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Eduardo Miyashita
Gustavo Gomes de Oliveira
ODONTOLOGIA
ESTÉTICA
OS DESAFIOS
DA CLÍNICA DIÁRIA
HARMONIZAÇÃO DO SORRISO
01
Carlos Eduardo Francci | Guilherme de Siqueira F. A. Saavedra
Alexander Cassandri Nishida | Júlio Nogueira Luz
024
DESGASTES INCISAIS:
05
Cerâmicas X Compósitos
Edson Araujo | Tiago Spezia de Melo | Fernando Vilain de Melo
202
LAMINADOS E “ LENTES DE CONTATO”
07 DE PORCELANA: O elo entre biologia e estética
Ewerton Nocchi | Fernando Barcellos da Silva
José Carlos D’Ornellas Pereira Junior
268
LAMINADOS CERÂMICOS
Eduardo Miyashita | Alfredo Mikail Melo Mesquita
Rodrigo Othávio De Assunção e Souza | José Vagner Ferreira
368
SUMÁRIO
CAPÍTULO 01
HARMONIZAÇÃO
DO SORRISO
Carlos Eduardo Francci
Guilherme de Siqueira F. A. Saavedra
Alexander Cassandri Nishida
Júlio Nogueira Luz
BELEZA E HARMONIA EM ODONTOLOGIA – Contexto filosófico
Desta forma parece fácil entender a Odontologia Estética nos dias atuais, onde se considera
um trabalho estético excelente aquele que, independente de se utilizar resina composta ou
cerâmica, o resultado final é uma mimese da estrutura dental natural, sem qualquer chance
de notar a presença da interface. Mas, se lembrarmos, não faz muitos anos, o bonito era ter
restaurações em ouro e, mais recentemente, em amálgama, bem polidas, brilhantes, nada
parecidas com os dentes naturais. Há dois fatos aqui que devem ser listados. Primeiro, há
um contexto tecnológico e, segundo, existe uma questão relacionada ao valor monetário.
Do ponto de vista tecnológico a Odontologia Adesiva, com o seu grande avanço nos
anos 80, imprimiu uma mudança significativa no uso dos materiais restauradores. Utili-
zava-se basicamente a retenção mecânica do preparo cavitário para estabilizar um tra-
balho protético ou um amálgama no remanescente dentário. Com o aparecimento dos
adesivos dentinários passou-se a “colar” tudo a tudo. Surgiu um novo conceito restau-
rador, onde a restauração e o remanescente dentário passam a ser um monobloco, o 025
que permitiu a ampliação do uso de materiais restauradores como a cerâmica e a resina
composta, que mimetizam, através da estratificação, a estética natural dos dentes.
Do ponto de vista relacionado ao custo, o ser humano no mundo capitalista tem uma visão
distorcida de que tudo que é caro, de difícil acesso, parece melhor. Desta forma, aquilo
que parece ser mais custoso, mas não necessariamente melhor, fica pré-conceituado como
melhor. Dentro deste contexto entra a questão da inclusão social. Para desfrutar do que é
comum em uma população como, por exemplo, o uso de celulares, o ser humano pode até
se endividar, mas precisa ter para se sentir integrado a esta sociedade contemporânea.
Isto aconteceu na Odontologia com o clareamento dental, que hoje se popularizou e
também, de forma errônea, com a Ortodontia com os aparelhos fixos, mas sem qual-
quer função, vendidos em comércio popular. O tratamento oneroso pode sim estar rela-
cionado a uma tecnologia mais recente, a um trabalho que requer maior envolvimento
do profissional especializado.
A busca pela harmonia estética é uma constante do ser humano, estimulado pela so-
ciedade e pela imagem de artistas e modelos famosos12. Especialmente a harmonia do
sorriso tem sido foco nos países desenvolvidos e em países em desenvolvimento, tanto
pelo prazer pessoal, bem como pela busca da inclusão social13.
A procura por cirurgiões-dentistas não mais somente por uma Odontologia Restaura-
dora, mas para melhorar a harmonia do sorriso, é crescente. Neste processo é comum
haver alguma ansiedade por determinado tratamento como, por exemplo, clareamento
ou facetas. Entretanto, cabe ao profissional diagnosticar o que está originando esta
desarmonia e mostrar as alternativas de tratamento previsíveis. Tanto arcadas dentá-
rias naturais quanto arcadas contendo restaurações, próteses ou dentes movimentados
ortodonticamente, podem apresentar algumas deficiências estéticas que requerem tra-
tamento; entre elas, podem ser citadas: anodontia, diastema, formas anômalas, discre-
pância de cor, abrasão, erosão ou displasia8.
026
Apesar da beleza do sorriso ser subjetiva, existem formas padronizadas e sistematizadas
de analisar a face, os lábios e os dentes, facilitando o diagnóstico e o planejamento da
reabilitação estética e funcional do sorriso.
ODONTOLOGIA ESTÉTICA
“A Beleza está em toda parte. Não é ela que falta aos nossos olhos, mas nossos
olhos que falham ao não percebê-la”.
A descrição deste caso clínico (realizado ao vivo durante um curso de laminados minis-
COMUNICAÇÃO
Desta forma é importante, quando se fala em sorriso, que o paciente relate sua “queixa
principal”. Como sabemos, os temas beleza e estética são muito pessoais, e o cirurgião-
dentista precisa “escutar” o paciente, deixar que ele mostre da sua forma o que lhe
incomoda. O profissional deve orientar a discussão com o paciente no sentido de obter
o máximo de informações que irão direcionar o tratamento.
PROTOCOLO FOTOGRÁFICO
Após a anamnese foi tomado um protocolo fotográfico para melhor analisar e traçar
um plano de tratamento. Um protocolo fotográfico deve ser feito com o intuito de au-
xiliar no planejamento e, se associado a um planejamento digital, será de grande valia
para explicar e mostrar ao paciente o que se deseja fazer com aumento significativo da
previsibilidade clínica.
analisar como essas mudanças podem contribuir para alterar a composição facial e au-
mentar a harmonia da face.
A estética é um fator subjetivo que pode ser influenciado por diversas variáveis.
Porém, atualmente existe um padrão que é tido como estético. Possuindo também
suas variáveis (idade, sexo, cor da pele, etc.) foi criada uma lista de critérios que
aumentam o índice de sucesso na intervenção de um dentista em um indivíduo.
Estes critérios possuem um relacionamento entre os tecidos moles e tecidos duros.
Os critérios são: Saúde gengival; Fechamento interdental (ameia interdental); Eixo den-
tal; Limites de contornos gengivais; Equilíbrio do triângulo gengival; Nível de contato
interdental; Dimensões dentais relativas; Características básicas de forma dental; Carac-
terização dental; Textura de superfície; Cor; Configuração da borda incisal; Linha baixa
do sorriso; Simetria do sorriso18.
Em geral, antes mesmo que o paciente abra a boca, em nosso primeiro contato na
apresentação podemos perceber os elementos que podem estar fora de uma harmonia
ideal. Ainda assim, um exame detalhado da face do paciente permite que sejam verifi-
cados fatores importantes como desequilíbrios e assimetrias31.
Na figura 01A-C foi feita uma tomada fotográfica frontal, do lado direito e do lado es-
querdo da face. Estas fotos da face são necessárias para analisar o sorriso no contexto
da face frontal e de perfis laterais e indispensáveis já que o cirurgião- dentista deve
observar e estudar o sorriso como parte do conjunto da face.
01. A-C − Protocolo de fotografia de face: fotografia frontal; meios perfis direito e esquerdo. Sugestão para a visualização das limitações
harmônicas entre a face e o sorriso.
Linha A
Linha F
Linha C
Linha D
031
Linha B
Linha E
O terço médio tem como limite superior a LINHA OFRÍACA (L4) e como limite inferior a
LINHA INTERALAR (L5), ou subnasal ou da asa do nariz. Aqui devem ser feitas obser-
vações da distância interpupilar e intercantal (distância entre os dois cantos internos dos
olhos). Uma face harmônica tem, em média, a distância intercantal similar à distância
interalar, assim como a largura da boca acompanha a largura da distância interpupilar2.
Outros detalhes que merecem atenção são orelhas, olhos, nariz e bochechas. Uma distri-
buição relativamente simétrica desses elementos ajuda a compor um perfil harmônico.
O terço inferior é definido pela LINHA INTERALAR (L5) e pela LINHA DO MENTO (L6).
Ele deve ter aproximadamente o mesmo comprimento do terço médio para que haja uma
boa relação estética31.
032 O terço médio e o terço inferior estão mais diretamente relacionados à percepção de harmo-
nia e de beleza facial. A distância entre a LINHA INTERALAR (L5) e a LINHA INTERCOMIS-
SURAL (L7) (traçada horizontalmente pelas comissuras dos lábios) deve ser de aproximada-
mente metade da distância entre a INTERCOMISSURAL (L7) e a LINHA DO MENTO (L6)2.
ODONTOLOGIA ESTÉTICA
Um sorriso ideal exibe ¾ da altura da coroa clínica e 2 mm do contorno gengival. Esse valor
pode variar devido ao comprimento labial, comprimento maxilar vertical, comprimento da
coroa anatômica dos incisivos superiores e elevação do lábio superior no sorriso. A exposição
vertical dos incisivos centrais superiores com o lábio em repouso deve ser entre 1 a 5 mm,
tendo exposição menor em homens do que em mulheres. A exposição de dentes inferiores
em repouso é rara e, quando ocorre, significa suporte pobre do lábio inferior devido à defi-
ciência mentual, hipotonicidade do lábio inferior ou protrusão dentoalveolar mandibular31.
Todos os tópicos apresentados podem servir como referências para um perfil normal e
não como regras estritas para a linha de tratamento seguida. O equilíbrio facial não de-
pende somente desses conceitos, mas de inúmeros fatores como características étnicas,
miscigenação, cultura e diferentes padrões de beleza.
Análise do sorriso
Na figura 03A,B o objetivo é analisar o sorriso em duas situações: lábio em repouso, que
é obtido após o paciente pronunciar várias vezes a letra “M”, e lábio em sorriso força-
do, de forma a avaliar a amplitude de exposição dental e gengival. O lábio em repouso
mostra que o paciente tem uma exposição bastante grande. O sorriso em repouso deve
mostrar pelo menos a borda incisal dos centrais de um a cinco milímetros.
Já no sorriso ativo o paciente deve pronunciar de modo exagerado a letra “I”, em toma-
das frontal (Figura 03B), em meio perfil direito (Figura 04A) e em meio perfil esquerdo
(Figura 04B). Neste momento podemos dividir didaticamente o estudo do sorriso sob
influencia do lábio superior e do lábio inferior 22.
033
A B
03. A,B − Protocolo de fotografias do sorriso: lábio em repouso auxilia na verificação da exposição das bordas incisais, e sorriso
forçado permite analisar a exposição ou não gengival, em tomadas do sorriso frontal. São as principais tomadas para auxiliar no
diagnóstico e planejamento anterior.
A B
Devido a essas controvérsias, adotamos uma classificação mais ampla, baseada no tipo
de sorriso32,34 (Figura 05A-C).
–– Baixo - menos de 75% de exposição da coroa clínica dos dentes anteriores, sem
exposição do tecido gengival, acometendo em torno de 20% da população;
–– Alto (gengival) - mostrando 100% da coroa clínica dos dentes anteriores e ainda
uma faixa de gengiva significativa, correspondendo a 10% da população.
de sorriso médio (41%), seguido pelo sorriso baixo (33%) e sorriso alto (26%). É
importante frisar que tais valores são apenas referências, pois podem variar com o
comprimento labial, comprimento maxilar vertical, comprimento da coroa anatô-
mica dos incisivos superiores e elevação do lábio superior no sorriso. Basicamente
as mulheres mostram mais os incisivos superiores que os homens. Na análise das
Figuras 03B e 04A,B nota-se que o paciente em questão tem um sorriso limítrofe
entre alto e médio pois, embora mostre nos incisivos centrais superiores 100% da
coroa clínica e nada da gengiva, dos incisivos laterais para posterior ele mostra
bem o tecido gengival, exceção apenas do canino esquerdo, que tem o zênite gen-
gival ligeiramente recoberto pelo lábio no sorriso, evidenciando uma assimetria,
que é prevista em um grau de até 6% em faces consideradas harmônicas devido à
atividade muscular e elasticidade da pele 4.
OS DESAFIOS DA CLÍNICA DIÁRIA
A
035
C
Tjan e Millher, 1984; Cachrisson, 2007.
< 75 % de exposição > 75% a 100% de exposição 100% de exposição e faixa de gengiva
05. A-C − Classificação de Tjan de acordo com o tipo de sorriso em baixo (A), médio (B) e alto (C).
Lábio inferior
O lábio inferior e as bordas incisais e oclusais dos dentes superiores devem es-
tar simétricos, formando arcos paralelos entre si, o que resulta em um sorriso
harmonioso33. A linha do sorriso ou curva incisal deve ser avaliada, podendo ser
classificada em convexa, plana ou reta ou reversa, também chamada de sorriso
invertido. Estas linhas estão relacionadas com a idade quando o paciente tem
contato interdental, ou seja, com o desgaste dos dentes anteriores. O contorno
incisal dos dentes anteriores apresenta-se no formato de um “prato fundo (Figura
06), onde os incisivos centrais apresentam-se ligeiramente mais compridos, o que
dá um aspecto de jovialidade, sendo assim interessante reproduzir em uma reabi-
litação do sorriso5.
036
ODONTOLOGIA ESTÉTICA
PRATO FUNDO
06. Relação das bordas incisais dos dentes anteriores, no formato de prato fundo, onde os incisivos centrais se posicionam mais inferiormente aos incisivos laterais e caninos, dando
uma relação de paralelismo com o lábio inferior, o que dá jovialidade para o sorriso.
Com o passar da idade, com o desgaste
07. A-E − Linha do sorriso: relação entre a linha incisal superior, que pode ser con-
vexa, reta ou reversa; e o lábio inferior, que pode se tocar ou não, ou até mesmo
o lábio inferior pode encobrir as bordas incisais superiores. Reta (A). Reversa ou
“Sorriso inverso” (B). Convexa ou não contativa (C). Convexa e contativa (D). Con-
vexa de cobertura (E).
O paciente em questão tem um tipo de
relação do arco dentário com o lábio
inferior convexa não contativa bastan-
te harmônica, o que favorece o traba-
lho de reabilitação estética dos dentes
anteriores superiores, sem necessidade
de mudar a dimensão inciso/cervical.
08. A-C − Tipo de corredor bucal, classificado em normal (A), amplo (B) ou ausente (C).
Análise dental
039
A B
10. A,B − Protocolo de fotografia intraoral: close-up anterior; Oclusal anterior. Permite a avaliação do formato e da disposição dentária na arcada.
A B
11. A,B − Fotografia Intraoral: close-up anterior meio perfil direito e esquerdo.
A linha de referência vertical é a linha sagital mediana, traçada a partir de uma linha
vertical, que vai desde o centro da glabela, centro do nariz, filtrum labial e centro do
mento7 (Figura 12 – linha amarela).
Clinicamente se define a linha sagital mediana com o uso de um fio dental passando em
linha reta pelos pontos de referências citados.
Desta forma o contato entre os incisivos centrais superiores é definido a partir da linha
média facial. A linha média facial é coincidente com o filtrum labial em 70,4% dos pa-
cientes20. A linha média da arcada superior é coincidente com a inferior em apenas 30%
dos pacientes, o que torna a referência dos dentes inferiores inadequada14.
12. Fotografia intraoral com o traçado das linhas de referências horizontais baseadas na linha interpupilar (linhas azuis: zênites gengivais;
linhas verdes: bordas incisais) e verticais baseada na linha glabela/mento (linha amarela). Os longos eixos dentários (linhas vermelhas) evi-
denciam a desarmonia do sorriso. Os zênites gengivais (pontos azuis) têm contorno ascendente de incisivos centrais para caninos. Traçada uma
linha imaginária entre o zênite gengival do incisive central e o zênite do canino, o zênite do incisivo lateral deve se situar nesta linha ou abaixo
da mesma para proporcionar harmonia no sorriso.
SIMETRIA
A simetria deve se repetir para os incisivos laterais e caninos mas, na medida em que se afasta
da linha média, pequenas diferenças entre pares são permissíveis, pois são menos evidentes10.
Assim, tomando por exemplo o caso clínico em questão, dentro dos anseios do paciente
em apenas trabalhar com laminados nos incisivos, onde serão eliminados os diastemas,
e não nos caninos, a simetria foi aplicada aos quatro incisivos, mas não com tanto rigor
041
nos caninos, visto que pela figura 12 já nota-se que há uma abfração que diferencia o
contorno gengival do canino esquerdo em relação ao direito. Tal diferença pode perma-
necer entre os caninos, sem afetar a simetria do conjunto.
13. Fotografia intraoral com o traçado das máscaras dos dentes anteriores em proporção áurea para auxiliar o enceramento e a confecção das
“lentes de contato” cerâmicas dos incisivos e da reanatomização das bordas incisais em resina composta dos caninos. Os longos eixos dentários
foram corrigidos, bem como os pontos de contato interdentais dos incisivos centrais aos caninos se mostram ascendentes devido à anatomia
das faces proximais.
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