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SEMINÁRIO NACIONAL
DE PRODUÇÃO E GTL - 02
TRANSMISSÃO DE 16 a 21 Outubro de 2005
ENERGIA ELÉTRICA Curitiba - Paraná
GRUPO XVI
GRUPO DE ESTUDO DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO E TELECOMUNICAÇÃO PARA SISTEMAS
ELÉTRICOS - GTL
RESUMO
O desempenho é sempre uma preocupação nos sistemas de proteção. O impacto no sistema de potência, se um
dispositivo de proteção não estiver funcionando quando necessário, será muito menos severo se existir um
dispositivo redundante que assuma a função. Se os dois dispositivos redundantes tiverem mesmo desempenho,
não haverá degradação na operação do sistema de potência, e um dispositivo inoperante somente necessita ser
reparado ou substituído.
O método preferido para atender aos requisitos de desempenho tem sido o uso de dispositivos de proteção
redundantes e fisicamente separados. Entretanto, canais independentes não são sempre justificáveis
economicamente, devido ao alto custo de um segundo enlace de comunicação.
Este trabalho examina os requisitos de redundância para teleproteção e apresenta uma nova idéia. O trabalho
explica como um único dispositivo com módulos redundantes pode atingir uma redundância igual ou maior que
aquela com dispositivos fisicamente separados. O trabalho também apresenta um meio prático e econômico de
realizar canais de comunicação redundantes.
PALAVRAS CHAVE
Proteção, Redundância, Desempenho, Segurança, Confiabilidade
1.0 - INTRODUÇÃO
O desempenho é um produto de dois fatores: segurança e confiabilidade. Para um sistema de proteção, a
confiabilidade é definida como a capacidade de enviar comando para uma falha dentro da sua zona de proteção,
enquanto a segurança é a capacidade de não enviar comando quando não houver falha dentro de sua zona de
proteção.
Apesar de não ser de uso prático, é interessante ilustrar os conceitos observando os dois extremos; 100% de
confiabilidade e 100% de segurança. 100% de confiabilidade seria atingido por um sistema de proteção que
estivesse permanentemente no estado de trip, não havendo possibilidade de existir uma falha que não fosse
detectada. 100% de segurança seria atingido desabilitando totalmente o sistema de proteção de modo que ele não
pudesse dar trip. Pode-se então concluir que, apesar de serem desejadas alta confiabilidade e segurança, as duas
terão que ser menores que 100%. Geralmente, um aumento na confiabilidade diminui a segurança e vice-versa.
Entretanto, as medidas para aumentar a confiabilidade podem não penalizar a segurança na mesma proporção, e
o objetivo do projeto de um sistema de proteção é achar a combinação ótima dos dois fatores, para prover o
desempenho adequado do sistema de proteção.
A redundância é definida como “a existência de mais de um meio para execução de uma dada função” [1]. É obvio
que a confiabilidade de um sistema de proteção pode ser aumentada com a adição de redundância, pois se um
sistema não der trip para uma falha interna, o sistema redundante pode atuar. Por outro lado, a segurança
normalmente diminui com a redundância, pois existem dispositivos adicionais que podem não dar trip quando
solicitados. Entretanto, a redundância não influencia a confiabilidade e a segurança com o mesmo grau.
Para ilustrar como a redundância influencia a confiabilidade e a segurança, tomamos dados de uma norma de
teleproteção, a IEC 60834-1 (1999) [3]. Ela não somente especifica os requisitos de confiabilidade e segurança
como também especifica como eles devem ser determinados através de testes. A segurança da teleproteção é
medida como o número de falsos trips para um dado número de “surtos de ruído” ou erros de bit no canal de
comunicação. A confiabilidade é medida como o número de comandos perdidos para um dado número de “surtos
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de ruído” ou erros de bit no canal de comunicação. Apesar de não poderem ser expressas em algo relevante para
um relé único, elas podem ser usadas para ilustrar a influência da redundância na confiabilidade e na segurança.
Nas discussões abaixo, “redundante” refere-se a sistemas ou componentes completamente independentes. A taxa
de falhas para cada sistema ou componente é independente da taxa de falhas do sistema redundante. Uma falha
em um dispositivo não influencia o outro e as falhas não são geradas por uma causa comum.
Para nossas considerações de redundância, são usados os requisitos dados para um sistema de teleproteção de
transfer trip direto:
• Segurança de 99.9999% (probabilidade de falso trip de 10-6 ou 1/1.000.000)
• Confiabilidade de 99.99% (probabilidade de perda de trip de 10-4 ou 1/10.000)
A segurança é reduzida de 99.9999% para 99.9998% com a redundância, o que não é uma alteração significativa.
A probabilidade de uma perda de trip, entretanto, será muito reduzida, resultando em grande aumento da
confiabilidade. Se os sistemas forem iguais e independentes, ambos precisam falhar ao mesmo tempo para
ocorrer uma perda de trip. Portanto, a probabilidade resultante é o produto das probabilidades individuais.
• Probabilidade de perda de trip para um sistema redundante = 1/10.000 x 1/10.000 = 1/100.000.000
(confiabilidade: 99.999999%)
O uso de sistemas de proteção redundantes aumenta muito a confiabilidade quanto a falhas em equipamento.
Medidas simples como fontes de alimentação redundantes conectadas a sistemas de baterias independentes são
também úteis.
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A redundância não melhora a confiabilidade devido a limitações de medição dos relés, a menos que eles tenham
projetos diferentes, ou usem configurações diferentes, eliminando a possibilidade de limitações idênticas em
ambos os dispositivos. Este fato influenciou a prática de aplicar princípios de medição, e/ou projetos diferentes,
para os esquemas de proteção 1 e 2. Como é difícil projetar um esquema de proteção que cubra todas as
condições possíveis de falha, é comum aplicar dois esquemas complementares. Como a eliminação da falha
requer a operação correta de somente uma proteção principal, esta prática mostrou-se bem efetiva.
Embora defeitos em software nos dispositivos de proteção sejam raros, se comparados a outros equipamentos de
computação, eles podem ainda ocorrer. Com a complexidade dos dispositivos, existe um número infinito de
combinações de configurações que devem ser testadas. Parece inevitável que alguns defeitos não sejam
detectados até que o dispositivo seja colocado em serviço. Infelizmente, a redundância somente torna a situação
pior. Os dispositivos e/ou funções redundantes podem melhorar a confiabilidade, mas o mais notável é a perda na
segurança. Cada dispositivo ou função adicionada ao esquema aumentará a probabilidade de trips falsos.
Os problemas na fiação podem ser divididos em várias categorias diferentes: bateria, transformador de medição,
disjuntor e circuitos de comunicação. Algumas delas podem ser redundantes, enquanto para outras isto pode ser
muito caro. Por exemplo, um disjuntor pode ser equipado com dois enrolamentos de trip redundantes mas o
disjuntor em si não é duplicado. Um segundo canal de comunicação aumenta sensivelmente a confiabilidade mas
pode ser de difícil implementação.
As taxas de falha abaixo são baseadas em número de componentes. Isto é uma avaliação teórica para o bloco,
somando as taxas de falha de cada componente existente. Este cálculo por número de componentes é uma figura
pessimista, pois não leva em consideração a qualidade do projeto ou as falhas de componentes detectadas antes
do embarque, durante os testes na produção. Entretanto, para comparação, não é de muita importância se o valor
real é menor, pois assume-se que a relação entre os blocos permanece a mesma.
Os números de componentes da abaixo são baseados no cálculo do MTBF (Tempo Médio Entre Falhas) usando o
Método 5 da Bellcore. O MTBF pode ser convertido para taxa de falhas usando a fórmula:
Apesar da taxa de falhas não ser idêntica à perda de confiabilidade (nem todas as falhas causarão
necessariamente uma perda de trip), pode-se assumir que a maioria delas resultará no relé ficar inoperante. Para
simplificar, a discussão a seguir assume que a taxa de falhas é igual à perda de confiabilidade, e cada falha
resultará numa perda de trip.
Quando se adiciona um segundo sistema redundante independente, a probabilidade resultante de perda de trip do
sistema combinado é o produto da taxas de falha dos sistema individuais:
Voltando a expressar a taxa de falhas em MTBF, pode-se ver que o MTBF do sistema com redundância é de 500
anos, comparado a 22 anos para o sistema simples.
representa a probabilidade de que, se qualquer módulo conectado a ele falhar, a saída irá falhar. A taxa de falhas
para um circuito AND é o produto das entradas, e a taxa de falhas para um circuito OR é a soma das entradas.
Todos os módulos redundantes do sistema são conectados através de ANDs e as saídas destes são combinadas
num OR. Os módulos de proteção redundantes compreendem o circuito do transformador de entrada e o módulo
microprocessador. Estes dois módulos são então combinados num OR antes de entrar no AND da proteção.
A taxa de falhas resultante do novo sistema redundante é 0.0006, ou um MTBF de 1667 anos, o que é
significativamente maior do que aquele de um sistema redundante convencional.
As taxas de falha para os três sistemas são mostradas na tabela abaixo.
Sistema Taxa de falhas (por ano) MTBF (anos)
Simples 0.045 22
Redundante convencional 0.002 500
Redundante novo 0.0006 1667
Um leitor atento pode argumentar que existem partes no “novo sistema” que não foram levadas em consideração
para a taxa de falhas: o chassis e a placa traseira (neste caso uma placa intermediária). Isto é verdade, mas o
motivo é que a taxa de falhas para estes dispositivos passivos é desprezível. O chassis é uma estrutura metálica
sem qualquer componente. A placa intermediária, por outro lado, tem conectores que podem falhar. Esta taxa foi
adicionada ao módulo que usa o conector e, portanto, foi levada em consideração para a taxa total.
ignorada no cálculo pois este componente é externo aos dispositivos do sistema de proteção e será igual para as
diferentes configurações de redundância apresentadas.
6.1 Relé único, canal único
A taxa de falhas para um esquema de proteção constituído de um relé e um canal de comunicação é a soma das
taxas de falha do relé e da interface de comunicação, como mostrado na tabela abaixo. Para a proteção de uma
linha, os equipamentos em ambas as pontas devem estar operacionais, o que é mostrado na coluna 3 da tabela.
Adicionando-se um canal redundante a relés redundantes resultará um alto grau de melhoria, se comparado a um
único relé com um canal. Para um sistema convencional de relés, a redundância é atingida adicionando um relé
completo e um canal de comunicação. No exemplo usado, cada relé tem uma interface de fibra direta e necessita
dois pares de fibra para comunicação entre as pontas.
O novo sistema redundante apresentado anteriormente também pode incorporar interfaces de comunicação.
Pode-se usar o mesmo princípio de redundância tornando cada módulo de comunicação disponível para ambos
os módulos de proteção.
FIGURA 6. Árvore de falhas para o novo sistema redundante com comunicação redundante
Caso existir uma fibra dedicada para cada proteção de linha primária, um canal redundante para o esquema
secundário pode ser realizado usando o novo Sistema de Proteção e Comunicação com funcionalidade “pass-
through”.
FIGURA 7. Canais redundantes em um único par de fibras numa linha de circuito duplo
A proteção da linha A-B se comunica de modo convencional entre o terminal A e o terminal B. Além disso, o relé
em A passa informação através de outra porta de comunicação para o terminal C na mesma subestação. O relé C
não usa estes dados, somente embute a informação no feixe de dados que envia para o terminal D. Isto provê
uma operação “pass-through”. Quando os dados são recebidos no terminal D, o relé D os envia para o terminal B.
Conseqüentemente, a proteção da linha A-B tem dois caminhos alternativos para comunicação entre relés;
diretamente entre A e B e através de C e D para B.
A multiplexação é transparente para os relés. Para todos os fins práticos, os relés ainda têm uma conexão direta
ponto a ponto. A função “pass-through” transporta os dados de entrada de uma interface de comunicação
diretamente para outro canal em outra interface de comunicação. Como não há processamento dos dados, o
“pass-through” é feito sem retardo significativo (< 250 μs). A comunicação permanece síncrona durante o processo
e pode ser usada com a maioria dos canais de relé diferencial, canais de teleproteção e proteção de distância.
O novo sistema de relés pode prover também percursos redundantes de comunicação em linhas de três terminais.
Se já existir um par de fibras entre cada terminal, isto é realizado sem qualquer interface de comunicação
adicional. A função “pass-through” usa as mesmas entradas de comunicação do percurso direto. Do mesmo modo
que na aplicação de circuito duplo, os dados de A para B são enviados também no canal redundante de A para C
para B.
Além de usar as funções embutidas de releamento, os enlaces de fibra dedicados podem ser roteados através do
novo Sistema de Proteção e Comunicação usando qualquer dos canais de 64 kb/s disponíveis. Estes canais
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podem ser usados para transfer trip ou comunicação de alta velocidade para proteção diferencial de corrente ou
de distância.
Não são necessárias mudanças no esquema existente. Uma proteção com comunicação RS-232 de baixa
velocidade ou relés diferenciais de corrente usando 64 kb/s em fibra ainda podem usar a funcionalidade de uma
conexão dedicada ponto a ponto.
9.0 - CONCLUSÕES
• O desempenho é uma medida de como um sistema de proteção irá operar, sendo uma combinação de
segurança e confiabilidade. A adição de redundância aumenta muito a confiabilidade.
• Apesar dos exemplos de cálculos de redundância neste trabalho serem baseados num número
conservativo de componentes, eles ainda são úteis para ilustrar a diferença relativa entre as
configurações de redundância. Os exemplos mostram como um alto grau de redundância é atingido
usando o novo sistema apresentado.
• O novo sistema redundante melhora as taxas de falha por um fator de 10, se comparado com um
sistema de proteção e comunicação redundante convencional.
• Canais redundantes podem ser implementados em um único par de fibras sem perder as
características funcionais ponto a ponto do canal de comunicação para proteção.
• O novo Sistema de Proteção e Comunicação satisfaz os requisitos de redundância de modo eficiente
em termos de custo, fornecendo um método econômico e simples de melhorar o desempenho do
sistema de proteção.
10.0 REFERÊNCIAS
[1] IEEE Standard Dictionary of Electrical and Electronics Terms, IEEE Std 100-1996
[2] Transmission Protective Relay System Performance Measuring Methodology IEEE/PSRC Working
Group 13, 9/16/1999
[3] IEC 60834-1, 1999-10. Teleprotection equipment of power systems - Performance and testing
[4] Reliability Analysis of Transmission Protection Using Fault Tree Methods, E. O. Schweitzer III et. Al.
www.selinc.com
Improve Your Protection Quality by Mining Historical Microprocessor Relay Data, Lawrence C. Gross, Jr.,
Scott L. Hayes, 28th Annual Western Protective Relay Conference, 2001.
Protective Relaying Theory and Applications, Second Edition, Walter A. Elmore, 2004