Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
II
III
IV
V
Mas prossigamos a partir de onde começamos o excurso.
Porque não é completamente destituído de fundamento determinar
o que se supõe ser o bem e a felicidade a partir das formas de viver
a vida; a maioria dos homens e os mais vulgares de todos supõem
que o bem e a felicidade são o prazer; é por esse motivo que
acolhem de bom grado uma vida dedicada à sua fruição. Há, então,
três formas principais de viver a vida: aquela que foi agora
mencionada; em segundo lugar, a que é dedicada à ação política e,
em terceiro lugar, a que é dedicada à atividade contemplativa. A
maioria dos homens parece estar completamente escravizada e
preferir uma vida de animais de pasto. Encontram um sentido
aparente para as suas formas de vida, porque muitos dos que
detêm o poder têm paixões idênticas àquelas por que passou
Sardanapalo.36
Os que são sofisticados, contudo, e se dedicam à ação prática
supõem, antes, ser a honra. Na verdade, a honra quase que é o fim
último da vida dedicada à ação política. Este bem que perseguem
não deixa, contudo, de ser um bem mais superficial do que aquele
de que estamos à procura. Parece ainda que a honra pertence mais
aos que a concedem do que àquele que a recebe; ora, nós
pressentimos, por outro lado, que o bem terá que ser algo de
próprio, e que, uma vez obtido, dificilmente será retirado. Por fim,
parece que os homens perseguem a honra para se convencerem de
que são bons. Pelo menos, procuram ser honrados pelos sensatos e
por aqueles que os conhecem, e, de fato, honrados em vista da
excelência. É evidente que, pelo menos para estes, a excelência é
mais poderosa do que a honra. Talvez, pois, se possa supor que a
excelência seja mais propriamente o objetivo final da vida política.
Ainda assim, ela própria parece ser incompleta. De fato, parece ser
possível, mesmo a dormir, deter a excelência, ou detê-la sem a pôr
em prática ao longo da vida; acresce a isto que pode ser-se
excelente e sofrer-se tremendamente ou ser-se extremamente
infeliz. Ninguém pensará que quem assim viver será feliz, a não ser
para defender uma qualquer posição teórica a qualquer preço. Mas
ficamos por aqui, porque isto já foi suficientemente discutido nos
escritos para os círculos mais alargados.
O terceiro tipo de vida é o da atividade da contemplação pura, é
sobre ela que mais tarde faremos uma investigação.
A vida dedicada à obtenção de riqueza é de certa forma uma
violência e a riqueza não será manifestamente o bem de que
estamos à procura, porque é meramente útil, portanto, enquanto útil,
existe apenas em vista de outra coisa diferente de si. Por isso que
os fins mencionados primeiramente se suponham ser mais
propriamente fins, porque são queridos por si próprios. Mas nem
esses parecem ser o bem de que se está à procura, ainda que já se
tivessem produzido muitos argumentos em seu favor. Deixemo-nos,
por ora, ficar por aqui.