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A censura
Patrocínio
Descentralização
Financiamentos
O Estado tem à mão outras formas de ajudar o teatro. Aflige os empresários a
falta de casas de espetáculos. As existentes cobram aluguéis proibitivos.
Construindo saias e cedendo-as aos conjuntos, a preços acessíveis, o Governo
pode contribuir de maneira decisiva para o estimulo da atividade cênica. A
Municipalidade de São Paulo, por exemplo, edificou diversos teatros, nos bairros.
Tecnicamente, eles deixavam a desejar, e não se encontraram até hoje medidas
eficazes para o seu pleno aproveitamento. Mas a iniciativa foi meritória e deve ser
imitada, para que os grupos disponham de abrigos adequados.
Poucos capitalistas constroem hoje residências para serem alugadas, porque
essa é considerada uma desaconselhável aplicação de fundos. Que se dirá dos
teatros, que exigem aparelhagem especializada e estão sujeitos às incertezas dos
êxitos? As semanas ou os meses sem espetáculos representam paralisação da
renda, não compensável com um simples aumento do aluguel. Somente o Estado,
como não visa lucro, prescinde da exploração do locatário, num programa cultural.
Empresários e artistas, desejando ter uma sede onde trabalhar, envidam
esforços para construir suas casas de espetáculos. Nesses casos, o Estado pode
desempenhar ainda papel expressivo, autorizando a concessão de créditos, por
meio dos estabelecimentos oficiais. Os bancos ligados ao Governo têm condições
também de ajudar as companhias, emprestando-lhes dinheiro para o custeio das
montagens.
Ainda numa demonstração do seu apreço pela atividade cênica, o Estado
consagra os artistas com prêmios em dinheiro ou honrarias. Esqueça-se, nessa
atitude, um eventual traço paternalista, e as láureas representam estímulo
ponderável, além do reconhecimento da coletividade.
Qualquer dos profissionais de teatro necessita de preparo especializado,
segundo a regulamentação em vigor. Os cursos de arte dramática destinam-se a
intérpretes, encenadores, dramaturgos, cenógrafos, professores de arte dramática e
até a críticos. Tratando-se de matérias vocacionais, cuja escassa compensação
financeira posterior afugenta a maioria, formam-se a cada ano poucos artistas, que
ocuparam diversos professores. O pagamento das aulas mal bastaria para as
despesas burocráticas. As escolas teatrais só subsistem com a ajuda do Governo.
Por reconhecerem o significado do ensino dramático, muitas universidades oficiais
brasileiras incluíram entre as suas promoções os cursos de teatro. Aí está mais uma
importante ajuda do Estado à arte do palco.
Companhias subvencionadas
Nacionalismo
Os postulados
A exegese do nacionalismo, no campo econômico e político, tem dado
margem a digressões acerbas. Ainda não se descobriu um instrumento para a
aferição da autenticidade nacionalista... Na prática, muitas vezes não se sabe qual o
melhor caminho para defesa e enriquecimento do nosso patrimônio. No teatro,
então, o problema está ainda mais indefinido. Uma evidente confusão aquece os
debates, e os resultados objetivos da política podem, a longo prazo, tornar-se
nocivos. Não se deve admitir que uma noção primária de nacionalismo destrua as
lentas e duras conquistas artísticas do teatro.
As teses amplas do nacionalismo cênico estribam-se em dois postulados:
prestigio à dramaturgia brasileira e procura de um estilo brasileiro de encenação.
Assim exposto, o programa não pode deixar de ser aceito por todos os que têm
consciência estética. Faz parte daquilo que se chamaria consenso geral, tão óbvios
são os seus propósitos. Sabe-se que não há grande teatro sem uma correspondente
literatura dramática. A tragédia e a comédia grega escreveram-se para o público seu
contemporâneo, que ia aplaudi-las no momento da criação, O fastígio do teatro do
século V a.C., em Atenas, está intimamente ligado à produção de uma dramaturgia
própria. Shakespeare e os outros autores elisabetanos são a base da floração
inglesa do Renascimento. Sempre urna grande época teatral se ligou à maturidade
da literatura dramática. Em Roma, cuja dramaturgia erudita viveu de traduções dos
gregos, o teatro não chegou a ter o prestígio alcançado junto a outros povos. Com
respeito ao Brasil, a conclusão parece curial, assimilado o ensinamento da história:
haverá um teatro brasileiro de mérito quando se impuser urna dramaturgia
independente e autêntica.
Esse é um dado da questão. Como, todavia, o teatro não se contém no texto
e se realiza no espetáculo, deve-se concluir também que a encenação precisa ser
brasileira. Isto é, não mera cópia das conquistas técnicas e expressivas dos
diretores e intérpretes europeus e norte-americanos, mas o resultado do
aprofundamento da sensibilidade nacional. Argumenta-se, por exemplo, que um bom
ator inglês dos nossos dias desempenha uma tragédia shakespeariana utilizando a
experiência de séculos. Ele é o produto de paciente cristalização, que pode sugerir
até infidelidade ao primitivo espírito da obra. Assim, quando um brasileiro se dispõe
a interpretar Shakespeare, não lhe cabe reproduzir o estilo de John Gielgud ou de
Laurence Olivier. Estará muito mais próximo de Shakespeare se apreender sua
mensagem, filtrando-a segundo padrões brasileiros. Devem-se caracterizar os
gestos, as atitudes e a prosódia nacionais. Do contrário, contribuir-se-á para que se
mantenha no teatro a alienação - palavra que não saiu da moda.