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Taubaté - SP
2004
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Taubaté - SP
2004
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Dedicatória
Lidiane
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Agradecimentos
Lidiane
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Resumo
SUMÁRIO
RESUMO.............................................................................................................6
INTRODUÇÃO ....................................................................................................9
3.2 - ALUNOS................................................................................................ 18
3.4 - ESCOLA.................................................................................................. 21
3.5 - PROFESSORES...................................................................................... 24
DA CRIANÇA .......................................................................................... 40
EDUCAÇÃO INFANTIL........................................................................... 47
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CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................. 53
INTRODUÇÃO
Está relacionada com limites, respeito, cidadania e será discutida sobre a ótica
do significado ligado a restrição do que não deve ser transposto, ao sujeitar-se a uma
imposição normativa. Então, o que seria indisciplina?
O conceito de indisciplina é susceptível de múltiplas interpretações. Um aluno
indisciplinado é em princípio alguém que possui um comportamento desviante em
relação a uma norma explicativa ou implícita sancionada em termos escolares e
sociais.
A indisciplina está pautada em um comportamento avesso, arbitrário às regras
ou às imposições normativas, o que pode prejudicar tanto o indisciplinado como os
indivíduos que o cercam. Digo “pode” porque depende muito do tipo de regra que é
quebrada. Vejamos:
As limitações normativas envolvem questões políticas, étnicas, existenciais, as
que a sociedade cria e impõe. Exemplificando: Não se pode ficar andando, pulando
em sala de aula, mas por quê não pode? Se há pernas para fazê-lo? Isso implica na
falta de legitimidade de certas leis. Muito do que o adulto (professor) pode interpretar
como indisciplina por parte do aluno, é para a criança uma superação de seu limite no
momento em que age.
Mesmo porque, a indisciplina dessa idade nada mais é do que as primeiras
tentativas da criança de se tornar independente, de superar-se e se assim o é como
diz Wallon, então não seria a escola que estaria equivocada ao estabelecer certas
regras, como o uso da carteira, por exemplo?
... O “Mim” e o “Eu” substituem a terceira pessoa, que lhes servia até
então para designarem a si próprias, face a outrem, tornam-se
opositores, sem outro motivo aparente que o de experimentarem o
sentimento da sua independência. As suas exigências, os seus
caprichos parecem provir mais do amor-próprio que do prazer
cobiçado. Estendem às coisas as suas pretensões e fazem valer os
seus direitos de propriedade sobre objetos de que não tiram qualquer
prazer. Esta faze de rejeição ou de reivindicações puramente formais,
cuja fonte é a necessidade de reconhecer e de fazer reconhecer a
existência da sua pessoa, dá lugar, ao cabo de algumas semanas ou
de alguns meses, a uma necessidade, a de fazer valer esta pessoa,
de fazer admitir os seus méritos, de a dar em espetáculo a
outrem...(WALLON, 1979. p. 64)
3.1 – Família
não depende da estrutura formal da família , mas do modo como se tecem os afetos
familiares para cada sujeito.
3.2 - Alunos
O que faz com que um aluno seja indisciplinado? É preciso dizer que muitas
vezes as razões de fundo não são do foco da educação. Em muitos casos tratam-se
de questões que deveriam ser tratadas no âmbito da saúdo mental infantil e
adolescente, da proteção social ou até do foco jurídico. O grande problema é que
muitas vezes as escolas não conseguem fazer esta triagem. Tentam resolver
problemas para os quais não estão preparadas ou nem sequer são da sua
competência.
Todos os alunos são potencialmente indisciplinados, porque a escola é sempre
sentida como uma imposição por parte do Estado ou da família. É por isso que as
aulas são locais de constrangimentos e de repressão de desejos. Freud e depois
Foucault dissecaram este problema. Nesta perspectiva o que acaba por diferenciar os
alunos entre si é a atitude que assumem perante estas obrigações. Numa
classificação de inspiração weberiana são distinguidos três tipos de alunos:
Obrigados-satisfeitos: uma minoria que se conforma às exigências que a
escola lhes impõe.
Obrigados-resignados: A maioria que se adapta ao sistema procurando tirar
partido da situação, atingindo dois objetivos supremos: “gozar a vida” e “passar de
ano”.
Obrigados-revoltados: uma minoria inconformados (ou maioria conforme as
circunstâncias sócio-econômicas do meio). Da família à escola e desta à sociedade
colocam tudo em causa: valores, normas estabelecidas, autoridade, etc...
Não é fácil explicar as razões que levam uns a assumirem-se como
“conformistas” e outros como “revoltados”. A “falta de afeto” ou a “vontade de poder”
são, por exemplo, duas destas motivações. Há quem aponte também as tendências
próprias de cada idade que transforma uns em “revoltados” e outros em
“conformistas”.
A indisciplina pode também ter causas de natureza biológica, como explica
Nereci (1983), já que certos estados de desnutrição, esgotamento físico, verminose,
etc: podem acarretar estados de inquietação e incapacidade para os trabalhos de
classe que vão, quase sempre, redundar em indisciplina.
É claro que existem também as causas de natureza psicológica, que embora
ocorram com menos freqüência são merecedoras de serem abordadas, tais como:
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A formação do grupo, descrita acima por Wallon, não é nada que qualquer
professor não conheça. A turma é também um grupo, sem que todavia faça
desaparecer todos os outros aos quais os alunos se encontram ligados dentro e fora
da escola.
Quando a criança entra na pré-escola, ela tem de ajustar-se a determinadas
regras diferentes das que estava habituada a atender em casa .Regras essas
impostas pela instituição, professor, colegas, entre outros. A criança se depara com
um grupo de pessoas bem maior que a sua família.
A tarefa de ensinar é uma responsabilidade muito grande e mais ainda nos
primeiros anos de vida. Se o professor, indispensável ao processo de ensino-
aprendizagem, não tiver um conhecimento seguro do desenvolvimento infantil, não
souber dosar as atividades, não tiver criatividade e sensibilidade, poderá atuar de
forma negativa sobre a criança. Atuação essa que é melhor explicada no seguinte
trecho do livro de Wallon:
Creio que é mau tirar proveito desta idade da criança para
desenvolver nela o espírito de concorrência e de antagonismo
coletivo. Neste caso apenas se suscita um mau espírito de corpo, e
as premissas de um sentimento que não é sentimento de
solidariedade, mas sentimento de dominação em relação a um outro
grupo, ou seja, a forma de dominação mais lastimável, mais cega,
mais nefasta...
Mas há outras maneiras de tirar proveito desta etapa de
sociabilidade: desenvolver não o espírito de rivalidade, o espírito de
antagonismo, mas o de cooperação... (WALLON, 1979, p. 212)
Nota-se que Wallon não prescreve receitas mas aponta caminhos para que se
possa trabalhar de forma positiva com as crianças. Por exemplo, se as regras de
conduta são elaboradas pelos alunos no início do ano, registradas em forma de cartaz
e fixadas na classe durante todo período letivo, o não cumprimento de alguma regra,
após ser discutida na classe leva à penalidade deliberada pelo próprio grupo (prevista
no cartaz). As regras geram a conquista da autodisciplina em toda e qualquer ocasião
(passeios, visitas, atividades interclasses e outras).
No entanto, é necessário considerar que a compreensão e conseqüentemente
a incorporação dessas regras ao convívio escolar não ocorre espontaneamente, mas
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3.4 - Escola
3.5 – Professores
3.6 - Sociedade
se os pais exigem que ele seja rígido e a escola cobra isso dele? Ele não pode. A
democratização das relações dentro da escola só tem condições de se viabilizar
quando existe um projeto que envolva toda a comunidade escolar. Sem isso, o
professor fica mesmo é com a regra mais primária: ele manda, e os alunos obedecem.
Refletir sobre a disciplina na escola é muito significativo, pois após 20
anos de regime autoritário, estamos hoje, tentando constituir uma
nação mais democrática. (Freire e Shor, 1986, p.110)
O que fazer diante de uma classe repleta de baderneiros? Como botar ordem
no caos? De quem é a culpa?
Conquistar a disciplina em sala de aula tornou-se um verdadeiro desafio para o
ensino nos dias de hoje, tanto nas instituições públicas como privadas, e merece uma
séria reflexão.
Vamos pensar no que acontece dentro da classe, quando o professor tenta
desenvolver o conteúdo de sua disciplina para crianças desinteressadas, apáticas,
bagunceiras, isto é, indisciplinadas. Talvez alguns professores saudosistas (e até
mesmo os progressistas), numa situação de desespero, sonhem em punir
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CAPÍTULO II
exercício de cada função. Isto quer dizer que a maturação orgânica não é a única
condição para o aparecimento de determinada função. Ela deve ser exercidade dentre
as possibilidades que o meio oferece. É o contato social durante os primeiros anos de
vida com os pais e outras pessoas que possibilitam mais tarde o reconhecimento do
eu.
... as emoções não possuem nenhuma característica de um sistema
de uma atividade simbólica. Longe de servir para evocar ou combinar
as representações, elas limitam e chegam mesmo a reprimir seu jogo.
Aliás, elas devem inversamente ceder-lhes o lugar quando não
conseguem triunfar. Entre as duas existe antagonismo e
incompatibilidade (...) situadas entre o automatismo das relações e a
atividade intelectual, as emoções mantém com ambos uma dupla
relação de filiação e proposição. (...) Constituindo por um lado, o fator
que foi primeiramente capaz de realizar, entre os indivíduos, a
unidade de atitude e de consciência da qual pode surgir o comércio
intelectual entre eles, as emoções entraram, emseguida, em conflito
com o que haviam tornado possível. Suas manifestaçòes são
perturbadas ou reprimidas pelo controle, ou pela simples atividade da
inteligência e, reciprocamente, não podem produzir-se sem alterar-lhe
o funcionamento . ( Wallon, 1986, p. 147 – 148)
De acordo com ele, o ser humano não nasce com a percepção e os reflexos
prontos, eles serão possibilitados pela maturação orgânica e construídos socialmente
ao longo de seu desenvolvimento. Sendo assim, até o primeiro ano de vida (
denominado por Wallon de estádio impulsivo emocional) o psiquismo principia em uma
indivisão entre o ambiente ou a situação. Nessa idade a criança tem necessidade do
contato físico, gosta de ficar no colo, de ser acariciada. No estádio sensório motor e
projetivo, entre o primeiro e o terceiro ano de vida, as disdposições orgânicas já
permitem à criança ações mais voltadas para o meio físico e ela começa a dedicar-se
a exercícios sensório motores. Ela gosta de subir em tudo, correr, pular e até imitar. O
movimento faz parte de seu ajustamento ao mundo que a cerca e lhe propicia o
conhecimento de suas possibilidades.
É muito ativa. Brinca, trepa. Mexe em tudo, derruba coisas. Leva tudo à boca.
Cai e se machuca com facilidade. Também sente medo, desprazer, raiva, ciúme,
alegria, excitamento, afeição por adultos, crianças, animais. Afirma o autor, que desde
o nascimento existem íntimas relações entre o desenvolvimento orgânico e o
desenvolvimento psíquico, sem preponderância de um sobre o outro, mas ação
recíproca. As reações motoras são orientadas para a realidade e são, nos gestos da
criança que se encontram as raízes de seu pensamento: por meio deles ela pode
lembrar de um objeto ou de uma situação. Até o terceiro ano de vida “o pensamento
só pode impor-se ã consciência se se realizar pelo gesto ou pela palavra” “( Wallon,
1979, p. 143) Nesse período, o personagem principal de vida da criança é a mãe. A
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preconceituosas; é preciso ver cada caso. E podemos ver quadros distintos: crianças
que, devido a dificuldades familiares, têm, de fato, sua conduta na escola perturbada
como, por exemplo, por meio de uma inibição intelectual. Por outro lado, podemos ver
crianças que, apesar das dificuldades familiares, conseguem estabelecer vínculos
saudáveis na escola e retiram, da sua relação com o conhecimento e com a cultura,
novas possibilidades identificatórias que podem ajuda-la na elaboração dos conflitos
decorrentes das relações familiares.
O êxito do trabalho da escola depende de total similitude de valores entre a
cultura familiar e a cultura escolar. Se, por um lado, a proximidade pode ser um
facilitador, como mostram pesquisas de cunho sociológico que mostram maior
incidência de fracasso entre famílias não escolarizadas, ela não garante.
... A organização da família, das relações entre as crianças e adultos,
entre sexos, entre indivíduos e coletividade, impõem a sua afecvidade
quadros mais ou menos rígidos, imperativos, proibições susceptíveis
de influir profundamente sobre a constituição da pessoa. (Walln,
1979, p. 55)
Pela psicanálise, cada um, ao nascer, se insere numa trama desejante que o
antecede; cada um tem um lugar no desejo dos pais. Temos que é no âmbito familiar
que se dão os vínculos mais primitivos, as primeiras identificações, relações objetais
que vão marcar para sempre cada sujeito.
Pela psicogenética de Wallon, o desenvolvimento psicossocial é visto como um
complexo processo em que imbricam fatores biológicos e sociais. A criança se
apropria de elementos dos meios em que se insere. “O meio nada mais é do que o
conjunto mais ou menos durável d circunstâncias nas quais se desenvolvem
existências individuais” pode ser concreto ou simbólico. “Vários meios podem
superpor-se para um mesmo indivíduo e até entrar em conflito”. A criança incorpora
elementos dos meios nos quais se insere e age sobre lês, transformando-os.
A família é o primeiro meio no qual um ser se insere, desde o nascimento e
dele depende para sua segurança, alimentação, proteção. No inicio da vida, a sua
relação com o meio humano é de fusão, há indiferenciação. A família é também um
grupo, na qual cada membro tem um papel, um lugar, tanto marcado pela composição
familiar, por exemplo, filho único, filho mais velho, caçula, menino, menina, como pelas
relações estabelecidas, o mais ordeiro, o mais bagunceiro, etc. Os vínculos são
carregados de afeto.
A entrada na escola representa uma importante ampliação e possibilidades
para a construção do sujeito, pois a criança pode ocupar lugares diferentes dos que
ocupa na família (bom em matemática, fraco em artes), bem como participar de grupos
diversificados, com objetivos diversos.
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alunos contestam o professor ou recusam-se a realizar uma proposta feita por ele,
pelo simples gosto de exercitar a oposição.
O professor, se estiver ciente do papel desempenhado pelo conflito eu-outro na
construção da personalidade, pode receber, com mais distanciamento, as atitudes de
oposição sem toma-las como afronta pessoal. Afinal, é provável que as oposições não
sejam contra a sua pessoa, mas contra o papel de elemento diferenciado que ele
ocupa.
Importante recurso para construção da identidade (individual coletiva) as
condutas de oposição podem ser interpretadas também, como indício de uma
necessidade de autonomia. A introdução de medidas concretas, que visem a
possibilitar maior autonomia e responsabilidades às crianças, pode diluir a oposição e
facilitar a convivência nos momentos críticos. Sem falar nos benefícios que tais
medidas podem trazer para o desenvolvimento de condutas sociais importantes, como
a cooperação e a solidariedade.
As dinâmicas turbulentas se caracterizam pela elevada incidência de condutas
de dispersão, agitação e impulsividade motora, situações que deixam visível uma
divergência entre as intenções do professor – conter – e a dos alunos – escapar ao
controle.
Ao contrário dos conflitos resultantes do exercício da atitude de oposição,
essas dinâmicas, quando muito freqüentes, não tem nenhum significado positivo; ao
contrário, só fazem consumir energia, desgastando o professor e os alunos.
A identificação dos fatores responsáveis que podem estar no plano dos
conteúdos de ensino, das atitudes do professor, da organização do espaço da sala de
aula ou do tempo das atividades, propicia a possibilidade de aperfeiçoamento da
prática pedagógica. Na discussão que aqui propomos, daremos destaque a um dos
fatores, que é a inadequação das exigências posturais normalmente feitas pela escola.
Ignorando as múltiplas dimensões do ato motor no desenvolvimento infantil, é
comum a escola simplesmente se esquecer das necessidades psicomotoras da
criança e propor atividades em que a contenção do movimento seja uma exigência
constante.
A realização da maior parte das tarefas propostas costuma exigir que as
crianças fiquem sentadas, paradas e com a atenção concentrada num único foco. Em
geral, a intensidade com que a escola exige essas condutas é superior às
possibilidades da idade, o que propicia a emergência da dispersão e impulsividade, já
que, o cansaço provocado flexibiliza ainda mais o domínio da criança sobre a sua
atenção e as suas reações motoras.
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Aqui, a sua atuação é decisiva, pois uma coisa é verdade: com exceção de
casos patológicos, crianças e adolescentes são muito curiosos. Eles adoram aprender,
desde que o conhecimento não lhes pareça impingido e, sobretudo, quando seu
interesse e participação são estimulados.
Mas eles também gostam de ser respeitados: valorizam a sinceridade, o jogo
aberto de um professor.
Satisfazer uma curiosidade (no caso, despertada pelo professor em classe) e, a
partir disso, construir um novo saber, é uma experiência extremamente
recompensadora. Ou seja, é trabalho e prazer ao mesmo tempo.
Mas o fato de que o trabalho escolar se constitua em prazer não significa que
ele se transformou em lazer. Esse tipo de confusão é comum e acaba acarretando
inúmeros problemas, sobretudo de disciplina.
Daí a importância de se fazer uma negociação permanente. Como nem todo
assunto vai interessar a todo mudo todos os dias, convém fazer um acordo, uma
espécie de “contrato social” com a classe, estabelecendo as regras do jogo. Todos
participarão da feitura das regras, mas, uma vez acatadas pela maioria, a turma se
obriga a cumpri-las. Caso uma ou várias regras, com o tempo, não funcionem mais,
pára-se tudo e discute-se com os alunos a criação de novas regras.
Essa postura não pode passar a imagem do professor “bonzinho” (que sequer
é respeitado pelos alunos), mas sim a do professor interessado na classe como um
todo e em cada um de seus membros. Aqui também é fundamental dizer a verdade.
Existe, sim, uma liberdade na organização da classe, mas ela se destina ao
aprendizado. E, para que ela aconteça, é necessária a presença de uma autoridade
representada pelo professor. Em outras palavras, o professor não é o “dono” do saber,
mas aquela pessoa que orienta a classe para que ela construa seu jeito de aprender,
cada vez mais e melhor.
Pouco a pouco, a turma vai percebendo a legitimidade dessa autoridade. Mas
vai percebendo na prática, através daquilo que viveu e não porque alguém disse que é
assim e pronto. Essa é a nova disciplina. Um imenso desafio e um enorme prazer para
alunos e professores.
À guisa de conclusão, é preciso esclarecer que, com esse exercício de reflexão
sobre situações conflituais presentes no cotidiano escolar, não tenho por meta
alcançar um estado de ausência de conflitos. Afinal, dado o papel dinamogênico que
assumem no desenvolvimento, isso não seria possível. O que se propõe e, outrossim,
uma avaliação por meio da qual seja possível distinguirmos entre os conflitos que
possuem, de fato, um significado positivo e aqueles que, ao contrário, indicam
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
alunos e com os mesmos, como no de evitar cair em circuitos perversos em que pode
perder o controle da dinâmica do grupo e da sua própria atuação.
Esse conhecimento pode contribuir para o estabelecimento de um clima
favorável de interações. Apropriar-se do papel que têm as manifestações expressivas
e emocionais na coesão do grupo pode inspirar interessantes recursos para o
professor obter o envolvimento dos alunos em suas propostas e explicações. Assim, à
preocupação com a clareza e coerência lógica de suas explicações e propostas, o
professor pode aliar a atenção aos aspectos expressivos de seu comportamento. O
entusiasmo pelo conhecimento que ensina pode, se expresso em sua postura, na
tonalidade e melodia da voz, ser mais facilmente transmitido, digo, contagiado, aos
alunos. Não creio, contudo, que esse entusiasmo possa ser simplesmente forjado por
alguma técnica; prefiro crer que ele tenha que ser genuíno e verdadeiro.
Ao se apropriar de recursos expressivos para obter o maior envolvimento dos
alunos, o professor pode vir a se deparar com situações inesperadas. Devido à
complexa dinâmica de desencadeamento das emoções, recursos que até certo
momento se mostram bem sucedidos para obter a adesão dos alunos, podem, de uma
hora para outra, serem responsáveis pela instalação de um clima de dispersão e
turbulência. É o que acontece quando, por exemplo, uma proposta feita em tom
animado pelo professor, além do interesse que provoca nos alunos, gera uma
animação muito além daquela desejada por ele. Os efeitos da emoção são
imprevisíveis e podem surpreender, além disso, características como a labilidade, o
narcisismo e o contágio que têm seus efeitos potencializados em contextos coletivos,
como é o caso da situação típica de uma aula. Se, por um lado, a compreensão da
dinâmica de desencadeamento das emoções pode ajudar a controlar seus efeitos
sobre a dinâmica das interações sociais, por outro, não há conhecimento teórico capaz
de eliminar as possíveis turbulências provocadas por elas. É preciso, pois, aprender a
conviver com esse risco inerente às interações.
Ao analisar a situação, bem como suas próprias reações emocionais, o
educador tem maiores chances de compreendê-la. Ao se permitir assumir suas
próprias emoções, por menos nobres que sejam, como a raiva que sente de um aluno
específico ou o desespero em que sê vê em determinadas situações, o educador pode
perceber melhor o modo como ele vive as situações e como ele as influencia. Vendo
as situações com mais clareza, é menor o risco de cair em circuitos perversos e maior
as chances de ter atitudes mais acertadas.
A simples disposição para esta reflexão e para eventuais ajustamentos nas
ações escolares – que visam, não só, ao bem estar do aluno mas, também, ao do
professor – representam, por si, fator fundamental para uma prática pedagógica de
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BIBLIOGRAFIA
CASTRO, Domingues de. AMAE educando. Belo Horizonte, nº. 285, agosto. 1999.
SASS, Odair. Educação e psicologia social – Uma perspectiva crítica- Ed. Fundação
Sead. São Paulo em perspectiva, 14(2) 2000.
VARELA, Julia; e URIA, Fernando A . In: Teoria e Educação. Porto Alegre. RS:
Pannonica. 6, 1992.