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BELO HORIZONTE
2021
MAURO GOMES BALEEIRO
BELO HORIZONTE
2021
MAURO GOMES BALEEIRO
BANCA EXAMINADORA:
______________________________________/___/___
Prof.
Universidade Paulista - UNIP
______________________________________/___/___
Prof.
Universidade Paulista - UNIP
______________________________________/___/___
Prof.
Universidade Paulista - UNIP
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho, em primeiro lugar, aos meus queridos pais Jedor e Cecília, que já
não estão mais entre nós, mas que continuam, onde quer que estejam, iluminando o meu
caminho e inspirando as minhas ações e reflexões, e cujo legado de generosidade e sabedoria
resistem ao tempo, pelos exemplos e ensinamentos de amor ao estudo e ao trabalho,
humildade, perseverança e integridade, que estão presentes em toda a minha trajetória de vida.
Dedico ainda este trabalho à minha esposa Raquel e aos meus filhos Maurício, Vitor e
Ighor e às minhas filhas Bárbara e Rafaela, que entenderam, com respeito e generosidade, as
razões da minha ausência do convívio familiar pelos incontáveis fins de semana, ao longo de
mais de dois anos deste curso de pós-graduação.
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todos os mestres que ao longo deste curso contribuíram para a realização
do meu aprendizado e, em particular, ao meu orientador Professor André Luiz Daher
Vasconcelos que gentilmente aquiesceu ao meu pedido de orientação e que foi decisivo para a
consecução deste trabalho acadêmico.
Não poderia deixar de agradecer também a todos os meus colegas da Turma APE1-BH
deste curso, pela intensa e proveitosa troca de experiências e pela confiança e amizade
construídas, ao longo dessa enriquecedora jornada de aprendizagem e networking.
“A tutela ao equilíbrio econômico-financeiro
dos contratos administrativos destina-se a
beneficiar à própria Administração. Se os
particulares tivessem que arcar com as
consequências de todos os eventos danosos
possíveis – mesmo quando inocorressem, o
particular seria remunerado por seus efeitos
meramente potenciais.”
The case study undertaken used the techniques of Appraisal and Expertise Engineering to
point out whether there was an economic and financial imbalance in a contract for the
construction of sanitation works, the execution of which took place between the years 2001
and 2004, and which Parties are the concessionaire of public services CAEPIRA and the
construction company CUSTOSA, as well as, to determine the possible contractual balance
due, updated to the current date. It was found that for reasons due to typical Facts of the
Administration, including changes in scope, delays in the delivery of executive projects and in
the release of legal licenses, there was a considerable delay in the execution period of the
works, which was initially eight months and passed , in the end, to 22 months, giving rise to a
significant variation in costs, to the detriment of the Contractor, with high levels of
improductive hours of the labor and equipment deployed. It so happens that, throughout the
contract, the Parties signed one contractual amendment that contemplated the additional
quantities resulting from the changes in scope and, for this reason, the Administration claimed
that all the eventual Contractor's requests for compensation had been met. For the analysis of
the contractual facts and determination of any remaining DEF, the comparative methodology
of the contractual scenarios, recommended by the IBAPE Standard 003/2014, was used.
Initially, all documents made available by the Parties were gathered, in addition to new
information collected through due diligence. Despite search efforts, some of the relevant
documentation remained incomplete. Thus, the construction of contractual scenarios required
the combination of techniques based on the logical principle of leveling production resources,
associated with statistical inferences, in order to reconstruct the histograms of labor and
equipment effectively used in the works, since not all records of the Construction Diary were
available for all months. Comparing the contractual scenarios, the result of the balance due as
DEF was reached, at historical value on the contractual base date. Finally, the balance due for
the current date was updated, using the monetary restatement parameters and legal default
interest, applicable to the case. An issue regarding the choice of land for the ETE was also
clarified.
1 INTRODUÇÃO 13
1.1 Contextualização do caso objeto de estudo 13
1.1.1 Da origem da demanda por um expert em avaliações e perícias de engenharia 13
1.1.2 Das obras previstas, processo de contratação e condições de implantação 15
1.1.3 Breve histórico das relações entre as Partes e dos desvios ocorridos 16
1.2 Objetivos gerais da pesquisa 17
1.3 Estrutura do trabalho 18
2 REFERENCIAL TEÓRICO 19
2.1 A Norma IBAPE 003/14 e o Método Comparativo dos Cenários Contratuais 19
2.2 Fontes referenciais complementares para o estudo realizado 21
3 METODOLOGIA 22
4 DESENVOLVIMENTO DA PERÍCIA E APURAÇÃO DO DEF 24
4.1 Levantamento de dados: Pesquisa nos autos e organização das informações 24
4.2 CENÁRIO 1: O Pacto Original das Partes 24
4.2.1 Resumo do Contrato e seus Anexos (assinado após adjudicação em 30/11/2001) 25
4.2.2 Detalhamento dos Preços por Grupos de Atividades do Projeto 26
4,2.3 Cronograma Físico Financeiro e Curva S 27
4.2.4 Histograma de mão de obra direta e veículos, máquinas e equipamentos 27
4.2.5 Composição do BDI e Encargos Sociais 28
4.2.6 Reajustamento de Preços (condição eventual para prazo maior que 12 meses) 28
4.2.7 Estrutura Analítica do Projeto e Incidência dos Fatores de Custos 29
4.2.8 Equação original do equilíbrio contratual 29
4.3 CENÁRIO 2: Medições, pagamentos e recursos mobilizados 31
4.4 Origem da controvérsia e seu encaminhamento para solução por arbitragem 33
4.5 CENÁRIO 2: Dos fatos relevantes levantados relativos ao mérito 36
4.6 Da Análise Pericial e Fundamentação: Comparativo de Cenários Contratuais 43
4.6.1 Análise Gráfica Comparativa da Receita Total Prevista (PV1) x Realizada (PV2) 43
4.6.2 Análise da Variação na Parcela do Custo Indireto 44
4.6.3 Análise da Variação do Custo Direto: Materiais, MOD e VME 45
4.6.4 CENÁRIO 3: Verificação da condição de reequilíbrio contratual a valor P0 49
4.6.5 Cálculo do DEF segundo o modelo da Tabela 1 da Norma IBAPE 003/14 a P0 50
4.6.6 Atualizações econômico-financeiras dos saldos contratuais devidos e desequilíbrio 51
4.7 Grau de Fundamentação e Grau de Impacto 57
4.8 Sobre ingerência indevida das Partes na escolha do terreno da ETE Poço Seco 59
4.8.1 Breve histórico 59
4.8.2 A caracterização dos terrenos: Alternativas A e B 61
4.8.3 A manifestação da CUSTOSA 62
4.8.4 A decisão da Prefeitura 63
4.8.5 A reação da Concessionária CAEPIRA 63
4.8.6 O pleito reconvencional da CAEPIRA 64
4.8.7 A análise pericial sobre o mérito técnico da escolha do novo terreno da ETE 64
5 CONCLUSÃO 65
6 REFERÊNCIAS 66
7 ANEXOS -
13
1 INTRODUÇÃO
O caso estudado pelo autor para a elaboração deste trabalho é derivado de um caso real.
Todavia, intencionalmente, não houve compromisso com a fidedignidade da sua reprodução.
Ao contrário, foram extraídos e reagrupados os fragmentos de realidade mais relevantes,
particularmente com a descaracterização dos seus principais atores reais e a simplificação de
algumas das formalidades do processo pericial, de forma a construir um novo caso para
estudo, adaptado para o contexto e propósito acadêmicos. Portanto, o caso em estudo possui o
seu roteiro próprio, de modo a evidenciar a utilização dos conhecimentos adquiridos pelo
autor ao longo do curso de Pós-graduação em Avaliações e Perícias de Engenharia.
A CAEPIRA respondeu que não poderia concordar com a pretensão da CUSTOSA, tendo em
vista que a designação contratual era para uma solução amigável ou mediante “conciliação”,
que é distinta da “arbitragem”. Mais ainda, segundo um parecer preliminar do seu
Departamento Jurídico, a CAEPIRA alegou que a inexistência de uma “cláusula
compromissória”, específica e mutuamente estabelecida no âmbito do Contrato firmado,
impediria que as eventuais controvérsias fossem diretamente submetidas à arbitragem.
Ademais, a CAEPIRA mostrou-se surpresa com a atitude da CUSTOSA, por considerar que
todas as alterações do escopo contratual, resultando em acréscimos de serviços foram objeto
de ajustes entre as Partes, com a majoração correspondente do valor original do Contrato,
através de aditivo contratual e, destarte, o Contrato já estaria reequilibrado, não havendo
qualquer outra razão subsistente para um novo ajuste.
Seguiu-se uma troca de correspondências, pelas quais os advogados das Partes travaram uma
batalha técnica sobre o instituto da arbitragem, tendo a CAEPIRA, por fim, arguido a
aplicabilidade da arbitragem para o setor público e para as concessionárias de serviço público.
Mais especificamente, a CAEPIRA sustentou que a Lei de Arbitragem 1 era ainda muito
recente e que não estava suficientemente regulamentada e não havia ainda jurisprudência
específica, particularmente, quanto à sua aplicação aos contratos administrativos, que
envolvem o interesse público. Portanto, levantou-se questão de constitucionalidade, para o
esclarecimento da intenção do legislador, e a solução do impasse foi parar no Judiciário e
chegou até aos tribunais superiores, arrastando-se desde 2004 até 2019, com uma decisão final
favorável à CUSTOSA. Instaurou-se, portanto, a arbitragem de direito2, tendo sido nomeado
um árbitro da CANETA regional, Dr. Leonino Raposo, para presidir o procedimento.
Iniciado o procedimento arbitral e ouvidas as alegações iniciais, réplicas e tréplicas das Partes,
entendeu o MM. Juízo Arbitral pela necessidade de nomeação de um expert em avaliações e
perícias de engenharia para apurar: 1) se havia desequilíbrio econômico e financeiro pendente
de ajuste entre as Partes, à luz dos fatos e documentos carreados aos autos pelas Partes; 2)
qual era o saldo devido a título de reequilíbrio econômico-financeiro atualizado à data do
1
Lei nº 9.307 de 23/09/1996: Dispõe sobre a arbitragem; Art. 1º - As pessoas capazes de contratar poderão valer-
se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis.
2
Nos casos que envolvem a administração pública, a arbitragem deve ser necessariamente de direito, conforme o
parágrafo 3º do Art. 1º da Lei 9.307/1996 modificada pela Lei nº 13.129/2015.
15
laudo, se houvesse; 3) esclarecer se houve ingerência indevida das Partes na escolha a cargo
da Prefeitura de Poço Seco de um novo terreno para construção de ETE.
Portanto, juntamente com a autorização, a CAEPIRA recebeu uma dotação orçamentária a ser
cumprida, com os respectivos projetos e os padrões a serem atendidos. Com base nestes
parâmetros iniciais, a CAEPIRA propôs ao ministério um plano detalhado de obras, para que
se obtivesse o melhor aproveitamento3 da verba disponível e de forma a proporcionar o maior
alcance social, em termos de benefícios à população a ser atendida, tendo recebido a
respectiva aprovação, com ordem de início imediato de implantação.
Logo em seguida, a CAEPIRA iniciou um processo de licitação pública, cujo edital e anexos
que previam a adesão incondicional dos proponentes aos seus termos e condições,
contemplava a construção por empreitada de preços unitários, das obras do Plano de
Expansão definidas conforme a dotação orçamentária aprovada e com base nos projetos
básicos e especificações técnicas do agente financiador, o FIADO. As propostas dos licitantes
foram recebidas em final de outubro de 2001, seguida de abertura pública, da qual sagrou-se
3
De acordo com o marco legal que regula a concessão da CAEPIRA, os ativos pertencem ao poder concedente e
a concessionária tem o direito de explorar o serviço público por um período de 30 anos. As tarifas para operar e
manter o sistema são reguladas pela agência governamental correspondente.
16
vencedora a CUSTOSA, pelo critério de menor preço, conforme a Lei 8.666/93. Não houve
questionamento ou impugnação do edital pelos licitantes, durante o processo licitatório.
De acordo com o convênio tripartite, firmado entre o órgão financiador FIADO, o Ministério
das Regiões Secas e o Município atendido, ficaria a cargo da municipalidade a definição e a
disponibilização dos terrenos onde seriam construídas as instalações da barragem de captação,
as estações de tratamento e o reservatório elevado, bem como, a eventual faixa de servidão
necessária para as adutoras e o local para a construção da ETE. A CAEPIRA figurava como
interveniente no acordo de convênio, ficando responsável pela Gestão do Projeto de
Implantação e pela Operação e Manutenção das Instalações, depois de concluídas, sendo
remunerada por uma tarifa de serviço público de água e esgoto, sujeita à modicidade tarifária
regulada pela agência correspondente e a ser cobrada dos usuários do sistema.
1.1.3. Breve histórico das relações entre as Partes e dos desvios ocorridos
Ocorreu, entretanto, que nenhum desses pré-requisitos foram atendidos nos tempos previstos,
embora a Contratada tenha cumprido sua parte, quanto à mobilização dos recursos de mão de
obra e equipamentos previstos, logo após a ordem de início pleno da Contratante.
Como não poderia ser diferente, as relações entre as Partes sempre foram amistosas e
construtivas, tentando contornar as dificuldades, à medida que se apresentavam. Várias
medidas mitigadoras foram adotadas, como a antecipação de algumas etapas construtivas que
não dependiam de projetos novos ou licenças específicas, a execução de alguns serviços
extras mesmo sem amparo contratual, bem como, a desmobilização parcial do efetivo, por
iniciativa unilateral da Contratada, para a contenção de custos e diante das recorrentes
indefinições da Contratante, que impediam o andamento normal das obras.
Como responder às questões formuladas pelo MM. Juízo Arbitral relativas à apuração do
desequilíbrio econômico e financeiro (“DEF”) contratual, à luz dos fatos e documentos dos
autos, utilizando os conhecimentos adquiridos no curso de Pós-graduação em Avaliações e
Perícias de Engenharia? No papel de longa manus4 que compete ao expert de engenharia
como especialista em avaliações e perícias, como aplicar os instrumentos da engenharia legal
para oferecer ao MM. Juízo Arbitral os subsídios técnicos que definam as questões de mérito
e da asserção de direitos ou quantias devidas de uma parte à outra (“quantum debeatur”), de
forma segura e precisa, para a adequada fundamentação da sentença arbitral?
4
“Longa Manus”: O Perito é considerado a “mão alongada” e o homem de confiança do juiz, seu braço direito,
seus olhos e ouvidos, e sempre que o juiz tenha dúvida por determinada matéria vai nomear este profissional;
que de forma honrosa deverá aceitar a nomeação, cumprir com o determinado e emitir seu laudo para que o juiz
consiga dar sua sentença. (Fonte: APEJESP https://www.apejesp.com.br/paginas.aspx?id=49 )
18
O autor acredita que o tema do DEF é recorrente na maioria dos contratos de empreitada,
entretanto, é um assunto muito pouco estudado e difundido no meio acadêmico, razão pela
qual entende que este trabalho possa contribuir para o debate e a construção de conhecimento
a respeito. Depois de cotejar as principais fontes de consulta disponíveis, para reunir os
ensinamentos dos respectivos autores5 e aplicá-los num caso prático, o autor acredita ter
trazido novas perspectivas que acrescentam valor a estas fontes primárias, constituindo-se em
um elemento adicional de consulta e um roteiro prático para novos estudos sobre o tema,
objetivando-se a validação e o contínuo aperfeiçoamento das melhores práticas recomendadas
para a justa e isenta apuração dos DEF em contratos de obras de engenharia.
Após a revisão das fontes bibliográficas mais relevantes para o estudo de caso objeto deste
trabalho, estabeleceu-se um roteiro que define passo a passo a sequência das atividades
periciais e da avaliação do DEF, que se encontra resumido no diagrama da Figura 1 abaixo:
RESUMO
INTRODUÇÃO
Contextualização
Objetivo da Pesquisa
REFERÊNCIAL TEÓRICO
Norma IBAPE 003/14
Outras Fontes
CONCLUSÃO
Referências
Anexos
5
Destaca-se aqui os estudiosos do assunto e autores de um conjunto de melhores práticas, cujas recomendações
foram reunidas sob a forma de uma norma adotada pelo IBAPE – Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de
Engenharia, como Norma IBAPE 003/2014 para o Cálculo do DEF de Contratos de Obras de Engenharia.
19
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Para a adequada fundamentação deste trabalho foi realizada extensa revisão de literatura,
buscando-se reunir o referencial teórico e normativo aplicável ao caso ora em estudo,
notadamente quanto à avaliação de desequilíbrio econômico-financeiro (DEF) de contratos de
obras de engenharia, bem como, realizadas consultas a fontes complementares envolvendo leis,
normas e regulamentos, análise econômica e matemática financeira, práticas orçamentárias,
técnicas estatísticas, além de levantamentos em bancos de dados de preços e indicadores
econômico-financeiros.
2.1 A Norma 003 do IBAPE (2014) e o Método Comparativo dos Cenários Contratuais
O DEF corresponderá simplesmente à diferença PV3 – PV2, calculado aos preços da mesma
data-base contratual. Em princípio, os custos unitários do pacto original, que compõem o CT1,
bem como o BDI, salvo alterações estruturais da sua natureza ou especificação ou da
conjuntura do mercado, devem ser mantidos ou retroagidos para a data-base, conforme o caso;
portanto, avalia-se o impacto da variação das quantidades para cada item do objeto contratual.
No caso da mão de obra direta (MOD) e dos veículos, máquinas e equipamentos (VME),
comparam-se as quantidades do histograma da proposta ou do contrato, com a quantidade
efetiva de recursos alocados, conforme anotados em Diário de Obras e validados pela
Fiscalização do Contratante, quando tais informações estão disponíveis. Quando estas
20
informações não estão disponíveis, a Norma prevê que o avaliador pode recorrer à
reconstrução do orçamento do escopo e prazo original (Cenário 1) e do escopo e prazo real
(Cenário 2) utilizando o Método Evolutivo Direto, para enfim compará-los na mesma base de
referência de preços, justificando a sua análise e conclusões.
Tisaka (2011) igualmente trata da fundamentação técnica, baseada nos conceitos da engenharia
econômica e de custos, destacando a importância de uma clara e prévia fundamentação legal,
para que se produzam os efeitos da previsão constitucional7 relacionada à manutenção do
equilíbrio econômico-financeiro dos contratos, a partir das condições efetivas da proposta
original. Mais detalhadamente, Tisaka (2011) especifica uma série de documentos que compõe
a equação econômico-financeira inicial do contrato, dentre eles o edital de licitação e todos os
seus anexos, a proposta de preços e o próprio contrato assinado entre as partes.
Os contratos administrativos são os contratos firmados por particulares com o setor público,
nas esferas federal, estadual e municipal e são regidos pela Lei 8.666/93 – Lei de Licitações e
Contratos. Esta lei estabelece as inúmeras hipóteses de variação de escopo e de prazo dos
contratos, que ensejam a possibilidade de revisão do preço contratual, para fins de reequilíbrio
econômico-financeiro. O Art. 57 - § 1º, define os casos admissíveis de prorrogação de prazos,
assegurada a manutenção do equilíbrio contratual e consonante com a previsão constitucional,
quando não há culpa do Contratado e, particularmente, na ocorrência de: i) alteração do projeto
ou de especificações pela Administração; ii) superveniência de fato excepcional ou
imprevisível, estranho à vontade das partes; iii) interrupção da execução do contrato ou
diminuição do ritmo de trabalho por ordem e interesse da Administração; iv) impedimento de
6
A Norma 003 estabelece sistema de pontuação pelo nível de detalhe da documentação probatória disponível:
Grau de Fundamentação III (ALTA ≥ 70 pontos); II (MÉDIA=40 a 60 pontos) e I (BAIXA ≤30 pontos).
7
O Artº 37 – alínea XXI da Constituição Federal de 1988 prevê que o contrato firmado com a Administração
deve ter cláusulas que assegurem a manutenção das condições efetivas da proposta que lhe der origem.
21
execução do contrato por fato ou ato de terceiro, reconhecido pela Administração; v) omissão
ou atraso de providências por parte da Administração, inclusive quanto aos pagamentos
previstos, entre outros. (TISAKA, 2011)
Ademais, Tisaka (2011) aponta como os índices de produtividade, os custos de mão de obra
produtiva, veículos e equipamentos e da administração da obra são sensíveis ao fator tempo, e
ensina como se devem calcular os efeitos da alteração de prazos sobre os custos diretos e
indiretos de execução das obras ou serviços, de forma a medir o desequilíbrio contratual.
3 METODOLOGIA
A metodologia utilizada neste trabalho, segundo Bertucci (2008), é do tipo explicativa, pois
tem o intuito de identificar os fatores que determinaram ou contribuíram para a ocorrência de
fenômenos adversos, no caso desvios de custos e prazos, que caracterizam situação de
desequilíbrio econômico-financeiro da relação contratual, de forma a permitir análise de
mérito e o estabelecimento do nexo de causalidade capaz de fundamentar a atribuição de
responsabilidades e a asserção de direitos.
O Cenário 1 deverá refletir o pacto original das partes e a respectiva equação do equilíbrio
contratual inicial, cujos principais componentes são os termos e condições do contrato8 e seus
anexos, com a respectiva planilha de quantidades e preços e o cronograma físico-financeiro
contratual, além das especificações técnicas, histogramas de mão de obra e equipamentos,
composições analíticas dos preços unitários contratuais e a indicação do percentual de BDI,
com respectiva abertura.
O Cenário 2 será construído pelo perito e avaliador a partir das medições mensais dos serviços
efetivamente executados, com respectivos detalhamento de quantidades, além dos registros
dos Diários de Obras em relação ao efetivo de pessoal e equipamentos disponibilizados e de
toda e qualquer ocorrência relevante inerente à execução dos serviços, como eventuais atrasos
do Contratante em relação à entrega dos projetos executivos (se for o caso), atraso na
liberação das licenças ambientais e da entrega do local das obras desimpedido para o seu
início efetivo, alteração de escopo ou especificação no interesse da Administração, atrasos de
pagamentos, condições do tempo e eventos atípicos, entre outros. Eventuais atas de reunião de
planejamento e coordenação e correspondências entre as partes, também são documentos
relevantes a serem levados em consideração pelo perito e avaliador.
Concluídas as análises devidamente justificadas dos cenários e apurado o DEF, na quarta fase
serão compilados o Grau de Fundamentação da Avaliação e o Grau de Impacto do DEF.
8
Em geral, para os contratos administrativos, tudo se origina de um processo de licitação pública a partir de um
projeto básico e orçamento estimativo para o escopo desejado, para o qual os proponentes ofertam seus preços,
sob a condição de adesão incondicional aos termos do edital, sob pena de desclassificação da sua proposta.
9
Através da sua especialização em um campo específico de conhecimento, o perito e avaliador é considerado o
“braço estendido” (longa manus) do julgador, naquele campo específico.
10
“Quantum debeatur” refere-se à quantia apurada na avaliação correspondente ao saldo devido por uma parte à
outra para o reequilíbrio contratual.
24
Realizou-se o levantamento de dados através do estudo dos documentos dos autos, contendo o
termo de arbitragem, as ordens processuais e as manifestações, com respectivo lastro
probatório carreado pelas Partes, relevantes para a análise dos fatos e para a apuração do
eventual desequilíbrio econômico-financeiro (DEF) contratual, objeto desta avaliação.
Procurou-se observar a ordem lógica, preferencialmente a cronologia dos fatos, tanto quanto
possível, para a construção dos cenários contratuais, como recomenda o IBAPE (2014) e,
destarte, extraiu-se do acervo fático disponível todas as informações necessárias para o
atendimento dos requisitos da referida norma, que serão aqui reproduzidas na sequência
correspondente, começando pela construção do Cenário 1, que reproduz o pacto original das
Partes, com todos os elementos definidores da equação do equilíbrio contratual, para, em
seguida, construir-se o Cenário 2, conforme realmente ocorrido, a partir dos registros dos
Diários de Obras, Atas e Correspondências, bem como, dos boletins mensais de medições dos
serviços efetivamente executados, atestadas pela Fiscalizadora da Contratante.
Por último, o Cenário 3 será construído para restabelecer a equação do equilíbrio estabelecido
no pacto original das Partes, caso de fato se caracterize o DEF em desfavor de uma delas.
• Planilhas de Quantidades
• Projeto Básico
• Especificações Técnicas de Materiais e Serviços de Construção
• Especificações dos Padrões de Qualidade, Segurança e Meio Ambiente
• Critérios de Medições, Pagamentos e Reajuste de Preços
• Requisitos de Qualificação Técnica Mínima dos Proponentes
b) Contrato e seus anexos firmados pelas Partes contendo:
• Condições Contratuais Gerais e Particulares (Dados do Contrato)
• Planilhas de Quantidades e Preços Unitários e Totais
• Cronograma Físico-financeiro
• Histogramas de Mão de Obra e Equipamentos
• Estrutura Analítica do Projeto e Composições Analíticas de Preços Unitários
• Taxa e Composição do BDI
• Composição dos Encargos Sociais
4.2.1 Resumo do Contrato e seus Anexos (assinado logo após adjudicação em 30/11/2001)
As Planilhas de Quantidades e Preços completas com todos os detalhes para cada uma das
atividades e funções acima estão disponíveis no ANEXO I deste trabalho.
300.000
100,0%
100,0%
290.000
80,0%
280.000
270.000 60,0%
260.000
40,0%
250.000
20,0%
240.000
230.000 0,0%
MÊS 1 MÊS 2 MÊS 3 MÊS 4 MÊS 5 MÊS 6 MÊS 7 MÊS 8 MÊS 1 MÊS 2 MÊS 3 MÊS 4 MÊS 5 MÊS 6 MÊS 7 MÊS 8
NOV/02
MAR/03
AGO/02
AGO/03
OUT/02
ABR/02
MAI/02
ABR/03
MAI/03
JUN/02
JUN/03
DEZ/01
FEV/02
DEZ/02
FEV/03
R$/H
JAN/02
JAN/03
SET/02
SET/03
R$/mês
JUL/02
JUL/03
Item set/2001
DIRETA [PARCELA MO1]
c/enc
mês --> 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
656.902
Maqs/mês
PRÓPRIO x
Efetivo: Veículos, Máqs e
MAR/02
NOV/02
MAR/03
Próprio ou R$/mês
AGO/02
AGO/03
LOCAÇÃO
OUT/02
ABR/02
ABR/03
MAI/02
MAI/03
JUN/02
JUN/03
DEZ/01
FEV/02
DEZ/02
FEV/03
JAN/02
JAN/03
SET/02
SET/03
JUL/02
JUL/03
Locação R$/ locação
Item Equipamentos [PARCELA mês sem comb c/comb e
VE1] e sem operad operadr
221.142
26.860
27.898
27.898
27.898
27.898
27.898
27.898
26.891
BDI% 26,81%
( ¹) Administração Local está separada na Planilha A como custo indireto a ser medido
Fonte: Elaborado pelo autor, 2021
O percentual médio e a respectiva composição dos encargos sociais aplicados aos salários dos
funcionários da CUSTOSA para a composição dos preços unitários estão detalhados no
ANEXO III e consideram uma jornada semanal de 44 horas e uma média de 5 horas extras
semanais por funcionário, resultando em um percentual total de 142,46%.
4.2.6 Reajustamento de Preços (condição eventual em caso de prazo maior que 12 meses)
29
Mesmo sem eficácia em relação à condição original contratada, por prudência, o Contrato
prevê uma fórmula paramétrica para fins de reajustamento de preços, na eventualidade de que
por algum motivo o prazo total ultrapassasse o período de 12 (doze) meses:
α = Índice de incidência média dos custos dos materiais conforme EAP do Projeto
β = Índice de incidência média dos custos de mão de obra conforme EAP do Projeto
γ = Índice de incidência média dos custos de veículos, máquinas e equipamentos conforme EAP do Projeto
M e M0 = Índice do INCC - Coluna 2 - Materiais publicados pela FGV, no mês do reajuste e no mês da data-base, respectivamte
MO e MO0 = Índice do INCC - Coluna 1 - Mão de Obra publicado pela FGV, no mês do reajuste e no mês da data-base, respect
VE e VE0 = Ìndice do IPA-DI - Coluna 13 - Véculos, Máqs e Equipamentos da FGV, no mês do reajuste e no mês da data-base
A estrutura analítica do projeto definida a partir das composições analíticas dos preços
unitários e quantidades estimadas do Contrato estão demonstradas no ANEXO IV tendo
resultado as seguintes incidências médias dos fatores de custos:
Obs.: ¹ A composição de custos considera a regra do SINAPI Sistema Nacional de Preços e Índices da
CEF/IBGE pela qual os custos dos operadores estão incluídos na mão de obra direta e os custos dos
combustíveis e lubrificantes estão incluídos como materiais.
Fonte: Elaborado pelo autor, 2021
De acordo com o IBAPE (2014), a equação inicial do equilíbrio contratual é assim definida:
Ao mesmo tempo, de acordo com a Planilha Resumo Geral mostrada acima no Quadro 1
acima, temos que o Preço de Venda total é:
Portanto, o Custo Total = CT = PVT / (1+ BDI%) e como o BDI = 26,81% (Quadro 4 acima)
então o Custo Total também pode ser expresso como:
A alteração unilateral de qualquer um dos membros desta equação dará origem a uma
inequação, com quebra do pacto original e ocorrência de DEF em desfavor de uma das partes.
31
Pelos dados compilados a partir da pesquisa nos autos, ao longo de 22 (vinte e dois) meses
que correspondeu ao período do andamento da gestão contratual e execução das obras,
conforme comprovado pelas respectivas medições de serviços atestadas pela Fiscalização da
CAEPIRA, com início em Dez/2001 e término em Set/2003, resulta o seguinte a valor P0:
Quadro 9 – Evolução do avanço das obras com base nas medições mensais
HISTÓRICO DE MEDIÇÕES E PAGAMENTOS (A preço fixo/irreajustável)
Período de Valor da Medição Avanço¹ Avanço Pagtos²
Mês Acumulado
medição R$ % % Atraso (dias)
1 dez/01 33.332,39 1,5% 33.332,39 1,5% 3,0
2 jan/02 56.934,31 2,5% 90.266,70 4,0% -9,0
3 fev/02 79.833,06 3,5% 170.099,76 7,6% 7,0
4 mar/02 273.643,52 12,2% 443.743,28 19,7% -13,0
5 abr/02 169.085,02 7,5% 612.828,30 27,2% -10,0
6 mai/02 88.112,79 3,9% 700.941,09 31,2% -24,0
7 jun/02 231.083,70 10,3% 932.024,79 41,4% 31,3
8 jul/02 197.870,77 8,8% 1.129.895,56 50,2% 37,0
9 ago/02 100.062,93 4,4% 1.229.958,49 54,7% 37,0
10 set/02 207.697,86 9,2% 1.437.656,35 63,9% 15,1
11 out/02 14.853,23 0,7% 1.452.509,58 64,6% 16,0
12 nov/02 77.612,63 3,4% 1.530.122,21 68,0% -6,0
13 dez/02 98.903,34 4,4% 1.629.025,55 72,4% -37,0
14 jan/03 172.784,81 7,7% 1.801.810,36 80,1% -3,0
15 fev/03 111.528,10 5,0% 1.913.338,46 85,0% 9,0
16 mar/03 95.349,45 4,2% 2.008.687,91 89,3% 15,0
17 abr/03 120.672,49 5,4% 2.129.360,40 94,6% 9,2
18 mai/03 247.413,38 11,0% 2.376.773,78 105,6% 0,2
19 jun/03 113.711,85 5,1% 2.490.485,63 110,7% 111,6
20 jul/03 37.797,33 1,7% 2.528.282,96 112,4% -24,0
21 ago/03 100.934,82 4,5% 2.629.217,78 116,9% -32,0
22 set/03 183.282,22 8,1% 2.812.500,00 125,0% 50,3
¹ % em relação ao escopo original; ² Dias contados do vencimento da fatura. Nº negativo = antecipação
Fonte: Elaborado pelo autor, 2021.
Em relação aos recursos de mão de obra direta de produção, bem como, veículos, máquinas e
equipamentos mobilizados e mantidos pelo Contratado no curso das obras, segundo os
registros dos Relatórios Diários de Obras (RDO) atestados pela Fiscalização do Contratante,
constata-se o seguinte (Quadros 10 e 11 abaixo):
NOV/02
MAR/03
AGO/02
AGO/03
OUT/02
ABR/02
MAI/02
ABR/03
MAI/03
FEV/02
JUN/02
FEV/03
JUN/03
DEZ/01
DEZ/02
R$/H
JAN/02
JAN/03
SET/02
SET/03
R$/mês
JUL/02
JUL/03
Item set/2001
DIRETA [PARCELA MO2]
c/enc
mês --> 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
75.070,00
98.039,00
98.039,00
73.487,00
58.374,00
53.266,00
48.767,00
48.767,00
65.950,00
65.950,00
65.950,00
47.651,00
VALOR DO CUSTO
329.780
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
MENSAL DA MÃO DE
R$/HH
OBRA DIRETA
3,1087
Fonte: Elaborado pelo autor, 2021
33
Maqs/mês
PRÓPRIO x
Efetivo: Veículos, Máqs e
MAR/02
NOV/02
MAR/03
Próprio ou R$/mês
AGO/02
AGO/03
LOCAÇÃO
OUT/02
ABR/02
ABR/03
MAI/02
MAI/03
JUN/02
JUN/03
DEZ/01
FEV/02
DEZ/02
FEV/03
JAN/02
JAN/03
SET/02
SET/03
JUL/02
JUL/03
Locação R$/ locação
Item Equipamentos [PARCELA mês sem comb c/comb e
VE2] e sem operad operadr
482.389
17.513
22.538
29.709
37.057
37.057
36.066
33.680
36.673
34.854
34.854
34.854
34.854
34.854
19.275
19.275
19.275
MÉDIO MÁQ./MÊS DE 84.920
0
0
0
0
VEÍCULOS, MÁQUINAS E R$HxM
EQUIPAMENTOS 5,6805
Nota-se que há lacunas na sequência dos registros dos Diários de Obras para os meses de abril
e novembro de 2002 e janeiro, julho, agosto e setembro de 2003, para os quais não foi
possível compilar os dados originais, atestados pela Fiscalização. Entretanto, conforme se
extrai do Quadro 9, há registro de produção e medição de serviços nestes mesmos meses e,
logo, não é plausível a hipótese de que não houve efetivo de mão de obra direta e veículos e
equipamentos trabalhando nesses meses.
Consta que, logo após o término das obras, dizendo-se em situação econômico-financeira
insustentável e já quase pré-falimentar, a empreiteira CUSTOSA tentou pela via amigável
sensibilizar a sua Contratante CAEPIRA, no sentido de reparar um colossal prejuízo
acumulado ao longo da execução do Contrato, decorrentes, segundo ela, de incontáveis atos e
omissões da Administração, notadamente causadores de seguidos atrasos nas obras e do
incurso em elevada improdutividade dos recursos mobilizados para o cumprimento do seu
objeto contratual. Em seu pleito formulado em maio de 2004, a CUSTOSA anexou um
demonstrativo dos seus prejuízos e dizendo-se disposta a uma negociação, tendo como base o
seguinte:
34
A CAEPIRA, por seu turno, manifestou estranheza quanto ao pleito absurdo e extemporâneo
da CUSTOSA, representando mais de 100% do valor original do Contrato e tendo em vista
que as Partes firmaram o Termo Aditivo nº1 ao Contrato, pelo qual, no entendimento da
CAEPIRA, todos os custos adicionais haviam sido contemplados.
Em favor da sua tese, a CAEPIRA trouxe princípios jurídicos para minimizar o fato de que a
solução arbitral estar prevista no Contrato firmado entre as Partes, alegando que, todavia,
havia sido um equívoco, e que as condições do edital de licitação foram influenciadas pelo
órgão financiador multilateral, que adota regras internacionais, mas de pouco uso no Brasil.
35
Além do mais, não havia no Contrato uma cláusula compromissória específica, com a
definição da câmara arbitral e das regras do processo, o que demandaria um novo acordo entre
as Partes e, por estes motivos, não teria como anuir com tal pretensão da CUSTOSA.
Essa negativa, levou a CUSTOSA a recorrer à Justiça comum, apresentando as suas razões
para fazer valer a previsão contratual e obrigar a CAEPIRA a acatar e anuir ao procedimento
arbitral. Em razão do questionamento levantado pelos patronos da CAEPIRA sobre a eventual
inaplicabilidade da lei de arbitragem no Brasil para o setor público, esse processo percorreu
todas as instâncias do Judiciário Brasileiro, ao longo de mais de 15 anos, indo parar no STF11.
Pelo que consta, a CAEPIRA utilizou-se de todos os recursos e expedientes protelatórios
disponíveis, mas ao final teve que acatar a decisão judicial favorável à CUSTOSA. A
sentença judicial confirmou a indicação da câmara regional da CANETA, com respectivo
regulamento, e, também, já nomeou o Árbitro Único, Dr. Leonino Raposo, para presidir o
procedimento arbitral e resolver a contenda.
11
O STF Supremo Tribunal Federal é a corte máxima do Brasil e que tem competência para esclarecer a respeito
de questões de constitucionalidade e cujas decisões têm repercussão geral, como jurisprudência.
36
Após analisar as razões e os documentos arrolados pela Partes aos autos, o Árbitro Único
percebeu que haviam questões técnicas específicas e complexas para serem esclarecidas, que
demandavam o conhecimento de um expert, perito e avaliador de engenharia. Destarte,
determinou às Partes que o escolhessem por consenso, no prazo de 15 (quinze) dias, caso
contrário, o mesmo seria escolhido pelo Tribunal Arbitral, por sorteio, dentre os peritos
associados do IBAPE e cadastrados na câmara regional da CANETA, na especialidade de
engenharia civil. Por fim, através de uma ordem processual, o Juízo Arbitral nomeou o Perito
de consenso das Partes, no caso, este autor, solicitando às Partes que apresentassem os seus
quesitos técnicos, bem como definiu mais precisamente o objeto da perícia:
Com base na pesquisa realizada nos autos (fls. 0001 a 2701) e em diligências posteriores junto
às Partes, depois de decorridos mais de 15 (quinze) anos do término e entrega das obras, a
perícia constatou o seguinte cenário:
a) Todo o acervo probatório disponível nos autos, havia sido carreado pela Parte
Requerente e, mesmo assim, apesar do esforço empreendido pelo perito em diligências
junto às Partes, algumas deficiências, como o desaparecimento de parte dos Diários de
Obras, não puderam ser sanadas; a Requerida alegou que, em razão do tempo
decorrido, das sucessivas administrações e mudança do local da sede da companhia,
toda a documentação relativa ao Contrato havia sido perdida ou destruída;
FIADO
Orgão Financiador
CONVÊNIO DE
CRÉDITO
MINISTÉRIO DAS
REGIÕES SECAS
CONVÊNIO TRIPARTITE
DEPARTAMENTO CONCESSIONÁRIA PREFEITURA
DE CONCESSÕES ÁGUA E ESGOTO MUNICIPAL DE
DE PROJETOS CAEPIRA POÇO SECO
PROJECA FEIA
Projetista Orgão Licenciador
COISA ARRASA
Fiscalizadora Orgão Regulador
CONTRATO DE EMPREITEIRA
EMPREITADA CONTRATADA
CUSTOSA
l) Além disso, após o decurso de 12 meses do início das obras, portanto, a partir de
set/2002, a Requerente CUSTOSA passou a reclamar da Requerida CAEPIRA, através
de sucessivas cartas, o reajustamento das medições mensais, com base na fórmula
contratual; a CAEPIRA sempre respondeu que o reajuste não era previsto em contrato
e não havia verba suficiente para tal, mas que o assunto já havia sido levado ao
conhecimento do Ministério e do FIADO para deliberações a respeito;
4.6.1 Análise Gráfica Comparativa da Receita Total Prevista (PV1) x Realizada (PV2)
350.000,00
300.000,00
250.000,00
200.000,00
150.000,00
100.000,00
50.000,00
0,00
Realizado Previsto
1.500.000,00
1.000.000,00 175%
50% ACRÉSCIMO DE
PRAZO
500.000,00
0,00
Com base nos dados compilados tem-se que a Receita Total (PV) para cada Cenário é:
CENÁRIO 1 → PREÇO DE VENDA PROPOSTO = PV1 = R$ 2.250.000,00
CENÁRIO 2 → PREÇO DE VENDA RECEBIDO = PV2 = R$ 2.812.500,00
Analisando o Gráfico 3 acima, nota-se que o prazo total das obras se estendeu por 22 meses,
conforme as medições atestadas pela Fiscalização da CAEPIRA, com acréscimo de 14 meses
em relação ao prazo original de oito meses. Analisando o detalhamento da Planilha “A” do
Contrato, do Quadro 7 acima, relativa aos itens do Custo Indireto, tem-se que a única parcela
variável com o tempo de execução das obras é a Administração Local e apoio logístico, cujo
custo mensal de R$ 23.720,48 deverá ser mantido para o Cenário 2.
Logo, o custo indireto total real a valores históricos da data-base é detalhado no Quadro 14:
De acordo com a definição do item 11.1 – “a” – Modelo Matemático por Valor/Hora-Médio
da Norma IBAPE 003/2014, comparamos inicialmente os dados dos Histogramas de Mão de
Obra Direta (MOD) e Veículos, Máquinas e Equipamentos (VME), mensais acumulados, em
termos de quantidades médias de Homens x Mês e Máquinas x Mês, para os Cenários 1
(Original) e 2 (Realizado), resultando os Gráficos 4 e 5 abaixo:
Realizado Previsto
Realizado Previsto
Em relação ao Critério 1 acima, Mattos (2010, pgs. 240 a 244) nos ensina que:
“Uma solução ideal... deve ser buscada para distribuir mais razoavelmente os investimentos e
otimizar a quantidade de recursos alocados. O desenvolvimento dessa solução é conhecido
como nivelamento de recursos. O nivelamento de recursos é o processo de suavização do
histograma que gera uma distribuição mais uniforme. Busca-se por meio do nivelamento
atenuar grandes oscilações no histograma, tornando-o mais plano. O procedimento básico do
nivelamento é intuitivo e direto — consiste em “deslizar" as atividades não críticas dentro de
seu limite de folga e buscar a condição de melhor uniformidade da quantidade de recursos
requeridos em cada instante. (grifo nosso)
Pelo Critério 2, ainda que possa haver pequenas distorções de produção e produtividade
média de um mês para outro, ou represamento de medições, sabe-se que através da equação
da reta definida pela regressão linear, para a totalidade do período em análise, há uma
tendência de aplainar estas variações pontuais, admitido o nível de confiança desejado. Assim,
pode-se utilizar esse método adotando-se um redutor de 0,95 (margem de segurança de 5%
arbitrada) sobre o valor correspondente à reta de inferência, com a certeza de estar muito
próximo da realidade e sem o risco de prejudicar a Parte Requerida, já que o ônus da prova é
da Requerente.
Segue no Quadro15 a reconstituição dos histogramas de MOD e VME com os critérios acima:
No Quadro 16, o mesmo foi feito para a reconstituição do histograma de VME para 22 meses.
No item 4.2.8 acima, definiu-se a equação do equilíbrio original do Contrato, como segue:
Após a análises e demonstrações com base nos cálculos realizados, tem-se que houve uma
variação dos elementos da equação original de forma desuniforme ou desbalanceada, a saber:
Segue no Quadro 18 o resumo das análises realizadas para os três cenários definidos pela
Norma IBAPE 003/2014:
50
(*) A PREÇOS UNITÁRIOS FIXOS ORIGINAIS DO CONTRATO (SEM REAJUSTE) ¹ Aditivo 2 / ANEXO V
FONTE / REF.: METODOLOGIA DA NORMA IBAPE 003/2014
Nota-se que no Cenário 2, com o acréscimo no escopo de serviços em 25%, objeto do Termo
Aditivo 1, houve uma pequena variação nos índices de incidência dos fatores de custos α, β e
γ para materiais, mão de obra direta e veículos e equipamentos, respectivamente. Por seu
turno, conforme detalhado nos Quadros 7 e 14 acima, o custo indireto variou de R$
287.831,65 (Cenário 1) para R$ 619.918,41 (Cenário 2) em razão da dilação de prazo das
obras de 8 para 22 meses, pelos motivos já esclarecidos. Os custos da mão de obra direta e de
veículos e equipamentos variaram de R$ 656.901,99 e R$ 221.142, 02 para R$ 1.372.596, 54
e R$ 652. 350, 09, respectivamente, conforme Quadros 8 e 17 acima. Entretanto, para o custo
dos materiais houve variação de aproximadamente 25%, de R$ 608.429,05 para R$
758.671,37 ou seja, variação na mesma proporção do escopo acrescido e pago através do
Termo Aditivo 1 e, portanto, pode-se confirmar que não houve desequilíbrio econômico em
relação à parcela de MATERIAIS componente da equação de equilíbrio original, o que pode
ser comprovado no Quadro 18 acima, onde PVMAT2 = CDMAT2 + BDI = R$ 962.072,96.
4.6.5 Cálculo do DEF segundo o modelo da Tabela 1 da Norma IBAPE 003/14 a valor P0
51
Descrição % Sobre Prazo Valor % Sobre Prazo Valor % Sobre Prazo Valor
Preço de venda
mês A B C
calculado
Administração
23.720 8 189.764 23.720 22 521.851 23.720 22 521.851
local
Administração
7,0% CD+AL 124.113 7,0% CD+AL 155.141 7,0% CD+AL 238.077
central
Despesas gerais 4,0% CD+AL 71.260 4,0% CD+AL 89.079 4,0% CD+AL 136.700
Lucro bruto 8,0% CD+AL 141.945 8,0% CD+AL 177.430 8,0% CD+AL 272.283
Desequilíbrio ∑ (C – B) 1.503.532,56
Depois de avaliado o DEF a valor P0, a perícia deve considerar também as atualizações
econômico-financeiras dos saldos contratuais devidos e não pagos no devido tempo, tudo isso
à luz dos fatos, das condições contratuais e princípios legais aplicáveis para a correção
monetária, decorrente da desvalorização da moeda ou perda do seu poder de compra por
efeito da inflação, bem como, dos juros moratórios, que visam a remunerar o credor pelo
tempo de espera e das oportunidades perdidas, em razão do retardamento do cumprimento
das obrigações pelo devedor, e que são calculados a partir da sua constituição em mora.
(VASCONCELOS, 2018 - pg 80).
De acordo com o pacto original das Partes e conforme indicado no Resumo do Contrato do
item 4.2.1, apesar de dispor de uma fórmula paramétrica para reajuste de preços, o preço
contratual avençado era fixo e irreajustável, porquanto o prazo de execução original era de
12
Nota do autor: Nos cálculos, tabelas e quadros apresentados neste trabalho pode ocorrer pequenas variações
nos centavos devidas a arredondamentos.
52
apenas oito meses. Todavia, pelas razões já explicitadas e que não são atribuíveis à
empreiteira CUSTOSA, a execução das obras ultrapassou o período de 12 meses e, mesmo
assim, diante da insuficiência das verbas aprovadas e disponíveis, a Contratante alegou que a
Contratada foi beneficiada com o acréscimo de escopo de 25% e, por fim, que não teria como
reconhecer e pagar o reajuste de preços, insistindo na condição do pacto original quanto ao
preço fixo e irreajustável.
Há previsão na Lei 10.192 de 14/02/2001 (anterior à licitação do objeto desta análise pericial)
que rege os contratos administrativos, da admissibilidade da correção monetária ou o reajuste
por índices de preços, após o decurso de um ano conforme o Art. 2º dessa Lei; e também na
Lei de Licitações nº 8.666/93 no Art. 5º-§1º 13, Art. 40–inciso XI14 e Art. 55 – inciso III15 para
que o Contratado tenha direito ao reajuste de preços, devendo tal condição já vir expressa no
edital de licitação. Contudo, no caso particular do objeto desta análise pericial, há uma
previsão ao mesmo tempo de preço fixo irreajustável, e de uma fórmula paramétrica de
reajuste baseada em índices específicos, porém sem eficácia se considerada a condição
original de contratação, o que ensejará uma análise do mérito de direito, a cargo do Julgador.
Portanto, no âmbito da perícia técnica e da avaliação econômico-financeira, caberá ao Perito
apenas oferecer ao Julgador os cálculos correspondentes para auxiliá-lo na sentença, para o
caso de serem julgados aplicáveis e devidos.
13
Lei 8.666/93 – Art. 5º §1º - “Os créditos a que se refere este artigo terão seus valores corrigidos por critérios
previstos no ato convocatório e que lhes preservem o valor; § 2o A correção de que trata o parágrafo anterior
cujo pagamento será feito junto com o principal, correrá à conta das mesmas dotações orçamentárias que
atenderam aos créditos a que se referem”. (emendada pela Lei 8.883/94) (grifo do autor)
14
Lei 8.666/93 – Art. 40 Inciso XI “- critério de reajuste, que deverá retratar a variação efetiva do custo de
produção, admitida a adoção de índices específicos ou setoriais, desde a data prevista para apresentação da
proposta, ou do orçamento a que essa proposta se referir, até a data do adimplemento de cada parcela”.
15
Lei 8.666/93 – Art. 55 – “São cláusulas necessárias em todo contrato (administrativo) as que estabeleçam”:
[...] – inciso III “– o preço e as condições de pagamento, os critérios, data-base e periodicidade do reajustamento
de preços, os critérios de atualização monetária entre a data do adimplemento das obrigações e a do efetivo
pagamento”;
16
A Contratante emitiu o Certificado de Aceitação Provisória das obras em 30/09/2003 e o Certificado de
Aceitação Definitiva e Termo de Encerramento em 30/09/2004 depois de decorridos 12 meses do período da
garantia contratual
53
ETAPA1: Saldos Contratuais devidos (Reajuste de Preços e Juros por Atrasos): Partiu-se
dos cálculos já realizados a valor P0 e em seguida agregadas as componentes dos encargos
financeiros contratuais por atrasos de pagamentos, reajuste de preços para as medições
posteriores a agosto/2002 e assim por diante, conforme Quadro 20 abaixo:
componentes do PV3 para o Indireto (Planilha A), MOD e VME (Colunas L, N e P), que
resulta na atualização econômica do DEF em R$ 94.665,11 (Coluna R) e, por último, a
atualização financeira do DEF a P0 + Δ DEF (atualização econômica) = R$ 86.694,57 (Col.T)
para o Período 1, utilizando-se da variação da TR, conforme Contrato, em razão da sua
eficácia até o CAF. A atualização econômico-financeira AEF2 dos saldos devidos a título de
DEF, admitida a aplicação do reajuste pela fórmula do edital, após 12 meses, totaliza a
quantia de R$ 181.359, 69 (Coluna U).
O Período 2 (Quadro 19) é de 195 meses, com início em outubro/2004 e até a data final da
valoração em curso ou data atual, considerada como dezembro/2020. O IBAPE (2014, pg.19)
em seu item 11.1.1, estabelece que “toda a quantificação do desequilíbrio econômico
financeiro deve ser obrigatoriamente realizada na data-base do contrato, ficando assim
referenciada a data a partir da qual serão cabíveis os cálculos dos reajustamentos e
atualizações monetárias até a data final da Valoração.” Todavia, por se tratar de um caso
muito atípico, porque envolve o decurso de mais de 15 anos após o encerramento do Contrato,
o perito entendeu que para o Período 2 aplicar-se-iam os critérios legais do CCB/2002 e
jurisprudência formada perante os tribunais superiores brasileiros, não obstante, admitir que o
Julgador poderá entender de modo diverso e desconsiderar esta análise, a saber:
Ocorre, entretanto, que em relação aos contratos administrativos o tema é ainda mais
controverso, em razão da promulgação da Lei 11.960/2001 em junho/2009, estabelecendo-se
aí um divisor de águas para o tratamento das questões relativas da atualização das obrigações
da Fazenda Pública, no caso, modificando o Art. 1º F da Lei 9494/97:
Portanto, para os fins deste trabalho de natureza acadêmica, adotaremos o IPCA-E para a
atualização econômica e a SELIC para atualização financeira a título de juros moratórios:
Fonte: Banco Central do Brasil. Calculadora do Cidadão. Compilado pelo autor, 2021.
Com base nos índices de atualização econômica = 2,3503232 pelo IPCA-E e de atualização
financeira pela SELIC = 5,17701402 para o Período 2 conforme Quadro 23 acima, temos que
o DEF atualizado para 31/12/2020 é:
DEF0 / B 869%
4.8 Sobre a ingerência indevida das Partes na escolha do terreno da ETE Poço Seco
- Conforme já relatado no item 4.5 – “f”, o órgão licenciador ambiental exigiu como
condicionante para o licenciamento ambiental do sistema de água e esgoto de Poço Seco, que
o sistema de esgotos fosse dimensionado com uma previsão para atendimento do mesmo
número de residências servidas pela rede de distribuição de água tratada, por que até então, a
rede de esgotos atenderia somente a 50% delas e o restante deveria manter ou construir fossas
sépticas;
60
ocasião o Sr. Sokomi questionou que seria muito difícil encontrar outro lugar como aquele à
beira-rio, próximo da cidade; ademais, perguntou aos funcionários da Prefeitura quem iria
pagar o seu prejuízo pela interrupção ou até abandono do negócio, se aquilo se confirmasse?
PASTO POÇO
SECO
ETE?
TERRENO
B ETE ?
EMISSÁRIO
CAPTAÇÃO
Os terrenos A e B possuíam áreas equivalentes de 6.000m2, quase planos, com ligeiro declive
na direção do Rio Piraquara. O terreno “A”, pertencente à Prefeitura, situava-se numa região
de chácaras à beira-rio, dotado de um conjunto de bombas para captação de água, mas estava
cedido em regime de comodato oneroso por 30 anos, dos quais já havia decorrido apenas 5
anos, para uso exclusivo de plantação de hortaliças orgânicas, com a microempresa do Sr.
Sokomi Tomati. Além de R$ 5.000,00 de impostos municipais, o Sr. Sokomi pagava
mensalmente à Prefeitura R$ 10.000,00 pelo direito de uso exclusivo do terreno. A horta
vendia e entregava em média 2.000 unidades de hortaliças orgânicas por dia a R$ 1,50 por
unidade e o faturamento médio mensal chegava a R$ 90.000,00, com um lucro de 20%, ou R$
18.000,00 por mês. Por contrato, a Prefeitura teria a opção de romper o comodato a qualquer
tempo, com aviso prévio de 60 dias, porém, deveria indenizar o Sr. Sokomi, apenas por lucros
cessantes, já que não havia benfeitorias indenizáveis, isto é, as hortaliças produzidas seriam
62
vendidas e as estufas do Sr. Sokomi poderiam ser facilmente removidas e levadas para outro
local. O Sr. Sokomi já havia dado entrada na recém criada agência reguladora ARRASA
solicitando a outorga para uso da água do rio, para fins de irrigação das suas hortaliças. O
terreno B situava-se numa região de campo e pertencia ao dono da fazenda ao lado, local onde
havia funcionado uma indústria cerâmica, desativada há muito tempo, já praticamente
demolida e abandonada em ruínas. Não havia outras construções em volta, apenas pasto.
Pelos índices cadastrais da Prefeitura e suas referências de valores, o terreno B teria um custo
de desapropriação de R$ 300.000,00.
Após analisar a situação, a empreiteira CUSTOSA apresentou um quadro resumo das suas
considerações técnicas e de mercado imobiliário, a respeito da escolha do terreno, entre as
Alternativas A e B:
uma relação de R$ 300,00 para R$ 30,00 por m2, ou seja, 10 vezes maior. Portanto, apesar de
um pequeno acréscimo nas obras, o terreno B seria muito mais vantajoso para a Prefeitura, no
entender da empreiteira. Ainda, comentando as razões da Concessionária CAEPIRA sobre a
localização do Terreno B e do emissário de esgoto a montante do sistema de captação de água
da cidade, no ofício-resposta a CUSTOSA alegou que tal situação exigiria maior zelo da
Concessionária em devolver ao Rio Piraquara o esgoto tratado em condições de qualidade
compatível com os padrões internacionais, também em respeito a outras populações rio
abaixo, que se servirão da mesma água. O Engenheiro Residente da CUSTOSA relembrou
ainda que, por ocasião da Audiência Pública realizada em out/2001, uma das preocupações da
comunidade local era com a localização da ETE devido a mau cheiro proveniente dos
biodigestores e, neste caso, o Terreno B também seria o mais favorável, por estar mais
afastado da cidade.
Em sua defesa e pleito reconvencional no processo arbitral em tela, a Requerida alegou que a
Prefeitura de Porto Seco foi induzida a erro na escolha do terreno para a localização da ETE,
por uma ingerência indevida da Requerente, ao manifestar-se tecnicamente de forma
equivocada em algo que não era da sua competência e responsabilidade, agindo de forma
oportunista e no seu próprio interesse, com o objetivo de encarecer o custo do projeto e
aumentar o seu faturamento em R$ 75.000,00. Consequência ainda mais nefasta da ação
desastrada da construtora CUSTOSA, segundo a CAEPIRA, teria sido o fato de que a
localização do emissário de esgoto tratado a montante da estação de bombas da captação de
água bruta, impôs à concessionária um custo adicional no processo de tratamento da água à
razão de R$ 0,005 (zero virgula cinco centavo de real) por litro de água tratada durante toda a
sua vida útil de 30 anos, tendo em vista o aumento da turbidez da água, em relação às
medições originais da condição natural das águas do Rio Piraquara. Considerados os 100.000
litros médios, tratados e consumidos diariamente, calcula-se um prejuízo de R$ 5.475.000,00
ao erário público a valores atuais e que não poderá ser repassado às tarifas. Com estes
argumentos, a CAEPIRA pediu a condenação da CUSTOSA ao ressarcimento de prejuízos no
valor de R$ 5.550.000,00.
4.8.7 A análise pericial sobre o mérito técnico da escolha do novo terreno para a ETE
Entende o Perito que a responsabilidade pela escolha dos terrenos sempre foi da Prefeitura.
Não há evidência de conduta da Requerente contrária aos interesses da Requerida e ao
interesse público, na medida em que deixou claro quais seriam os custos a incorrer para cada
opção de terreno, em relação às obras lineares correspondentes. Há evidências de que tanto a
Requerida, quanto a Requerente, desconheciam os detalhes, as circunstâncias e consequências
da escolha de uma ou outra alternativa de terreno e ambas emitiram opiniões genéricas, sem
conhecimento dos detalhes. Portanto, há evidências de que a Prefeitura tomou uma decisão
própria, técnica e economicamente justificada, escolhendo a Alternativa B, sem ser
influenciada por nenhuma das Partes.
65
5 CONCLUSÃO
Analisados os pleitos das Partes, cotejando-se todos os fatos e documentos dos autos e
averiguações posteriores em diligência para o caso em estudo, constatou-se que:
O preço fixo irreajustável do Contrato (para 8 meses) foi mantido por todo o
4 ✓
Contrato (22 meses); a Contratante alegou falta de verba para pagar reajuste
Portanto, em atendimento aos quesitos formulados pelo MM. Juízo Arbitral, a análise pericial
e Avaliação de DEF empreendida neste estudo, concluiu, s.m.j., que:
5) Foram encontradas algumas deficiências no acervo probatório acostado aos autos pela
Requerente, em relação à sequência dos registros dos Diários de Obras, atestados pela
Fiscalização da Requerida, o que requereu a utilização de técnicas de inferência para a
reconstituição dos histogramas de recursos ao longo de todo o período contratual; esse
fato, todavia, não inviabilizou a avaliação realizada e está devidamente refletido na
pontuação para o grau de fundamentação.
Tendo sido atingidos todos os objetivos traçados, particularmente no atendimento aos quesitos
formulados para a demonstração das técnicas de avaliações e perícias de engenharia, em um
caso particular de desequilíbrio econômico-financeiro de um contrato de obras de engenharia,
encerra-se o presente trabalho.
17
Trata-se de um tema ainda em análise e julgamento nos Tribunais Superiores em razão de inúmeros recursos
interpostos por diferentes órgãos da administração pública, que pedem tratamento diferenciado para o erário
público.
67
REFERÊNCIAS
ASSAF NETO, Alexandre. Finanças Corporativas e Valor. 7ª. ed. São Paulo: Atlas, 2016.
MATTOS, Aldo D. Como preparar orçamentos de obras. São Paulo: Pini, 2006.
PLANILHA A - SERVIÇOS E INSTALAÇÕES PROVISÓRIAS DE APOIO ÀS OBRAS MAT VME MOI MAT VME MOI
1. CANTEIRO DE OBRAS, PLACA E ADMINISTRAÇÃO LOCAL % % % R$ R$ R$
Instalação do canteiro de obras 18.500,00 50% 15% 35% 9.250 2.775 6.475
Placas de identificação da obra, Padrão FIADO e Gov. Mareião 2.800,00 70% 10% 20% 1.960 280 560
Manutenção do canteiro e administração local 220.000,00 5% 15% 80% 11.000 33.000 176.000
Apoio logístico à Fiscalização (veículo com motorista) 20.640,00 5% 50% 45% 1.032 10.320 9.288
2. MOBILIZAÇÃO E DESMOBILIZAÇÃO
Mobilização de pessoal e euipamentos 7.750,00 0% 30% 70% 0 2.325 5.425
Desmobilização e limpeza da obra 5.310,00 0% 30% 70% 0 1.593 3.717
3. CAMINHOS DE SERVIÇO MAT VME MOD MAT VME MOD
Execução e manutenção de caminhos de serviço 90.000,00 0% 50% 50% 0 45.000 45.000
PLANILHA B - FORNECIMENTOS E OBRAS DE SANEAMENTO BÁSICO PARA POÇO SECO - ESTADO DO MAREIÃO
1. CAPTAÇÃO FLUTUANTE (Rio Piraquara)
Conj. balsa/bomba Padrão FIADO conf. projeto 25.080,00 60% 10% 30% 15.048 2.508 7.524
2. ADUTORA DE ÁGUA BRUTA
a) Ø 150 mm FoFo Padrão FIADO conf. projeto 17.600,00 60% 10% 30% 10.560 1.760 5.280
3. ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ÁGUA
a) Estruturas ferrocimento e=5cm (tanques, decantador, etc) 77.000,00 40% 15% 45% 30.800 11.550 34.650
b) Pintura interna de proteção EPOXI 12.540,00 60% 5% 35% 7.524 627 4.389
c) Materiais e serviços complementares 30.000,00 40% 20% 40% 12.000 6.000 12.000
d) Urbanização geral da área e obras afins 60.000,00 35% 25% 40% 21.000 15.000 24.000
4. CASA DE QUÍMICA
a) Edificações completas, acabadas, conf. Padrão FIADO 88.800,00 50% 10% 40% 44.400 8.880 35.520
b) Instação de linhas de processo Padrão FIADO 19.200,00 50% 10% 40% 9.600 1.920 7.680
c) Equipamentos de laboratório Padrão FIADO 13.400,00 70% 5% 25% 9.380 670 3.350
5. ELEVATÓRIA DE ÁGUA TRATADA
a) Estação Elevatória de Água Tratada Padrão FIADO 9.000,00 60% 10% 30% 5.400 900 2.700
6. ADUTORA DE ÁGUA TRATADA 1
a) Tubulação PVC 150 mm 98.040,00 45% 15% 40% 44.118 14.706 39.216
b) Caixa de descarga ou ventosa 7.200,00 40% 10% 50% 2.880 720 3.600
7. RESERVATÓRIO APOIADO R1 - V= 100M3
a) Sub-base e base 3.000,00 25% 35% 40% 750 1.050 1.200
b) Estrutura de ferrocimento acabada com impermeabilizante 15.400,00 40% 15% 45% 6.160 2.310 6.930
c) Instalações complementares 1.300,00 40% 20% 40% 520 260 520
8. ADUTORA DE ÁGUA TRATADA 2
a) Tubulação PVC 100 mm 28.440,00 40% 15% 45% 11.376 4.266 12.798
b) Caixa de descarga ou ventosa 2.700,00 40% 10% 50% 1.080 270 1.350
9. REDE DE DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA TRATADA
a) Rede de distribuição 511.128,00 40% 15% 45% 204.451 76.669 230.008
b) Caixa de passagem ou proteção de registros 23.400,00 40% 10% 50% 9.360 2.340 11.700
10. LIGAÇÕES PREDIAIS DE ÁGUA
a) Ramal predial rua não pavimentada 98.592,00 40% 10% 50% 39.437 9.859 49.296
b) Ramal predial rua pavimentada 124.113,60 40% 10% 50% 49.645 12.411 62.057
c) Sistema de medição padrão cavalete 25.480,00 40% 5% 55% 10.192 1.274 14.014
11. CHAFARIZES (50 unidades)
a) obras civis e hidráulicas 22.000,00 40% 20% 40% 8.800 4.400 8.800
b) duas torneiras 3.000,00 100% 0% 0% 3.000 0 0
12. LIGAÇÕES PREDIAIS DE ESGOTO
a) Ramal predial padrão FIADO 61.600,00 40% 15% 45% 24.640 9.240 27.720
b) Poço Luminar Padrão FIADO 18.100,00 40% 10% 50% 7.240 1.810 9.050
13. REDE COLETORA DE ESGOTO
a) Rede coletora Ø 150 mm PVC 210.000,00 40% 15% 45% 84.000 31.500 94.500
b) Poço de visita Padrão FIADO 49.500,00 40% 10% 50% 19.800 4.950 24.750
14. ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO
a) Terraplenagem e drenagem da área 50.400,00 10% 40% 50% 5.040 20.160 25.200
b) Estruturas de concreto armado fck= 20 MPA 12.500,00 40% 15% 45% 5.000 1.875 5.625
c) Estruturas ferrocimento e=5cm (tanques, decantador, etc) 37.440,00 40% 15% 45% 14.976 5.616 16.848
d) Pintura interna de proteção EPOXI 17.480,00 60% 5% 35% 10.488 874 6.118
e) Materiais e serviços complementares 38.366,40 45% 15% 40% 17.265 5.755 15.347
f) Urbanização geral da área e obras afins 61.500,00 35% 25% 40% 21.525 15.375 24.600
15. EMISSÁRIO
a) Tubulação PVC Ø250 mm 11.700,00 35% 25% 40% 4.095 2.925 4.680
771.550 280.431 833.019
ESTRUTURA ANALÍTICA DO PROJETO/PLANILHA B (CUSTO DIRETO DAS OBRAS)
40,9% 14,9% 44,2%
72
Custo médio
Meses Custo total
Discriminação mensal dos
adicionais¹ adicional R$
recursos
Administração Local e apoio logístico² 23.720,53 10 237.205,30
Mão de obra direta³ 82.112,75 10 821.127,50
Veículos, máquinas e equipamentos³ 27.642,75 10 276.427,50
Serviços adicionais não medidos (Mat.2ª Cat)⁴ - - 193.476,03
Reajuste de medições após 12 meses⁴ - - 147.754,24
Liberação da retenção de 5% com reajuste⁴ - - 144.196,56
Encargos financeiros⁵ 3% - A APURAR
SUBTOTAL SEM BDI
BDI 26,81% - - 487.992,17
VALOR TOTAL EM MAIO/2004 2.308.179,30
Obs.: ¹ Computado o prazo total de obra de 22 meses, menos 8 meses do prazo original e menos 4 meses do
Aditivo 1; ² Vide Quadro 7; ³ Vide Quadro 8; ⁴ Vide detalhe demonstrativo abaixo ⁵ A apurar / negociar.
Entretanto, de acordo com o Método Comparativo dos Cenários Contratuais, baseado em análise
comparativa dos fatores de custos, originalmente previstos versus efetivamente empregados, a
partir dos histogramas respectivos, tem-se que as eventuais diferenças de custos por atividade ou
por grau de dificuldade em razão de demanda maior ou menor quantidade de recursos já estão
devidamente contemplados pelo método na apuração do DEF.
Os cálculos dos reajustes da medições dos serviços posteriores a agosto/2002 (após 12 meses da
data-base), bem como, da apuração dos custos financeiros estão contemplados nas planilhas dos
Quadros 20 e 21.
Quanto à liberação pendente de valores retidos e a serem corrigidos para a data da liquidação da
sentença, entende-se que se trata de um direito regulado pelo pacto original das partes,não sendo
objeto de avaliação de DEF.
74
α = Índice de incidência média dos custos dos materiais conforme EAP do Projeto
β = Índice de incidência média dos custos de mão de obra conforme EAP do Projeto
γ = Índice de incidência média dos custos de veículos, máquinas e equipamentos conforme EAP do Projeto
M e M0 = Índice do INCC - Coluna 2 - Materiais publicados pela FGV, no mês do reajuste e no mês da data-base, respectivamte
MO e MO0 = Índice do INCC - Coluna 1 - Mão de Obra publicado pela FGV, no mês do reajuste e no mês da data-base, respect
VE e VE0 = Ìndice do IPA-DI - Coluna 13 - Véculos, Máqs e Equipamentos da FGV, no mês do reajuste e no mês da data-base
Coluna2 MAT INCC - FGV Coluna1 MDO INCC - FGV Coluna13 VME IPA DI - FGV
set/01 179,9600 0,0000 set/01 248,3040 0,0000 set/01 171,0800 0,0000
set/02 195,3840 -0,15402 set/02 273,1860 0,10021 set/02 188,6410 0,10265
out/02 198,8800 -0,13888 out/02 274,3970 0,10508 out/02 194,1860 0,13506
nov/02 206,8220 -0,10450 nov/02 276,6050 0,11398 nov/02 202,1650 0,18170
dez/02 213,5470 -0,07538 dez/02 276,6050 0,11398 dez/02 206,5980 0,20761
jan/03 219,6020 -0,04916 jan/03 276,6050 0,11398 jan/03 211,6320 0,23704
fev/03 223,3580 -0,03290 fev/03 279,4430 0,12541 fev/03 215,7640 0,26119
mar/03 227,1720 -0,01638 mar/03 282,2230 0,13660 mar/03 220,0230 0,28608
abr/03 230,9560 0,00000 abr/03 282,2230 0,13660 abr/03 223,1620 0,30443
mai/03 233,0670 0,00914 mai/03 296,7430 0,19508 mai/03 227,1680 0,32785
jun/03 233,9340 0,01289 jun/03 302,1910 0,21702 jun/03 228,0790 0,33317
jul/03 235,0720 0,01782 jul/03 306,9380 0,23614 jul/03 229,2360 0,33993
ago/03 235,7860 0,02091 ago/03 315,3020 0,26982 ago/03 229,7850 0,34314
set/03 236,5230 0,02410 set/03 315,6590 0,27126 set/03 230,7100 0,34855
IPCA SELIC
49 out/08 2815,60 1,0030 1,18 2,13932
50 nov/08 2829,40 1,0049 1,02 2,17173
51 dez/08 2837,60 1,0029 1,12 2,20242
52 jan/09 2848,95 1,0040 1,05 2,23444
53 fev/09 2866,90 1,0063 0,86 2,26786
54 mar/09 2870,05 1,0011 0,97 2,29237
55 abr/09 2880,32 1,0036 0,84 2,31990
56 mai/09 2897,31 1,0059 0,77 2,35155
57 jun/09 2908,32 1,0038 0,76 2,37843
58 jul/09 2914,72 1,0022 0,79 2,40250
59 ago/09 2921,42 1,0023 0,69 2,42463
60 set/09 2926,97 1,0019 0,69 2,44600
61 out/09 2932,24 1,0018 0,69 2,46731
62 nov/09 2945,14 1,0044 0,66 2,49452
63 dez/09 2956,33 1,0038 0,73 2,52228
64 jan/10 2971,70 1,0052 0,66 2,55213
65 fev/10 2999,63 1,0094 0,59 2,59131
66 mar/10 3016,13 1,0055 0,76 2,62537
67 abr/10 3030,61 1,0048 0,67 2,65565
68 mai/10 3049,70 1,0063 0,75 2,69242
69 jun/10 3055,49 1,0019 0,79 2,71884
70 jul/10 3052,74 0,9991 0,86 2,73976
71 ago/10 3051,21 0,9995 0,89 2,76275
72 set/10 3060,67 1,0031 0,85 2,79488
73 out/10 3079,65 1,0062 0,81 2,83499
74 nov/10 3106,13 1,0086 0,81 2,88252
75 dez/10 3127,56 1,0069 0,93 2,92940
76 jan/11 3151,33 1,0076 0,86 2,97705
77 fev/11 3181,90 1,0097 0,84 3,03118
78 mar/11 3200,99 1,0060 0,92 3,07742
79 abr/11 3225,64 1,0077 0,84 3,12717
80 mai/11 3248,22 1,0070 0,99 3,18023
81 jun/11 3255,69 1,0023 0,96 3,21815
82 jul/11 3258,94 1,0010 0,97 3,25261
83 ago/11 3267,74 1,0027 1,07 3,29629
84 set/11 3285,06 1,0053 0,94 3,34491
85 out/11 3298,86 1,0042 0,88 3,38852
86 nov/11 3314,03 1,0046 0,86 3,43338
87 dez/11 3332,59 1,0056 0,91 3,48402
88 jan/12 3354,25 1,0065 0,89 3,53788
89 fev/12 3372,03 1,0053 0,75 3,58331
90 mar/12 3380,46 1,0025 0,82 3,62172
91 abr/12 3395 1,0043 0,71 3,66312
92 mai/12 3412,31 1,0051 0,74 3,70905
93 jun/12 3418,45 1,0018 0,64 3,73950
94 jul/12 3429,73 1,0033 0,68 3,77735
95 ago/12 3443,11 1,0039 0,69 3,81825
96 set/12 3459,64 1,0048 0,54 3,85730
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