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Nota Técnica sobre o Projeto de Lei nº 2721/2023

(13/11/2023)

1. Resumo
O Projeto de Lei (PL) nº 2721/2023 (nº 6385/2016, na origem) dispõe sobre a
prestação de serviços postais e de comunicação multimídia da administração pública
federal direta e indireta. A matéria foi aprovada pelo Congresso Nacional no último dia
8 de novembro. No momento, a iniciativa aguarda encaminhamento à Presidência da
República, para sanção ou veto.

2. Tramitação
O projeto em referência, de autoria do Deputado André Figueiredo, foi apresentado
perante a Câmara dos Deputados em 25 de outubro de 2016. Em sua versão original,
a proposição previa a contratação preferencial apenas dos Correios pela
administração pública federal.
Após mais de seis anos de tramitação, a matéria passou ao regime de urgência, com a
aprovação do Requerimento nº 1364/2023, em 16 de maio de 2023. No dia seguinte, a
proposição foi aprovada, sem alterações, no Plenário e seguiu à Casa Revisora.
No Senado Federal, o projeto foi submetido à Comissão de Constituição e Justiça
(CCJ), onde recebeu parecer favorável à sua aprovação, nos termos do substitutivo
apresentado, em 9 de agosto de 2023, para incluir a obrigatoriedade da contratação
preferencial da Telebrás, pois foram consideradas, por analogia, as mesmas razões
que justificavam a contratação dos Correios.
A proposição restou aprovada pelo Plenário do Senado Federal, em 10 de outubro, e
retornou à Casa Iniciadora, em função das modificações apresentadas.
Na Câmara dos Deputados, o projeto foi aprovado no Plenário, em 8 de novembro,
mediante o parecer favorável das Comissões de Comunicação (CC), de Administração
e Serviço Público (CASP), de Finanças e Tributação (CFT) e de Constituição e Justiça
e de Cidadania (CCJC).
A proposição seguirá à Presidência da República, para sanção ou veto.

3. Descrição
O projeto em referência, em sua versão aprovada pelo Congresso Nacional, é
composto de quatro artigos. O primeiro artigo indica o objeto da lei e seu respectivo
âmbito de aplicação, qual seja, a prestação de serviços postais e de comunicação
multimídia à administração pública federal direta e indireta.
Por sua vez, o art. 2º do projeto prevê que os órgãos públicos federais da
administração direta e as entidades da administração indireta federal, no exercício de
suas competências, devem, preferencialmente, nos termos da nova Lei de Licitações e
Contratos Administrativos (Lei nº 14.133, de 1º de abril de 2021), contratar diretamente
os Correios para prestar serviços postais não exclusivos e a Telebras para prestar
serviços de comunicação multimídia (SCM), os quais incluem o provimento de
conexão à internet.
Já o art. 3º dispõe que o Poder Executivo editará regulamento para disciplinar as
regras e as condições do disposto na lei. Por fim, o art. 4º estabelece vigência na data
da publicação da nova lei.

4. Análise
O projeto assegura à Telebras a preferência na prestação do SCM aos órgãos e
entidades da administração pública federal, mediante dispensa de licitação. Essa foi a
intenção da nova lei, conforme indicada no Parecer nº 54, de 2023:
Acontece que, não há, atualmente, obrigatoriedade de órgãos e entidades da
administração federal contratar os Correios. Ou seja, embora seja possível a
contratação da ECT sem licitação, pode cada ente decidir se realiza ou não essa
contratação.

O projeto de lei aqui analisado visa a superar essa realidade, ao determinar a


contratação preferencial da ECT, caso seja demonstrada a compatibilidade de preços
com o mercado.

Entendemos que a proposição comporta um pequeno aperfeiçoamento. Estamos


apresentando emenda para incluir a obrigatoriedade da contratação preferencial da
Telecomunicações Brasileiras S.A (Telebrás). Isso porque as mesmas razões que
justificam a contratação dos Correios estão presentes para a contratação da Telebrás.

(grifou-se)

No entanto, diferentemente do aludido no referido parecer, essa prerrogativa não


configura obrigatoriedade. A proposição tampouco elenca as hipóteses para aplicação
ou não dessa preferência, remetendo essa disciplina a regulamento a ser editado pelo
Poder Executivo.
Aliás, o projeto de lei menciona que a dispensa da licitação obedecerá ao disposto no
art. 75, inciso IX, da nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos.
Transcrevemos a seguir o dispositivo em referência:
Art. 75. É dispensável a licitação:

...

IX - para a aquisição, por pessoa jurídica de direito público interno, de bens produzidos
ou serviços prestados por órgão ou entidade que integrem a Administração Pública e
que tenham sido criados para esse fim específico, desde que o preço contratado seja
compatível com o praticado no mercado;

...

Como indicado no art. 75, inciso IX, os requisitos para a dispensa de licitação nessa
hipótese são quatro. Vejamos cada um deles.
Em primeiro lugar, a contratante deve ser pessoa jurídica de direito público interno.
Portanto, esse requisito engloba qualquer órgão da União, dos Estados, dos
Municípios e do Distrito Federal.
Ademais, a contratada deve ser órgão ou entidade que integre a administração
pública, em sentido amplo. No caso em questão, a Telebras pertence à administração
pública federal indireta.
Em seguida, a contratada deve ter sido criada para o fim específico da prestação do
serviço contratado, como também é o caso da Telebras, na prestação de serviços de
telecomunicações, aí incluídos os serviços de comunicação multimídia e o provimento
de acesso à internet.
Por fim, o preço contratado deve ser compatível com o praticado no mercado. Nesse
caso, é necessário comparar os preços cobrados pela Telebras na prestação de seus
serviços com os de seus concorrentes de mercado.
Entendemos, assim, que o projeto aprovado não produz inovação substancial no
ordenamento jurídico, vez que a preferência oferecida à Telebras não se configura em
efetiva obrigatoriedade e o processo de contratação se funda em lei anteriormente
estabelecida.
Porém, é necessário reconhecer o caráter simbólico da aprovação do projeto. Trata-
se, evidentemente, de fato político a ser avaliado no contexto de valorização da
Telebras na prestação de serviços públicos e na execução de políticas públicas
relacionadas ao setor de telecomunicações.

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