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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA (UEPB)

ANÁLISE CRÍTICA

SITE MÍDIA INDÍGENA E SEUS PRODUTOS


Nome: Antonio Simões Menezes
Turma: 5º semestre (Noturno)

CAMPINA GRANDE/PB
ANÁLISE DO SITE MÍDIA INDÍGENA E SEUS PRODUTOS

1 - CONTEXTUALIZAÇÃO DO PRODUTO:
A rede de comunicação Mídia Indígena, que começou como Mídia Índia no Facebook,
foi criada no ano de 2017 pelo jornalista Erivan Bone Guajajara e outros jovens
indígenas do povo Guajajara do Maranhão, durante o Acampamento Terra Livre (ATL).
Os enfoques do projeto permeiam os campos da política, do meio ambiente e da
cultura. Ele foi pensado para que, através da tecnologia contemporânea, a cultura
indígena fosse difundida entre a sociedade sob a ótica dos próprios povos originários e
dos jovens indígenas brasileiros, que foram capacitados por meio de oficinas de texto,
fotografia, vídeo e zine. Atualmente, a Mídia Indígena é a maior rede de comunicação
formada por indígenas, sendo composta 128 capacitados e 60 correspondentes
espalhados por todo país. O coletivo compartilha conteúdos com foco na luta indígena
no Facebook, Instagram, YouTube e website e sustenta um quantitativo de 10 milhões
de acessos em suas redes sociais por ano.
2 - INOVAÇÕES DO PRODUTO:
2.1 - Descrever as principais inovações no modelo de negócios.
Para dar início ao projeto, o treinamento das técnicas de comunicação ocorreu durante
o ATL à todos os jovens indígenas que passariam a compor a rede e desde então, o
Mídia Indígena compartilha um fundo doação virtual no site GoFundMe para apoiar a
Acampamento Terra Livre — um encontro de cinco dias para representantes
indígenas, líderes, mulheres, crianças e jovens indígenas que se reúnem em Brasília
para compartilhar as lutas, conhecimentos e força ancestral para o seu futuro — e
assim, alcançar cada vez mais jovens colaboradores durante o evento. Desta forma, a
Mídia Indígena se mantém interligada ao ATL, de forma que busquem se apoiar em
suas instâncias e cumpram o objetivo maior: fortalecer a luta indígena através da força
indígena.
2.2 - Descrever as principais inovações na construção e na apresentação das
narrativas.
As narrativas trazidas pela rede Mídia Indígena focam em trazer conteúdos, em sua
maioria, através de imagens e vídeos, que trazem tecnicidades comuns na produção
audiovisual, também presentes no telejornalismo. Por exemplo, o website conta com a
produção de uma série sobre o Marco Temporal, que conta os equívocos presentes
nessa tese em três episódios apresentados por Eric Marky Terena, membro do povo
Terena e do coletivo.
2.3 Descrever as principais inovações na distribuição do conteúdo.
Efetivamente, a rede não tem um conteúdo pré-definido para perpassar por cada um
de seus meios de comunicação, mas a página no Instagram utiliza seu alcance para
divulgar os conteúdos publicados através do website, como é o caso da série Marco
Temporal, que pode direcionar o leitor para a página do Mídia Indígena no Youtube, na
qual mantém disponível demais conteúdos sobre a causa indígena.
3 – CARACTERÍSTICAS DO JORNALISMO DIGITAL
3.1 - Quais características do jornalismo digital são observadas no produto?
Explique se elas são vitais para o produto ou são subaproveitadas?
Multimidialidade:
No livro Webjornalismo, o professor e doutor Ramón Salaverría, descreve que uma
das características que compõem o conceito de multimidialidade é a forma de
apresentar um tipo de conteúdo, em um veículo, através de diferentes linguagens, ou
seja, “à sua interpretação como combinação de linguagens ou de formatos – texto,
som, imagem, vídeo...” (SALAVERRÍA, 2014; P. 29) A rede Mídia Indígena utiliza esse
conceito, principalmente, em seu website como no caso aba “Início”, na qual o coletivo
apresenta treasers de entrevistas com as ativistas, Célia Kabriabá, Sonia Guajajara e
Tsitsina Xavante. Na mesma página, anexou um take silencioso mostrando o cotidiano
dos povos indígenas, as marchas em Brasília e a luta pelo desmatamento no território
Xingu na Amazônia. Na aba “GaleriaATL2023”, coletivo mantém um acervo de
imagens do Acampamento Terra Livre que também compõem a página de notícias do
website e as redes sociais. Os conteúdos multimidiaticos estão dispostos de forma
mais setorizada, fazendo com que não haja uma ligação “suave” entre uma mídia e
outra — ainda que contemplem assuntos coerentes à imagem da rede Mídia Indígena
– o que não descarta a presença do conceito no website, considerando que “todos os
conteúdos que contam com pelo menos dois tipos de linguagem associados entre si
são, por natureza, multimédia” (SALAVERRÍA, 2014; P. 30) e o veículo faz uso de
vídeos e imagens.
Interatividade:
A interação entre a rede Indígena e a seus leitores ocorre de forma muito intuitiva, no
sentido de que há um espaço criado pelo próprio coletivo que seja destinado a
interação com o público, mas a rede mantém disponível as ferramentas de interação
contidas nos próprios veículos, o que indica que se define um tipo de interatividade
comunicativa na qual “representa as possibilidades de comunicação e expressão que
o utilizador tem entre os conteúdos do meio” (ROST, 2014; P.58) através de envio de
mídias, entrevistas com perguntas dos internautas, pesquisas, fóruns e outros. No
caso das redes, a aba de comentários das redes sociais e o chat online do website
são os principais meios de interatividade.
Ubiquidade:
De acordo com escritor americano Jonh V. Pavlik, a ubiquidade consiste na
capacidade de um veículo em ser acessado em qualquer lugar e por qualquer um ao
mesmo tempo. Este conceito, quando aplicado a rede Mídia Indígena demonstra
esforço em buscar a diversidade midiática dentro da marca, mas ainda se limita a
meios que já fazem parte desse mercado e agem, inevitavelmente, de forma ubíqua.
Por exemplo, os perfis do Facebook e Instagram permitem que uma grande
quantidade de pessoas tenha acesso ao conteúdo produzido por essa rede, seja em
forma de reels, publicação ou story. O canal no YouTube também contempla
entrevistas em formato de Podcasts — gravadas no ATL 2021 — que permitiram a
interação em tempo real durante o acampamento.
Memória:
A memória é um conceito que perpassa a reprodução de um conteúdo, a estética de
um produto que remeta a outro ou a “registros venha a sobreviver a seus produtores,
da mesma forma que as marcas nas pedras ou pinturas nas cavernas sobreviveram
aos produtores neolíticos que as criaram” (PALACIOS, 2014; P. 95) No entanto, a
Mídia Indígena provoca a memorização do seu conteúdo de forma mais geral e em
seu próprio proposito, ou seja, no intuito de apresentar essas causas indígenas, a
mídia memoriza que a cultura indígena se faz presente e próxima no Brasil através de
todo conteúdo produzido no que diz respeito a essa causa, como as imagens e
notícias sobre o ATL dos últimos anos ou as manifestações do Marco Temporal que
ocorreram por todo país e foram divulgadas no Instagram do coletivo.
3.2 - Quais características do jornalismo digital não foram encontradas? A
ausência delas prejudica a qualidade do produto?
Hipertextualidade:
No conteúdo da Mídia Indígena, principalmente, no website a forma com que os
materiais apresentados de acordo com o tipo assunto não abrem espaço para explorar
melhor outras temáticas no que dizem respeito a cultura indígena, quero dizer, os
conteúdos são distribuídos por abas e cada uma delas contém um tipo de conteúdo
específico, nada para além de uma forma mecanizada de acesso. Segundo João
Canavilhas, o hipertexto age como uma forma de ligar diversos conteúdos a um,
transformando o texto “numa tessitura informativa formada por um conjunto de blocos
informativos ligados através de hiperligações (links), ou seja, num hipertexto.”
(CANAVILHAS, 2014; P.4) A falta dos hipertextos nos conteúdos da rede Mídia
Indígena limita a visualização de um universo que, certamente, é rico em história e
cultura, além de desgastar o público, devido ao acesso pouco interacional.
Instantaneidade:
A parceria entre o Mídia Indígena e o ATL tem uma intencionalidade de fortalecimento
válida, mas considerando que a maioria dos conteúdos são relacionados ao
acampamento que ocorre uma vez que por ano, a produção de conteúdo feita pelo
coletivo fica praticamente congelada no resto do ano, principalmente, no website. O
perfil do Instagram é o que mais se mantém alimentado pela rede — por
provavelmente, proporcionar essa sensação de rapidez na entrega da informação, o
que não garante uma profundidade ou dinamismo — mas, como ela própria indica,
contempla outras mídias para além desta. O jornalista Paul Bradshaw, explica que a
instantaneidade deve se fazer presente no ato de “publicar”, “consumir” e “distribuir”, e
a Mídia Indígena proporciona esses movimentos de forma igualitária em seus meios
da comunicação, o que diminui o acesso do público ao conteúdo — a pessoa que
acessa o Facebook pode não acessar o Instagram — e coloca a marca em uma
distribuição de conteúdo pouco consolidada e organizada.
Personalização:
O Mídia Indígena conta com um quantitativo elevado de acessos em suas redes de
comunicação, que certamente pode contemplar diversos tipos de público — talvez
pessoas que queiram apenas comprar artesanato indígena ou verificar o cotidiano dos
povos fora das manifestações — mas o coletivo prepara seus meios para uma
possível distribuição de conteúdos de acordo com as possíveis preferências do leitor,
no que tange o conceito de personalização ao “reunir, classificar e filtrar o conteúdo
disponível” (LORENZ, 2014; P. 138) A possibilidade de personalização de forma mais
efetiva na rede Mídia Indígena — para além das ferramentas de comentários das
redes sociais — poderia organizar melhor os conteúdos já disponíveis na página, além
conhecer o tipo de público e quais os seus interesses, de forma a supervisionar a
opinião e o apoio às causas indígenas.

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