meu coração.
Quando me distancio de onde minha Borboletinha pousa, me sinto
ainda mais agoniado, mas vou direto para as obras ver como estão as coisas.
Lá me distraio.
Passo o dia com vontade de voltar, mas me forço a ficar e dar espaço
para Lisa, sei que sou seu primeiro relacionamento e o homem a quem se
entregou. Meu peito enche de calor e orgulho quando me lembro que me
presenteou com sua virgindade. Porra! É uma honra para um puto igual a
mim. Um cara que já ficou com centenas de mulheres, que sempre as tratou
como prostitutas.
Agora sou presenteado pela vida com a mais bondosa, meiga, pura,
delicada e inocente mulher. Quando penso nisso, me arrependo amargamente
da maneira em que tratei as outras mulheres, e nesse pacote inclui minha
Lisa. Estou fodido se ela descobrir a maneira vil com que a tratei no início.
Mas vou fazer de tudo, enquanto viver, para compensar essa falha que cometi
com ela ao compará-la a todas as mulheres com que fiquei.
Espero que ela nunca descubra, porque tenho vergonha do modo
como agi e medo, verdadeiro terror, de que me dê um pé na bunda bem dado,
ao descobrir minhas mentiras. Eu reconheço que mereço, pelo que fiz a ela e
por tudo que fiz à tantas outras.
Passo a mão em meu topete e estranho meu cabelo sem gel. Sorrio e
me lembro que Lisa disse que adora ele liso. Porra se uso mais gel, nunca
mais! Ele me incomoda, por ser liso demais e a todo momento tenho que
jogá-lo para trás.
Minha cara de CEO quando estou com gel foi para o saco, agora
pareço, como disse minha borboletinha, com um MC fodão! Sorrio
envaidecido. Porra!
Vou até comprar uma moto maneira para mim e colocar minha Lisa
para ocupar a garupa. Somente uma Old Lady tem esses direitos e privilégios.
Sorrio e me sinto um adolescente ao pensar essas coisas. Somente quando
estamos vivendo uma situação diferente que vemos o quanto nos
enclausuramos, porque a sociedade dita como um homem ou mulher de mais
de quarenta anos tem que agir.
Eu seguia os preceitos hipócritas a rigor. Trabalho sem parar, dinheiro
e mulheres. Mas completamente vazio e sem paz e felicidade. Porra, vazio!
Hoje mandei a sociedade do caralho e falsa se foder e vou viver o
amor da maneira que me faz feliz. Sugar Daddy? Foda-se. Quero fazer
minha namorada feliz e ser feliz, o resto vai para a casa do caralho.
Meu dia termina com tudo correndo bem e vou para a Vila dos Ipês.
Quero muito levar minha namorada para conhecer meu santuário, sei que vai
adorar, pois ama plantas como eu, e os ipês estão em franca florada.
Já posso ver a cara de felicidade de Lisa. Porra!
Vou montar um ateliê aqui para que ela possa fazer suas peças sem ter
que ir para seu apartamento.
Assim ficamos mais tempo juntos. Penso com satisfação.
Quando chego em casa sinto o cheiro de comida caseira.
Amo Lili, e Lisa também vai amá-la, não tem como não gostar dessa
doce mulher.
Vou para a cozinha de onde esse cheiro maravilhoso vem.
— Cadê a minha segunda mulher favorita de todas? — falo beijando
o alto de sua cabeça. Ela me olha especulativa e fecha a cara.
— Segunda? Sempre fui a primeira! Aconteceu algo que devo saber
ou por que perdi meu pódio? — diz com os olhos brilhando.
Olho com ternura para essa mulher que sempre foi tão carinhosa
comigo.
— Sim, Lili, suas orações foram atendidas. O universo colocou em
meu caminho a mulher mais maravilhosa, doce e terna que um homem
poderia desejar. — falo sorrindo com tanta vontade que meu maxilar dói.
— Raul Magno! — Ela corre e me abraça com força. Sinto suas
lágrimas molharem minha camisa e me enterneço ainda mais.
— Ela é perfeita, mãe. — A chamo assim quando estou muito
sentimental. E ela adora. Levanta seus olhos molhados e sorri.
— Graças a Deus, meu filho. Você merece apesar de fazer muitas
loucuras e bobagens, seu coração é bom e somente ansiava por uma mulher
que te ame verdadeiramente. Não esse bando de exploradoras que te querem
somente pelo dinheiro e por esse corpão. Te fodiam e queriam seu dinheiro.
— Lili! — Fico horrorizado quando ouço essas palavras torpes saírem
da boca dessa santa mulher. Ela me solta e me olha divertida.
— Raul Magno, eu já fui jovem e gostava da coisa. — Pisca matreira,
voltando a picar as verduras.
— Lili! — Estou abismado. Arregalo os olhos e balanço a cabeça para
não imaginá-la fazendo certas coisas.
— Vai tomar banho, meu filho, e volta rápido para jantar, sabe que
gosto que coma tudo quentinho, não é? — diz, severa.
— Tudo bem — concordo com docilidade e vou tomar meu banho.
Lili falou, acabou. Sorrio satisfeito e muito feliz.
Estou louco para trazer Lisa para conhecer Lili, a mulher que sempre
me tratou como filho desde que começou a trabalhar para mim, e ainda era
um homem sem sentimentos e desconfiado do amor das pessoas. Para mim
não existia amor puro e genuíno. Descobri com Artur e Lili que existe sim, e
agora com minha Lisa.
Tomo banho, desço e jantamos em meio a uma paz gostosa e
reconfortante. Beijo sua bochecha e vou para meu quarto.
— Boa noite, Lili. — Ela me abraça forte.
— Boa noite, filho.
Subo rápido a escada e me deito na cama, sorrindo de orelha a orelha
e ligo para minha pequena.
Ela atende no primeiro toque.
— Oi, meu amor. — Me ajeito no travesseiro e pergunto com o
coração cheio de calor.
— Oi, querido, como foi seu dia? — Ouço sua voz doce e suave.
Meu coração aquece.
Conversamos por mais de uma hora e quando nos despedimos, me
sinto triste e vazio. Gostaria que ela estivesse aqui para ver as estrelas pela
claraboia e as flores dos ipês.
Em breve... fecho meus olhos e durmo um sono tranquilo e sereno,
como há anos não tinha.
Sinto saudades de Magno e minha vontade é ir correndo até onde ele
está. Ele me liga todos os dias e manda mensagens várias vezes também. Sei
que Magno também está ansioso para me ver novamente. Mas combinamos ir
devagar e nos encontrarmos na sexta-feira, assim ele fica todo o final de
semana comigo, aqui em meu apartamento.
Já recebi minhas flores do dia. Ele continua me mimando e as
enviando diariamente.
Me levanto desanimada e me arrasto para o banheiro. Tomo um
banho demorado, me levantei cedo, pois não consigo mais dormir, a saudade
me deixa ansiosa e triste.
Saio do banheiro, me enxugo, seco meus longos cabelos e passo
creme no corpo. Magno adora o cheiro de jasmim do meu hidratante, me
disse que dá vontade de me engolir inteira. Sorrio e meus olhos marejam.
Puta merda, não sabia que quando você está amando fica tão emotiva. Hoje
decido usar um de meus vestidinhos frescos, e subo descalça para fazer meu
café. Estou passando o café e arrumando a mesa quando ouço a sineta tocar.
A pessoa está com pressa, porque além de quase arrancar a sineta
ainda esmurra a porta. Desço rápido e olho no olho mágico, quando vejo
quem é, meu coração dispara e minha calcinha molha. Meu Deus, estou
alucinada com esse homem.
Abro a porta tremendo e ele avança com tudo para cima de mim. Me
agarra e me levanta com força, tomando minha boca com desespero. Me
esfrega em seu pau, tão duro que me deixa atordoada e mais molhada.
— Eu te amo, porra! Te amo, amo, amo... — murmura sem parar de
me beijar.
Tento dizer que o amo, mas ele continua chupando minha língua com
tanta força que parece que vai arrancá-la.
Magno me carrega e me encosta na parede, sem parar de me beijar,
abre o zíper da calça, empurra minha calcinha de lado e entra com uma única
estocada. Gemo deliciada.
— Caralho de boceta quente e apertada... só minha. — diz, gemendo e
empurrando com força.
— Magno... — gemo e sinto sua grossura me alargando.
— Fala, gostosa! Está bom, hein? Quer mais forte, mais suave? Me
diz, amor — geme, entrando e saindo sem parar.
— Forte, bem forte, Magno! — Ele me segura com força, me beija
com ganância e mete com força. Sinto minhas costas baterem na parede e seu
pau engrossar ainda mais. Ele levanta minhas pernas e bate em um ponto que
me faz gemer e estremecer. Ele sabe o que está fazendo e vejo seus olhos
brilharem, e ele estocar com desespero, batendo nesse ponto que faz a ponta
de meus pés enrolarem.
Sinto um calor intenso me tomar e reviro meus olhos quando sou
tomada por um gozo que me faz tremer e gemer alto, enquanto Magno entra
em desespero, estocando com uma velocidade que reforça ainda mais meu
gozo.
Sinto ele inchar e me encher de seu gozo morno e espesso.
Continua entrando e saindo, agora mais suavemente, até parar e me
olhar nos olhos com um sorriso satisfeito e doce.
— Desculpe, amor, não aguentei esperar até sexta como combinamos.
Eu tentei, mas não deu. Quando dei por mim, carinho, já estava aqui em
frente sua porta e quando te vi, perdi o controle. Te machuquei,
Borboletinha? — pergunta, ansioso, ainda dentro de mim.
— Não, Magno! Eu também estava desesperada para te ver, mas
como não sei direito onde mora, ou qual obra está, não pude ir atrás. Senão
teria ido. — confesso, corada e envergonhada.
Ele sorri e sai de dentro de mim com suavidade.
— Meu amor, vou resolver isso, quero que passe o final de semana
em minha casa na Vila dos Ipês. Você vai adorar, princesa, tem tantas flores
que vai se encantar. Agora estamos na temporada de flores dos ipês. Ia
convidá-la na sexta, mas já que estou aqui, quero você comigo no lugar que
mais amo no mundo. Meu retiro. Lá só vai um amigo meu — diz me
carregando para o banheiro.
Tira nossas roupas e tomamos um banho gostoso e fazemos amor
novamente debaixo do chuveiro.
Nos secamos e vamos tomar o café que estava preparando. Jogo fora
o anterior, está frio e faço um novo.
— Você vai trabalhar hoje, amor? — Magno pergunta, sentando-se à
mesa com um biscoito na mão.
— Não pretendo, por quê? — Passo o café e coloco na mesa. — Não
estou inspirada e nem com vontade.
Ele sorri lindamente, se levanta e me abraça.
— Então vamos comigo hoje para Vila dos Ipês? — pergunta
baixinho e mordendo suavemente meu pescoço.
— Sério? E você? Não vai trabalhar? — Fico alegre com a
possibilidade de ficar mais tempo com ele.
— Eu gosto mais de trabalhar em casa, Lisa. Saio somente quando
sou chamado para resolver alguma coisa mais grave. Tenho equipes que
resolvem quase todos os problemas, monitoro de casa, querida — diz
sorrindo e apertando minha cintura. — E então, você me daria essa honra?
— Me olha ansioso.
— Sim, claro que vou. Mas preciso levar minha maleta de trabalho,
não gosto de sair sem ela, pois as ideias chegam em momentos inusitados e
eu as desenho e produzo imediatamente. — Nos sentamos e começamos a
tomar nosso café.
— Claro, meu amor, vou arrumar um lugar na casa para você ter total
privacidade para trabalhar e...
— Não! — engulo o café e o corto. — Não quero que tenha nenhum
trabalho comigo. Faço meu trabalho em qualquer cantinho — digo,
constrangida.
Ele me olha bravo.
— Está maluca, pequena? É seu trabalho e farei sim, um lugar
apropriado para você trabalhar, afinal, te quero lá todo o tempo que puder. —
finaliza e pisca para mim, coro.
Passamos o dia juntos e fazemos amor várias vezes. Estou me
viciando em Magno. Homem gostoso!
A tarde arrumamos minhas roupas, minha maleta com meus materiais
para trabalhar e fomos para o lugar que, segundo Magno, eu iria amar. É o
seu lugar favorito para recarregar suas energias e poderei recarregar as
minhas também. Me diz tudo isso com os olhos brilhando.
Acordei hoje agoniado, sinto falta da minha namorada. Quando falo
namorada, meu coração aquece. Já tenho mais de quarenta anos e nunca
namorei, somente transava indiscriminadamente. Sou completamente virgem
na parte emocional. Porra!
É uma vontade louca de estar com a pessoa querida e amada cada
segundo de nossa vida. Me levanto arrastado, tomo um banho e Lisa não sai
da minha cabeça. Caralho, nem pareço um senhor caminhando para meio
século de vida, bem vivida, diga-se de passagem, e com centenas de mulheres
comidas.
Merda! Minha menina é diferente de todas, penso que estava
esperando justamente esse anjo em minha vida devassa.
O que me tira a paz é o pavor de que ela descubra minhas mentiras e
de como fui um canalha e escroto quando a conheci. Tenho vergonha de
como procedi com ela. E um medo descomunal gela minha alma com a mera
possibilidade de Lisa descobrir minhas mentiras e maracutaias. Isso tem me
tirado o sono. Caralho!
Já pedi a Lili para me chamar somente de Magno, e vou arrumar um
jeito de contar a Lisa toda a verdade. Claro que vou omitir a parte que ofereci
dinheiro para trepar com ela. A tratei como uma puta. Porra, a mulher mais
doce e pura que já conheci em meus 43 anos de vida.
Desço e vou para a cozinha, gosto de fazer as refeições com Lili.
Ela já colocou a mesa e me sento, triste e carrancudo.
— Posso saber o porquê dessa carranca, Raul Magno?
— Não! — resmungo, grosso.
— Me fale, agora, seu malcriado! — diz com as mãos na cintura
gordinha, com cara de brava.
Sorrio e corto um pedaço de pão fresquinho que ela faz todos os dias.
Essa mulher me mima demais. A amo muito.
— Lisa — falo, simplesmente.
— Sua namorada? — pergunta com um sorriso de orelha a orelha.
— É. — Não estou com vontade de conversar, estou com saudades de
Lisa. Quero beijá-la muito e ficar com ela.
— Tem gente aqui hoje que está mal-humorado, hein? Levanta essa
bunda musculosa da cadeira e vai atrás de sua namorada, homem mole! —
diz com cara de brava. Olho para ela e de repente sinto o mundo ganhar cores
e calor. Sorrio com tanto prazer que doem os músculos do meu rosto. Me
levanto num pulo, corro, beijo Lili e saio em disparada. A ouço murmurar:
— Esses meninos! — Sorrio ao ouvir ela se referir a mim e ao Artur
como meninos. Dois homens maduros com mais de quarenta anos no lombo.
Entro no carro e saio vazado. Quando dou por mim, já estou
agarrando e fazendo amor com a mulher da minha vida. Me mostro a ela sem
pudor e digo em alto e bom som que a amo.
Passamos um dia maravilhoso e quando vai chegando à tarde, entro
em pânico somente de pensar em ir embora sem ela.
A chamo para ir comigo para a Vila dos Ipês, um lugar onde nunca,
jamais, levei mulher alguma. Somente Artur e Lili tem liberdade em minha
casa. O pessoal que dá manutenção no jardim, piscina e limpeza quinzenal na
casa toda também tem acesso, mas restrito. A casa é muito grande para Lili
limpar sozinha.
Quando Lisa aceitou, vibrei de felicidade, achei que teria que insistir
muito, pois ela é muito comprometida com seu trabalho.
Vou preparar um lugar especial, com tudo que ela precisa para
trabalhar em minha casa, na Vila. Quero que ela fique o maior tempo possível
comigo. Agora estamos chegando e minha menina está vibrando.
Já adentramos a Vila dos Ipês. Eu, que já vivo aqui há anos, ainda não
me acostumei com tanta beleza. Imagina ela!
— Magno! Aqui é lindo! — Bate palmas igual criança, e meu coração
enche de prazer e amor por essa pequena mulher.
— Não te falei, amor? Depois vamos explorar e você ficará encantada
com a quantidade de pés de ipês que temos — falo com orgulho desse
pedacinho do céu onde tenho o prazer de viver.
— Por isso que se chama Vila dos Ipês? — pergunta, curiosa e segura
minha mão com carinho.
— Sim, pequena, exatamente por isso. Você que é uma borboletinha
que ama flores, ficará encantada quando chegarmos em minha casa — digo,
fazendo suspense e ela me olha curiosa.
— Me conta! — Segura meu braço e sorri lindamente.
— Não falo! Surpresa! Garanto que certa abelhinha vai surtar e
produzir muito mel... — Falo cheio de malícia, deixando-a ainda mais
curiosa. Estamos quase chegando.
Viro a rua arborizada e cheia de ipês coloridos e ela suspira de prazer.
— Magno, olha o chão, parece um tapete de flores. — Seus olhos
brilham de encantamento, dá para ver a alegria estampada em seu rosto
delicado.
Reduzo a velocidade para que ela possa apreciar melhor.
— Posso descer e ir a pé até sua casa, amor? — Gargalho alto com
seu jeitinho doce de falar.
— Depois voltaremos, querida, e você pode passear o quanto quiser
— prometo, tomado de amor por essa pequena mulher.
— Combinado. — Segura minha mão, e quando paramos em frente à
minha casa de vidro, vejo ela engolir em seco.
— Meu Deus! Morri e estou no paraíso! Magno! Tem árvores dentro
de sua casa? Como assim? — fala abrindo a porta e sai correndo, parando em
frente à minha casa com as mãos na boca.
— Deus! — continua, estou parado ao seu lado, me sentindo o
homem mais feliz do mundo. Ela sente o mesmo que eu ao chegar aqui, todas
as vezes me encanto com o projeto arquitetônico dessa casa. Engenhoso e
belo. Sua integração com a natureza a faz única.
— Então, minha namorada, gostou? — Seguro-a pela cintura, por
trás, e esfrego meu pau duro em sua doce bunda.
— De quê? Da casa ou do seu pau duro? — Assusto-me com sua
ousadia e meu pau fica mais duro ainda.
— Dos dois? — pergunto, safado.
— Sim, adorei a casa! — a danadinha fala e se cala, fico esperando-a
falar que adora também meu pau e nada.
— Só a casa? E meu pau? — sussurro em seu ouvido e a vejo se
arrepiar toda.
— Ah, seu pau! Simm, adoro também! — Sorrio feliz e ela me beija.
E correspondo com todo amor e desejo que sinto por essa mulher.
Tenho que me afastar com esforço, senão vou comê-la aqui fora ou
gozar nas calças.
— Querida, vamos entrar, senão vou passar vergonha aqui fora. —
Arrasto-a para dentro e vejo que fica estática quando entramos.
Seus olhos coloridos passeiam pela sala imensa e ela caminha até o pé
de ipê amarelo, contorna seu tronco grosso, passa a mão com delicadeza e se
agacha, pegando uma das centenas de flores que estão ao redor do tronco no
chão, onde foi feito um lindo jardim.
Levanta seus olhos e vejo lágrimas.
— Magno, nunca vi nada tão lindo em minha vida. Não sabia que
podia ter árvores plantadas e gigantes dentro de casa — me diz com
ingenuidade, igual a uma criança.
— Pode sim, amor, eu mesmo já reformei várias casas com essa
proposta — digo com carinho.
— É lindo, parece que estamos no meio de uma floresta — continua
apanhando as flores que estão caídas e suas pequenas mãos já estão cheias.
— A intenção é exatamente essa, querida. Vou te apresentar a Lili,
minha segunda mãe e te mostrar o resto da casa. Vai amar a parte de cima, da
sacada dá para você colher cachos de ipês — digo e sei que vai adorar essa
experiência.
— Colher flores da sacada? — pergunta com os olhos brilhantes.
— Sim, pequena. Vem, vamos conhecer uma das mulheres mais
especiais de minha vida. — Ela me olha fixamente.
— Mulheres? — pergunta baixo e carrancuda.
— Sim, amor, você e ela são as mulheres da minha vida. — Sorri e
me estende a mão cheia de flores. Caminhamos e deixamos um rastro de
flores amarelas até chegarmos à cozinha. Me sinto em paz e tão feliz que não
tem como dimensionar.
— Lili, trouxe uma pequena borboletinha para você conhecer, essa
pequena adora flores. — Vejo Lili sorrir de orelha a orelha e Lisa ficar
encabulada e corada. — Lili, minha namorada, a mulher que conquistou meu
coração, amor e fidelidade. Lisa, Lili, a mulher que cuidou de mim quando
mais precisei — falo engasgado de emoção por ver juntas as duas mulheres
que mais amo no mundo.
Lili, mais desinibida, anda rápido e abraça minha pequena.
— Prazer, minha filha, não sabe como fico feliz por ver que
finalmente meu menino tomou juízo e arrumou uma mulher decente.
— Lili! — falo sem jeito e com receio de Lisa ficar brava comigo.
— Prazer, Lili, sei que esse jovem senhor não foi flor que se cheire.
Mas agora espero de coração que tenha tomado jeito. Pois não gosto de
mentiras e traições — diz abraçando Lili e não vê o quanto fico pálido.
Me encosto na parede e sinto falta de ar. Abaixo a cabeça suando,
passo as mãos pelos cabelos e levanto o olhar, as vejo me olhando assustadas.
— Magno! — Lisa corre para meu lado e me olha assustada.
— Raul! — Lili chega rápido e coloca a mão em minha testa.
Lisa me olha e franze a testa, me arrepia a alma.
— Raul? — pergunta olhando-me fixamente. Me sinto mal,
completamente fodido.
— Raul Magno, filha — responde Lili, preparando um copo com água
para mim.
Olho para Lisa com o coração na mão e falo o que vem na cabeça.
— Eu detesto esse nome Raul. Somente Lili o usa — digo, olhando
feio para Lili que me olha consternada e balança a cabeça, como se me
dissesse que comecei mal, mentiras não prestam.
— Você não gosta de seu nome Raul Magnum? É um nome tão lindo
— diz passando a mão com suavidade em meu rosto e a culpa me dilacera.
Lili me olha com censura e pede licença. Baixo a cabeça,
envergonhado.
— Filha, fica à vontade, vou fazer um almoço caprichado para você e
depois quero que experimente um doce de milho-verde que fiz — diz para
Lisa e me olha com desgosto. Me encolho e puxo Lisa rápido, para sairmos
dali.
Sinto que vou perder Lisa com tantas mentiras que já contei. Caralho!
Entro em desespero e minha vontade é de pegar minha menina e sumir com
ela para um lugar onde ninguém nos conheça. Preciso arrumar a porra dessa
merda que me enfiei. Estou atolado de mentiras até a alma.
Levo-a para o andar de cima.
Ela fica encantada com as paredes de vidro e corre para a varanda.
Pega nos galhos de Ipês que estão pesadas devidos aos imensos cachos de
flores.
— Magno! — grita segurando na mão um cacho gigante de ipê
branco. — Esse é branco! O de baixo é amarelo. São lindos e perfumados.
— Tem rosa também, pequena, venha que te mostro. A levo ao outro
lado da casa, em outro quarto e o pé de ipê rosa está pesado de flores. Ela
estende a mão e passa com suavidade nos cachos. Vejo lágrimas descendo de
seu pequeno rosto.
— Magno, nem se viver mil anos verei beleza como essa! — Vem
correndo e me abraça. — Obrigada por me proporcionar esses momentos
únicos.
Sinto como se uma faca fosse cravada bem fundo em meu coração e
meus olhos se enchem de lágrimas. Remorso e nojo de mim mesmo me
inundam. Essa mulher não merece um mentiroso como eu. Porra! Mas não
consigo abrir mão dela. Fungo e ela levanta a cabeça, e me olha com esses
lindos e ternos olhos coloridos.
— O que foi, amor? — Limpa meu rosto com suavidade.
— Nada... Lisa... abelhinha, não sei se te mereço. Você é perfeita,
pura e muito nova. —Ela coloca o dedo em minha boca.
— Não fala isso nem brincando. Nunca namorei, nem fiquei com
ninguém, sabe por quê, Magno? — Balanço a cabeça sem poder falar, estou
engasgado.
— Porque estava esperando e me guardando para você, amor. —
Quando diz isso, sou sacudido por um soluço tão alto e sofrido que ela se
assusta. Me sinto um verme e tenho vergonha de estar aqui com ela. A culpa
me alastra e corrói.
— Me perdoe, Lisa — digo e saio rapidamente do quarto.
Ela me olha assustada e fica parada no lugar sem entender nada.
Saio quase correndo do quarto e vou para o único lugar que me sinto
em paz depois de minha casa. Um pé de macieira que fica afastado da casa
uns dez minutos. Mandei colocar um banco de madeira tratada debaixo do pé
de maçãs. Já comi muitas maçãs aqui. A vista é linda e vemos a longa
extensão de pés de ipês que formam a vila.
Aqui, fiz um pequeno pomar. Mas gosto mesmo é de minha macieira
e Lisa vai adorar. É aqui que venho quando quero pensar, chorar e ter um
pouco mais de paz. Me sento e contemplo a natureza que é tão bela e me
sinto um desgraçado. Coloco os cotovelos nos joelhos e seguro minha cabeça
em completo desespero. Sinto as lágrimas descerem sem controle. Se pudesse
voltar ao passado e apagar tudo que fiz a Lisa, todas as mentiras...
Pondero com angústia minhas opções. E todas me dizem que perderei
Lisa. Isso me enche de aflição, dor e desespero.
Não entendi o comportamento de Magno desde que cheguei aqui, ele
está estranho e aquela alegria genuína de quando saímos de meu apartamento
parece que se perdeu logo que chegamos. Tem alguma coisa incomodando-o
e ele ter me omitido seu primeiro nome foi estranho. Aliás, tem algo muito
estranho aí nesse meio e sinto uma fisgada em meu peito. Ele me disse que se
chamava Magnum, depois Magno e agora descubro que é Raul, seu primeiro
nome...
Quero uma explicação sobre isso, mas vou deixar por hora, ele está
muito abalado com algo e tenho que ajudá-lo. Nunca o vi assim.
Desço à procura de Magno e como não o encontro vou à cozinha onde
Lili está terminando o jantar.
— Com licença... — peço educadamente — Ela se vira e me olha
com carinho.
— Oi, filha, tudo bem? — Olha-me preocupada quando vê minha
aflição.
— Não, o Magno ficou estranho de repente e desceu as escadas quase
correndo... não entendi o porquê. Gostaria de conversar com ele, mas não o
acho. Por acaso você sabe onde ele está? — pergunto, angustiada. Ela chega
até mim e pega minhas mãos.
— Sei sim, filha, ele sempre vai para lá quando quer ficar sozinho e
está com algum problema. Ele nunca namorou, está meio atrapalhado e... —
Olho incrédula para ela.
— Ele nunca namorou? Com mais de quarenta anos? — Ela sorri e
sacode a cabeça afirmativamente.
— Sim. Meu menino, no quesito relacionamento sério, é muito
inocente e isso está deixando-o desestruturado. Ele sabe agir com perfeição
somente em relacionamentos sem compromisso onde só sexo conta — me
conta apertando minhas mãos com suavidade.
Meu coração sacode de amor por esse homem que quer amar, mas não
sabe bem como fazê-lo.
— Me diz onde ele está, Lili? — peço, ansiosa para encontrá-lo.
— Claro, filha, venha vou te levar até a metade do caminho. — Puxa-
me pela mão e quando saio da casa, me encanto com o tapete de flores que
contorna o lugar. Que lugar majestoso.
Caminhamos entre os Ipês e ela aponta uma árvore com alguns frutos
vermelhos.
— Lá, filha, debaixo do pé de maça, ele adora aquele lugar. — Vejo-
o sentado no banco com a cabeça nas mãos.
— Cuida dele, Lisa, esse homem já sofreu muito. Apesar de às vezes
fazer muitas merdas. — Sorri de lado e vai embora.
Caminho com leveza até chegar perto da macieira, e vejo que soluça
alto. O que será que está machucando tanto esse homem?
— Amor... — chamo baixinho e com carinho.
Ele retesa o corpo e fica imóvel.
Caminho até ele e passo a mão em seu grande topete que está todo
tombado para frente. Levanto seu queixo barbudo e ele me olha com os olhos
e nariz vermelhos.
— O que está acontecendo, meu amor? — pergunto segurando seu
rosto barbudo entre minhas mãos. Uma lágrima desce e se perde entre sua
barba espessa.
— Eu não mereço você, Borboletinha — diz, simplesmente.
— Por quê? Me traiu? — pergunto com o coração disparado e
doendo.
— NÃO! Isso jamais! Fiz coisas que me envergonham e... — Coloco
o dedo em seus lábios macios, o silenciando.
— Todos fazemos, Magno. Foi seu primeiro nome que me omitiu?
Fique tranquilo, se você não gosta de Raul, só te chamarei de Magno. —
Quando digo isso ele se encolhe e cobre o rosto com as mãos novamente.
— Magno, olha para mim, amor, me conta o que está te fazendo tão
triste, te machucando... — Ele levanta novamente os olhos e me olha
fixamente.
— Eu sou um mentiroso, Abelhinha — confessa com mais lágrimas
descendo.
Ele está muito envergonhado por ter omitido seu primeiro nome, está
certo que não foi muito correto de sua parte, mas também não é para ficar
nesse desespero todo.
— Magno, vamos fazer assim, vamos colocar uma pedra no passado e
deixar lá tudo que você fez, combinado? Isso o deixará mais feliz e
confortável, amor? — Acaricio seu rosto e me sento em seu colo. Ele me
abraça com força como se tivesse medo de me perder.
— Você jura que o passado ficará no passado, Lisa? Você promete
que nunca me deixará e se acontecer alguma coisa me dará chance de me
explicar e redimir? — Estranho essas perguntas, mas como quero vê-lo feliz
e tirar esse peso que vejo em seus olhos concordo.
— Prometo sim, amor, só te peço que nunca me traia ou minta para
mim, por favor. — Odeio traições e mentiras.
— Prometo a você que jamais mentirei... — novamente, acrescento
em pensamento, com vergonha de mim mesmo. — E prometo sempre te
dizer a verdade, e minha fidelidade é sua enquanto viver, meu amor. E te
peço perdão adiantado por tudo que fiz em relação a você e a outras pessoas
no passado — fala baixo e consternado.
Sorrio feliz e o abraço.
— Combinado, agora quero que me mostre tudo aqui, é tudo lindo
demais, Magno! — Ele me beija com sofreguidão.
— Quero você, eu preciso estar dentro de você, Lisa, ou juro que vou
morrer... — Levanta-me e abre seu zíper, coloca seu pau duro feito ferro para
fora, levanta meu vestido e empurra a calcinha para o lado.
Passa a ponta do dedo em minha boceta que está úmida e pronta desde
cedo, fecha os olhos e sorri feliz.
— Molhada e pronta para mim, amor...
Me segura e entra de uma vez até o talo e fica quietinho dentro de
mim. Trêmulo de prazer. Começo a rebolar em cima de seu pau, ele fecha os
olhos e geme alto. Beijo sua barba molhada com suas lágrimas e sinto seu
dedo massageando meu clitóris. Meu corpo sacode de prazer, sinto ele
desabotoar meu vestido e chupar meus seios com força.
— Perfeitos! Porra! Brancos como leite e bicos rosados e pontudos
como adoro! — Chupa somente os mamilos pontudos me fazendo gozar com
força em seu pau duro. Ele geme com meu seio dentro de sua boca e sinto ele
expandir dentro de mim e lançar jatos grossos e vigorosos me alagando de
sua seiva.
— Porra, Lisa, eu te amo, caralho! Porra! — diz baixinho e
pausadamente. Meu homem boca suja.
Ficamos em silêncio entendedor por alguns minutos.
Ele sai de mim, se ajeita e sobe o zíper. Arruma minha calcinha e o
vestido.
— Não se limpe, amor, quero minha seiva dentro de você — fala,
possessivo.
Sorri com carinho, beija a ponta de meu nariz e sobe no banco,
pegando uma maçã grande e brilhando.
— Para você, meu amor, uma fruta de minha árvore favorita de
todas. — Pego a maçã que brilha de um vermelho vivo e dou uma dentada. O
sabor agridoce explode em minha boca e gemo de prazer.
Ele sorri e pega a maçã de minha mão e dá uma grande dentada.
— Deliciosa! — Me devolve o que sobrou e olho com desgosto para o
pedaço, tantas no pé e ele comeu a minha.
— A sua é mais gostosa, amor — Pisca e me pega no colo e vamos
para a casa de vidro coberta de flores de ipês.
Foi o melhor final de semana que passei em anos. Claro que teve o
problema de minhas mentiras do passado tentando chegar em meu presente.
Me apavorei com medo de perder minha pequena, mas ela me disse para
deixar o passado no passado e vivermos em paz o presente e futuro. Me
agarrei a isso.
Isso me acalmou muito, mas ainda tenho terror de que ela venha a
descobrir as merdas que fiz e meter o pé em minha bunda magra.
Estamos namorando firme e tenho total intenção de pedi-la em
casamento.
Já tem meses que estamos namorando e quase todos os finais de
semana ficamos aqui ou em seu apartamento.
Agora estamos ficando quase que a semana toda juntos.
O dia que ela me deu a chave de seu apartamento quase senti um
derrame de tão feliz que fiquei, retribui a gentileza dando a ela a chave de
minha casa.
Eu adoro quando ela chega de surpresa e Lili também. Elas se
tornaram muito amigas e isso me enche de felicidade.
Meu medo é de Artur chegar e destruir tudo que construí com minha
menina.
Ele conseguiu resolver o problema que surgiu no Rio, mas eu sempre
arrumava mais serviços para ele não voltar. Tenho pavor de Lisa descobrir
que ele trabalha para mim, e que todas as porras das propostas indecorosas
foram feitas por mim. Estremeço.
Já quis contar várias vezes, mas o medo de ela me deixar sempre
vencia. E com isso ia adiando...
Hoje estamos em minha casa, ela adora vir para cá. Lili a paparica
demais e enche meu peito de orgulho ver as duas tão unidas.
Já tomei banho e estou aqui de pau duro esperando minha menina.
Ela não tomou banho comigo, estava ajudando Lili a testar uma nova
receita.
Quando a vejo sair do banheiro vermelha devido ao banho quente,
meu pau sacode com força.
Ela sorri e pisca para mim.
— Vem cá, amor, senta no meu pau... — Pego meu mastro duro e
balanço para ela. Quando cora, não resisto e pulo da cama a pegando e
jogando-a com tudo em cima da cama.
— Sua gostosa provocadora! — Arranco a toalha e olho com desejo
seus seios médios e deliciosamente quentes e macios. Agarro os dois e
amasso com gosto, ela geme e esfrega sua bocetinha depilada e macia em
minha perna.
Meu pau anseia entrar, mas vai ter que esperar, hoje quero minha
borboletinha gozando somente comigo chupando seus seios e começo o
ataque. Sei que adora que a faço gozar mamando igual a um louco. Chupo,
mordo com força. Assopro e chupo com gula somente o bico inchado agora, e
sinto ela tremer e sacudir o pequeno corpo gozando deliciosamente.
Aproveito e entro com tudo em sua bocetinha mais apertada pelo gozo.
Estoco com desespero e força, vejo seus seios inchados subirem e descerem
enquanto estoco, à procura de meu prazer. Ela fecha os olhos e gemo alto.
Meu pau engrossa e despejo dentro dela minha seiva morna e grossa.
Desabo em cima de minha mulher e fico quietinho. Viro para o lado e
a arrasto comigo.
— Eu te amo, meu coração — digo a ela com emoção.
— Eu também, meu príncipe gostoso — fala, acariciando meu topete.
Sorrio, ela me disse que é lindo meu topetão! Vou deixar arrastar no chão!
Sorrio de lado e mordo seu pescoço.
Ela sorri e começamos tudo novamente, mulher gostosa da porra!

***
Minha Borboletinha está no lugar que preparei exclusivamente para
ela fazer suas peças. Utilizei um dos quartos, o que ela mais gostou, o de
flores de ipê rosa. A florada já passou, agora eles estão cobertos de folhas
verdejantes.
Ela fica horas lá desenhando e montando seus conjuntos. Não consigo
me imaginar sem ela em minha vida mais.
Estou em meu escritório e meu celular toca. Vejo Artur na tela e
tremo.
— Artur — digo, gelado e com o coração disparado.
— Fala aí, Raul, estou sentindo falta daí, cara, quero ver minha
amiga, e estou pensando em passar um final de semana aí, o que acha? —
Gelo mais ainda com sua pergunta, ele não pode vir, ainda não. Preciso de
mais tempo para contar a Lisa minhas mentiras.
— Não! Quer dizer, preciso de você mais aí do que aqui, Artur. —
Vou mantê-lo lá no Rio somente até criar coragem e contar tudo para Lisa,
essa omissão está me incomodando demais e o simples pensamento de perdê-
la me deixa insano.
Tem noites que perco o sono pensando nisso. Já tentei contar várias
vezes, mas não consigo.
— Quero visitar minha amiga Lisa, perdi o contato com ela. Acho
que trocou o número do telefone. — Quando diz isso, me lembro que a
presenteei com um Iphone e aproveitei e sugeri a ela a troca de número. Não
foi por malícia, mas para ter um pouco de sossego. Muitas pessoas ligavam
para ela querendo uma ou outra peça. E ela sempre tinha que justificar,
dizendo que tinha contrato de exclusividade com a loja que trabalhava. Às
vezes chegavam até a agredi-la com palavras quando dizia que não podia
fazer. E isso veio a calhar, porque assim, Artur não poderia falar com minha
Abelhinha. Eu adicionei todos os contatos, menos o dele, e como Artur disse
a ela que ficaria um tempo sem entrar em contato, ela não desconfiou. Mais
uma mentira. Iria eu mesmo contar tudo a ela. O mais rápido possível. E se
me metesse o pé no rabo, a reconquistaria, nem que para isso levasse a vida
toda.
— Vou organizar aqui e ver como estão as coisas por aí, e retorno em
breve, combinado, Artur? — Tento fazê-lo desistir por hora dessa ideia de vir
para cá. Vou resolver tudo antes, se vem sem eu contar a verdade para Lisa,
estou fodido.
— Combinado, Raul, e como anda as orgias sem seu amigão aqui? —
pergunta, debochado.
Sinto o sangue fugir de meu rosto quando vejo Lisa na porta sorrindo
suavemente.
— Bem, muito bem... — Entro em pânico.
— Raul? — Artur me chama.
— Tudo bem, te ligo assim que resolver tudo por aqui. — Desligo
ouvindo ainda seus gritos indignados. Foda-se, Artur.
Ela me abraça.
— Senti saudades, amor, e vim aqui te chamar para tomarmos café
juntos. — Sorrio todo derretido e esquecido do quão fodido estou.
— Com você, minha vida, tomo até água de sabão. — Faço charme
e a beijo com todo amor que tenho por ela.
Os dias vão passando e cada dia que passa amo mais esse homem. Ele
se tornou essencial em minha vida e agora fico mais em sua casa do que em
meu apartamento. Quando digo que vou ficar um final de semana em meu
apartamento, Magno surta.
Meu amor, esqueceu de adicionar Artur em meu novo telefone, ainda
bem que conferi e corrigi esse esquecimento. Quero muito conversar com ele,
matar saudades.
Aproveito e ligo para Artur e conversamos muito, conto a ele que
estou namorando e ele fica muito feliz por mim. Me disse que conheceu uma
mulher muito especial no Rio e está adorando trabalhar em outro estado.
— Quando você virá me visitar, Artur? — pergunto, sentindo muitas
saudades dele.
— Em breve, querida. Estou meio enrolado com essa mulher e ela
está me dando muito trabalho — diz divertido.
— Artur Campelo! Nada de safadeza com a mulher, respeite-a,
ouviu? Não seja influenciado pelo mau-caráter de seu chefe — digo,
carrancuda e com ranço do patrão de Artur.
— Claro que não, Lisa. Isso não faz parte de minha essência — fala
baixinho e triste. — Mas meu amigo e chefe é uma boa pessoa, prestativo e
quando ama, e quem ama, tem sua devoção e fidelidade eterna, já te disse
isso. O caso com você foi um vacilo que cometeu — defende o patrão,
asqueroso e cafajeste.
— Não quero falar desse homem, tenho asco dele. Odeio pessoas que
acham que dinheiro pode comprar tudo. Vamos mudar de assunto — digo,
ficando nervosa quando lembro do cara de pau que queria pagar para transar
comigo. Infeliz!
— Ok, pode se acalmar, vamos mudar o tema — fala, rapidamente.
E conversamos mais de uma hora de tudo um pouco, e por fim,
desligamos, prometendo ligar novamente em breve.
Hoje estou em meu apartamento, Magno teve que vir resolver um
problema e me trouxe, mas me fez prometer que à tarde voltaria com ele para
Vila dos Ipês.
Arrumo meu apartamento e me sinto meio deslocada aqui. Estranho.
Gosto da casa de Magno, os ipês, Lili e adoro ficar com ele no pequeno
pomar, principalmente debaixo da macieira.
Meu celular toca e olho: Magno.
— Amor? — Sorrio cheia de satisfação.
— Abelhinha, vou atrasar um pouco, o problema ainda não foi
solucionado, estou esperando o responsável chegar e posso me atrasar um
pouco. — Ouço vozes ao fundo.
— Você está em alguma obra? — pergunto ao ouvir gritos.
— Sim, querida, cercado de homens grossos e fedendo a suor — diz,
divertido.
— Raul, podemos dormir aqui hoje, querido. Vou preparar um jantar
bem gostoso para nós, te amo demais, minha vida — sussurro,
completamente apaixonada por esse homem.
— Vou adorar comer o jantar de minha namorada e depois comer a
bocetinha de minha borboletinha — diz com malícia.
— Combinado, estou esperando ansiosa seu pau duro... desculpe,
esperando você, meu amor. — Ouço sua estrondosa gargalhada.
— Porra, querida, você me faz tão bem! Te amo pra cacete, abelhinha.
— Eu também te amo demais, vida! — Desligo feliz e vou preparar
o nosso jantar.

***
Passamos a noite em meu apartamento e fizemos amor até de
madrugada, meu homem estava insaciável.
Voltamos para a casa na Vila dos Ipês.
Estabelecemos uma doce rotina aqui na Vila. Eu em meu novo ateliê
que Magno montou, e ele em sua sala de conferências.
Ele sempre aparece aqui de surpresa com uma maçã, uma flor colhida
em algum lugar de sua propriedade. E muitas vezes vem somente para
fazermos amor, o safado mais gostoso do planeta.
Continuei nossas conversas com Artur, e agora ele quer de todo jeito
saber o nome de meu namorado. Só disse que se chamava Magnum. Parece
que isso o acalmou e ele não tocou mais no assunto.
Está sumido há alguns dias.
Eu estou estranhando o comportamento de Magno, ele anda agitado e
irritadiço, não comigo, mas com as pessoas que trabalham para ele.
E muitas vezes o vi gritando ao telefone com um funcionário que
trabalha para ele em outro estado.
Teve uma noite que acordei e ele estava de pé na sacada chorando
baixinho.
— Magno, o que houve? — Ele simplesmente me abraçou e me
pegou no colo e dormiu agarrado comigo, me dizendo sem parar que me
amava.
Comecei a notar que ele fica assim todas as vezes que atende o
telefone de seu empregado, que trabalha em outro estado. Perguntei se tinha
algum problema e ele negou, disse que era somente problemas nas obras.
Comecei realmente a ficar atenta, tinha algo muito errado e iria
descobrir.
Não tenho mais um minuto de paz. O caralho do Artur está
desconfiado que eu sou o namorado de Lisa e já me perguntou um milhão de
vezes e sempre desvio da conversa.
Estou aterrorizado. Quando minhas mentiras começarem a pipocar,
estou fodido e acabado. Já tentei contar a Lisa várias vezes, mas desisto
quando ela diz que odeia mentiras e traições. Minha coragem evapora.
Estou sem sono e apetite. Na verdade, estou fodido. Se eu perder Lisa,
perderei a alegria que tenho agora e que antes nem sabia que existia.
Sei que ela já está desconfiada. Estou aqui, debaixo do pé de macieira,
tentando pensar em como agir com Lisa. Vou contar esse final de semana,
sem falta, como fui um canalha com ela. Faço esse juramento e me sinto com
um pouco mais de paz. Minha menina não merece viver comigo sem saber de
tudo.
Hoje ela se levanta cedo, claro que fazemos amor antes de
levantarmos. Não perco nenhuma oportunidade de estar dentro de Lisa.
Ela foi entregar suas mercadorias e não me deixou levá-la. Disse que
passaria em seu apartamento e daria uma boa limpeza nele, deixaria as
janelas abertas para arejar o ambiente. Escolheria mais pedras para trazer para
cá, pois tinha vários desenhos de novos conjuntos para fazer.
Com o coração na mão, vejo Lisa ir para seu carro e partir. Toda vez
que ela sai sem mim, fico com a impressão de que a estou perdendo. Deve ser
o remorso de viver em meio a tantas mentiras e omissões.
Fico um tempo aqui e me acalmo com a certeza de que não deixarei
mais passar desse final de semana, eu finalmente contarei toda a verdade para
Lisa. Aproveito e já a peço em casamento. Ela é tudo para mim.
Me levanto, pego uma maçã e mordo, me lembrando do dia em que
Lisa veio aqui e me viu quebrado. Sorrio com o coração transbordando de
amor por essa mulher.
— Esse sorriso eu conheço, é de um homem totalmente apaixonado e
entregue. — Congelo no lugar ao ouvir a voz que tem me tirado o sono.
— Artur? Mas que porra faz aqui? — pergunto suando frio, coração
retumbando, e irado ao mesmo tempo.
— Não sabia que tinha que pedir permissão para visitar meu irmão —
diz com desgosto, me olhando sério. Me arrependo e tento me justificar.
— Porra! Não me avisou... e deixou o trabalho no Rio... — falo, mas
sem argumento algum.
— Tranquilo, irmão, está tudo sob controle, agora vem, me conta
quem foi a sortuda que laçou o homem mais puto e escorregadio da terra. —
Puxa-me para um abraço. Se fosse em outra época o abraçaria com prazer,
mas agora o desespero me toma. Medo de Lisa descobrir tudo e receoso de
Artur me partir a cara. Porra, estou fodido!
Ele me puxa e saio andando igual a um robô, o medo me paralisa,
corta meus movimentos fluidos.
— Lili! — Entra já gritando na cozinha e abraça nossa mãe,
enchendo-a de beijos.
— Artur! Que saudades, meu menino! Você está mais magro. Não
comeu direito? — diz, brava e zelosa, como sempre.
— Estou bem, Lili, só trabalhando demais. — Sorri e a beija no topo
da cabeça.
— Ainda bem que estou fazendo uma canja bem temperada com
galinha caipira. Quero ver vocês três comendo muito! — fala, satisfeita.
— Nós três? — Artur pergunta arqueando a sobrancelha.
— Sim, você, Raul e a namorada dele. Ela é maravilhosa, linda,
educada...
— Porra, Raul, está maluco? — Arrasto-o com rapidez até o
escritório. Deixando para trás, uma Lili sem entender nada. Tenho que dar
um jeito de Artur ir embora antes que Lisa chegue. Preciso contar a verdade
para ela esse final de semana sem falta. Porra, já devia ter feito isso.
Fecho a porta e falo de uma vez.
— Artur, quero que você volte agora mesmo para o Rio... — digo e
ele me olha espantando.
— Tá maluco, Raul? Cheguei agora, cara — diz sem entender, nem
eu entendo como me enrolei em tantas mentiras.
— Você tem que ir, depois eu explico tudo com mais calma, agora
você não entenderia... — Tento ser mais suave, mas o homem é teimoso e
desconfiado.
— Não mesmo, quero saber tudo que está acontecendo e depois vou à
casa da Lisa. Estou com saudades, aliás, ela me disse que está namorando um
tal de Magnum... quero conhecer o cara. Se for um cafajeste vou meter
porrada na cara do desgraçado. Lisa é uma menina inocente e pura. — Sinto
o restinho de sangue sumir de meu rosto e viro de costas para Artur, trêmulo.
— Raul? Cara? Não vai me dizer que... Porra! Porra! Seu desgraçado!
— berra , irado. — Você fez exatamente o que disse que faria! Filho da puta
miserável. — Dá um murro na mesa com força, gritando e avança sobre mim
com ira. Me dá um soco tão forte que voo na parede e caio sentado. Sinto o
sangue escorrer de meu nariz e pingar em minha camisa branca.
Fico calado, olhando Artur impotente e deixo-o descarregar sua raiva
com toda razão em cima de mim. Ele me puxa novamente e me acerta mais
socos no rosto sem dó.
— Caralho, tanta mulher para você comer e tinha que continuar com
seu plano de destruir a vida da Lisa, cacete! Você, Raul Magno, não vale
nada! Te implorei tantas vezes para desistir... — Mais murros, eu já estou
ficando tonto, mas não reajo, Artur tem toda razão. Eu sou um escroto e
mereço ir para o inferno. Choro baixinho e as lágrimas se misturam com o
sangue, minha camisa e calça estão avermelhadas.
Sinto meu rosto e peito arderem pelos murros que recebo de Artur,
mas somente baixo minha cabeça e ouço ele me destruir com palavras,
calado, derrotado e desejando morrer nesse momento. Vou perder a única
mulher que amei em toda minha vida e tudo por culpa de minha obsessão e
mentiras. Soluço. Sinto meu coração doer com força e lágrimas me cegam
com abundância.
Hoje tenho que levar as peças para a loja. Já deixei tudo arrumado e
logo que acordo Magno já está em cima de mim chupando meus peitos com
lascívia e esfregando seu pau duro em minha perna. Adoro quando me acorda
assim, ele é insaciável e me tornei também uma devassa como ele. Fazemos
amor com carinho e paixão. Tomamos nosso banho juntos, ele desce e vou ao
ateliê pegar a maleta com os colares prontos.
Desço e ele está me esperando para tomar café. Olho com amor para
esse homem que aprendi a amar com tudo de mim. E sei que sou retribuída
da mesma forma.
Quando digo que vou sozinha fazer as entregas, Magno surta, mas me
mantenho firme. Preciso limpar e arejar o meu apartamento.
Meu coração quebra quando o vejo tão triste e me olhando sair no
carro com desgosto. Puta merda, o homem é lindo. Sorrio e assopro um beijo
para ele, me afastando devagar. Magno quer que eu use um de seus carros,
mas bato o pé. Eu tenho meu carro popular, maravilhoso, comprei com meu
trabalho, tenho orgulho dele. Saio admirando as árvores e vejo meu amor
caminhar para seu lugar de meditação, a macieira.
Sorrio e vou me distanciando até perdê-lo de vista. Rodo uns 5
minutos e meu telefone toca.
— Alô? — Reconheço o número, é da loja onde trabalho.
— Oi, Dandara — cumprimento a moça, que é uma das vendedoras
de lá.
— Lisa, tudo bem? — respondo que sim. — Você poderia trazer um
conjunto extra de peças? Nossa patroa está querendo presentear uma amiga
inglesa que chegou ontem e vai embora hoje à noite. Teria te avisado mais
cedo, mas ela me falou agora. — Merda! Vou ter que voltar à casa de Magno
para pegar mais um conjunto. É mais perto voltar daqui do que pegar em meu
apartamento.
— Ok, ela tem preferência de cor? — pergunto, já fazendo o retorno.
— Sim, ela quer uma cor clara, pode ser branco, bege, areia... —
sugere.
— Combinado, até mais tarde então, querida. — Desligo a ligação e
retorno para onde ficou meu coração e amor, vou chamá-lo para voltar
comigo, sua expressão abatida quando o deixei acabou comigo.
Quando chego, vejo que tem um carro diferente estacionado em frente
à casa de Magno, deve ser algum amigo.
Entro apressada e não vejo Lili, deve estar no pomar colhendo
algumas maçãs e frutas. Quando começo a subir a escada para pegar o outro
conjunto de colar, ouço gritos e barulhos de coisas sendo quebradas.
Paro assustada e ando rápido para o escritório de Magno. Será que é
um ladrão? Gelo e estendo minha mão para abrir a porta quando ouço a voz
que destruiria meus sonhos e quebraria meu coração de uma forma
avassaladora e dilacerante. A voz de Artur. O que meu amigo está fazendo
aqui e gritando tanto com meu namorado?
Abro um pouquinho a porta e pela pequena greta, vejo Artur dar um
murro tão forte em Magno que ele despenca no chão, e sangue jorra de seu
nariz, em abundância. Artur o segura pelo colarinho e o puxa com
brusquidão, gritando como um louco e com uma ira descomunal. Nunca o vi
assim, sempre foi tão dócil.
— Raul? Cara? Não vai me dizer que...Porra! Porra! Seu desgraçado!
— grita irado e vermelho. — Você fez exatamente o que disse que faria!
Filho da puta miserável. — O vejo dar um murro na mesa com força,
gritando e avançando sobre Magno com ira.
O que me deixa encabulada e sem entender é a aceitação de Magno
em relação a ira de Artur. Eles são imensos e se Magno quisesse, poderia ter
revidado com facilidade. Mas ele não reage e vejo lágrimas descendo de seus
olhos. Quero entrar e tirar meu amado dessa situação tenebrosa, mas algo me
segura...
— Caralho, tanta mulher para você comer e tinha que continuar com
seu plano de destruir a vida da Lisa, cacete! Você, Raul Magno, não vale
nada! Te implorei tantas vezes para desistir... — Minha alma gela e começo a
tremer. Me agacho, porque minhas pernas fraquejam. Continuo ouvindo os
dois, mas suas vozes pareciam vir de longe. Meu coração racha de uma
maneira angustiante. Ouço mais murros sendo dados em Magno, ou Raul, ou
Magnum. Qual seu nome verdadeiro?
Lágrimas já descem em cascatas por meu rosto. Esse homem que vejo
e não conheço, que chamo de namorado, não reage, e Artur continua
espancando-o. E ele continua calado, com a expressão de derrota estampada
em seu rosto tão machucado e coberto de sangue, já começando a inchar.
— Eu me apaixonei por ela, Artur, eu juro — Magno diz com voz
baixa e com um soluço que sacode seu corpo grande e muito machucado.
— Cala a boca, caralho! Você não presta, Raul Magno, enganou a
Lisa e planejou toda essa mentira sórdida. Porra, caralho! Tantas bocetas para
você comer, quantas amantes tem? — Sinto meu coração arrebentar de dor
ao ouvir que ele ainda tem amantes e me trai. Continuo quieta, agora quero
ouvir tudo até o final e me odiar, enquanto viver, por ter sido tão fraca.—
Não, cara, eu não tenho amantes... me apaixonei... — Magno fala baixo, com
um tom de derrota tão grande que mesmo tendo sido alvo de mentiras e
chacotas, me sinto penalizada por ele.
— Raul, eu conheço cada amante sua, dividimos todas. Você não é
homem de uma única mulher, sempre disse isso com orgulho. Te pedi tanto
para deixar Lisa em paz, te disse que ela era uma moça diferente das putas
que dividimos. Mas não! O grande Raul não pode querer algo e não ter. Você
acabou com a vida da menina, mentiu o tempo todo, seu desgraçado! —
Artur joga um ensanguentado Magno no chão e caminha pelo escritório,
irado. — Quando você me mandou para o Rio de Janeiro tinha tudo
arquitetado não é, seu miserável?
— Sim... — admite e mais uma faca é enfiada, sem dó, em meu
coração já esfacelado. Fecho meus olhos com força e tenho vontade de
morrer, sumir...
— Desgraçado! — Artur pega um vaso e joga na parede com força.
— Já imaginou quando ela descobrir o quão desgraçado, miserável e
mentiroso você é? Que foi você, Magno, o autor das propostas sujas para
trepar com ela, pagando-a e comparando-a como uma prostituta? Querendo
pagar para comer a menina enquanto participava de várias orgias, e ainda
querendo a única mulher que te pedi para deixar em paz? — Mais um murro
na cara do desgraçado. Vomito aqui mesmo quando descubro que o cara que
namorava, e me entreguei por inteiro, me tratou como mercadoria barata,
mentiu, traiu... Meu namorado... Magno.
Abaixo a cabeça e enfio entre os joelhos, e choro com berros
angustiantes. Meu coração está doendo, quebrado, sangrando e ainda me
sinto suja e usada.
Ouço passos correndo e alguém me puxa para cima, olho e vejo Artur
me amparar e Magno, Raul, Magnum... sei lá o nome certo desse desgraçado,
me encarar com um olhar assombrado.
Suas lágrimas misturam-se com o sangue que escorre de seu nariz e
sua camisa branca está vermelha.
Ele me estende a mão e vejo que está tremendo.
— Lisa... me perdoe, eu te amo... — Olho para ele com tanta
decepção e desgosto que ele desvia os olhos. Artur me aperta os ombros.
— Conta para ela todas as suas mentiras e tramoias, Raul, seja
homem! — Artur ordena, irado.
— Lisa... — Magno cai de joelhos e coloca as mãos postas, ele me
olha de baixo para cima.
— Me perdoe. Eu não sabia o que era amar, nunca namorei. Só trepei.
— Seu rosto inchado e azulado está muito machucado, mas não tanto quanto
meu coração. — Trocava de mulheres como mudo de roupas, não as
valorizava. Fiz coisas que me envergonho somente de pensar. Fui um verme,
menti, trapaceei, queria te comer... desculpe, queria você a todo custo quando
te vi pela primeira vez, naquele sinal, perto de sua casa, com dois grandes
buquês. Mandei Artur te seguir e descobrir tudo sobre você. Tenho um
dossiê...
Meu coração continua sendo esmigalhado a cada palavra que sai de
sua boca e sinto tanta dor que parece que vou ter um infarto. Coloco as mãos
no coração e fecho os olhos. Ele hesita, mas toma impulso e continua falando
e chorando.
— Eu o mandei te fazer aquelas propostas indecorosas, que hoje,
quando penso, tenho vergonha da maneira como agi... Obriguei um homem
de bem a proceder conforme minha deformada maneira de ver as mulheres.
Depois que consegui ficar financeiramente independente, pensei que, por ter
sido muito pobre, poderia comprar tudo que quisesse com meu dinheiro. E
passei a viver assim... Amor, me perdoe, amo você mais do que tudo neste
mundo, me perdoe, não me deixe. — Ele se arrasta de joelhos até onde estou
e coloca a cabeça em meus pés.
Olho para baixo e vejo o homem para quem entreguei meu coração
destruído no chão. Olho para Artur e ele olha para Magno com lágrimas nos
olhos. Sei que sente a dor de seu amigo.
— Vou te contar tudo, amor, tentei contar várias vezes, mas adiava
porque tinha medo de você me deixar. Menti no shopping, o meu nome...
nunca foi Magnum... — Soluça alto. — Meu nome completo é Raul Magno
Gorgoni. No início queria somente te levar para a cama. Como me arrependo
disso... — Levanta a cabeça e me olha nos olhos. Olho para ele, sentindo meu
peito arder, e pergunto o que me faz querer morrer.
— Você me traiu? Esteve com outras mulheres estando comigo? —
Ele baixa o olhar e sinto meu peito rasgar.
— Lisa... — Me olha arrasado e pálido.
— Me tira daqui, Artur, não quero ver esse demônio enquanto eu
viver. — Tento correr para fora, mas Artur me segura.
Artur olha para Raul com desgosto e sacode a cabeça. Ele então se
levanta e me olha nos olhos.
— Eu juro que nunca te traí, Lisa, ficava com outras mulheres antes
de ficarmos juntos. Juro que depois que fiz amor com você pela primeira vez,
nunca mais toquei em mulher alguma, somente você. Apaguei todos os
contatos de minhas ex-amantes e se encontro alguma, as descarto, dizendo
que tenho namorada e vou me casar com ela. Você, amor! Somente você,
Lisa! Me perdoe por tudo que é sagrado, me deixe te mostrar meu amor e
arrependimento. Me apaixonei por você, seu carisma, sua honestidade,
carinho, amor. Artur, me perdoe também, e diz para ela que nunca amei
ninguém. Você me conhece! Por favor, me ajude! — Magno olha de mim
para Artur, com sofrimento rasgando e distorcendo seu rosto.
— Raul, eu te avisei tanto, meu amigo. Porra! — Limpa os olhos
molhados e me olha com compaixão.
— O que você quer fazer, pequena? — Olho para baixo e enxugo
minhas lágrimas, quero esquecer esse casulo de mentiras que vivi com esse
homem.
Caminho até Raul e olho bem dentro de seus olhos.
— Raul Magno, eu te amei, confiei em você. Dei tudo de mim, meu
corpo, coração, confiança, lealdade. Mas você pisou em tudo isso com esse
emaranhado tão grotesco de mentiras. Eu não vou negar, ainda te amo, mas a
partir de hoje, juro a você que minha missão de vida será tirá-lo de meu
coração e vida. Você, Raul Magno, está morto para mim a partir de agora. —
Vejo-o empalidecer mais ainda, se encostar na parede e deslizar por ela sem
forças. Vejo a minha frente um homem que se perdeu e se quebrou em meio a
tantas mentiras.
Viro para Artur.
— Me tire daqui, Artur, por favor. — Caminho para fora daquela casa
maldita com a cabeça erguida e o coração em pedaços.
Olho para trás e vejo Magno me olhando sem brilho nos olhos e
coberto de sangue, e lágrimas descendo em cascatas por seu rosto castigado.
Seus olhos sem brilho e mortiços ainda me assombrarão por muito tempo.
Lisa descobriu tudo da pior maneira possível. Não deu para explicar,
ou melhor, eu adiei por medo. Ela não quis me ouvir. Sabia que ela agiria
assim, pois odeia mentiras. Por isso protelei tanto. Tinha medo de acontecer
exatamente o que aconteceu. Me sinto morto por dentro. Acabado. Sozinho.
Vazio. Me sinto sujo.
Me levanto de onde Lisa me deixou horas atrás e me arrasto até meu
escritório. Tento ligar para ela com desespero, dezenas de vezes, deixo outras
dezenas de mensagens. Clamo, suplico, imploro seu perdão. Ela não
responde, nem visualiza as mensagens. Ligo em desespero para Artur que
também me ignora.
Pego uma garrafa de uísque e bebo no gargalo mesmo, quando
percebo a garrafa já está no fim. Vomito no chão, pois estou sem comer há
horas. Me levanto e pego outra garrafa e saio me arrastando, tento subir as
escadas e caio batendo a cabeça na quina. Sinto mais sangue descendo,
morno e pegajoso, olho para o chão que começa a tingir-se de vermelho.
Sorrio e jogo a garrafa na parede.
— FODA-SE!
Vejo Lili correndo e me olhando escandalizada, sua cesta de frutas cai
espalhando maçãs e laranjas para todo lado. Sorrio e soluço, Lisa adora
maças, assim como eu.
— Raul, meu filho! O que aconteceu? — pergunta já chorando e
limpando meu rosto ensanguentado e machucado com delicadeza.
— Lisa me deixou, Artur a levou de mim. Filho da puta! — Tento me
levantar e tudo roda. — Quero Minha Lisa de volta, vou buscá-la. — Tento
me levantar novamente e meu estômago embrulha. Vomito e logo em seguida
caio na risada. Estou com nojo de mim mesmo. Podre em todas as áreas.
— Sou um lixo, Lili. Um verme asqueroso, perdi a mulher da minha
vida, sou um obcecado, mentiroso do caralho. Ela me disse que eu morri para
ela. — Soluço e começo a chorar. Ela me olha com pena e tenta me levantar,
sem sucesso, é claro. Sou grande demais e muito pesado, ainda mais bêbado.
— Não, filho... tudo nessa vida tem jeito. — Tenta me consolar.
— Para mim, não, minha merda foi muito grande. Ela não vai me
perdoar nunca. Menti, tripudiei, manipulei, a tratei como uma prostituta, no
início. Minhas intenções iniciais eram vis, maquiavélicas. A coloquei no
mesmo nível de uma puta, a tratei como tal... não vou me perdoar, nunca!
Artur me avisou, ele me avisou, Lili. — Ela vai correndo para a cozinha e
volta com um pano úmido e um copo com água.
— Bebe, filho. — Pego a água e bebo, enquanto isso ela limpa meu
rosto com suavidade, dói pra porra.
— Lili, liga para ela e diz que me arrependi, me ajuda! — murmuro
em desespero.
— Calma, Raul, vamos subir, você vai tomar um banho e amanhã
tudo parecerá melhor que hoje. — Tenta me consolar.
— Não vai, Lili, sem ela em minha vida, nada nunca mais será bom.
Ela levou meu coração. — Coloco minha cabeça entre as mãos e choro mais
um pouco.
Ela me ouve com paciência enquanto lamurio e choro sem parar,
finalmente consegue me levar para o banheiro e me faz tomar um banho.
Quando termino saio tonto e com enjoo, tombo na cama e apago.
Saio da casa de Raul destruída e amparada por Artur. Ele me leva
para casa em silêncio. Quando chegamos, me olha pedindo permissão para
subir e deixo. Chegamos e entramos.
— Lisa, nunca concordei com as atitudes de Raul em relação a você,
sabe bem disso, não é? — Balanço a cabeça em concordância, me sentindo
vazia. — Mas, pequena, ele agiu feito um louco com você, nunca vi Raul
fazer esse tipo de coisa tão engenhosa e elaborada para ficar com uma
mulher. Lisa, ele sempre teve todas que quis com muita facilidade... E com
você, ele agiu de maneira totalmente diferente e imprudente. Teve que lutar,
ainda que de maneira insana. — Pega meu queixo e me faz olhá-lo nos olhos.
— Ele realmente sentiu algo diferente por você, mesmo que no início não
admitisse. Lisa, não estou defendendo o Raul, ele foi longe demais em seus
planos, mas pare e pense. Se ele não tivesse um interesse diferente por você,
você acha que ele teria elaborado um plano tão complicado e mexido com
tantas pessoas para atingir seu alvo? Pequena, o homem me mandou para o
Rio de Janeiro e nunca me deixava voltar. Quando conversávamos, eu sentia
um Raul diferente, mais alegre, mais satisfeito. Ele sempre foi tão
carrancudo, centrado e vivia para o trabalho. — Mais lágrimas deslizam de
meus olhos.
— Ele ia para orgias e tinha mulheres aos montes... — Dói pensar em
Raul com outras mulheres.
— Sim, meu doce anjo, eu também sou um puto e nem por isso você
me condena — fala, tentando brincar.
— Mas você não era meu namorado — sussurro , sentida.
— Sim, meu interesse em você sempre foi diferente de Raul. Ele te vê
como uma mulher maravilhosa, sua futura esposa. Anjo, ele faltou te pedir
em casamento hoje. — Sorrio sem felicidade alguma.
— Ele morreu para mim, Artur — digo nervosa. — E só não te risco
da minha vida porque ele te enganou também — arremato. — Não quero
mais falar desse homem — falo limpando as lágrimas e querendo encerrar
esse capítulo feio da minha vida. Artur sorri triste e concorda.
— Ok, não vamos mais falar sobre ele por hoje. Estou doido para
tomar um café. — Balanço a cabeça e subo para fazer o café, ele me segue.
Conversamos sobre temas mais fáceis, enquanto preparo a bebida.
Artur vai embora prometendo me ligar no dia seguinte e me fazendo
prometer ligar para ele se precisasse de qualquer coisa.
Minha noite foi infernal, chorei a noite toda enquanto me lembrava
das mentiras de Raul.
Passo a semana toda em casa e não saio para nada. Fico o tempo todo
sentada olhando para o nada e odiando Raul cada vez mais, e a mim mesma
por ter sido tão tola e ingênua.
Meu telefone está entupido de mensagens e ligações do mentiroso do
Raul. O Ignoro completamente. Os dias vão passando e a dor não para, pelo
contrário, parece aumentar cada vez mais. Sinto falta do maldito e choro sem
parar.
Meu luto dura uma semana, até que no sétimo dia resolvo levantar,
sacudir a poeira e dar a volta por cima. Um dia essa dor terá fim.
Me levanto com novo ânimo e estabeleço minha rotina novamente.
Claro que sofro, mas me recuso a chorar e lamentar mais. E assim os dias vão
se arrastando até completar um mês sem querer saber notícias do mentiroso.
Artur me liga ou vem assiduamente. Mas o fiz prometer não falar nada sobre
Raul. Não quero saber.
Depois que Lisa me deixou minha vida perdeu o sentido. Não sinto
fome, não tenho vontade de trabalhar, só fico em casa bebendo sem parar.
Lili tenta de tudo para me animar, mas não consegue e resolve apelar para
Artur. O mesmo desgraçado que levou Lisa de mim. Quando ele veio ao meu
quarto não tinha mais nada a perder, eu investi com tudo nele e o deixei
arrebentado no chão. Ele sorriu e cuspi em sua cara de merda, mandei ele
sumir de minha vida.
— Você está me despedindo, Raul? – Ele sorri de lado e cospe
sangue no chão.
— Sim, desgraçado traidor! — Sei que ele não tem culpa, mas
preciso de um bode expiatório para descontar minha dor e frustração.
— Mas eu não aceito! — Se levanta com uma careta de dor, e se
arrasta até uma poltrona. — Raul, você só fez merda, caralho! Quase 50 anos
no couro e age como um menino! Por que não vira homem e faz alguma coisa
para reconquistar Lisa ao invés de ficar em casa enchendo o rabo de álcool?
— fala com uma careta de dor.
— Ela me odeia, caralho! E eu mereço. Fui um escroto desgraçado
com ela! — grito angustiado, com a mão no coração, essa porra dói.
— Não nego que você é um imbecil, mas até os imbecis pensam de
vez em quando – diz o maldito, com sorriso de deboche na cara inchada e
coberta de hematomas.
— Vai se foder! — falo alto, irado e muito bêbado.
— Eu não, ver você fodido já me satisfaz. — Sorri zombeteiro e
quero quebrar ainda mais sua cara já arrebentada.
Me deito na cama, que está uma bagunça. Cheia de roupas de Lisa
que abraço toda noite antes de dormir. Não deixo a Lili tirar nada e nem
arrumar. Tem várias garrafas vazias de qualquer bebida que contenha álcool,
jogadas pelo quarto. Nem escolho mais. Só encho a cara e anestesio a dor.
Meu cabelo e barba estão embaraçados e sem corte. Foda-se se ligo.
Deito emburrado e agarro as roupas de Lisa e cheiro com saudades. Meus
olhos se enchem de lágrimas e fungo baixinho.
— Cara, reage, como você quer o perdão e reconquistar Lisa de volta
parecendo um mendigo e maltrapilho? Você fede a álcool, caralho! — Ignoro
completamente esse pau no cu. Vou deixá-lo falar sozinho, quando se cansar
vai embora e terei paz para beber mais e me lambuzar em minha miséria.
— Raul, posso ajudá-lo a reconquistá-la, antes que você vomite seu
fígado de tanto beber, o que acha? — Meu coração dá um salto e me viro
para ele em expectativa.
— Mas você me bateu até quase me matar por ter feito as merdas que
fiz, seu desgraçado de merda, e agora vem dizer que quer me ajudar? Maldito
mentiroso! — acuso, mas com o coração disparado em expectativa, a
primeira, em mais de um mês.
— Primeiro lugar, o mentiroso da porra é você, em segundo, sim, se
quiser posso te ajudar, Lisa confia em mim. E sei que apesar de ter agido
como um cuzão, se apaixonou verdadeiramente por ela. Somente um cara
apaixonado faz tanta merda como você fez! — Troça o maldito. — E só vou
ajudar porque vejo que minha menina sofre por você, seu cafajeste do
caralho, obcecado e mentiroso — diz com um sorriso que somente meu
amigo dá, sincero e leal. Sinto meu coração aquecer com suas palavras. Ele,
voltando a me tratar como seu amigo, além de, é claro, saber que minha
menina ainda me ama.
Me sento na cama e olho para Artur, o vejo meio distorcido, bebi
demais esse último mês.
Acho que estou mijando álcool, penso com desgosto.
— Ela disse que me ama? — indago, suando e com o coração de
quase meio século disparado no peito.
— Não, ela disse que te odeia. Mas vejo o que ela não diz, ou seja,
que te ama. A bichinha está sofrendo muito. Venhamos e convenhamos, você
foi um asno com a menina, concorda? — fala baixinho e vermelho de raiva,
me olhando dentro dos olhos, sem piscar.
— Sim, fui um asno, você tem toda razão, Artur. Mas eu já a amava e
não sabia. Por isso tanto trabalho para ficar com ela, e quando vi que estava
me envolvendo demais, disse a ela que não dava para continuar e fugi. —
Rasgo meu coração para ele, sendo o mais verdadeiro possível.
— Gostei de ver essa hombridade em você. Ela te deixou de quatro,
meu amigo, desde o primeiro dia em que a viu. Sabe que nunca agiu assim
com mulher alguma. — Concordo com Artur.
— Verdade. O que posso fazer para reconquistá-la? Se não recuperar
meu amor, que é essa mulher, não tenho a menor vontade de viver —
arremato com angústia.
— Vamos começar devagar, vou falando com ela sobre você aos
poucos, contando as mudanças que vi em você. Comece a agir como um
homem de caráter, risca as mentiras da sua vida, seja romântico, sei lá, porra,
pesquisa na internet! — Sorrio. É exatamente isso que farei.
Me levanto, puxo Artur pela mão e o abraço.
— Temos um trato, amigo. — Afasto-me e aperto sua mão. — Agora
vá lavar esse rosto coberto de sangue e pede à Lili para passar uma pomada
nos inchaços, fala que indiquei a mesma que usou em mim quando você
arrebentou meu rosto. — Sorrio sinistro, já ligando meu notebook.
Coloco na barra de pesquisa como reconquistar uma mulher. Depois
de horas já tenho algumas ideias de como reconquistá-la. Raul Magno
ressurge das cinzas, ou melhor, do fundo do poço, pronto para reconquistar
sua Borboletinha.
Depois que decido esquecer de vez o Raul, minha vida começa a
andar e sinto menos peso no coração. Sei que com o tempo vou esquecê-lo e
quando olhar para trás não sentirei essa dor maldita que fere a minha alma.
Me levanto cedo e subo para preparar meu café. Após comer, arrumo
a cozinha.
Tenho vários desenhos de colares novos e muitas pedras que
chegaram. Me sento e começo a trabalhar. A sineta toca e desço para atender.
Abro a porta e vejo um imenso buquê de flores, nunca vi um tão
grande. Recebo sem nem imaginar de quem possa ser. Raul deu sossego e já
tem mais de quinze dias que parou de me ligar e mandar mensagens.
Confesso que senti uma dorzinha no peito quando as mensagens e ligações
pararam, significava que o mentiroso estava voltando a viver sua vida de
mentiras e vigarices, juntamente com putarias.
Artur não passa a semana sem vir aqui e às vezes saímos. Ele fala de
Raul em alguns momentos e sempre fico atenta às novas informações. Ele
está no fundo do poço, segundo Artur, não come e somente bebe até
desmaiar. Meu coração aperta quando me conta isso.
Mas Artur só fala de Raul quando eu pergunto disfarçadamente.
Pego o imenso e cheiroso buquê e vejo que nele veio um cartão. Abro
e congelo no lugar, meu coração dispara e meu coração traidor acelera.
“Me perdoe, te amo mais que minha vida.
Raul Magno.”

Fico irada com a ousadia desse ser que vive enfiado na mentira e jogo
seu cartão de merda no lixo, e as flores também.
Subo para o andar de cima e tento trabalhar. Mas não consigo fazer
nada, e quando não resisto mais, desço correndo, pego o buquê e o cartão que
estão no lixo e releio, sentindo um calor delicioso no coração.
Coloco as flores em um jarro de água e guardo o cartão em uma
gaveta em meu quarto.
E isso vira rotina. Todos os dias, exatamente as 11h da manhã, chega
um imenso buquê de flores e uma declaração de Raul. Em todas ele sempre
me pede perdão.
Eu já fico ansiosa quando vai chegando o horário. Fico sentada no
sofá aguardando a sineta tocar. Mas Raul não me liga ou me manda
mensagens, se comunica somente através dos buquês e cartões. Isso durou
trinta dias e de repente ele parou.
Espero todos os dias e nada. Pergunto a Artur disfarçadamente sobre
Raul e ele me diz que ele está bem.
Finjo que está tudo bem e fico esperando alguma manifestação de
Raul... algo novo.
A primeira coisa da lista que elaborei para ter o perdão e minha Lisa
de volta foi ter paciência. Essa é a parte mais difícil para mim. Minha
vontade é de ir para seu apartamento igual um troglodita e a tomar,
prendendo-a a mim para sempre. Mas não é assim que funciona e já tomei
demais na bunda por agir com imprudência.
Mandei flores por um mês e Artur me mantinha informado sobre suas
reações. Ele me disse que no início ela as rejeitou, mas depois se acostumou e
esperava com ansiedade os buquês e cartões. Confesso, sem vergonha
alguma, que quando ele me contou isso chorei igual criança. Eu ia conseguir
arrumar a merda que fiz.
Quero continuar mandando os buquês sem parar, porque ela está
gostando e feliz, porra! Mas Artur me diz que tenho que parar, Lisa tem que
sentir falta, segundo ele.
Dói mais em mim do que nela, tenho certeza.
Mas com tudo isso, ela não manifesta vontade de me ver ou falar
comigo, isso ofusca um pouco minha felicidade. Quinze dias se passam e
agora está na hora de uma nova tática. Sorrio feliz.
Mando chocolates, uma semana sem parar.
Não funciona.
Mando pedras naturais que sei que ama.
Não funciona.
Mando maçãs colhidas no pomar.
Não funciona.
Mando um gato siamês que sei que ama.
Não funciona.
Mando mais um monte de coisas e NADA FUNCIONA.
Começo a perder as esperanças e a beber novamente. Artur tenta me
consolar, juntamente com Lili.
— Cara, você tem que ter paciência, depois de toda a teia de mentiras
que teceu em volta dela, o que queria?
— Exatamente, filho. Você agiu com imprudência com a menina e
agora tem que ter paciência, como diz Artur.
Ouço eles falarem e baixo a cabeça arrasado e sem esperanças.
— Ela não vai me perdoar. Porra! Tem meses que tento reconquistá-
la, quando penso que estou conseguindo ela se fecha. Nunca quer falar
comigo, nunca atende minhas chamadas ou retorna minhas mensagens —
falo, com a cabeça nas mãos.
Lili e Artur se levantam e me abraçam. Soluço, sem esperanças.
— Raul, não desista, cara. Ela te ama. Mas o modo como a tratou,
minou sua confiança em você. — Meu coração se aquece novamente, não
posso desistir, mas tem dias que me bate um desespero tão grande que penso
que vou enlouquecer.
Artur, como o grande amigo que é, está cuidando dos negócios, não
tenho cabeça para nada, somente reconquistar Lisa. Estou obcecado, sou
obcecado. Caralho de vida sofrida a minha!
— Porra! Vocês têm toda razão. Não vou desistir, eu fiz a merda,
somente eu posso consertá-la. — Eles sorriem.
— Aí, cara! É assim que se fala. — Artur me abraça e dá um tapa na
minha testa. Sorrio, sei que é sua maneira de dizer que me ama.
— Pare de agredir meu menino, Artur, ele já sofreu e está sofrendo
demais, seu desnaturado! — Lili me defende e me sinto verdadeiramente
acolhido e amado, falta somente minha menina para minha família estar
completa e estou indo buscá-la. Pode demorar anos, mas não morro sem Lisa
em minha vida, como esposa e mãe de meus filhos, eu juro!

***
Com minhas esperanças e coragem renovadas, sei o que tenho que
fazer. Me olho no espelho depois de um banho demorado e aparo a barba.
Somente o cabelo que continua com o topete gigante, esse depois eu aparo.
Na verdade, não quis cortá-lo, minha Borboletinha adora agarrá-lo quando
me beija e estamos fazendo amor.
Agora, ela pode até se pendurar em meu topete, penso com um pingo
de alegria em meu coração atormentado, quebrado e ferido.
Estou bem mais magro, com olheiras imensas e escuras e com vários
cabelos brancos que não existiam antes de minha pequena me deixar. Sinto o
peso de minha idade pela primeira vez na vida. Estou cansado e com vincos
fundos em volta dos olhos e boca. Abaixo a cabeça e mais uma vez me
arrependo do que fiz a Lisa e as outras mulheres que passaram por minha
vida. Fui tremendamente egoísta e mau-caráter. Precisou eu perder a única
mulher que amei para cair na realidade e ver o verme que fui ao longo de
minha vida de merda.
Olho a minha camisa branca folgada e calça jeans caindo, mesmo
usando um cinto. Emagreci muito nesses meses. Também, só bebia e quase
não comia. Tenho sorte de ainda estar de pé, graças aos meus amigos fiéis e
sempre presentes, Artur e Lili.
Pego minha carteira, chaves do carro e celular. Vou sair pela primeira
vez depois que levei um pé no rabo para aprender a virar homem.
Desço as escadas e vejo Lili e Artur rindo de orelha a orelha, disse a
eles meu plano de reconquistar Lisa.
— Me desejem sorte, porque não sei quando volto. — Eles vêm até
mim e me abraçam.
— É isso aí, Raul. Você vai conseguir trazer Lisa novamente para
casa. — Artur fala e me dá tapas doloridos nas costas.
— Vem, meu filho, me dê um abraço e não volte sem a Lisa. — Lili
me beija e me sinto forte e preparado para buscar Lisa. Já sei o preço que
tenho que pagar e estou disposto. Fiz merdas demais.
Escolho o maior carro que tenho, Hyundai i30 preto e olho se Lili
colocou tudo que pedi. Confiro: saco de dormir, cobertores. Beleza.
Entro no carro satisfeito e com muita esperança de que Lisa me
perdoe.
Coloco uma playlist que adoramos e já ouvimos muitas vezes juntos e
para minha eterna vergonha a primeira música que toca é Mentira, de
Adriana Calcanhoto. Caralho!
Que é pra ver se você volta. Que é pra ver se você vem. Que é pra ver
se você olha pra mim...
Ressalto baixinho a última estrofe e sinto meus olhos marejarem.
Continuo ouvindo nossa playlist e confesso que estou trêmulo e
ansioso, Lisa é muito sistemática e gosta das coisas certas. E eu fui um tolo
em não valorizar isso.
Vou pensando em tudo que fiz e o que pretendo fazer e sei que terei
que me munir de calma e muita paciência, sei que ela não vai facilitar.
Conheço minha menina.
Chego em frente ao prédio onde mora e desço do carro, com as pernas
bambas, igual uma mariquinha. Porra!
Vejo Lúcio me olhando e descendo para me encontrar. Fico sem graça
e ao mesmo tempo ansioso. Lisa deve ter falado com ele sobre minhas
canalhices.
— Bom dia , Lúcio. — Corto logo, se for me agredir ficará mais
manso.
— Bom dia, Magno. Você sumiu, perguntei para Lisa e ela me disse
que estava resolvendo uns problemas. — Realmente minha menina é
perfeita, totalmente discreta.
— Sim, andei fazendo umas merdas e tive que parar um tempo para
refletir e ver como resolver — digo a ele sem entrar em detalhes.
— E está tudo bem agora? — pergunta, amável como sempre.
— Espero que sim. Estou empenhado em arrumar a bagunça que me
meti. Mas me fale, como está Lisa? — Ele me olha estranho.
— Bem, vocês não estão mais namorando? — pergunta ,
desconfiado.
— Bem... — Coço a cabeça e decido contar a ele parte da verdade e
esperar que me ajude.
— Ela é minha namorada, mas me dispensou devido a umas merdas
que fiz..., mas adianto, não foi traição, ao menos com outras mulheres —
digo rapidamente.
— Você a trai com homens, então? — pergunta, pálido e dá um passo
para trás.
Não consigo controlar e dou uma gargalhada tão alta que algumas
pessoas que passam na rua me olham, assustadas.
— Não! Eu gosto de mulheres, cara! Foram certas omissões de minha
parte... é isso! Preciso de sua ajuda, ela não quer nem me ver e isso está me
matando aos poucos.
Ele me olha demoradamente e solta a merda.
— Realmente você está acabado, com cara de velho. Mas se Lisa te
dispensou ela deve ter seus motivos e sou amigo dela e não seu — o maldito
diz e vira as costas.
— Lúcio! Por favor! Eu preciso subir e conversar com ela, explicar
tudo novamente, e dessa vez vou convencê-la com meu amor e sinceridade.
— Ele continua andando.
— Não. — Fecha a portaria e entra. Safado, eu sabia que não iria ter
sua colaboração, por isso o carro grande e saco de dormir. Vou acampar
nessa porra até Lisa se condoer e me receber.
— Foda-se você, maldito puxa-saco — grito e volto para o carro.
Entro, ligo o ar e pego um livro para ler. Aliás, trouxe vários. Me
ajeito no carro e leio com tranquilidade ouvindo músicas clássicas. Sempre
de olho na portaria para ver quando Lisa entra ou sai.
Anoitece e nem sinal dela. Tento ligar, mando mensagens, mas ela
não responde. Vou conseguir reconquistá-la, vou dar canseira em minha
pequena. O fofoqueiro já deve ter contato que estou aqui.
Saio do carro e vou ao shopping, janto, escovo os dentes e volto para
o carro, hoje fico sem banho. Amanhã vou a um hotel qualquer e tomo um
banho. Mas daqui não saio, daqui ninguém me tira.
Arrumo meu saco de dormir, já são quase 23h. A porra do carro é
mesmo espaçoso. Ligo o rádio, pego meu celular e olho para ver se ela me
mandou algo. Nada. Olho para cima e vejo a luz de seu apartamento acesa,
ela está na cobertura.
Fecho meus olhos e caio rapidamente no sono, me sinto calmo só de
saber que ela está pertinho de mim.
Lúcio me liga e diz que Magno está na portaria e quer falar comigo.
Claro que falo que não é para liberar sua entrada em hipótese alguma. Mas
quando olho pela janela disfarçadamente e vejo Magno, meu coração dispara
e minha vontade é descer correndo e agarrar aquele mentiroso topetudo e
beijá-lo até morrer.
Sabendo ainda que quer falar comigo, deixa meu coração quentinho,
pois ele sumiu tem mais de quinze dias e isso me deixou angustiada. Não
estou pronta para perdoá-lo ainda, mas quero que continue a demonstrar que
me ama. Mas confesso, a ira, raiva e decepção por ele mentir tanto no início
já está mais branda e se ele não desistir eu estou a caminho de perdoá-lo.
Eu quero muito perdoá-lo, mas tenho medo de ser enredada
novamente em mais mentiras.
Artur me diz sempre que ele está destruído e completamente
arrependido. Lili também me liga quase todos os dias e confirma tudo que
Artur diz sobre Magno estar no fundo do poço e sofrendo muito.
Confesso que saber que Magno parou sua vida e só bebe me faz
chorar por dias, sem parar. Mas a mágoa por ele ter mentido tanto ainda me
machuca demais.
Eu o vejo chegando e entrando no carro, será que o louco dormirá lá?
Balanço a cabeça, faço um chá e volto a fazer meus colares.
Horas depois, me levanto e já são quase duas da manhã. Vou até a
janela e vejo o carro de Magno no mesmo lugar. Meu coração sacode, puta
merda, ele está dormindo no carro. Sorrio e desço para dormir com uma
alegria que me faz querer cantar e pular.
Eu me deito e não consigo dormir. Só de pensar no desconforto que
Magno deve estar sentindo me deixa agitada e triste. Me levanto e vou até a
janela e vejo o carro coberto de sereno. Deve estar gelado lá dentro. Tadinho.
Volto para a cama e me forço a ficar lá até o dia clarear, porque dormir vai
ser impossível.
Vou ficar firme, ele mentiu, trapaceou, me enrolou. Merece sofrer
mais um pouco.
Quando amanhece eu tomo banho, faço meu café e olho pela janela
discretamente. Vejo ele de pé em frente ao carro, olhando para cima e meu
coração dispara.
Deus, eu amo demais esse homem! Vejo ele tomando café em um
copo de plástico branco e comendo um biscoito. Termina, joga no lixo o copo
vazio e entra no carro.
Fico de olho e vejo que nos horários de almoço e janta ele sai e vai
para o shopping.
Já tem três dias que está nesse batido. De manhã ou à tarde ele sai e
volta com os cabelos úmidos e com roupas diferentes, acho que está tomando
banho em algum lugar.
Meu novo vício é olhar o homem da minha vida, e estou por um fio
para descer correndo e trazê-lo para eu cuidar e amar. Vejo que ele está
magro e pálido. Hoje também noto que ele está tossindo muito e fico
preocupada. Peço a Lúcio para olhar e perguntar como ele está sem tocar em
meu nome.
Observo Lúcio conversando com ele e daqui vejo a expressão
preocupada do meu porteiro e meu coração dispara.
Caralho, está sendo mais difícil do que pensei, minha menina é
turrona. Sinto meu corpo quebrado de ter que dormir aqui nesse carro. E
como fiquei esses meses somente bebendo e comendo muito pouco, meu
corpo está debilitado e acho que acabei pegando a porra de uma gripe. Só me
faltava essa agora. Me sinto quente e o corpo dói pra porra. Só quero ficar
deitado, mas não saio daqui enquanto Lisa não me receber e me perdoar.
Vejo sempre sua sombra na janela me olhando e fico trêmulo de
vontade de subir e abraçar essa menina tinhosa que amo mais que a mim
mesmo.
Vejo Lúcio chegar e me olhar preocupado.
— Cara, você está tossindo desde ontem e está com o rosto muito
vermelho. Está com febre? — pergunta estendendo a mão e colocando em
minha testa.
Dou um pulo para trás.
— Sai fora, jacaré! Estou bem, somente um pouco resfriado e... —
Tenho uma nova crise de tosse.
— Um pouco resfriado é o caralho. Você está com febre, homem.
Precisa ir ao médico e voltar para sua casa para se tratar. Ficar aqui nesse frio
só vai piorar. E olha como o tempo está fechado para chuva. Se chover só vai
piorar seu estado. — Vejo preocupação em seus olhos.
— Fica tranquilo, Lúcio, não é uma gripezinha que vai me derrubar,
já passei por tantas coisas nessa minha vida que essa dorzinha em meu corpo
e cabeça não é nada — falo para tranquilizá-lo, mas me sentindo moído de
dor no corpo todo e cabeça. Minha vontade é de me deitar e me cobrir, estou
sentindo muito frio. Ele dá de ombros.
— Você é quem sabe, mas te aconselho a pensar melhor. — Volta
para dentro do prédio e fecha a portaria.
Entro no carro e sinto a ventania balançar o carro. Caralho, hoje o céu
vai desabar e acontecer um novo dilúvio. Estou tremendo de frio dentro dessa
porra gelada, mesmo com o aquecedor ligado.
A chuva desaba e o mundo alaga, nunca vi tanta chuva em toda minha
vida. Tremo de frio e me enrolo no cobertor e espirro sem parar. Minha
cabeça parece que vai explodir enquanto o mundo explode lá fora de tanta
chuva.
Deito-me, me enrolo e fico quieto, assim dói menos a cabeça e o
corpo.
Lúcio me interfona e me diz que Raul está muito gripado, tossindo e
com febre alta e que ficou preocupado porque ele não está se alimentado
bem. Meu coração dispara e choro de pavor. Olho pela janela e a chuva
castiga o carro. Meu Deus, chega de nos fazer sofrer. Já deu! Vou buscá-lo
assim que a chuva passar.
Chega! Ele já pagou por tudo que fez e se mostrou arrependido.
Agora eu que preciso perdoá-lo e tirar essa mágoa do meu coração. Estou
pronta para esquecer todo passado de mentiras.
Acabou, quero meu namorado de volta. Olho o relógio, só não desço
agora porque a chuva está violenta. Fico olhando pela janela e aguardando a
chuva passar, mas parece que vai ficar assim a noite toda.
Desço, tomo um banho quentinho com a consciência pesada porque
Magno está sozinho e doente no carro. Choro em desespero e sinto ódio de
mim mesma por não ter dado a ele, ao menos a oportunidade de conversar
comigo.
Tem horas que sou uma pessoa má. Choro alto e grito com desgosto.
Sempre fui assim, procuro andar ao máximo com retidão, porque sou difícil
de perdoar.
Preciso exercitar mais o perdão em minha vida.
Sento e espero o dia amanhecer. Estou quebrada, com dor de cabeça e
dor no corpo de ansiedade.
Olha pela janela e ainda vejo o carro, entretanto, não vejo Magno,
como todos os dias, do lado de fora. Meu coração dispara e desço correndo
em desespero absoluto. Lúcio me olha assustado.
— Lúcio, ele já foi ao shopping? — pergunto já sem fôlego e
chorando.
— Não, ainda está dormindo — diz me olhando pálido quando
entende meu desespero.
Olhamos um para o outro em entendimento e corremos para o carro.
Está gelado aqui fora e ainda chove fininho.
Tento olhar dentro do carro, mas os vidros são escuros e não vemos
nada.
Entro em pânico e bato com força na janela. Tento abrir a porta e
puxo com tanta força que corto minha mão. Limpo as lágrimas que não
param de cair.
— Calma, Lisa, você cortou a mão e espalhou sangue por todo seu
rosto.
— Ele está aí dentro, Lúcio, sinto isso. E não está bem. Se acontecer
alguma coisa com Magno, nunca, jamais me perdoarei, fui muito dura com
ele... — digo chorando sem parar. — O que faremos? — Lúcio pega seu
telefone e liga para um chaveiro. Depois que termina, pego o seu telefone e
ligo para Artur.
Ele atende no primeiro toque.
— Alô? — Sua voz é fria, sei que não conhece esse número. Soluço
desesperada. — Lisa, aconteceu alguma coisa? — Fungo alto. — Querida?
— pergunta agora temeroso e assustado.
— Sim, Artur, o Magno... — Me descontrolo e caio num choro com
soluços doloridos de desespero.
— Lisa! O que aconteceu com Magno, pelo amor de Deus? — Não
consigo falar e Lúcio pega o telefone e fala com ele.
— Ele estava com febre e tossindo ontem e hoje continua no carro, já
chamamos, batemos e ele não deu sinal algum. — Vejo Lúcio ficar mais
pálido ainda.
Me estende o telefone e pego.
— Lisa, você não sabia que ele estava passando mal? — Fico calada
com a consciência doendo por ter agido com tanta falta de empatia e amor.
— Sabia...— Faz-se um silêncio sepulcral do outro lado.
— Será que me enganei tanto assim com você? Será que aconselhei
meu amigo a se humilhar por um monstro? — Choro arrasada por saber que
ele tem razão, fui um monstro.
— Não... eu o amo. Não fale assim, por favor... — Ele desliga e fico
olhando o telefone com um arrependimento tão grande que parece que meu
coração vai ser arrancado sem anestesia.
O chaveiro chega e tenta abrir o carro, mas não consegue. Nessa hora
já estou sentada no chão, toda molhada e as mãos sangrando de tanto bater no
carro.
Vejo um veículo se aproximando em alta velocidade e assim que para
Arthur pula do carro e corre para onde estamos.
Ele tira uma chave do bolso e abre a porta do carro.
O que vejo ficará gravado em minha memória enquanto eu viver.
Raul Magno, encolhido em um canto, os olhos fechados e seu rosto
vermelho de tanta febre.
— Magno! — grito e tento chegar até ele, mas sou barrada por Artur.
— Deixa que agora eu cuido dele — me diz friamente.
— Artur, leve-o para meu apartamento, me deixe cuidar dele... — Me
ajoelho com lágrimas descendo por meu rosto, em desespero.
Ele me olha e vê minhas mãos sangrando e seus olhos se suavizam.
— Levanta, Borboletinha, Raul não iria gostar de ver a mulher que
ama nessa situação, ajoelhada e sangrando debaixo de chuva. — Me estende
a mão e me levanta.
— Vem, querida, vamos levá-lo para seu apartamento para cuidar
dele. Ele já sofreu para o resto de sua vida. — diz com os olhos vermelhos.
Sinto meu coração mais leve, mas doendo demais ao ver meu amor tão
debilitado.
Artur e Lúcio puxam Magno com cuidado e tento cobrir ele com um
guarda-chuva que Lúcio trouxe não sei de onde.
Eles sobem com ele pelo elevador e eu fico igual uma louca, só
chorando.
Corro na frente e abro a porta, Artur o leva direto para meu quarto.
— Você tem um cobertor elétrico aí, Lisa? — Corro para pegar,
ganhei de presente da minha patroa.
Trago rapidamente e quando entro no quarto, Magno já está nu e
Artur seca as partes de seu corpo que molharam.
Forramos a cama com um cobertor e cobrimos Magno com o outro.
Busco paracetamol líquido e Artur e eu conseguimos fazer com que engula
um pouco. Busco álcool e vou fazendo compressas em sua testa. E assim
passamos o restante do dia e a noite, e quando amanhece a febre finalmente
cede. Mas Magno continuava dormindo, estava muito fraco e debilitado.
Vou correndo fazer um café e suco de laranja. Coloco a mesa e como
rápido alguma coisa, desço com o suco e café para Magno e peço Artur para
subir e tomar seu café.
Fico sozinha com Magno que ainda dorme, agora respirando com
mais facilidade e sem a maldita febre.
Passo a mão suavemente em seu rosto encovado e nas olheiras
imensas. Pego seu imenso topete coberto de fios brancos, que antes não
existia e aliso sua barba bem aparada, que também está coberta de fios
grisalhos. Sua expressão mesmo dormindo é sofrida.
O quanto eu fiz esse homem sofrer? Penso com um nó na garganta e
vontade de chorar sem parar.
— Lisa... me perdoe... — Ouço sua voz baixa e fraca, mas continua
dormindo.
Sinto meu mundo afundar mais uma vez... acho que não vou
conseguir sair com vida desse sofrimento.
Pego sua mão grande e magra.
— Oi, amor, estou aqui, Raul Magno eu te amo mais que minha vida.
Me perdoe, amor, por ter demorado tanto a te perdoar. Eu te amo... Raul...
volta para mim... — digo com lágrimas, misturando-se a coriza. Estou com
falta de ar de tanta ansiedade e sofrimento.
Artur entra e me ajuda a tentar dar o suco para Magno.
— Já liguei para um amigo nosso que é médico e ele virá aqui para
medicar adequadamente o Raul. Ele está muito frágil devido aos últimos
meses... — fala com dor na voz.
Abaixo minha cabeça envergonhada por ter sido tão dura.
— Me perdoe, Artur. Eu fui muito dura, e...
— Ele mereceu, Lisa — ele me corta. — Foi terrível tudo que ele fez.
O importante agora é vocês se acertarem e deixar o passado para trás,
concorda comigo, Abelhinha? — Estende os braços abertos em minha
direção e corro para eles, que me envolvem com carinho.
— Sim, você tem toda razão, Artur. Obrigada por ser sempre esse
anjo em minha vida. — Ele beija minha cabeça. Quando ouvimos a sineta.
— Deixe que atendo, querida, deve ser o médico.
Ele vai e fico aqui segurando a mão de meu amado.
O médico examina Magno e diz que está tudo sob controle,
principalmente a febre, que foi consequência de uma inflamação de garganta.
Ele está começando a esquentar novamente e entro em pânico.
— Fique calma, Lisa, vou passar um antibiótico para ele e assim que
começar a tomar, melhora. Aconselho a comprarem o mais rápido possível.
— O médico conversa mais com Artur, mas não ouço nada. Pego a receita e
vou comprar os remédios.
— Ei, aonde você vai, pequena? — Artur me barra e pergunta.
— Buscar os remédios para Raul, ele precisa tomar rápido — digo
com a voz rouca de tanto chorar.
— Eu busco, pequena, aproveito e acompanho Gustavo até o carro.
— Me beija e me despeço do médico. Corro para o quarto e faço mais
compressas de álcool na testa quente de Raul.
Canto, converso e peço perdão a ele sem parar. Me deito ao seu lado e
como tem duas noites que não durmo, adormeço rapidamente de exaustão.
Mas sem soltar a mão de Raul.
Acordo com uma dor desgraçada no corpo todo e minha cabeça
parece que vai explodir. Estou em uma cama macia e tão obcecado por Lisa
que sinto seu perfume no ar. Continuo de olhos fechados porque a simples
menção de abri-los faz minha cabeça doer mais ainda.
Sinto a maciez e calor dos cobertores e sei que não estou naquela
porra dura do meu carro. A última coisa que me lembro é de minha conversa
com Lúcio. Ele me dizendo que eu precisava ir embora, pois estava com
muita febre. Lembro-me que entrei no carro e apaguei.
E agora estou aqui, nesse lugar quente, macio e perfumado. Suspiro e
me sinto fraco. Tento me mover, mas a dor alastra por meu corpo.
Tive a impressão de que Lisa falava muito comigo. Está na hora de
aceitar que ela não vai me perdoar. O mínimo que posso fazer por minha
Borboletinha é deixá-la em paz, viver a sua vida sem um mentiroso ao seu
lado, e deixá-la encontrar um homem mais novo que realmente a mereça e a
valorize.
Esse simples pensamento dói tanto meu peito que chego a sentir falta
de ar. Sinto as lágrimas escorrerem pelos cantos de meus olhos e molhar o
travesseiro.
Tento me levantar e descobrir onde estou. Vou viajar para algum
lugar e ficar uns meses fora até passar essa dor que vai acabar me matando se
continuar tão forte como está. Confio no Artur para resolver tudo para mim.
Quero sumir um bom tempo. Com essa decisão tomada, tento me levantar
mais uma vez e gemo alto, a dor é excruciante.
— Raul! — Ouço uma voz que sonho ouvir por meses e gelo, estou
ficando alucinado, amar demais faz isso?
— Raul, meu amor, você acordou! — Forço meus olhos a abrirem e
minha cabeça trinca de dor. — Graças a Deus! Me perdoe, amor, fui uma
pessoa rancorosa... — Viro minha cabeça pesada de dor e vejo Lisa ao meu
lado, com os olhos vermelhos e inchados. Estou ficando doido e alucinado.
Preciso viajar urgente! Recuperar minha sanidade perdida.
A miragem se senta e sorri tão largamente que fico feliz somente de
imaginar que tem uma alucinação aqui.
— Eu te amo tanto, Raul, me perdoe. Eu te perdoo também, meu
amor — fala de uma vez e me abraça. A miragem está muito cheirosa, macia
e quente.
— Lisa? — balbucio sem acreditar em nada que vejo, já penei demais
e estou descrente.
— Sim, amor, sou eu. Artur foi buscar seus remédios, você está com
febre devido à garganta inflamada — diz e acaricia meu topetão. Arrepio de
emoção.
— Lisa? — pergunto novamente igual a um retardado. Sem acreditar
que é realmente ela.
— Sim, amor, em carne e osso e com o coração pesado por não ter te
ouvido e perdoado há mais tempo. Poderia ter evitado todo esse sofrimento
— diz com tristeza estampada nos olhos inchados.
— Lisa, é você mesmo? Estou em sua casa? Em sua cama? Você me
perdoou? — pergunto, sem acreditar, não quero dar esperanças ao meu pobre
coração quebrado e depois arrancá-las novamente.
— Sim, amor, você passou mal no carro e Artur, Lúcio e eu o tiramos
de lá com febre e desacordado. — Me conta com lágrimas descendo e caindo
em seu queixo delicado.
— Me carregaram até aqui? — pergunto, incrédulo.
— Sim, e colocamos você peladinho para se aquecer nos cobertores
elétricos. Também fizemos você tomar paracetamol durante a noite, fiz
compressas e ao amanhecer sua febre cedeu, mas voltou em seguida. O Artur
trouxe um médico e ele viu que sua garganta estava inflamada e receitou
antibiótico. Artur foi na farmácia buscar, mas já deve estar voltando — fala
de uma vez, sem parar para respirar.
Olho encantando essa mulher à minha frente e quando penso em tudo
que fiz e no quanto eu quase a perdi, gemo alto.
— Raul! — Se levanta, sentando ao meu lado.
Tento sorrir, mas dói tudo e fico sério e quieto.
Eu a vejo pegando um copo de suco e tenta me fazer tomar. Não
desce, minha garganta dói pra caralho.
Coloco a mão na garganta.
— Dói muito... — Não consigo falar muito, ela me olha com ternura e
sorri, me dando um beijo no rosto barbudo. Fecho meus olhos de prazer e
felicidade.
Ela pega as compressas e volta a colocar em minha testa, sinto o
refrigério e fecho meus olhos, feliz como não estou há meses.
Estendo minha mão e seguro a sua com delicadeza. Adormeço.

***
Acordo com Artur me sacudindo suavemente.
— Acorda, bundão. Está na hora do neném tomar remedinho. —
Abro meus olhos que parecem estar cheios de areia e vejo Artur com um
comprimido para eu tomar.
— Para curar meu amigo que só faz merdas e trapalhadas. —
debocha com amor nos olhos
Tento me levantar, mas estou fraco demais, ele me ajuda a sentar e
fico tonto. Ele aguarda atento e quando melhoro me estende o remédio e
tomo com água.
— Obrigado, cara. Eu sonhei com a Lisa aqui... — falo com a cabeça
baixa e olhos cheios de lágrimas, estou ficando desidratado de tanto chorar.
Porra, gostaria de poder voltar ao passado e mudar toda merda que fiz a ela.
— Não, amigo, ela está realmente aqui, ansiosa e angustiada em ver
você tão debilitado. A mulher só fica chorando. Se você demorar a melhorar
ela provavelmente vai se desidratar — diz e sorri de orelha a orelha. E penso
que seremos dois, já me sinto ressecado, e saber que minha pequena sofre
como eu me entristece e alegra ao mesmo tempo. Sou um caralho de homem
egoísta. Isso significa que tenho chances...
— Ela me perdoou? — pergunto , com vontade de pular de alegria e
ir atrás de minha menina.
— Perdoou e se culpa por você estar nesse estado deplorável, magro,
pálido e feio pra cacete — diz com seriedade, mas seus olhos brilham de
satisfação em me ver melhor.
— Ela não tem culpa de nada, eu que fui um merda, mentiroso do
caralho. — digo e tento me levantar para explicar para minha namorada que
ela não tem culpa de nada.
Artur me empurra na cama.
— Nada disso, o senhor não aguenta no momento uma gata pelo rabo,
então sossega sua bunda magra aí na cama. Daqui a pouco ela estará aqui
com uma canja e vocês conversam, estarei na sala. Aliás, eu estou dormindo
aqui no quarto de hóspedes. Me sinto parte da família. — Pisca matreiro e
sai rindo de sua piada besta.
Aguardo ansioso por Lisa. Quando ela entra, carrega uma bandeja
com uma tigela branca cheia de canja, suco de laranja e fatias grossas de pão.
Meu tão sofrido coração dispara e falta sair pela boca de tanta emoção, amor
e carinho. Como pude ser tão miserável com essa perfeição de pessoa?
Nem que eu viva mil anos vou entender. O que posso fazer é amá-la
com tudo que tenho até meu último suspiro de vida. Isso eu posso e farei com
prazer, será minha meta de vida.
Sorrio tanto que dói meu maxilar.
Ela vem equilibrando a bandeja e não posso ajudar, não consigo nem
levantar os braços de tão fraco que estou.
— Olha a canja quentinha para meu amor — diz sorrindo e me olha
com seus olhos coloridos, transbordando amor e carinho. Meu coração fica
quentinho. Ela me perdoou! Agora é meu momento de falar tudo, sem omitir
nada.
— Lisa... amor... me perdoe por tudo... juro que jamais mentirei para
você... juro que a amarei enquanto viver... juro que serei eternamente fiel...
juro que será minha única mulher... juro que morrerei te amando... você me
perdoa, pequena? — desabafo com medo e lágrimas nos olhos.
Ela coloca a bandeja na mesinha ao lado da cama, se senta, pega em
minhas mãos e me olha nos olhos.
— Raul Magno, eu te perdoo de todo coração, eu te amo mais que
tudo nessa vida e viverei para te mostrar isso. E te peço perdão por ter sido
tão dura com você, amor. — Coloco o dedo em seus lábios.
— Não, amor, não diga isso, eu que fui o escroto da história. Você foi
só uma vítima inocente de um homem corrompido pelo desrespeito com você
e outras pessoas. Mas juro, Lisa, aprendi a lição e você nunca se arrependerá
de ter me dado uma segunda oportunidade — digo com ardor e sinceridade
em cada palavra proferida, falo do fundo do meu coração, com devoção.
— Acredito em você, querido. Vamos combinar uma coisa, agora
para valer. Deixaremos o passado no passado e nos concentrarmos no
presente, viver com respeito e da melhor forma possível, assim teremos um
futuro brilhante e cheio de alegrias — diz minha pequena, com sabedoria.
Sorrio.
— Trato feito, amor. A verdade sempre. — Ela se inclina e beija meu
rosto coberto de barba.
— Agora vamos comer a canja para ficar logo curado. — Senta-se ao
meu lado e me dá colheradas com suavidade, a canja mais gostosa que já
comi em toda minha vida. Que Lili jamais me ouça.
Quando eu termino de comer, suspiro feliz e tomo o suco de laranja
com abacaxi. Bebo tudo olhando-a nos olhos e dizendo, com meu olhar, que
a amo mais que tudo nessa vida, e em outras, se houver.
Ela limpa minha boca com um guardanapo, com carinho, e sinto meu
peito expandir de felicidade e amor por essa mulher e pela oportunidade que
estou tendo de reconquistar o que perdi com minhas burrices, obsessão e
mentiras.
Sinto o sono me tomar, e fecho os olhos, feliz, segurando a mão da
mulher da minha vida com força, com medo de perdê-la enquanto estou
dormindo.
Fico olhando esse homem que errou muito dormir com expressão
abatida e tão sofrida. Meu coração corta de dor e se alegra em tê-lo perdoado.
Ele está muito magro, pálido e descuidado. Em pensar que ele era um homem
que cuidava da aparência com extremo zelo.
Passo a mão em seu rosto barbudo e pego em seu topete que está
ainda maior. Olho com carinho para a quantidade de fios brancos que
surgiram nesse tempo que ficamos separados.
Lembro de tudo que ele fez para se redimir e meu coração dispara.
Me odeio por ter sido tão dura com ele. Tudo bem que ele errou feio, mas
segundo Artur, Raul estava se afundando e se autodestruindo cada dia mais, e
eu não dei crédito. Pensei que fosse exagero dele e de Lili. E agora vejo que
eles foram brandos ao dizer que Raul estava no fundo do poço. Sua aparência
e atitudes nessa última semana mostram como ele estava arrependido e sem
rumo.
Sinceramente não aguento mais chorar, se não estivesse menstruado
há dois dias diria que estava grávida.
Essa nossa situação me deixou destruída e muito emotiva.
— Lisa... — Ouço Raul sussurrar.
— Estou aqui, amor. — Aperto sua mão com carinho.
Ele se aquieta e penso que dormiu, mas então pergunta.
— Onde está Lisa filha, amor? — Me arrepio. Foi esse o nome que
ele colocou na gatinha que me deu de presente meses atrás. Quase surtei
quando a ganhei, mas como ela me lembrava muito ele, pedi a minha amiga
para ficar com ela até superar Raul.
— Ela está com minha amiga, vou buscá-la hoje... —digo baixinho.
Magno me pergunta fracamente.
— Por quê? Você não a quis, Borboletinha? — murmura ainda de
olhos fechados, com dor na voz.
— Magno! Claro que quis, muito, na verdade amei. Levei-a para ficar
lá somente uns dias, vou buscá-la hoje. — prometo a ele e vejo que sorri,
feliz e aliviado. Ficamos em um silêncio gostoso até que ouço seu ressonar
baixinho.
Me levanto e procuro Artur que está fazendo café.
Sorrio divertida e satisfeita, minha casa está bem frequentada, dois
homens lindos.
— Artur, vou dar uma saída e gostaria que ficasse de olho em Raul.
Não vou demorar. — Ele me olha assustado.
— Aonde você vai? — Sorrio, pego uma xícara e encho de café
fresco.
— Vou buscar Lisa Filha, a gatinha que Raul me deu. Ele perguntou
por ela. — Artur me olha curioso.
— Você a levou embora? — Tomo um gole de café e nego.
— Não, deixei ela na casa de uma amiga até superar o Raul, toda vez
que a via chorava toneladas e sentia muitas saudades dele, como achei que
não iríamos voltar, a deixei na casa de uma amiga por um tempo. — digo
triste por mim e Raul, sofremos muito.
— E vocês voltaram? — pergunta e me olha atentamente.
— Sim, resolvemos nos perdoar. Sinceramente eu quero o passado no
passado e Magno quer a mesma coisa — digo e quando percebo, sou
esmagada em um abraço apertado.
— Graças a Deus! Finalmente meu amigo e amiga terão paz. — Sorri
de orelha a orelha, me coloca no chão e me empurra.
— Vai buscar a Lisinha antes que Raul acorde. Porque se não te
encontrar aqui, surtará com toda a certeza do mundo.
— Claro, daqui a uns dez minutos estarei de volta. — Saio quase
correndo para buscar a gatinha.
Ligo para minha amiga e ela me recebe na portaria com a gatinha,
agradeço e volto quase voando. Devo ter demorado menos de dez minutos,
com certeza.
Quando chego, ouço gritos vindos de meu quarto.
— Cadê a Lisa? — Raul grita. — Responde a verdade porra, para de
me enrolar, Artur. Ela foi embora, não foi? Porra! Vou atrás. Ela me
perdoou, caralho! Aconteceu alguma coisa enquanto eu dormia? — grita
alucinado.
— Já falei que ela foi buscar a Lisa filha, você está surdo, cara? —
Artur responde com calma.
— Mentira! Ela deve ter pensado melhor e viu que não valia a pena
me perdoar, caralho! — Ouço ele fungar e entro vazada no quarto. A cena
corta meu coração. Meu homem, obcecado, magro, pálido, segurando seu
rosto barbudo e seu lindo topete grisalho caindo em sua testa.
— Estou aqui, amor, fui buscar nossa gatinha, a Lisa filha. — Ele
levanta a cabeça e vejo seus olhos vermelhos e seu rosto marcado por tanto
sofrimento. Não resisto, corro e o abraço, esmagando a gatinha entre nós. Ela
mia alto com raiva. Vejo Raul sorrir e seus olhos maravilhosos ganham
brilho, apesar de muito vermelhos.
— Lisa, amor! Não me deixe nunca, por favor! Eu te amo tanto,
pequena. — diz e me olha. A gatinha sai agitada e pula no chão, indignada.
— Gata atrevida, igual a dona — Artur zomba e sai do quarto, nos
dando privacidade.
— Fui buscar a gatinha, Raul. — Ele me abraça apertado.
— Desculpe, Lisa, é que sofri tanto com sua ausência e fiz tantas
merdas que tenho pavor de você resolver me largar e... — Beijo Magno
suavemente.
— Prometemos deixar o passado no passado, lembra? Você e eu
estamos proibidos de falar nele. — Empurro seu topete para trás. — Lindo
seu topetão, amor! — Ele sorri lindamente e seus olhos brilham.
— Cresceu mais ainda, agora você pode puxar à vontade quando eu
estiver te comendo — diz , malicioso.
— Raul! Para quem estava triste ainda há pouco, você está muito
saliente agora. — Estou explodindo de felicidade por ver que Magno está
mais corado e feliz.
— Amor, eu sonho com você dormindo ou acordado. Nós dois
fazendo amor, casados, com filhos, envelhecendo juntos. Tudo com você!
Somente você, amor. Quero tudo com você, Lisa Melo! — Acaricia meu
rosto.
Olho com carinho e amor para esse homem que teve que atravessar
um vale de trevas e espinhos para reconhecer seus erros. E o amo ainda mais,
por sua humildade em reconhecer suas falhas, mudar e por sua firme
perseverança.
— Simmmm! — respondo, transbordando de felicidade. — Aceito!
Quero tudo com você também, Raul Magno! Se isso não foi um pedido de
casamento, eu acabei de fazê-lo a você. Mas vou repetir para não ter dúvidas.
Raul Magno aceita ser meu esposo, pai de meus filhos e que possamos
envelhecer juntos e nos amarmos até a eternidade? — Sorrio e vejo seus
olhos se avermelharem.
— Simmm! Foi um pedido sim, amor. E obrigada por me dar essa
segunda chance, Borboletinha. Enquanto viver, farei de tudo para me redimir
de tudo que te fiz. Prometo que te farei feliz. E reforçando, adoraria ser seu
esposo e pai de seus filhos. Vou adorar fazê-los. Sinto saudades de sua
bocetinha suave, macia, rosada e quentinha — diz com cara de tarado, me
beijando com ardor. Sorrio e retribuo, mostrando a ele que estou mais que
disposta em colaborar.
Quando nos afastamos, me levanto e vou preparar algo para Raul
comer.
— Está na hora de seu antibiótico, amor, Artur te trouxe algo para
comer?
— Não, nada. Ele quer me matar de fome, amor — diz com um bico
gigante e manha até na alma.
Artur grita da sala.
— Estou ouvindo, Raul. Lisa, ele não quis comer nada, ficou igual um
alucinado querendo saber onde você estava. — Olho Raul que fica vermelho
e desvia o olhar. Lindo ver um homem gigante como Magno, tão maduro e
experiente, com essa súbita timidez.
— Sem problemas, amor. Vou preparar um lanche bem reforçado e
depois uma sopa maravilhosa e com um caldo bem grosso para você, viu?
Quero você forte e saudável novamente. — Ele sorri e seus olhos brilham
com intensidade.
— Obrigada Lisa, eu amo você meu eterno amor. — diz com
singeleza e subo para preparar uma refeição bem forte e saudável para meu
futuro marido. Meu coração palpita de amor e subo cantarolando feliz.
Ouço Artur dizer com voz divertida.
— Parece que todos aqui viram passarinhos verdes, somente eu não vi
nenhum. A alegria contagiou um homem obcecado e uma borboletinha dura
na queda. Porra, o que o amor não faz com as pessoas. — Viro-me e jogo um
beijo para ele que sorri largamente.
Os dias passam e a cada dia vou me fortalecendo da gripe e a da dor
que me assolava a alma de maneira desgraçada e miserável.
Lisa, minha borboletinha, me entope de comida e carinho. Estou me
sentindo um rei.
Quando Artur vem me zoar, Lisa o repreende e ele sai de mansinho
me olhando com olhos que prometem revanche. Levanto meu dedo do meio
todas as vezes sem Lisa ver, é claro. Estou adorando ser paparicado por ela.
Sei que já engordei um pouco e ela me diz que já estou corado.
Na verdade, me sinto ótimo, mas ainda finjo estar fraco para continuar
sendo o centro de suas atenções. Tudo bem, sou um velho safado. Mas porra,
é bom demais ter comida na boca, beijos, carinhos e ainda proteção contra
Artur, esse desnaturado.
Ele já descobriu minha safadeza e sempre ameaça de contar à Lisa. E
eu o ameaço de mandá-lo embora se ousar.
Agora, o único problema é que estou louco e pronto para fazer amor
com minha menina. Mas tenho que segurar, senão ela pode me mandar
embora. Já bati tantas punhetas enquanto tomo banho que meus dedos estão
calejados. Está ficando difícil.
Artur está cuidando de obras desde que Lisa me abandonou. E
continua. Ele sim é um amigo de verdade, um irmão. Agora que viu que me
estabilizei, tanto na área emocional, quanto na saúde, voltou a monitorar as
obras saindo todos os dias cedo e voltando tarde.
Hoje ele teve que fazer uma pequena viagem de negócios e estou
sozinho com Lisa. A vontade de fazer amor com ela está me tirando o sono e
a calma.
— Amor, como você está? — Ela entra no quarto e me vê deitado,
acabei de tomar banho.
— Estou ótimo, só meu corpo e cabeça que ainda doem um pouco...
— digo sem olhar em seus olhos.
— Raul, é melhor irmos ao médico porque não é normal ficar quase
um mês com gripe — diz e me olha séria.
— Mas no meu caso não foi só gripe, amor, foi emocional também,
você mesma disse... — murmuro e olho para fora da janela, não tenho
coragem de encará-la. Não quero ir embora, porra!
Eu a vejo ir para o banheiro e ouço quando liga o chuveiro. Só de
imaginá-la nua meu pau fica duro igual aço. Porra! Aperto meu comprimento
inchado com força e ralho com ele.
— Comporte-se! Quer que ela nos expulse daqui? — Quando levanto
a cabeça, vejo-a me olhando de forma estranha. Lisa está com uma toalha
branca envolvendo seu doce corpo. Porra! Estou fodido.
Penso na calçola de minha tataravó que nunca conheci, penso em
pessoas vomitando, brigando, xingando... Para ver se meu pau colabora e
murcha. E nada. Ele fica ainda mais duro. Efeito Lisa.
Ela caminha e para em minha frente.
— Raul, está tudo bem? — Minha cabeça está baixa, olhando seus
pezinhos lindos e tento me manter firme.
— Sim, amor. — Vejo a toalha cair aos seus pés e gelo. Porra!
Levanto meus olhos devagar e engulo em seco. Vejo suas pernas torneadas,
sua bocetinha depilada, sua cintura fina, seus seios brancos e rosados, seu
pescoço fino e delgado e sua boca rosada em um meio sorriso. Chego em
seus olhos e vejo que ela sabe de tudo.
— Raul, sei que você está cheio de saúde, meu namorado safado! Se
você não me comer agora, eu que vou te esfolar vivo. Sonho com esse pau
delicioso todos os dias e cansei de ver você batendo punheta ao invés de me
comer. Já chega! Safado, vem cá! — ronrona com um sorriso de loba e pula
em mim.
Porra! Sorrio tão largamente que minhas bochechas doem. Ela segura
meu rosto e me lasca um beijo tão gostoso e molhado que gozo. Pronto!
Acabou!
— Caralho! — Gemo com meu corpo ainda estremecendo com os
resquícios de meu gozo solo. E a vergonha me toma por completo.
Ela me olha com carinho e continua me beijando. Eu a beijo com
paixão porque amo demais essa pequena mulher.
— Amor, me perdoa, tem muito tempo que eu não...— Ela continua
me beijando e sinto meu pau começar a endurecer novamente. Ela o pega e
bombeia com força.
Sinto minha semente escorrer por seus dedos e caralho se isso não me
faz ficar mais duro ainda.
— Lisa... — Só gemo, estou incapacitado de fazer algo mais.
Ela chupa meu pescoço e gemo alto. Porra, deixa eu dar prazer a
minha mulher. Eu a viro de uma vez e subo em cima de seu pequeno corpo.
Ela me olha assustada e sorrio.
— Minha vez, amor. Quero que seu primeiro gozo seja enquanto
chupo seus seios deliciosos, o segundo enquanto chupo sua doce bocetinha e
o terceiro com meu pau atolado em sua boceta, até as bolas. — Sorrio como
lobo e parto para o ataque.
Ataco sua boca sem dar a ela chance de falar. Desço para seu pescoço
e o chupo, marcando-o. MINHA! Depois dou atenção para seus seios, que
amo de paixão, e sugo até minha abelhinha gozar e molhar meu pau, que está
deslizando em suas dobras molhadas, sem penetrá-la.
Beijo sua cintura e enfio a língua em seu umbigo. Chego no montinho
branco e macio e abro suas pernas, cheiro e gemo de prazer.
Passo minha língua por seus grandes lábios e vejo seu clitóris inchado
e vermelho, apontando para minha boca. Minha boca começa a salivar e ali
mesmo me deleito em seu sabor, sugando com tanta força que rapidamente
Lisa goza e grita alto e roucamente.
— Amo você, pequena — sussurro, com seu clitóris ainda em minha
boca.
Subo e a beijo com todo amor e devoção que sinto por ela. Ela segura
meu topetão e sorrio de lado orgulhoso, como senti falta disso.
Desço minha mão até a sua entrada e percebo que seu pequeno clitóris
está durinho novamente, o massageio com carinho e suavidade e ela geme em
minha boca.
Continuo aquela tortura sensual e quando sinto que ela está prestes a
gozar, paro os movimentos fazendo-a soltar um gemido de insatisfação.
Encaixo meu pau em sua pequena entrada e estoco com força. Gememos alto
e sinto suas paredes macias e quentes me apertarem. Fico parado, quietinho
enquanto Lisa massageia meu pau estremecendo e gozando com força. Ela
me aperta tanto que gemo e entro em desespero, começo a estocar com uma
velocidade que até eu desconheço.
— Humm! Bom demais, caralho. Lisa, tão quente e macia! — Gemo
e continuo estocando. Quando sinto meu corpo todo se aquecer, gozo com
tanta força que meu gemido sai rouco e grosso. Meu pau incha e se esvazia
dentro dessa caverna quente e macia. Minha Lisa. Enquanto gozo, grito alto
e gemendo que somente ela será eternamente minha mulher, namorada,
esposa e mãe de meus filhos, avó de meus netos.
Caio de lado puxando-a com cuidado para cima de meu corpo
relaxado.
— Lisa, eu te amo mais do que tudo nesse mundo, amo tanto que
chega doer, pequena. — Ela funga e me olha com amor, então passa a mão
em minha barba e cabelos desgrenhados.
— Eu também te amo, meu querido CEO obcecado, pai de meus
filhos, avô de meus netos e marido, por toda a eternidade.
Ela repete minhas palavras com amor e sorrio com o coração
finalmente em paz.
3 anos depois...
Estamos eu, minha esposa e nossa filha na sala da casa, na Vila dos
Ipês. Escolhemos morar aqui porque tem mais espaço para nossa pequena
Lisandra, correr e brincar. Ela adora ficar no pomar e comer maçãs. Picamos
em pequenos cubinhos, nos sentamos com ela sobre uma toalha rosa que ela
carrega para todo lado. Nossa menininha já consegue comer quase uma maçã
inteira.
Ela adora também as flores de ipês que caem formando um tapete
aveludado. Lisandra ama correr e pegar as flores para encher sua cestinha,
desfilando com orgulho angelical.
Comprei as cestas assim que as vi (são rosas e com laços gigantes),
pois eu sabia que elas adorariam. Sempre fico observando-as colhendo entre
risos, os mais diversos tipos de flores. Amo esses momentos, eles são
sublimes.
Artur deu gargalhadas quando as comprei e saí desfilando com
orgulho as cestas cheias de laços. Sorrio com a lembrança. Eu era o centro
das atenções, um homem barbudo e gigante com duas cestas rosas e laços
imensos. Foda-se se me importo. O que conta é a alegria de minhas meninas.
Mas valeu a pena, as duas fizeram a maior festa quando as
presenteei. Morro e vivo por elas.
Minha filha é a miniatura perfeita da mãe, tem os mesmos olhos
coloridos, que tanto me fascinam. Lisandra tem somente uma manchinha no
bumbum, igualzinha uma que tenho no mesmo lugar. Além disso, segundo
Lisa, nós temos o mesmo sorriso torto, quando vamos aprontar alguma
traquinagem. Sorrio envaidecido. Puta merda! Sou um sortudo da porra!
Duas mulheres lindas e que são meu mundo! Quando alguém fala que
Lisandra se parece mais com a mãe, menciono logo a marca que tem de
nascença e o lugar. Nossa bunda. Lisa sempre cora. Adoro provocá-la.
Hoje estamos sentados na sala e nossa pequena provoca o casal de
gatos, sim, a gatinha Lisa, agora tem o gatão Magno. Eles se acasalaram e
deram uma pequena ninhada de dois filhotes, um macho e uma fêmea. Os
bichinhos sofrem com Lisandra, ela os arrasta para todo lado, mas eles não a
machucam. Parece que entendem que ela é somente um bebê.
— Amor, olha como nossa filha interage com os bichinhos — digo
orgulhoso de Lisandra mimando os filhotes.
— Querido, ela ama esses gatos sim, mas está com um sorriso
estranho no rostinho, igual ao seu quando vai aprontar... — Lisa diz com
sabedoria, e não demora segundos para a pequena Lisandra pegar um dos
gatinhos que estava mamando e sair em disparada. A mãe do gatinho roubado
se arrepia toda e levantamos num salto, com medo da gata arranhar Lisandra.
Nossa filha o coloca na cestinha e o cobre com cuidado. Arrasta a cesta até
onde está o outro gatinho, pega com cuidado e o coloca junto com o outro
filhote. Os gatos adultos somente olham, atentamente. Nossa pequenina, pega
a gata no colo e vem para nosso lado, arrastando a cesta com os filhotes com
dificuldade e o gato pai logo atrás, miando alto. Olho com tanta ternura para a
minha filha, que meu coração parece falhar algumas batidas. Volto meus
olhos para Lisa que está com o mesmo olhar bobo em direção à nossa filha.
— “Todu mudo zunto. Papa e mama de Lisanda, papa e mama de
gatios, famia feiiz.” (Todo mundo junto, papai e mamãe de Lisandra, papai e
mamãe de gatinhos. Família feliz). — Nossa filha fala com doçura deixando
os bichinhos aos nossos pés e levanta os bracinhos gorduchos. A pego com o
coração doendo de tanto amor por esse pedacinho de gente que ajudei a fazer.
Meus olhos ardem e olho para minha esposa que me presenteou com essa joia
em meus braços e com uma vida tão plena, que se morresse agora morreria
feliz e realizado. Aqui na casa da Vila dos Ipês estão os meus maiores
tesouros: Minha esposa, filha, Lili e não poderia deixar de citar o meu irmão
Artur. Eu os amo de todo coração. Abraço as duas, nos aconchegamos no
sofá grande e macio, enquanto os gatinhos pulam da cesta voltando a mamar.
Olho para a pequena Lisandra e ela adormece segurando meu imenso topete.
Então encaro Lisa, puxando-a para um beijo demorado. Amo demais essa
mulher!
— Tal mãe, tal filha, ambas amam meu charmoso topetão. — Sorrio
orgulhoso e recebo de volta um sorriso carinhoso.
— Nunca vi um topete tão lindo e macio como esse... Ah, e grisalho!
— Pisca, sorrindo largamente, me beija no rosto barbudo, sei que ela ama
também a minha imensa barba grisalha. Fecho meus olhos de puro prazer e
contentamento. Sou feliz e a cada dia que me levanto cumpro a promessa que
fiz a minha Lisa, viver para fazê-la feliz juntamente com a minha filha. Elas
são meu mundo.
A Deus em nome de Jesus.
Obrigada Senhor por mais essa obra finalizada. Tudo que sou devo a
Ti!
Cada ideia, cada novo projeto, cada dia de vida, cada respirar.
Vivo para celebrar cada milagre que opera em minha vida. Testifico
sua grandeza a cada respirar.
Abençoe meus inimigos com sua misericórdia.
Abençoe meus amigos com bençãos duplicadas.
Te agradeço por tudo que fez, faz e fará em minha vida.
Obrigada Senhor!

Para o meu amado filho, Matheus, que é um verdadeiro companheiro,


amigo em todos os momentos, parceiro, motivador e um presente vindo
direto do coração de Deus para alegrar minha vida. Matheus Mendes uma
benção que Deus generosamente me deu! Amo você meu filho querido!
A Todas as meninas e meninos do Canal que me incentivaram e
muito! Obrigada de coração!
Sinceramente espero que gostem e agradeço a todos que tiraram um
tempo para ler Raul Magno.

Beijos

Você também pode gostar