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Trabalho prático 2 Síntese da N-acetilglicina

TRABALHO PRÁTICO Nº2 SÍNTESE DA N-ACETILGLICINA

INTRODUÇÃO

A glicina (do grego glykos, "doce", nome devido ao seu sabor adocicado) é o

aminoácido mais simples e é um dos aminoácidos codificados pelo código genético, sendo

portanto um dos componentes das proteínas dos seres vivos.

A maioria das proteínas possui pequenas quantidades de glicina, sendo o colagénio

uma excepção de nota, constituindo a glicina cerca de um terço da sua estrutura primária. A

presença de glicina inibe a formação de hélices alfa mas facilita a formação de hélices beta

na estrutura secundária de proteínas, por ser um aminoácido que apresenta um alto grau de

flexibilidade quando integrado numa cadeia polipeptídica.

A glicina não é um aminoácido essencial na dieta humana, já que é sintetizado pelo

organismo a partir do aminoácido serina numa reacção catalisada pela enzima serina

hidroximetiltransferase. É um neurotransmissor inibitório no sistema nervoso central,

especialmente a nível da medula espinal, tronco cerebral e retina e, quando os receptores de

glicina são activados, o anião cloreto entra no neurónio através de receptores ionotrópicos,

causando um potencial pós-sináptico inibitório.

No campo farmacêutico a glicina é usada como um componente de medicamentos

dermatológicos para eczemas e dermatites, agentes hepáticos e antialérgicos, e em

elaborações integrais de aminoácidos. Para alimentos processados, a glicina é usada como

condimento e também como aditivo que garante melhor conservação do alimento devido à

sua acção antibacteriana.

Neste trabalho iremos utilizar a glicina como material de partida para a síntese da

N-acetilglicina.

A N-acetilglicina é considerada um bloco de construção químico para muitos

compostos tais como a glicina, o aspartame e outros aminoácidos. É usada extensamente na


pesquisa biológica de peptidomiméticos e de drogas. O seu éster metílico pode substituir o

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mentol em produtos de cuidados orais, como por exemplo em pastas dentífricas, produzindo

uma sensação mais fresca e menos ardente. Os produtos alimentares que são concebidos

com o uso de N-acetilglicina podem ser produtos desidratados tais como sopas, snacks e

produtos de culinária, como por exemplo, aromatizantes pulverizados.

O método de síntese da N-acetilglicina que iremos utilizar neste trabalho prático

envolve a transferência de um grupo acetilo do anidrido acético para o grupo amino do

aminoácido glicina (figura 1).

O H O O O H O
C N C C C N CH3 H C
HO H + H3C O CH3 HO C
+
O CH3
Glicina Anidrido acético O Ácido acético
N-Acetilglicina

Figura 1 – Síntese da N-acetilglicina.

A transferência do grupo acilo (R-CO+) efectua-se em Química Orgânica de diversos

modos, através de moléculas do tipo R-CO-X, em que X é um bom grupo de saída. Um

nucleófilo, ataca o carbono do grupo carbonilo, dando origem a um intermediário

tetraédrico, que expulsa em seguida o grupo de saída (figura 2). Os ésteres, anidridos e

halogenetos de acilo são compostos que podem sofrer reacções deste tipo.

R X
C R X R
C C O + X
O
Nu Nu O Nu
intermediário
tetraédrico
X = OR´ (éster), OCOR (anidrido), Halogéneo; Nu = nucleófilo

Figura 2 – Mecanismo da reacção de substituição nucleófila no carbono de um grupo acilo.

A síntese da N-acetilglicina pelo método que iremos utilizar neste trabalho prático,

envolve uma reacção de acetilação de um amina, na qual o nucleófilo (grupo NH2) ataca o

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carbono de um grupo carbonilo do anidrido acético, com saída do grupo acetato (CH3COO-)

(figura 3), o qual por remoção de um protão da glicina protonada dá origem ao ácido acético.

O O O O O O

O O O + H3 N COOH
+ N H N
H H
H2 N COOH
H2 N COOH
COOH COOH
Glicina
O O

N COOH + O
H
N-Acetilglicina

Figura 3 – Mecanismo da reacção de acetilação da glicina com anidrido acético.

Nos sistemas biológicos, R-CO-X é normalmente um fostato de acilo ou um tioéster.


O coenzima-A (CoA) é um dos tióis mais importantes que a natureza utiliza para efectuar
acilações e que surge esterificado pelo ácido acético no acetil-SCoA (figura 4).

NH2

O Me N
N
O O Me OH OH
S O P O P O N N
N N O
H H Me O O
HO H H
H H
HO O OH
P
O OH
Figura 4 – Fórmula de estrutura do acetil coenzima-A.

O presente trabalho envolve um método suave e expedito da acetilação da glicina, sem

recurso a solventes orgânicos, sendo a pureza do produto obtido avaliada através do


respectivo intervalo de fusão e da cromatografia em camada fina.

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MATERIAL NECESSÁRIO

• 1 Frasco de Erlenmeyer de 25 mL • Papel de filtro


• 1 Vidro de relógio • Kitassato com funil de Buckner
• 1 Proveta de 10 mL • Aparelho medidor de pontos de fusão
• 1 Pipeta graduada de 5,0 mL • Capilares para aplicação de amostras em c.c.f.
• 1 Pompete • 2 “politop´s”
• 1 Espátula • Placas de sílica gel para c.c.f.
• Barra de agitação • Câmara de eluição
• Banho de gelo • Placa de agitação
• Banho-maria • Capilares de ponto de fusão

REAGENTES

• Glicina

• Anidrido acético

• Água destilada

• Butanol

• Ácido acético

• Solução de ninidrina a 0,2%

PROCEDIMENTO

• Coloque, num frasco de Erlenmeyer de 25 mL, 1,0 g de glicina e 4 mL de água destilada.

• Aqueça mistura num banho-maria até dissolução completa da glicina.

• Adicione 2,3 mL de anidrido acético e agite a mistura, numa placa de agitação durante

10 minutos.

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• Coloque a mistura reaccional num banho de gelo para garantir a precipitação completa

da N-acetilglicina.

• Recolha os cristais formados por filtração sob vácuo num funil de Büchner, lave-os com

água destilada gelada e proceda à sua recristalização com água destilada.

• Recolha então os cristais obtidos por filtração sob vácuo num funil de Büchner e

transfira o papel de filtro contendo os cristais para um vidro de relógio. Faça um

cromatograma (sílica, n-butanol/ácido acético/água, 4:1:1) de uma alíquota dos cristais

obtidos bem como do material de partida. Após evolução do cromatograma seque a

placa de sílica, pulverize-a com uma solução de ninidrina a 0,2% e deixe-a na estufa
durante alguns minutos.

• Coloque o vidro de relógio contendo os cristais a secar na estufa.

• Depois de secos, determine a massa dos cristais obtidos e o respectivo intervalo de

fusão.

QUESTIONÁRIO

1. Determine o rendimento da reacção.


2. Evidencie o mecanismo da reacção.
3. Face ao intervalo de fusão dos cristais obtidos e ao cromatograma, faça um comentário
sobre a pureza da N-acetilglicina sintetizada.
4. Explique porque é que depois de filtrados os cristais são lavados com água, e qual a razão
da água ter de ser gelada.

BIBLIOGRAFIA

 Nimitz, J. S., “Experiments in Organic Chemistry – From Microscale to Macroscale” 1ª

Ed., PRENTICE HALL, New Jersey, 1991.

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