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Artigo Original
nos Cuidados Paliativos
Hugo Miguel Candeias Baltazara, Susana Cristina Costa Pestanab,
Maria Raquel Rodrigues Santanab
Delegação de Tavira, Cruz Vermelha Portuguesa, Tavira, Portugal.
a
b
Escola Superior de Saúde, Instituto Politécnico de Beja, Beja, Portugal.
Resumo: Introdução: Os Cuidados Paliativos (CP) definem-se como uma resposta ativa aos problemas decorrentes
da doença prolongada, incurável e progressiva, através da identificação precoce, avaliação, tratamento da dor
e outros problemas físicos, psicossociais e espirituais. Estes cuidados não estão suficientemente divulgados e
sugere-se a realização e divulgação de mais estudos no âmbito da terapia ocupacional e de outras áreas da saúde.
Objetivos: O principal objetivo desta investigação foi verificar o contributo da intervenção da terapia ocupacional
nos CP e aprofundar conhecimentos acerca desta intervenção, através da descrição das principais metodologias
utilizadas, para uma perceção integral da intervenção realizada nesta área. Método: Trata-se de um Estudo Descritivo
simples, transversal e não experimental, desenvolvido em Portugal. Na coleta de dados foi aplicado um questionário
autoadministrado pelos terapeutas ocupacionais. A amostra foi constituída por 15 terapeutas ocupacionais com
prática clínica nos Cuidados Paliativos. Resultados: Verificou-se que as principais metodologias de intervenção são
a Promoção da Relação Terapêutica, Acolhimento, Partilha de Informação, Aconselhamento, Educação, Orientação
e Importância do Papel Ativo dos Familiares/Cuidadores em todo o processo, bem como a Importância da Relação
Terapêutica, Acolhimento, Avaliação, Educação, Treino, Promoção do Envolvimento nas Atividades Significativas,
Adaptação/Graduação e Utilização de Técnicas de Intervenção Específicas com o Cliente. Conclusão: Realça-se a
congruência nas respostas obtidas em relação às principais metodologias de intervenção utilizadas pelos terapeutas
ocupacionais nos CP. Este estudo busca um meio impulsionador para o contributo da intervenção da terapia
ocupacional nesta área em Portugal.
Palavras-chave: Terapia Ocupacional, Hospitalização, Intervenção.
Autor para correspondência: Susana Cristina Costa Pestana, Escola Superior de Saúde, Instituto Politécnico de Beja, Rua Pedro Soares, Campus
do Instituto Politécnico de Beja, Apartado 6155, CEP 7800-295, Beja, Portugal, e-mail: susana.pestana@ipbeja.pt
Recebido em Jul. 6, 2015; 1ª Revisão em Jul. 23, 2015; Aceito em Nov. 2, 2015.
262 Contributo da intervenção da terapia ocupacional nos Cuidados Paliativos
forma a dor e as preocupações estão a comprometer traduzem-se no treino e orientação nas AVD’s,
o desempenho ocupacional da pessoa e, assim, a sua atividades físicas, massagem e exercícios para alívio
qualidade de vida. e controlo da dor; orientação para a facilitação
De acordo com Othero (2010), o terapeuta das tarefas no sentido da conservação de energia;
ocupacional tem um papel essencial no que respeita a estímulo de atividades físicas (de acordo com o grau
ajudar a pessoa a manter a sua identidade ocupacional, de fadiga) para preservar a mobilidade e grau de
bem como em redefinir os papéis ocupacionais, independência; ensino aos cuidadores; confeção de
através da realização dos seus últimos desejos e da adaptações que facilitem o desempenho ocupacional;
prestação de cuidados personalizados, com qualidade posicionamento adequado no leito e nas mudanças
até ao último momento de vida. No âmbito dos posturais para evitar contraturas, deformidades e
CP, o papel específico do terapeuta ocupacional é escaras, bem como facilitar a mobilidade ativa e
proporcionar ao cliente meios para manter as suas realizar atividades terapêuticas (expressivas, lúdicas,
condições físicas e emocionais no desempenho de corporais e artesanais) que adiem o processo de
tarefas significativas, efetuar adaptações necessárias perdas decorrentes da evolução do quadro clínico.
para a manutenção das funções físicas, cognitivas e A abordagem considera a situação atual do
sensoriais, bem como do conforto físico, controlo da cliente (clínica e psicossocial), o seu prognóstico e
dor, fadiga e outros sintomas, independentemente as perspetivas futuras, respeitando as necessidades
da fase da doença (COSTA; OTHERO, 2014). e desejos de todos os intervenientes no processo
terapêutico, delineando objetivos realistas na
Burkhardt et al. (2011) referem que o terapeuta
procura da resolução de problemas e organização da
ocupacional nos CP tem como função promover o
rotina. Durante o processo terapêutico, as atividades
envolvimento da pessoa em atividades funcionais para
propostas são direcionadas para a problemática
o tratamento de disfunções físicas e psicossociais,
identificada e referida pelo cliente, pelos cuidadores
adaptação à perda funcional, treino de atividades de
e pelos membros da equipa de saúde, para que
vida diária de autocuidado, orientação e adaptação
dessa forma se consigam utilizar todos os recursos,
do estilo de vida, orientação para a gestão do tempo
técnicas e métodos disponíveis que vão da abordagem
e conservação de energia, bem como a utilização de
funcional à adaptação do ambiente (QUEIROZ,
equipamentos adaptativos e ajudas técnicas para
2012). As metas estabelecidas devem ir ao encontro
prevenção de deformidades e controlo da dor.
das competências remanescentes, das limitações
A American Occupational Therapy Association presentes, das necessidades e dos desejos do cliente
(AMERICAN..., 2008), aponta as diferentes áreas em e do cuidador, objetivando o conforto nas diferentes
que o terapeuta ocupacional foca as suas intervenções esferas do indivíduo e a qualidade de vida, através
junto do cliente em CP: atividades de vida diária, da realização de projetos a curto e médio prazo
atividades de vida diária instrumental, descanso e e que dão sentido e significado à vida de quem é
sono, lazer e participação social, relacionamento acompanhado (QUEIROZ, 2012).
interpessoal. A atuação da terapia ocupacional é
fundamental na procura pela manutenção de um sentido
para a vida do cliente, muitas vezes num contexto de
2 Objetivos
limitações, como é o caso do cliente que se encontra
Dadas as dificuldades de divulgação e acesso
nos CP. As ações da terapia ocupacional envolvem à literatura acerca das práticas de intervenção dos
a ocupação, incluindo atividades de rotina, artes, terapeutas ocupacionais em CP, torna-se pertinente
trabalho, lazer, cultura, autocuidado e participação aprofundar conhecimentos acerca da intervenção
social. Assim, procuram-se criar possibilidades destes, através da descrição das principais metodologias
para a continuidade dessas ocupações, para que as utilizadas, para uma perceção integral da intervenção
atividades significativas sejam mantidas (OTHERO, realizada nesta área de prática clínica. Este projeto de
2010). A intervenção da terapia ocupacional em investigação tem como objeto de estudo a verificação
CP pode ser individual (no leito, na sala de terapia do contributo da intervenção da terapia ocupacional
ocupacional, no domicílio, etc.) ou em grupo (grupos nos CP. Através da recolha dos dados e de acordo
específicos, oficinas, atividades coletivas, atividades com as metodologias de intervenção recolhidas,
comemorativas, etc). Os atendimentos também são pretende-se que seja feito um levantamento acerca
realizados com familiares e cuidadores, individualmente, destas, bem como identificar os principais aspetos
em grupos de orientação e também em conferências que podem contribuir para uma menor coerência
familiares (COSTA; OTHERO, 2014). e uniformização das práticas de intervenção que
Segundo Armitrage, citado por Oliveira (2008), as são recomendadas para os profissionais de terapia
abordagens mais usadas pelo terapeuta ocupacional ocupacional integrados nas Unidades de CP.
No estudo poderão emergir novas abordagens e 60% (N=9) dos participantes a Licenciatura em
metodologias de intervenção nesta área de prática terapia ocupacional. Do total da amostra, 33,3%
clínica, tendo em conta a importância que cada (N=5) dos participantes não apresentavam nenhuma
terapeuta ocupacional atribui a um determinado formação nesta área de prática clínica. Os restantes
aspeto do cliente. 66,7% (N=10) participantes tinham formação em CP.
Visto que não existem estudos sobre esta temática, Relativamente à coleta de dados, visto que não
o projeto poderá ser uma mais-valia para que existiam questionários ou instrumentos de coleta
futuramente sejam definidas as linhas orientadoras de dados para aplicar aos terapeutas ocupacionais
para a utilização de metodologias de intervenção e que avaliassem as metodologias utilizadas por
nesta área, por parte dos profissionais de terapia estes profissionais nos CP, tornou-se necessário a
ocupacional. construção de um questionário, com vista a responder
às necessidades particulares (FORTIN, 2006).
3 Método Dada a natureza do estudo, tornou-se importante
não restringir os terapeutas ocupacionais apenas às
O presente projeto trata-se de um estudo respostas do questionário e para tal, através de questões
descritivo simples, transversal e não experimental abertas, os participantes tiveram a possibilidade de
desenvolvido em Portugal, que pretende descrever expor outras respostas (FORTIN, 2006). Todas as
um conceito relativo a uma população, num dado questões foram formuladas de acordo com o objetivo
momento, sem a introdução de variáveis, no qual do estudo, pesquisas bibliográficas efetuadas e por
o investigador estuda uma situação, tal como ela meio do contacto com o orientador e co-orientador
se apresenta no meio natural, com vista a destacar do projeto.
as características de uma população, compreender O questionário foi autoadministrado (FORTIN,
fenómenos ainda mal-elucidados ou conceitos que 2006) pelos terapeutas ocupacionais e criado na aplicação
foram pouco estudados, de maneira a obter uma Google Docs, de forma a facilitar o preenchimento e
visão geral de uma situação ou de uma população reenvio deste para o principal investigador do projeto,
(FORTIN, 2006). Ambiciona descrever a intervenção estando disponível em formato digital, através de
da terapia ocupacional, através das metodologias de hiperligação. Foi construído um questionário misto,
intervenção, bem como identificar os principais aspetos com questões abertas e questões fechadas. No caso
que podem contribuir para uma menor coerência das questões, fechadas foram utilizadas questões
e uniformização das práticas de intervenção que dicotómicas (em que o participante teve de escolher
são recomendadas para os profissionais de terapia entre duas respostas, nomeadamente sim ou não),
ocupacional integrados nas Unidades de CP. questões de escolha múltipla (que comportaram
A população em estudo foi constituída por terapeutas uma série de respostas colocadas em determinada
ocupacionais com experiência profissional em CP. ordem), questões de enumeração gráfica (em que
Trata-se de uma amostra não probabilística, uma foi utilizada a Escada de Likert, que consistiu em
vez que é desconhecida a probabilidade de qualquer pedir aos participantes que indicassem o grau de
participante ser incluído na amostra, sendo que ela importância em relação à intervenção do terapeuta
se caracteriza como conveniente, pois é constituída ocupacional) e questões-filtro (com o objetivo de
por indivíduos facilmente acessíveis e que respondem dirigir o participante para as questões que se aplicam
a determinados critérios de inclusão tendo em conta à sua situação).
a sua presença em determinado local e momento Os peritos foram selecionados tendo em conta o
(FORTIN, 2006). critério de seleção estabelecido (terapeutas ocupacionais
O critério de inclusão inerente ao estudo foi a com experiência profissional em CP) e contactados por
participação de terapeutas ocupacionais que tivessem e-mail. Após confirmação dos terapeutas ocupacionais,
experiência profissional em CP. o grupo de peritos foi constituído por três terapeutas
Na amostra, composta por 15 terapeutas ocupacionais, autores/coautores do livro Reabilitação
ocupacionais (N=15), verificou-se que 93,3% (N=14) em Cuidados Paliativos, lançado em junho de 2014.
dos participantes eram do género feminino e 6,7% O grupo de peritos fez algumas sugestões e foram
(N=1) do género masculino, com idades compreendidas reformuladas e adicionadas mais três questões abertas
entre os 22 e os 60 anos, perfazendo uma média ao questionário. O questionário é constituído por
de 34,13 anos de idade, dos quais 40% (N=6) 21 questões (Parte I – Dados Sociodemográficos por
dos participantes apresentavam como habilitações 7 questões; Parte II – Questões abertas e questões
literárias o Bacharelato em terapia ocupacional e fechadas por 14 questões).
O pré-teste é a prova que consiste em verificar 2006). A investigação qualitativa tem por objetivo a
a eficácia e o valor do questionário (FORTIN, compreensão alargada dos fenómenos. No que diz
2006). Procedeu-se à aplicação do pré-teste do respeito à análise quantitativa, esta visa, sobretudo,
questionário a dois terapeutas ocupacionais, em explicar e predizer um fenómeno pela medida
que não surgiram dificuldades no preenchimento das variáveis e pela análise de dados numéricos
ou correções a impor. Os profissionais incluídos no (FORTIN, 2006).
pré-teste foram incluídos na amostra. Na análise qualitativa, foi realizada a análise
Após a recolha dos e-mails dos terapeutas ocupacionais de conteúdo, segundo a técnica de Bardin (2010),
com experiência profissional em CP, o instrumento de sendo esta dividida em 3 fases:
coleta de dados foi enviado para dezasseis terapeutas
ocupacionais. Este foi posteriormente disponibilizado 1) Pré-análise (Fase em que se organiza o material
online na mailing list de terapia ocupacional e a ser analisado, com o objetivo de o tornar
mailing list de CP, ambos constituídos por grupos operacional, sistematizando as ideias iniciais.
de subscritores que divulgam e partilham assuntos Assim, trata-se da organização por meio de quatro
inerentes à profissão/área de prática clínica comum, etapas: a) leitura flutuante para conhecimento
bem como no grupo de terapeutas ocupacionais em do texto, b) escolha dos documentos, onde se
CP no Facebook, constituído maioritariamente por demarca o que será analisado, c) formulação
terapeutas ocupacionais com uma forte ligação à de objetivos, d) referenciação e determinação
área dos CP. Estes procedimentos de divulgação dos indicadores);
do questionário possibilitaram o envio deste a
38 terapeutas ocupacionais, na sua totalidade. Após 2) Exploração do Material (Fase em que se realiza
o envio e divulgação do questionário, foi possível a exploração do material com a definição de
reunir 15 questionários preenchidos. Apenas um categorias (sistemas de codificação), identificação
questionário não foi devidamente preenchido e das Unidades de Registo e Unidades de
foi contactado o terapeuta ocupacional, de forma Contexto. Esta fase visa possibilitar a riqueza
a solicitar o preenchimento dos campos em falta. das interpretações e inferências. É uma fase
A análise dos dados estatísticos foi realizada com de descrição analítica);
recurso ao SPSS® V.22. Esta foi validada, através do 3) Tratamento dos Resultados, Inferência e
contacto com um docente da Escola Superior de Interpretação (Fase destinada ao tratamento
Saúde de Beja (ESSB), com conhecimento na área dos resultados onde ocorre a condensação
da estatística. No SPSS® V.22 foram colocadas as
e o destaque as informações para análise,
respostas de 11 questões fechadas. A análise das
culminando nas interpretações inferenciais e
respostas às questões abertas foi feita com recurso à
análise reflexiva e crítica).
análise de conteúdo, em que, segundo Bardin (2010),
o analista trabalha com palavras que, isoladas, podem
Na primeira fase, Pré-análise, foi organizado o
atribuir relações com a mensagem ou possibilitar
material a ser analisado, seguindo os procedimentos
que se faça inferência de conhecimento a partir
supracitados. Na segunda fase, Exploração do
da mensagem. São estabelecidas correspondências
Material, procedeu-se à categorização e identificação
entre as estruturas linguísticas ou semânticas e as
das Unidades de Registo e Unidades de Contexto,
estruturas dos enunciados. A leitura do pesquisador
tendo em conta os pressupostos de Bardin (2010).
responsável pela análise não é, portanto, uma leitura
Desta forma, a Análise de Conteúdo trabalha com
à letra, mas o realçar de um sentido que se encontra
mensagens e tem como objetivo a manipulação destas
em segundo plano.
para evidenciar os indicares que permitem inferir
Para descrever os processos estatísticos foi sobre uma outra realidade. Para tal, a categorização
utilizado o Windows 7, como software do computador. dos itens foi realizada segundo os critérios definidos
Na análise de conteúdo foi necessário o Microsoft por Bardin (2010) que assentam nas características
Office 2013 (Word) como processador de texto, de semânticas, sintáticas, léxicas e expressivas. O mesmo
forma a facilitar o processo de análise. autor defende ainda que, para serem consideradas
No projeto de investigação recorreu-se à boas categorias, estas devem apresentar qualidades
análise descritiva com o objetivo de identificar como a exclusão mútua, objetividade e fidelidade,
as metodologias de intervenção que os terapeutas pertinência e produtividade. De acordo com o
ocupacionais utilizam nos CP, onde está subjacente mesmo autor, as categorias podem ser criadas a
o método de investigação qualitativo e quantitativo, priori ou a posteriori, isto é, a partir apenas da teoria
ou seja, uma investigação de cariz misto (FORTIN, ou após a coleta de dados. Nesta análise optou-se
por categorizar após a coleta de dados, e em todo o registo “Dar suporte emocional”, e 71,4% (N=10)
processo de construção de categorias procurou-se dos participantes consideraram a subcategoria
preservar as ideias-chave transmitidas no questionário. “Promoção da resiliência”, nomeadamente a
Unidade de Registo “Promover o envolvimento em
4 Resultados e Discussão atividades significativas” como uma intervenção a
pôr em prática com o cliente em CP. A Unidade de
Tendo em consideração os pressupostos defendidos Registo “Graduar” apresentou uma percentagem de
por Bardin (2010), em todo o processo de construção 28,6% (N=4), sendo a percentagem mais baixa das
de categorias procurou-se preservar as ideias-chave Unidades de Registo.
transmitidas no questionário, apresentando-se Por outro lado, observou-se uma percentagem
estas nas tabelas que se seguem. Na Tabela 1 serão de 42,9% (N=6) na subcategoria “Intervenção com
apresentados os resultados relativos à questão “Como familiares e/ou cuidadores”, apesar da questão estar
considera a intervenção do terapeuta ocupacional direcionada para os clientes. Esta percentagem vai
com clientes em Cuidados Paliativos?”. ao encontro da definição de CP, onde é referido o
Através da observação da Tabela 1, verificou-se auxílio da família a lidar pacientemente durante
a subcategorização de quatro áreas de intervenção, a doença e no próprio luto e às abordagens mais
consideradas importantes para os participantes, usadas na terapia ocupacional (ASSOCIAÇÃO...,
nomeadamente a “Promoção de autonomia e 2014), em que é realizado o ensino aos cuidadores
independência”, “Promoção de qualidade de vida”, (ARMITRAGE, 1999 apud OLIVEIRA, 2008).
“Promoção da resiliência” e “Intervenção com os Na Tabela 2 serão apresentadas as respostas
familiares”. É de realçar que 78,6% (N=11) dos relativas à questão “Como considera a intervenção
participantes consideraram a subcategoria “Promoção do terapeuta ocupacional com as famílias de clientes
da resiliência”, nomeadamente a Unidade de em Cuidados Paliativos?”.
Tabela 1. Questão “Como considera a intervenção do terapeuta ocupacional com clientes em Cuidados
Paliativos?”.
Categoria Subcategoria Unidade de registo Unidade de Contexto N %
“Realizar técnicas não medicamentosas
para controlar a sintomatologia […]”,
Diminuir a
“Controlar a sintomatologia […]”, “Ajudar 8 57,1
sintomatologia
Promoção de o cliente a enfrentar e a adaptar-se à
autonomia e sintomatologia […]”.
independência “Adaptar quando necessário o contexto
[…]”, “Adaptar a vida às limitações
Adaptar 6 42,9
existentes […]”, “[…] confeção de
adaptações”.
“Graduar o grau de dificuldade […]”,
Importância “Adaptar as atividades necessárias […]”,
Graduar 4 28,6
da “[…] sentidos e através destes estabelecer
intervenção vias de comunicação”.
da terapia “Realizar projetos pessoais; Realizar
Promoção de Promover o
ocupacional aspirações pessoais”, “Garantir a
qualidade de vida envolvimento
com clientes satisfação das atividades […]”, “Criar 10 71,4
Promoção da em atividades
em CP situações de promoção de ocupações
resiliência significativas
significativas […]”.
“Realizar um acompanhamento mais
Dar suporte psicológico […]”, “Promover reencontros
11 78,6
emocional com desafetos […]”, “Proporcionar o
grito de dor […]”.
“Auxiliar os cuidadores no tipo de ajuda
Intervenção com que deve ser dada […]”, “[…] como se
Aconselhamento/
familiares e/ou devem proteger no cuidado ao outro”, 6 42,9
Facilitar estratégias
cuidadores “Realizar uma intervenção voltada para
a família e cuidadores […]”.
N=14.
Tabela 2. Questão “Como considera a intervenção do terapeuta ocupacional com as famílias de clientes
em Cuidados Paliativos?”.
Categoria Subcategoria Unidade de Registo Unidade de Contexto N %
“Acolher as famílias antes da sua
orientação […]”, “Acolher as famílias
Acolher em todas as
em todas as fases inclusive no pós-óbito 5 35,7
fases da doença
[…]”, “Estar presente, em todos os
momentos […] e demais acolhimentos”.
“Promover a partilha de sentimentos
Partilha de
Acolhimento de aceitação”, “Escuta ativa”, “[…] 11 78,6
Importância sentimentos
Partilha no pré e pós-luto […]”.
da
“Ajudar a família a enfrentar a doença
intervenção
do seu familiar”, “Dar suporte para
da terapia
Dar suporte ajudar a família a enfrentar o momento 7 50
ocupacional
do adoecimento […]”, “Evitar lutos
com
patológicos”.
famílias de
clientes em “Orientar o cuidador acerca dos cuidados
CP específicos […]”, “Orientar os cuidadores
Orientar sobre como lidar/auxiliar o cliente […]”, 8 57,1
“Orientar as famílias em relação ao
Aconselhamento cuidado com o cliente”.
“Reorganizar a vida das famílias […]”,
“Adaptar a rotina de todos à situação
Adaptar 5 35,7
adquirida […]”, “Adequar os cuidados
às necessidades do cliente”.
N=14.
Tabela 3. Questão “Como considera a intervenção do terapeuta ocupacional com outros técnicos de
Saúde (psicólogo, enfermeiro, médico, entre outros) nos Cuidados Paliativos?”.
Categoria Subcategoria Unidade de Registo Unidade de Contexto N %
“Partilhar a informação de forma a
oferecer cuidados integrais ao cliente
e família […]”, “Partilhar informações
Partilha de
para que todos os profissionais tenham as 8 57,1
informação
mesmas informações […]”, “Estabelecer
rotinas para intervenções individuais dos
Equipa de CP
Importância profissionais […]”.
da “Compartilhar experiências bem-sucedidas
intervenção ou não”, “Transmitir conhecimentos […]”,
Partilha de
da terapia “A relação e interação […] são essenciais, 6 42,9
experiências
ocupacional pois existem aspetos do domínio e áreas
com outros profissionais específicas […]”.
técnicos de “Apoiar o cliente em todas as vertentes,
saúde em visando sempre o cliente como um ser
CP holístico”, “Ajudar o cliente a encontrar o
alívio da dor e sofrimento”, “Melhorar a
Intervenção do TO Abordagens de
qualidade de vida […]”, “[…] reforçando 13 92,9
na equipa de CP intervenção do TO
a importância do cliente e dos seu papéis
e atividades significativas […]”, “[…]
conhecimentos em nível de estimulação
sensorial e da integração sensorial […]”.
N=14.
Tabela 4. Questão “Que tipo de abordagens utiliza na intervenção em Cuidados Paliativos? E por quê?”.
Categoria Subcategoria Unidade de Registo Unidade de Contexto N %
“[…] privilegiando as relações interpessoais”,
Relação terapêutica “A relação é o mais importante […]”, “[…] 7 50
tudo decorre da relação”.
Acolhimento “Acolhimento à família […]”. 4 28,6
Partilha de “Escuta ativa”, “Exploração da rotina e
6 42,9
informação do impacto da doença no cuidador […]”
“[…] aconselhamento, produtos apoio
Família […]”, “[…] informação de exercícios que
Aconselhamento 9 64,3
o doente deve realizar e as atividades que
o deve deixar continuar”.
“Ensino de transferências”, “Ensino de
Educação 10 71,4
posicionamento”.
“Orientação”, “Orientar a família […]”, “É
Orientar importante orientar o cliente ou familiar 9 64,3
[…]”.
“Abordagem humanista”, “ […] privilegiando
Relação terapêutica as relações interpessoais”, “Escuta […]”, 11 78,6
Tipo de
“A relação é o mais importante […]”.
abordagens
utilizadas “O acolhimento é fundamental ouvir o que
pelos Acolhimento o cliente tem para dizer […]”, “[…] estar 4 28,6
terapeutas disponível para acolhê-lo”.
ocupacionais “[…] avaliação no qual incluía a anamnese”,
nos CP “[…] avaliação de interesses e papéis
Avaliação 8 57,1
através de checklists”, “[…] avaliações
do desempenho […]”.
“[…] técnicas conservação energia
[…]”, “[…] treino de transferências”,
Educação e Treino 9 64,3
Cliente “[...] aconselhamento e treino de utilização
de produtos de apoio […]”.
Promover “[…] atividades significativas”, “[…] gostos,
envolvimento interesses, necessidades do cliente e/ou
12 85,8
nas atividades família dependia o tipo de intervenção”,
significativas “Abordagem eclética”.
“Adaptação e graduação […]”, “[…]
Adaptar e/ou estratégias compensatórias […]”,
7 50
Graduar “Atendimentos em grupo ou individuais
[…].”
Utilizar técnicas “[…] estimulação sensorial […]”, “[…]
de intervenção treino de AVD’s”, “[…] recursos percetivo- 12 85,8
especifícas sensoriais”.
N=14.
Tabela 5. Questão “Do seu ponto de vista, existem outras abordagens/metodologias que poderiam ser
utilizadas na intervenção em Cuidados Paliativos? Se sim, quais?”.
Categoria Subcategoria Unidade de Unidade de Contexto N %
Registo
“O Modelo de Ocupação Humana pode
ser bastante útil […]”, “Abordagem
Outras Com o cliente 5 33,3
Reabilitativa, Abordagem Psicossocial,
abordagens/ Abordagem Interativa de Grupos”.
metodologias Sugestões de
“No meu caso, haver equipa multidisciplinar
que poderiam abordagens/
Com a equipa […]”, “[…] profissionais mais voltados à 2 13,3
ser utilizadas técnicas
questões e técnicas de reabilitação física”.
na intervenção
“[…] integração com redes de apoio na
em Cuidados
Respostas Sociais comunidade”, “Acesso a alimentos […]”, 3 20
Paliativos
“Poder na tomada de decisão […]”.
Sem sugestões 8 53,3
N=15.
Tabela 6. Questão “Em Cuidados Paliativos, quais os resultados que o terapeuta vê na sua intervenção
com clientes e famílias?”.
Categoria Subcategoria Unidade de Registo Unidade de Contexto N %
“[…] redução da dor, da ansiedade, depressão
Diminuir a
Promoção de […]”, “Diminuição de sintomas, como dor, 12 85,7
sintomatologia
autonomia e fadiga, dificuldades respiratórias, edema”.
independência “[…] as mudanças nos contextos e
Adaptar 3 21,4
desempenho ocupacional […]”.
Promover o
“[…] ir de encontro aos interesses do
Promoção de envolvimento
cliente”, “Possibilidade de realizar os 11 78,6
qualidade de vida em atividades
últimos ‘desejos’ e projetos”.
Resultados significativas
da “[…] pacificação nos relacionamentos
intervenção e com a vida”, “Melhor enfrentamento
da terapia Promoção da Dar suporte
do adoecimento”, “Melhor aceitação do 14 100
ocupacional resiliência emocional
processo de doença […]”, “[…] bem-estar
em CP do cliente […]”.
“Maior ‘conforto’ na fase da morte e do luto”,
“[…] alívio de dor […] tanto do cliente,
quanto dos familiares-cuidadores”, “[…]
Intervenção com
Aconselhamento/ pequenas melhorias na rotina que podem
familiares e/ou 13 92,9
Facilitar estratégias aumentar a qualidade de vida dos utentes e
cuidadores
familiares”, “[…] ficam mais esclarecidos
a respeito dos procedimentos realizados e
do prognóstico da doença”.
N=14.
dos Cuidados Paliativos onde exerceu/exerce a sua Registo “Políticas internas” da subcategoria “Sem
prática clínica? evolução”.
Através da observação da Tabela 7, verificaram-se Verificou-se uma evolução, através das percentagens
duas subcategorias, nomeadamente “Existe evolução” de 66,7% (N=10) na Unidade de registo “Equipa”,
e “Sem evolução”. Os resultados mostraram que 33,3% (N=5) na Unidade de registo “Terapia
53,3% (N=8) dos participantes não sugeriram ocupacional” e 26,7% (N=4) na Unidade de Registo
outras abordagens/técnicas inerentes à prática “Políticas internas” que vão ao encontro dos estudos
nos CP. Para cada subcategoria foram criadas três de Henning (2010) e APCP (ASSOCIAÇÃO...,
unidades de registo, destacando-se 66,7% (N=10) 2014) supracitados na discussão dos resultados da
dos participantes na Unidade de registo “Equipa” Tabela 5.
da subcategoria “Existe evolução”, e a percentagem A percentagem obtida na Tabela 5, onde
de 33,3% (N=5) dos participantes na Unidade de 47,7% (N=7) dos participantes sugeriram outras
Tabela 7. Questão “Como considera a evolução dos Cuidados Paliativos onde exerceu/exerce a sua
prática clínica?”.
Categoria Subcategoria Unidade de Registo Unidade de Contexto N %
“O reconhecimento dos familiares e dos
Terapia ocupacional 5 33,3
pacientes veio primeiro”.
“A equipa não tem formação em CP […],
porém são obstáculos superados diariamente”,
“[…] maior importância de toda a equipa
Equipa com a intervenção do terapeuta ocupacional 10 66,7
Existe
[…]”, “[…] prática mais abrangente e
evolução
baseada nos princípios de trabalho em
equipa multidisciplinar […]”.
“Administração […] flexibilizar algumas
políticas do serviço”, “[…] reestruturação
Evolução Politicas internas 4 26,7
do serviço”, “[…] aumento do número de
dos CP onde
profissionais […]”.
exerce/
“[…] refletirmos sobre a intervenção
exerceu Terapeuta
sistemática padrão ou sugerida de atuação 1 6,7
prática ocupacional
da terapia ocupacional”.
clínica
“O trabalho em equipa multidisciplinar
continua a ser uma miragem”, “Assiste-se
Intervenção em
a uma hegemonia de grupos profissionais 3 20
equipa
Sem com receio da entrada ou participação de
evolução outros”.
“Indicar para CP no diagnóstico”, “Considerar
os Cuidados Paliativos desde o diagnóstico
de uma doença potencialmente fatal e não
Políticas internas 5 33,3
apenas na fase terminal”, “Estimular a
desospitalização”, “[…] falha na questão de
protocolos ou instrumentos específicos […]”.
N=15.
Tabela 8. Questão “Do seu ponto de vista, o que poderá ser feito para divulgar/promover o contributo
da intervenção do terapeuta ocupacional nos Cuidados Paliativos?”.
Categoria Subcategoria Unidade de Registo Unidade de Contexto N %
“Formações […]”, “[…] procurar
Formação contínua Promover o
formas de avaliar e validar a atuação”,
Divulgar/ desenvolvimento da
“Publicação de artigos, livros e trabalhos 15 100
Promover o terapia ocupacional
científicos […]”, “[…] produzir evidências
contributo da Publicações nos CP
cientificas”.
intervenção
da terapia “[…] mudança de mentalidades”,
ocupacional Promover a “Aumentar a participação dos profissionais
nos CP Divulgação participação na da terapia ocupacional nos congressos e 11 73,3
educação eventos”, “Promover a terapia ocupacional
em aulas e eventos institucionais […]”.
N=15.
estudos que evidenciem a intervenção nesta área de COSTA, A. Ética e comunicação em Cuidados Paliati-
prática clínica. vos. Hospitalidade, Lisboa, n. 297, p. 26-30, 2012.
Os resultados obtidos poderão ser, simultaneamente, COSTA, A.; OTHERO, M. Reabilitação em Cuidados
importantes no contributo para a definição de Paliativos. Loures: Lusodidacta, 2014.
linhas orientadoras para a intervenção da terapia ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE – ERS.
ocupacional nos Cuidados Paliativos. Avaliação do acesso dos utentes aos cuidados continuados
Tendo em conta que o presente estudo se trata de saúde. Porto, 2013. Disponível em: <https://www.ers.
de um estudo descritivo simples, é sugerida a pt/pages/73?news_id=620>. Acesso em: 20 mar. 2014.
continuidade da investigação do presente tema e, se FORTIN, M. Fundamentos e etapas do processo de inves-
possível, a correlação entre a intervenção da terapia tigação. Loures: Lusodidacta, 2006.
ocupacional nos CP, o local de prática, formação e HENNING, R. Terapia Ocupacional nos Cuidados Paliati-
os resultados obtidos com a população que necessita vos aos pacientes oncológicos. Joinville, 2010. Disponível em:
da prestação deste tipo de cuidados. <http://tocoletiva.com.br/wp-content/uploads/2013/06/
TERAPIA-OCUPACIONAL-NOS-CUIDADOS-PALIA-
Referências TIVOS-AOS-PACIENTES-ONCOL%C3%93GICOS.
pdf>. Acesso em: 30 mar. 2014.
AMERICAN OCCUPATIONAL THERAPY ASSO-
CIATION – AOTA. The role of occupational therapy MARQUES, A. et al. O desenvolvimento dos cuidados
in end-of-life care. The American Journal of Occupational paliativos em Portugal. Patient Care, Lisboa, v. 14, n.
Therapy, Boston, v. 65, n. SE6, p. 65-75, 2008. 152, p. 32-38, 2009.