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TRANSMISSÃO

E DISTRIBUIÇÃO
DE ENERGIA
Aspectos
construtivos
de linhas de
transmissão
Victor Cesar Costa

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Identificar os elementos básicos e suas funções em uma rede de trans-


missão.
> Determinar os tipos e as características de cabos condutores.
> Analisar o comportamento mecânico dos cabos em uma linha de trans-
missão.

Introdução
O setor energético brasileiro vem passando por profundas mudanças desde
meados dos anos 1990. Privatizou-se a maior parte das concessões de trans-
missão e distribuição de energia elétrica e uma parte crescente da geração.
Ao mesmo tempo, iniciou-se a transição para um novo marco institucional,
abrindo a geração e a comercialização da eletricidade para a concorrência,
criando novas agências reguladoras e o mercado livre.
No meio dessas grandes transformações, a modernização do setor passou
a ter uma importância extrema nos sistemas, uma vez que a dependência por
energia passou a ser cada vez maior.
2 Aspectos construtivos de linhas de transmissão

Nesse contexto, os sistemas de transmissão cada vez mais passaram a ser


mais robustos, com supervisões remotas e automações mais avançadas, de tal
forma a garantir a continuidade do fornecimento de energia a todos os centros
de carga e demais instalações conectadas a esses sistemas de transmissão
de energia elétrica.
Dessa forma, os sistemas de transmissão foram sendo aperfeiçoados, tanto
na parte construtiva de torres quanto nos tipos de cabos aplicados. Da mesma
forma, cresceram os estudos sobre os esforços mecânicos a que são submetidos
esses materiais, considerando que muitas vezes, essas linhas têm milhares de
quilômetros de extensão, e grandes distâncias entre as torres de conexão.
Neste capítulo, você vai estudar quais são os elementos básicos que compõem
um sistema de transmissão de energia, como eles interagem entre si, a aplicação
de diferentes tipos de condutores e como estes são submetidos aos diversos
esforços mecânicos.

Elementos e funções de um sistema de


transmissão de energia
Quando analisamos o cenário energético nacional, vemos que sua expansão
está diretamente ligada ao desenvolvimento socioeconômico do país, devido
à dependência entre eles. Os planejamentos de médio e longo prazo das
empresas do setor, tanto na geração, quanto na transmissão e na distribuição,
utilizam indicadores para realizar as suas previsões de expansão de carga e
de obras sistêmicas a serem realizadas a fim de garantir a demanda esperada
para os anos seguintes.
O sistema elétrico brasileiro é formado por empresas que geram a energia
— tanto por recursos hidrotérmicos, renováveis e demais disponíveis —,
empresas de transmissão que conectam esses agentes geradores aos cen-
tros de distribuição, e as próprias distribuidoras, que são as responsáveis
pela entrega da energia aos consumidores finais, sejam estes residenciais,
comerciais ou industriais.
Esse sistema é dividido em quatro subsistemas — Sudeste/Centro-Oeste,
Sul, Nordeste e Norte — além de alguns poucos sistemas isolados, mas que
ainda assim estão contemplados na base do sistema elétrico, conforme
mostrado na Figura 1.
Aspectos construtivos de linhas de transmissão 3

Figura 1. Subsistemas do sistema elétrico brasileiro.


Fonte: Mercado Livre de Energia Elétrica ([20--?], documento on-line).

Segundo Chaves (2004), a instalação de centrais de geração de energia


elétrica a partir do potencial hidráulico, geralmente próximas das quedas de
água e longe dos centros de consumo, implicou a necessidade imediata de
expansão das linhas de transmissão.
Como a geração de energia no Brasil está distante dos centros de carga,
existe a necessidade de ampliação e utilização de diversos sistemas de
transmissão, seja para a conexão desses pontos, seja para interligação de
áreas ainda não conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN), bem como
da confiabilidade da malha energética. Nessa premissa, há a necessidade de
um sistema robusto com características que permitam o transporte de toda
a energia gerada nos sistemas. Além da transmissão em si, esses sistemas
têm que ser projetados de tal forma a conectar diversos tipos de fontes de
geração, como as térmicas, que utilizam o carvão mineral, o petróleo, o gás
natural e seus derivados) e as renováveis (eólica, biomassa e solar).
4 Aspectos construtivos de linhas de transmissão

De acordo com Elias (2015), após a produção da energia nas usinas ge-
radoras, o transporte e a interligação entre as centrais de distribuição são
realizados através das linhas de transmissão, que podem operar em diferen-
tes classes de tensões, sendo 69 kV, 138 kV, 230 kV, 345 kV, 440 kV, 500 kV e
765 kV as tensões típicas aplicadas no Brasil.
O mapa da Figura 2 apresenta um mapa do Operador Nacional do Sistema
Elétrico (nos) em relação às linhas de transmissão e ao horizonte de trans-
missão até 2024, com as suas respectivas classes de tensão.

Figura 2. Mapa do sistema de transmissão — horizonte 2024.


Fonte: Operador Nacional do Sistema Elétrico ([20--?], documento on-line).
Aspectos construtivos de linhas de transmissão 5

Os componentes de uma linha de transmissão são as torres de sustentação,


os isoladores, os cabos e condutores e os para-raios. Esses equipamentos,
quando interligados, constituem o sistema de transmissão.

Torres de sustentação
As torres de sustentação têm um papel fundamental na distribuição de ener-
gia, uma vez que apresentam as funções de sustentar o peso dos condutores
ali conectados, de isolar esses cabos de defeitos e de manter uma isolação
entre eles.
Elas podem adotar diversas configurações em função da classe de ten-
são e do local em que são instaladas. Quanto maior o nível de tensão a que
estará submetida, maiores devem ser os espaçamentos entre os condutores.
A Figura 3 mostra essa relação com a classe de tensão.

1:5

1:6

138 kV 345 kV 765 kV

1:30

Figura 3. Proporção entre torres de transmissão sobre a classe de tensão.


Fonte: Agência Nacional de Energia Elétrica ([20--?], documento on-line).

Pode-se definir uma torre como estruturas metálicas, normalmente


construídas com aço galvanizado ou material semelhante, com as mesmas
propriedades mecânicas, que sustentem todos os componentes, como cabos,
chaves, isoladores. Elas podem ser classificadas em autoportantes, quando
são instaladas e sustentadas pela sua própria base, por meio de estruturas
de concreto e fundações, e estaiadas, quando são sustentadas por meio de
cabos tensionados conectados ao solo.
6 Aspectos construtivos de linhas de transmissão

Isoladores
Os isoladores são elementos de uma linha de transmissão e são responsáveis
tanto por sustentar quanto por manter os cabos eletricamente isolados das
estruturas (torres).
Em arranjos aéreos, em que os cabos estão suspensos acima do solo,
esses condutores são sustentados pelos isoladores, em um arranjo conhecido
como cadeia de isoladores. O conceito de cadeia de isoladores corresponde a
diversos elementos conectados entre si, e a quantidade corresponde à classe
de tensão, conforme Figura 4.

Figura 4. Cadeia de isoladores.

Quando um sistema de transmissão é projetado, a cadeia de isoladores


deve suportar valores de tensão maiores do que a nominal do sistema a qual
ele está submetido, bem como resistir a surtos atmosféricos que possam
impactar a linha e a variações de tensão transitórias provenientes de mano-
bras realizadas na linha.
Esses equipamentos podem ser fabricados de material cerâmico, com
diversos tipos de porcelana ou vidro temperado, e, em alguns casos, com
uma combinação de elementos químicos, como um composto polimérico
similar à borracha de silicone, que envolve uma base sólida de cerâmica ou
vidro, dependendo do fabricante.
Aspectos construtivos de linhas de transmissão 7

Independentemente da composição desse equipamento, a premissa per-


manece a mesma: deve funcionar como um isolante dielétrico, de tal forma a
manter os cabos isolados da estrutura, bem como ser resistente a todos os
esforços mecânicos que o cabo proporciona quando ancorado a uma cadeia
de isoladores.
Quando os isoladores são instalados, eles podem ser classificados em
relação à sua forma de utilização. Uma delas é como conceito de suspensão,
na qual o equipamento é instalado em uma posição perpendicular em re-
lação ao cabo, de tal forma a sustentá-lo. O outro arranjo é definido como
ancoragem e deve suportar o peso do condutor, uma vez que esse isolador
é quem sustenta o cabo, bem como resistir às forças de tração e deflexão
provenientes do cabo.
A Figura 5 apresenta as duas condições, em que um isolador sustenta os
cabos enquanto os demais realizam as trações para cada trecho de cabo.

Figura 5. Isoladores de suspensão e ancoragem.


Fonte: Silva et al. (2007, documento on-line).

De acordo com Menezes (2015), os isoladores são equipamentos frágeis e


qualquer dano físico à sua estrutura pode gerar fuga de energia ou, no pior
dos casos, o rompimento da isolação, podendo causar uma descarga indevida
na torre e, por consequência, levar a um desligamento não programado do
sistema.
8 Aspectos construtivos de linhas de transmissão

As linhas de transmissão fazem parte de um complexo sistema,


o SIN, que permite a interconexão dos sistemas elétricos por meio
das linhas de transmissão conectadas a essa malha.
Esse arranjo permite a transferência de carga entre os subsistemas, a trans-
ferência de carga entre estes, nos momentos de maior demanda, também per-
mitindo a exploração das características de cada bacia hídrica, possibilitando,
assim, uma melhor geração com os recursos disponíveis.
Outro ponto a ser destacado é a possibilidade de integração de recursos
entre geração e transmissão, permitindo o atendimento ao mercado de energia
com maior segurança e confiabilidade.

Cabos
Em uma linha de transmissão, os cabos são formados através de diversos fios
entrelaçados entre si, que realizam as conexões entre as fontes geradores e
as empresas de distribuição de energia.
Uma característica desse tipo de cabo é apresentar uma boa condutivi-
dade, uma vez que é necessário realizar o transporte de energia com a menor
resistência possível, bem como apresentar uma resistência mecânica de
acordo com a aplicação, considerando os diversos tipos de arranjos existentes.

Condutores
Os condutores são os responsáveis por realizar a transmissão de energia de
um ponto de conexão a outro. São eles que permitem o deslocamento das
cargas elétricas que são geradas nas usinas até os centros de distribuição,
os quais são administrados por empresas de distribuição de energia que
detêm a concessão de uma determinada área.
Nas primeiras linhas de transmissão, um material que teve uma ampla
utilização foi o cobre, devido à sua alta capacidade de transmissão de energia,
porém o seu custo ao longo dos anos passou a inviabilizar a sua utilização.
Além da condição financeira, o peso dos cabos passou a ser um fator crítico
em grandes distâncias, uma vez que eram necessárias estruturas maiores,
afetando diretamente os custos do projeto como um todo.
Com a evolução dos materiais e a aplicação de novas ligas metálicas,
o alumínio passou a ter maior utilização nesse tipo de projeto, sendo utilizado
hoje na maioria dos projetos de transmissão, devido à sua condutividade para
essa finalidade, bem como ao seu menor custo em relação às demais ligas
metálicas que podem ser utilizadas nesse segmento.
Aspectos construtivos de linhas de transmissão 9

Devido às distâncias em que esses cabos estão de um ponto a outro de


conexão, a utilização de cabos de alumínio com alma de aço (no caso um cabo
de aço, envolvido pelos cabos de alumínio) é o mais comum em projetos de
linhas de transmissão, tanto pela sua condutividade quanto pela resistência
mecânica no momento de tracionamento à torre.
O alumínio apresenta as seguintes características:

„ cor branca prateada;


„ pequena resistência mecânica;
„ grande ductibilidade e maleabilidade;
„ a soldagem não é fácil;
„ é atacado por ácido sulfúrico, ácido clorídrico, ácido nítrico diluído e
por soluções salinas.

O alumínio é inferior ao cobre tanto elétrica quanto mecanicamente,


e eles estão separados eletroquimicamente por 2 V.

Para-raios
Pelas características construtivas das torres de transmissão, estas estão
sujeitas a descargas atmosféricas, portanto é necessária a instalação de um
sistema de para-raios que permita o escoamento destas à terra, sem afetar
o sistema de transmissão.
A localização do sistema de para-raios é de extrema importância, uma
vez que a partir dela será definido o grau de proteção à linha. Devido à sua
importância no sistema, existem diversos estudos de localização ótima de
para-raios em diversos modelos de torres, de a fim de sua atuação seja mais
efetiva. Todo o sistema de para-raios, assim como a própria estrutura da torre
devem estar conectados a um sistema de aterramento, a fim de garantir a
dispersão da descarga atmosférica junto à terra, bem como eventuais cor-
rentes de fuga provenientes do sistema.
A função de um para-raios pode ser explanada como:

„ proteger os equipamentos elétricos contra sobretensões transitórias


e limitar a duração e o valor da corrente subsequente;
„ limitar impulsos de tensão em equipamentos, descarregando para a
terra a corrente de surto que atinge a subestação;
„ impedir que o fluxo de corrente de frequência industrial se estabeleça
para a terra uma vez limitado o surto de tensão, isto é, não deve permitir
que atue a proteção contra defeitos fase-terra.
10 Aspectos construtivos de linhas de transmissão

A Figura 6 mostra um modelo de para-raios polimérico com grande apli-


cação em linhas de transmissão.

Figura 6. Isolador polimérico.

Disposição de condutores
Os projetos de linhas de transmissão são elaborados a fim de suportar os
condutores e o cabo guarda de forma segura. Essas linhas podem conter
circuitos únicos, duplos ou múltiplos, dispostos em arranjos verticais, hori-
zontais, delta ou delta invertido.
De acordo com Teixeira (2017), quando os estudos são realizados para
uma nova linha de transmissão, a escolha da configuração mais adequada
depende de vários parâmetros e restrições elétricas, mecânicas e ambientais,
pois estas são essenciais para que o projeto seja viável tecnicamente. Na LT,
as distâncias elétricas mínimas entre fases, fase-terra e fase em relação a
objetos próximos à linha, conforme recomendado pela NBR 5422, devem ser
respeitadas.
Aspectos construtivos de linhas de transmissão 11

Uma das disposições aplicadas para circuitos únicos é a triangular, con-


forme Figura 7.

Cabo para-raios

Cadeia de isoladores
com 9 ou 10 discos

1 cabo condutor por fase

LINHA DE 138 kV — CIRCUITO SIMPLES

Largura da faixa de passagem = 30 m

Largura da faixa com queimada proibida = 60 m

Figura 7. Disposição triangular eletricamente simétrica.


Fonte: Adaptada de Pires (2016).

No modelo de arranjo da Figura 7, os condutores estão dispostos segundo


os vértices de um triângulo, que poderá ser equilátero ou outro qualquer.
A disposição vertical, conforme apresentado na Figura 8, a seguir, é utilizada
quando se tem circuitos duplos e para-linhas que acompanham vias públicas.
Nestas, os condutores se encontram montados em um plano vertical.
12 Aspectos construtivos de linhas de transmissão

Cabo para-raios

Cadeia de isoladores
com 19 ou 20 discos

2 ou 4 cabos condutores por fase

Largura da faixa de passagem = 50 m

Largura da faixa com queimada proibida = 80 m

Figura 8. Disposição vertical.


Fonte: Adaptada de Pires (2016).

Essas disposições são as mais comuns aplicadas a sistemas de transmissão.


Como a linha de transmissão é um local com alto risco devido à classe
de tensão, é necessário que se tenha uma faixa de segurança, que pode ser
definida como a área ao longo do eixo de uma linha, onde ocorrem restrições
de uso, de tal forma a garantir a segurança tanto de pessoas quanto da
própria instalação.
A largura da faixa de segurança deve levar em conta o isolamento propor-
cionado pelo próprio ar, entre as partes energizadas e a malha de aterramento,
o posicionamento das torres e os cabos de estaiamento.
A Figura 9 a seguir ilustra esse conceito.
Aspectos construtivos de linhas de transmissão 13

Figura 9. Faixa de segurança.


Fonte: Lisboa (2018, documento on-line).

Características de cabos condutores


De uma maneira geral, em aplicações tanto de transmissão como de distri-
buição de energia, os cabos apresentam a mesma premissa construtiva, pois
são formados por fios dispostos em camadas, e cada uma delas é disposta
de forma helicoidal sobre a anterior. Cada vez que uma camada é adicionada,
a seguinte irá apresentar seis condutores a mais do que a anterior, até que
a especificação do cabo seja atendida. Dessa maneira, sendo N o número de
camadas do cabo, o número total de fios será de N = 3 (n2 + n) + 1 (NEXANS, 2009).
Quando estamos falando do componente de uma linha de transmissão
denominado cabo, este pode ser homogêneo ou heterogêneo, isso é, pode
ser formado por um único material ou por materiais distintos, conforme
Figuras 10 e 11.

7 fios 19 fios 37 fios 61 fios 91 fios

Figura 10. Configuração de cabos homogêneos.


Fonte: Adaptada de Burin (2010).
14 Aspectos construtivos de linhas de transmissão

6 Al/1 aço 7 Al/1 aço 8 Al/1 aço 18 Al/1 aço

4 Al/3 aço 3 Al/4 aço 6 Al/7 aço 8 Al/7 aço

12 Al/7 aço 24 Al/7 aço 25 Al/7 aço 30 Al/7 aço

54 Al/7 aço 30 Al/15 aço 30 Al/19 aço

34 Al/19 aço 54 Al/19 aço

Figura 11. Configuração de cabos heterogêneos.


Fonte: Adaptada de Burin (2010).

Em um cabo de transmissão de energia, o ideal é um tipo de material


que tenha alta condutibilidade elétrica (para que as perdas por efeito Joule
tenham um valor tolerável que não comprometa a operação), baixo custo,
boa resistência mecânica, de tal forma a assegurar a segurança mecânica da
linha, que não seja suscetível a efeitos de oxidação e perda de massa/seção
com o risco de rompimento do cabo, e que tenha o menor peso possível,
a fim de que as estruturas sejam as mais simples possíveis.
Como nenhum tipo de material conhecido pelo homem se enquadra nessas
premissas, a utilização fica resumida ao cobre e ao alumínio, sendo o segundo
com ampla aplicação em relação ao primeiro, pelos motivos apresentados
anteriormente.
No Brasil, a maior aplicação em linhas de transmissão é dos cabos ACSR,
pois eles dispõem de um núcleo feito de aço, o que possibilita a aplicação
de um maior esforço mecânico.
Aspectos construtivos de linhas de transmissão 15

Em uma comparação entre cabos de alumínio e cobre, quando aplicados


a uma linha de transmissão, temos os resultados a seguir, considerando o
mesmo comprimento dos condutores, as mesmas resistências inseridas no
circuito (nesse caso não estamos considerando a resistividade do próprio
material) e as mesmas condições de perdas devido ao efeito Joule.

„ Um cabo de alumínio terá uma seção na ordem de 1,6 vezes maior em


relação ao cobre.
„ Diâmetro do condutor de alumínio tem uma relação 1,262 vezes superior
em relação ao outro material de referência.
„ Sobre o peso dos condutores, o alumínio apresenta uma variação duas
vezes menor do que o cobre, o que é considerado um fator de extrema
importância na elaboração de projetos, considerando que o peso do
material interfere diretamente tanto nas estruturas (torres, cadeira de
isoladores) — uma vez que, quanto mais pesado, maior a necessidade de
torres com maior grau de suporte aos esforços mecânicos aplicados —,
como no custo de construção de uma estrutura com essas características.
„ Sobre custos, o valor do condutor de cobre em relação ao de alumínio
é duas vezes maior, sendo a sua aplicação direcionada a partes espe-
cíficas como malhas de aterramento, conectores, entre outros.

Os tipos mais aplicados de cabos no Brasil são os AAC, AAAC, ACSR e ACAR,
descritos a seguir.

„ AAC (all aluminum conductor) — Tem na sua constituição um arranjo


de vários condutores de alumínio encordoados. Esse tipo de condutor
não apresenta alma de aço, no caso todo o esforço é concentrado no
cabo, sem nenhum suporte adicional.
„ AAAC (all aluminum alloy conductor) — Esse cabo é composto por ligas
de alumínio de alta resistência, é mais resistente do que o AAC, mas
também não dispõe de aço na sua composição. Esse condutor apresenta
a menor relação entre peso e carga de ruptura.
„ ACSR (aluminum conductor steel reinforced) — Segue o mesmo padrão
construtivo dos anteriores, mas este apresenta um composto que
conecta camadas concêntricas de condutores de alumínio sobre uma
alma de aço. Esse tipo tem ampla aplicação nas linhas de transmis-
são, devido à sua resistência mecânica quando submetido a grandes
distâncias entre os pontos de ancoragem.
16 Aspectos construtivos de linhas de transmissão

„ ACAR (aluminum conductor, aluminum alloy reinforced) — Esse cabo


apresenta uma composição idêntica aos cabos ACSR mencionados
anteriormente, porém com alma usando ligas de alumínio, o que deixa a
sua utilização limitada em projetos de longas distâncias. Sua aplicação
é direcionada a ramais de clientes ligados nas redes de transmissão,
por serem distâncias menores e com esforços reduzidos em relação
ao ponto de conexão.

O princípio de construção de todos os cabos utilizados em rede aérea é


o mesmo para qualquer um dos mencionados; o que diferencia é o elemento
do núcleo, onde os demais cabos serão enrolados.
A Figura 12 apresenta um modelo de cabo ASCR, que dispõe de uma alma
de aço.

Figura 12. Cabo ASCR com alma de aço.


Fonte: fpfajarpratama/Shutterstock.com.

Como em todo processo de fabricação de materiais e dispositivos elétri-


cos, existem diversas normas que regem esse processo, tanto em relação a
parâmetros elétricos e mecânicos, quanto a medidas padronizadas. Para os
cabos de transmissão de energia elétrica, a identificação quanto a área da
seção transversal é feita por meio da sua seção nominal em mm2.
Aspectos construtivos de linhas de transmissão 17

As medidas que são padronizadas em mm são: 0,5 – 0,75 – 1 – 1,5 – 2,5 – 4


– 6 – 10 – 16 – 25 – 35 – 50 – 70 – 95 – 120 – 150 – 185 – 240 – 310 – 400 – 500 –
630 – 800 – 1.000 – 1.200 – 1.600 – 2.000.
Alguns projetos específicos podem solicitar medidas diferentes das apre-
sentadas, mas são casos que necessitam de uma aplicação direcionada, como
protótipos ou projetos de pesquisa e desenvolvimento, que necessitam de
recursos que muitas vezes não estão disponíveis no mercado.
Além do padrão “A”, o Brasil também utiliza a medida para seções nominais
denominada AWG (american wire gage).
Diferente da medida dos cabos AAC, AAAC, ACSR e ACAR, no padrão AWG
a seção nominal é identificada por um código numérico sequencial (nesse
modelo é denominado bitola, e não seção) que vai do código 36 ao código 1.
Existem, ainda, os códigos adicionais: 0 (1/0) – 00 (2/0) – 000 (3/0) – 0000 (4/0).
Esses últimos são mais direcionados para projetos em rede de distribuição,
com poucas aplicações em linhas de transmissão.
Nesse modelo, quanto maior a numeração do cabo, menor será o diâmetro
do condutor, seguindo uma progressão geométrica para o cálculo desse valor.
Um cabo com a especificação de AWG 4/0 tem uma medida de 0,4600
polegadas, enquanto um AWG 36 tem 0,0050 polegadas, evidenciando, assim,
a relação de quanto maior a numeração menor o seu diâmetro.

O processo de fabricação de fios e cabos é feito por meio de trefilação,


que consiste em uma máquina com várias polias rotativas que fazem
o puxamento dos fios, os quais passam por um molde, denominado fieira, que
vai estirando e reduzindo os cabos até a medida desejada.
O processo de trefilação consiste em duas etapas, sendo a primeira redu-
zir os vergalhões de alumínio ou cobre de 8 mm até o diâmetro de 1,8 mm e,
posteriormente, há uma nova redução até as medidas padronizadas pela ABNT.
É importante salientar que um cabo é uma concentração de pequenos fios,
que, quando encordoados, geram um cabo da medida solicitada.

Comportamento mecânico dos cabos


em linhas de transmissão
Com o aumento de demanda nos últimos anos, os projetos de expansão de
linhas de transmissão têm aumentado, trazendo a necessidade de estudos de
como atender esse novo cenário sem ter que realizar grandes modificações
18 Aspectos construtivos de linhas de transmissão

no sistema, tanto devido às dificuldades técnicas de instalação de novos


corredores de transmissão, quanto pelos custos relacionados a esse tipo
de projeto.
Em projetos de linhas de transmissão, tem-se uma grande aplicação dos
cabos ACSR, conforme mencionado no decorrer deste capítulo. Os novos
projetos que estão sendo aprovados pelas empresas transmissoras têm
aplicado novos cabos de alumínio com o núcleo não mais composto de aço,
mas de uma liga reforçada com fibras de carbono, possibilitando a esses
novos condutores serem mais leves, o que impacta diretamente em relação
ao projeto de torres e esforços mecânicos, bem como gera maior resistência
aos efeitos de tração e temperatura às quais são submetidos.
Os pesquisadores de novos materiais têm apresentado constantemente a
evolução das ligas metálicas, sendo as empresas de transmissão de energia
as mais interessadas nessas novas composições, passando a adotar um novo
tipo de condutor, de tal forma a atender as suas demandas de expansão dos
sistemas. Esse cabo é denominado ACCR (aluminum conductor composite
reinforced — condutor de alumínio reforçado por compósito) e apresenta
peso 30% inferior, capacidade de conduzir até três vezes mais corrente e
mais rapidez no processo de instalação, quando comparado aos condutores
convencionais em alma de aço, pois dispensa a construção de novas torres.
Os cabos condutores presentes em linhas de transmissão podem ser
subtendidos a esforços na ordem de 22 kN, ou aproximadamente 25% da sua
carga mecânica de ruptura. Além do próprio peso do cabo, um fator que deve
ser considerado em todo projeto de linha de transmissão é as interferências
externas, como o vento, que pode ser um fator determinante no rompimento
de um cabo.
Esse efeito pode levar a um desgaste de diversos componentes, gerando,
assim, uma interrupção no fornecimento de energia, bem como o risco de
acidentes com profissionais da área, ou pessoas que estejam próximas aos
locais de passagem dessas linhas.
De acordo com Severino (2006), com o objetivo de obedecer aos critérios
estabelecidos em normas de segurança e procedimentos técnicos, bem como
outras referências de projetos, as concessionárias de energia adotavam, e
muitas vezes ainda adotam, os estudos estatísticos já elaborados sobre o
afundamento dos cabos quando da passagem de corrente por eles.
Uma informação extremamente útil em projetos de linha de transmissão
é a flecha. É a distância vertical em uma reta que liga dois pontos de fixação/
ancoragem, e nesse intervalo verifica-se um afundamento do cabo, denomi-
nando essa área como flecha.
Aspectos construtivos de linhas de transmissão 19

Quando essa conexão dos cabos for realizada na mesma altura nos dois
extremos (torres), tem-se a catenária, a curva que descreve um cabo que está
fixo por seus dois extremos e não está submetido a outras forças diferentes
do seu próprio peso (gravidade). Segundo Barros, Medeiros e Dantas (2014),
a análise de um modelo matemático para o cálculo desse tipo de situação é
um dos problemas que mais desperta o interesse de pesquisadores, desde
tempos antigos até os atuais. Ao analisar a aplicação deste conceito, a ca-
tenária é um dos modelos que mais despertou interesse dos matemáticos,
como Bernoulli e Galileu.
A flecha pode ser definida de maneira gráfica conforme a Figura 12.

Figura 13. Flecha em cabos suspensos na mesma altura.


Fonte: Singh (2009, documento on-line).

Em função da figura apresentada acima temos que:

„ L: vão;
„ H: altura de suspensão;
„ hs: distância do vértice da curva do cabo ao solo;
„ f: flecha;
„ T0: tração no ponto O (meio do vão);
„ p: peso do cabo por unidade de comprimento.
20 Aspectos construtivos de linhas de transmissão

O cálculo pode ser realizado por meio da fórmula:

=
0

[ ( ) ]
cosh
2∙
−1

Após realizados os lançamentos dos cabos, tanto condutores quanto o


cabo guarda ou para-raios, estes devem ter as flechas de acordo com o cálculo
em projeto básico, a fim de garantir que, em campo, as condições estão de
acordo com o que foi projetado.
Para que o valor seja idêntico ao do processo de cálculo, é efetuado um
ajuste por meio de regulagem dos cabos, até que o valor previsto seja cer-
tificado em campo.
Uma vez finalizados os ajustes, os cabos são retirados das roldanas que
foram utilizadas para o seu lançamento e são substituídos pelos grampos
de conexão, os quais irão conectar os cabos a cadeia de isoladores e, conse-
quentemente, à estrutura da torre em si.
Um fator a ser considerado em projetos de linhas de transmissão é a
ampacidade, que está relacionada à capacidade máxima de corrente em um
condutor. Esse comportamento está relacionado diretamente ao efeito Joule.
Neste capítulo, verificamos como as linhas de transmissão têm papel
fundamental no sistema energético, possibilitando a conexão entre os pon-
tos de geração até os centros consumidores. O sistema de transmissão é
basicamente composto pelas torres, que realizam a sustentação dos cabos,
condutores com diversas classificações, de acordo com a sua necessidade
de aplicação, bem como pelos isoladores que sustentam esses elementos,
ao mesmo tempo que servem como isolantes entre os cabos e a rede.
Os cabos estão em constante desenvolvimento, e a sua evolução se traduz
em novos elementos que possibilitam maior resistência mecânica, com maior
capacidade de transferência de energia.
Além dos tópicos mencionados, um ponto de grande importância nesse
tipo de projeto é a análise das forças que atuam, uma vez que o próprio
cabo, pelo seu peso, já realiza um esforço na torre, bem como as incidências
de fatores externos, como variações de temperatura e ventos, o que pode
ocasionar danos às estruturas e aos condutores, caso os cálculos de flecha
e tração não estejam de acordo com as necessidades do projeto.
Aspectos construtivos de linhas de transmissão 21

Referências
AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA. Linhas de transmissão. [20--?]. Disponível em:
http://www.labtime.ufg.br/modulos/aneel/mod4_uni1_sl8.html. Acesso em: 14 set. 2021.
BARROS, T. C.; MEDEIROS, F. T. N.; DANTAS, M. P. Modelagens da catenária através de
equações diferenciais ordinárias. 3. ed. Pernambuco: UFRPE, 2014.
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em Engenharia Civil) — Escola de Engenharia, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, 2010. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/han-
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Leitura recomendada
PINTO, M. O. Energia elétrica: geração, transmissão e sistemas interligados. Rio de
Janeiro: LTC, 2014.

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