Você está na página 1de 7

Séries e Sequências

0.1 Sequências Numéricas


Sequências Numéricas são listas ordenadas comuns no estudo de matemática. Es-
sas listas podem conter uma quantidade limitada de termos, por exemplo,

2, 4, 6, 8, 10

e, nesse caso dizemos que temos uma Sequência Finita, ou as listas podem ter uma
quantidade infinita de termos como, por exemplo, a lista
1 2 3 4
, , , ,···
3 5 7 9
que nesse caso é chamada de Sequência Infinita. Nesse estudos estaremos traba-
lhando apenas com sequências infinitas. Portanto, a partir de agora sempre que
usarmos a palavra “sequência” estaremos nos referindo à sequências infinitas.
A definição formal de uma sequência é apresentada a seguir.

Definição 0.1.1 Uma Sequência é qualquer função s : N → R que associa a cada


n ∈ N um único número real s (n ) = a n , ou seja,

s: N → R
.
n 7→ s (n) = a n

Notação: (a n )n ∈N (ou simplesmente (a n )).


„

Observe que cada elemento de uma sequência é representado por sua imagem e
que, além disso, a sequência é uma lista de números ordenados. Dessa forma temos
que o primeiro termo da sequência é o a 1 , o segundo a 2 , o terceiro a 3 e assim por
diante. Consequentemente, um termo de posição n é representado por a n , que é
chamado de n -ésimo termo da sequência. Dessa forma, s pode ser representada
por
s = (a 1 , a 2 , a 3 , · · · , a n , · · · ) , n ∈ N.
Vejamos alguns exemplos.

Exemplo 0.1.1 a) Temos que s = (2, 4, 6, 8, · · · ), é a sequência onde cada termo é o


dobro do valor da posição que ele ocupa na sequência, ou seja, a n = 2n, com n ∈
N. Essa sequência, formada por todos os números pares pode ser representada de
forma simplificada por
s = (2n ).

1
Prof. Carlos Alberto da Silva Junior DEMAT/UFSJ

1 2 3 4
 ‹
b) Temos que s = , , , , · · · , é a sequência formada por toda fração tal que a n =
2 3 4 5
n
, com n ∈ N. Portanto, s pode ser representada por
n +1
 n 
s= .
n +1

(−1)n (n + 1)
 ‹
c) Temos que s = , é a sequência cujo termo geral é dado por a n =
3n
(−1)n (n + 1)
, n ∈ N. Assim, temos que s fica dada por
3n
2 1 4 5
 ‹
s = − , ,− , ,··· .
3 3 27 81
p 
d) Temos que a sequência s = n − 3 só faz sentido se n ≥ 3. Assim, como o termo
p
geral sequência é a n = n − 3, temos que s fica dada por
p p p 
s = 0, 1, 2, 3, 4, · · · , n ∈ {3, 4, 5, · · · }.

  n π 
e) Temos que s = cos , com n ∈ N é a sequência cujo termo geral dado por
nπ 6
a n = cos . Assim, considerando zero como um número natural, temos que s
6
fica dada por

s = (cos(0o ), cos(30o ), cos(60o ), cos(90o ), cos(120o ), cos(150o ), cos(180o ), cos(210o ), · · · ) =


 p p p p p 
3 1 1 3 3 1 1 3 3 1
= 1, , , 0, − , − , −1, − , − , 0, , , 1, , ,··· .
2 2 2 2 2 2 2 2 2 2
Esse é um exemplo para ilustrar que podemos ter uma sequência periódica, onde
uma lista finita e ordenada de termos repetem infinitamente.

f) Temos que uma sequência onde todos os termos são iguais, ou seja, uma sequência
da forma s = (a , a , a , · · · ), a ∈ R, é chamada de Sequência Constante.
1
 ‹
g) Na sequência s = cada termo a n é obtido pelo inverso do valor da posição
n
que ele ocupa na lista. Assim, temos que s fica dada por

1 1 1
 ‹
s = 1, , , , · · · .
2 3 4
„

Parece natural comparar duas listas. A primeira comparação que podemos fazer
é verificar se elas são, ou não iguais, como definiremos a seguir.

Definição 0.1.2 Sejam (a n )n ∈N e (bn )n ∈N duas sequências. Então, dizemos que (a n ) e


(bn ) são Iguais, e escrevemos (a n ) = (bn ), se a i = bi , para todo i ∈ N.
„

2
Prof. Carlos Alberto da Silva Junior DEMAT/UFSJ

Em outras palavras, duas sequências são iguais se todos os seus termos, nas po-
sições correspondentes, são iguais. Dessa forma, como na sequência todos os ele-
mentos possuem uma ordenação, é possível que duas sequências tenham os mes-
mos elementos (como conjuntos) mas que elas não sejam iguais. Vejamos alguns
exemplos.

2
(
1
 ‹
, se n for par
Exemplo 0.1.2 Considere a sequência s = e t = (bn ) onde bn = n + 2 .
n 1, caso contrário
1 1 1 1 1 1
 ‹  ‹
Observe que s = 1, , , , · · · e que t = 1, , 1, , 1, , · · · . Logo, os elementos
2 3 4 2 3 4
das duas sequências são os mesmos, contudo elas como sequências elas são clara-
mente diferentes.
„

Agora vamos construir a ideia de Convergência de Sequências. Ou seja, algumas


sequências, quanto maior o valor da posição que o elemento ocupa na fila, mais
próximo
 ‹ o seu valor fica de um determinado limnite. Por exemplo, na sequência
1
s= , quanto maior o valor de n, mais próximo de zero fica o valor de a n . Então,
n
usando a ideia da definição de limite para funções no infinito, poderemos definir o
Limite de uma sequência, como a seguir.

Definição 0.1.3 Seja s = (a n ) uma sequência. Dizemos que s tem o Limite L , quando
n → +∞, e escrevemos

lim s = L ou lim s = L ou s → L ,
n →+∞

se para todo ε > 0 existe um número natural n0 tal que |a n −L | < ε sempre que n > n0 .
„

Como estamos definindo o limite se uma sequência da mesma forma que limi-
tes de funções, iremos usar as propriedades já estudadas para calcular limites de
funções para calcular limites de sequências. O teorema a seguir será usado para
nos garantir que isso é possível.

Teorema 0.1.1 Seja f : R+ → R uma função. Se lim f (x ) = L , então, temos que


x →+∞
lim f (n ) = L quando n ∈ N.
n→+∞

Demonstração: Exercício. „
Vejamos a aplicação nos exemplos a seguir.

1
 ‹
Exemplo 0.1.3 Seja s a sequência dada por s = . Calcule lim s .
n

Solução: Temos que


1
lim s = lim = 0.
n→+∞ n

Portanto, lim s = 0. „

3
Prof. Carlos Alberto da Silva Junior DEMAT/UFSJ

 n 
Exemplo 0.1.4 Seja s a sequência dada por s = . Calcule lim s .
2n + 1

Solução: Temos que

n 1 1 1 1
lim s = lim = lim = = = .
n→+∞ 2n + 1 n→+∞ 1 1 2+0 2
2+ 2 + lim
n n→+∞ n

1
Portanto, lim s = . „
2
Existem sequências que possuem limites e outras que não. Usaremos esse fato
para definir Convergência.

Definição 0.1.4 Seja s = (a n )n∈N uma sequência. Se lim s = L , então, dizemos que s
é uma sequência Convergente e que s Converge para L . Caso contrário, dizemos que
s é Divergente.
„

Vejamos alguns exemplos.


 
4n 2
Exemplo 0.1.5 Determine se a sequência s = é convergente ou divergente.
2n 2 + 1

Solução: Observe que

4n 2 4 4
lim s = lim = lim = = 2.
n→+∞ 2n 2 + 1 n→+∞ 1 2+0
2+
n2
4n 2
Portanto, a n = → 2 quando n → +∞ e, consequentemente, temos que a
2n 2 +2 1 
4n
sequência s = é convergente. „
2n 2 + 1

Exemplo 0.1.6 Mostre que se |r | < 1, então, a sequência (r n ) é convergente e que r n →


0.

Solução: Considere r = 0. Então, (r n ) é a sequência constante dada por (r n ) =


(0, 0, 0, · · · ) e, consequentemente, lim 0 = 0. Portanto, a sequência (0)n ∈N é conver-
n→+∞
gente, e ela converge para zero.
Agora, suponha 0 < |r | < 1. Assim, temos que

r n = e ln(|r | ) = e n ln(|r |) ⇒ lim r n = lim e n ln(|r |) .


n

Como 0 < |r | < 1, segue que ln(|r |) < 0 e, consequentemente, n ln(|r |) < 0. Assim,

lim r n = lim e n ln(|r |) = e −∞ = 0.

Portanto, (r n ) é convergente para todo |r | < 1 e r n → 0. „

4
Prof. Carlos Alberto da Silva Junior DEMAT/UFSJ

Definição 0.1.5 Seja s = (a n ) uma sequência e K ⊂ N um subconjunto infinito. En-


tão, dizemos que (a nk ), nk ∈ K , é uma Subsequência da sequência (a n ).
„

Em outras palavras, uma subsequência é ainda uma sequência obtida da (a n )


retirando-se alguns dos seus elementos. Vamos a uma teorema muito útil envol-
vendo sequências.

Teorema 0.1.2 Seja s = (a n ) uma sequência e (a nk ) ⊂ s , nk ∈ K ⊂ N, uma subsequên-


cia de s . Assim, se s → L , então, (a nk ) → L .

Demonstração: Exercício. „
Em geral usamos a contra-positiva desse teorema para provar que o limite de
uma sequência não existe, ou seja, mostramos que duas subsequências distintas
da sequência possuem limites diferentes, logo a sequência é divergente. Veja um
exemplo.

Exemplo 0.1.7 Determine se a sequência s = ((−1)n + 1) é convergente ou divergente.

Solução: Podemos escrever os elementos da sequência s por:

s = (0, 2, 0, 2, 0, 2, · · · ).

Então, temos que na sequência s , se n é par temos que a n é constante e igual a dois
e se n é ímpar, então, a n é constante e igual a 0. Dessa forma, temos que a 2n → 2 e
a 2n+1 → 0. Portanto, a sequência é divergente. „
Os teoremas de limites para sequências são análogos aos que foram desenvol-
vidos no estudo de limites de funções. Contudo, usamos no enunciado desses teo-
remas a termologia de sequências. Agora vamos apresentar alguns resultados, mas
as suas demonstrações serão deixadas como exercícios, visto que elas são análogas
as suas correspondentes a limites de funções.

Teorema 0.1.3 Se s = (a n ) e t = (bn ) são duas sequências e se c ∈ R é uma constante,


então:

a) lim c s = c lim s ; s lim s


d) lim = , se lim t 6= 0 e bn 6= 0
t lim t
b) lim(s ± t ) = lim s ± lim t ; para todo n ∈ N.

c) lim s t = (lim s ) (lim t );

Demonstração: Exercício. „
Vejamos um exemplo.

n2  π 

Exemplo 0.1.8 Verifique se a sequência s = sen é convergente e, nesse
2n + 1 n
caso, encontre o valor do seu limite.

5
Prof. Carlos Alberto da Silva Junior DEMAT/UFSJ

Solução: Observe que


 π
n2 π
n nπ n n π   sen
s= sen = ·n ·sen =π · ·sen =π · n .
2n + 1 n 2n + 1 n 2n + 1 π n 2n + 1 π
n
n 1 π
Já mostramos que → e usando o limite fundamental (sabendo que → 0
2n + 1 2 π n
sen
quando n → +∞) temos que n → 1, logo a sequência dada é convergente e
π
n
1 π
lim s = π · · 1 = . „
2 2
Agora faça alguns exercícios. Bons estudos.

0.2 Exercícios
Exercício 0.2.1 Represente a sequência (a n ) na forma explicita (a 1 , a 2 , a 3 , · · · , a n , · · · ),
em cada caso a seguir.
n 3 − 2n 2
a) a n = (−1)n ; e) a n = ;
n +1 i) a n = ;
n2 − 1
1 f ) a n = n !;
b) a n = ; ln(n)
2n 2 j) a n = ;
n +1 n2
c) a n = n ; g) a n = ;
2n − 1 k) a n = tanh(n );
(−1)n − 1 n2 + 1 n nπ
d) a n = ; h) a n = ; l) a n = sen .
2 n n +1 2
Exercício 0.2.2 Determine se cada uma das sequências (a n ), cujo termo geral é apre-
sentado a seguir, é convergente ou divergente.
p p
2n 2 + 1 2n 2 + 3n + 5 i) a n = n + 1 − n;
a) a n = ; e) a n = ;
3n 2 − n n4
p p
n 2 + 10 en j) a n = 2n + 3− 2n − 3;
b) a n = ; f ) an = ;
2n 3 + 1 n v
t 2n + 5
3n 3 + 1 ln(n) k) a n = ;
c) a n = ; g) a n = ; n +1
2n 2 n
2n 2 + 3n + 5 senh(n) sen(n )
d) a n = ; h) a n = ; l) a n = .
n2 + 1 sen(n ) n
Exercício 0.2.3 Seja (a n ) e (bn ) duas sequências tais que a n → L e bn → L . Prove que
se existe um n0 ∈ N tal que a n < cn < bn , para todo n > n0 , então cn → L .

Exercício 0.2.4 Seja (a n ) e (bn ) duas sequências tais que a n → L e bn → M . Prove que
se existe um n0 ∈ N tal que a n ≤ bn , para todo n > n0 , então L ≤ M .

6
Prof. Carlos Alberto da Silva Junior DEMAT/UFSJ

   
n2 n2
Exercício 0.2.5 Mostre que as sequências e divergem. Mostre
n −3 n∈N
n +4 n∈N
 2 
n n2
que a sequência − converge.
n − 3 n + 4 n∈N

Exercício 0.2.6 Mostre que se a n → L e a n → M , então então L = M , em outras


palavras, o limite de uma sequência é único.

Exercício 0.2.7 Seja (a n ) uma sequência convergente com a n → L . Prove que a sequên-
cia (bn ), com bn = (a n )2 converge para L 2 .

Exercício 0.2.8 Seja (a n ) uma sequência convergente com a n → L . Prove que a sequên-
cia (bn ), com bn = |a n | converge para |L |.

Você também pode gostar