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E DISTRIBUIÇÃO
DE ENERGIA
Qualidade e
confiabilidade da
rede de distribuição
Iberê Carneiro de Oliveira
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A energia elétrica se tornou, talvez, o produto mais importante consumido por
bilhões de pessoas no mundo inteiro. Em razão disso, assim como para qualquer
produto, é fundamental que sejam padronizados critérios de qualidade que primem
por segurança, eficiência, versatilidade e previsibilidade do sistema elétrico:
Qualidade e confiabilidade
Os conceitos de qualidade de energia elétrica e confiabilidade do sistema
elétrico estão intimamente ligados, uma vez que a qualidade do serviço de
energia depende também da continuidade do fornecimento e da minimização
de falhas nos diversos equipamentos ligados à rede elétrica.
Confiabilidade
A ABNT NBR 5462:1994 define os termos relacionados à confiabilidade e man-
tenabilidade de itens em diversas aplicações, abrangentes aos componentes
do sistema elétrico. Dessa forma, pode-se entender confiabilidade como a
capacidade do componente de manter-se em funcionamento nas condições
determinadas durante um intervalo de tempo (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, 1994).
O estudo da confiabilidade dos itens do sistema elétrico torna-se impor-
tante à medida que se avalia o custo das falhas, uma vez que, além de deixar de
consumir energia, indústrias deixam de produzir — o que representa um custo
tanto para as empresas do setor elétrico, sejam geradoras, transmissoras ou
distribuidoras, quanto para os consumidores de energia, seja pela perda da
utilidade da energia ou pela perda da produção. Por outro lado, o investimento
necessário para aumentar a confiabilidade do sistema também é relevante,
pois requer redundâncias de aparelhos, melhores tecnologias, melhores
proteções e etc. Os dois custos contraditórios somados proporcionam um
gráfico de custo ótimo, como pode ser observado na Figura 1, considerando
que os custos das interrupções incidem sobre o consumidor e o investimento
para evitar essas interrupções é por parte das concessionárias.
Qualidade e confiabilidade da rede de distribuição 3
Custos
totais
Custos e WTP
Custos do Custos da
consumidor empresa
NQO
Qualidade
Taxa de falhas
1 (2)
λ( ) =
MTBF
A taxa de falhas será o inverso do tempo médio entre falhas e traz a ideia
de probabilidade de um equipamento falhar em um dado tempo; em geral,
a maioria dos equipamentos industriais tem uma taxa de falhas conforme a
Figura 2 (ANUMAKA, 2011; ČEPIN, 2011).
h(t)
Confiabilidade
Composição de confiabilidade
Ao se analisar um sistema funcionando com diversos componentes, a con-
fiabilidade geral do sistema depende da composição da confiabilidade de
cada elemento específico. Uma maneira fácil de interpretar a composição de
confiabilidade nos diversos elementos do sistema é por meio de um diagrama
de bloco que pode assumir duas formas principais, sendo a maioria dos
sistemas uma composição dessas formas.
Componentes em série
Se a falha de qualquer componente ocasionar a falha do sistema como um
todo, é considerado que os componentes estão ligados em série e poderão
ser representados conforme a Figura 3. Um exemplo dessa situação são os
componentes de sistemas de distribuição radial, como linha de média tensão,
transformador e linha de baixa tensão; a ocorrência de falha em um desses
componentes impede a continuidade do fornecimento de uma carga.
( )= ∏ (4)
=1
Composição em paralelo
Se o sistema se mantiver em funcionamento na ocorrência de uma falha em
qualquer componente, a confiabilidade geral aumenta, pois os outros com-
ponentes servirão de retaguarda do componente faltoso. Um exemplo dessa
situação é a existência de linhas de transmissão redundantes na alimentação
de uma carga, diminuindo, dessa forma, a chance de falta no fornecimento
de energia. O diagrama de blocos de confiabilidade de um sistema com com-
ponentes em paralelo pode ser observado na Figura 4.
( )= 1− ∏ (1 − ) (5)
=1
Indicadores de continuidade
A ANEEL avalia as distribuidoras de energia elétrica por meio de ocorrências
em suas redes em um determinado período de tempo, geralmente a cada
mês, a cada trimestre ou anualmente (ANEEL, 2021). Esse método de indicação
da qualidade de fornecimento de energia elétrica é tratado como avaliação
a posteriori (KAGAN, 2010). Os principais indicadores de qualidade de forne-
cimento são descritos a seguir (ANEEL, 2021).
DIC
É a chamada duração de interrupção individual por unidade consumidora,
calculada somando-se os tempos de interrupção de cada evento i de deter-
minada unidade consumidora ou ponto de conexão, conforme:
DIC = ∑ () (6)
=1
8 Qualidade e confiabilidade da rede de distribuição
FIC
É a chamada frequência de interrupção por unidade consumidora e repre-
senta o número n de falhas que ocorreram no tempo analisado na unidade
consumidora ou no ponto de conexão, conforme:
FIC = n (7)
DEC
É a chamada duração equivalente de interrupção por unidade consumidora
e representa a medida da continuidade de um conjunto de unidades consu-
midoras; é calculada conforme:
∑ =1 DIC( )
DEC = (8)
FEC
É a chamada frequência de interrupção por unidade consumidora e repre-
senta a média do número de faltas em um determinado tempo; o seu valor
é calculado conforme:
∑ =1 FIC( )
FEC = (9)
DMIC
É a chamada duração máxima de interrupção contínua por unidade consumi-
dora e representa o tempo máximo de interrupção do serviço de energia que
ocorreu em um determinado período de tempo para uma unidade consumidora
ou ponto de conexão. Seu cálculo é:
Qualidade do produto
O Módulo 8 do PRODIST separa o conceito de qualidade do serviço, mais
relacionado com a confiabilidade e a continuidade do fornecimento de energia
elétrica e a qualidade do produto (ANEEL, 2021). O termo qualidade do produto,
por sua vez, está mais relacionado com o termo power quality, traduzido
como qualidade de energia, embora esse termo gere alguma controvérsia,
já que não tem exatamente o mesmo sentido — no entanto, ambos se referem
à mesma coisa: os fenômenos de qualidade que o produto energia elétrica
pode sofrer em regime permanente ou transitório, geralmente relacionados
com a tensão de fornecimento. De qualquer forma, qualidade do produto
se refere à responsabilidade que distribuidoras e consumidores devem ter
uns com os outros; as normas a respeito desse tema estão em constantes
revisões, à medida que se modificam as condições do sistema, o modo de
consumo e de geração e a complexidade de operação (BENYSEK; PASKO, 2012).
Subtensão e sobretensão
Variações de tensão de longa duração fora dos limites estabelecidos são
causadas, frequentemente, por condições anormais dos sistemas elétricos de
potência; por exemplo, a desconexão de uma linha de transmissão ou de um
transformador pode causar sobtensões. Variações de tensão de longa duração
são normalmente corrigidas com ajustes no passo de transformadores com
tap (derivações internas do transformador para variação de tensão).
Qualidade e confiabilidade da rede de distribuição 11
Distorções harmônicas
Esse distúrbio, ilustrado pela Figura 8, se refere à presença de frequências
correspondentes a múltiplos inteiros da frequência fundamental do sistema.
Normalmente é assumido que a tensão gerada em grandes geradores rota-
cionais, como térmicos e hidrelétricos, é puramente senoidal. A distorção
harmônica tipicamente não ultrapassa 1% nas linhas de transmissão, mas
pode alcançar de 5 a 8% conforme se aproxima das cargas. Harmônicos são
causados por fontes ou cargas não lineares, e uma forma de mitigar esse
problema é instalar filtros ativos ou passivos.
Figura 8. Harmônico.
Fonte: Benysek e Pasko (2012, p. 7).
Transitórios
Transitórios de tensão, ilustrados pela Figura 9, normalmente são causados
por descargas atmosféricas incidentes em equipamentos ou linhas de energia,
ou próximas a elas, ou por eventos de chaveamento no sistema elétrico de
potência, como entrada de uma linha em operação, desconexão ou conexão
de uma carga, etc. Esse distúrbio pode ocasionar falha nos isolamentos de
equipamentos elétricos e redução da vida útil de transformadores, motores, etc.
Figura 9. Transitório.
Fonte: Benysek e Pasko (2012, p. 7).
12 Qualidade e confiabilidade da rede de distribuição
Cintilação
Uma forma de onda exibe o efeito de cintilação, ilustrado pela Figura 10, que
apresenta uma amplitude modulada em uma frequência que pode ser detec-
tada pelos olhos humanos, provocando variações perceptíveis na intensidade
da iluminação em lâmpadas incandescentes. Esse evento é causado por arcos
elétricos no sistema elétrico de potência. Esse problema pode ser corrigido
com auxílio de filtros, compensadores estáticos, entre outras soluções.
Desequilíbrio
Cargas desbalanceadas, ilustradas pela Figura 12, fontes assimétricas e car-
gas monofásicas são algumas causas de desequilíbrio de tensão, o qual é
minimizado conforme o ponto de medição desses efeitos se afasta dos cen-
tros de carga e é reduzido em linhas de transmissão, por exemplo. Tanto as
concessionárias de energia quanto a Agência Brasileira de Normas Técnicas
estabelecem limites de desbalanceamento de cargas para serem aplicados em
projetos elétricos, e um alto desbalanceamento pode causar sobrecarga da
linha abaixo do limite de potência, ruídos em máquinas trifásicas e elevação
do fator de potência real da carga.
Harmônicos na distribuição
Com o avanço das tecnologias proporcionadas pela eletrônica de potência,
fontes e cargas deixaram de ser puramente senoidais e passaram a existir
componentes com características não lineares. Por conta disso, os sinais
de tensão e corrente circulante no sistema elétrico de potência estão cada
vez mais poluídos com harmônico. Esse fenômeno é explicado pela teoria
de Jean Fourier, que demonstra que qualquer sinal não puramente senoidal
pode ser decomposto em uma série infinita de senos e cossenos (BARROS;
BORELLI; GEDRA, 2014).
O módulo 8 do PRODIST define distorções harmônicas como distorções de
tensão e corrente em relação à onda de frequência fundamental, no caso 60 Hz,
e estabelece limites de distorções harmônicas aceitáveis separadas por nível
de tensão e frequências, como apresentado no Quadro 1 (ANEEL, 2021).
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Tensão nominal
Indicador
Vn ≤ 1 kV 1 kV < Vn < 69 kV 69 ≤ Vn 230 kV
DTT95% 10% 8% 5%
DDTP95% 2,5% 2% 1%
DDTI95% 7,5% 6% 4%
∑ℎℎ=2
máx 2
Vℎ
DDT% = × 100 (11)
1
onde:
∑ℎℎ=2 Vℎ2
DDT % = × 100 (12)
1
onde:
∑ℎℎ=5 Vℎ2
DDT % = × 100 (13)
1
onde:
∑ℎℎ=3
3
Vℎ2
DDT3 % = × 100 (14)
1
onde:
Essa distinção que a norma faz entre harmônicas pares e ímpares não
múltiplas de 3 e múltiplas de 3 é compreendida ao se analisar a decomposição
em componentes simétricas de cada ordem, como apresentado no Quadro 2.
1 60 Hz +
2 120 Hz –
3 180 Hz 0
4 240 Hz +
5 300 Hz –
6 360 Hz 0
n n x60
DVA
Distorção da potência aparente
(1) ∙ cos
FP = (15)
( (1) ) 2 + ∑∞
ℎ=2( (ℎ) )2
Referências
ANEEL. PRODIST: módulo 8: qualidade da energia elétrica. Brasília: Aneel, 2021.
ANUMAKA, M. C. Fundamentals of reliability of electric power system and equipment.
International Journal of Engineering Science and Technology, v. 3, n. 6, p. 5389–5396, 2011.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICA. ABNT NBR 5462:1994. Confiabilidade e
mantenabilidade. Rio de Janeiro: ABNT, 1994.
BARROS, B. F.; BORELLI, R.; GEDRA, R. L. Geração, transmissão, distribuição e consumo
de energia elétrica. São Paulo: Érica, 2014.
BENYSEK, G.; PASKO, M. (ed.). Power theories for improved power quality. Capítulo 1,
Pag. 1-12 London: Springer-Verlag, 2012.
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Leitura recomendada
DUGAN, R. C. et al. Electrical power systems quality. 3rd ed. New York: McGraw-Hill, 2012.