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História

9o. ano
Volume 3
Livro
didático 9 Populismo e ditaduras na
América Latina 2

10 Brasil: Populismo 14

11 Brasil: Golpe e Ditadura


©Arquivo Público do Distrito Federal

Civil-Militar 29

12 Descolonização da África
e da Ásia 43
9 Populismo e ditaduras
na América Latina

As décadas de 1930 a 1970 foram bastante conturbadas para vários


países da América Latina, que viram diversas mudanças em seus governos.
Foi um período de avanços e retrocessos em todos os setores.
Uma das pessoas que mais simbolizaram esse período foi Eva Perón,
esposa do presidente argentino Juan Domingo Perón. Evita, como era
conhecida, foi uma figura bastante popular na Argentina, e suas ações
sintetizam muitas das características dos
governos populistas.

©Fotoarena/Alamy/KEYSTONE Pictures USA

EVA e Juán Perón em campanha pela reeleição. 28 ago. 1951. 1 fotografia, p&b.

Você já estudou as ações populistas de Getúlio Vargas durante o Estado Novo. Assim, que tal
resgatar algumas das caraterísticas de um governo populista? Para isso, discuta com os colegas e anote
no caderno as características relembradas. Ao longo do capítulo, vamos verificar por que Juan e Eva
Perón foram considerados governantes populistas.

2
Objetivos
• Relacionar os eventos mundiais do Período Entreguerras e pós-1945 com a história latino-
-americana.
• Conceituar "populismo".
• Apresentar as principais mudanças e características dos governos populistas do México e da
Argentina.
• Indicar os pontos similares e as particularidades das ditaduras latino-americanas da segunda
metade do século XX.
• Explicar a importância da Revolução Cubana (1959) e sua relação com o imperialismo
estadunidense.
• Indicar os impactos da Revolução Cubana para a América Latina.

A América Latina não foi palco dos conflitos da Segunda Guerra Mundial, apesar do engajamento de alguns
países no bloco dos Aliados ou do Eixo. Se comparados aos países europeus e asiáticos, os países latino-ameri-
canos tiveram menor destaque nos confrontos da Guerra Fria. Isso não significa que esses acontecimentos não
tenham influenciado a cultura, a política e a economia latino-americanas. Vale lembrar também que os eventos
da Crise de 1929 se fizeram sentir sobre esses países. Assim, os problemas econômicos e as disputas ideológicas
entre capitalismo e socialismo, aliados a fatores internos (como desemprego, crise econômica, etc.), contribuí-
ram para a emergência de regimes de governo populistas e de ditaduras militares ao longo do século XX.

Organize as ideias
1. (FGV – RJ) O período entre as duas grandes guerras mundiais, de 1918 a 1939, caracterizou-se por uma
intensa polarização ideológica e política. Assinale a alternativa que apresenta somente elementos vin-
culados a esse período:
a) New Deal; Globalização; Guerra do Vietnã.
b) Guerra do Vietnã; Revolução Cubana; Muro de Berlim.
c) Guerra Civil Espanhola; Nazifascismo; Quebra da Bolsa de Nova York.
d) Nazifascismo; New Deal; Crise dos Mísseis.
e) Doutrina Truman; República de Weimar; Revolução Sandinista.
2. A respeito da Era Vargas (1930-1945), analise as afirmações a seguir.
I. Vargas chegou ao poder em 1930 prometendo eleições diretas para a presidência. Entretanto, gover-
nou por quatro anos antes das eleições indiretas de 1934.
II. Para angariar o apoio da população, Vargas nomeou cafeicultores paulistas para compor o seu
ministério.
III. Por meio da propaganda, Vargas difundiu as suas realizações, com o objetivo de ganhar apoiadores
para a sua permanência no poder.
De acordo com a análise, assinale a afirmativa correta.
a) Todas as afirmações estão certas.
b) Todas as afirmações estão erradas.
c) Apenas as afirmações I e II estão certas.
d) Apenas as afirmações I e III estão certas.
e) Apenas as afirmações II e III estão certas.

3
Populismo
p
Os países da América Latina por muito tempo viveram
viver sob governos voltados para a sa-
tisfação dos interesses das elites. Porém, entre as déca
décadas de 1930 e 1970, passaram a ter
governos voltados para a promoção das camadas populares,
popu o “povo”. Por esse motivo, foram
denominados governos populistas.
De maneira geral, é possível dizer
que essa mudança se deu com os
efeitos da Crise de 1929 sobre a eco-
nomia latino-americana, que ainda
era voltada à agroexportação e pre-
cisava se diversificar. Era necessário
incentivar a industrialização e contar
com a forte atuação do proletariado
para isso.
Característica importante do po-
pulismo, presente em praticamente
ttodos os países latino-americanos
ddesse período, foi a emergência de lí-
deres carismáticos. No Brasil, Getúlio Var-
dere
RJ Lages. 2013. Digital.

gas dizia governar


gove em prol dos trabalhadores. Na
Evita prometiam um novo país para os
Argentina, Perón e Evi
"descamisados". O mesmo prometia
p Lázaro Cárdenas no México.
Isso conferia a eles um aspecto
aspec paternalista em relação à parcela
levando-os a serem idolatrados e respeita-
mais pobre da população, levan
ddos pelas
l massas.

Outras versões

Para alguns estudiosos do período, como Boris Fausto, em sua obra História do Brasil, e Maria Helena R.
Capelato, em sua obra Multidões em cena: propaganda política no varguismo e no peronismo, esses governos
populistas estavam, na verdade, a serviço das classes altas. O motivo é que concediam benefícios às classes mais
baixas com o objetivo de mantê-las satisfeitas e disciplinadas. Assim, evitavam a eclosão de protestos sociais,
como as greves, e consequentemente o prejuízo gerado por estes ao processo de industrialização e ao cresci-
mento econômico do país. Reforça esse ponto de vista o fato de que, embora os trabalhadores pudessem se
organizar em sindicatos, esses órgãos ficavam diretamente subordinados ao governo, que os controlava. Além
disso, os grupos sociais urbanos que não estivessem satisfeitos com as medidas do governo eram submetidos
à censura. Tal atitude reforça a ideia de que a intenção desses governos não era o diálogo com o povo, mas a
manutenção da ordem social.

Para compreender melhor o fenômeno do populismo, serão analisadas algumas de suas principais carac-
terísticas nos países em que se colocou com mais força na América Latina: México e Argentina. O populismo
também se fez presente no Brasil, tema do próximo capítulo.

4 9o. ano – Volume 3


Populismo no México
O principal nome do populismo mexicano foi Lázaro Cárdenas, que assumiu o poder em 1934, mantendo-se
na presidência até 1940. Seu governo promoveu uma série de medidas que beneficiou a população mais pobre
do país, algumas delas já previstas desde 1917 na Constituição, mas que nunca chegaram a ser implementadas
de fato até então.
Uma das ações mais importantes foi a realização da reforma agrária, responsável pela redistribuição das
terras mexicanas em pequenas propriedades. O presidente também beneficiou o operariado urbano com a
criação, em 1931, da Lei Federal do Trabalho, a qual garantia a concessão de direitos trabalhistas previstos desde
a Constituição de 1917. Entre esses direitos estavam a jornada de trabalho de 8 horas diárias, o salário mínimo
e o descanso semanal remunerado. Ademais, houve a limitação da contratação de mulheres e menores de 16
anos para trabalhos considerados insalubres, além do apoio ao direito de greve e o incentivo à sindicalização
entre os operários.
©Getty Images/Bettmann Archive

O governo de Cárdenas defendia a efetiva


participação do Estado na economia. Assim, ele
nacionalizou a indústria petroleira e as ferrovias
mexicanas. Todas essas medidas contribuíram
para torná-lo bastante popular.
É importante salientar que o presidente pro-
moveu ainda a expansão do capitalismo no Mé-
xico ao iniciar um programa de obras públicas e
permitir investimentos de capital. Ele também
realizou medidas voltadas para a industrialização,
como a ampla concessão de empréstimos para os
empresários e o fortalecimento do sistema finan-
ceiro do país. Seu objetivo era atender à burgue-
PRESIDENTE Lázaro Cárdenas discursa no Palácio Nacional. 25 mar. 1938. 1 sia mexicana, que fazia oposição ao seu governo,
fotografia, p&b. criticando a forte intervenção na economia e o
Cerca de 250 mil mexicanos saudaram o presidente após o anúncio da apoio às organizações trabalhistas. Essa mudança
nacionalização das empresas de petróleo no país, em março de 1938. A medida
foi tomada pelo governo depois que as empresas se negaram a melhorar o a favor da burguesia se deu principalmente a par-
salário de seus funcionários. O governo se colocou ao lado dos trabalhadores, tir de 1938, quando as medidas que favoreciam os
até que o impasse foi resolvido com a nacionalização das empresas, um ato
pioneiro na América Latina. trabalhadores já tinham sido estabelecidas.

Várias das medidas tomadas pelo líder populista Lázaro Cárdenas no México não foram criações dele, já que estavam
previstas na Constituição de 1917, elaborada durante a Revolução Mexicana. A revolução teve início em 1910 e foi
promovida por líderes populares, como Emiliano Zapata e Francisco Villa, que lutaram contra o governo de Porfírio Dias.
Este promoveu o aumento da concentração fundiária. As pressões internacionais impediram que as mudanças de cunho
popular previstas na Constituição fossem efetuadas, o que levou o país a uma grande crise econômica, agravada ainda
mais pela Crise de 1929.

Populismo na Argentina
A Argentina também viveu seu período populista. A crise econômica iniciada em 1929 levou a uma disputa
pelo poder, a qual culminou com um golpe militar, em 1943. Desse governo, fazia parte Juan Domingo Perón,
que até 1945 ocupou os cargos de ministro do Trabalho, ministro da Guerra e vice-presidente.

História 5
©Wikimedia Commons/Ministerio de Educación, Presidencia de la Nación
Durante esse período, Perón tomou inúmeras medidas que beneficia-
vam as classes trabalhadoras argentinas. Entre elas estavam o aumento
dos salários, a reafirmação de leis trabalhistas e a criação de tribunais do
trabalho, além de um vasto sistema de previdência social. Como ministro,
Perón preocupou-se com a sindicalização dos trabalhadores e com o con-
trole sobre essas instituições. Ele cuidou para que aquelas de caráter anar-
quista ou socialista fossem desarticuladas e, em seu lugar, fossem criadas
associações aliadas ao governo.
A postura populista de Perón gerou a oposição da elite argentina, es-
pecialmente dos grandes proprietários de terras e da burguesia, sendo
estes, em 1945, os responsáveis por sua deposição e prisão. A população,
no entanto, reagiu maciçamente contra a punição a Perón, que acabou
sendo libertado. Nesse mesmo ano, ele concorreu ao cargo de presidente
e foi eleito.
Como presidente, Perón deu prosseguimento à sua política populista.
Ele era simpático aos regimes autoritários de extrema direita da Europa,
como o nazismo e o fascismo, e era abertamente contrário ao socialismo.
Apesar disso, desejava um governo independente de influências exter-
nas, classificado como um terceiro caminho político (a via terceirista).
Perón também acelerou a reforma agrária e os investimentos na in- JUAN Perón com a faixa presidencial
argentina. 1946. 1 fotografia, p&b.
dústria (de alimentos, têxtil e de metalurgia; o país não investiu com tanta
ênfase na indústria de base, como o Brasil de Vargas, por exemplo). Seu Logo após assumir o governo, Perón dissolveu o
Partido Laborista para criar o Partido Peronista, o
governo aplicou o que ele chamou de justicialismo, a ideia de que o Esta- que demonstra a ênfase na sua figura.
do seria o único capaz de responder aos interesses da população.
Em 1947, Perón deu início a uma onda de nacionalizações, na qual os transportes, a energia elétrica, as
comunicações e as instituições financeiras foram seus principais alvos. Suas medidas, porém, não eram caracte-
rizadas pelo planejamento e, em pouco tempo, a economia argentina entrou em crise.
A oposição a seu governo se acirrou, o que o fez iniciar uma campanha de repressão a seus inimigos políti-
cos. Para tanto, comprou estações de rádio e fechou jornais, na tentativa de cercear os meios de comunicação
contrários, controlar o conteúdo do que chegava à população e valorizar o governo. Assim, conseguiu se ree-
leger em 1951.
Seu segundo mandato, no entanto, foi marcado pelo agravamento da crise econômica e pelos conflitos
com instituições importantes, como a Igreja e o Exército, que até então o apoiavam. Como resultado, Perón foi
destituído de seu cargo antes do fim do mandato, em 1955.

Uma figura muito importante do peronismo foi Eva Duarte. A atriz conheceu Perón quando
©Wikimedia Commons/Archivo gráfico de la Nación

ele ainda era ministro do trabalho, em 1944. Quando foi afastado do governo e preso,
Eva liderou uma série de manifestações por sua libertação. Após a eleição, em 1945, os
dois se casaram. Como primeira-dama, ela criou a Fundação Eva Perón, voltada à pro-
moção da beneficência entre os mais pobres, o que reforçou sua popularidade diante dos
“descamisados”, como ela se referia à população mais humilde. Eva, ou Evita, como era
chamada, ainda teve grande destaque na política, fundando o Partido Peronista Feminino e
influenciando a concessão do direito de voto às mulheres argentinas. A atriz foi eleita vice-
-presidente de Perón. No entanto, um câncer no útero a vitimou quando ela tinha 33 anos,
antes de assumir o cargo.
FOTO oficial de Eva Perón como primeira-
-dama da Argentina. 1 fotografia, color.

6 9o. ano – Volume 3


Organize as ideias
1. Leia, a seguir, o que a historiadora Maria Ligia Prado afirma sobre o governo do líder populista Cárdenas,
do México.

Cárdenas se pretendia o verdadeiro tradutor das massas mexicanas, defendendo sua participação
no jogo político e entendendo como fundamental seu papel na sociedade. As massas – termo tão di-
fuso – eram vistas por ele como motor do progresso de uma sociedade; de outro lado, era imprescin-
dível a atuação da “classe capitalista”, responsável pelo crescimento da produção. Toda a sociedade,
assim, devia cooperar para que se atingisse o progresso do México, meta ideal do cardenismo. Ao
Estado cabia o importante papel de conciliador social, já que apenas o Estado possuía um interesse
geral e podia subordinar os interesses privados às necessidades do progresso do país.

PRADO, Maria L. O populismo na América Latina. São Paulo: Brasiliense, 1981. p. 33.

Com base no fragmento e em seus estudos sobre o populismo, responda:


a) Quais grupos sociais podem ser enquadrados no conceito de “massas” citado pela autora?

b) De acordo com o fragmento, que papel Cárdenas atribuía aos capitalistas na sociedade mexicana?

c) Qual é o papel do governo de Cárdenas em relação aos interesses da “massa” e da classe capitalista?

2. Explique os motivos que levaram Juan Domingo e Eva Perón a serem considerados líderes populistas.

Além de Cárdenas e Perón, a América Latina conheceu, durante as décadas de 1930 a 1970, vários governos
de caráter populista. São exemplos: na Bolívia, durante as décadas de 1950 e 1960, os de Victor Paz Estensoro
e Hernán Siles; no Equador, entre as décadas de 1930 e 1970, o de José Maria Velasco Ibarra; no Brasil, duran-
te as décadas de 1930 a 1950, o de Getúlio Vargas. A repressão à oposição e a existência de um líder forte e
carismático, por exemplo, já anunciavam algumas das principais características dos regimes ditatoriais que se
estabeleceram em vários países latino-americanos nas décadas de 1960 e 1970.

conciliador: que concilia, faz partes contrárias entrarem em acordo.

História 7
Ditaduras
Na segunda metade do século XX, diversas ditaduras foram estabelecidas nos países latino-americanos. Tal
situação se deu com a junção de fatores externos e internos. Internacionalmente, o mundo vivia os efeitos da
Guerra Fria e os Estados Unidos sentiam a necessidade cada vez maior de garantir a manutenção do capitalis-
mo no continente americano. A eclosão da Revolução Cubana (que estudaremos a seguir), em 1959, com o
eventual alinhamento dos cubanos ao governo soviético, foi outro fator que levou os Estados Unidos a apoiar
ditaduras que garantissem a manutenção da ordem capitalista na América. Em geral, os governos ditatoriais
eram contrários ao socialismo.
Ao mesmo tempo, havia interesse de grupos sociais e instituições – capitalistas, camadas altas e médias
dessas sociedades e Igreja – em apoiar os governos ditatoriais. O intuito era garantir estabilidade econômica e
segurança contra agitações sociais.
Embora guardassem suas particularidades, podemos afirmar que, de forma geral, essas ditaduras foram
marcadas por algumas características comuns. Entre elas, o cerceamento dos direitos políticos e individuais, a
ampla utilização da força pelo Estado contra a sociedade e o fortalecimento do Poder Executivo.

Ditadura na Argentina

©Getty Images/Keystone/Staff
Desde o final do governo de Perón, em 1955,
a Argentina passava por uma séria crise econô-
mica e política. Por diversas vezes, os militares
intervieram na política do país, sob o pretexto
de derrubar governos incapazes de resolver a
crise e repelir a ação de grupos socialistas que
supostamente pretendiam tomar o poder. Nesse
contexto, Perón foi reeleito para a presidência,
assumindo o cargo em 1973. Seu falecimento no
ano seguinte levou sua segunda esposa e vice-
-presidente, Isabel Perón, a assumir o cargo.
Rejeitada pelos argentinos, ela foi deposta,
em 1976, por um golpe militar que implantou FRENTE da Casa Rosada, sede do governo argentino, sob controle militar após o
no país uma ditadura, sob o comando do chefe golpe que depôs Isabel Perón em 1976. 1 fotografia, p&b.
do exército, Jorge Rafael Videla. Uma das pri-
meiras medidas de Videla foi decretar estado de sítio, suspendendo, de maneira provisória, todos os direitos
civis. Na prática, isso permitia a ele agir livremente na repressão aos inimigos do regime, em especial socialistas
e peronistas.
Jorge Rafael Videla governou a Argentina até 1981, quando foi afastado do cargo. A presidência foi assumida
pelo general Roberto Eduardo Viola. Durante seu governo, a Argentina se envolveu em uma guerra contra a
Inglaterra pela posse das Ilhas Malvinas, arquipélago localizado no Atlântico Sul e que, desde 1833, estava sob
poder dos britânicos. Os argentinos perderam o conflito e o apoio dos Estados Unidos, o que acirrou a opinião
pública contra a manutenção do regime militar. Essa situação enfraqueceu a ditadura, e eleições democráticas
para eleger o próximo presidente foram convocadas.
Em 1983, o regime democrático foi restabelecido no país. Videla foi julgado e, em 2010, condenado à prisão
perpétua por crimes contra os direitos humanos, perdendo sua patente militar.
Diferentemente de outros governos ditatoriais, na Argentina os militares não promoveram profundas mu-
danças ou projetos econômicos de longo prazo. O destaque ficou para a repressão e a “restituição da ordem”:
cerca de 30 mil pessoas morreram, sendo esta uma das ditaduras mais violentas da América Latina (tal qual
a chilena). Os métodos de repressão eram extremamente cruéis e envolviam prisão arbitrária de suspeitos,

8 9o. ano – Volume 3


desaparecimento de pessoas, interrogatório marcado por torturas físicas e psicológicas, em geral seguidas de
assassinato. A esquerda foi desarticulada de modo gradativo no país. Tudo isso, porém, era feito de maneira
“discreta” e sem alardes. Dessa forma, aparentava-se normalidade – o que permitiu, por exemplo, a realização
da Copa do Mundo no país, em 1978.

Pesquisa

©Glow Images/ip Archive


A imagem ao lado retrata uma das várias manifestações
promovidas pelas Mães da Praça de Maio, organização sur-
gida em virtude dos abusos cometidos pelo regime militar
na Argentina. Faça uma pesquisa sobre as Mães da Praça
de Maio. Depois registre, no caderno, os itens a seguir:
• período de fundação do movimento;
• origens do movimento;
• justificativa para a denominação do movimento;
• principal reivindicação;
• repercussão do movimento em outros países;
• resultados obtidos.
MANIFESTAÇÃO das Mães da Praça de Maio, em Buenos Aires.
1 fotografia, p&b.

Ditadura no Chile
Na Argentina, a deflagração da ditadura se deu apenas pela ameaça socialista. Ao contrário, no Chile, a elei-
ção de Salvador Allende para o cargo de presidente da República, em 1970, marcou a vitória democrática do
projeto socialista no país. Ao assumir o governo, algumas das principais medidas tomadas por Allende foram o
aumento dos salários, a aceleração da reforma agrária e a nacionalização de setores de base da economia, como
a mineração.
A postura esquerdista do presidente chileno atraiu a antipatia do governo estadunidense, que, no contexto
da Guerra Fria, apoiou a direita, que defendia o fim do governo socialista no Chile. Além disso, alguns grupos
de esquerda foram gradativamente retirando o apoio ao governo de Allende, por acreditarem que as medidas
tomadas por ele eram muito brandas e não conseguiriam efetivar a implantação do socialismo. A pressão con-
trária a Allende tornou-se muito forte, o que levou, em 1973, ao fim de seu governo.
©Glow Images/AP Photos

A tomada de poder por parte da Ditadura Militar


no Chile foi uma das mais violentas da América
Latina. Isso pode ser observado nesta imagem,
a qual retrata o bombardeio do La Moneda,
edifício-sede do governo (na cidade de Santiago),
no qual estava Salvador Allende, que, segundo a
versão oficial dos fatos, teria cometido suicídio
na ocasião. A ofensiva militar foi comandada pelo
general Augusto Pinochet, apoiado econômica
e militarmente pelos Estados Unidos, que
reagiram com extrema violência à possibilidade
do estabelecimento de um regime socialista na
América do Sul.

BOMBARDEIO do La Moneda. 11 set. 1973.


1 fotografia, p&b. Biblioteca do Congresso
Nacional do Chile, Santiago.

História 9
O ataque à sede do governo e a morte de Allende garantiam abertura para a instalação de um governo
militar de direita, comandado pelo general Augusto Pinochet. Tal governo foi marcado pela perseguição aos ini-
migos políticos e pela suspensão dos direitos civis. Entre sequestrados, torturados, presos e assassinados, foram
mais de 40 mil vítimas. Economicamente, evidenciou-se seu alinhamento aos Estados Unidos, que auxiliaram
na reorganização econômica do país e no expurgo das medidas de esquerda implantadas por seus antecesso-
res. Leia este texto.

[...] reduziu drasticamente a influência do Estado na economia, realizando privatizações em


massa; abriu o mercado nacional ao comércio exterior, forçando o sistema produtivo local à
competitividade ou ao desaparecimento; liberalizou o mercado financeiro e desregulamentou o
trabalhista; eliminou o controle sobre os preços e incentivou as exportações e a sua diversificação
[...] O balanço? Os críticos destacam os custos sociais, que foram enormes.

ZANATTA, Loris. Uma breve história da América Latina. São Paulo: Cultrix, 2017. p. 210.

O governo de Pinochet estendeu-se até 1988, quando mudanças no cenário mundial, assinaladas pelo final
da Guerra Fria, obrigaram-no a realizar um plebiscito sobre sua permanência no poder. Esta foi repudiada pelos
chilenos.
Após o final de seu governo, Pinochet foi processado por inúmeros crimes contra os direitos civis, além de
ser acusado de enriquecimento ilícito durante o período em que foi presidente. Para livrar-se dos julgamentos e
das punições, o ex-ditador alegou sofrer de problemas de saúde, conseguindo, dessa forma, evitar a prisão até
a sua morte, que ocorreu em 2006.

Ditaduras no Uruguai, na Bolívia e no Paraguai


O Uruguai enfrentava problemas econômicos desde meados da década de 1950, o que motivou o surgi-
mento de vários grupos de esquerda, contrários ao governo estabelecido. Entre estes, destacou-se o Tupamaro,
o qual empreendeu uma guerrilha urbana contra o governo, realizando assaltos a bancos e distribuição de
dinheiro aos pobres.
Alegando a necessidade de combater a ameaça socialista representada pela ação desses grupos, o presi-
dente Juan María Bordaberry deu um golpe de Estado em 1973. Ele fechou o Congresso e o Senado e impôs
uma série de medidas restritivas à população. Até o ano de 1985, quando se encerrou o regime militar no país,
exerceram o cargo de presidente os militares Alberto Demicheli e Aparício Mendes.
©Getty Images/Anadolu Agency/Carlos Lebrato

• Manifestantes exigem infor-


mações sobre as pessoas
desaparecidas durante o
período ditatorial
LEBRATO, Carlos. Protesto realizado em Montevidéu, capital do Uruguai. 2016.
1 fotografia, color.

10 9o. ano – Volume 3


Na Bolívia, a Ditadura Militar se estendeu de 1964 a 1982, período em que vários governantes se revezaram
no poder. Sob o governo de Hugo Banzer, a partir de 1973, os bolivianos viram-se destituídos de direitos civis.
O movimento trabalhista também foi sufocado e os partidos políticos de oposição foram banidos. Economica-
mente, o país apresentou certo desenvolvimento na década de 1970, em especial em decorrência das exporta-
ções de petróleo. No entanto, passou por um período de crise na década seguinte.
O Paraguai, por sua vez, também esteve sob um dos mais longos regimes militares latino-americanos, de
1954 até 1989. Durante todo esse período, o poder esteve nas mãos de um único presidente, o general Alfredo
Stroessner, que se elegeu para sete mandatos consecutivos. Seu governo contava com uma ampla rede de
agentes secretos e de repressão.

Operação Condor
Como vimos, em meados da década de 1970, grande número de países latino-americanos estava sob poder de governos
militares. A simultaneidade do estabelecimento desses regimes, no entanto, não pode ser considerada coincidência; deve,
antes, ser entendida como produto do momento histórico pelo qual o mundo passava, marcado pela Guerra Fria.
Inseridos nesse contexto, Argentina, Chile, Uruguai, Bolívia, Paraguai e Brasil uniram-se em uma aliança. O objetivo deles
era garantir apoio mútuo na perseguição aos inimigos do regime, fornecendo informações sobre exilados políticos e depor-
tando-os aos países de origem ou, simplesmente, eliminando-os. Essa aliança foi chamada de Condor, em homenagem à
ave-símbolo do Chile, país em que a operação foi oficializada. Esta contava com apoio da CIA, a Agência de Inteligência dos
Estados Unidos.

Troca de ideias
Além dos movimentos de luta armada e das reivindicações de grupos como o das Mães da Praça de Maio,
na Argentina, nesse período de ditaduras os movimentos culturais também floresceram na América Latina. Ora
expressavam a história dos países latino-americanos, ora questionavam os rumos de seus governos. Leia o texto
a seguir para saber mais sobre o assunto.

No ambiente da Guerra Fria e da emergência dos regimes autoritários em diferentes países


da América Latina, músicos e escritores, entre outros artistas, produziram obras de extraordiná-
ria repercussão e qualidade por meio das quais expressavam posições críticas concernentes aos
problemas políticos e sociais de seus países. Em muitas dessas manifestações, ganhou corpo uma
perspectiva transnacional, latino-americanista, ao sublinhar as mazelas comuns aos diferentes
países e a importância de afirmações identitárias unificadoras.

PRADO, Maria L.; PELLEGRINO, Gabriela. História da América Latina. São Paulo: Contexto, 2014. p. 188.

Com base na leitura do texto, discuta com os colegas a respeito:


• das formas diferentes de resistência que surgiram após o estabelecimento dos governos ditatoriais na Amé-
rica Latina;
• de como a música, a literatura, o cinema e outras formas de expressão artística podem ajudar na conscien-
tização da necessidade de mudanças na sociedade.

transnacional: que ultrapassa os limites de um país ou uma mazelas: problemas, males.


nacionalidade; o que é comum a muitos países. identitárias: relativas à identidade.

História 11
Revolução Cubana
A América Latina, que sempre esteve sob o jugo imperialista dos Estados Unidos, observou essa dominação
aumentar após o início da Guerra Fria.
Para compreender o contexto em que se desenvolveu a Revolução Cuba-
na, iniciada em 1959, é importante relembrar que a ilha de Cuba foi colonizada A chamada Doutrina Monroe
foi colocada em prática pelo pre-
pelos espanhóis, dos quais conseguiu sua emancipação política em 1898.
sidente James Monroe em 1823,
Tão logo ocorreu a emancipação política, Cuba sofreu intervenções por meio da qual prometia auxí-
dos Estados Unidos em sua política e economia. Por meio da Doutrina lio às colônias latino-americanas
Monroe, os estadunidenses reconheceram a independência cubana. Po- contra as metrópoles europeias.
rém, esse reconhecimento favoreceu a intromissão dos Estados Unidos nas
questões internas do novo país.
Para os cubanos, a situação era ainda mais grave porque, em sua constituição, foi inserida a Emenda Platt,
que autorizava a interferência estadunidense em Cuba sempre que fosse conveniente para os dois países.
Durante o governo de Fulgencio Batista (1933 a 1940 e 1952 a 1959), a desigualdade social e a exploração das
classes trabalhadoras aumentaram. O ditador era considerado um agente dos interesses estadunidenses na ilha,
pois as usinas produtoras de açúcar, os transportes e a eletricidade estavam nas mãos de investidores estrangeiros.
Fidel Castro e seus companheiros planejaram um golpe para a derrubada de Fulgencio Batista e o estabe-
lecimento de um governo voltado para os interesses do povo cubano. O golpe ocorreu no dia 26 de julho de
1954 com o objetivo de tomar o Quartel de Moncada. Porém, ele não foi bem-sucedido e seus líderes foram
presos.

©Getty Images/Bettmann Archive


Os revolucionários foram exilados no México,
onde organizaram o M-26-7 (ou Movimento 26 de
Julho), tendo como um dos integrantes o médico
argentino Ernesto “Che” Guevara.
Em 1959, os revolucionários conseguiram to-
mar o poder, depois de atuar no país desde 1956,
conquistando o apoio da população. Fulgencio
fugiu do país, e os revolucionários assumiram o
poder. A reforma agrária e a nacionalização de em-
presas e bancos estadunidenses foram algumas
das medidas adotadas pelo governo instituído.
Líderes do Movimento 26 de Julho que acabaram com o governo de Fulgencio
Em 1961, cubanos exilados nos Estados Uni- Batista e implantaram um governo socialista em Cuba. No centro, estão Fidel
dos tentaram frear a revolução. Nesse mesmo ano, Castro (segundo da esquerda para a direita) e Che Guevara.
Cuba se declarou socialista, alinhando-se à URSS
em busca de apoio. O estabelecimento de um inimigo tão próximo a seu território levou os Estados Unidos a
organizar medidas de retaliação. A primeira delas ficou conhecida como a invasão da Baía dos Porcos, quando,
a mando do presidente John Kennedy, em abril de 1961, o Exército estadunidense invadiu Cuba e tentou depor
o governo de Fidel Castro, sem sucesso.
Em 1962, a Crise dos Mísseis esquentou as relações entre Cuba e Estados Unidos. Ela ocorreu quando espiões
estadunidenses detectaram a instalação de mísseis nucleares soviéticos no território cubano, os quais pode-
riam atingir o território estadunidense. Após uma série de negociações, os soviéticos concordaram em retirar
os mísseis, evitando assim o conflito direto com os Estados Unidos. As relações entre Cuba e Estados Unidos,
no entanto, nunca mais retornaram à normalidade, sobretudo em virtude do bloqueio econômico decretado
pelos Estados Unidos. Tal bloqueio impede, desde 1962, a entrada de produtos provenientes de países do bloco
capitalista na ilha. Durante o governo de Barack Obama (2009-2017), houve uma aproximação entre os dois
governos. Porém, sob a administração de Donald Trump, os Estados Unidos voltaram a assumir uma postura
intransigente no que se refere a Cuba.

12 9o. ano – Volume 3


Hora de estudo
1. A respeito do populismo, faça o que se pede. 4. (ENEM)
a) Conceitue "populismo".
A Operação Condor está diretamente vin-
b) Cite algumas características de um líder
populista. culada às experiências históricas das ditaduras
civil-militares que se disseminaram pelo Cone
c) Apresente a contradição que alguns autores Sul entre as décadas de 1960 e 1980. Depois
apontam quanto aos governos populistas. do Brasil (e do Paraguai de Stroessner), foi
2. Sobre o populismo na América Latina, analise as a vez da Argentina (1966), Bolívia (1966 e
afirmativas a seguir. 1971), Uruguai e Chile (1973) e Argentina
(novamente, em 1976). Em todos os casos
I. Foi um fenômeno que atingiu vários países
se instalaram ditaduras civil-militares (em
durante as décadas de 1930 a 1970.
menor ou maior medida) com base na Dou-
II. Os líderes populistas procuraram realizar trina de Segurança Nacional e tendo como
obras que trouxessem benefícios para as principais características um anticomunismo
massas trabalhadoras. militante, a identificação do inimigo interno,
III. No contexto de Guerra Fria, os Estados Uni- a imposição do papel político das Forças Ar-
dos apoiaram os líderes de direita na Améri- madas e a definição de fronteiras ideológicas.
ca Latina com o objetivo de evitar a ameaça
socialista. PADRÓS, E. S. et al. Ditadura de segurança nacional no Rio Grande
do Sul (1964-1985): história e memória. Porto Alegre: Corag, 2009
De acordo com a análise, assinale a alternativa (adaptado).
correta.
Levando-se em conta o contexto em que foi
a) Todas as afirmativas estão certas. criada, a referida operação tinha como objetivo
b) Todas as afirmativas estão erradas. coordenar a
c) Apenas as afirmativas I e II estão certas. a) modificação de limites territoriais.
d) Apenas as afirmativas I e III estão certas. b) sobrevivência de oficiais exilados.
e) Apenas as afirmativas II e III estão certas. c) interferência de potências mundiais.
3. Leia as afirmativas a seguir acerca das ditaduras d) repressão de ativistas oposicionistas.
latino-americanas da segunda metade do século e) implantação de governos nacionalistas.
XX e classifique-as em V para a(s) verdadeira(s)
ou F para a(s) falsa(s). 5. A Revolução Cubana foi um evento marcante
na história da América Latina no século XX. Re-
( ) Ao contrário de outros governos, que se- lacione esse movimento revolucionário ao Im-
guiram um caráter econômico interven- perialismo e à Guerra Fria.
cionista, o governo chileno buscou afastar-
-se de tal postura.
( ) Enquanto países como a Bolívia apresen-
taram certo crescimento econômico, a
Argentina não se desenvolveu economica-
mente sob o regime militar.
( ) Os governantes ditatoriais latino-americanos
sentiam-se ameaçados por grupos que dese-
javam o restabelecimento da democracia.
( ) A resistência aos governos ditatoriais se deu
por meio da via legal, ou seja, por meio da
imprensa e de organizações em defesa dos
direitos humanos, sendo por isso atendidos.

13
10
Brasil: Populismo
Salles
Acervo Instituto Moreira

©Arquivo Público do Distrito Federal


©Marcel Gautherot/

putados com
Câmara dos De
HE RO UT , M arcel. Cúpula da . 1 fotografia, p&b. Arquivo
GAUT 59
fundo, Brasília. 19
os ministérios ao Federal, Brasília. JUSCELINO Kubitschek e João Goulart
str ito
Público do Di 21 abr. 1960. 1 fotografia, p&b. Arquivo
na inauguração de Brasília.
Público do Distrito Federal,
Brasília.

No dia seguinte da inauguração, passeei sozinho pela Praça dos Três Poderes. Lembrei-
-me da primeira vez que visitara o Planalto. Uma cidade havia sido construída ali, num
ritmo que fora julgado impossível. O Brasil ganhava uma nova capital e dava ao mundo um ©Shutterstock/MM_photos

exemplo de trabalho e confiança no futuro.


Juscelino Kubitschek
KUBITSCHEK apud PATRIMÔNIO mundial no Brasil. Brasília: Unesco, 2004. p. 203.

Neste capítulo, vamos estudar a respeito da construção de Brasília, inaugurada em 1960,


durante o governo do presidente Juscelino Kubitschek. E a fim de facilitar esse estudo, pesquise
as respostas para as perguntas a seguir.
• Qual era a capital do Brasil até então?
• Onde Brasília se localiza? Por que esse foi o local escolhido?
• O que levou o presidente a construir uma nova capital para o país?

14
Objetivos
• Resgatar a conjuntura do final do Estado Novo e da renúncia de Getúlio Vargas.
• Descrever as características do populismo brasileiro, ocorrido entre as décadas de 1940 e 1960.
• Identificar as principais características dos governos de Eurico Gaspar Dutra, Getúlio Vargas,
Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e João Goulart.
• Analisar a cultura e a sociedade brasileiras nos anos do Populismo.
• Relacionar a política de ocupação e integração do território às ações indigenistas do período.

Diversos países da América Latina passaram por experiências populistas, e o mesmo se deu com o Brasil. O
fim da Era Vargas em 1945 marcou o início de uma nova fase na história política nacional, com a sucessão de
presidentes que adotaram medidas populistas como estratégia para se manterem no poder.
Os governos que vão de 1946 a 1964 apresentaram inúmeras diferenças entre si, sobretudo a postura ado-
tada em relação à economia e ao alinhamento aos blocos econômicos que se formaram durante a Guerra Fria.

Organize as ideias
1. Relembre os momentos políticos vividos pelo Brasil a partir de 1930 completando a linha do tempo com
os dados que faltam.

Revolução de Era

Governo Governo Governo Ditatorial


ou

(1930- ) ( -1937) (1937- )

• Estabeleceu o voto e .
Constituição
• Determinou que a primeira eleição presidencial ocorreria de foma .
de 1934
• Estabeleceu as trabalhistas.

• Foi (imposta à população).


Constituição
• Recebeu o apelido de .
de 1937
• Estabeleceu a pena de .

2. Sobre o histórico do voto feminino, analise a linha do tempo no material de apoio.

Alinhamento com os Estados Unidos


No contexto da Guerra Fria, era vital para os Estados Unidos que todo o continente americano estivesse sob
sua influência. Com esse objetivo, os estadunidenses firmaram uma série de alianças e acordos econômicos e
militares com os países latino-americanos.

15
Esses acordos, em tese, deveriam beneficiar os dois lados: para os países latino-americanos, representavam
empréstimos que poderiam viabilizar o desenvolvimento industrial, sobretudo da indústria de base; para os
Estados Unidos, o recebimento de juros pelos empréstimos e a possibilidade de instalar em território latino-
-americano indústrias estadunidenses, as chamadas empresas multinacionais. Entretanto, mais do que dinheiro,
os Estados Unidos esperavam alastrar sua influência, impedindo o avanço do socialismo pelo continente.
Entretanto, nem todos os presidentes que governaram o Brasil nesse período adotaram essa postura de sub-
missão ao governo estadunidense, ao passo que outros a levaram ao extremo. Os presidentes que demonstraram
maior sintonia com o projeto foram Eurico Gaspar Dutra e Café Filho, cujo posicionamento político foi neoliberal.
No extremo oposto, estavam aqueles que defendiam a realização de uma política nacionalista radical, mantendo a
completa independência do Brasil em relação aos Estados Unidos, postura adotada por Jânio Quadros e João Gou-
lart. Entre a postura neoliberal e a nacionalista radical, estava o desenvolvimentismo nacionalista, empreendido
pelos dois presidentes mais populares desse período: Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.

Organize as ideias
Com base nos termos “liberalismo”, “nacionalismo” e “desenvolvimentismo”, identifique as principais cor-
rentes políticas e econômicas que nortearam o período populista no Brasil. Para isso, numere as colunas
de acordo com os termos correspondentes.
( 1 ) Neoliberalismo
( 2 ) Desenvolvimentismo nacionalista
( 3 ) Nacionalismo radical
( ) Defendia que a aliança do Brasil com os Estados Unidos era prejudicial ao desenvolvimento do país.
Isso porque o governo estadunidense desejava mantê-lo como fornecedor de produtos primários,
baratos, e importador de produtos industrializados, caros.
( ) Tal corrente defendia que a entrada de capital estrangeiro no Brasil era necessária para o desen-
volvimento da economia nacional. O Estado deveria exercer controle sobre a origem desse capital,
vetando investimentos que não fossem benéficos para o país.
( ) O Estado brasileiro deveria intervir o mínimo possível na economia, deixando que o mercado
mundial ditasse o desenvolvimento econômico do Brasil. Nesse sentido, investimentos externos,
sobretudo oriundos dos Estados Unidos, eram bem-vindos.

Ao longo das décadas de 1940 a 1960, essas três correntes de pensamento se enfrentaram nos altos escalões
do poder brasileiro, gerando inúmeras crises políticas.

Eurico Gaspar Dutra e Getúlio Dornelles Vargas


Após a deposição de Getúlio Vargas em 1945, venceu as eleições Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), candi-
dato do Partido Social Democrático (PSD). Ele assumiu a presidência em 1946 e, nesse mesmo ano, apresentou
uma nova Constituição, promulgada em setembro. A nova Carta assumia uma postura liberal, porém mantinha
algumas das heranças trabalhistas do governo Vargas. O voto passava a ser obrigatório para homens e mulheres
maiores de 18 anos e alfabetizados – na Carta de 1934, o voto para mulheres era apenas permitido àquelas que
exercessem função pública remunerada. O mandato presidencial era de cinco anos.
Politicamente, o governo de Dutra foi marcado pelo anticomunismo, cujo ápice foi o fechamento, em 1947,
do Partido Comunista Brasileiro (PCB), posto na ilegalidade.

16 9o. ano – Volume 3


Na economia, ocorreu a postura neoliberal, expressa pelo alinhamento econômico aos Estados Unidos. Com
isso, houve a abertura do Brasil às exportações estadunidenses, fato que prejudicou o desenvolvimento da in-
dústria brasileira e contribuiu para a evasão de reservas cambiais e o endividamento do país.

©TJS-LABS
©Shutterstock/Mikhail Olykainen

A compra de produtos estrangeiros foi facilitada e incentivada pelo


governo de Eurico Gaspar Dutra, fato que levou a nossa indústria
a sofrer, pois os produtos brasileiros não podiam competir com os
importados. O dinheiro que o Brasil recebeu por sua participação na
Segunda Guerra Mundial foi consumido com as exportações, o que
contribuiu para o endividamento do país.

Para tentar controlar a crise e garantir melhorias na qualidade de vida da população, o presidente criou o
Plano Salte (Saúde, Alimentação, Transporte e Energia). O plano, no entanto, não obteve resultados muito
positivos, contribuindo para o desgaste do projeto liberal entre os brasileiros.
Nesse contexto de crise econômica, realizaram-se, em 1950, eleições para a escolha do próximo presidente
do Brasil. Getúlio Dornelles Vargas, candidato do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e do Partido Social Pro-
gressista (PSP), foi reconduzido ao poder, agora pelo voto popular.
Diferentemente de seu antecessor, Vargas adotou uma política mais cautelosa em relação aos Estados Uni-
dos, voltando-se para o desenvolvimento industrial do Brasil. Para isso, planejou grandes investimentos em
infraestrutura, focando a ação do Estado nas áreas de energia, indústria de base e transportes. A verba para a
realização dessas obras seria proveniente de empréstimos vindos dos Estados Unidos e dos impostos arrecada-
dos pelo governo.
Iniciando seu plano de desenvolvimento, o governo Vargas inaugurou o Banco Nacional do Desenvolvi-
mento Econômico (BNDE), em 1952, órgão que tinha a função de financiar o programa de crescimento e de
modernização da infraestrutura do país. Iniciou ainda a construção da Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso I, na
Bahia, em 1954, a fim de expandir a geração de energia. O projeto somente se concretizou após o final de seu
mandato, com a criação da Eletrobras, em 1961.
Segundo muitos historiadores e economistas, a obra mais importante do governo Vargas foi a fundação da
Petrobras, em 1953. A nova empresa seria responsável pela exploração e pelo refino do petróleo no país e teria
um décimo de suas ações abertas ao capital estrangeiro. Essa medida conseguiu despertar de uma só vez o acir-
ramento da oposição por parte dos nacionalistas e dos neoliberais. A razão é que os primeiros eram contrários à
participação do capital estrangeiro na empresa, enquanto os neoliberais desejavam maior participação do setor
privado brasileiro, e não do Estado, na exploração do petróleo.

História 17
©Agência O Globo/Otávio Magalhães
Enquanto a oposição política a Vargas se in-
tensificava, especialmente por parte da União
Democrática Nacional (UDN), crescia também a
insatisfação dos trabalhadores. Embora Vargas
adotasse a postura de “pai dos pobres”, os operá-
rios reclamavam dos altos índices de inflação, que
desvalorizavam seus salários. Em 1953, ocorreu
uma greve geral no estado de São Paulo, de mais
de 20 dias de duração, à qual aderiram cerca de
300 mil trabalhadores.
Para manter o apoio dos operários, Vargas
nomeou João Goulart, conhecido como Jango, MAGALHÃES, Otávio. Campanha nacionalista "O petróleo é nosso." 1948. 1
como ministro do Trabalho. Goulart recomendou fotografia, p&b.
a concessão de um aumento de 100% no valor do Diante da perspectiva de que a Petrobras tivesse influência do capital
salário mínimo. Diante da forte oposição das eli- estrangeiro, parte da sociedade organizou a campanha “O petróleo é nosso”,
na qual pedia a nacionalização do setor. O governo de Vargas comprou a ideia e
tes, que temiam uma política voltada às massas usou o slogan em sua propaganda oficial, com o intuito de fortalecer o apoio da
em época de difusão do socialismo, o presidente população ao seu governo.
foi obrigado a demitir João Goulart do cargo de ministro em fevereiro de 1954. Ainda assim, o aumento salarial
foi concedido em 1º. de maio daquele ano.
A oposição ao presidente intensificou-se em 1954, especialmente após o atentado da Rua Toneleros (no Rio
de Janeiro), em 5 de agosto, que visava atingir o jornalista Carlos Lacerda, notório opositor de Vargas. A pressão
sobre o presidente aumentava.
©Acervo Iconographia

©Fotoarena/Alamy

CARLOS Lacerda é atendido após atentado da Rua Toneleros, no Rio de Janeiro. 5 MANZON, Jean. Getúlio Vargas e Gregório Fortunato.
ago. 1954. 1 fotografia, p&b. 1954. 1 fotografia, p&b.

Carlos Lacerda era membro da União Democrática Nacional (UDN), principal partido de As investigações apontaram Gregório Fortunato (na foto,
oposição ao governo de Vargas, e proprietário da Tribuna da Imprensa, jornal que fazia no canto direito, de chapéu), chefe da guarda pessoal
campanha contra o presidente. Lacerda acabou ferido no atentado, mas o major da do presidente, como o mandante do crime. O ataque
Aeronáutica Rubem Tolentino Vaz faleceu. ao jornalista Carlos Lacerda desencadeou uma série de
eventos que culminou com o fim do governo de Vargas.

Acuado e praticamente sem apoio, Vargas optou por uma saída drástica: suicidou-se na madrugada de
24 de agosto de 1954, deixando uma carta-testamento, na qual acusava a oposição pela sua morte. Seu fale-
cimento gerou enorme comoção popular, com a realização de uma série de protestos contra seus “assassinos”,
fato que fez com que o exército tomasse a decisão de não assumir o governo naquele momento.

18 9o. ano – Volume 3


Interpretando documentos
Leia, a seguir, um trecho da carta-testamento encontrada próximo ao corpo do presidente Getúlio Vargas.

©Fundação Getulio Vargas/Arquivo Andre Carrazzoni


Precisam sufocar a minha voz e impedir
a minha ação, para que eu não continue a
defender, como sempre defendi, o povo e
principalmente os humildes. Sigo o des-
tino que me é imposto. Depois de decê-
nios de domínio e espoliação dos grupos
econômicos e financeiros internacionais,
fiz-me chefe de uma revolução e venci.
Iniciei o trabalho de libertação e instau-
rei o regime de liberdade social. Tive de
renunciar. Voltei ao governo nos braços do
povo. A campanha subterrânea dos grupos
internacionais aliou-se à dos grupos nacio-
nais revoltados contra o regime de garantia
do trabalho. A lei de lucros extraordinários
foi detida no Congresso. Contra a justiça
da revisão do salário mínimo se desen-
cadearam os ódios. Quis criar liberdade
nacional na potencialização das nossas
riquezas através da Petrobras e, mal come-
ça esta a funcionar, a onda de agitação se
avoluma. CORTEJO fúnebre de Getúlio Vargas. 25 ago. 1954. 1 fotografia,
p&b. Fundação Getúlio Vargas.
VARGAS, Getúlio. Carta-testamento. In: HEYMANN, Luciana Q. A carta- Cortejo fúnebre de Getúlio Vargas no Rio de Janeiro. O povo
-testamento e o legado de Vargas. Disponível em: <https://cpdoc. acompanhou o corpo do presidente até o aeroporto, pois o enterro
fgv.br/producao/dossies/AEraVargas2/artigos/AlemDaVida/
foi realizado em São Borja, sua terra natal.
CartaTestamento>. Acesso em: 18 ago. 2018.

De acordo com os documentos, faça no caderno o que se pede a seguir.


1. Para melhor entendimento da carta-testamento, procure o significado destes termos:
a) Imposto. d) Instaurei.
b) Decênios. e) Potencialização.
c) Espoliação.
2. Extraia da carta deixada por Vargas expressões que demonstrem o caráter populista do presidente, trans-
crevendo-as no caderno.
3. De acordo com o contexto da época, explique a que Getúlio Vargas se referia ao afirmar:
a) “fiz-me chefe de uma revolução”.
b) “Voltei ao governo nos braços do povo”.
c) “potencialização das nossas riquezas”.

História 19
Juscelino Kubitschek
O mandato de Vargas ainda se estenderia até 1955; por isso, quem assumiu a presidência foi Café Filho, seu
vice. Politicamente, ele compôs um governo com a predominância de membros da União Democrática Nacio-
nal (UDN). Na economia, procurou sanar a crise adotando medidas neoliberais de alinhamento com os Estados
Unidos e uma política de controle à inflação, caracterizada pela contenção dos salários. Isso gerou protestos por
parte dos trabalhadores. Essas medidas acabaram favorecendo a eleição, em 1955, de um candidato de oposi-
ção à UDN, o governador de Minas Gerais Juscelino Kubitschek de Oliveira (JK), do Partido Social Democrá-
tico (PSD). Como vice-presidente foi eleito João Goulart, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).
O slogan de Juscelino Kubitschek (1956-1961) durante sua campanha política, “50 anos em 5” (50 anos de
progresso em cinco anos de governo), traduziu-se em seu governo na elaboração do Plano de Metas. Este
priorizaria a saúde, a educação, a industrialização de base, os transportes e a energia, considerados essenciais
para o desenvolvimento econômico e social do país. Fazia parte do plano a construção de uma nova capital
para o Brasil.
O governo JK também abriu as
©Arquivo Nacional, Rio de Janeiro

portas para indústrias e empresas


estrangeiras, especialmente as auto-
mobilísticas, inundando o mercado
nacional com diferentes produtos e
marcas.

JUSCELINO Kubitschek inaugura a


fábrica de caminhões Mercedes-Benz,
em São Bernardo do Campo. 28 set.
1956. 1 fotografia, p&b.

Cotidiano

Ir ao supermercado comprar produtos de higiene pessoal, como sabonetes e cremes dentais, é algo tão
comum em nosso cotidiano que nem imaginamos como seria nossa vida de outra forma. Esse hábito, no
entanto, popularizou-se no Brasil na década de 1950. A esse respeito, leia o texto a seguir.

Gradativamente as senhoras trocaram o “papinho” matinal com o dono do armazém ou da


quitanda pela impessoalidade, eficiência e rapidez oferecidas pelos supermercados que, em
São Paulo, começaram a ser instalados em 1953.
Entre as camadas altas e médias da população urbana assiste-se a uma padronização do con-
sumo provocada pela expansão da propaganda, instrumento básico para a ampliação do comér-
cio e da produção. Fios sintéticos, alimentos enlatados, eletrodomésticos e utensílios saltavam
das coloridas páginas das revistas semanais criando novos hábitos e despertando necessidades.

padronização: que torna tudo igual.

20 9o. ano – Volume 3


Esta é a época em que o avanço dos meios de comunicação de massa – imprensa, rádio,
TV, e cinema – marca o início da indústria cultural no Brasil. Seu poder homogeneizador,
embora bastante forte, não pode ser tomado como absoluto. A padronização dos hábitos, do
consumo e dos comportamentos atinge apenas parcelas da população, em parte devido ao
baixo padrão de vida do brasileiro. Nossa cultura, até hoje, continua imensamente diferen-
ciada e marcada por conflitos de classe e por desníveis regionais.
Cada vez mais mulheres foram obrigadas a igualar-se aos homens buscando trabalho
“fora”. Em 1960, a porcentagem de mulheres no mercado de trabalho era de 16,5% sobre o
total da população feminina do país, contra 14,7% do início da década anterior.

RODRIGUES, Marly. A década de 50: populismo e metas desenvolvimentistas no Brasil. São Paulo: Ática, 1992. p. 34-35.

Nas páginas do material de apoio, você encontrará algumas propagandas que, segundo a autora do
texto anterior, “saltavam das coloridas páginas das revistas semanais”, que se popularizavam na década
de 1950. Muitos dos produtos anunciados nessas propagandas podiam ser facilmente encontrados nas
prateleiras dos primeiros supermercados brasileiros. Com base nelas, responda:
1. Alguns desses produtos ainda podem ser encontrados atualmente nos grandes supermercados?

2. Você consome esses produtos? Com que regularidade?

3. A que você atribuiu a comercialização desses produtos durante tantas décadas?

Você faz História


A população que viveu na década de 1950 conheceu estímulos ao consumo pelos quais nenhuma das gera-
ções anteriores havia passado. A propaganda criava necessidades; os mercados colocavam produtos facilmente à
mão dos compradores; os veículos automotores facilitavam o transporte das mercadorias das lojas para as casas.
Reflita sobre estas questões e as responda:
1. De que forma a propaganda influencia nos seus padrões de consumo?
2. Você se considera um consumidor consciente? É do tipo que contribui para a preservação do meio ambiente?
3. Qual é o destino do lixo produzido em sua casa ou escola?

indústria cultural: indústria voltada à produção e à homogeneizador: que deixa homogêneo, torna tudo igual, padronizado.
comercialização de livros, músicas, filmes, revistas, etc. absoluto: que abrange a todos.

História 21
Construção de Brasília
O projeto mais ambicioso do governo de Kubitschek foi a construção de uma nova capital para o país –
ainda que a ideia não fosse nova e já constasse na Constituição de 1891. Brasília, erguida na região central
entre os anos de 1957 e 1960, promoveu maior integração do Centro-Oeste com o restante do país e ajudou
o mercado interno nacional.

©Arquivo Público do Distrito Federal


COSTA, Lúcio. Projeto-Piloto de Brasília. 1 desenho
(esboço).

Para a construção da nova capital, foi criada a Companhia


Urbanizadora da Nova Capital (Novacap). O arquiteto Oscar
Niemeyer, nomeado o diretor técnico da Novacap, propôs
um concurso para a escolha do plano urbanístico da nova
cidade, denominado Plano-Piloto. O vencedor do concurso
foi o arquiteto e urbanista Lúcio Costa.
©Arquivo Público do Distrito Federal

NORDESTINOS chegando a Brasília em busca de trabalho. [ca. 1957]. 1 fotografia, p&b.

A construção de Brasília atraiu tanto empresas de construção civil, que se tornaram grandes corporações com esse empreendimento, quanto
trabalhadores (especialmente do Nordeste), denominados candangos, que buscavam uma oportunidade de trabalho. A realidade estabelecida em Brasília
simboliza um quadro que se alastra pelo país, marcado pelo aumento da desigualdade social ao longo do tempo. Enquanto Brasília reúne grande parte da
riqueza nacional, as cidades ao seu redor apresentam renda inferior e piores índices de qualidade de vida.

A realização desse empreendimento, no entanto, custou muito caro ao Brasil, que precisou recorrer a uma
série de empréstimos estrangeiros, o que contribuiu para elevar a dívida externa.
Para tentar sanar a crise econômica, Juscelino Kubitschek solicitou novo empréstimo aos Estados Unidos, que
condicionou a liberação do dinheiro ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Para liberar o empréstimo, porém,
o FMI impôs algumas condições, como o controle da inflação, o que exigiria a tomada de medidas impopulares.
Visando evitar o desgaste de sua imagem, o presidente tomou uma atitude teatral, rompendo com o órgão.
O governo de Kubitschek foi marcado pela estabilidade política, deixando como herança, além de muitas
realizações concretas, como Brasília, uma grande crise econômica.

22 9o. ano – Volume 3


©Fotoarena/Album

A década de 1950 foi um período de efervescência cultural para o


Brasil. O rádio ainda era um importante veículo de informação e entre-
tenimento, com destaque para as cantoras de rádio (Carmen Miranda,
Dalva de Oliveira, Elizabeth Cardoso, entre outras) e as dramatizações
ali transmitidas. Nesse momento, as primeiras emissoras de televisão
foram inauguradas no país, criando uma nova cultura.
Na música, surgiu no final da década de 1950 a bossa-nova,
um estilo que mesclava influências do samba e do jazz. João
Gilberto, Tom Jobim e Vinicius de Moraes eram os nomes de des-
taque naquele momento, criando músicas de bastante sucesso,
como Garota de Ipanema e Chega de saudade.

CARMEN Miranda. 1941. 1 fotografia, color.

A cantora iniciou sua carreira nos rádios, mas também se notabilizou como atriz na TV e no
cinema, com destacada carreira no exterior.

Organize as ideias
1. (UNESP)

Bossa-nova é ser presidente de ser o presidente do Brasil,


desta terra descoberta por Cabral. voar da Velhacap pra Brasília,
Para tanto basta ser tão simplesmente: ver Alvorada e voar de volta ao Rio.
simpático, risonho, original. Voar, voar, voar.
Depois desfrutar da maravilha [...]

(Juca Chaves apud Isabel Lustosa. Histórias de presidentes, 2008.)

A canção Presidente bossa-nova, escrita no final dos anos 1950, brinca com a figura do presidente
Juscelino Kubitschek. Ela pode ser interpretada como a
a) representação de um Brasil moderno, manifestado na construção da nova capital e na busca de novos
valores e formas de expressão cultural.
b) celebração dos novos meios de transporte, pois Kubitschek foi o primeiro presidente do Brasil a utili-
zar aviões nos seus deslocamentos internos.
c) rejeição à transferência da capital para o Planalto Central, pois o Rio de Janeiro continuava a ser o
centro financeiro do país.
d) crítica violenta ao populismo que caracterizou a política brasileira durante todo o período republicano.
e) recusa da atuação política de Kubitschek, que permitia participação popular direta nas principais
decisões governamentais.
2. Retorne à página de abertura do capítulo e reflita: A construção da nova capital do país de fato contri-
buiu para a integração do território nacional? Justifique sua resposta.

História 23
Jânio Quadros e João Goulart
Nas eleições presidenciais para o mandato de 1960 a 1965, Jânio Quadros foi vitorioso, apoiado pelo Parti-
do Democrata Cristão (PDC) e pela União Democrática Nacional (UDN). João Goulart foi eleito vice-presidente
pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). O mandato desse presidente, porém, foi bastante curto. Sete meses
depois da posse, Jânio renunciava.
Marcado pela instabilidade política e econômi-

©Acervo Iconographia
ca, e sem um programa claro para combater a infla-
ção, o governo de Jânio retomou as relações com o
FMI, adotando medidas econômicas sugeridas pelo
órgão. Mas elas não resolveram o problema do país
e contribuíram para mergulhá-lo ainda mais em dí-
vidas externas, na inflação e na recessão.
Durante seu governo, Jânio Quadros adotou
uma série de medidas polêmicas, como a proibi-
ção do uso de biquínis nas praias brasileiras e das
rinhas de galos. Com a fama de autoritário, ignora-
va o Congresso.
Politicamente, o presidente buscou implemen-
tar uma política externa independente, aliando-se
e estabelecendo relações com quaisquer países
que desejassem fazê-lo pacificamente. Na prática,
demonstrou interesse em estabelecer relações di-
plomáticas com países do bloco socialista, como JÂNIO Quadros em campanha eleitoral na Cidade Livre, em Brasília. 1.º set.
1959. 1 fotografia, p&b.
China, Cuba e, até mesmo, reatar relações com a
União Soviética, rompidas desde 1949, o que desa- Jânio Quadros procurava passar a imagem de um homem simples, cujo
principal objetivo era moralizar a política nacional, varrendo a corrupção, daí a
gradou seus aliados e o fez perder apoio da UDN. vassoura ser seu símbolo.
©Wikimedia Commons/Arquivo Nacional, Rio de Janeiro

Em meio à pressão e à insatisfação de diversos setores,


Jânio Quadros renunciou, esperando que a população pe-
disse sua permanência. Isso não aconteceu e sua renúncia
foi prontamente aceita pelo Congresso.
Com isso, desenvolvia-se outra situação difícil no país.
O vice de Jânio Quadros, João Goulart, estava em visita
diplomática à China. A ligação com o socialismo levou vá-
rios integrantes da alta cúpula do Exército a se colocarem
contra a posse de Jango.

Em 1961, os Estados Unidos lançaram um programa denominado Aliança


para o Progresso, por meio do qual se comprometiam a destinar 20
milhões de dólares para os países latino-americanos nos dez anos
seguintes. Cuba, representada pelo revolucionário Che Guevara, negou-se
a assinar o acordo. Ao retornar à Argentina do Uruguai, onde a conferência
ocorreu, Ernesto Che Guevara passou pelo Brasil, onde foi condecorado pelo
presidente Jânio Quadros com a Ordem do Cruzeiro do Sul, umas das mais
altas honrarias concedidas pelo governo brasileiro.
JÂNIO Quadros com Ernesto Che Guevara. 1961. 1 fotografia, p&b.
Arquivo Nacional, Rio de Janeiro.

24 9o. ano – Volume 3


Os militares solicitaram ao Congresso a passagem provisória do cargo ao presidente da Câmara dos De-
putados, Ranieri Mazzili, porém não foram atendidos. As opiniões se dividiam. Leonel Brizola, governador do
Rio Grande do Sul, liderando a Campanha pela Legalidade, defendeu a posse de Goulart, ameaçando intervir
militarmente caso isso não acontecesse.
Em busca de um meio-termo, o Congresso propôs que o presidente assumisse o cargo, porém o sistema
de governo passaria a ser o parlamentarista. Com tal medida, os defensores do parlamentarismo desejavam
garantir ao Congresso poderes para intervir caso o presidente tentasse implantar medidas socialistas no país.
Entre 1961 e 1963, o país viveu momentos muito conturbados, nos quais três primeiros-ministros
se sucederam no cargo. Em 1963, a realização de um plebiscito garantiu a volta do presidencialismo ao país.
Com os poderes ampliados, João Goulart lançou o Plano Trienal, com o objetivo de contornar a crise e retomar
o crescimento econômico. Assim, previa a implantação das Reformas de Base:

A reforma agrária avançava sobre o latifúndio, e impactava a produção e a renda do


campo; a reforma urbana interferia no crescimento desordenado das cidades, planeja-
va o acesso à periferia e combatia a especulação imobiliária; a reforma bancária previa
uma nova estrutura financeira sob controle do Estado; a reforma eleitoral poderia al-
terar o equilíbrio político, com a concessão do direito de voto aos analfabetos – cerca
de 60% da população adulta – e aos soldados, e com a legalização do Partido Comu-
nista; a reforma do estatuto do capital estrangeiro regulava a remessa de lucros para o
exterior e estatizava o setor industrial estratégico; a reforma universitária acabava com
a cátedra, e reorientava o eixo do ensino e da pesquisa para o atendimento das neces-
sidades nacionais.

SCHWARCZ, Lilia M.; STARLING, Heloísa M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. p. 439-440.

Essas medidas, porém, mobilizaram amplamente duas correntes: uma de apoio ao presidente (movimento
camponês, movimento dos estudantes, sindicatos e simpatizantes da esquerda) e outra de oposição (grande
parte dos militares, classe média e setores conservadores da Igreja).
©Acervo Iconographia

©Folhapress

JOÃO Goulart discursando na Central do Brasil. 13 mar. 1964. MARCHA da Família com Deus pela Liberdade. 19 mar. 1964.
1 fotografia, p&b. 1 fotografia, p&b.

O Brasil em dois momentos. À esquerda, o presidente João Goulart, ao lado da esposa, Maria Teresa Fontela Goulart, discursa na Central do Brasil, no Rio
de Janeiro, defendendo as Reformas de Base. À direita, Marcha da Família com Deus pela Liberdade, um ato realizado em São Paulo, em 19 de março de
1964 contra João Goulart e suas propostas.

História 25
Em meio às manifestações populares de apoio ou repúdio a João Goulart, o Exército iniciava um golpe che-
fiado pelo general Castelo Branco com o objetivo de depor o presidente. Acuado pela ameaça militar, Goulart
se exilou no Uruguai. Ranieri Mazzili, presidente da Câmara dos Deputados, assumiu a presidência até abril
de 1964, quando foi substituído pelo general Castelo Branco, dando início a uma ditadura civil-militar que se
estendeu por mais de duas décadas.

Questões indígena e negra durante o Populismo


Desde a Era Vargas (1930-1945), a postura do governo em relação aos grupos indígenas era a de “assimilar”
e “pacificar” esses indivíduos a fim de garantir a integração nacional e transformá-los em efetivos “cidadãos”. O
desejo era integrá-los como trabalhadores no processo de construção do Brasil.
O Serviço de Proteção aos Índios (SPI) continuou atuando; porém, eram recorrentes as denúncias de corrup-
ção e desvios administrativos. Os indígenas também viam seus espaços sendo desrespeitados por agricultores
e tropeiros.

©Imagens do Brasil/Renato Soares

SOARES, Renato. Vista aérea da Aldeia Kalapalo, Alto Xingu. 2009. 1 fotografia, color.
• Parque Nacional do Xingu

Nesse contexto, surgiu a ideia de criar reservas indígenas no Brasil. A iniciativa tinha o objetivo de proteger os
grupos indígenas e garantir a integração gradual deles à sociedade, sem que suas culturas fossem aniquiladas. A
reserva de maior impacto foi a do Parque Nacional do Xingu (chamado, a partir de 1967, de Parque Indígena do
Xingu), no Mato Grosso. Trata-se do primeiro território indígena oficialmente reconhecido pelo governo federal,
sob a presidência de Jânio Quadros.
Apesar da demarcação do parque, é importante salientar que tal ação não impediu que essas terras fossem
invadidas por grupos interessados na exploração de seus recursos naturais. Dessas invasões, ocorreram embates
que vitimaram muitos povos indígenas em diversas regiões do país.
A população negra, como já estudado em outros capítulos, apesar das transformações ocorridas no país
a partir do final do século XIX – abolição e estabelecimento da República –, continuou vivendo de forma
precária. Ela não tinha as mesmas oportunidades oferecidas aos brancos e estava sujeita ao racismo.
Em 1943, foi criada por João Cabral Alves, em Porto Alegre, a União dos Homens de Cor, também
conhecida como Uagacê ou UHC. O objetivo central da instituição, presente em seu primeiro artigo, era
“elevar o nível econômico e intelectual das pessoas de cor em todo o território nacional, para torná-las ap-
tas a ingressarem na vida social e administrativa do país, em todos os setores de suas atividades”.

26 9o. ano – Volume 3


©Wikimedia Commons/Arquivo Nacional, Rio de Janeiro
Em 1948, essa instituição já estava presente em 10 es-
tados brasileiros. Ela promovia debates em publicações
próprias, fornecia assistência médica e jurídica, ofertava
programas de combate ao analfabetismo, organizava ações
de voluntariados e propunha a participação em campanhas
eleitorais.
Por iniciativa própria, na década de 1940, parte da comu-
nidade afro-brasileira buscou ampliar a sua atuação social.
Por isso, no final de 1944, foi criado o Teatro Experimental
do Negro (TEN), por iniciativa de Abdias do Nascimento.
O TEN foi importante na história do movimento negro
no Brasil. Sua proposta consistia em resgatar a cultura negra
como algo de valor e não apenas folclórico, além de evi-
denciar a capacidade e o talento de pessoas negras para as
artes. O TEN também tinha um caráter político, o que levou
TEATRO Experimental do Negro ensaiando a peça Sortilégio,
seus organizadores a realizar a Convenção Nacional do Ne- com Abdias do Nascimento e Léa Garcia. 1957. 1 fotografia,
gro, entre 1945 e 1946 (São Paulo e Rio de Janeiro), e o 1º. p&b. Arquivo Nacional, Rio de Janeiro.
Congresso do Negro Brasileiro, em 1950 (no Rio de Janeiro). Inicialmente, o plano era desenvolver apenas o grupo teatral
A promoção da educação entre indivíduos negros também para atores negros; porém, o movimento foi crescendo e passou
foi outra iniciativa do grupo. As atividades do TEN foram a oferecer cursos de alfabetização e trabalhos manuais com o
objetivo de capacitar a população negra ao trabalho. O TEN foi
gradualmente barradas com o avanço do regime militar no ainda responsável pela criação do Instituto Nacional do Negro e do
país, em meados da década de 1960. Museu do Negro.

dedest
ora
HoHra uduodo
est

1. (ENEM)

Estão aí, como se sabe, dois candidatos à presidência, os senhores Eduardo Gomes e Eurico Du-
tra, e um terceiro, o senhor Getúlio Vargas, que deve ser candidato de algum grupo político oculto,
mas é também o candidato popular. Porque há dois “queremos”: o “queremos” dos que querem ver
se continuam nas posições e o “queremos” popular... Afinal, o que é que o senhor Getúlio Vargas é? É
fascista? É comunista? É ateu? É cristão? Quer sair? Quer ficar? O povo, entretanto, parece que gosta
dele por isso mesmo, porque ele é “à moda da casa”.

A Democracia. 16 set. 1945, apud GOMES, A. C.; D’ARAÚJO, M. C. Getulismo e trabalhismo. São Paulo: Ática, 1989.

O movimento político mencionado no texto caracterizou-se por


a) reclamar a participação das agremiações partidárias.
b) apoiar a permanência da ditadura estadonovista.
c) demandar a confirmação dos direitos trabalhistas.
d) reivindicar a transição constitucional sob a influência do governante.
e) resgatar a representatividade dos sindicatos sob controle social.

27
2. (ENEM) c) deslocar o funcionalismo público do Rio de
Janeiro, permitindo que a cidade tivesse mais
O ano de 1954 foi decisivo para Carlos
espaços para acolher os turistas.
Lacerda. Os que conviveram com ele em d) tornar a nova capital um importante centro
1954, 1955, 1957 (um dos seus momentos fabril, reunindo a futura indústria de base do
intelectuais mais altos, quando o governo Brasil.
Juscelino tentou cassar o seu mandato de
e) reordenar o aparato militar brasileiro, expan-
deputado), 1961 e 1964 tinham consciên-
dindo suas áreas de atuação até as fronteiras
cia de que Carlos Lacerda, em uma batalha
dos países vizinhos.
política ou jornalística, era um trator em
ação, era um vendaval desencadeado não 4. Sobre a condecoração de Che Guevara com a
se sabe como, mas que era impossível parar Ordem do Cruzeiro do Sul pelo presidente Jânio
fosse pelo método que fosse. Quadros, responda às questões a seguir.
a) Como a atitude do presidente foi interpreta-
Hélio Fernandes. Carlos Lacerda, a morte antes da missão cumprida. In:
TRIBUNA DA IMPRENSA, 22/5/2007 (com adaptações).
da no contexto da Guerra Fria?
b) De que forma essa atitude pode ter in-
Com base nas informações do texto e em aspec-
fluenciado na crise política que levou à sua
tos relevantes da história brasileira entre 1954,
renúncia?
quando ocorreu o suicídio de Vargas (em gran-
de medida, devido à pressão política exercida 5. A respeito dos movimentos promovidos pela
pelo próprio Lacerda), e 1964, quando um golpe população negra como tentativa de lutar pela
de Estado interrompe a trajetória democrática igualdade de condições na sociedade republica-
do país, conclui-se que: na, analise as afirmativas a seguir.
a) A cassação do mandato parlamentar de La- I. A União dos Homens de Cor foi criada com
cerda antecedeu a crise que levou Vargas à o objetivo de elevar a população negra em
morte. seu nível econômico e intelectual na socie-
b) Lacerda e adeptos do getulismo, aparente- dade brasileira.
mente opositores, expressavam a mesma II. O Teatro Experimental Negro permaneceu
posição político-ideológica. com o seu objetivo único de oferecer aos
c) A implantação do regime militar, em 1964, atores negros um espaço para representar a
decorreu da crise surgida com a contestação sua arte.
à posse de Juscelino Kubitschek como presi-
III. Apesar de todas as iniciativas propostas por
dente da República.
diversos setores e grupos da sociedade bra-
d) Carlos Lacerda atingiu o apogeu de sua car- sileira, ainda há muita desigualdade econô-
reira, tanto no jornalismo quanto na política, mica e social para a população negra.
com a instauração do regime militar.
De acordo com a análise das afirmativas, assinale
e) Juscelino Kubitschek, na presidência da Re- a alternativa correta.
pública, sofreu vigorosa oposição de Carlos
Lacerda, contra quem procurou reagir. a) Todas as afirmativas estão certas.
3. (UNESP) A construção de Brasília durante o b) Todas as afirmativas estão erradas.
governo Juscelino Kubitschek (1956-1961) teve, c) Apenas as afirmativas I e II estão certas.
entre suas motivações oficiais,
d) Apenas as afirmativas I e III estão certas.
a) afastar de São Paulo a sede do governo fede-
ral, impedindo que a elite cafeicultora conti- e) Apenas as afirmativas II e III estão certas.
nuasse a controlá-lo. 6. A demarcação do Parque Indígena do Xingu de
b) estimular a ocupação do interior do país, evi- fato protegeu os indígenas que lá habitam da
tando a concentração das atividades econô- violência praticada por outros grupos não indí-
micas em áreas litorâneas. genas? Justifique sua resposta.

28
11 Brasil: Golpe e
Ditadura Civil-Militar

AORU
©CPDoc JB/KAORU
JB/KA

JOVEM picha a fachada do Teatro Municipal do Rio de Janeiro durante a passeata de 26 de junho de 1968. 1 fotografia, p&b.

A imagem nos mostra um ato de contestação ao governo civil-militar que se manteve no


Brasil durante as décadas de 1960 a 1980. No capítulo 9, estudamos governos ditatoriais que
se instalaram na América Latina durante esse período. Vamos relembrar em que consiste uma
ditadura? O que você pode compartilhar com os colegas sobre o período ditatorial vivido no
Brasil a partir de 1964?

29
Objetivos
• Compreender os fatores que levaram ao Golpe Militar ocorrido em 1964.
• Caracterizar os governos militares e suas estratégias para se manterem no poder.
• Compreender como se deram os movimentos contestatórios e de resistência, especialmente
no ano de 1968, e a resposta do governo a eles.
• Analisar o “Milagre Brasileiro”, colocado em prática durante o governo de Emílio Garrastazu
Médici.
• Destacar a atuação de grupos indígenas, negros e quilombolas no contexto ditatorial.
• Compreender os fatores que levaram à “abertura lenta e gradual” aplicada pelo governo.
• Sintetizar os anos finais do regime militar, indicando o papel da sociedade na atuação pela volta
da democracia.

O Exército brasileiro esteve muito presente nas primeiras décadas da República brasileira. Durante o Estado
Novo (1937-1945), Getúlio Vargas fortaleceu essa instituição com a nomeação de militares para cargos de che-
fia. Dessa forma, tornou possível aos militares brasileiros tomarem o poder quando políticos simpatizantes da
esquerda estavam no comando do país. Isso colocou fim ao período de nossa República denominado Populis-
mo, em 1964. A partir daí, o Brasil viveu duas décadas sob o regime militar.

Organize as ideias
Vamos retomar algumas características do Populismo no Brasil.
Sobre os presidentes que governaram durante o período populista de nossa República (1946-1964),
relacione-os aos principais acontecimentos de seus governos.

RJ Lages. 2013. Digital.


Presidentes que governaram o Brasil durante o período de 1946 a 1964: Eurico Gaspar Dutra, Getúlio Vargas, Café Filho, Juscelino Kubitschek, Jânio
Quadros e João Goulart.

( 1 ) Eurico Gaspar Dutra ( ) Governou por poucos meses e implantou medidas controver-
( 2 ) Getúlio Dornelles sas, como a proibição da rinha de galo e do uso do biquíni.
Vargas ( ) Construiu Brasília e sua política econômica recebeu o nome de
( 3 ) Juscelino Kubitschek Nacional Desenvolvimentismo. Acabou o mandato deixando
uma grande dívida para o país.
( 4 ) Jânio Quadros
( ) Abriu o Brasil para as importações, causando a evasão de nos-
( 5 ) João Goulart sas divisas cambiais. Durante o seu governo, foi promulgada a
Constituição de 1946.
( ) Acusou os Estados Unidos de explorar o povo brasileiro, im-
plantando uma política nacionalista. Cometeu suicídio antes de
terminar o mandato.
( ) Governou um período sob a forma parlamentarista e outro sob
o presidencialismo. Tentou implantar as Reformas de Base.

30 9o. ano – Volume 3


Golpe Militar
Utilizando a crise política e econômica do governo de João Goulart, os militares brasileiros, apoiados por
integrantes da sociedade civil, promoveram um golpe de Estado e assumiram o poder, instalando uma ditadura.
Uma das justificativas era fazer uma “limpeza” que deveria expurgar do país todas as influências de esquerda.
Ainda que os militares justificassem a retirada de Goulart do poder por medo do socialismo, motivo que le-
vou os apoiadores do movimento a classificá-lo como “revolução”, esta nunca se deu de fato. O que se viu foi um
golpe que, na verdade, derrubou um governo legítimo e colocou fim à democracia brasileira por duas décadas.
Os militares tomaram o poder e depuseram um presidente. Porém, é importante salientar que muitos inte-
grantes da sociedade civil apoiaram a ação militar e participaram dos governos que se seguiram até 1985. Por
esse motivo, foram também adotadas as expressões Golpe Civil-Militar e Ditadura Civil-Militar.

Castelo Branco e Costa e Silva


O golpe que instaurou a ditadura foi celebrado e apoia-

©Wikimedia Commons/Biblioteca da
do por boa parte da imprensa e setores conservadores da
sociedade. Ao assumirem o governo, os militares assegura-

Presidência da República
ram sua permanência no poder por dois anos, tempo para
acabar com a constante ameaça socialista. Após esse prazo,
seriam convocadas eleições democráticas para a escolha
do próximo presidente, o que não aconteceu.
O primeiro presidente foi o marechal Humberto de
Alencar Castelo Branco, militar considerado “moderado”
em relação aos “linhas-duras”, grupo do Exército que defen-
Foto oficial de
dia medidas repressivas contra os inimigos do regime. Humberto de
Alencar Castelo
No governo de Castelo Branco, foram decretados os pri- Branco, presidente
meiros atos institucionais, medidas que foram, aos pou- do Brasil entre 1964
cos, aumentando a repressão aos movimentos de oposição e 1967. O marechal
Castelo Branco
ao governo. Esses atos eram leis criadas pelos governos mi- iniciou a Ditadura
litares que não precisavam da aprovação do Senado. Civil-Militar no país.
HUMBERTO de Alencar Castelo Branco,
presidente do Brasil entre 1964 e 1967. 1964.
1 fotografia, p&b.

Entre as principais medidas previstas nos primeiros atos institucionais, destacam-se:


AI-1 (de 1964) – Convocava eleições indiretas para presidente e ampliava os poderes desse, o qual poderia cassar direitos
políticos por dez anos e criar leis que não precisavam ser aprovadas pelo Congresso.
AI-2 (de 1965) – Confirmava Castelo Branco na presidência e acabava com os partidos políticos. O Brasil adotava o bipar-
tidarismo, ou seja, apenas dois partidos políticos eram permitidos, a Aliança Nacional Renovadora (Arena), partido dos mili-
tares, e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que deveria reunir toda a oposição. O AI-2 ainda dava ao presidente o
direito de decretar, sem aprovação do Senado, o estado de sítio, no qual todas as garantias constitucionais eram suspensas
por um período de até 180 dias. O presidente também poderia decretar, a qualquer momento, o recesso do Congresso, das
Assembleias Estaduais e das Câmaras dos Vereadores.
AI-3 (de 1966) – Estabeleceu que as eleições para governador seriam indiretas e os prefeitos das capitais seriam nomeados
pelo governo federal.
AI-4 (de 1966) – Convocava o Congresso a discutir uma nova Constituição para o Brasil.

História 31
A cada nova decretação de atos institucionais, a oposição se manifestava. Ocorreram, nesse período, inú-
meros protestos promovidos pelos movimentos estudantis e operários. No entanto, todos foram violentamente
reprimidos pela polícia e respondidos pelos militares com a diminuição da liberdade e da democracia no país.
Nesse período, foi assinado o acordo entre o Ministério da Educação (MEC) e a Agência dos Estados Unidos
para o Desenvolvimento Internacional (USAid). O objetivo era reestruturar a educação brasileira para a forma-
ção de mão de obra operária destinada às indústrias estadunidenses aqui instaladas. Esse foi um dos principais
motivos de manifestações dos movimentos estudantis.
Nesse contexto, o mandato de Castelo Branco,

©Acervo Iconographia
que deveria se estender até 1965, acabou prorro-
gado até 1967, em nome da “segurança nacional”.
Em março desse mesmo ano, começou a vigorar
uma nova Constituição, que concentrava os pode-
res nas mãos do presidente.
O período em que Castelo Branco esteve no
poder foi marcado por medidas muito severas
para o controle da crise. Os salários dos funcioná-
rios públicos foram diminuídos e os serviços pú-
blicos, como energia elétrica, tiveram seus valores
reajustados. Os salários passaram a ser ditados
pela livre negociação entre patrões e emprega-
MANIFESTAÇÃO estudantil em repúdio ao acordo MEC-USAid. 1967.
dos, e estes, sem o apoio dos sindicatos, acabaram 1 fotografia, p&b.
prejudicados. O país se abriu completamente para
a entrada de investimentos estrangeiros. Essas medidas reduziram os índices de inflação e, aos poucos, a eco-
nomia voltou a crescer, dando início a um curto período de prosperidade.

Organize as ideias
Sobre o período inicial da Ditadura Civil-Militar no Brasil, assinale a alternativa incorreta:
a) O regime civil-militar se instalou no Brasil em nome da “segurança nacional”, conceito corrente entre
os países latino-americanos no período.
b) O regime civil-militar imposto em 1964 dizia-se provisório; porém, criou mecanismos legais que per-
mitiram sua permanência no poder até 1985.
c) A estabilização da economia pode ser explicada, em parte, pela anulação da atuação dos sindicatos.
d) Em relação ao contexto da Guerra Fria, pode-se afirmar que os governos militares se alinharam ao
bloco capitalista, comandado pelos Estados Unidos.
e) A política econômica colocada em prática atendeu às reivindicações dos trabalhadores, por meio da
adoção de medidas populistas e paternalistas.

Após o final do mandato de Castelo Branco, assumiu a presidência o general Arthur da Costa e Silva. No
início de seu governo, as manifestações operárias e estudantis, que já vinham ocorrendo durante o governo de
Castelo Branco, intensificaram-se.
Em 1968, no Rio de Janeiro, houve uma manifestação estudantil contra a qualidade e o preço das refeições
servidas no restaurante Calabouço, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro. Ela resultou na morte de
Edson Luís, de 17 anos, pela Polícia Militar. Contra a repressão promovida pelo governo, organizaram-se mani-
festações com ampla adesão popular, como a Passeata dos Cem Mil, no Rio de Janeiro, no mês de junho do
mesmo ano.

32 9o. ano – Volume 3


©CPDOC JB/Evandro Teixeira
As manifestações e os questionamentos ao
governo levaram-no a decretar, em dezembro de
1968, o AI-5, o mais radical dos atos institucionais.
O AI-5 previa, entre outras medidas restritivas, o
fechamento do Congresso e da Câmara dos De-
putados, além da intervenção direta do governo
federal nos estados e nos municípios. Previa ainda
a suspensão de todos os direitos políticos e indi-
viduais, como o habeas corpus, o confisco de
bens por parte do governo e a possibilidade de
decretar estado de sítio a qualquer momento. A
princípio, o AI-5 seria mantido no país por oito ou
nove meses. Ele foi revogado apenas em 1978. TEIXEIRA, Evandro. Passeata dos Cem Mil. Jornal do Brasil. Rio de Janeiro, 26
jun. 1968. 1 fotografia, p&b.
Nos jornais, também houve esforço para evi-
denciar a perda de direitos e o clima de medo que Passeata dos Cem Mil, no centro do Rio de Janeiro, a maior mobilização popular
desde 1964 no país. O movimento, que reuniu artistas, intelectuais, estudantes
se instaurava no país, como fez o Jornal do Brasil e trabalhadores em junho, colocava-se contra a repressão promovida pelo
em 14 de dezembro de 1968. Observe: governo.

Mesmo no calor de dezembro, a previsão do tempo do


jornal dizia: “Tempo negro. Temperatura sufocante. O No alto da página, outro texto que causa estranhamento:
ar está irrespirável. O país está sendo varrido por fortes “Ontem foi o Dia dos Cegos”, em alusão à aprovação e
ventos.”. imposição do AI-5 no país.

©CPDoc JB/Jornal do Brasil


Arquivo/Reprodução

A imagem da capa mostra o presidente Costa e Silva na entrega das espadas aos novos guardas-marinha,
em uma posição que sugere que ele vai cair.

habeas corpus: documento por meio do qual um preso não condenado, um indivíduo acusado de um crime, mas não pego em flagrante, ou um
réu primário podem solicitar o direito de responder ao processo em liberdade.

História 33
Interpretando documentos
O AI-5 é tido como o mais importante Ato Institucional do governo ditatorial. Sobre ele, assim falou o vice-
-presidente da época, Pedro Aleixo:

Da Constituição, que é, antes de tudo, um instrumento de garantia dos direitos da pessoa


humana e garantia dos direitos políticos, não sobra, nos artigos posteriores, absolutamente nada
que possa ser realmente parecido com uma caracterização do regime democrático. [...] Pelo ato
institucional o que me parece [...] é que estaremos [...] instituindo um processo equivalente a
uma própria ditadura.

VENTURA, Zuenir. 1968: o ano que não terminou. São Paulo: Círculo do Livro, 1988. p. 254.

Com base na leitura do texto e em seus conhecimentos, assinale V para a(s) afirmativa(s) verdadeira(s)
e F para a(s) falsa(s).
( ) Os atos institucionais foram instrumentos legais para validar mudanças legislativas mais rapidamen-
te, em caráter extraordinário e por curta duração.
( ) O AI-5 instaurou uma nova fase no regime militar brasileiro, em que a instituição da ditadura no
país era inquestionável.
( ) O AI-5 foi estabelecido, segundo os governantes militares, para proteger o país de ameaças internas,
infiltradas entre estudantes e sindicalistas.
( ) O texto indica que, para muitos, o governo militar de fato não havia promovido um golpe no país
nem instaurado um regime ditatorial desde 1964.

Emílio Garrastazu Médici


Em 1969, Costa e Silva faleceu, vítima de um derrame cerebral. O próximo militar a assumir o governo foi o
general Emílio Garrastazu Médici, que permaneceu no cargo até 1974. Seu governo foi o período de maior
repressão da Ditadura Civil-Militar. Manifestações ou greves contra medidas do governo foram completamente
proibidas, e a censura a todos os meios de comunicação foi instituída, obrigados a veicular a propaganda oficial.
Diante desse cenário, ganharam força as guerrilhas, movimentos armados que promoviam focos de conflito
pelo país, com a intenção de enfraquecer o governo. Nesse contexto, destacou-se a Guerrilha do Araguaia, organi-
zada por militantes do Partido Comunista do Brasil (PC
©Acervo Iconographia

do B), dissidência do Partido Comunista Brasileiro (PCB).


Os serviços de informação do governo, no entanto,
descobriram os planos dos guerrilheiros e iniciaram,
em 1972, uma operação para combatê-los. Entre os
anos 1973 e 1974, foram enviadas duas operações
para a região até que, em 1974, conseguiram acabar
com o movimento, assassinando e prendendo vários
de seus membros.
GRUPO de soldados do Exército que participaram da repressão à guerrilha.
Araguaia. 1973. 1 fotografia, p&b.

A partir de 1967, cerca de 80 guerrilheiros se instalaram na região da Bacia


do Rio Araguaia com o objetivo de conhecê-la e ganhar a confiança da
população local, transformando-a em aliada no confronto contra a repressão
da ditadura e o sistema capitalista.

34 9o. ano – Volume 3


Os movimentos de contestação ao regime, cada vez mais organizados, exigiram mais do governo em termos
de inteligência e espionagem. Nesse sentido, foi criada, em 1969, a Operação Bandeirantes (OBAN), comandada
por Sérgio Paranhos Fleury, chefe da Polícia Civil de São Paulo. O objetivo era integrar o trabalho de todos os
órgãos de espionagem das Forças Armadas – Exército, Marinha e Aeronáutica – e polícias. A OBAN agregava
também o Serviço Nacional de Informações (SNI), subordinado diretamente ao governo federal, ao qual se
reportavam os Departamentos de Ordem Política e Social (DOPS). Além deles, o sistema de repressão contava
com o Comando de Operações de Defesa Interna (CODI) e o Destacamento de Operações Internas (DOI), órgãos
regionais de inteligência e de repressão.

Pesquisa
Você conhece a União Nacional dos Estudantes (UNE)? Fundada em 1937, ano em que Getúlio Vargas instau-
rou a ditadura do Estado Novo, essa entidade teve, desde então, importante papel na vida política do país. Na
década de 1960, sobretudo, destacou-se nas manifestações contrárias ao regime militar, o que levou seu funcio-
namento a ser proibido pelos militares. O movimento reorganizou-se no final da década de 1960 e se mantém
até a atualidade. Faça uma pesquisa sobre a instituição e registre no caderno as informações encontradas.
• Envolvimento da instituição na vida política do país.
• Colaboração para a difusão da arte e da cultura no Brasil.
• Situação atual.

Milagre Econômico
A repressão praticada pelo governo militar era pouco conhecida entre a maioria das pessoas, uma vez que
a censura imposta à imprensa proibia a divulgação desses fatos. Por outro lado, a propaganda oficial era am-
plamente divulgada e, segundo ela, o Brasil ia muito bem. Essa imagem de prosperidade se baseava no grande
crescimento econômico pelo qual o país passou durante os anos de 1969 a 1973, cujos índices econômicos
acima da média renderam ao período o nome de “Milagre Econômico Brasileiro”.
Idealizado pelo ministro da Fazenda de Médici, o economis-

©Abril S.A Cultural


ta Delfim Netto, tal desenvolvimento econômico se baseava na
entrada de capitais estrangeiros no país. Estes, aplicados aos
vários ramos da indústria – bens duráveis, bens de consumo –,
encontravam matéria-prima e mão de obra barata. Isso permi-
tia produzir mercadorias industrializadas a baixo custo. Uma
parte delas era consumida no país, por pessoas das classes alta
e média, cujos salários estavam em crescimento e que eram
beneficiadas pelas facilidades de empréstimo concedidas pelo
governo; outra parte era exportada, gerando grande lucro para
as empresas multinacionais.

A propaganda da Ditadura Civil-Militar procurava passar


a imagem de um país em acelerado desenvolvimento,
proporcionado pelo pulso firme dos militares. Nesse sentido,
qualquer um que se colocasse contra o governo estaria
se posicionando contra o crescimento do país. Os slogans
“Ninguém mais segura este país”, presente na imagem, e
“Brasil: ame-o ou deixe-o” eram vinculados em todos os meios
de comunicação, dando o recado dos militares.

História 35
©Agência O Globo
O ano de 1973 marcou o auge dessa po-
lítica, quando o Produto Interno Bruto (PIB),
índice que representa os bens produzidos em
uma região, atingiu valores próximos a 14%,
ao passo que, em 1964, ficava em torno de
3%. A política econômica apresentava dois
problemas: grande parte do lucro obtido com
mercadorias produzidas no Brasil não retorna-
va para o país, o que não contribuía para seu
real desenvolvimento econômico. Além disso,
a classe trabalhadora, maioria da população
brasileira, estava cada vez mais empobreci-
da, por causa dos baixos salários e da desva-
lorização destes, o que a impossibilitava de
consumir.
Ao final do governo de Médici, o consumo
SELEÇÃO Brasileira campeã da
interno já havia atingido seu limite na classe
Copa do Mundo no México. média e não tinha como se expandir, uma vez que a classe mais baixa não tinha
Brasília. 24 jun. 1970.
1 fotografia, p&b.
condições de consumir. Assim, o “milagre” começava a dar sinais de esgotamento.
A inflação aumentou novamente, o que diminuiu o poder de compra das pessoas,
O general Médici segura a taça
Jules Rimet após a conquista
iniciando um período de certa estagnação econômica.
do tricampeonato mundial pelo Ao mesmo tempo, a redução da oferta de petróleo ocasionada pelos confrontos
Brasil, em 1970. A vitória do
país na Copa do Mundo gerou
árabe-israelenses elevou o preço desse produto. Como cerca de 80% do petróleo
grande comoção entre os consumido no país era importado, esse aumento contribuiu para elevar o valor do
brasileiros. Essa situação foi custo de vida, o que fez setores que até então apoiavam os governos ditatoriais, como
explorada pelo regime militar
como uma das consequências a classe média, questionarem o regime. O declínio da política econômica, portanto,
do grande desenvolvimento contribuiu para desgastar a imagem dos governos militares e para o início do pro-
pelo qual o país vinha passando
no período. cesso de abertura, que consistia em um projeto de lenta redemocratização do país.

Interpretando documentos
Sobre o "Milagre Brasileiro”, leia o fragmento a seguir.

Os aspectos negativos do “milagre” foram principalmente de natureza social. [...] Do ponto de


vista do consumo pessoal, a expansão da indústria, notadamente no caso dos automóveis, favore-
ceu as classes de renda alta e média, mas os salários dos trabalhadores de baixa qualificação foram
comprimidos.
Isso resultou em uma concentração de renda acentuada que vinha já de anos anteriores. Tomando-
-se como 100 o índice do salário mínimo de janeiro de 1959, ele caíra para 39 em janeiro de 1973. Esse
dado é bastante expressivo se levarmos em conta que, em 1972, 52,5% da população economicamen-
te ativa recebia menos de um salário mínimo e 22,8%, entre um e dois salários mínimos. O impacto
social da concentração de renda, entretanto, foi atenuado. A expansão das oportunidades de emprego
permitiu que o número de pessoas que trabalhavam, por família urbana, aumentasse bastante.

FAUSTO, Boris. História concisa do Brasil. São Paulo: Edusp, 2006. p. 269.

comprimidos: diminuídos.
população economicamente ativa: pessoas que participam do mercado de trabalho; pessoas que recebem salários.
atenuado: suavizado, diminuído.

36 9o. ano – Volume 3


Com base nesse fragmento, responda no caderno:
1. No que diz respeito à renda dos trabalhadores brasileiros, é possível afirmar que ela aumentou ou dimi-
nuiu durante o período?
2. De que forma essa política econômica afetou a classe média?
3. Pode-se afirmar que a Ditadura Civil-Militar contribuiu para o processo de concentração de renda que
caracteriza o Brasil atual? Justifique sua resposta.

Além disso, com o AI-5 e o agravamento do regime, a censura tornou-se uma realidade. Os jornais agora
contavam com censores em suas redações, a fim de aprovar previamente as notícias. Obras culturais também
passaram pelo mesmo crivo, ou seja, letras de música, peças teatrais, livros, tudo poderia ser censurado e vetado
de apresentação ao público.
Apesar de toda a censura, surgiram as canções de protesto. Vários artistas compuseram canções nesse estilo,
destacando-se as de Chico Buarque e Geraldo Vandré. Esses compositores, utilizando-se de metáforas, criti-
cavam a situação política do país. Podemos citar como exemplo Chico Buarque, que compôs Apesar de você
(título que faz referência direta ao regime: apesar do que se vivia no país, o período ditatorial chegaria ao fim) e
Cálice (uma brincadeira com “cale-se”).
Em lado oposto à cultura engajada, surgiu o movimento da Jovem Guarda, no qual se destacaram artistas
como Roberto Carlos, Wanderléa e Erasmo Carlos. Inspirados pelos grandes sucessos dos ídolos internacionais
do rock, esses artistas faziam músicas com temáticas voltadas aos relacionamentos amorosos, à diversão e às
festas. Por esse motivo, eram considerados alienados pela juventude, a qual se julgava mais “politizada”. A Jovem
Guarda ganhou amplo espaço na TV, com o programa comandado por Roberto Carlos, na Record.
©Acervo Iconographia

©Acervo Iconographia

III FESTIVAL de MPB da TV Record. São Paulo. 24 set. 1967. 1 APRESENTAÇÃO, em 1965, de uma edição do programa Jovem Guarda em São
fotografia, p&b. Paulo. 1965. 1 fotografia, p&b.

Os festivais de músicas promovidos pela Record na década de A Jovem Guarda ganhou amplo espaço na TV, em
1960 tornaram-se famosos e foram associados ao surgimento um programa comandado pelo cantor Roberto Carlos
de artistas engajados, alguns reconhecidos até a atualidade, e exibido pela TV Record.
como Chico Buarque e Gilberto Gil.

O cinema, no movimento do Cinema Novo, que tinha por característica principal o realismo, ocupou-se em
denunciar as mazelas nacionais. Estas eram representadas, em grande medida, pelo subdesenvolvimento de
áreas do interior do país, nas quais as disputas por terras e a seca colocavam as pessoas em situação de miséria.
No teatro, destacaram-se peças que enfocavam os problemas urbanos enfrentados pelos operários, por meio
dos grupos Oficina e Arena. Em comum entre essas diferentes expressões artísticas, havia o desejo de denunciar
não apenas os abusos da ditadura, mas todos os problemas que emperravam o desenvolvimento do país.

História 37
Interpretando documentos
Um dos processos mais importantes ao fim dos governos ditatoriais é o estabelecimento de comissões da
verdade, órgãos que apuram as violações aos direitos humanos. Leia mais sobre elas.

Mais de duas dezenas de comissões de verdade têm sido estabelecidas desde 1974, muitas
delas com nomes diferentes. Comissão sobre Desaparecidos na Argentina, Uganda e Sri Lanka;
Comissão de Verdade e Justiça no Haiti e Equador; Comissão de Esclarecimento Histórico na
Guatemala e Comissão de Verdade e Reconciliação na África do Sul, Chile e Peru. Apesar de di-
ferentes em muitos aspectos, todas têm seguido o mesmo objetivo de não permitir que a amné-
sia política e social afete o futuro da democratização. Por meio de depoimentos de testemunhas,
declarações de perpetradores, investigações e pesquisas em documentos públicos e privados,
as comissões de verdade buscam estabelecer um amplo cenário dos acontecimentos ocorridos
durante o período de repressão política ou guerra civil, esclarecendo eventos obscuros e per-
mitindo que o amplo debate varra da sociedade o silêncio e a negação das dores do período da
história a que diz respeito.
Um dos diferenciais da comissão de verdade é a ênfase na vítima. Enquanto julgamentos cri-
minais procuram analisar os fatos e sua relação causal com o acusado, a comissão permite uma
maior atenção aos relatos das vítimas e de seus familiares. Este fato beneficia [...] um alívio dos
traumas causados pela violência das violações. [...]
Em geral, as comissões de verdade [...] podem recomendar julgamentos ou anistia, de-
pendendo dos poderes a elas investidos. Quando a recomendação é por um julgamento a fim
de que haja uma punição concreta para o acusado, elas remetem a responsabilidade para os
tribunais formais.

PINTO, Simone R. Direito à memória e à verdade: comissões de verdade na América Latina. Disponível em: <http://dhnet.org.br/verdade/textos/
pinto_comissoes_al.pdf>. Acesso em: 4 ago. 2018.

Com base na leitura do texto, responda às questões a seguir.


1. Quais são os países latino-americanos citados no texto que contaram com comissões da verdade?

2. De acordo com o texto, por que essas comissões são formadas?

3. Como o trabalho é realizado por esses órgãos e como beneficia as sociedades em que é estabelecido?

38 9o. ano – Volume 3


Pesquisa
O Brasil também estabeleceu sua Comissão Nacional da Verdade anos após o fim do período ditatorial.
Pesquise o assunto, coletando informações a respeito do trabalho realizado em nosso país. São essenciais
os dados a seguir:
• Datas de início e de finalização dos trabalhos.
• Objetivos esperados pelo trabalho da Comissão.
• Conclusões do trabalho realizado.
Após a coleta das informações, produza um texto sobre a importância da Comissão Nacional da Verdade
para a promoção dos direitos humanos no Brasil.

Abertura política: Ernesto Geisel e João Batista


Figueiredo
Ao final do mandato de Médici, assumiu a presidência o general Ernesto Geisel. Ciente de que o regime
militar dava sinais de esgotamento, Geisel anunciou o início do processo de redemocratização do país. Essa
“reabertura”, no entanto, seria conduzida pelas Forças Armadas. O governo de Geisel foi marcado por um misto
de medidas liberalizantes, voltadas à redemocratização, e medidas autoritárias.
Em 1975, o jornalista Vladimir Herzog, chefe de jornalismo da TV Cultura em São Paulo, foi torturado e as-
sassinado. A versão oficial foi a de que ele havia cometido suicídio. Pouco tempo depois, o operário Manuel Fiel
Filho foi morto nas mesmas condições. Ambos os acontecimentos geraram fortes repercussões, por causa do
fim da censura à imprensa, no início de 1975, obrigando o presidente a tomar medidas contra membros do
próprio exército, visando acalmar a opinião pública.
Mesmo com toda a repressão à oposição, o Movimento Democrático
©Acervo Iconographia

Brasileiro (MDB) conseguiu eleger mais de 1/3 dos senadores. Para im-
pedir que o partido conseguisse a maioria dos votos nas eleições mu-
nicipais de 1976, o governo criou a Lei Falcão, que limitava o tempo de
propaganda na TV. Buscava, com essa medida, cercear o crescimento da
oposição por meios legais. Para evitar que esta conseguisse vitórias nas
votações, o presidente lançou, em 1977, o Pacote de Abril, o qual previa
que daquele momento em diante maiorias simples, ou seja, metade mais
um, garantiriam a aprovação das medidas. Para assegurar que teria maio-
ria no Congresso, o governo instituiu que as futuras eleições passariam,
portanto, a ser indiretas.
O general João Baptista Figueiredo assumiu o governo em 1979
com a tarefa de dar continuidade ao processo de abertura. No mesmo
ano, aprovou a Lei da Anistia, a qual perdoava os crimes cometidos duran-
VIEIRA, Sivaldo L. Jornalista Vladimir Herzog te o regime militar. No entanto, essa lei tinha mão dupla: anistiava tanto os
no DOI-CODI de São Paulo. 1 fotografia, p&b. perseguidos pela Ditadura quanto os que trabalharam por ela, efetuando
Instituto Vladimir Herzog.
prisões arbitrárias e torturas, por exemplo.
Nesse período, também foram realizadas reformas políticas, incluindo a reforma partidária, que acabou com
o bipartidarismo. A Arena se transformou no Partido Democrático Social (PDS), liderado por José Sarney; o
MDB passou a ser o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), liderado por Ulysses Guimarães.

História 39
Também surgiram o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), de orientação populista, o Partido Democrático Traba-
lhista (PDT), de Leonel Brizola, e o Partido dos Trabalhadores (PT), de Luiz Inácio Lula da Silva.
A crise econômica iniciada no governo de Médici chegou ao ápice durante o governo de Figueiredo, quan-
do os investimentos estrangeiros no país e a produção industrial diminuíram, elevando o desemprego e a
inflação. A pressão sobre o governo aumentava.
©N Imagens/Nair Benedicto

Em 1983, o deputado Dante de Oliveira


apresentou um projeto de emenda
constitucional que propunha a eleição direta
para presidente já em 1985. A proposta
das Diretas Já, como ficou conhecida,
recebeu amplo apoio, expresso em inúmeras
manifestações populares, mas foi vetada pelo
Congresso. Em eleição indireta, concorreram
ao cargo Paulo Maluf, pelo PDS, e Tancredo
Neves, pelo Partido da Frente Liberal (PFL)
e PMDB. Tancredo Neves venceu a eleição,
tornando-se o primeiro presidente não militar
desde 1964. No entanto, não chegou a
assumir, pois faleceu de infecção generalizada
após complicações pós-cirúrgicas. José
Sarney, vice-presidente, assumiu o posto,
cumprindo o mandato até 1990.
BENEDICTO, Nair. Comício pró-Diretas Já, em São Paulo. 23 abr. 1984. 1 fotografia, p&b.

Questões indígena, afro-brasileira e quilombola


durante a Ditadura Civil-Militar
Nos períodos anteriores da República, ao menos como plano de governo, figurava o programa de integração
nacional dos grupos indígenas. Durante o período da Ditadura Civil-Militar, esse programa foi abandonado.
O Serviço de Proteção ao Índio (SPI) deu lugar à Fundação Nacional do Índio (Funai), em 1967. O órgão ain-
da tinha a missão de proteger os grupos indígenas, mas na prática servia aos interesses do governo, barrando
representações organizadas pelos próprios indígenas.
O uso da força contra a resistência indígena à apropriação de suas terras pelo governo ocorreu em diversos
locais do país. Podemos citar como exemplo a quase completa eliminação dos Waimiri-Atroari por integrantes
do Exército brasileiro para a construção da BR-174, que liga Manaus a Boa Vista. A comunidade Waimiri-Atroari,
que na década de 1970 contava com cerca de 3 mil integrantes, na década de 1980 estava reduzida a 332
indígenas.
Os indígenas não aceitaram tal condição passivamente. Com o auxílio de ONGs, da Ordem dos Advogados
do Brasil (OAB), de setores da Igreja e de lideranças indígenas, promoveram assembleias. A finalidade delas era
discutir questões de interesse desses povos, com destaque para a demarcação de terras.
No início da década de 1980, foi constituída a União das Nações Indígenas, em que os indígenas se coloca-
vam mais como sujeitos políticos com voz própria.
Essas iniciativas não foram apoiadas pelo governo, que defendia apenas a Funai como órgão oficial dos
indígenas, ainda que eles próprios não a vissem dessa maneira.
Os diversos crimes praticados contra os indígenas na época foram apurados e descritos no Relatório Fi-
gueiredo, um documento com quase 7 mil páginas que relata a violência e o extermínio de povos indígenas. O
documento, iniciado em 1967, veio a público em 2013, após ter sido supostamente destruído por um incêndio.

40 9o. ano – Volume 3


Assim como os indígenas, a população negra também buscou uma organização política no contexto na-
cional ditatorial. Ela não mais aceitava o discurso da “democracia racial” retomado pela Ditadura, que defendia
a errônea ideia de que o país vivia em uma “harmonia de raças”. Assim, os afrodescendentes defenderam e
ostentaram suas identidades e raízes culturais africanas.
Em 1978, foi criado o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial (MNU), após episó-
dios de discriminação, prisão e torturas sofridos por afrodescendentes no país. O MNU atuava também a favor
da mulher negra, trazendo suas demandas para a discussão do movimento feminista. Durante a Ditadura, o
MNU foi um dos mais importantes atores na denúncia ao racismo e na luta pela valorização social do afrodes-
cendente em nossa sociedade.
©Folhapress/Ademir

INTEGRANTES da Marcha
do Movimento Negro
Unificado, em São Paulo.
1979. 1 fotografia, p&b.

Após 1889, com a Abolição da Escravatura, o termo “quilombo” sumiu dos documentos legais do país, como
se a própria questão da escravidão e dos libertos estivesse resolvida. Ao contrário, surgiam novos desafios às
comunidades urbanas e rurais de afro-brasileiros no país. No caso da população rural, muitos indivíduos perma-
neceram onde se estabeleceram em comunidades quilombolas, lutando para que o direito a elas fosse respei-
tado e reconhecido.
Para os quilombolas, ou seja, os moradores desses locais, a relação com a terra é fundamental, como vemos
a seguir.

O pertencimento em relação ao território é algo mais profundo. A luta quilombola


existe porque há um sentimento por parte dos quilombolas de que aquele território em
que eles habitam é deles. Mas não é deles por conta de propriedade, é deles enquan-
to espaço de vida, de cultura, de identidade. Isso nós chamamos de pertencimento.
Nem é porque nossas terras sejam as mais férteis que nós lutamos por elas. Elas muitas
vezes não são as mais férteis, se nós concebermos o fértil no usual da economia. Mas
ela tem fertilidade que para nós que estamos ali ela é a melhor. A nossa luta pela terra
não é pautada por princípios econômicos e sim por fundamentos culturais, ancestrais.

SILVA, Givânia. In: SOUZA, Bárbara O. Movimento quilombola: reflexões sobre seus aspectos político-organizativos e identitários.
Disponível em: <http://www.abant.org.br/conteudo/ANAIS/CD_Virtual_26_RBA/grupos_de_trabalho/trabalhos/GT%2002/barbara%20
oliveira%20souza.pdf>. Acesso em: 2 set. 2018.

Durante o período ditatorial, a luta pelo reconhecimento dos territórios quilombolas foi bastante preju-
dicada. Assim como aconteceu com os indígenas, a busca pela ocupação produtiva de terras levou muitos
quilombolas a serem perseguidos. Suas terras foram invadidas e suas demandas, ignoradas. Foi apenas a partir
da década de 1980, com o fortalecimento do movimento negro, que a voz dos quilombolas foi reconhecida.

História 41
Hora de estudo
1. (ENEM) c) Foi marcado pela entrada de grande quanti-
dade de capital estrangeiro no país.
A gente não sabemos escolher presiden-
d) Contribuiu para gerar uma grave crise finan-
te / A gente não sabemos tomar conta da ceira nos Estados Unidos.
gente / A gente não sabemos nem escovar
os dentes / Tem gringo pensando que nóis e) Contribuiu para a redução da dívida externa
é indigente / Inútil / A gente somos inútil brasileira.
4. A respeito da campanha Diretas Já, é correto
MOREIRA, R. Inútil. 1983 (fragmento).
afirmar:
O fragmento integra a letra de uma canção gra- a) Conseguiu atingir seus objetivos, tornando
vada em momento de intensa mobilização polí- possível o voto direto para presidente em
tica. A canção foi censurada por estar associada 1985.
a) ao rock nacional, que sofreu limitações des- b) Recebeu pouco apoio da sociedade civil,
de o início da ditadura militar. motivo pelo qual suas reivindicações não fo-
b) a uma crítica ao regime ditatorial que, mes- ram atendidas pelos militares.
mo em sua fase final, impedia a escolha po- c) Deu início à campanha pelo voto direto para
pular do presidente. presidente, em 1985, proposta que foi vetada
c) à falta de conteúdo relevante, pois o Estado pelos militares, adiando o processo eleitoral
buscava, naquele contexto, a conscientiza- para 1989.
ção da sociedade por meio da música. d) Marcou a mobilização civil no auge da Dita-
d) a dominação cultural dos Estados Unidos da dura Civil-Militar.
América sobre a sociedade brasileira, que o e) Está relacionada ao contexto que garantiu a
regime militar pretendia esconder. vitória de José Sarney nas eleições de 1985.
e) à alusão à baixa escolaridade e à falta de 5. A ocupação das terras brasileiras e a transfor-
consciência política do povo brasileiro. mação destas em localidades produtivas foram
2. (CFTMG) A Lei da Anistia, de 1979, teve como os principais objetivos do governo durante a
significado político a(o) Ditadura Civil-Militar. A esse respeito, faça o
que se pede.
a) alteração na ordem constitucional para per-
petuar os mecanismos de controle estatal. a) Como tal objetivo impactou os quilombolas
e os indígenas?
b) regulamentação legal da violência prati-
cada pelo Estado contra os opositores do
governo.
c) engajamento da população na defesa das re-
formas de base propostas pelos trabalhado-
res e estudantes.
d) desdobramento do processo de abertura
política, marcado pelas lutas contra a limita- b) Cite algumas alternativas de lutas desses gru-
ção das liberdades democráticas. pos em defesa de suas terras e culturas.
3. A respeito do Milagre Econômico Brasileiro, é
correto afirmar:
a) Resolveu todos os problemas econômicos
do país de forma definitiva.
b) De imediato, reduziu o poder de consumo
do povo brasileiro.

42
12 Descolonização da
África e da Ásia

m/akg-images/Archiv Peter Rühe


©Shutterstock/Juliann; ©Wikimedia Commons/South Africa The Good News; ©Fotoarena/Album/akg-images/Archiv

Os continentes africano e asiático passaram por um processo de descolonização que levou à criação
de inúmeros países independentes. Observando a composição presente nesta página, busque respostas
para as perguntas a seguir.
• Quem está retratado no mapa da África? Qual a importância desse líder para a humanidade?
• Quem está retratado no mapa da Ásia? Qual exemplo ele deu ao mundo?

43
Objetivos
• Resgatar as principais características do Imperialismo ocorrido no fim do século XIX e início do
século XX.
• Retomar a conjuntura mundial ao fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e durante o
início da Guerra Fria.
• Compreender as razões que levaram algumas metrópoles a lutar contra o fim dos laços colo-
niais na África.
• Compreender o processo de descolonização como parte do protagonismo africano e asiático.
• Explicar como se deu o processo de descolonização na Índia e a importância de Gandhi nesse
contexto.
• Descrever as diferentes fases do processo emancipatório na Indochina e suas motivações.
• Analisar os processos de emancipação política da Argélia e de Angola, destacando os conflitos
internos que sucederam a independência.

Neste capítulo, vamos estudar os processos de emancipações políticas de algumas colônias europeias nos
continentes africano e asiático. Essas emancipações ocorreram em maior intensidade após a Segunda Guerra
Mundial, motivo pelo qual há países muito “jovens” nesses dois continentes. Antes, porém, vamos resgatar al-
guns conhecimentos necessários para avançar em nossos estudos.

Organize as ideias
Com o objetivo de resgatar o que já foi estudado sobre o Imperialismo, faça o que se pede a seguir.
1. Qual é a relação entre o processo de industrialização europeu e o Imperialismo?

2. Cite os nomes das principais potências imperialistas.

3. Como os imperialistas justificavam ideologicamente o domínio sobre os povos que viviam nas colônias?

Política internacional em relação à África e à Ásia


Desde o final do século XIX, os continentes africano e asiático estavam dominados por potências europeias
que os dividiram entre si. Africanos e asiáticos não aceitaram pacificamente a invasão estrangeira, promovendo
formas de resistência que iam do boicote a tudo que era estrangeiro ao uso de violência.
Essas formas de resistência até conseguiram algumas vitórias contra os invasores ao longo de décadas de
exploração. Contudo, foi apenas após o enfraquecimento econômico e militar sofrido pelas potências euro-
peias, no final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que os colonos alcançaram, por meio dos líderes locais,
a emancipação política. A Segunda Guerra Mundial marcou o declínio das tradicionais potências europeias e a
emergência de um mundo bipolarizado entre Estados Unidos e União Soviética. Uma das consequências dessa

44 9o. ano – Volume 3


transformação foi o desmantelamento dos impérios coloniais europeus nos continentes asiático e africano,
processo este denominado descolonização.
Porém, a descolonização não pode ser explicada apenas por meio do enfraquecimento das potências euro-
peias. Havia, ainda nas primeiras décadas do século XX, clara demonstração de que os colonizados não estavam
satisfeitos com a manutenção do poder europeu e já buscavam mudanças.
O processo de descolonização também foi

©Fotoarena/Alamy/World History Archive


marcado pela busca de autonomia política, o que
se viu por meio da Conferência de Bandung,
realizada em 1955, na Indonésia. Essa conferência
reuniu 29 países da Ásia e da África, que se declara-
ram não alinhados aos Estados Unidos ou à União
Soviética.
No contexto da Guerra Fria, Estados Unidos e
União Soviética apoiaram os processos de liberta-
ção com a finalidade de inserir as novas nações nas
zonas de influência capitalista ou socialista. Esse
posicionamento rendeu aos países participantes
da Conferência de Bandung o título de “Terceiro
Mundo”.
A pobreza que os caracterizava contribuiu para CONFERÊNCIA de Bandung, ocorrida na Indonésia, em abril de 1955.
que a expressão se tornasse sinônimo de países 1 fotografia, p&b.
pobres, com baixos índices de desenvolvimento A reunião contou com a participação de 23 países asiáticos e 6 africanos.
humano. Tal expressão foi ampliada aos países po- Os objetivos eram discutir o futuro dos novos países, formar uma liga de
cooperação mútua entre eles e também assegurar que os países recém-saídos
bres da América Latina, que também passaram a da zona de influência das potências imperialistas não se deixariam dominar
fazer parte desse grupo. pelos Estados Unidos nem pela União Soviética.

Interpretando documentos
Leia o texto a seguir sobre as relações entre a Europa e os continentes africano e asiático.

O nome dela era África. O nome dele era França. Ele a colonizou, a explorou, a silenciou,
e mesmo décadas depois que isso já deveria ter terminado, continuou forçando e usando sua
superioridade para resolver os negócios dela [...] O nome dela era Ásia. O nome dele, Europa. O
nome dela era silêncio. O dele, poder. O nome dela era pobreza. O dele, riqueza. O nome dela
era dela, mas o que pertencia a ela? O nome dele era dele, e ele presumia que tudo fosse dele, in-
clusive ela, e julgou que poderia tomá-la sem pedir nem perguntar, e sem consequência alguma.

SOLNIT, Rebecca. Os homens explicam tudo para mim. São Paulo: Cultrix, 2017. p. 57-58.

1. Quanto à ação imperialista europeia sobre a África e a Ásia, o texto indica que:
a) a ação realizada pelos europeus sobre tais territórios estava de acordo com a expectativa dos colonizados.
b) as intenções dos europeus de levar a “civilização” aos povos colonizados foram cumpridas.
c) havia o real interesse europeu de prestar auxílio aos povos africanos e asiáticos.
d) o objetivo dos colonizadores era a exploração dos territórios coloniais.
e) havia o consentimento dos africanos e asiáticos às ações dos colonizadores.

História 45
2. “O nome dele era dele, e ele presumia que tudo fosse dele, inclusive ela, e julgou que poderia tomá-la sem
pedir nem perguntar, e sem consequência alguma”. Com base no trecho extraído da citação, explique
como se dava o processo de dominação das colônias pelos colonizadores.

Da mesma forma que o domínio exercido pelos europeus nos vários locais que ocuparam foi diferente, o
processo de descolonização ocorreu de modo distinto. Em algumas situações, foi caracterizado por acordos
políticos e, em outras, por guerras. A maneira como esses países se organizaram após a independência também
variou. Alguns mantiveram a mesma estrutura social e administrativa deixada pelos dominadores. Outros, por
sua vez, passaram por revoluções sociais marcadas, muitas vezes, pela implantação de governos autoritários
após a eclosão de guerras civis.

Descolonização na Ásia
Desde o século XIX, inúmeros territórios na Ásia haviam sido ocupados pelas potências europeias. Durante
a Segunda Guerra Mundial, o Japão, integrante do Eixo com Alemanha e Itália, colocou em prática seus planos
expansionistas sobre a Ásia. Para isso, ocupou várias colônias pertencentes a países inimigos, como França e
Inglaterra. Quando o conflito se encerrou, em 1945, tanto o Japão quanto seus inimigos estavam enfraquecidos
econômica e militarmente. Assim, as colônias aproveitaram o momento para iniciar a onda de descolonização
do continente, que se estendeu por cerca de dez anos.

Ásia: político atual

Marilu de Souza

Fonte: ATLAS geográfico Melhoramentos. São Paulo: Melhoramentos, 2009. Adaptação.

46 9o. ano – Volume 3


Índia
A Índia era cobiçada por vários reinos europeus durante a Idade Moderna. No decorrer do século XVII, os
ingleses se estabeleceram no território indiano para explorar suas riquezas. No século XIX, a Inglaterra venceu
levantes e revoltas locais e instaurou um protetorado nesse território. A administração inglesa era marcada pelo
autoritarismo e pelo desrespeito aos costumes e às tradições dos povos da região.
Inconformados com a situação, jovens indianos questionaram o posicionamento autoritário do governo
britânico, exigindo mais autonomia. Esse movimento foi politicamente representado pela criação, em 1885, do
Partido do Congresso (também conhecido como Congresso Nacional Indiano). Este estava restrito às elites e,
de início, teve pouca repercussão política.
A Grande Guerra (1914-1918) alterou essa situação. Os ingleses contaram com o apoio dos indianos para o
abastecimento de matérias-primas e para o reforço no número de soldados. Em troca, prometeram revisar sua
política colonialista. No entanto, os prejuízos ocasionados pela guerra levaram-nos a intensificar a exploração da
colônia. Assim, elevaram o valor dos impostos e diminuíram os investimentos nesta, o que causou desemprego
entre a população pobre. Esse fato fez com que a luta pela independência se espalhasse entre as classes mais
baixas, fortalecendo o movimento.
De fato, os britânicos queriam garantir certa autonomia à Índia, mas sem perder o controle sobre o território. O
Partido do Congresso lutava para firmar um acordo com os ingleses. Mohandas Karamchand Gandhi, também co-
nhecido como Mahatma (grande alma), tinha uma opinião diferente e queria a completa independência da Índia.
Como diversos jovens de famílias indianas abastadas, Gandhi havia estudado na Inglaterra. Atuou na África do
Sul até retornar ao próprio país e envolver-se na luta pela independência. Influenciado por escritores como Henry
David Thoreau, autor de Desobediência civil, Gandhi aplicou as ideias de não violência e resistência passiva na Índia.
Em 1930, por exemplo, realizou a Marcha do Sal até o litoral da Índia a fim de denunciar os impostos co-
brados pelo governo britânico sobre o sal consumido pelos indianos. Protestos pacíficos, jejuns e outras ações
similares foram promovidos por ele para divulgar a causa indiana.
A Índia tinha uma população formada por diversas etnias e religiões: hindus, em sua maioria, muçulmanos,
siques, parses e outros grupos. Se Gandhi queria uma Índia unida, Muhammad Ali Jinnah, líder muçulmano,
desejava a separação dos hindus e a formação de um país próprio, o Paquistão.
A eclosão da Segunda Guerra Mundial, em 1939, mudou os rumos da história, agora favorável aos india-
nos. Ao fim do conflito, os enfraquecidos ingleses finalmente cederam e aprovaram, em 5 de julho de 1947, a
independência da Índia, de maioria hindu, governada pelo Partido do Congresso, representado pelo primeiro-
-ministro Nehru. Pouco depois, em 14 de agosto, formava-se oficialmente o Paquistão, de maioria muçulmana.
Em 30 de janeiro de 1948, Gandhi foi
assassinado por Nathuram Godse. Este ©Fotoarena/Album/akg-images/Archiv Peter Rühe

era um hindu radical que não concorda-


va com os planos de unir todas as cultu-
ras e as religiões em prol da formação da
nação indiana, ideia que Gandhi ainda
defendia.

BOURKE-WHITE, Margaret. Gandhi, aos 76 anos, ao lado


do seu tear. 1946. 1 fotografia, p&b.

Para dar o exemplo de que a população indiana não


necessitava consumir produtos ingleses, Gandhi produzia
em um tear caseiro os tecidos que utilizava na fabricação
de suas roupas. Além disso, plantava seus próprios
alimentos.

História 47
Interpretando documentos
Com base no texto, analise a forma como Gandhi defendia as ações de desobediência civil entre os indianos.

Os seguidores da desobediência civil repudiam a violência e a injustiça, isto é, diante de uma


lei injusta, considerada um ato de agressão, eles agem de forma não violenta, desobedecendo às
leis que humilham, que são injustas, que discriminam raça, religião, cultura, sexo, etc. Eles con-
sideram que o não à violência é a maior força a ser empregada em defesa dos direitos da pessoa
humana. Dessa forma, mantém-se uma agitação contínua, em favor da dignidade humana, res-
pondendo, de forma superior, à violência das leis ilegítimas e dos governos. [...] Dizia Gandhi:
“A primeira coisa, portanto, é dizer-vos a vós mesmos: Não aceitarei mais o papel de escravo.
Não obedecerei às ordens como tais, mas desobedecerei quando estiverem em conflito com a
minha consciência. O assim chamado patrão poderá surrar-vos e tentar forçar-vos a servi-los.
Direis: Não, não vos servirei por vosso dinheiro ou sob ameaça. Isso poderá implicar sofrimen-
tos. Vossa prontidão em sofrer acenderá a tocha da liberdade que não pode jamais ser apagada”.

CANÊDO, Letícia B. A descolonização da Ásia e da África. São Paulo: Atual, 1985. p. 44-45.

Após a análise do documento, faça o que se pede.


1. Explique em quais situações Gandhi defendia o não cumprimento das leis.

2. Cite duas práticas que integravam a estratégia de luta denominada desobediência civil.

3. De que forma essa estratégia prejudicava os interesses ingleses na região?

48 9o. ano – Volume 3


Troca de ideias
Retome a página inicial do capítulo e relembre qual a resposta dada à segunda pergunta. Gandhi seguia as
ideias do escritor Henry David Thoreau, para o qual era possível discordar do governo sem o uso de armas ou de
violência, por meio de uma postura pacífica, porém crítica.
Debata com os colegas a respeito da seguinte questão: É possível aplicarmos esse conceito em nosso dia a
dia, no convívio com outras pessoas?
Anote as conclusões da turma no caderno.

Indochina
Indochina é a denominação da colônia estabelecida pelos franceses no sul da Ásia. Na atualidade, o território
corresponde ao Vietnã, ao Laos e ao Camboja. A emancipação política teve início com a luta promovida pelo
território que, atualmente, corresponde ao Vietnã.
A Guerra do Vietnã foi o mais longo conflito do século XX. Teve início em 1945 e terminou em 1976. O perío-
do mais conhecido e explorado pelo cinema é o da intervenção efetiva dos Estados Unidos.
As lutas na região se iniciaram na década de 1930, quando os japoneses, dando continuidade à expansão
territorial, invadiram a Indochina. Contra essa ocupação, levantaram-se vários grupos nacionalistas, dos quais o
mais forte era o Vietminh (Partido Comunista Vietnamita, criado por Ho Chi Minh). Este assumiu a liderança
do movimento e expulsou os japoneses em 1945.

©Getty Images/Gamma-Keystone
Ho Chi Minh, fortalecido, ocupou o norte
do Vietnã, colônia francesa, declarou a inde-
pendência e a adesão ao socialismo. No perío-
do da Guerra Fria, a França, aliada dos Estados
Unidos, decidiu retomar o controle da região
ocupada por Ho Chi Minh. Essa disputa terri-
torial, iniciada em 1945, durou até 1954, ano
em que as tropas francesas foram definitiva-
mente vencidas pelos norte-vietnamitas.
Com a derrota francesa, representantes
dos dois adversários se reuniram, em 1954,
em Genebra, na Suíça, para estabelecer as
cláusulas do tratado de paz. Nele, foi decidido HO CHI MINH, PRESIDENTE da República Democrática do Vietnã do Norte.
que o território do Vietnã seria dividido em Hanói. 1955. 1 fotografia, p&b.
dois: Norte, governado por Ho Chi Minh, e Sul
como colônia francesa, tendo como divisão o paralelo 17ºN. O Sul permaneceu sob influência francesa até 1955,
quando deveriam ser realizadas eleições para a escolha do novo governo e a reunificação do país. Essas eleições,
porém, nunca aconteceram.
Os Estados Unidos objetivavam acabar com a pobreza no Vietnã do Sul, tornando-o uma “vitrine capitalista”,
a qual deveria atrair outros países para a sua área de influência. Assim, forneceram dinheiro para a melhoria das
condições de vida da população. Entretanto, em virtude da corrupção, o dinheiro nunca chegou até o povo.
Com o aumento da pobreza, foi criada a Frente Nacional de Libertação, mais conhecida como Vietcong, de
tendência socialista e similar ao Vietminh.

História 49
Pesquisa
Observe o mapa com a divisão do Vietnã, determinada pela Convenção de 1954. Em seguida, pesquise os
dados referentes ao norte e ao sul do Vietnã, completando o quadro com os dados coletados.

Vietnã: Convenção de Genebra, 1954

Marilu de Souza
Fonte: ATLAS geográfico Melhoramentos. São Paulo: Melhoramentos, 2009. Adaptação.

Vietnã do Norte Vietnã do Sul


Situação política em 1954
Sistema econômico adotado
Países aliados
Grupo guerrilheiro
Capital

Diante da possibilidade de um governo socialista também no Vietnã do Sul, os Estados Unidos apoiaram
as tropas da França com armamentos e orientação militar, para que permanecessem na Ásia. Mesmo com os
reforços estadunidenses, a França anunciou a retirada de suas tropas.
Assim, em 1961, os Estados Unidos anunciaram o envio de tropas para o Vietnã. As tropas estadunidenses,
lutando de maneira tradicional, encontraram grandes dificuldades para se adaptar às condições climáticas do
sul da Ásia e vencer os vietcongs, que empregavam táticas de guerrilhas e conheciam a região. Por isso, os Es-
tados Unidos utilizaram lança-chamas, bombas de bilha e de fósforo, além de armas químicas, como o agente
laranja e o napalm, nas aldeias vietnamitas.

50 9o. ano – Volume 3


As cenas da violência empregada pelos estadunidenses contra a população vietnamita correram o mundo,
colocando a opinião pública mundial contra eles. Em 1973, as tropas dos Estados Unidos retiraram-se do Vietnã.
©Glow Images/AP Photo/Nick Ut

UT, Nick. Ataque de napalm à aldeia no vilarejo de Trang Bang, próximo


a Saigon, no Vietnã. 8 jun. 1964. 1 fotografia, p&b.

A denominação napalm é derivada das primeiras letras de seus


componentes: sais de alumínio coprecipitados dos ácidos naftênico
e palmítico. Esses sais eram adicionados a componentes inflamáveis
para serem gelificados. A imagem se tornou famosa por ter impactado
a opinião pública mundial sobre as consequências da Guerra Fria.
Nela, é possível observar a garota vietnamita Kim Phuc, de nove anos,
e outras crianças fugindo após um ataque estadunidense utilizando
napalm, arma química que, ao entrar em contato com a pele, provoca
queimaduras graves. A menina foi salva pelo fotógrafo Nick Ut, o qual
a levou para o hospital. Com a divulgação da foto, os movimentos
pacifistas ganharam força com a opinião pública, fator que contribuiu
para a retirada das tropas estadunidenses do Vietnã.

Após a retirada das tropas estadunidenses, o Vietnã do Sul permaneceu em conflito por mais três anos. A
guerra civil entre vietnamitas, que defendiam o capitalismo, e vietcongs, defensores do socialismo, acabou com
a vitória destes, em 1976. Com o fim do conflito, ocorreu a unificação dos territórios do Vietnã do Norte e do
Vietnã do Sul sob o sistema socialista.

Organize as ideias
Sobre a Indochina, assinale a alternativa correta.
a) Colônia francesa localizada ao norte da China.
b) Colônia francesa que abrangia os territórios dos atuais países Vietnã, Camboja e Laos.
c) A luta pela emancipação política da Indochina ocorreu sem nenhum movimento bélico, sendo uma
conquista da diplomacia internacional.
d) Colônia inglesa que permaneceu nessa condição até o final do século XX.
e) Colônia estadunidense que promoveu a emancipação política e se manteve como país aliado ao
bloco capitalista.

China
A China, denominada Império do Centro, era uma das regiões mais cobiçadas pelas potências imperialistas
durante os séculos XVI a XX.
Várias nações imperialistas estabeleceram entrepostos em pontos do litoral chinês. Como fruto dessa ex-
ploração, ocorreram diversos movimentos e conflitos. Entre eles, a Guerra do Ópio (1839-1860) e a atuação dos
boxers, jovens nacionalistas que desejavam a expulsão de todos os estrangeiros do território chinês (1899-1901).
A exploração estrangeira em território chinês somente foi finalizada com a Revolução Comunista liderada
por Mao Tsé-tung, iniciada em 1949.
Em 1911, o imperador Pu Yi, integrante da dinastia Manchu, foi destituído por um golpe de Estado e a Repú-
blica foi proclamada. O primeiro presidente foi Sun Yat-sen, fundador do Partido Nacional (Kuomintang).
Na década de 1920, o Partido Comunista Chinês (PCC), liderado por Mao Tsé-tung, ganhou força, fato que
não era aprovado pelos membros do Kuomintang, que governavam o país.
A partir de 1925, quando Chiang Kai-shek chegou ao poder, os membros do PCC foram perseguidos. Como
estratégia de fuga dos ataques nacionalistas, Mao Tsé-tung promoveu a Longa Marcha, caminhada de 9 650 km
pelo interior do país, durante os anos de 1931 a 1934.

História 51
Em 1936, o Japão invadiu o leste da China, levando os integrantes do PCC e do Kuomintang a se unirem
contra o inimigo comum. Após expulsarem os japoneses, em 1945, os dois grupos voltaram a se enfrentar.
Em outubro de 1949, Mao Tsé-tung tomou o poder e proclamou a República Popular da China. Chiang
Kai-shek fugiu para a Ilha de Formosa (Taiwan), onde implantou um governo capitalista.
©Fotoarena/Bridgeman/Pictures from History

MAO TSÉ-TUNG proclama a


instalação da República Popular da
China em Beijing. 1º. out. 1949.
1 fotografia, p&b.

Com a finalidade de estabelecer uma


sociedade igualitária, o novo governo
determinou uniformes iguais para
toda a população. A única distinção
eram as cores diferenciadas para cada
profissão ou ocupação.

Mao Tsé-tung, com o intuito de implantar uma sociedade comunista, expulsou os estrangeiros do país, con-
fiscou fábricas, promoveu ampla reforma agrária e acabou com os privilégios de classes.
Em 1957, lançou o plano econômico denominado Grande Salto em Frente, o qual visava à aceleração do
crescimento da economia chinesa em pouco tempo. Além de elevar a produção industrial, o objetivo era au-
mentar a produção de alimentos para sanar a fome da imensa população chinesa. Os camponeses, os criadores
de animais e os pescadores estabeleceram produções que bateram recordes. Entretanto, por falta de vias de
escoamento, os alimentos apodreceram.

©Fotoarena/Album/akg-images/Pictures From History


O fracasso do plano levou Mao Tsé-tung a
culpar os trabalhadores, acusando-os de estarem
corrompidos pela dinâmica capitalista. Com esse
pensamento, voltou-se para as novas gerações.
Segundo ele, a formação de uma sociedade igua-
litária somente se concretizaria com uma nova
geração, liberta dos vícios das antigas.
Em 1966, pensando em atrair os jovens à causa
socialista, Mao Tsé-tung lançou a Revolução Cul-
tural, com a qual pretendia apagar completamen-
te os traços da ocupação imperialista e os hábitos
burgueses.
A Revolução Cultural durou uma década e foi a
fase mais radical de todo o processo revolucioná-
rio chinês. Nesse período, muitos chineses foram JOVENS reunidos na Praça da Paz Celestial, em Pequim, com o Livro
Vermelho. 1 fotografia, color.
perseguidos e até seguidores do PCC estavam su-
Mao Tsé-tung compilou suas ideias em um pequeno livro que era distribuído
jeitos a delações, à prisão e ao assassinato. à população. Nele, estavam os ensinamentos do líder, que conclamavam a
A China permaneceu fechada para o mundo até juventude a abandonar os “quatro velhos”: velhas ideias, velha cultura, velhos
costumes e velhos hábitos.
o final da década de 1980. Com a morte de Mao
Tsé-tung, em 1986, as novas lideranças foram restabelecendo as relações diplomáticas e comerciais com outras
nações. Atualmente, a economia chinesa vem causando grandes transformações no cenário econômico mundial.

52 9o. ano – Volume 3


Descolonização na África
A onda das descolonizações na África teve início em 1955, um pouco mais tarde do que na Ásia, e impulsio-
nou uma série de guerras civis. Estas eram motivadas pelos conflitos étnicos e tribais, em virtude do estabeleci-
mento de fronteiras arbitrárias pelos colonizadores que não foram revistas após a descolonização.

África: político atual


Marilu de Souza

Fonte: ATLAS geográfico Melhoramentos. São Paulo: Melhoramentos, 2009. Adaptação.

Argélia
Com a Tunísia e o Marrocos, a Argélia está localizada em uma região da África denominada Magreb. Ocupada
inicialmente pelos berberes, foi dominada no século VIII pelos árabes e, desde então, o islamismo e o idioma árabe tor-
naram-se predominantes na região. No século XIX, a Argélia foi ocupada pelos franceses, que subjugaram econômica
e culturalmente a população local ao tomar para si as terras mais férteis e proibir o ensino do idioma árabe nas escolas.
No contexto do fim da Segunda Guerra Mundial, teve início, na década de 1950, o processo de descoloniza-
ção na região, com a independência da Tunísia, em 1956, seguida pela do Marrocos, no mesmo ano.
A Argélia, no entanto, teve maiores dificuldades para expulsar os franceses, pois ela apresentava grande
número de colonos franceses (chamados pieds-noirs, ou pés negros). Além disso, alguns políticos franceses
defendiam que o território deveria ser oficialmente anexado à França.
A Guerra da Argélia teve início em 1954, com a atuação da Frente de Libertação Nacional (FLN), de ten-
dência socialista e liderada por Ahmed Ben Bella. A FLN lutava contra a ocupação francesa e pela restauração
da identidade nacional.

História 53
A luta se fortaleceu com a adesão dos camponeses, fato que provocou o início da repressão francesa. O auge
dos confrontos ocorreu em 1956, com a Batalha de Argel, na qual grande parte dos guerrilheiros argelinos foi
eliminada. Os poucos sobreviventes, inclusive Ben Bella, tiveram que se retirar das cidades argelinas. O episódio,
porém, não destruiu o movimento nacionalista, pois os camponeses deram continuidade aos combates.

CENA da batalha travada nas ruas de Argel.


1956. 1 fotografia, p&b.

A batalha pela conquista de Argel teve a duração


de mais de um ano e envolveu braços terroristas
da FNL, integrantes de outros grupos contrários

©Fotoarena/Album/IGOR/CASBAH
aos franceses e o Exército francês. Sequestros,
assassinatos e torturas foram elementos que se
somaram aos confrontos abertos.

Na França, tiveram início movimentos que exigiam o fim dos conflitos e a emancipação política da Argélia. Em
1961, com os dois lados exauridos, iniciaram-se as negociações de paz entre França e Argélia. Em 5 de julho de 1962,
pelo Acordo de Évian, foram estabelecidos o cessar-fogo e o reconhecimento da independência do país, aprovado
por referendo popular. A luta pela independência custou a vida de quase um sexto da população argelina.
No ano seguinte, Ben Bella foi eleito presidente e decretou o país neutro em relação à Guerra Fria. Apesar de inde-
pendente, a Argélia não encontrou estabilidade, em razão da crise econômica e das disputas internas pelo poder. Em
1991, teve início a Guerra Civil da Argélia, travada entre o governo e os grupos rebeldes islâmicos. O conflito terminou
oficialmente em 2002, com a vitória do governo. Estima-se que cerca de 200 mil pessoas morreram nesse período.

Angola
Em 1932, Antônio Salazar implantou um governo ditatorial em Portugal que se estendeu até 1974. Durante a
ditadura salazarista, o país manteve as colônias que possuía na África.
Em 1974, no entanto, ocorreu a Revolução dos Cravos, que colocou fim ao salazarismo e possibilitou o pro-
cesso de descolonização em suas colônias africanas: Angola, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde.
Os movimentos de emancipação política das colônias portuguesas na África foram iniciados em Angola,
a qual apresentava riquezas como diamante, ferro, produtos agrícolas e petróleo. Portugal, durante a década
de 1960, implantou uma política de concessões aos angolanos como forma de manter a rica colônia. Angola
foi elevada à província e, posteriormente, a Estado autônomo. Com isso, os angolanos tiveram sua cidadania
reconhecida e o acesso à educação garantido.

54 9o. ano – Volume 3


©Getty Images/Cloete Breytenbach/Stringer
Porém, as concessões portuguesas não foram sufi-
cientes para conter o ímpeto dos angolanos em lutar
pela emancipação política total em relação a Portugal.
Dessa forma, surgiram os grupos Movimento Popular
pela Libertação de Angola (MPLA), Frente Nacional
de Libertação de Angola (FNLA) e União Nacional
para a Independência Total de Angola (Unita), que
lutavam por essa emancipação. A FNLA e a Unita eram
apoiadas pelos Estados Unidos. O MPLA tinha o apoio
da União Soviética e da China. Diante da impossibilida-
de de manter sua colônia, Portugal concedeu a inde-
pendência a Angola em 11 de novembro de 1975, pelo
Acordo de Alvor.
Em 1975, quando estava prestes a se concluir o acordo BREYTENBACH, Cloete. Guerrilheiros da Unita durante a Guerra
Civil em Angola. 1 fotografia, p&b.
entre Portugal e Angola, o MPLA tomou Luanda, capital
do país, proclamando a independência; a FNLA ocupou • Guerrilheiros da Unita em formação
a região norte; e a Unita tomou a região sul. Agostinho
Neto, líder do MPLA, assumiu o poder em Angola com a intenção de implantar um governo socialista. A forte
oposição dos outros grupos, contudo, levou o país a uma guerra civil cujo cessar-fogo ocorreu somente em
2002, embora os desdobramentos desse conflito permaneçam até a atualidade.

Organize as ideias
(FUVEST – SP) Portugal foi o país que mais resistiu ao processo de descoloni-
zação na África, sendo Angola, Moçambique e Guiné-Bissau os últimos países
daquele continente a se tornarem independentes. Isto se explica
a) pela ausência de movimentos de libertação nacional naquelas colônias.
b) pelo pacifismo dos líderes Agostinho Neto, Samora Machel e Amílcar Cabral.
c) pela suavidade da dominação lusitana baseada no paternalismo e na benevolência.
d) pelos acordos políticos entre Portugal e África do Sul para manter a dominação.
e) pela intransigência do salazarismo somente eliminada com a Revolução de Abril de 1974.

Marcas da colonização
A exploração colonialista europeia provocou grandes mudanças sociais, políticas e econômicas na África e
na Ásia. Sociedades que até a chegada dos europeus se baseavam na pequena propriedade e na policultura se
viram obrigadas a obedecer a um único governo e mover sua força produtiva no intuito de fornecer as matérias-
-primas exigidas pelos exploradores. Recursos naturais, anteriormente explorados conforme as necessidades de
cada região, foram retirados em grande quantidade, muitas vezes utilizando-se de mão de obra local. Produtos
industrializados foram introduzidos no cotidiano dessas populações e transformados em hábitos de consumo.
Além disso, havia outro agravante, especialmente para os agora países africanos:

Ao contrário dos processos de descolonização asiáticos, os mais graves desafios e conflitos seriam
enfrentados após as independências. Na Ásia, boa parte dos novos Estados era continuadora de na-
ções pré-coloniais com civilizações consolidadas, enquanto na África, com raras exceções, tratava-se
de agrupamentos de diferentes povos (ou, mesmo, de parte deles) em Estados radicalmente novos.

VISENTINI, Paulo F. História da África e dos africanos. Petrópolis: Vozes, 2013. p. 100.

História 55
Os países africanos agora estabelecidos precisavam encarar uma série de desafios, sendo o primeiro deles a
ideia de que eram agora nações independentes. Como as fronteiras criadas durante a colonização foram man-
tidas, grupos rivais ou de etnias distintas estavam agrupados em um mesmo país, gerando rivalidades difíceis
de serem superadas.
Outro problema é que muitos desses

©Wikimedia Commons/SSGT CHARLES REGER


países tinham suas economias diretamen-
te atreladas às de suas metrópoles e não
tiveram investimento em industrializa-
ção ou tecnologia. Suas economias ainda
eram voltadas para a agricultura e para o
fornecimento de matéria-prima aos países
industrializados. Essas características eco-
nômicas contribuíram para a formação de
países muito pobres.

A fome generalizada na África é uma das


consequências do processo de exploração
a que o continente esteve submetido
durante décadas.
REGER, Charles. Somalis à espera de alimentos durante uma operação humanitária.
17 nov. 1992. 1 fotografia, color.

Pesquisa
Retorne à página de abertura do capítulo e retome a sua resposta sobre Nelson Mandela. Promova uma pes-
quisa a respeito do apartheid na África do Sul relacionando essa política à luta de Mandela. Registre no caderno
as informações coletadas.

©Fotoarena/Alamy/Jeff Morgan
Outras histórias

É certo que a África ainda colhe os frutos amargos do


Imperialismo e que em muitas regiões do continente as guerras
civis matam irmãos. A fome é constante e mortal. Porém, o
mundo está descobrindo que a África é muito mais do que isso.
É um continente riquíssimo em sua história e em seus costumes,
tradições e produções intelectuais e artísticas. E muitos são os
difusores dessa riqueza.
Chimamanda Ngozi Adichie (nigeriana) e Mia Couto
(moçambicano) são exemplos de escritores que narram suas
experiências africanas: da vida sob o controle europeu, das
guerras e das disputas políticas e do dia a dia das pessoas comuns. MORGAN, Jeff. Chimamanda Ngozi Adichie.
2012. 1 fotografia, color.
Leia o texto a seguir, escrito por Adichie, narrando uma expe- • Chimamanda Adichie faz parte da
riência pela qual passou nos Estados Unidos. nova geração de escritores africanos

56 9o. ano – Volume 3


“Quando comecei a escrever, por volta dos sete anos, eu escrevia exatamente os tipos de his-
tórias que eu lia. Todos os meus personagens eram brancos de olhos azuis. Eles brincavam na
neve, comiam maçãs. E eles falavam muito sobre o tempo, em como era maravilhoso o sol ter
aparecido, apesar do fato de eu morar na Nigéria”, conta a escritora durante sua apresentação,
em 2009, no TED (Technology, Entertainment, Design), conferência que promove a troca de
experiências e ideias entre personalidades de diferentes áreas.
Quando completou 19 anos, Adichie deixou o continente africano rumo aos Estados Unidos.
Depois de estudar na Universidade Drexel, na Filadélfia, foi transferida para a Universidade de
Connecticut. Fez estudos de escrita criativa na Universidade Johns Hopkins de Baltimore, e mes-
trado de estudos africanos na Universidade Yale.
“Minha colega de quarto americana ficou chocada comigo. Ela perguntou onde eu tinha apren-
dido a falar inglês tão bem e ficou confusa quando eu disse que, por acaso, a Nigéria tinha o inglês
como sua língua oficial. Ela perguntou se podia ouvir a minha “música tribal” e, consequente-
mente, ficou muito desapontada quando eu toquei minha fita da Mariah Carey. O que me impres-
sionou foi que ela sentiu pena de mim antes mesmo de ter me visto. Minha colega de quarto tinha
uma única história sobre a África. Uma única história de catástrofe. Nessa única história não
havia possibilidade de os africanos serem iguais a ela”, recorda, mencionando a “história única”
como um estimulador dos estereótipos, principalmente em relação ao continente africano.
[...]
"O PERIGO de uma história única", por Chimamanda Adichie. Disponível em: <http://www.pordentrodaafrica.com/cultura/o-perigo-de-uma-historia-
unica-por-chimamanda-adichie>. Acesso em: 7 set. 2018.

Você faz História


Reflita acerca do texto de Chimamanda Ngozi Adichie e responda: Qual é o perigo de termos apenas uma
história sobre nossa sociedade, sobre a África ou sobre qualquer outro tema?

Hora de estudo
1. Sobre os movimentos de emancipação política ocorridos na África, analise as afirmativas a seguir.
I. Em sua maioria, foram marcados por guerras entre as tropas coloniais e os exércitos metropolitanos.
II. Após a emancipação política, ocorreram, em muitos países africanos, guerras civis entre grupos de
diferentes tendências ideológicas que lutavam pelo poder.
III. A África foi marcada pelo grande desenvolvimento econômico das antigas colônias em um curto
espaço de tempo.
De acordo com a análise, assinale a alternativa correta.
a) Todas as afirmativas estão certas. d) Apenas as afirmativas I e III estão certas.
b) Todas as afirmativas estão erradas. e) Apenas as afirmativas II e III estão certas.
c) Apenas as afirmativas I e II estão certas.

57
2. (ENEM) O cartum, publicado em 1932, ironiza as consequências sociais das constantes prisões de
Mahatma Gandhi pelas autoridades britânicas, na Índia, demonstrando:

a) a ineficiência do sistema judiciário in-


glês no território indiano.
b) o apoio da população hindu à prisão
de Gandhi.
c) o caráter violento das manifestações
hindus frente à ação inglesa.
d) a impossibilidade de deter o movi-
mento liderado por Gandhi.
e) a indiferença das autoridades britâni-
cas frente ao apelo popular hindu.

Disponível em: <www.gandhiserve.org>. Acesso em: 21 nov. 2011.

3. Sobre a Revolução Comunista na China, marque V para a(s) afirmativa(s) verdadeira(s) e F para a(s)
falsa(s).
( ) A Revolução teve início em 1912, com o fim da monarquia e a implantação da república.
( ) Sun Yat-sen foi o criador do Partido Nacional, mais conhecido como Kuomintang. A ideologia do
partido era capitalista.
( ) Mao Tsé-tung desejava acabar com a desigualdade social e econômica existente na China por meio
da adoção do sistema socialista.
( ) O “Grande Salto em Frente” foi uma política econômica que objetivava a ampliação da produção
industrial e de alimentos no país. O projeto de Mao Tsé-tung obteve sucesso e a fome da população
chinesa foi sanada.
( ) Um dos objetivos da Revolução Cultural era eliminar todos os hábitos capitalistas que ainda havia
no país.
4. (ENEM)
O regime do Apartheid adotado de 1948 a 1994 na África do Sul fundamentava-se em ações estatais de
segregacionismo racial. Na imagem, fuzileiros navais fazem valer a “lei do passe” que regulamentava o(a)

a) concentração fundiária, impedindo os negros


de tomar posse legítima do uso da terra.
b) boicote econômico, proibindo os negros de
consumir produtos ingleses sem resistência
armada.
c) sincretismo religioso, vetando os ritos sagrados
dos negros nas cerimônias oficiais do Estado.
d) controle sobre a movimentação, desautorizan-
do os negros a transitar em determinadas áreas
das cidades.
e) exclusão do mercado de trabalho, negando à
Disponível em: <www.imageforum-diffusion.afp.com>. Acesso
em: 6 jan. 2016.
população negra o acesso aos bens de consumo.

58
9o. ano – Volume 3
Material de apoio
Capítulo 10 – Página 15 – O voto feminino
1893

©Fotoarena/Album/akg-images/Fototeca Gilardi
O Reino Unido (na Europa)
A Nova Zelândia foi o primeiro país do aprovou o voto feminino.
mundo a aprovar o voto feminino.
1918

1914-1919 SUFRAGISTA inglesa


sendo presa, Londres.
Influenciados por ideias internacionais favo- 1910. 1 fotografia, p&b.
ráveis ao sufrágio feminino, surgiram movi-
mentos formados por mulheres brasileiras 1919
Fundação da Liga para a
de classe média e alta em prol do direito Emancipação Intelectual da Mulher, sob a lide-
feminino ao voto. rança de Bertha Lutz.

1920
Criação da Federação Brasileira pelo
Progresso Feminino. As mulheres adquiriram o direito ao
sufrágio nos Estados Unidos.
1922

©Biblioteca do Congresso, Washington, D.C.


©Wikimedia Commons/Arquivo

PARADA feminista
pelo direito de voto
Nacional, Rio de Janeiro

nos Estados Unidos,


Nova Iorque. 1912.
1 fotografia, p&b.

FEDERAÇÃO Brasileira pelo Progresso Feminino (FBPF). 1927


1 fotografia, p&b.
As mulheres do Rio Grande do Norte con-
1929 quistaram o direito de voto em seu Estado.
As mulheres conquistaram o direito de voto
no Equador.
Luíza Alzira Soriano Teixeira foi eleita prefeita da 1932
cidade de Lajes, no Rio Grande do Norte. Ela foi
Aprovação do Novo Código Eleitoral que
deposta em 1930 pelo Governo Provisório de
estabeleceu o voto feminino.
Vargas (1930-1934).
©Wikimedia Commons/Arquivo Nacional, Rio de Janeiro
i

LUÍZA Alzira Soriano


Teixeira em seu 1934
gabinete. 1929.
1 fotografia, p&b. As mulheres conquistaram igualdade
Luíza foi eleita no Rio de direitos políticos na Constituição
Grande do Norte a promulgada nesse ano.
primeira prefeita do
Brasil e da América
Latina. Note que ela
é a única mulher em
meio a uma maioria de
políticos homens.

História 1
Capítulo 10 – Página 21 – Publicidade nos anos 1950
©Acervo Iconographia

graphia
©Acervo Icono

PUBLICIDADE da
marca Walita. 1º. jul.
1954. 1 fotografia,
p&b. Biblioteca
Nacional, Rio de
Janeiro.

REVISTA “O Cruzeiro”.
década de 1950.
1 fotografia, color.

REVISTA “O
phia

Cruzeiro”.
©Acervo Iconogra

década de 1950.
1 fotografia,
color.

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