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Dissertação de Mestrado
Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
DA COLÔNIA AO SHOPPING:
um estudo da evolução tipológica da arquitetura hospitalar em Natal
Orientadora:
Profa. Dra. Sônia Marques da Cunha Barreto
Natal – RN
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
2005
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO
DA COLÔNIA AO SHOPPING:
um estudo da evolução tipológica da arquitetura hospitalar em Natal
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Escrevo esses agradecimentos mais de um ano depois do término dos trabalhos. Portanto,
distante do calor dos acontecimentos, das emoções e do cansaço. Por um lado, esse
distanciamento me permite observar os fatos com mais serenidade. Por outro, me arrisco a
ser traída pela memória, deixando de citar alguns nomes daquelas pessoas que considero
terem sido de fundamental importância para realização deste trabalho: os funcionários dos
hospitais pesquisados em Natal. Falo especificamente daqueles que trabalham anos a fio
nessas instituições, alguns inclusive desde sua construção. E que, por sua relação com elas
como um segundo lar, guardam lembranças, escritos e fotos como se fossem suas próprias.
Foi através delas que pude preencher lacunas deixadas pelos documentos oficiais quase
inexistentes. Gostaria de registrar a valiosa ajuda e o apoio prestado por essas pessoas
durante a execução da pesquisa – apoio e ajuda sem os quais seria difícil, ou até mesmo
impossível, realizar algumas das tarefas deste trabalho.
Também gostaria de agradecer a todas as demais pessoas que contribuíram para esse
trabalho, por meio de comentários, sugestões, ou encorajamento. Certamente essa lista
seria grande demais para registrá-la aqui. No entanto, citarei algumas em especial: minha
orientadora, Sônia Marques, pela maneira crítica e instigadora com que leu e discutiu os
textos por mim produzidos; Enilson, por sua companhia e generosidade; por fim, as
companheiras do escritório – Shirley, Laíse e Adriana –, que com talento e paciência
digitaram os projetos dos hospitais.
Resumo
Abstract
1. Introdução ................................................................................................ 1
1.1. Arquitetura e História da Arquitetura ............................................. 3
1.2. História comparada da Arquitetura e análise tipológica ................. 4
1.3. A análise tipológica ........................................................................ 4
1.4. Uma leitura sintética da evolução dos hospitais ocidentais ............ 5
1.5. Perguntas e hipóteses básicas de trabalho ...................................... 7
1.6. Objetivo geral e objetivos específicos ............................................ 9
1.7. Relevância e justificativa da pesquisa ............................................ 9
1.8. Procedimentos metodológicos ........................................................ 10
1.9. Estrutura do documento .................................................................. 11
2. Tipo, tipologia, análise tipológica: discussão e definição conceitual ... 12
2.1. O conceito de tipo e a crise da Arquitetura Moderna ..................... 14
2.2. O debate tipológico: uma breve reconstituição .............................. 16
2.3. Antecedentes dos teóricos do século XIX ...................................... 23
2.4. Tipo na visão de Quatremère de Quincy ........................................ 25
2.5. O tipo na obra de Durand ............................................................... 28
2.6. O tipo na visão de Viollet-le-Duc ................................................... 31
2.7. Integração dos conceitos de tipo ..................................................... 32
2.8. Descrição dos instrumentos de análise ........................................... 35
3. Evolução das tipologias arquitetônicas do edifício hospitalar ............ 39
3.1. O hospital no período medieval ...................................................... 41
3.1.1. O tipo claustral .......................................................................... 42
3.1.2. O tipo basilical .......................................................................... 46
3.1.3. O tipo colônia ............................................................................ 48
3.2. O hospital renascentista .................................................................. 50
3.2.1. A enfermaria cruzada ................................................................ 52
3.2.2. O tipo casa de campo ................................................................ 54
3.3. O hospital iluminista ....................................................................... 56
3.3.1. O tipo pavilhonar ....................................................................... 59
3.3.2. A influência de Florence Nightingale ....................................... 61
3.3.3. O legado do Iluminismo para a arquitetura hospitalar .............. 62
3.4. O hospital modernista ..................................................................... 63
3.4.1. O tipo torre sobre pódio ............................................................ 66
3.4.2. O tipo rua hospitalar .................................................................. 68
3.4.3. O tipo sanduíche ........................................................................ 72
3.5. O hospital do período pós-modernista ............................................ 74
3.5.1. O tipo shopping/hotel/residência ............................................... 77
3.6. Um quadro-síntese da evolução tipológica do hospital ocidental .. 81
4. Implantação de hospitais em Natal ao longo do século XX ................. 92
4.1. Política de saúde pública e a situação do hospital em Natal no
Brasil Imperial ................................................................................ 94
4.2. A Primeira República: a construção das políticas públicas de
saúde e suas repercussões nos hospitais de Natal ........... 96
4.3. Estado Novo, política nacional de saúde e desenvolvimento
hospitalar em Natal ......................................................................... 100
4.4. Da redemocratização ao golpe militar de 1964 .............................. 105
4.5. O período da ditadura miltar (1964-1985) ...................................... 111
4.6. De 1985 ao presente ....................................................................... 116
4.7. Uma visão geral do hospital em Natal ........................................... 121
5. Análise tipológica dos hospitais de Natal ............................................... 124
5.1. Preparação do material para análise ............................................... 127
5.2. O tipo colônia e o Hospital Colônia São Francisco ........................ 128
5.3. O tipo casa de campo ...................................................................... 129
5.4. A presença do tipo pavilhonar ........................................................ 133
5.4.1. O Hospital Evandro Chagas ...................................................... 133
5.4.2. Policlínica, Casa de Saúde São Lucas, Hospital Colônia João
Machado .................................................................................... 136
5.4.3. Hospital Sanatório Getúlio Vargas ............................................ 139
5.4.4. Considerações gerais a respeito dos hospitais pavilhonares de
Natal .......................................................................................... 142
5.5. Hospital Infantil Varela Santiago ................................................... 143
5.6. Os hospitais do tipo torre sobre pódio ............................................ 147
5.6.1. Hospital Natal Center ................................................................ 147
5.6.2. Hospital Walfredo Gurgel ......................................................... 150
5.6.3. Hospital Santa Helena, Hospital PAPI, Hospital Memorial ..... 152
5.6.4. Considerações sobre o tipo torre sobre pódio ........................... 155
5.7. Santa Catarina e Maria Alice Fernandes: hospitais rua ................. 156
5.8. Promater, Femina e Coração: uma incursão em um novo tipo? .... 159
5.8.1. Hospital Promater ...................................................................... 160
5.8.2. Hospital Femina ........................................................................ 161
5.8.3. Hospital do Coração .................................................................. 162
5.8.4. Considerações gerais ................................................................. 163
5.9. Agrupamentos tipológicos e aderência ao contexto ....................... 165
I n t ro d u ç ã o
2
1. Introdução
No Brasil, pode-se registrar uma maior atenção com o projeto arquitetônico de hospitais,
como objeto de estudo e de formação técnico-científica, a partir dos anos 1980. Foi a partir
daquela década quando, por iniciativa conjunta do Ministério da Saúde e da Universidade
de Brasília, passou-se a oferecer de modo sistemático um Curso de Especialização em
Arquitetura do Sistema de Saúde.
Esse conjunto de questionamentos, certamente, pode ser, com maior ou menor ênfase, feito
em outros campos da ação do projetista de arquitetura, que não o da arquitetura hospitalar.
E, até porque indagam sobre o passado e sobre o futuro, requerem respostas que se
formulem em conexão estreita com a História.
3
Essa assimilação da tipologia à história pode ser reafirmada pela reaproximação da teoria e
do projeto ao legado histórico arquitetônico, aproximadamente a partir da década de 1960,
meio século depois de o movimento moderno haver rompido com a tradição arquitetônica
precedente. O estudo tipológico foi um instrumento adequado para aquela reaproximação,
na medida em que conseguiria captar, para cada período histórico, a essência representativa
de sua Arquitetura.
As raízes intelectuais desse conceito de tipo podem ser rastreadas até a obra seminal de
Quatremère de Quincy (1985, 1998) 1 . Não obstante, uma importante polêmica em torno do
conceito de tipo teve lugar a partir do seu resgate, em 1962, por Argan (1996, 2001) 2 e de
sua assimilação pelos teóricos e projetistas italianos da Tendenza, a partir da segunda
metade da década de 1960.
Nesse debate, foram se firmando distintas versões para o conceito de tipo – entre outros,
Rossi, 1995 (publicado originalmente em 1966); Vidler, 1977; Oeschlin, 1985 –, como
também se apresentavam discordâncias de peso quanto à validade ou à oportunidade do
conceito para o estudo ou para a projetação em arquitetura (ver, por exemplo, Pérez-
Gómez, 1991), até o ponto em que o tipo se firmou como um dos temas fundamentais da
agenda teórica do pós-modernismo (NESBITT, 1996a).
Por outra parte, essa abordagem não deve ser desenvolvida sem tomar em conta o objeto
arquitetônico hospital, de modo que uma visão resumida de uma história geral dos
hospitais pode ser útil para estabelecer as bases de uma compreensão tipológica de sua
linha evolutiva.
1
O texto fundamental de Quatremère de Quincy a respeito do seu conceito de tipo é o verbete correspondente
que aparece em duas de suas obras: a Encyclopédie méthodique, originalmente publicada entre 1788 e 1825,
e o Dictionnaire historique de l’architecture, de 1832. Neste trabalho, as citações do verbete tiveram por
base duas fontes: a transcrição completa do texto de Quatremère, traduzida para a edição italiana de 1844 por
Antonio Mainardi e reproduzida integralmente em Casabella, ano XLIX, n. 509/510, 1985 (ver Quatremère
de Quincy, 1985); a tradução para o inglês (não creditada) do verbete type da Encyclopédie méthodique
conforme publicada em Oppositions, n. 8, primavera de 1977, sob uma introdução de Anthony Vidler e
reproduzida em Hays (1998) (ver Quatremère de Quincy, 1998).
2
O artigo de Argan que introduziu as idéias de Quatremère de Quincy no debate teórico contemporâneo foi
originalmente publicado em 1962. Traduzido para o inglês por Joseph Rykwert, foi incluído em Architectural
Digest, n. 33, de dezembro de 1963 (p. 564-565). Essa versão em idioma inglês, incluída em Nesbitt (1996b),
e a versão em português incluída em Argan (2001) – traduzida por Marcos Bagno diretamente do texto em
italiano publicado em Proggeto e destino – foram as consultadas no decorrer deste trabalho.
6
Risse (1999) mostra como, a partir dessa origem medieval, os hospitais foram,
gradualmente, adquirindo uma vinculação à vida. Em primeiro lugar, se tornaram espaços
de recuperação de enfermos; depois, em lugar de atuação preventiva em prol da saúde e de
melhoria da qualidade de vida. Tal evolução conceitual se refletiria nos espaços dedicados
a estas atividades, e os hospitais foram se transformando em edifícios de estrutura
arquitetônica complexa.
Na Idade Média, a finalidade do hospital era dar abrigo, sustento, assistência e consolo
espiritual aos desamparados pela sociedade – peregrinos, pobres, enfermos e insanos. Os
cidadãos minimamente abastados tinham atendimento domiciliar a seus problemas de
saúde, e isso se manteve até meados do século XIX (GOLDIN, 1984).
Hospitais medievais eram construídos por ordens religiosas, bispos, senhores feudais e reis
(ROSEN, 1994). Na verdade, não eram edifícios autônomos, pois se integravam às
estruturas físicas dos mosteiros e catedrais, reproduzindo os esquemas dos claustros ou das
basílicas de uma ou várias naves, com uma capela na cabeceira (GOLDIN, 1994). Esses
hospitais se multiplicaram durante os séculos V ao XIII, e estavam, quase sempre,
superlotados, sujos e insalubres.
Esses fatos produziram uma importante transformação no edifício hospitalar, onde, a partir
de então, a ciência penetrou, modificando espaços que, antes, refletiam somente a
influência religiosa (GOLDIN, 1994). O hospital começou a ser atrativo para os afluentes
da sociedade, vez que já oferecia uma possibilidade de cura mais alta que aquela que se
poderia conseguir com o atendimento domiciliar.
As críticas se intensificaram a partir dos anos 1980, com a emergência da pesquisa sobre a
influência do ambiente no bem-estar dos usuários (KUFFLNER, 1986). Esses críticos
reagiram contra o caráter estéril e impessoal dos hospitais, mais voltados para o seu
funcionamento eficiente que para o bem-estar do paciente. Passou-se a defender, segundo
Hosking e Haggard (1999), a aplicação das ciências do comportamento no planejamento e
desenho do ambiente hospitalar. Acreditava-se que os edifícios hospitalares do século XX
tinham feito pouco para satisfazer as necessidades humanas do dia a dia, e defendiam-se
hospitais “humanizados”, com foco nas expectativas do paciente e de seus familiares,
contando com ambientes apropriados para apoiar o processo de recuperação do enfermo.
associam a uma demanda social crescente pela aplicação de novos conhecimentos médicos
ao campo da atenção à saúde. Por fim, cabe salientar também as naturais mudanças nos
materiais e métodos construtivos. Todos juntos, influenciando-se simultaneamente, esses
fatores podem ser considerados como motores das mudanças nas tipologias arquitetônicas
hospitalares que se registraram ao longo da história.
Na medida em que esses fatores são disseminados mundialmente, de alguma forma eles
devem ter sido assimilados por arquiteturas locais na projetação de novos edifícios
hospitalares, ou mesmo na reabilitação, recuperação ou expansão de edifícios hospitalares
já existentes. Como foram assimilados, com que ritmo? Ou seja, como uma arquitetura
hospitalar local responde à dinâmica transformadora daqueles fatores responsáveis pela
evolução tipológica dos edifícios hospitalares?
Por outro lado, concentrar-se-ia a preocupação analítica no período que vai de princípios a
fins do século XX, quando a crítica ao modernismo e a busca de novas perspectivas
arquitetônicas puseram o edifício hospitalar em uma nova rota conceitual. Define-se então
como objeto de pesquisa a evolução tipológica do edifício hospitalar em Natal ao longo do
século XX.
Nestes termos, pode-se formular como hipótese básica de trabalho a seguinte: a evolução
tipológica do hospital em Natal no século XX, seguiu em linhas gerais a trajetória
registrada no mundo ocidental, ressalvadas singularidades que podem ser explicadas pelo
estágio de desenvolvimento socioeconômico local.
9
A importância deste trabalho resulta de sua própria abordagem. Considera-se que a análise
tipológica constitui um elemento importante no aprimoramento conceitual da projetação.
Na mesma medida da complexidade do edifício hospitalar, seu projeto arquitetônico requer
preocupação com definições conceituais que implicam em um conhecimento sistematizado
da forma como, historicamente, a arquitetura proveu soluções para problemas que se
apresentavam.
Por outro lado, o edifício hospitalar é um edifício de alto custo, que tem, portanto, a
vocação da permanência. Paradoxalmente, entretanto, a dinâmica tecnológica do setor
médico implica em uma necessidade quase permanente de mudanças e reformas
arquitetônicas.
Por fim, julga-se também de importância o trabalho por seu caráter historiográfico, uma
vez que as suas intenções se direcionam para o entendimento do processo histórico de
desenvolvimento dos edifícios hospitalares implantados em Natal.
Essa reflexão levou à elaboração de uma interpretação, não propriamente dos conceitos de
tipo e tipologia emanados das obras desses teóricos do século XIX, mas de suas
abordagens tipológicas. Ou seja, a matriz de análise tipológica construída e utilizada neste
trabalho, embora se informe da teoria tipológica dos 1800, se define a partir do vigoroso
debate acadêmico de que foram objetos o tipo e a tipologia a partir dos anos 1960.
A validação dessa matriz para o caso da análise tipológica da arquitetura hospitalar teve
lugar quando, após concentrar-se em extensa revisão bibliográfica da evolução histórica
dos hospitais e da arquitetura hospitalar ocidentais, construiu-se uma interpretação
tipológica dessa evolução histórica sob a mediação do conceito e do instrumental de
análise definidos na etapa anterior.
Por sua vez, o sexto e último capítulo apresenta de forma sintética todos os resultados
relevantes obtidos no curso do projeto de pesquisa conducente à elaboração dessa
dissertação.
Ti p o , t i p o l o g i a , a n á l i s e t i p o l ó g i c a :
discussão e definição conceitual
13
Este capítulo tem por finalidade a construção de um marco teórico que sirva de referência
para o balizamento das etapas empíricas do trabalho de pesquisa. Assim, o objeto deste
capítulo é o desenvolvimento de um conceito operativo de análise tipológica, com vistas a
sua aplicação, no capítulo seguinte, ao estudo da evolução da arquitetura hospitalar no
mundo ocidental, da Idade Média até a contemporaneidade. Os tipos arquitetônicos
hospitalares decantados nesse estudo serão, posteriormente, adotados como referências
para o enquadramento e análise da evolução da arquitetura hospitalar em Natal, ao longo
do século XX.
Como resultado dos estudos que se apresentam neste capítulo, definem-se a configuração e
a especificação de um instrumental de análise tipológica, com base na discussão em torno
dos conceitos de tipo que, com mais relevância, estão disponíveis na literatura teórica
sobre o tema. A seleção dos conceitos de tipo que foram considerados para o
desenvolvimento do quadro analítico teve por base uma revisão bibliográfica extensiva, a
qual enfocou principalmente a produção intelectual sobre o tema que teve lugar a partir dos
anos 60 do passado século.
Esse quadro, ao mesmo tempo mais complexo e objetivamente operacional, tem sua gênese
na compreensão – compartida com autores como Oeschlin (1985), Francescato (1994),
Madrazo (1995), entre outros – de que as abordagens de Quatremère, Durand e Viollet-le-
Duc podem ser articuladas no sentido de fornecer uma leitura mais ampliada do processo
criativo do projeto em arquitetura, bem como de seu produto – o edifício. Como se verá
nas seções seguintes, pode-se inferir essa possibilidade de conciliação entre as três
abordagens em alguns dos momentos mais significativos do debate tipológico
14
Para atingir os seus objetivos instrumentais, este capítulo está estruturado em oito seções.
Na primeira delas, situa-se a emergência do debate tipológico nos anos 1960, em conexão
com a crise da Arquitetura Moderna. Os elementos e contribuições mais centrais desse
debate – que marcou significativamente a cena teórica da arquitetura por, pelo menos,
trinta anos – são escrutinados na segunda sessão. Na terceira, examinam-se as condições
objetivas em que surgiram, nos primeiros anos do século XIX, as primeiras manifestações
teóricas explicitamente concernentes à tipologia e ao tipo. As três seções seguintes estão
respectivamente dedicadas à exploração dos conceitos de tipo desenvolvidos por
Quatremère de Quincy, Durand e Viollet-le-Duc. Já a sétima seção se concentra no exame
da possibilidade de, à luz das contribuições surgidas no debate tipológico contemporâneo,
articular esses três conceitos relevantes de tipo em uma matriz de análise tipológica, a qual
será detalhada na oitava e última seção.
A partir dos primeiros anos da década de 1960, estendendo-se até quase o final do século
passado, o debate em torno dos conceitos de tipo e tipologia passou a desempenhar um
papel significativo na retomada da investigação teórica orientada pela busca de uma
essência para a Arquitetura (NESBITT, 1996a). Quase ao mesmo tempo, como observou
Moneo (1998), o conceito de tipo passou a ser explicitamente tratado no âmbito da teoria e
da prática projetual, destacadamente no caso dos neo-racionalistas italianos.
Analistas como Nesbitt (1996a) têm reivindicado para o tipo a capacidade de sintetizar os
elementos essenciais da arquitetura – significado, forma, função e tectônica –, o que alçaria
a tipologia à condição de elemento-chave da análise e/ou do processo projetual em
Arquitetura.
Por outra parte, Colquhoun (1996a) remarca que, na medida em que a tipologia tem o
caráter de instrumento de memória cultural, ela adquire uma condição de significado
arquitetônico e de mecanismo de retenção da significação cultural da arquitetura. Em
direção similar, Francescato (1994) considera que o conceito de tipo forja um vínculo entre
forma arquitetônica e precedente histórico, com tudo o que isso implica em termos do
significado social e cultural do objeto arquitetônico.
15
Enquanto Lara (1999) data essa guinada em torno da Segunda Guerra Mundial (ou no
período entre os CIAMs de 1937 e 1947), Vidler (1976) situa ainda no período entre as
duas guerras mundiais (1919-1938) o surgimento de uma progressiva proeminência do
processo tecnológico de produção industrial. Para ele, a tecnologia de produção em série
passaria, já nos anos 1930, a servir de base para a projetação arquitetônica, estabelecendo-
se a máquina como tipo generalizado (a coluna, a casa e a cidade vistas analogamente à
pirâmide de produção industrial) e como elemento de contorno, restritivo à investigação
formal.
Aqueles que optaram, no início do movimento, pela investigação formal e pelas questões
endógenas da arquitetura no inicio do movimento – aqueles que Lara (1999, p. 5-6)
designa por “estilistas” –, perderam o rumo e se dispersaram em subgrupos cada vez
menores, fragmentando o “transatlântico modernista” em “balsas de identidade
arquitetônica” e, depois, em “frágeis jangadas formais”, ancoradas em estilos pessoais. Por
outro lado, os “sociologistas” – que optaram por enfatizar as transformações sociais que
seriam propiciadas pela nova arquitetura – simplesmente desapareceram após a Segunda
Guerra. Frampton (1989, p. 274) afirma que o processo se deu a partir de 1933, quando as
16
“exigências políticas radicais do início do movimento tinham sido abandonadas”, até que
“o idealismo liberal triunfou completamente” no pós-guerra.
A esse quadro corresponde, como afirma Lara (1999, p.1), uma “profunda crise de valores,
tanto interna (referente à falta de um suporte teórico consistente), quanto externamente
(referente a seu papel nas esferas cultural e social)”. Em suma, uma crise de identidade e
autonomia, em que o elemento central é o cerne mesmo da arquitetura: o significado.
Em decorrência, o debate que se abre no âmbito dessa crise nos anos 1960 se nortearia pela
retomada de uma preocupação com a essência disciplinar da arquitetura, o que colocava a
questão de uma teoria inerente ao próprio objeto arquitetônico, mesmo quando essa teoria
se articule com o entorno social, cultural, econômico e histórico.
Colquhoun (2004, p. 92) assinala que, entre outras discussões, buscava-se então “redefinir
o racionalismo nos termos de uma tradição autônoma da arquitetura”, pois “o que é
‘racional’ em arquitetura é o que conserva a arquitetura como um discurso cultural que
perpassa toda a história”.
O debate tipológico na contemporaneidade foi aberto por Giulio Carlo Argan, com seu
artigo Sobre o conceito de tipologia (ARGAN, 1996, 2001), em que sugeria a retomada
das proposições de Quatremère de Quincy, formuladas em princípios do século XIX.
x
3
Colquhoun (2004, p. 89-90) revela que “o progresso técnico alcançou um patamar em que era possível
aproveitar o aspecto racional/construtivo do modernismo para as necessidades ideológicas do
desenvolvimento imobiliário, solapando, dessa maneira, os fundamentos utópicos do modernismo”.
17
de uma série de edifícios que têm entre si uma evidente analogia formal e
funcional. Em outras palavras, quando um ‘tipo’ se forma na prática ou
na teoria da arquitetura, ele já existe, como resposta a um complexo de
demandas ideológicas, religiosas ou práticas, em uma dada condição
histórica de alguma cultura (ARGAN, 1996, p. 243, tradução da autora 4 ).
Logo, o processo tem uma dinâmica implícita, pois cada vez que uma série formal tem o
incremento de uma nova variante – um novo objeto arquitetônico –, o tipo deduzido poderá
ser mais ou menos alterado, em função do impacto mais ou menos intenso que o mais
recente elemento introduzido na série possa produzir no princípio geral dedutível dessa
série. Portanto, reflete Argan, a abordagem tipológica não inibe a inventividade do
processo de projetação: há um momento tipológico, de apropriação de uma regra geral que
se deduz da tradição, e há um momento criativo, inovador, em que essa regra geral,
cotejada pelas demandas e exigências da situação presente, é traduzida em um objeto
arquitetônico singular.
A retomada das idéias de Quatremère por meio do artigo seminal de Argan foi oportuna.
Naquele momento, como assinala Colquhoun (2004), se desenvolvia na Itália uma nova
visão racionalista (o neo-racionalismo) pela qual as características da arquitetura não se
vinculariam à tecnologia ou a formas especificamente contemporâneas das relações sociais
e do comportamento em sociedade. Os neo-racionalistas, ao contrário, propunham que as
características fundamentais da arquitetura persistem com as mudanças nos campos da
x
4
Todas as citações presentes neste trabalho, à exceção de referências cujo idioma original seja o português,
foram traduzidas do texto original pela autora.
18
Por isso, questões de natureza tipológica teriam de ser conscientemente trabalhadas na fase
de definição da forma. Além disso, ressalte-se que a escolha do tipo é um processo ativo,
em que o arquiteto é levado a escolher, entre as referências tipológicas disponíveis, aquela
que ele mesmo julgue como a mais adequada para o problema projetual que tem em mãos.
Para Rossi (1995, p. 26-27), as idéias de Quatremère de Quincy seriam suficientes para
estabelecer que o tipo “é a regra, o modo constitutivo da arquitetura”, ou, mais
radicalmente, que o tipo “é a própria idéia da arquitetura, aquilo que está mais próximo de
19
sua essência”. E, se esse tipo for uma constante, então ele “poderá ser encontrado em todos
os fatos arquitetônicos”, constituindo-se como um “elemento cultural” que, embora
determinado, conflita e articula-se com “a técnica, com as funções, com o estilo, com o
caráter coletivo e o momento individual do fato arquitetônico”.
Sobre essas bases, Rossi propunha a tipologia “como o estudo dos tipos não ulteriormente
redutíveis dos elementos urbanos, tanto de uma cidade como de uma arquitetura”,
afirmando a necessidade de seu amplo tratamento sistemático, pois se “nenhum tipo se
identifica com uma forma”, “todas as formas arquitetônicas” são redutíveis a tipos, em um
processo lógico.
Quase vinte anos depois da primeira edição, em 1966, de A Arquitetura da Cidade (Rossi,
1995), Rossi (1985, p. 100) afirmaria entender “a tipologia de um edifício como uma
coleção de dados geométricos, técnicos e históricos que estão na base de todo projeto”,
abrangendo também um componente antropológico, e cuja relevância é indubitável, seja
para a teoria da arquitetura, seja para a prática profissional.
Para Colquhoun (1975, p. 368), essa utilização da tipologia na obra de Rossi partia da idéia
de tipo em um nível tão alto de generalização que ele se tornava quase invulnerável à
interferência tecnológica e social. Decorriam daí imagens subjetivas e poéticas, mas
fortemente vinculadas a utilizações de analogias ou contrastes, com resultados que,
freqüentemente, evocavam leituras tipológicas próprias do arquiteto, e não reveladas pela
cultura. Como sugeriu Moneo (1978, p. 36), os tipos parecem ter saído da imaginação de
Rossi, resgatados de “um passado que pode não ter existido”.
Francescato (1994) entende que a noção de tipo revelada por Rossi em sua atividade
projetual parece ser fortemente prescritiva e, ao mesmo tempo, nostálgica: uma espécie de
proposição visando à recuperação de binômios forma-função do passado, de maneira
crítica ou poética. Essas observações, entretanto, não se estendem a outros representantes
do neo-racionalismo italiano, como Aymonino, Gregotti e Grassi, entre outros, todos eles
com atividade teórico-acadêmica paralela a uma, se não intensa, pelo menos significativa
produção em arquitetura e urbanismo (COLQUHOUN, 2004). Agrupados no movimento
conhecido como Tendenza, eles foram responsáveis pela qualificação do debate tipológico
em seus princípios, tanto quanto pela posta em prática de estudos tipológicos e de projetos
imbuídos de suas visões sobre tipo e tipologia (FRAMPTON, 1989).
20
Nesse sentido, a tipologia veio a ser confundida com tipificação, e o conceito de tipo
arquitetônico aproximado ao conceito de tipo funcional de edifício, como no conhecido
trabalho de Pevsner (1976), ou ao de padrão volumétrico.
Os muitos usos e maus usos da palavra tipo – que admite muitas acepções –, às vezes do
conceito – vago ou ambíguo –, produziram, a partir da retomada da discussão tipológica
nos anos 1960, uma certa falta de objetividade tanto nas críticas quanto nas apologias da
abordagem tipológica da arquitetura.
21
Kahn (1991, p. 111) retruca que essa é uma compreensão univalente do tipo em
Quatremère: ao ressaltar a natureza convencional da tipologia, confunde-se tipo e modelo e
se omite “a tensão entre convenção e inovação” que é inerente ao ato arquitetônico de
confrontar a “dimensão invisível” do tipo ao edifício material concreto.
Por outro lado, Symes (1994) tenta extrair elementos para uma análise generalizada dos
usos do tipológico na prática arquitetônica, a partir de uma caracterização de Vidler (1989,
p. 147) pela qual “a idéia de tipo na teoria arquitetônica [...] tem um significado deveras
abrangente de concepção, forma essencial, e tipo edilício”, devido ao fato de que as
múltiplas acepções do termo tipo “fizeram com que se prestasse bem a representar uma
idéia ao mesmo tempo vaga e precisa”. Symes (p. 165) propõe, então, uma nomenclatura
em que o conceito de tipo é assimilado à palavra tipo para designar tipos de prática
arquitetônica, tipos de arranjo físico e tipos de uso: tudo isso para descrever como “os
arquitetos usam o pensamento tipológico em seu trabalho profissional”.
Diante dessa profusão de leituras distintas, cabe estabelecer alguns elementos de partida
com vistas a delimitar o entendimento do pensamento tipológico que guiará este trabalho.
Admite-se a avaliação de Reichlin (1985) que, discutindo a natureza taxonômica do tipo,
afirma que ele promove um censo do conhecimento e um reordenamento da experiência
histórica em torno da disciplina arquitetônica.
Nesse sentido, a crítica de Pérez-Gómez (1991, p. 16-18), para quem o tipo “pode ser
obviamente percebido na repetição de precedentes formais na história das edificações” e o
seu uso como “banal” estratégia analítica ou projetual “nega a nossa [do arquiteto] real
capacidade para a invenção e a imaginação” é contestada por Kahn. Os termos dessa
contestação são postos pela afirmação de que, corretamente interpretado, o conceito de tipo
“é um construto crítico operativo, igualmente relevante para o discurso arquitetônico em
22
É daí que Hinson (1991, p. 5) realça a natureza dialética do conceito de tipo, expressa na
relação conflituosa entre convenção e inovação, de modo que “o comum em arquitetura é o
atributo sem o qual o incomum não pode ser criado nem apreciado”.
Mauro (1985) informa que na filosofia grega o vocábulo typos era associado à noção de
modelo, significando então um conjunto de características obrigatoriamente presentes em
um grupo de indivíduos concretos. Madrazo (1995) fixa no século XVIII a apropriação do
vocábulo tipo para designar o significado epistemológico da noção de forma, enquanto
anteriormente o termo idéia integrava o significado epistemológico aos significados
metafísico, ético e estético, como em Platão.
No âmbito da teoria da arquitetura, as raízes do conceito de tipo podem ser rastreadas até
os tempos de Vitrúvio (Madrazo, 1995). Para Vitruvio, as origens da arquitetura estavam
na Natureza, de onde as criações humanas foram imitadas antes que se tornassem criações
intelectuais ou artificiais. Na Renascença, Leonardo da Vinci e Palladio, com seus
desenhos de igrejas de planta central e suas villas, exercitaram sua criatividade e seu
talento, de origem divina, expondo variações sobre um mesmo tema.
Para Madrazo, é nos séculos XVII e XVIII que os teóricos da Arquitetura vão por vez
primeira separar os significados da idéia, dando origem à emergência de uma leitura
epistemológica da forma que leva ao conceito de tipo em princípios do século XIX.
Para corrigir esses excessos, Laugier achou necessário retornar à origem da Arquitetura
para encontrar os seus princípios fundamentais, atribuindo então à “cabana primitiva” um
caráter normativo, e erigindo-a no modelo a partir do qual toda arquitetura poderia ser
criada (VIDLER, 1977). A cabana primitiva de Laugier é um construto conceitual, mais
que um protótipo físico. Trata-se de um padrão abstrato que é deixado na mente depois de
observações de similaridades entre objetos diferentes. Logo, revela um processo relacional
entre percepção e aquisição do conhecimento.
Quatremère explicitou pela primeira vez na teoria da arquitetura o termo tipo, em 1825.
Em sua obra, as idéias neoplatônicas de Laugier sobre o caráter original da cabana vão
encontrar uma tradução culturalista (LAVIN, 1992). Tanto Laugier como Quatremère
acreditavam que a arquitetura tinha de ser regenerada, depois do excesso cometido no
passado imediato. Eles estavam certos que depois do abandono do modelo clássico, a
arquitetura se sentiria sem direção (MADRAZO, 1995). A solução que eles defendiam era
a mesma: era necessário voltar ao principio. Para Laugier, esse princípio era a cabana; para
Quatremère, era o tipo.
Pesquisando diferentes culturas, Quatremère concluiu que a cabana não era a única fonte
de toda arquitetura. Havia três fontes básicas, das quais toda arquitetura teria sido derivada.
A essas fontes ou germes, Quatremère chamou tipos – a cabana, a tenda e a caverna –, cada
um deles correspondente a uma organização social: respectivamente, comunidades
agrícolas sedentárias, tribos nômades, e caçadores. Daí, Quatremère concluiu que o tipo
estabelece uma conexão entre Arquitetura e sociedade, entre o projeto e as forças sociais
subjacentes, indicando uma dinâmica tipológica correspondente à dinâmica social
(LAVIN, 1992).
Quatremère mantém a interpretação de que esses tipos originais informam todo o processo
criativo em Arquitetura. Logo, a doutrina da imitação esta no núcleo do conceito de tipo de
Quatremère. De acordo com ele, a arquitetura seria uma arte imitativa. Por esta razão,
segundo a nomenclatura proposta por Madrazo (1995), ele diferenciou duas formas de
imitação na arte: a primeira, uma imitação literal ou real, em que o objeto de imitação é
26
Assim, para Quatremère (apud MADRAZO, 1995, p. 188), “... para tudo é necessário um
antecedente, nada sai do nada”. Para ele, o artista arquiteto compõe sua criação a partir da
apreensão e da compreensão de uma regra interna que estrutura a forma. Trata-se do tipo,
um elemento abstrato a partir do qual se produzem obras (modelos) diferentes. Tipo e
modelo são assim diferenciados por Quatremère:
A palavra tipo não representa tanto a imagem de uma coisa que tenha
que se copiar e imitar-se perfeitamente, senão a idéia de um elemento
que deve servir de regra ao modelo [...] O modelo, entendido segundo a
execução prática da arte, é um objeto que deve se repetir tal qual é; o
tipo, ao contrário, é um objeto de acordo com o qual cada um pode
conceber obras que não se assemelham em absoluto entre si. Tudo está
dado e é preciso no modelo; tudo é mais ou menos vago no tipo. Assim
vemos que a imitação dos tipos não tem nada que o sentimento e o
espírito não possam reconhecer (QUATREMÈRE DE QUINCY, 1985,
p. 75).
Indo mais além, afirma Lavin (1992), o conceito de tipo foi a estrutura na qual Quatremère
ancorou seu entendimento da história da arquitetura. Para Quatremère, a relação entre as
arquiteturas primitiva e moderna pode ser entendida pelo estudo do processo de
transformação do tipo, uma metamorfose conceitual requerida cada vez que um edifício foi
projetado. Como resultado, o tipo arquitetônico do passado tornou-se chave para o tipo
futuro e, mais importante, para a sua legitimação pública e social.
Oechslin (1985) conclui das reflexões de Quatremère a evidência de que o tipo não é um
modelo simplificador, um padrão reduzido da descoberta arquitetônica. Ao contrário,
Oeschlin considera o conceito de tipo como uma construção teórica inteligentemente
edificada, a partir da qual se pode estabelecer uma compreensão tanto do processo
evolutivo da Arquitetura quanto do processo criativo da projetação, nas suas recíprocas
interdependências.
O próprio Quatremère já entendia o tipo como algo limitante, mas ao mesmo tempo
liberalizante das energias criadoras do arquiteto (FRANCESCATO, 1994). Afinal, a
dinâmica tipológica certamente supõe a progressiva alteração dos tipos, da mesma forma
que admite tanto a permanência do precedente quanto a sua negação pela geração de um
tipo novo.
O elemento central do debate sobre a validade das formulações de Quatremère passa pela
discussão dessa natureza supostamente conservadora, anticriativa, do conceito de tipo.
Francescato (1994) considera que parte da imprecisão do debate se deve à releitura de
Argan das idéias de Quatremère. Enquanto que este dava ao tipo uma orientação
neoplatônica, pensando o tipo como uma entidade a priori, Argan (1996, 2001) viu o tipo
como resultado de uma pesquisa de coisas em comum a trabalhos reais de arquitetos, ou
seja, como um exame a posteriori objetivando o descobrimento da “estrutura interna
formal” de uma série de trabalhos. Argan, como historiador, estava primariamente
interessado nas qualidades descritivas e taxonômicas do tipo e somente incidentalmente
naquelas que devem afetar a geração de formas.
28
Para Francescato (1994), há que se admitir que existe uma prática de utilização do conceito
de tipo, em arquitetura, meramente como um esquema taxonômico, geralmente associado a
categorias funcionais ou de construção. Mas, nesses casos de utilização do conceito, em
que se salienta o elemento funcional ou tecnológico, o atributo da forma não é central.
Seu trabalho teórico mais conhecido está recolhido em duas obras publicadas entre 1800 e
1805: o Recueil et parallèlle dês edifices de tout genre, anciens et modernes e o Précis des
29
Vê-se que o Durand do Recueil não desmerece o Durand do Précis. Neste livro, Durand
(2000) propunha um método de projeto baseado em três etapas. A primeira, cujo objeto são
os elementos da arquitetura, está concentrada em alvenarias, colunas, arcadas etc.,
analisadas dos pontos de vista da qualidade do material e de seu uso, ou seja, a tecnologia
construtiva (VILLARI, 1990).
A segunda etapa do método de Durand se dirige à composição, a qual ele mesmo definia
como um processo de agregação ou encaixe (assamblage) dos elementos e das partes da
arquitetura. Nas palavras de Durand:
Na terceira etapa do Précis, Durand examina diversos edifícios com respeito a suas
funções, como elas se combinam e como se traduzem espacialmente, para finalmente
estudar a articulação desses espaços (DURAND, 2000). Para Villari (1990), o resultado
desse processo é uma classificação tipológica que, entretanto, só tem sentido quando está
relacionada com as duas etapas anteriores. Assim, embora Vidler (1977) atribua a Durand
a paternidade do moderno conceito de tipologia, não parece ter sido a categoria do edifício,
assim definida pela função, o objeto central das preocupações de Durand.
Com efeito, Oeschlin (1985) ressalta em Durand o apego à geometria, a suas formas
básicas e à riqueza de possibilidades que se abrem mediante a articulação dessas formas
básicas em formas cada vez mais complexas. Se, lembra Oeschlin, o Précis mostra
precisamente como edifícios existentes podem ser reduzidos geometricamente até serem
“anatomicamente” dissecados em partes constituintes singelas, isso se deve a que Durand
estava realmente interessado em tornar legível na arquitetura pregressa a vinculação entre
categorias de edifícios e determinados arranjos compositivos, organizados a partir de
formas elementares da geometria plana. Ou seja, a partir das formas das figuras
geométricas, reconhecer o pensamento arquitetônico a elas subordinado.
Além disso, Picon (2000) acredita que o método proposto no Recueil representa para
Durand a formalização do material histórico através da redução para o essencial para uso
no processo projetual concreto. Assim, a relação entre a sistematização da geometria e da
história forma premissas fundamentais para uma introdução racional da tipologia.
A idéia subjacente é de que uma mesma via é seguida em sentidos diferentes, um para o
processo de análise, outro para o de síntese. O processo criativo do arquiteto, propõe
Durand, deve ser iluminado pelo conhecimento das soluções de composição (o catálogo de
soluções pregressas), mas não pressupõe nem uma atitude passiva de incorporação de
formas-tipo adequadas a funções, nem a rigidez de um processo pré-definido.
Para De Fusco (1990, p. 72), entretanto, Durand “elabora uma tipologia morfológica com
flexibilidade e capacidade de adaptação a demandas e usos funcionais diversos do edifício
singular”, concebendo aí um mecanismo de análise ajustável a qualquer edifício. Dessa
forma, a abordagem tipológica de Durand – embora sua técnica de projetação possa
parecer hoje ingênua ou simplista – aponta significativamente na direção do entendimento
de como o ato arquitetônico de projetar opera com elementos geométricos estruturais,
articulando-os por meio de soluções combinatórias para propor espaços arquitetônicos
complexos (MADRAZO, 1995).
Para Viollet-le-Duc, a palavra estilo significava “em uma obra de arte, a manifestação de
um ideal estabelecido sobre um princípio” (apud MADRAZO, 1995, p. 259). Havia, para
Viollet-le-Duc, leis naturais antecedentes à idéia criativa e, nesse sentido, pode-se assimilar
32
Mas, para Viollet-le-Duc, esse princípio que constitui a base da genuína criação na
Arquitetura não é necessariamente derivado da natureza. Para Viollet-le-Duc – um
racionalista e, portanto, um seguidor da idéia de que as razões do homem e da natureza são
equivalentes –, a arquitetura precedente que tinha estilo também podia ser objeto de
imitação, desde que o arquiteto não se limitasse a copiar a aparência dos estilos passados
(ou seja, suas formas aparentes), mas sim que buscasse entender os princípios essenciais
inerentes à formação desses estilos (VIOLLET-LE-DUC, 1990).
Concretamente, os três teóricos analisados orientaram seus estudos pela busca da essência
da Arquitetura. Para Quatremére, essa essência era o tipo, termo que usou explicitamente, e
que definia como uma lei geratriz interna e abstrata com poder de estruturar o trabalho do
arquiteto. Para Durand, a essência estava nas figuras geométricas básicas que sintetizavam
o edifício e que serviam como elementos fundamentais para a atuação criativa do arquiteto.
Para Viollet-le-Duc, que chamou essa essência de estilo, ela era um princípio unificador da
estrutura e da forma arquitetônica, decorrente do material e da técnica construtiva.
Essas diferentes visões acerca do que constitui a essência da arquitetura não bastam para
caracterizar as posições de Quatremère, Durand e Viollet-le-Duc como conflitivas. Na
verdade, as leituras de Quatremère e Durand foram freqüentemente consideradas como em
conflito (STROHER, 2001), embora Oeschlin (1985) defende a sua utilização combinada
como forma de aprimorar teoricamente a análise e a projetação arquitetônica.
Em verdade, pode-se entender que essas três visões são complementares. Não há um claro
conflito entre elas e sua utilização simultânea pode fornecer uma compreensão mais
completa e integrada do edifício, de uma perspectiva mais contemporânea. Uma vez
definido um contexto, e considerada uma função, a integração destas visões permite
compreender, não só cada um dos elementos essenciais considerados pelos autores, mas
também as suas inter-relações e as suas relações com o contexto.
Por outro lado, essa solução responde de forma ampliada às afirmações de Francescato
(1994), para quem a vantagem principal do conceito de tipo e do pensamento tipológico,
seja na análise, seja na projetação de arquitetura, é a possibilidade de explorar os aspectos
relacionais forma-função. Nas suas próprias palavras:
Pode ser conveniente também lembrar que Argan (2001, p. 69) enunciou que o seu
conceito de tipo e o conceito de tectônica podiam se aproximar mutuamente, enriquecendo
a tipologia até o ponto de ela representar o “fundamento ‘nocional’ sobre o qual se funda
necessariamente a elaboração formal do artista”.
Assim sendo, julga-se que o procedimento analítico que resulta da aplicação deste
instrumento tipológico composto tem consistência interna, é satisfatoriamente sustentado
pela literatura analisada e apresenta exeqüibilidade operacional com respeito tanto à
análise evolutiva da tipologia arquitetônica hospitalar no Ocidente (que se realiza com base
em informação secundária) quanto ao estudo da evolução tipológica do edifício hospitalar
em Natal, que trabalha com informação primária coletada em campo.
35
Nesta seção, explicita-se o conjunto de instrumentos que serão adotados na análise que se
procederá adiante. Esses instrumentos se derivam dos conceitos de tipo estudados, sendo
definidos de forma a que adquiram um caráter operativo, visando a seu uso posterior.
Conforme se pode deduzir das seções antecedentes deste capítulo, são os seguintes os
instrumentos a serem adotados:
Assim definido, esse conjunto de instrumentos será aplicado neste trabalho em duas
instâncias distintas. Em primeiro lugar, serão utilizados para analisar a evolução dos
edifícios hospitalares no mundo ocidental. Nessa instância, o material objeto da aplicação
provém de informação secundária, na forma de informação bibliográfica, documental,
fotográfica, iconográfica ou literária a respeito de edifícios hospitalares representativos das
mais diversas épocas. É evidente que, nessa primeira instância de aplicação, haverá de
simplificar o modo de aplicação dos instrumentos, uma vez que haverá casos de
38
A primeira daquelas perguntas indaga sobre o porque de uma dada configuração geral do
edifício se considerar mais adequada para atender as necessidades em um dado momento e
em um dado contexto. Ora, a configuração geral é determinada pela planta organizada com
base na lei geratriz da forma e efetivamente materializada pela incidência do sistema
estrutural e construtivo. Mas tudo isso está relacionado, conforme se apontou na
especificação acima, a fatores determinantes de contexto.
As demais perguntas ali colocadas podem ser respondidas com a afirmação de que, na
medida em que configuração geral e contexto estão vinculados, mudanças de contexto
produzirão, necessariamente, alteração nas configurações gerais. Desse modo, transladar
experiências tipológicas de um a outro contexto, sem as necessárias adaptações, não é uma
alternativa adequada. Da mesma forma, se o arquiteto for capaz de intuir as mudanças
futuras no contexto, poderá antecipar, ao menos na forma de projetos mais flexíveis e
adaptáveis, as configurações gerais que mais se adequarão às necessidades por vir.
Capítulo 3
E v o l u ç ã o d a s t i p o l o g i a s a rq u i t e t ô n i c a s
do edifício hospitalar
40
Neste capítulo, tem-se por finalidade estabelecer, com base no instrumental de análise
definido no capítulo anterior, uma compreensão de como as tipologias arquitetônicas do
edifício hospitalar se sucederam ao longo do tempo, sobre o pano de fundo de
transformações institucionais, culturais, sociais, políticas e do desenvolvimento histórico
da Medicina e da tecnologia médica. A análise está delimitada por um recorte geográfico-
temporal que circunscreve as tipologias estudadas à arquitetura hospitalar ocidental, da
Idade Média até a contemporaneidade.
Justifica-se ajustar o foco à arquitetura hospitalar do Ocidente pelo fato de que as hipóteses
e questões-chave deste trabalho enfatizam o tema da assimilação, por uma arquitetura
local, da evolução tipológica da arquitetura hospitalar em plano mundial. Como a
assimilação supõe laços de intercâmbio ou influência cultural e profissional, e na medida
em que os laços entre a arquitetura local estudada e o Oriente são pouco significativos,
excluiu-se do escopo do trabalho a arquitetura hospitalar oriental.
O recorte temporal adotado estabeleceu a Idade Média como ponto de partida para o
estudo. Tal decisão, em primeiro lugar, se ancora no fato de que é na Idade Média que vai
se firmar, no Ocidente, o conceito de hospital enquanto espaço de atenção ao enfermo ou,
na definição aqui adotada, unidade de saúde com atendimento em regime de internação.
Por outra parte, desde as primeiras observações empíricas feitas neste trabalho, pôde-se
perceber que a arquitetura hospitalar em Natal registra exemplares com definições
tipológicas que remontam à Idade Média. Assim, seja para apreender a atuação dos fatores
de transformação tipológica do edifício hospitalar, seja para realizar a análise comparativa
das evoluções tipológicas estudadas, julgou-se metodologicamente necessário adotar o
hospital medieval como marco inicial do processo.
O trabalho apresentado neste capítulo tem por base uma pesquisa bibliográfico-
documental. Nela, buscou-se caracterizar o contexto em que se projetaram e construíram
hospitais e as séries tipológicas de edifícios que mais significativamente marcaram os
períodos estudados. Foi seguida uma periodização corrente em estudos históricos de
distintas naturezas: o período medieval, a Renascença, o Iluminismo, a Era Moderna e o
período contemporâneo da pós-modernidade.
41
Cabe ressaltar que muitas das referências bibliográficas utilizadas já apontam resultados de
estudos anteriores no campo da tipologia do edifício hospitalar, até mesmo quando tal
objetivo não é diretamente perseguido. Julgou-se consistente levar em conta essas
considerações tipológicas presentes na literatura consultada, adotando-as inicialmente
como sugestões a serem confrontadas e eventualmente adaptadas ao instrumental analítico
que se elegeu como marco referencial do trabalho.
Nos dez séculos que compõem a Idade Média, a evolução do hospital esteve fortemente
vinculada à Igreja Católica. Com a expansão do Cristianismo, a partir de fins do século IV,
a prestação de ajuda material e espiritual aos necessitados veio a se constituir no principal
objetivo das instituições religiosas, principalmente os mosteiros – a mais importante
representação arquitetônica do poder do Catolicismo (GOMBRICH, 1979) –, e de seus
membros.
Ante aqueles necessitados que não estavam em condições de prover seu próprio sustento, a
atitude de caridade cristã estava organizada em sete tarefas (THOMPSON; GOLDIN,
1975): dar de comer, de beber e de vestir; falar com estranhos; oferecer consolo espiritual,
cuidar os enfermos e enterrar os mortos. Aos desamparados, se somavam peregrinos e
42
Três tipos – e aqui se usa a palavra na acepção firmada no capítulo anterior – podem ser
encontrados na arquitetura hospitalar ocidental dos séculos V a XV (THOMPSON;
GOLDIN, 1975; IMBERT, 1982; CARLIN, 1989; BINET, 1996). O primeiro deles, ao
qual se denomina neste trabalho de claustral, corresponde à Alta Idade Média, sendo
contemporâneo do feudalismo. O segundo, aqui denominado basilical, surge e se consolida
a partir do século XI, na Baixa Idade Média, período em que a expansão territorial, o
surgimento de novas e o crescimento de antigas cidades, bem como o florescimento do
comércio, caracterizam o desenvolvimento do capitalismo mercantil (C. H.
BOEHRINGER SOHN, 198-). Por fim, tem-se o tipo colônia, cuja presença é notada desde
o século IV e que, tendo se firmado com a edificação de leprosários, foi posteriormente
usado em outras situações, transcendendo a arquitetura hospitalar e a Idade Média.
Assim é que, na Alta Idade Média, em volta das catedrais nas instituições monásticas,
foram erguidos edifícios para abrigar atividades que se constituíam como próprias dos
hospitais (ROSEN, 1994). Em geral, os mosteiros se localizavam fora das muralhas das
cidades medievais, nos cruzamentos das estradas (LABASSE, 1982). Neles é que se
estabeleceu mais significativamente a atividade hospitalar medieval.
principal material de construção era a pedra. Entre os nove, provavelmente os que gozavam
de maior prestigio no mundo religioso do monastério, estavam a Catedral – uma basílica
que se destacava do conjunto por suas dimensões – e, lançando mão do tipo claustral, a
clausura dos monges e a enfermaria, designação do edifício destinado aos cuidados dos
enfermos (IMBERT, 1982).
O tipo claustral era uma derivação do tipo átrio, utilizado na arquitetura romana residencial
clássica – um pátio interno descoberto para onde se voltavam as residências com suas
aberturas como janelas e portas. No clima mediterrâneo, funcionava como uma espécie de
proteção à hostilidade do clima seco. Nesse tipo, as relações entre os ambientes e entre as
edificações são estabelecidas a partir de um espaço interno comum. O vínculo com o
espaço interno é mais valorizado do que com o externo. Essa disposição favorece tanto a
integração das atividades, quanto as relações sociais interiores ao grupo de usuários, ao
mesmo tempo em que propicia um distanciamento com respeito ao ambiente externo e
proteção das hostilidades climáticas.
Por outro lado, o crescimento das cidades ocasionou o aumento da demanda por leitos.
Com mais recursos, sob pressão pelo aumento de leitos, as entidades religiosas passaram a
expandir, adequar, e construir hospitais. Essa época de crescimento econômico se refletiu,
sobretudo, na arquitetura religiosa, o que se demonstra pela construção de monumentais
catedrais e monastérios, os verdadeiros representantes da arquitetura gótica (GOMBRICH,
1979).
Do ponto de vista da atenção ao enfermo pouca coisa mudara com respeito ao período da
Alta Idade Média: o aspecto mais importante dos cuidados aos enfermos ainda era o
consolo espiritual oferecido pela assistência dos monges e obtido nos rituais religiosos; os
enfermos eram desconectados da vida em sociedade e submetidos a um especial
regulamento religioso (THOMPSON; GOLDIN, 1975; ROSEN, 1994).
sobretudo, a ritualística religiosa. Com esse requerimento básico, e visando tornar mais
toleráveis as condições de vida, faz-se necessário um ambiente de grandes dimensões, não
só em planta, mas também em termos de pé direito, sem quaisquer divisões entre os leitos.
As naves laterais dessa enfermaria eram organizadas em dois pisos, de forma que os leitos
de internação se situavam em um mezanino, uns ao lado dos outros, perpendicularmente às
paredes laterais, sem divisões entre eles (CARLIN, 1989; THOMPSON; GOLDIN, 1975).
Os banhos e latrinas estavam no nível desse mezanino, em um anexo adjunto ao edifício
principal e a eles se acedia por meio de uma circulação. A capela estava situada em uma
extremidade, e podia ser vista de todos os leitos; na outra extremidade, a cozinha. Ou seja,
todas as atividades necessárias à vida dos enfermos estavam debaixo do mesmo teto. A
reconstituição feita por Kenneth Conant (THOMPSON; GOLDIN, 1975) não chegou a
definir qual seria o uso do pavimento inferior ao mezanino, mas levantou a possibilidade
de ser usado para atendimento ambulatorial e triagem de enfermos.
B
A
Figura 4 – (A) Modelo tridimensional do Monastério de Cluny, com destaque para o edifício da
grande enfermaria; (B) Planta esquemática da grande enfermaria do Cluny.
Fonte: Thompson e Goldin, 1975
Vigente ao longo de toda a Idade Média, a estrutura hospitalar de tipo colônia vincula-se à
disseminação da lepra pelo Ocidente, a partir do século V, e à ameaça cotidiana que essa
enfermidade fez pairar sobre a sociedade medieval (MARKHAM, 1997). Para Rosen
(1994: p. 59), a lepra “representou a grande praga, a sombra sobre a vida diária da
humanidade medieval”, mais que qualquer outra doença ou peste.
Não sendo conhecida cura ou tratamento para a doença, e aceita a idéia de contágio por
contacto social, a indicação de isolamento dos leprosos foi a solução adotada na Europa
desde os primeiros registros significativos de sua presença. Na medida em que esse
fenômeno coincide historicamente com o crescimento do Cristianismo e com a difusão
entre os católicos das sete tarefas da caridade cristã, já mencionadas anteriormente, não é
de se estranhar que, também com respeito aos leprosos, a Igreja Católica tenha assumido
papel primordial no atendimento e guarida dos enfermos. E, de modo generalizado, o tipo
colônia foi o que serviu aos hospitais para leprosos, e de forma tão marcante que vigoraria
com essa função até meados do século XX.
O tipo colônia tem origens nas comunidades de cristãos ascetas que, antes da oficialização
do Cristianismo como religião de Estado – por Constantino, em 313 –, se rebelavam contra
a licenciosidade da vida na Roma pagã (THOMPSON; GOLDIN, 1975). Afastando-se do
convívio social, esses grupos passavam a viver como eremitas em aldeias nas florestas:
choupanas isoladas ou grupadas em blocos se distribuíam em torno a uma capela e,
eventualmente, a outro espaço de atividade comunitária, como cozinhas ou refeitórios.
Assim, o tipo colônia se apresenta com uma idéia central que se pode resumir na
disponibilização, em um espaço fisicamente segregado, de condições de vida comunal, em
contato direto com a natureza – especialmente as fontes de água –, ao grupo de internos do
hospital. A organização interior do espaço, normalmente limitado por um muro construído
segundo um retângulo ou uma elipse, priorizava a liberação da área central, de modo que
as celas individuais ou as casas isoladas ocupavam os espaços mais exteriores
(THOMPSON; GOLDIN, 1975). No centro, ou num lado do perímetro não ocupado pelas
acomodações dos enfermos, erguia-se a capela ou igreja, ladeada ou confrontando com
galpões de atividades comunitárias e os aposentos de monges ou freiras.
definição tipológica, que se completa com a modesta tecnologia de edificação das casas
(inicialmente de madeira) em face de uma presença magnificente da igreja (em pedra).
É importante observar que o tipo colônia não teve sua utilização interrompida após o
Período Medieval. De um lado, a persistência da lepra como enfermidade preocupante em
várias partes do mundo, de outro, apropriações do tipo para outras funções (p.ex.: asilos,
prisões), puderam em conjunto manter a vigência desse tipo até o século XX.
Com a emergência, a partir do século XV, de uma burguesia laica de origem mercantil,
com presença política e influência social, a responsabilidade de construir hospitais –
outrora assumida totalmente pela Igreja – foi também assimilada por nobres e ricos
cidadãos. Em face do crescimento populacional e econômico das cidades, afirma Labasse
51
(1982), os novos hospitais passaram a ter uma implantação mais urbana e a se descolarem,
também no sentido físico, dos monastérios e das instituições religiosas.
Nesse contexto, Labasse (1982) e Imbert (1982) detectam o surgimento do hospital civil –
ou seja, da instituição hospitalar como entidade civil – e observam que, progressivamente,
a administração dos hospitais foi sendo assumida por instituições municipais que, para
assegurar a manutenção dos edifícios e dos serviços, contavam com doações das
comunidades (C. H. BOEHRINGER SOHN, 198-). Essas mudanças aconteceram de forma
gradual e, durante o período que vai do século XV ao XVIII, duas tipologias passariam a
marcar a arquitetura hospitalar.
O exame de plantas de hospitais baseados nesse tipo (ver FIG. 6) revela um outro aspecto
importante na organização dos espaços do edifício, qual seja a predominância da simetria e dos
traçados geométricos simples. Os serviços de apoio, instalados antes em anexos, agora se
posicionavam de maneira a compor o traçado geométrico induzido na planta a partir do
cruzamento de enfermarias. Cabia aos serviços, e às vezes a meras circulações, a função de
encerrar os oito pátios menores do edifício, dispostos de maneira a formar um grande pátio
central – em torno de cujos eixos se desenvolve o prédio simetricamente –, o qual é, por
sua vez, encerrado entre a logia de entrada e a igreja, no lado oposto.
Nesse primeiro momento do hospital do período renascentista, uma outra distinção com
respeito ao hospital medieval se nota no exterior do edifício. O retorno aos modelos gregos
conduz as fachadas a que se apresentem como simétricas, em estilo neoclássico. No
entanto, no interior do edifício, permanecem as enfermarias como grandes espaços abertos
dispostos em forma de cruz, com o posicionamento do altar no cruzamento dos pavilhões.
Tal solução espacial buscava principalmente possibilitar que mais enfermos pudessem ver
e ouvir a missa. No entanto, outras qualidades foram depois percebidas (THOMPSON;
GOLDIN, 1975). Por exemplo, o fato de que a forma cruzada ajuda a supervisão dos leitos
desde a capela central. Por outro lado, o tipo enfermaria cruzada apresentava a vantagem
de ajudar a ventilação do ambiente das enfermarias e propiciava atender a questão
colocada de separar enfermos de diferentes gêneros em diferentes alas. Esse tipo hospitalar
é o embrião do tipo “pavilhonar”, o qual se desenvolveria e se consolidaria posteriormente,
ao longo dos séculos XVIII a XIX.
53
Tudo isso resultaria em uma solução estrutural mais simples. A estrutura repetitiva é
simétrica, com uso de pedra, tijolos e madeira. Os tetos nas enfermarias são planos, em
madeira, apoiados em terças horizontais. As alvenarias em tijolos ou pedra são estruturais
e, muitas vezes, arcos e abóbadas são usados por razões somente estéticas. A exceção é a
abóbada estrutural que serve de teto ao porão e de piso ao único pavimento das
enfermarias, um pavimento com duplo pé-direito, abrandado no pátio interior por um
anexo de arcos e abóbadas em dois níveis – o claustro.
Já havia uma certa pressão por privacidade dos leitos, o que descartava o sentido
coletivista da oração e do rito religioso. Daí que a idéia de colocar os enfermos em contato
direto com as dependências destinadas à atuação direta da Igreja foi sendo abandonada. Ao
contrário, essa idéia é substituída por uma separação bem nítida entre o hospital, agora
civil, e a hierarquia religiosa.
55
Os novos financiadores dos hospitais passarão a adotar, para os edifícios hospitalares, tipos
mais familiares para eles: os palacetes ou casas de campo, os quais propiciariam também a
adoção de uma maior privacidade na internação de pessoas. A solução espacial se libera do
andar único e o hospital do tipo casa de campo, em geral, se define em dois ou três
pavimentos, com plantas em formato H, C, U ou E. A repartição das enfermarias em
quartos com um menor número de leitos era também uma marca distintiva desses hospitais
dos fins da Renascença, o que reforça a origem residencial (casas de campo) do tipo.
Figura 8 – Elevação e plantas do térreo (abaixo, esquerda) que a distribuição dos ambientes
e do primeiro piso do London Hospital se orienta pelo formato da planta,
Legenda: (1) enfermaria; (2) posto de enfermagem; (3)
capela; (4) hall de entrada pela simetria e pela conveniência
Fonte: desenho próprio a partir de Thompson e Goldin, 1975
de privacidade dos enfermos.
Os três pavimentos, articulados por uma circulação vertical central, têm o mesmo formato, e
a privacidade é crescente do primeiro piso para o terceiro: serviços de apoio no térreo,
enfermarias no segundo andar e quartos simples no terceiro. Também cabe destacar que, da
planta, se pode depreender um diálogo entre a visão de conjunto do edifício e a
concatenação das partes, objetivando a manutenção de uma rigorosa simetria e a singeleza
das formas geométricas. Por outro lado, ressalte-se que a hierarquização dos espaços, em
função da conveniência da privacidade, surge como fator de organização das partes do
edifício, o que vai demonstrar a entrada em cena de uma postura de racionalização e de
zoneamento dos espaços e atividades hospitalares.
No entanto, nas últimas décadas do período renascentista, a difusão dos avanços graduais
das ciências médicas, como a Anatomia e a Fisiologia, permitiu que esses hospitais
57
Para Foucault (1998: p. 39), “... até finais do século XVIII, a medicina referiu-se muito
mais à saúde do que à normalidade”, no sentido em que o indivíduo enfermo era
identificado por contraposição à pessoa sã. No século XIX, continua Foucault, a medicina
“... regula-se mais (...) pela normalidade do que pela saúde”, ou seja, a enfermidade passa a
ser entendida como um desvio com respeito a uma condição “normal” da estrutura e do
funcionamento do organismo humano, conhecida em seus detalhes anatômico-fisiológicos.
Assim, a doença pode ser diagnosticada no plano do órgão com funcionamento imperfeito
e a esse órgão se dirigem as prescrições restauradoras. O exercício dessa intervenção
clínica, diz Foucault (1998: p. 226), requereu “uma reorganização do campo hospitalar
(...); foi preciso situar o doente em um espaço coletivo e homogêneo”.
Esse novo espaço hospitalar requer tratamento urbanístico e arquitetônico. Será estudada
cautelosamente a inserção do edifício hospitalar no espaço urbano (FOUCAULT, 2002), a
partir de uma lógica sanitária. Passa-se a avaliar disposições alternativas para a
implantação do edifício no terreno, para a organização dos fluxos e espaços internos e para
a distribuição dos leitos (LABASSE, 1982: p. 132), tendo em vista assegurar “... a
renovação do ar, a destruição dos miasmas, a circulação das pessoas e a manutenção da
ordem”. Estabelecem-se regras de registro e cadastro, códigos de conduta e rotinas,
destinadas a ordenar os comportamentos e obter informações sobre os enfermos e suas
enfermidades. Enfim, institui-se, sobre o quadro do hospital confuso e desorganizado de
princípios do século XVIII, a disciplina e o espírito de supervisão que vai garantir a
“medicalização” do hospital (FOUCAULT, 2002).
controle e o monitoramento dos internos e dos fatos hospitalares. Para atender a essas
proposições, surgiram esquemas especiais de caráter panótico, seguindo as idéias de
Jeremy Bentham (THOMPSON; GOLDIN, 1975), para quem a essência da definição
espacial do edifício (prisões, escolas, asilos, hospitais, indústrias) residia na capacidade de
observação direta feita a partir de uma posição central.
Embora as idéias de ordenamento espacial de Bentham não tenham tido influência direta
nas tipologias relevantes do edifício hospitalar do Iluminismo, o certo é que o princípio
básico de que o espaço hospitalar fosse tratado de forma a permitir a supervisão de cada
paciente foi fundamental para a transformação que atingiria o hospital no século XVIII.
Para tanto, tratava-se de enfocar o espaço e as atividades hospitalares, suas dinâmicas e
interrelações, com o objetivo de traçar um “diagnóstico” e estabelecer uma “terapêutica”
(SILVA, 2001): a essência dessa abordagem é a classificação e a observação atenta e
estruturada.
Não se trata apenas de uma descrição, mas sim de observação sistemática, destinada a
produzir material para a análise detalhada que permitirá as sínteses propositivas de atuação
reformadora no hospital. Foucault (2002) ressalta o fato de que o estudo mais significativo
sobre a reorganização dos hospitais no século XVIII teve como responsável o médico
francês Jacques Tenon, estudo que resultou em um conjunto de normas e recomendações
para orientar na concepção e organização dos espaços hospitalares. Dirigidas tanto a
arquitetos como a engenheiros e administradores, as recomendações de Tenon foram
publicadas numa obra intitulada Mémoires sur lês hôpitaux de Paris, que obteve grande
repercussão em vários paises (THOMPSON; GOLDIN, 1975; C. H. BOEHRINGER
SOHN, 198-; SILVA, 2001; IMBERT, 1982).
funcionais organizadas a partir de eixos de circulação, tendo como base as relações entre
fluxos e usos (SILVA, 2001).
Para Silva (2001), Thompson e Goldin (1975) e C. H. Boehringer Sohn (198-), o resultado
das pesquisas de Tenon e suas recomendações levariam à adoção do tipo pavilhonar, em
certa medida antecipado pelos tipos renascentistas (enfermaria cruzada, casa de campo),
para edifícios hospitalares.
Já no século XIX, trabalhando sobre sua própria experiência como enfermeira na Guerra da
Criméia, Florence Nightingale se dedicou a visitar importantes hospitais no mundo e a
analisá-los do ponto de vista de suas preocupações em torno do funcionamento hospitalar,
especialmente das enfermarias. Os apontamentos de Nightingale sobre o projeto
arquitetônico de hospitais foram publicados em dois livros, lançados em 1858 e 1859, com
os títulos de, respectivamente, Notes on Hospitals e Notes on Nursing. Esses livros,
segundo James e Tatton-Brown (1986), exerceram significativa influência no que restava
de século XIX e em boa parte, ainda, do século XX, gerando novas soluções espaciais para
o projeto das enfermarias.
A estruturação do espaço do tipo pavilhonar surgido no século XVIII era baseada nas
exigências de salubridade ambiental (ou seja, espaços naturalmente bem ventilados e
iluminados), nas necessidades funcionais de suas atividades (ou seja, de fluxos, dimensões,
e supervisão dos enfermos) e na articulação desses espaços por meio de uma circulação ou
“sistema” de circulações.
60
O hospital pavilhonar foi o tipo consagrado como aquele que se ajusta bem a esses
requisitos, na medida em que o pavilhão, como edifício independente e de laterais livres,
permite obter ventilação cruzada e iluminação natural. Assim, resolve-se o que era tido
como maior produtor de insalubridade hospitalar: a estagnação do ar e a umidade. Além
disso, há que considerar a flexibilidade de posicionar convenientemente os pavilhões, uns
em relação a outros, estruturando os serviços e os compartimentos através dos eixos de
circulação.
Em que pese o fato de os estudos de Tenon terem sido orientados para a reconstrução do
Hotel Dieu, tal projeto nunca foi edificado. No entanto, ele influenciou toda a arquitetura
hospitalar do século XIX. O Hospital Lariboisière, construído no centro de Paris em 1854,
é considerado como sendo um dos principais exemplos de aplicação das idéias de Tenon
(THOMPSON; GOLDIN, 1975; SILVA, 2001). A planta (ver FIG. 10) é formada por um
conjunto de pavilhões, ligados por uma grande circulação e dispostos em volta de um
jardim retangular. O conjunto foi organizado a partir de eixos principais: um longitudinal e
cinco transversais. Esses eixos costuram o “sistema de circulação” de todo edifício
comunicando os pavilhões entre si e com todo o conjunto. Também foi levado em
consideração na distribuição dos pavilhões, a própria organização interna de cada um deles
assim como sua hierarquia funcional.
Cada pavilhão tinha três pavimentos e sua altura foi calculada a partir da relação com a
largura do pátio entre dois pavilhões, de modo que se garantia o recebimento de insolação
em todos eles e se evitava umidade tanto nos pátios como no interior dos pavilhões. As
enfermarias, por sua vez, eram grandes halls abertos dentro de blocos independentes
retangulares, podendo haver mais de uma por pavilhão. Os serviços de apoio estavam
distribuídos nos diversos pavilhões, construídos em alvenarias externas autoportantes de
pedra e tijolo, as quais davam suporte aos pisos e tetos planos em madeira.
O espaço da enfermaria proposta por Nightingale era retangular, como no tipo pavilhão
(ver FIG. 11). Na entrada, deveriam estar localizados o posto de enfermagem e uma copa.
Em seguida, estava um grande espaço aberto para disposição dos leitos e, no lado contrário
ao posto de supervisão, por trás de uma parede e com ventilação independente, estavam os
lavatórios e banhos. O posto de enfermagem teria um visor para supervisionar os leitos. Os
leitos seriam posicionados lado a lado, perpendiculares a janelas colocadas de ambos os
lados das paredes, uma a cada dois leitos, e com altura de 90 centímetros do piso, para
possibilitar a ventilação cruzada.
62
As novas idéias de
Nightingale acerca do
ambiente sanitarizado e de
fácil supervisão pela
enfermagem significavam a
rejeição, em base técnico-
científica, da “enfermaria-
corredor” (ver FIG. 9) do
século XVIII. O principal
fator de rejeição era
exatamente o fato de que as
paredes colocadas lado a lado
impediam a ventilação
cruzada, além de reduzirem o
Figura 11 – Enfermaria Nightingale
campo visual de supervisão a Legenda: (1) posto de enfermagem; (2) área dos leitos; (3)
partir do posto de enfermagem BWCs; (4) material sujo; (5) copa; (6) escada
Fonte: James e Tatton-Brown. 1986
(GOLDIN, 1994).
Por outro lado, ao contrário do que aconteceu na Idade Média, quando os tipos
arquitetônicos dos hospitais permaneceram quase imutáveis, a tipologia arquitetônica
pavilhonar se desenvolveu e se diversificou fortemente a partir do século XVIII. A
63
Assim, o hospital que chega ao século XX, está fortemente marcado pela ênfase na boa
ventilação e na boa insolação, no isolamento de doenças infecto-contagiosas, na higiene
das enfermarias e dos procedimentos, nos sistemas de abastecimento de água potável, de
coleta e tratamento de esgotos, nos laboratórios de análises clínicas, na medicina legal, nas
enfermarias cada vez menores, tendentes à privacidade, e nos postos de enfermagem. Sua
planta é estruturada em zonas funcionais, segundo seus diversos departamentos ou
unidades, comunicadas por um sistema de circulação cuja definição se orienta pelos fluxos
de pessoal, enfermos e materiais.
Os avanços ocorridos na medicina nos séculos XVIII e XIX tinham transformado o perfil
da atenção hospitalar, no sentido de estabelecer progressivamente o hospital como o lugar
da prática médica, do tratamento de enfermos e do restabelecimento da saúde. James e
64
O fato é que, depois da Segunda Guerra Mundial, havia uma demanda social e política por
mais leitos hospitalares, tanto na Europa em reconstrução, quanto nos Estados Unidos.
Assim, os serviços de atenção à saúde entrariam em expansão, se ajustando às pressões
políticas e às novas dimensões das políticas de Estado para a saúde (MILLER;
SWENSSON, 2002; JAMES; TATTON-BROWN, 1986). O hospital era então projetado e
construído de modo que a área dedicada a leitos de internação crescia mais que
proporcionalmente às demais áreas. Quando passíveis de reconstrução com ampliação,
65
A partir de então, e por algum tempo, o hospital será alterado somente em sua volumetria,
com base na discussão das vantagens e desvantagens de produzir grandes superfícies
predominantemente horizontais ou verticais, sob o impacto da necessidade de procurar
soluções para abrigar a crescente intensidade de equipamentos no edifício, prever
expansões e aumentos de complexidade e prevenir a obsolescência dos espaços edificados.
Como afirmou Lindheim (1979: p. 71),
Três tipos podem ser decantados desse esforço de adaptação do edifício hospitalar ao
contexto da segunda metade do século XX, marcada por necessidade de expansão,
aumento de complexidade e risco de obsolescência: torre sobre pódio, rua hospitalar e
sanduíche.
Um bom exemplo do tipo torre sobre pódio é o Hospital Geral Etobicoke, em Toronto,
Canadá (ver FIG. 12). Concluído em 1972, o edifício continha 500 leitos e possuía 38.000
m2 de área construída. A torre abrigava (REDSTONE, 1978) a zona de internação,
enquanto o pódio hospedava, em seus dois andares, as zonas de suporte (no andar mais
baixo) e clínica. Verticalmente, os leitos de internação eram distribuídos nos pavimentos,
separados por especialidade médica. A interseção entre torre e pódio abrigava a
administração e os arquivos médicos.
Todo o hospital era servido por sistemas automatizados de transporte de bens, documentos,
imagens. A zona de suporte centralizava o sistema mecânico de distribuição de materiais e
alimentos em carrinhos que se deslocavam horizontalmente (em monotrilhos) e
verticalmente (em montacargas), segundo um sistema automático de roteamento. Um
sistema pneumático de correio interconectava todos os departamentos e andares. Todos os
pacientes eram acompanhados em seus leitos por um sistema de imagens centralizado, que
coordenava a atividade de enfermagem estruturada em quatro áreas para cada pavimento
de internação. Por fim, o contato entre enfermagem e paciente era minimizado pelo uso de
um armário de porta dupla e compartimentos específicos para entrada e saída de materiais.
A estrutura da torre foi projetada em concreto armado, enquanto que no pódio foi usada
uma trama de vigas metálicas, capaz de prover maiores vãos livres. Destacam-se nos
materiais de vedação e acabamento o alumínio anodizado e o vidro fumê. Todo o edifício
depende de ventilação, acondicionamento de ar e calefação, garantidas mecanicamente,
sendo as instalações distribuídas através de colunas verticais (shafts).
68
O tipo torre sobre pódio não respondia a questões colocadas pelas necessidades de
contínuo crescimento, transformação de funções e incorporação de mudanças tecnológicas
cada vez mais aceleradas. Se as diferentes zonas cresciam a diferentes taxas, alterando-se
suas participações relativas na área total de construção (MILLER; SWENSSON, 2000), a
disposição das zonas em camadas verticais sucessivas, sendo impossível a expansão das
69
áreas de cada pavimento, estabelecia limites claros para a ampliação dos hospitais com
essa tipologia.
Esse tipo rua hospitalar, por conseguinte, se adequaria bem a uma época em que, como
afirmou Weeks (1973, p. 464),
Nesse sentido, esse tipo era bastante vantajoso. Tanto cada bloco do conjunto já edificado
poderia ser transformado ou expandido, sem que isso provocasse grandes transtornos à
utilização dos demais blocos, como a conexão de novos blocos poderia ser feita segundo
um curso de desenvolvimento reprogramável a cada momento (MONK, 2004). Assim, o
potencial de crescimento da quantidade de leitos, ou do número de espaços clínicos, ou
ainda a introdução de novos espaços com novas funções, e a minimização dos riscos de
obsolescência constituíam os pontos fortes do tipo rua hospitalar.
ao tipo “rua hospitalar”. No caso, não é a associação entre leveza e alta resistência o que
importa, dado que os edifícios deste tipo não são necessariamente altos; a característica
importante aqui é a flexibilidade e a possibilidade de projetos modulados, com o uso de
pórticos ou peças pré-usinadas, que se possam edificar por etapas.
No interior de cada edifício, colunas estruturais de concreto moldadas in situ poderiam ser
dispostas mais ou menos livremente, apoiando em pontos estratégicos a laje pré-moldada
em grelha. De modo similar que o estrutural, o projeto de instalações foi desenvolvido em
módulos, usando-se um dos níveis da rua hospitalar para sua distribuição. Assim, no
projeto do Parque Northwick, a modulação estrutural contribuía para a padronização
construtiva e a conseqüente pré-fabricação. Por outro lado, apoiava as intenções do
projetista de obter grandes vãos interiores que permitissem a variabilidade de definição de
usos e espaços internos.
O tipo rua hospitalar apresentava alguns problemas. Os mais evidentes deles prendem-se à
limitação do tamanho dos terrenos e aos longos percursos a serem seguidos por pessoas e
por materiais. Mas também se apresentavam questões ligadas ao alto custo relativo de criar
condições para expansões e adaptações que talvez nem venham a ser necessárias ou
realizadas. Diante desses problemas, esses empreendimentos passaram a ser considerados
caros para construir e manter. A crise econômica dos anos 1970 impulsionou a busca de
alternativas para reduzir custos, mantendo algumas vantagens dessa tipologia.
Uma resposta a esses problemas foi proposta na forma do que se chamou de “espaço
intersticial”, solução que está na base do desenvolvimento do tipo sanduíche. Trata-se de
uma espécie de pavimento técnico, com até 2 metros de pé-direito, intercalado entre dois
pavimentos dedicados às outras funções do edifício. A existência desse semipavimento
dedicado ao caminhamento horizontal das instalações, funcionando como suporte dos
demais andares, viria a possibilitar que os pavimentos normais fossem indiferenciados.
O objetivo principal do “espaço universal” era que o hospital não ficasse obsoleto frente
aos avanços das Ciências Medicas, tão rápidos que o tempo da construção do hospital, em
alguns casos, era suficiente para produzir a perda da atualidade do projeto. A adoção do
tipo sanduíche permitia que se construísse o “esqueleto” do edifício, bem como as
instalações dos principais serviços na interplanta de instalações. O espaço resultante
poderia depois ser adaptado a futuras demandas. Paralelamente, eram escolhidos os
equipamentos, dando-se oportunidade de instalar os modelos de tecnologia mais recentes
disponíveis no mercado. Como as perspectivas buscadas eram as de integrar e condensar, a
volumetria resultante para o tipo “sanduíche” é a do bloco, um paralelogramo em que as
dimensões de planta são comparáveis entre si e superiores à altura.
1,2 a 1,8 metros de pé direito, interconectados por quatro colunas (shafts) verticais que
também incluem escadas e elevadores. A zona de suporte se completa pela existência de
departamentos de serviços no andar subterrâneo, enquanto que as zonas clínica e de
internação se distribuem entre os demais andares.
Essa afirmação podia ser decomposta em dois planos de análise. No plano mais individual
e familiar do usuário, o hospital moderno podia ser criticado em face da despersonalização
do atendimento ao paciente e da pouca consideração às suas necessidades individuais
(CARPMAN et al., 1986). Já no plano das relações entre o edifício hospitalar e a
comunidade urbana que o abrigava, Verderber e Fine (2000) ressaltam o fato de que,
concebidos para a atenção à saúde em larga escala populacional, os grandes edifícios ou
complexos hospitalares produziam impactos significativos – tráfego, ruído, perda do
caráter de vizinhança por intrusão de edifícios e fluxos não integrados ao bairro,
dificuldades de acesso, entre outros –, sobre a área urbana mais imediata, desproporcionais
aos benefícios diretos e indiretos que para ela produziam.
Por outro lado, a primeira crise do petróleo nos anos 1970, acelerando a inflação e trazendo
recessão econômica, influenciou nos aumentos dos custos da construção hospitalar, quase
provocando sua paralisação. Para Monk (2004), o acirramento e a generalização da crise
fiscal nos países ocidentais também apontava claros limites para a continuidade das
políticas de investimento público e, em todas as áreas de infra-estrutura técnica e social,
viria a fomentar uma tendência mundial à participação de investidores privados na
provisão de serviços hospitalares.
Naquele momento, por todas essas razões, a palavra chave passaria a ser a redução de
custos. O custo dos serviços também se tornara insustentável: a alta tecnologia utilizada
nos serviços de apoio ao diagnóstico e tratamento tornava excessivamente dispendiosa a
atenção à saúde para os seguros, para os institutos públicos e para a sociedade. Foi nesse
sentido que mudaram as políticas governamentais para a saúde. Para Valins et al. (1996), a
nova política enfatizava a prevenção e procedimentos menos sofisticados ou invasivos. A
intenção era, sem redução da qualidade de atendimento, evitar o recurso desnecessário à
alta tecnologia e a intervenções que redundassem em longas estadias do paciente no
hospital.
projeto de hospitais com essas novas idéias só começaram a aparecer a partir dos anos 80,
e vieram essencialmente de dois distintos grupos (VERDERBER; FINE, 2000).
A convergência dessas opiniões influiu sobremaneira no hospital a partir dos anos 1980.
As mudanças, no princípio, foram essencialmente de natureza organizacional. Mais tarde,
entretanto, foram imbuídas de imperativo arquitetônico (VERDERBER; FINE, 2000). Em
fins daquela década, foram surgindo resultados de pesquisas que identificavam o ambiente
hospitalar como causa de stress ambiental (MALKIN, 1992). Por outro lado, estudos sobre
os efeitos do ambiente do hospital moderno no usuário obtiveram resultados que
mostravam relações de causa-efeito entre ambiente e stress ou redução de bem-estar dos
pacientes (CARPMAN et al., 1986).
Para fazer frente aos novos conceitos e paradigmas diretrizes do ambiente hospitalar, os
arquitetos, nas últimas duas décadas, lançaram mão de três tipos básicos que se
encaixavam em seus objetivos de transformar o hospital em um espaço familiar para
pacientes e para visitantes. Esses tipos foram o shopping center, o hotel e a casa.
O shopping center tornou-se familiar na cultura ocidental como lugar de compras, de lazer
e interação social (MONK, 2004). De acordo com Miller e Swensson (2002), a origem da
idéia de apropriar o conceito do shopping mall em edifícios hospitalares pode ser rastreada
até os longos corredores interligando os edifícios de consultórios aos hospitais em
complexos de serviços médicos. Esses corredores, devido ao grande volume de tráfego de
pessoas neles circulando, passaram a ser usados para abrigar pequenos locais: farmácias,
lanchonetes, floristas, lojas de presentes, entre outros.
objetivos ao mesmo tempo (VERDERBER; FINE, 2000): por um lado, consolidar-se como
estrutura agradável ao paciente e a visitantes; por outro, oferecer ao paciente interno,
tratado como hóspede, uma atenção mais personalizada.
Um exemplo que bem ilustra esse novo tipo arquitetônico pode ser apreciado no caso do
Pine Lake Medical Center, em Mayfield, Kentucky (FIG. 21). O edifício, concluído em
1993, foi concebido para substituir um antigo hospital, de princípios dos anos 1950. O
Centro Médico dispõe de 107 leitos de internação, em 21.000 m2 de área construída. Os
79
serviços da instituição são dirigidos para uma comunidade específica. Para ela, foram
planejados consultórios médicos, serviços de apoio ao diagnóstico, serviço de emergência,
cirurgias de média e baixa complexidade, além de serviços de atendimento a pacientes
externos.
acesso aos seus serviços. É valorizado pelo aspecto estético, com grande pé direito,
iluminação zenital, vegetação e outras amenidades ambientais.
Apesar de não haver ainda muitos estudos para avaliar esses projetos, eles já recebem
algumas críticas. Miller e Swensson (2002: p. 74 e 75) dão espaço às palavras do arquiteto
Henry Stolzman, para quem é um equívoco disfarçar um hospital como um “lugar que
associemos a conforto”. Para Stolzman, no pior caso, a tendência tem sido “produzir
hospitais tão estéreis e confusos como sempre, com um pouco de acessórios cosméticos”.
Mas, no melhor caso, os novos hospitais, bem ambientados e planejados com inteligência,
seriam vítimas de um erro de princípio: seguir os protótipos errados. Para Stolzman, um
hospital não pode ser como uma casa; eles têm de ser espaços que reflitam um
conhecimento tecnológico. Da mesma forma, não é um shopping center, no sentido de que
este é um ambiente impessoal, incapaz de dotar os cuidados médicos de dignidade e calor
humano.
Em que pese o fato de este debate conceitual ainda não estar suficientemente amadurecido;
e apesar de que as experiências e suas avaliações é que deverão fazer emergir mais
claramente uma tendência tipológica, o momento da produção arquitetônica no campo da
atenção à saúde indica firmemente neste início de século a consolidação de um tipo
arquitetônico híbrido, com raízes no shopping center, no hotel e na residência.
Tendo em vista sintetizar os elementos mais essenciais da análise realizada, esta seção
apresenta um quadro-resumo das conclusões obtidas no capítulo (Quadro 1A a 1J, a
seguir).
82
Período Medieval
Tipo Claustral
Espaços organizados a partir de um pátio interno, por meio do qual são estabelecidas as
inter-relações entre os compartimentos e as relações destes com o exterior da edificação.
Através do pátio, os espaços interiores recebem iluminação, servindo ele também para
Instrumento 1
ao retângulo, formando uma espécie de edícula. Como os aposentos não são de grandes
dimensões, nem em grande quantidade, a altura do volume é igual à metade dos lados.
Logo, a volumetria assemelha-se a um cubo cortado na metade da altura, sendo a parte
interna vazada pelo pátio. Apesar de que os espaços são organizados a partir do pátio, a
volumetria destaca a capela, com pé direito mais alto que o do conjunto.
Palavra-chave: retângulos concêntricos; simetria; cubo vazado.
A estrutura do claustro é resolvida em colunas lançadas no perímetro do pátio,
Instrumento 3
igualmente espaçadas, encimadas por arcos semicirculares, tudo em pedra, que suportam
abóbadas em pedra. O resto do conjunto é estruturado sobre paredes de pedra, os
cômodos tendo ou não tetos abobadados. O uso da madeira se restringe à estrutura da
coberta, apoiada nas paredes de pedra dos compartimentos.
Palavras-chave: arcos sucessivos, abóbadas, pedra.
Configurações correspondentes
83
Período Medieval
Tipo Basilical
O principio norteador da organização dos espaços é o de garantir que a missa celebrada
no altar possa ser vista e ouvida desde uma grande quantidade de leitos. Por outra parte,
Instrumento 1
cumpre também que todas as atividades dos enfermos, religiosas ou não, possam ser
realizadas dentro do mesmo espaço. Logo, a configuração resultante é fortemente
influenciada pela relação entre os leitos e a capela, à qual se segue a necessidade de
abrigar, no mesmo espaço dos leitos, as atividades não-religiosas como beber, comer e
dormir, exercidas coletivamente. Um anexo ao edifício provê latrinas e banhos.
Palavras-chave: Igreja, ambiente coletivo, grandiosidade, magnificência.
Planta retangular, com três naves, dotadas as laterais de mezanino. O altar é colocado em
lugar de destaque, na extremidade do retângulo; o espaço reservado para a disposição –
perpendicularmente às paredes – de grande quantidade de leitos alonga um dos lados do
Instrumento 2
Período Medieval
Tipo Colônia
Perseguia-se a reprodução de uma estrutura física segregada, que disponibilizasse aos
usuários os espaços e atividades necessárias para a vida de uma comunidade isolada, em
Instrumento 1
contato direto com a natureza e que buscasse a autosuficiência, exceto pela dependência
de doações e esmolas. Atividades comunitárias – como cozinha, alimentação, banhos – e
as religiosas deveriam ser destacadas, pela centralidade, da vida das famílias, em
acomodações simples, com certo grau de privacidade.
Palavras-chave: coletividade, segregação espacial, natureza, religiosidade
A segregação espacial da comunidade induzia a uma planta fechada, em formato
retangular ou elipsóide, reservando-se o perímetro da área para as acomodações
individuais ou familiares, articuladas em torno de uma área central ocupada por espaços
Instrumento 2
Período Renascença
Tipo Enfermarias cruzadas
A organização dos espaços deve propiciar que um maior número de enfermos, desde seu
leito, possam ver e ouvir a missa na capela. A relação entre esta e os leitos exerce ainda
Instrumento 1
muito influência na configuração geral, mas há uma preocupação voltada para maximizar
a área de leitos. Apesar do consolo espiritual ainda ser a atividade mais valorizada,
aparecem outras atividades de caráter terapêutico, como farmácia e serviços de apoio. Na
distribuição desses espaços são utilizadas regras de composição geométricas, simetrias,
proporções da arquitetura clássica, bem como a separação dos pacientes por gênero.
Palavras-chave: capela, ambiente coletivo, composição, proporção, harmonia, hierarquia
A planta é formada por dois retângulos cruzados na área onde seria localizada a capela.
Estes retângulos cruzados estão localizados em cada lado de um grande pátio central
onde no final localizava-se uma igreja. Os compartimentos de apoio são posicionados de
maneira que completassem pátios quadrados, com claustros, com as pernas da cruz das
Instrumento 2
pavimento é apoiado em abóbada que serve de teto para o porão. Com essa exceção,
arcos e abóbadas de pedras já não mais se sobressaíam na configuração final do edifício,
aparecendo eventualmente com funções estéticas, tendo em vista principalmente a
harmonia das fachadas.
Palavras-chave: madeira selecionada e trabalhada, alvenaria estrutural de pedra.
Configurações correspondentes
86
Período Renascença
Tipo Casa de campo
A relação leito-capela dos tipos anteriores é substituída pelo sentimento de privacidade
na orientação da organização dos espaços. As enfermarias são menores e contém menor
quantidade de leitos. Os enfermos são separados por gênero. São utilizadas regras de
Instrumento 1
enfermarias estão distribuídos ao longo desses eixos, ora através de circulações, ora
através de compartimentos sucessivos (enfermaria–corredor). A capela e a escada são
localizadas no centro da planta. Nos três pavimentos, pode-se observar uma ligeira
concentração dos primeiros no térreo e das enfermarias no último. A volumetria resulta
da interseção entre paralelepípedos secundários e o paralelepípedo maior, segundo eixos
ortogonais. A dimensão horizontal da fachada principal se destaca das demais.
Palavras-chave: retângulo, eixos principal e secundário, interseção de paralelepípedos.
A estrutura da entrada é mais portentosa e aparente, valorizando o saguão com vãos
amplos apoiados em colunas de pedra, arcos e eventuais abóbadas. No resto do edifício,
Instrumento 3
Período Iluminismo
Tipo Pavilhonar
Espaços organizados a partir das prescrições de um código sanitário, em que ventilação e
insolação são os principais aspectos tratados. O arranjo do mobiliário e a ergonomia dos
espaços também são considerados. As atividades terapêuticas são as mais importantes e o
Instrumento 1
Período Modernismo
Tipo Torre sobre pódio
O principio organizador do espaço é o de produzir um conjunto eficiente, racional e
produtivo. A organização segue uma hierarquização funcional em unidades, que depois
se reúnem em zonas – internação, clinica e apoio. Estas zonas são distribuídas, segundo
suas inter-relações funcionais, formando um todo concentrado. Usam-se equipamentos
Instrumento 1
ficam os compartimentos que, por sua vez, estão na parte mais externa do retângulo,
recebendo iluminação natural. Observada a volumetria, pode-se identificar a localização
das zonas, uma torre em forma de paralelogramo vertical onde se localiza a internação. O
eixo da torre é ortogonal com respeito à base, em forma de paralelogramo horizontal
(pódio), onde estão localizadas as zonas de apoio e clinica. A zona de internação se
destaca na volumetria final.
Palavras-chave: base, paralelogramos, torre, prismas, pavimento-tipo, circulação vertical
O avanço dos materiais e tecnologias de estrutura, com o uso de treliçados metálicos e
Instrumento 3
Período Modernismo
Tipo Rua hospitalar
O principio organizador do espaço é o de produzir um conjunto que possa expandir suas
partes, em tempo e intensidades diferentes, sem afetar o conjunto. Atividades são
Instrumento 1
grupadas em unidades que, por sua vez, são organizadas em zonas funcionais e
distribuídas segundo suas inter-relações em áreas espalhadas e independentes. Uma
circulação principal faz a ligação entre as unidades e zonas, fazendo um itinerário que
segue o fluxo e sequenciamento de procedimentos. Há preocupação com os acessos e
com a ocupação do lote. Não há zona principal, todas podem crescer segundo seu ritmo.
Palavras-chave: expansível, sistêmico, funcional, fluxos, sequenciamento.
Plantas retangulares se conectam a uma via de circulação troncal. As plantas são
posicionadas paralelamente e se desenvolvem segundo um eixo longitudinal que se cruza
ortogonalmente com o eixo da circulação principal. As extremidades das plantas ficam
livres para crescer, podendo cada uma delas ter um tamanho diferente. O espaço interno
Instrumento 2
Período Modernismo
Tipo Sanduíche
A organização espacial é fortemente influenciada pelos requerimentos ambientais dos
equipamentos médicos de tecnologia avançada e o combate à obsolescência provocada
pelo rápido avanço tecnológico. Esse combate se dá principalmente através da disciplina
Instrumento 1
grandes vãos livres, pisos e tetos planos em todos os pavimentos, mesmo os intersticiais.
O contorno do edifício é marcado pela presença de colunas e vigas periféricas de grande
porte.
Palavras-chave: grandes vãos, estrutura aparente, estrutura modular independente
Configurações correspondentes
91
Período Pós-modernismo
Tipo Shopping center/hotel/residência
Os espaços são organizados em torno de um pátio interno, considerando a idéia de
familiaridade, atendimento menos impessoal e humanizado. As atividades são agrupadas
Instrumento 1
por função e seu posicionamento relativo leva em conta, além das rotinas médicas e das
necessidades de fluxo e tecnologia, as necessidades dos pacientes internos. O pátio
interno ou átrio é o espaço mais valorizado da edificação, responsável por consolidar um
ambiente agradável para pacientes e visitantes, ambiente esse reforçado pelo caráter
residencial das acomodações de quartos e enfermarias.
Palavras-chave: foco no paciente, humanização, familiaridade
A planta se desenvolve a partir do átrio, ao qual se conectam compartimentos ou grupos
Instrumento 2
Os limites desses períodos não devem ser entendidos como rígidos, pois é usual que
políticas públicas revelem uma certa inércia em momentos de transição, além de que a
elaboração, a maturação e a execução de projetos de edifícios hospitalares têm prazos
médios a longos, em função de seu porte e de sua complexidade técnica e financeira.
Cabe mencionar também que uma síntese das informações apresentadas neste capítulo
sobre cada hospital é incluída no Anexo II, segundo os períodos de análise, para os quais se
destacam os elementos mais relevantes do contexto.
94
Até já avançado o século XIX, embora fossem preocupantes as altas taxas de mortalidade,
o Brasil ainda não contava com uma política de saúde pública identificável como tal
(IYDA, 1993). O processo de urbanização brasileira ainda era incipiente em meados do
século XIX e só ganharia feição mais significativa já em fins dos anos 1800 (COSTA,
1986). Por outra parte, o Estado brasileiro era então fragilizado pela presença de instâncias
subnacionais que embargavam seu funcionamento efetivo (FAUSTO, 2000). Portanto, nem
o problema urbano se alçava a alturas preocupantes, nem a contrapartida pública de
organização de serviços de saúde era fornecida por um Estado-nação ainda se formando.
Nesse quadro, Costa (1986) assinala que as autoridades locais atuavam apenas com uma
abordagem urbano-higienista da saúde pública, tomando medidas de limpeza pública e de
aterramento de corpos d’água estagnada. Scliar (1987) assinala a presença de hospitais
filantrópicos e beneficentes, implantados por personalidades da vida social e econômica ou
pela Igreja Católica, contando com trabalho voluntário e com a presença de membros de
ordens religiosas. Pequenos auxílios financeiros das autoridades provinciais, entretanto,
não tinham a necessária continuidade e sua efetiva consecução era dependente do esforço
de lideranças políticas ou do prestígio de associações comunitárias. Saliente-se o caráter
segregacionista desses primeiros hospitais, mais assemelhados a “depósitos” para isolar da
sociedade os enfermos, com o objetivo de barrar eventuais processos de contágio em larga
escala. O caso típico é o das “Misericórdias”, cujo primeiro exemplar no Brasil é o
Hospital da Santa Cruz da Misericórdia de Santos, de 1543. Esse tipo de instituição, de
origem ibérica, se estenderia pelo Brasil afora em capitais provinciais e até por cidades do
interior (CAMPOS, 1952), constituindo-se em uma rede de instituições autônomas entre si,
mas guardando sempre o modelo básico de espaço para guarida a enfermos desvalidos.
A situação de Natal repete o quadro com maior ênfase. Fundada em 1599, a cidade teve um
crescimento irrelevante até a segunda metade do século XIX. Segundo Oliveira (2000), por
essa época, a ocupação do território natalense concentrava-se nos bairros da Cidade Alta e
da Ribeira, expandindo-se até o bairro das Rocas de forma rarefeita 5 . Nas últimas décadas
do século XIX, principalmente com a inauguração do porto em 1872, o bairro da Ribeira
destacou-se como localização preferencial de atividades econômicas comerciais ligadas ou
5
Todas as menções feitas neste capítulo à localização dos hospitais e a bairros de Natal podem ser vistas em
sua representação cartográfica no Mapa 1, em anexo.
95
não à exportação (CASCUDO, 1999). A atividade industrial era então incipiente, pouco
mais que pequenas fábricas de tecido, óleo comestível e sabão. Com essa base econômica,
não é de estranhar que as estimativas de população registrem pouco mais de 16.000
habitantes em Natal, no ano de 1900 (CLEMENTINO, 1995).
Até 1856, a pequena população da cidade não contava com atenção hospitalar: não há, até
então, qualquer registro de hospital em Natal. Os relatos dos Governadores de Província ao
Governo Imperial (FUNDAÇÃO VINGT-UN ROSADO, 2001) apontam para epidemias
de varíola, sarampo e febres, histerias e epilepsia. No entanto, não havia médico residente
na Província nem qualquer forma de tratamento ou atenção especializada aos enfermos. Na
ausência de uma política nacional de saúde, e face aos parcos recursos provinciais, a única
medida que se registra na vida da Província até meados do século XIX, na área da infra-
estrutura edificada da saúde pública, é a aquisição de uma palhoça “acanhada (...), tão
arruinada que pouco poderá durar” (FUNDAÇÃO VINGT-UN ROSADO, 2001, p. ), em
que o Governo da Província depositava as pessoas pobres vítimas de moléstias.
Em face desta situação, entre 1822 e 1856, os relatórios anuais da província solicitavam
recursos ao Imperador para a construção de uma Casa de Caridade. Em meados da década
de 1850, uma forte epidemia de cólera e sarampo obrigou o governador provincial a
adquirir, ampliar e reformar uma casa para abrigar os enfermos indigentes, à qual
denominou de Hospital da Caridade, implantado em 1856 (OLIVEIRA, 2000).
A próxima implantação hospitalar em Natal, de acordo com Araújo (197-) foi o Lazareto
da Piedade, depois Hospital de Alienados, inaugurado em 1882. Repetia-se o mesmo
esquema de financiamento do Hospital da Caridade, tanto para construção quanto para
manutenção. Tratava-se de uma simples casa reformada, destinada a abrigar loucos e
96
furiosos – até 1911, quando foi renomeado Asilo de Alienados, também recebia vítimas de
epidemias – sem recursos para receber atenção particular. Informa Silva (1989) que a
entidade localizava-se além dos limites construídos da cidade, em terreno onde hoje se
situa o Centro de Saúde do Alecrim. Até 1916, não havia atuação médica na instituição, o
que confere ao Lazareto um caráter exclusivo de segregação de enfermos.
Por fim, já nos primeiros anos da República, em 1892, o governo estadual implantava o
Hospital São João de Deus, a ser mantido por verbas provinciais e doações de filantropos,
dedicado a receber tuberculosos pobres, incapazes de custear tratamentos da doença em
suas residências. Localizado no bairro das Quintas, era uma casa simples, bastante apartada
dos limites urbanizados de Natal (ARAÚJO, 197-).
Assim, chega Natal ao século XX com uma precária infra-estrutura física de saúde pública.
Observe-se que as instituições hospitalares implantadas na segunda metade do século XIX
têm alguns pontos em comum, a saber: o governo provincial arca com o investimento
inicial e reparte com a caridade, associada ou particular, os encargos de custeio; têm
caráter de guarida a enfermos e desvalidos que não podem ser atendidos em seu lar; por
fim, são instituições segregacionistas, sendo seu objetivo principal o de proteger a
sociedade de enfermidades contagiosas ou mentais. Além disso, a estrutura física é um
galpão ou casa, adaptada ao acolhimento de enfermos, sem preocupações de ordem
sanitária, situada nos limites da cidade ou além deles.
portuárias inibiam o comércio exterior, que era vital para a acumulação do capital
mercantil naquele momento do desenvolvimento nacional. Nesse sentido, o papel de
Oswaldo Cruz na chefia da Direção Geral de Saúde Pública (DGSP, repartição do Governo
Federal para a Capital do país) foi vital para o período por seu efeito demonstrativo.
Encarregado de sanear a Capital do país, Cruz obteve êxitos no combate às epidemias,
evidenciados pela expansão de suas medidas a outras sedes portuárias importantes. Mas, a
generalização dessas políticas encontrava resistência no modelo federativo então vigente, e
seriam necessários esforços substanciais para que as elites locais abrissem mão de suas
atribuições em prol de uma atuação centralizada (HOCHMAN, 1998).
Concretamente, uma investida na direção de uma política nacional de saúde pública pôde
ser contemplada (PERES, s/d) com a criação da Justiça Sanitária, a obrigatoriedade da
vacinação antivaríola e da notificação de certas doenças, o estabelecimento dos serviços de
saneamento e profilaxia rural — na década de 1910 —, atingindo-se o clímax com a
criação do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP) em 1920, ainda subordinado
à Pasta da Justiça e Negócios Interiores.
O DNSP, inspirado no DGSP de Oswaldo Cruz e dirigido por Carlos Chagas, nascia para
coordenar as ações de saúde pública no país (SANGLARD; COSTA, 2004, p. 109), “de
forma mais direta no Distrito Federal e, por meio de convênios, nos estados”. Hochman
(1998, p. 84) informa que o decreto de criação do DNSP estabelecia “ [...] uma inspetoria
específica vinculada diretamente à Diretoria Geral” dedicada ao combate à hanseníase e as
doenças venéreas. Para Rocha e Veiga (2004), esse fato – associado à compreensão de
que o tratamento e isolamento dos hansenianos era atribuição estatal e não uma questão de
caridade pública – revela como o Estado brasileiro de princípios do século XX assumia a
implantação de políticas sanitaristas, à revelia das críticas e até de revoltas sociais, como a
Revolta da Vacina.
Uma outra inovação importante surgida na Primeira República são as CAPs – Caixas de
Aposentadorias e Pensões, instituídas em 1923 com o objetivo de criar, nas empresas
ferroviárias, uma entidade previdenciária para os empregados, a ser administrada por estes
e pela empresa, sem interveniência estatal direta. Sobre o modelo CAP, que dominaria a
cena até 1931, Oliveira e Teixeira (1989) informam que as Caixas asseguravam a prestação
de serviços médicos de duas distintas formas: no princípio, as CAPs contratavam a
98
Vale observar que esses edifícios “terapêuticos” estavam direta ou indiretamente à ação
governamental na área de saúde, em bases técnico-científicas. Se os projetos de Morais
Júnior se vinculam diretamente à atuação em organismos públicos do cientista Oswaldo
Cruz, os de Porto d’Ave se articulam com fundações privadas filantrópicas ligadas à causa
do combate a males que afligiam a sociedade: o Hospital da Fundação Gaffré e Guinle,
para portadores de doenças venéreas, foi resultado de ação pessoal de Carlos Chagas junto
às famílias Gaffré e Guinle (CHAGAS FILHO, 1993); o Hospital do Câncer da Fundação
Oswaldo Cruz, financiado pela família Guinle sob os auspícios de uma entidade – a
Fundação, instituída por iniciativa de um grupo de médicos – criada para cultivar a
memória de Oswaldo Cruz, teve seu projeto analisado e aprovado por uma Comissão
Técnica em que figurava o mesmo Carlos Chagas (SANGLARD; COSTA, 2004).
Assim, na Primeira República, ganha corpo no Brasil a idéia de uma ação mais incisiva do
Estado, científica e tecnicamente lastreada, com respeito à saúde pública. Tal processo,
desenhado e posto em marcha nos grandes centros urbanos do país, especialmente na
capital federal, reflete-se parcialmente em Natal.
Nas três primeiras décadas do século XX, a cidade registrava um acentuado crescimento
populacional, praticamente dobrando a população entre 1900 e 1920. Nesse período,
registra Santos (1998), a cidade teve seu crescimento planejado, com o projeto da Cidade
Nova (Plano Polidrelli, de 1904) e o Plano de Sistematização Geral da Cidade, coordenado
99
por Palumbo em fins dos anos 1920. Oliveira (2000) destaca esses fatos como parte de uma
ampla ação das elites dirigentes locais no sentido da modernização da capital, cujo escopo
também incluía atuações na área do saneamento ambiental e da saúde pública.
Essa marca do período analisado em Natal pode ser observada na implantação do Hospital
da Caridade Juvino Barreto, em 1909. A decisão de criar a instituição foi tomada com
posterioridade ao fato de que os primeiros profissionais médicos da cidade houvessem
condenado, por sua alta insalubridade, o antigo Hospital da Caridade, fechado em 1906. O
local escolhido para o novo Hospital da Caridade foi o Monte Petrópolis, onde se situava a
casa de veraneio do Governador Alberto Maranhão, que foi cedida para as devidas
reformas. Tratava-se de um sítio, um pouco afastado da mancha urbana, e próximo ao mar:
“com melhores condições por conta dos bons ares do mar” (ARAÚJO, 2000, p. 15).
A casa doada por Alberto Maranhão foi reformada, com recursos do Tesouro estadual,
visando abrigar, principalmente, pacientes sem recursos. Concebido como hospital geral
com 18 leitos, o Juvino Barreto funcionou nos anos 1910 com apenas um médico
(SARINHO, 1988). Mas, ao redor de 1926, já havia médicos residentes, serviços
ambulatoriais, laboratório de análises clínicas, cuidados de enfermagem por irmãs
religiosas treinadas, e clínica cirúrgica. Depois, passou a dispor também de apartamentos
para eventuais clientes particulares, advindo daí uma receita para a instituição. O custeio,
entretanto, dependia em larga escala de verbas do governo do estado e de doações
individuais.
Por outro lado, um primeiro movimento de atuação integrada entre governos federal e
estadual seria registrada na implantação do Hospital Colônia São Francisco, em 1929,
realizada no âmbito do programa federal de construção de hospitais para combater as
endemias, especificamente, a hanseníase, em todo o país, através da Inspetoria de
Profilaxia da Lepra e das Doenças Venéreas (SANGLARD; COSTA, 2004; ROCHA;
VEIGA, 2004). Dedicado ao confinamento e segregação de pacientes pobres com
hanseníase, o “Leprosário” se localizava na hoje Avenida Capitão-Mor Gouveia, em sítio
bem afastado da área urbanizada de então. No terreno de cerca de 20.000 m2, a área
construída totalizava quase 2.000 m2, distribuídos em três blocos (administrativo,
internação, tratamento), pequenas casas de dois cômodos para enfermos casados e aptos
para cuidar-se, uma sala de cine-teatro, biblioteca, delegacia e uma pequena igreja.
100
A criação, nos anos 1930, dos Institutos de Aposentadoria e Pensão (IAPs) representou um
marco na história da medicina previdenciária no Brasil. Os IAPs se referiam a categorias
profissionais organizadas, reconhecidas pelo Estado, que indicava a administração
profissional do Instituto. O financiamento da atuação dos IAPs se baseava em
contribuições dos trabalhadores, das empresas e do Estado, gerando recursos para cobrir os
custos de atendimento à saúde dos sindicalizados e familiares, além de permitir a
construção de unidades de saúde e até hospitais. Diferentemente das CAPs na Primeira
República, os recursos dos IAPs eram geridos de modo centralizado. Tomavam-se decisões
de dispêndios no plano nacional das categorias, não no plano geográfico das empresas.
Assim, comentam Oliveira e Teixeira (1989), os IAPs, instituições verticais, centralizadas
e controladas pelo Estado, assumiam o financiamento da face mais visível da política
nacional de saúde: a assistência médica curativa, preferentemente contratada junto a
clínicas e hospitais de terceiros.
Em paralelo aos serviços dos IAPs, havia uma ação direta dos Governos, principalmente o
federal, na formação de serviços especializados e na construção de hospitais. É, entretanto,
101
relevante observar que, segundo Oliveira e Teixeira (1989), existiam apenas quatro
hospitais da Previdência Social – ou seja, hospitais gerais abertos ao atendimento dos
contribuintes da Previdência – no país, em 1945, o que mostra o direcionamento dos
investimentos públicos diretos para a construção de unidades hospitalares especializadas
em hanseníase, tuberculose, doenças mentais, doenças infecto-contagiosas tropicais etc,
vinculados a programas do Governo Federal de combate às endemias.
Por outro lado, a emergência da II Guerra Mundial e a mobilização de tropas deu origem à
construção de hospitais militares por arma (Marinha, Aeronáutica e Exército), que tinham
o Estado como financiador, mas que não ofereciam atendimento ao público em geral. Por
fim, a ação preventiva de natureza universal seria articulada nacionalmente pelo
Ministério, executada em associação entre este e os Serviços Estaduais de Saúde Pública,
na forma das campanhas idealizadas por Oswaldo Cruz e Carlos Chagas.
Com efeito, se até a década de 1920 os projetos de Morais Júnior e Porto d’Ave tinham
por base a arquitetura do hospital pavilhonar europeu, em suas obras nos anos 30 e 40 eles
passariam a adotar a verticalização que caracterizara a edificação hospitalar nos Estados
Unidos de princípios de século XX. A solução vertical permitia, ainda que sem grande
altura, a diferenciação social e técnica dos espaços que caracteriza a segregação de
atendimento e o zoneamento do espaço hospitalar por diferentes funções (GOLDIN, 1994).
Nessa fase, ocorre uma primeira onda de extensão ao conjunto do território nacional da
implantação de hospitais de cura, já com uma significativa tecnicidade de projeto e uma
incipiente organização administrativo-financeira.
102
Como se verá adiante, os hospitais implantados entre 1930 e 1945, em Natal, apresentam
características bem distintas dos implantados nos períodos anteriores. Nesse sentido, vale
salientar que, em 1931, surgia em Natal a Sociedade de Medicina e Cirurgia do Rio Grande
do Norte, dedicada a disseminar o conhecimento médico e a aproximar os profissionais
(SARINHO, 1991). A atividade dessa instituição é fundamental para compreender o
processo de modernização técnico-tecnológica dos hospitais de Natal, a partir dos anos
1930 (DAVIM, 1999). Destaque similar deve ser dado à criação, em 1934, da Escola de
Enfermeiras e Parteiras, idealizada para prover pessoal qualificado para as atividades
hospitalares (IDANÉSIA, 199-).
Em 1936, também estava sendo inaugurado, na Avenida Deodoro, limite entre a Cidade
Alta e Petrópolis, o Hospital Infantil, renomeado Varela Santiago nos anos 1950 (DAVIM,
1999). A construção fora iniciada em 1923, coordenada pelo Instituto de Proteção e
Assistência à Infância do Rio Grande do Norte, em terreno doado pelo Governo estadual.
O Instituto inaugurou o edifício completo em 1936: era um hospital pediátrico, equipado
com ambulatório, raios-X, laboratório de análises clínicas, centro cirúrgico, internação, e
serviços de apoio como nutrição (SARINHO, 1988). Voltava-se ao atendimento de
crianças pobres, com custeio coberto por recursos públicos estaduais e apoio de
filantropos.
Depois do Hospital Colônia São Francisco, no período anterior, o Varela Santiago foi o
primeiro edifício hospitalar mais complexo da cidade a ter um projeto arquitetônico
desenvolvido a partir de terreno nu, sem qualquer construção prévia a reformar ou ampliar.
Com uma área construída de cerca de 950 m2, o Varela Santiago apresentava, como o
Miguel Couto, um certo grau de sofisticação tecnológica.
Este, por sua parte, foi ligeiramente reformado e ampliado, sendo reinaugurado no mesmo
ano de 1943, com a denominação alterada para Hospital Getúlio Vargas, mantendo-se
como hospital especializado em tratamento de tuberculosos indigentes. Os recursos para a
reforma, segundo Davim (1999), advieram do Governo federal, no âmbito de programa de
construção de sanatórios para tuberculosos.
Por outro lado, ao final do período do Estado Novo, em 1944, o bairro do Alecrim, com
população crescente de camadas médias em função da atividade comercial ali instalada,
receberia a implantação de um hospital geral, a Policlínica do Alecrim. Originalmente, a
Policlínica fora fundada em 1939 por um grupo de médicos e dentistas, recém-formados
em sua maioria (SARINHO, 1988), sob os auspícios do Professor Luiz Soares e da
Associação dos Escoteiros do Alecrim que ele dirigia. O êxito do empreendimento e a
necessidade da população, cuja alternativa seria o Hospital Miguel Couto, do outro lado da
cidade, criou as condições para que o conjunto de clínicas fosse transformado em hospital
geral, com as obras iniciadas em 1942.
Pode-se verificar que os três novos hospitais implantados no período 1930/45 – o Hospital
Infantil, o Evandro Chagas e a Policlínica – já registram um certo patamar de tecnicidade
médica (clínicas especializadas, aparelho de raios-X, laboratório de análises clínicas e, em
alguns, centro cirúrgico). Excetuando o Evandro Chagas, edificado nos então limites da
cidade, a localização se inclina para espaços mais centrais da área urbanizada,
respectivamente na Cidade Alta e no Alecrim, porque os novos hospitais tinham ação
curativa e não eram mais “depósitos” de pacientes a serem isolados da sociedade. Essas
três instituições, além disso, foram projetadas como hospitais desde a sua primeira
concepção, salientando suas diferenças com respeito ao caso de casas readaptadas.
Ressalte-se, entretanto, que o Miguel Couto, instalado originalmente em uma casa
brevemente reformada, já se apresentava como radicalmente transformados em infra-
estrutura e facilidades disponíveis. Novos hospitais, tanto quanto hospitais existentes e
reformados, requeriam então mais espaço, fosse para receber as especialidades médicas,
fosse para incorporar o crescente aparato tecnológico. Por outro lado, o crescimento da
cidade incorporou as antigas localizações remotas à mancha urbana, integrando esses
hospitais ao cotidiano da cidade.
A partir de 1945 e até 1964, intensificou-se o modelo de saúde pública do período anterior.
Dois fatores principais podem ser enumerados como razões para tal. Por um lado, com
maior solvência devido ao crescimento dos salários nas categorias organizadas, os IAPs
foram progressivamente estimulados pelo Governo Federal a ampliar seu papel na
assistência à saúde dos beneficiários (OLIVEIRA; TEIXEIRA, 1989). Por outra parte, o
processo de industrialização iniciado no período getulista passava a criar também uma
classe média, liberal ou assalariada, vinculada ao crescimento econômico.
Próximo ao fim do período, em 1960, Campos et al. (1979) estimam que a iniciativa
privada respondia por mais de 80% dos hospitais brasileiros. Naquele ano, promulgava-se
a Lei Orgânica da Previdência Social (Lei n. 3.807, de 27/8), pela qual os benefícios
providos pelos IAPs seriam uniformizados. O aumento das prestações de serviços
contratadas junto a terceiros fez com que alguns IAPs tratassem de estabelecer regras para
a contratação de serviços médico-hospitalares. A partir de um primeiro documento “Padrão
de elementos mínimos a serem considerados numa concorrência para a prestação de
serviços hospitalares”, formalizado em 1961 pelo IAPC, dos comerciários, outros IAPs
foram tratando de instituir padrões de avaliação da “assistência hospitalar, em termos de
planta física, equipamento e organização” (CAMPOS et al., 1979, p. 49), um embrião da
normativa edilícia hospitalar que se firmaria nos anos 1960 e 70. Esse movimento
culminaria, já no período seguinte, em 1967, com as tabelas de classificação de hospitais,
classificação nacionalmente usada para definir valores de serviços.
107
Em Natal, a população de 55 mil habitantes de 1940 quase triplicara para atingir os cerca
de 162.000 habitantes em 1960. A economia urbana mudou amplamente e, após a Segunda
Guerra, havia capital acumulado para financiar uma expansão territorial sem precedentes,
para sul e para oeste, levando os limites urbanos até a Av. Bernardo Vieira e ao bairro das
Quintas. Assim, a meados dos anos 1960, Natal já se constituía como um núcleo urbano
economicamente significativo, concentrando cerca de 15% da população estadual e
apresentando uma razoável diversificação de sua base produtiva (CLEMENTINO, 1995).
O certo é que a Maternidade Escola Januário Cicco só veio a ser inaugurada em 1950,
quase dez anos após a conclusão da obra e 22 anos depois dos primeiros passos para a sua
construção. Com especialidade em obstetrícia e ginecologia, a Maternidade dispunha de
enfermarias e apartamentos para particulares, centro cirúrgico, serviços de apoio como
nutrição, lavanderia, laboratório de análises clínicas e farmácia. O edifício, de três
pavimentos, abrigava enfermarias e apartamentos para clientes particulares, sendo de
propriedade da Sociedade de Assistência Hospitalar e mantido em função de convênio com
o Governo estadual, do qual provinham os recursos básicos de custeio. A Sociedade, por
meio de um centro de estudos, também diplomava pessoal de nível médio para seus
próprios quadros e para as cidades do interior (ARAÚJO, 2000)
novo hospital na cidade, salientando, por um lado, o fato de a cidade estar mal dotada de
instituições de atendimento médico, principalmente de urgência e, por outro, a dificuldade
encontrada por jovens profissionais em ingressar nas equipes dos hospitais existentes.
Nas palavras de Sarinho (1981, p. 7), ele mesmo um componente do grupo iniciador,
“...não nos movia a preocupação do lucro, mas um local onde o nosso trabalho pudesse ser
feito com maior liberdade”. Sendo a Casa de Saúde um empreendimento de iniciativa
particular, a preocupação da sustentabilidade econômico-financeira do negócio estava
presente, e se manifestou claramente na escolha do local. O bairro do Tirol ainda não havia
sido plenamente ocupado ao fim da Segunda Guerra, quando se fundou a Sociedade Casa
de Saúde e seus membros decidiam sobre onde implantar o hospital que pretendiam
edificar. Parte dos sócios do empreendimento julgava o bairro um tanto distante do centro
da cidade, mas a decisão pelo Tirol se revelaria logo um grande acerto em função do
rápido crescimento que a área experimentaria nos anos 50. O terreno foi adquirido com
recursos próprios da sociedade e um projeto foi elaborado “de acordo com os nossos
planos e sugestões oferecidas pelo engenheiro” (SARINHO, 1981, p. 27). A Casa de Saúde
seria inaugurada em princípios de 1952, contando com corpo médico, enfermagem
profissional de nível médio e irmãs religiosas que faziam as vezes de enfermeiras
diplomadas e administradoras do cotidiano do hospital.
O custeio básico do hospital era garantido pelo atendimento aos IAPs existentes em Natal,
dos quais apenas o IAPI (dos industriários) não teve convênio com a Casa de Saúde. Mas
não era insignificante o aporte de pacientes particulares, em função principalmente das
atividades da clínica cirúrgica (SARINHO, 1981). A estrutura de atendimento da Casa de
Saúde consistia, em dois pavimentos, de enfermarias e apartamentos para internação,
centro cirúrgico, laboratório de análises clínicas, raios-X e serviços de apoio como nutrição
e lavanderia.
De caráter estritamente privado, assim como a Casa de Saúde de São Lucas, surge em 1959
o Hospital Médico-Cirúrgico, em Petrópolis, a poucos metros da Maternidade e do Miguel
Couto. Tratou-se de iniciativa de um grupo de pessoas com atuação profissional na área
médica, endereçada ao veio de mercado aberto pela existência em Natal de IAPs bem
estruturados e por uma classe média emergente, que garantia alguma clientela particular. O
Hospital Médico-Cirúrgico ocupou uma casa reformada, com área de 455 m2, contando
com doze leitos de internação, centro cirúrgico, laboratório de análises clínicas, raios-X,
110
quatro consultórios e serviços de apoio como nutrição. Foram investidos recursos próprios
do grupo empreendedor, sendo o seu custeio coberto por clientela particular e de
convênios.
Por fim, o período ora estudado ainda registrou a segunda transferência de sede, em 1957,
do Hospital de Alienados (antes Lazareto da Piedade), que deixou o edifício situado na
esquina da Av. Alexandrino de Alencar com a Rua Mário Negócio – em frente ao qual se
implantara em 1944 a Policlínica do Alecrim – e se instalou na mesma Avenida
Alexandrino, mas em sua extremidade oposta, no bairro de Morro Branco, trocando-se sua
denominação para Hospital Colônia João Machado (SILVA, 1989). O novo prédio fora
construído com recursos dos Governos estadual e federal, os quais também assumiam a sua
manutenção e custeamento de atividades. Mantinha-se a natureza da instituição – doentes
mentais –, mas foram introduzidos cuidados terapêuticos, corpo médico e irmãs de ordens
religiosas para prestar assistência e conforto aos pacientes. O edifício possuía dois
pavimentos, espaço de internação e serviços de apoio como nutrição, administração e
lavanderia, reservando-se também acomodações especiais para as irmãs.
Por fim, nos primeiros anos da década de 1960, iniciava-se a construção do Hospital da
Polícia Militar do Rio Grande do Norte, sediado na Avenida Prudente de Moraes, no Tirol
(ARAÚJO, 2000).
Ponha-se em realce o fato de que esses hospitais de iniciativa privada são, até este período
ora em foco, sempre hospitais gerais, cabendo a primazia dos especializados ao
investimento público e filantrópico. Por outro lado, cabe ressaltar que o período
estabeleceu definitivamente a presença da tecnicidade e da tecnologia médica nos hospitais
como elemento fundamental da organização do serviço e da assistência, um movimento
que, fomentado pela Sociedade de Medicina e Cirurgia estadual a partir dos anos 1930,
ganhou contornos definitivos em fins da década de 1950.
111
Se a primeira concepção dos IAPs no Estado Novo era centralizada em comando estatal
mas descentralizada por categoria, e sua evolução na redemocratização após a Segunda
Guerra Mundial levou a um controle mais descentralizado e flexível, a política
previdenciária da ditadura militar ia na direção de uma hiperinstituição nacional, com um
orçamento gigantesco, incapaz de ser gerida adequadamente no plano da produção dos
serviços diretos à sociedade.
Com o objetivo de garantir que essas unidades de saúde tivessem as mínimas condições
sanitárias e operacionais, foi criado pelo Ministério da Saúde um conjunto de normas e
padrões para construção e instalações de estabelecimentos de serviços de saúde: a Portaria
n. 400, de 1977 (BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1977). A Portaria vinha coroar um
processo que se iniciara com o “Padrão de elementos mínimos a serem considerados numa
113
O Governo militar de 1964 tratou o tema com mesma intensidade, envolvendo nele o
Conselho Interministerial de Preços e o INPS. Em 1965, saia a luz um primeiro conjunto
articulado de normas disciplinadoras da construção hospitalar (BRASIL. MINISTÉRIO
DA SAÚDE, 1965), que persistiu vigente até a emissão de novas normas de construção e
instalação do hospital geral (BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1974), cujo
aprimoramento e generalização levaram à já citada Portaria n. 400. Válida para todo
território nacional, essa Portaria estabelecia o programa de necessidades das unidades de
saúde, dimensões mínimas por ambiente e outras recomendações como segregação de
fluxos, acessos e implantação do hospital, localização, e escolhas de terrenos. As unidades
estavam categorizadas de acordo com o nível de complexidade e a área de cobertura da
população. O modelo centralizador vigente influenciou diretamente nas diretrizes adotadas
pelo documento, em que se utilizavam tipologias pré-determinadas, programas
arquitetônicos pré-definidos e parâmetros de abrangência nacional calcados unicamente em
dados demográficos.
Em Natal, a população crescia com taxas mais altas que a média nacional. Os Censos do
IBGE para 1960 e 1980 indicam, respectivamente, números de 162.000 e 416.000
habitantes, ascendendo o peso da capital na população do estado de cerca de 14% em 1960
para 22% em 1980. Nesse período, a cidade testemunhou a ocupação da periferia urbana
pelos conjuntos habitacionais, financiados pelo Sistema Financeiro de Habitação por meio
do Banco Nacional de Habitação (BNH).
Inicialmente, logo em 1966, com verbas do Governo Federal, o Hospital Getúlio Vargas é
amplamente reformado e ampliado, para funcionar com capacidade para 180 leitos de
114
A demanda por serviços hospitalares, agora unificados os institutos no INPS, vai requerer a
implantação de grandes hospitais gerais públicos dirigidos às populações de menor renda.
O primeiro exemplar natalense desta nova política de infra-estrutura hospitalar foi o
Hospital Walfredo Gurgel, inaugurado em 1971. Tratava-se de um hospital geral, com
ênfase no atendimento de urgências e emergências, mas contando com centro cirúrgico,
ambulatório, laboratório de análises clínicas, 150 leitos de internação (não por
coincidência), serviços de nutrição e de lavanderia integrados ao edifício. A área total
implantada era superior a 6.900 m2, em três blocos variando entre um e sete pavimentos. A
edificação, localizada na Avenida Hermes da Fonseca, quase no limite sul do bairro do
Tirol, era de fácil acesso à época desde as entradas rodoviárias de Natal, o que consolidava
o hospital como de referência regional. Os recursos aplicados na construção, na equipagem
e no custeio do Walfredo Gurgel provinham dos Tesouros estadual e federal.
Dos anos 1970 é também o Hospital Santa Helena, uma instituição materno-infantil de
iniciativa privada, com área construída de 3.337 m2, distribuída por três pavimentos. O
Santa Helena foi projetado com centro cirúrgico e obstétrico, berçário, raios-X, laboratório
de análises clínicas e serviços de apoio – lavanderia, nutrição e administração – integrados
ao corpo do edifício. Os recursos para a construção – com aporte do FAS – foram
arregimentados pelo grupo de médicos que constituiu a sociedade mantenedora, cujo alvo
eram os clientes particulares, os de convênio e, também, os da Previdência Social. O
hospital dirigia seus serviços para a população de classe média e média baixa de seu
entorno, localizando-se no Alecrim em uma área residencial de alta densidade.
Esse modelo de atuação da iniciativa privada no setor hospitalar traria para Natal mais dois
exemplares nos anos 1980. O primeiro deles, em 1982, foi o PAPI, um hospital
especializado em pediatria, com 120 leitos de internação, ambulatório, centro cirúrgico,
urgência, raios-X, laboratório de análises clínicas e serviços de apoio – nutrição e
lavanderia, integrados ao edifício. A área construída era de 3.625 m2 e o hospital, objeto de
investimento exclusivamente privado, por meio de empréstimos bancários e com apoio do
115
O segundo hospital privado do período foi a Maternidade Santa Isabel, com ênfase em
ginecologia e obstetrícia, contando com 54 leitos de internação, ambulatórios, centro
cirúrgico e obstétrico, laboratório de análises clínicas e serviços de apoio de nutrição e
lavanderia. Aqui, também se financiou com recursos privados a implantação do hospital e
se buscava garantir o custeio com receitas provenientes de clientela particular e de
convênios, característica da demanda potencial da população de renda média e médio-alta
residente em seu entorno.
destaque para o Hospital Walfredo Gurgel, único do período com serviço de emergência e
capacidade para executar cirurgias de maior complexidade. Quanto à tecnologia médica
não há diferenciação para o período anterior: permanecem o aparelho de raios-X e o
laboratório de análises clinicas como representantes deste segmento. Entretanto, as áreas
da nutrição e lavanderia passam a ser incorporadas ao edifício como atividades
hospitalares, merecendo o mesmo grau de exigência de assepsia de outros setores.
Tais problemas dão origem, mais uma vez, ao crescimento do negócio privado de atenção
hospitalar, com base em financiamentos subsidiados (via BNDES) e sustentado pela
potencialidade de geração de renda dos convênios e planos de saúde complementar. As
classes médias e a elite urbana, na busca de serviços mais qualificados e eficientes,
compõem a massa de conveniados que se omitem do atendimento universal e viabilizam
uma nova explosão dos hospitais particulares, ao mesmo tempo em que a falência fiscal e a
falta de prioridade política para a saúde pública condenam as unidades hospitalares do
Estado a um mau funcionamento crônico.
Com a nova Constituição, foi elaborada pelo Ministério da Saúde em 1994 a Portaria n.
1.884/1994 (BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1994), que define normas para projetos
118
Como houve uma concentração da população em algumas áreas da cidade houve também
uma concentração da demanda por hospitais privados. Essa demanda veio a ser
intensificada com a ampliação do número de segurados por planos ou seguros privados de
saúde, na esteira da deterioração acentuada dos hospitais públicos. Com efeito, em Natal, a
geração atual dos planos de saúde nasceu com a Unimed-Natal, em 1977. Sua
massificação, entretanto, data dos primeiros anos 1990, a partir de quando surgem grupos
privados com interesse em investir em hospitais particulares, com interesse empresarial.
Até então, mesmo nos casos de hospitais privados, não havia estrutura organizacional
claramente voltada para a comercialização dos serviços e a rentabilidade. Havia, sobretudo,
um caráter que, se não era de empreendimento familiar, produzia comportamentos
próximos aos de empresas familiares (falta de profissionais na gestão, decisões de
racionalidade discutível) ou de organizações filantrópicas subvencionadas
(desconsideração de ineficiências desde que os custos sejam cobertos, por exemplo).
Em sua maioria, os grupos de investidores eram formados por médicos, dedicados a suas
clínicas e que, em que pese sua motivação empresarial, não detinham suficientes
conhecimentos ou vivências empresariais, mas também não sentiram a necessidade de
buscar o assessoramento profissional necessário para os seus investimentos. Era com base
nas experiências individuais que eles buscavam gerir o negócio. Mas, não havia claramente
uma proposta assistencial definida, nem um estudo de viabilidade econômica,
concretamente. As decisões sobre perfil e dimensionamento dos hospitais eram tomadas
pelos proprietários, da perspectiva de suas especialidades médicas, de forma meio intuitiva
e com base nas possibilidades que percebiam desde suas experiências individuais.
Assim, não há uma integração das unidades privadas do período a um modelo assistencial,
recaindo a preocupação dos empreendedores sobre os recursos próprios e bancários que
119
para custeio, sendo seu objeto principal a clientela do SUS. É um hospital com 70 leitos de
internação, seis de UTI, urgência, raios-X, laboratório de análises clínicas, ultrassonografia
e serviços de apoio. Com área de 3.755 m2, o Maria Alice Fernandes tem um só pavimento.
Por fim, o Natal Hospital Center, implantado em 2002, conta com 6 pavimentos e 14000
m2 de área. O Hospital é geral, mas tem ênfase em cardiologia e oncologia, com 77 leitos
de internação, centro cirúrgico, UTI, urgência e emergência, hemodinâmica, raios-X,
laboratório de análises clínicas e serviços de apoio. O financiamento foi feito pelos
proprietários, tomando-se os recursos financeiros em bancos (linhas de financiamento
BNDES), enquanto custeio e recuperação de capital devem ser cobertos por arrecadação
de pacientes de convênio. Localiza-se no bairro do Tirol, ao lado do PAPI: com o Natal
Center, uma área que começa a consolidar-se como um outro pólo de atenção à saúde.
121
Observe-se que, no período, os hospitais são relativamente bem maiores e mais altos que a
média do período anterior. Por outro lado, há uma incorporação ao edifício de atividades
de diagnóstico mais sofisticadas, antes processadas em clínicas, e – definitivamente – dos
consultórios, isso em larga escala. Uma outra constatação a ser feita é a baixa significação
relativa do único hospital público implantado nesse último período.
A caracterização dos hospitais implantados em Natal ao longo do século XX, ainda que
realizada como objetivo instrumental, permite inferir algumas conclusões relevantes para o
entendimento do objeto empírico do trabalho.
É certo que não há registro em Natal de hospitais patrocinados pela Igreja, mas a trajetória
examinada neste capítulo revela uma gama variada de empreendimentos hospitalares:
públicos, privados e filantrópicos; gerais e especializados; de pequeno e grande porte. Essa
variedade é o reflexo, principalmente, das transformações pelas quais passou a cidade, no
período estudado. São essas transformações, juntamente com as alterações da política
pública de saúde no Brasil, que parecem direcionar os caminhos da evolução do hospital
natalense, em resposta a necessidades e demandas interpostas pela sociedade.
Nesse sentido, cabe ressaltar que a periodização aqui utilizada permitiu perceber como, no
âmbito local, os movimentos nacionais exercem influência significativa no comportamento
dos agentes locais, no que se refere ao desenvolvimento da infra-estrutura hospitalar.
Assim, mesmo quando a cidade dava, nas três primeiras décadas do século XX, os
primeiros passos em seu crescimento populacional e econômico, seu cenário no campo
hospitalar registrava as primeiras incursões no rumo da internalização ao hospital de
preocupações sanitárias com fundamentos técnicos e científicos, com âncora no
investimento público, mas com significativa participação da sociedade civil pela via da
filantropia.
122
A partir de 1985, passa a ser mais evidente uma orientação comercial para o investimento
privado, na esteira da expansão dos beneficiários de seguros e planos de saúde. A oferta de
leitos e serviços em novos hospitais privados é francamente maior que a dos hospitais
públicos, alterando-se a postura do investidor privado que passa a perseguir serviços
diferenciados. Os novos hospitais do período são bem mais supridos de tecnologia médica
avançada, investem em publicidade e disputam usuários em um mercado bastante
competitivo.
123
Assim, não se pôde incluir entre os hospitais analisados o primeiro Hospital da Caridade
(implantado em 1856, desativado em 1906), o Hospital São João de Deus (operativo em
1892 e reconstruído totalmente em 1966) e o Asilo de Alienados (de 1911, desativado em
1957), pela impossibilidade de obter, primária ou secundariamente, quaisquer elementos
gráficos indispensáveis à análise.
Por outras razões, também foram excluídos do conjunto analisado os Hospitais Luís
Antônio, Médico-Cirúrgico, Miguel Couto (hoje Hospital Universitário Onofre Lopes) e a
Maternidade Santa Izabel (hoje ITORN). Nesses casos, embora tenha sido possível realizar
levantamentos e registros arquitetônicos de suas atuais situações, não havia disponibilidade
de informações suficientes e de qualidade para reconstituir o projeto tal qual inicialmente
implementado. Essa dificuldade se prende ao fato de que esses hospitais foram objeto de
reiteradas reformas e adequações, sem que tivesse sido possível obter registros dessas
incidências.
Feita a ressalva, foram analisados todos os demais dezoito hospitais, para os quais foi
possível dispor dos elementos documentais necessários para suportar o trabalho empírico.
A relação desses hospitais, com a indicação das correspondentes figuras que os apresentam
e que compõem o Anexo III deste documento, é a seguinte:
Em cada uma das sete seções centrais, apresentam-se os resultados da análise empírica
concernentes a grupos de hospitais reunidos por afiliação tipológica. A exceção a esse
procedimento é a do Hospital Infantil Varela Santiago, tratado como um caso especial em
função de singularidades tipológicas evidenciadas por sua análise. Assim, a ele dedicou-se
uma das sete seções mencionadas. Por fim, a última seção sintetiza os principais resultados
da análise.
127
Para construir a análise que se apresenta nas diversas seções deste capítulo, foram
levantadas informações em vários suportes a respeito de cada um dos dezoito hospitais
analisados. Tais informações dizem respeito às definições arquitetônicas do hospital no
momento em que ele foi implantado. Dois tipos de situação podem ser detalhados aqui
para dar a conhecer o processo de investigação que resulta nas plantas anexadas ao
capítulo.
Em primeiro lugar, há o caso dos hospitais mais recentes, com mínimas modificações
desde sua construção. Nesse caso, o projeto arquitetônico original foi obtido com os
proprietários ou autor, verificado em visitas in loco e em diálogos com administradores,
médicos, pessoal de enfermagem etc.
Em segundo lugar, há o caso em que se dispunha de planta do hospital tal como hoje se
encontra, obtida em levantamento de campo. Nesse segundo caso, procedeu-se a um
processo de regressão da planta atual à original, utilizando-se para tanto de informações
obtidas em:
Em todos os casos, se fez uma checagem das informações, por meio de verificação e
conferência de eventuais conflitos entre elas. Por outra parte, em alguns casos, esse esforço
de reconstituição do projeto implantado não resultou em uma definição completa do
material. Nessas ocorrências, houve que avaliar se as informações faltantes ou não-
verificadas eram ou não relevantes para a análise. Quando essa avaliação de relevância foi
positiva, optou-se por retirar o caso do rol de hospitais analisados, conforme já relatado
neste capítulo a respeito dos Hospitais Luís Antônio, Médico-Cirúrgico, Miguel Couto e da
Maternidade Santa Izabel.
128
O Hospital Colônia São Francisco (FIG. 24), implantado em 1929 e só desativado nos anos
1990, era uma instituição dedicada à segregação de portadores de hanseníase. Não há
registro ou testemunho de que o hospital contasse com atendimento médico ou de
enfermagem, nem mesmo com a presença de irmãs religiosas. O elemento mais
significativo na definição da instituição era o isolamento da sociedade, conduzindo a uma
preocupação em possibilitar aos internos as condições mínimas necessárias para a vida em
comunidade.
planta. As atividades terapêuticas marcam a presença das ciências médicas no hospital, não
somente pela presença de atividades diretamente ligadas aos cuidados dos pacientes, mas
também por atividades de natureza técnico-científica, como demonstra a existência de um
anfiteatro em que seriam apresentados e discutidos casos médicos.
O esquema geométrico é formado por vários retângulos que se conectam face a face, sem a
intermediação de uma circulação, formando um só corpo. Assim, a um retângulo principal
mais alongado se conectam ortogonalmente, segundo seus eixos longitudinais, outros
retângulos menores, secundários, regularmente espaçados. Essas conexões se dão de forma
a que o conjunto apresenta simetria com relação a um eixo transversal, dando como
resultado uma figura semelhante a um “E”. Esse esquema geométrico da planta se repete
nos primeiros pavimentos – térreo e primeiro –; no segundo pavimento são subtraídos os
retângulos das extremidades. A implantação do edifício é solta no centro do terreno, de
modo que não há implicações da forma irregular do lote sobre a geometria externa do
edifício. Quanto aos acessos ao prédio, há dois deles: um acesso social pela frente do lote e
um acesso de serviços, pela lateral sul.
Podem ser observados três princípios na maneira com que se organizam as atividades na
planta. O primeiro princípio é o da organização de grupos funcionais de atividades, ou seja,
grupos de atividades, por natureza funcional, que foram reunidas espacialmente. Entre os
grupos funcionais claramente formados estão: o da internação, o centro cirúrgico, o centro
obstétrico, a central de esterilização e o de atividades de apoio (cozinha, lavanderia,
almoxarifado), exceto as administrativas. Essas atividades administrativas estão
posicionadas de maneira descontínua, em todos os três pavimentos, sem que transpareça
um princípio de como foi orientada a alocação de atividades pelos distintos espaços.
A capela posicionada centralmente na planta traduz ainda uma certa importância simbólica
da religião na organização hospitalar, embora as atividades terapêuticas sejam mais
importantes. Por outro lado, os compartimentos dedicados ao conforto médico estão
131
posicionados na parte central da planta com varandas, refletindo o fato de que os médicos
são a autoridade máxima na organização hospitalar, como nos hospitais iluministas. O hall
de entrada – associado à escada e aos elevadores –, também está posicionado centralmente
na planta, enfatizando a importância simbólica do acesso ao hospital de caráter civil, aberto
à sociedade, como nos hospitais renascentistas.
Por outro lado, os grupos funcionais de cuidados de pacientes – centro cirúrgico, centro
obstétrico, consultórios, entre outros – ou de serviços de apoio, tais como central de
esterilização, cozinha e refeitório, considerados em segundo nível da hierarquia, foram
posicionados nos retângulos secundários, compondo ou preenchendo os espaços da figura
geométrica.
As circulações internas têm apenas dois níveis de hierarquia. No primeiro nível estão as
circulações coincidentes com os eixos longitudinais do retângulo maior e que fazem a
conexão entre os grupos funcionais de um mesmo pavimento. No segundo nível estão as
circulações coincidentes aos eixos longitudinais dos retângulos menores que fazem a
conexão dentro de cada grupo funcional.
132
No que concerne à distribuição dos grupos no interior do edifício segundo as relações entre
eles, pode-se notar que o projeto não mostra o resultado de uma análise sistêmica, na qual
133
Reitere-se que também aponta nessa direção a presença da capela em posição ainda
relevante no corpo mesmo do edifício, ainda que a importância da religiosidade na
atividade hospitalar seja minimizada. Cabe destacar também, uma vez mais, o fato de o
Hospital Maternidade ter sua gênese relacionada a uma atuação organizada da sociedade
civil – o que é caracteristicamente de inspiração renascentista.
Decorre da análise que o Hospital Maternidade Januário Cicco apresenta mais fortemente
características do tipo casa de campo, a que se somam algumas soluções tipológicas que
remontam ao tipo pavilhonar em sua variante do final do período iluminista.
O emprego do instrumental de análise levou a concluir que cinco dos dezoito hospitais
considerados neste trabalho são afiliados ao tipo pavilhonar. São eles: o Evandro Chagas,
a Policlínica, a Casa de Saúde São Lucas, o João Machado e o Getúlio Vargas. Nesta
seção, apresentam-se os principais elementos obtidos no estudo desses cinco hospitais,
tendo sido integradas – pela semelhança dos resultados – as análises de três deles.
Não foi possível encontrar o projeto arquitetônico utilizado para a construção. Portanto, foi
necessário reconstituir a planta correspondente ao momento da inauguração a partir de
levantamento do edifício hoje existente. Contou-se para isso com observações no local que
permitiram averiguar e levantar hipóteses sobre a evolução do edifício, bem como com
134
informações obtidas em entrevistas com pessoas que tiveram contacto com o hospital
quando de sua inauguração.
O hospital tinha as atividades terapêuticas como as mais importantes. Dos 1.200 m2 de área
construída, 70% eram dedicados aos serviços de internação. É certo que havia dois
consultórios médicos, mas nenhum entrevistado mencionou a existência de qualquer outro
serviço de apoio ao diagnóstico. As atividades de apoio eram ainda pouco estruturadas,
pois a cada atividade – salas administrativas, lavanderia, farmácia, cozinha e refeitório –
correspondia apenas um compartimento.
O esquema geométrico da planta era muito simples e repetido nos dois pavimentos que
constituíam o edifício. Corresponde a dois retângulos que se cruzam ortogonalmente,
formando na interseção uma figura próxima a um quadrado.
Há uma divisão clara na distribuição das atividades nas plantas dos pavimentos. Nos
retângulos perpendiculares à frente do lote estão distribuídos todas as atividades de apoio
do hospital, em compartimentos situados de um lado e de outro da circulação central. Já os
retângulos paralelos à testada do lote estão ocupados apenas pelas enfermarias, grandes
halls abertos onde estavam dispostos os leitos de internação. No final de cada hall estavam
posicionados os banheiros coletivos; no quadrado resultante do cruzamento dos retângulos
estavam os postos de enfermagem.
Esse arranjo espacial assemelha cada uma das quatro enfermarias do Hospital Evandro
Chagas à “enfermaria Nightingale”. Como nesta, a supervisão dos leitos desde o posto de
enfermagem é garantida pela ampla visão do ambiente sem divisórias. Além disso, a
insolação natural e a ventilação cruzada são garantidas através das janelas colocadas em
paredes longitudinais opostas. No caso estudado, ressalve-se ainda que a importância da
ventilação é reforçada também pela colocação de um terraço na lateral longitudinal das
enfermarias por onde entram os ventos dominantes.
O edifício tem sua implantação solta no terreno e não guarda nenhuma relação formal com
o mesmo. Foram previstos dois acessos ao hospital, um para o público externo, visitas e
familiares, situado na parte frontal do edifício, e outro na lateral próxima ao final do
edifício, para o público interno e abastecimento. Não há indícios de que houve influência
da orientação do sol na configuração da planta.
O traçado das circulações é muito simples. Nos retângulos paralelos à rua, onde estão
localizadas as enfermarias, não há circulações. Existe assim apenas uma circulação em
cada pavimento: ela discorre perpendicularmente à rua, nos retângulos em que estão
distribuídas as atividades de apoio. A circulação coincide em grande parte, com o eixo
longitudinal da planta. No pavimento térreo, ela liga o acesso principal do edifício,
localizado na parte frontal, ao acesso de serviço localizado na parte posterior.
Na medida em que a circulação percorre toda planta, vão sendo distribuídas as atividades:
as atividades de apoio dedicadas às visitas e familiares dos pacientes estão localizadas na
parte frontal, perto do acesso externo; as atividades de apoio para os pacientes internos
estão localizadas na parte posterior da planta. As circulações verticais também reforçam
esse princípio, tendo sido previstas duas escadas, uma na parte frontal, para uso do público
externo e outra na parte posterior, para serviços internos.
A organização e a distribuição dos espaços nas plantas foram orientadas por quatro
princípios, revelando uma lógica funcionalista ainda pouco desenvolvida. Em primeiro
lugar, adotou-se a separação espacial das atividades de internação e de apoio. Enquanto
estas foram posicionadas nos retângulos perpendiculares à rua, as atividades de internação
foram alocadas nos retângulos paralelos à rua. Em segundo lugar, as atividades de apoio
foram distribuídas de modo a colocar na parte frontal do edifício as relacionadas ao público
externo, enquanto que as dedicadas ao publico interno foram alocadas na parte posterior.
Os outros dois princípios utilizados foram os de sanitarização e de supervisão das
enfermarias.
ressalta a esbeltez dos pilares sobre o fundo dos panos contínuos de alvenaria dobrada que
fazem o contorno do edifício.
5.4.2. Policlínica, Casa de Saúde São Lucas, Hospital Colônia João Machado
Observando a totalidade das atividades de cuidados aos pacientes nos hospitais gerais
Policlínica (inaugurado em 1944, FIG. 27) e Casa de Saúde São Lucas (em 1952, FIG. 28),
verifica-se que são cirúrgicas, de internação e de diagnóstico (neste caso: alguns
consultórios, laboratório de análises clínicas e raios–X). Ambas as instituições são
resultado do interesse de profissionais médicos, principalmente os cirurgiões, em dispor de
um local de trabalho que pudessem conceber e organizar. Nos dois hospitais, as atividades
de internação ocupavam aproximadamente metade da área construída total, e eram
constituídas por apartamentos de um leito (com banheiro anexo) ou dois leitos, com
banheiros coletivos.
O Hospital Colônia João Machado (FIG. 29), por seu turno, era especializado em
tratamento de doenças mentais. Inaugurado em 1957, tinha a assistência prestada aos
pacientes em regime de internação. As atividades de internação eram, portanto, as que
ocupavam a maior parte da área do hospital, chegando essa porcentagem a cerca de 70%.
A quantidade de leitos em cada enfermaria variava, sendo definida segundo critério
médico. As enfermarias, separadas as de homens e mulheres, eram classificadas segundo o
tipo de paciente: calmos, sórdidos, menores, delinqüentes, agitados, além de cômodos para
isolamento. Logo, havia quartos com leito individual para pacientes mais agitados e
isolados. Os banheiros, por sua vez, eram coletivos.
O esquema geométrico das plantas dos três hospitais tem como principal figura a do
retângulo. Os retângulos são paralelos e conectados entre si através de uma circulação
137
No caso da Policlínica, a forma da planta pode ser sintetizada como equivalendo a um “H”:
dois retângulos paralelos conectados por uma circulação perpendicular aos seus eixos
longitudinais. Os retângulos frontal e posterior estão divididos em duas alas iguais pela
interseção feita com a circulação: no primeiro, uma ala é ocupada pelas atividades de
centro cirúrgico e a outra pelas ambulatoriais; no segundo, uma ala é ocupada pelas
atividades de internação e outra pelas de apoio. Existe ainda de um lado, entre a ala das
atividades de apoio e a do ambulatório, um pátio retangular, com circulação arqueada em
forma de “L”, onde havia bancos e jardins para uso dos pacientes.
Na Casa de Saúde São Lucas, a planta era mais simples. Formava-se por dois retângulos
paralelos, um principal e um de pequenas dimensões. Esses retângulos se repetiam na
planta de outro pavimento: no retângulo principal, um pavimento superior; no retângulo
secundário, um pavimento inferior semi-enterrado. Esses retângulos eram interligados por
uma circulação disposta ortogonalmente aos seus eixos longitudinais. O retângulo
principal, no pavimento térreo, está dividido por essa circulação em duas alas iguais, uma
ocupada pelas atividades de centro cirúrgico, outra por atividades de internação. As duas
alas da planta retangular do pavimento superior correspondem a atividades de internação.
No retângulo secundário, a cozinha ocupa o térreo e a lavanderia ocupa o pavimento semi-
enterrado.
No caso do Hospital João Machado, o esquema geométrico era mais complexo. O centro
da planta era marcado por um retângulo principal com sua dimensão longitudinal bastante
alongada, posicionado perpendicularmente à rua principal. A extremidade desse retângulo
é cortada por dois retângulos menores, sem, entretanto, tirar a predominância da forma
resultante do primeiro. Nesses retângulos menores estão localizadas as atividades
administrativas, parte dos consultórios e os aposentos das irmãs religiosas.
Embora os esquemas geométricos das plantas sejam diferentes, podem ser encontrados
princípios ou regras semelhantes de organização dos espaços.
A forma geométrica das plantas dos hospitais não guarda relação com a forma dos
respectivos lotes. Nos três casos, a implantação do edifício é solta no centro do lote,
observando apenas uma maior proximidade com o lado do terreno correspondente à via
principal. Há dois acessos ao edifício: um principal, na sua parte mais frontal, junto aos
serviços aos pacientes externos (recepção, ambulatório, entre outros) do hospital; e um de
serviços, localizado na parte mais posterior, próximo à área ocupada pelas atividades de
apoio (cozinha, lavanderia etc.). Não há também qualquer preocupação com a orientação
solar dos compartimentos.
Nos três hospitais, as circulações têm dois níveis de hierarquização. Nos casos da Casa de
Saúde São Lucas e da Policlínica havia duas únicas circulações. A circulação principal era
coincidente com o eixo transversal do conjunto e responsável pelo acesso do exterior ao
edifício e pela ligação entre os pavilhões paralelos. A circulação secundária coincidia com
o eixo longitudinal dos pavilhões e era responsável pela conexão entre os compartimentos
de cada ala.
No caso do Hospital João Machado, a circulação de primeiro nível coincide com o eixo
longitudinal do conjunto e é responsável pela ligação entre os pavilhões. A circulação
secundária coincide com o eixo longitudinal no caso dos pavilhões secundários, ligando os
compartimentos interiores a esses pavilhões. Outras duas circulações secundárias estão
posicionadas a 45o com respeito ao eixo da circulação principal, servindo de interligação
para os dois conjuntos de enfermarias.
O princípio organizador dos espaços nos três hospitais está pautado, primeiramente, na
agrupação espacial de atividades de mesma natureza funcional. A distribuição desses
grupos funcionais é feita de modo que aqueles grupos relacionados ao público externo
(ambulatório, raios-X, laboratório de análises clínicas) se posicionam em uma das alas
situadas na frente dos edifícios, enquanto em uma ala da parte posterior dos edifícios estão
139
Já o Hospital Colônia João Machado tem uma definição volumétrica um pouco mais
complexa, ainda que predominem as dimensões horizontais. Como as interseções dos
paralelepípedos são a 90o e a 45o e as dimensões horizontais variam muito em todo o
edifício, o contorno do volume é definido de modo recortado e irregular.
A solução estrutural não se diferencia entre os três hospitais, sempre com predomínio das
alvenarias estruturais dobradas, com a presença do concreto armado mais significativa
acontecendo nas lajes planas. A não utilização de pilares isolados indica uma volumetria
maciça, sem recortes.
O Hospital Sanatório Getulio Vargas (FIG. 30) foi inaugurado em 1966 como instituição
especializada em tratamento de tuberculose, contando com atividades de cuidados aos
pacientes, de apoio e também de formação.
Entre as atividades de cuidados aos pacientes, a que ocupa maior área na planta é a de
internação. Há uma diversificação na maneira como os leitos são distribuídos nas
enfermarias coletivas, que são a maioria: enfermarias de quatro leitos e de dois leitos, com
banheiros coletivos, representam 90% do total dos leitos; os 10% restantes são
apartamentos com leitos individuais e banheiros anexos.
140
A delimitação do perímetro exterior do edifício não tem relação direta com a forma
aproximadamente trapezoidal do lote. No entanto, podemos observar que dois aspectos
foram levados em consideração na implantação dos pavilhões: a garantia da ventilação e
insolação natural dos leitos da internação, espaçando os pavilhões e orientando sua face
longitudinal para o sudeste; e o disciplinamento dos acessos prevendo três vias
independentes, uma para pacientes externos e visitas no pavilhão principal, uma para o
pronto socorro, e outra para abastecimento e funcionários nos pavilhões secundários.
O sistema estrutural do edifício está composto por vigas e pilares em concreto armado, e a
modulação dos espaços entre vigas e entre pilares se dá tanto sobre o eixo frontal de
desdobramento, quanto nos dois eixos transversais que organizam os blocos secundários.
142
Uma terceira observação quanto à organização dos espaços é a tentativa mais decisiva de
separação de fluxos originários do exterior. Externamente, as vias de acesso ao edifício
servem de suporte para distinguir quatro tipos de fluxo; entretanto, e apesar da grande
quantidade de circulações internas ao prédio, só se pode distinguir duas classes de fluxos:
os que se vinculam ao público externo e os que se vinculam ao público e aos serviços
internos do hospital.
leitos de enfermaria (Evandro Chagas); maior privacidade dos leitos (São Lucas e
Policlínica apresentam a maior percentagem de apartamentos individuais); agrupação
espacial das atividades segundo sua natureza funcional (em todos os casos verifica-se a
formação de grupos funcionais); distribuição dos grupos funcionais na planta segundo o
grau de contato com o público externo (em todos os casos). No caso do Getúlio Vargas, a
distribuição espacial das atividades também leva em conta, ainda que parcialmente, as
relações funcionais entre grupos.
Com exceção do Getúlio Vargas, em que há quatro acessos ao edifício, todos os demais
casos possuem apenas dois, que se dedicam a fluxos de serviço e a fluxos para o público
externo. As circulações internas são usadas como instrumento para separar e disciplinar os
fluxos. Nos cinco hospitais analisados há apenas dois níveis de hierarquização. O primeiro
nível conecta entre si os grupos funcionais; o segundo é responsável pelo suporte aos
fluxos internos a um grupo de atividades.
Cabe destacar que o projeto do Hospital Getúlio Vargas apresenta, em alguns aspectos,
maior sofisticação de que os demais hospitais pavilhonares. Essa distinção se dá, por
exemplo, na introdução – ainda incipiente – do princípio de zoneamento na distribuição
espacial dos grupos funcionais, na presença de serviços mais estruturados de apoio, no uso
da circulação como instrumento de separação e disciplina dos fluxos internos, no
aprofundamento da separação de fluxos externos, e no uso de modulação como base para o
desenvolvimento estrutural do edifício.
No núcleo da figura, o circulo mais interior corresponde a um pátio interno, sem cobertura
e com vegetação. A coroa circular corresponde a uma circulação que interliga os
compartimentos desse pavilhão, serve de acesso do exterior ao interior do edifício e se
conecta à grande circulação do conjunto. Os compartimentos foram organizados de modo a
convergir para um mesmo espaço, o pátio, que serve de área de estar e espera para
acompanhantes e pacientes que estão sendo atendidos no ambulatório. Esse pátio interno,
embora esteja presente também no tipo claustral, não tem aqui o mesmo uso. Ao invés de
servir como lugar para introspecção e isolamento do exterior, serve como ponto de
confluência e socialização dos pacientes externos, além de ser uma espécie de hall de
entrada para todo o hospital.
Note-se que não há uma hierarquização das circulações determinando um controle dos
fluxos, nem um sequenciamento na execução das tarefas, o que indicaria um uso mais
aprofundado dos princípios funcionalistas. Por outro lado, já pode ser notada uma
tendência a valorizar mais a privacidade do que a supervisão dos leitos. Essa tendência é
refletida na existência de quartos com poucos leitos e até de quartos individuais com
banheiro anexo.
Voltando ao conjunto, vê-se que o edifício hospitalar tem sua implantação solta no centro
do terreno não guardando nenhuma relação formal com este. Há dois acessos ao edifício,
um no pavilhão mais próximo da rua principal – para pacientes externos e visitas – e outro
localizado no terceiro pavilhão, nos fundos do edifício, para serviços de apoio.
Embora vários elementos da análise tipológica convirjam para que o Hospital Infantil
possa ser enquadrado como um hospital de tipo pavilhonar, as observações feitas sobre a
singularidade desse projeto quando se analisam mais detidamente suas partes componentes
levaram a que se optasse por mantê-lo como um hospital não assimilado a apenas um tipo
dos estudados.
147
Isso não significa que se trate de um hospital sem tipo identificável. Ao contrário, o não
enquadramento a um tipo deriva do fato de que ele constitui um caso em que vários tipos
hospitalares parecem ter sido apropriados, como se a projetação do hospital tivesse feito
uso de uma abordagem tipológica.
Tal hipótese pode ser sustentada pelo fato de que o projetista do Hospital Infantil buscou
no repertório da arquitetura hospitalar de sua época não apenas a solução tipológica então
hegemônica (o pavilhonar, em rota de transição para o empilhamento vertical de
enfermarias que configura os primeiros desenvolvimentos do tipo torre sobre pódio na
volumetria monobloco).
Lançou ele mão de diversos recursos tipológicos, compondo soluções do tipo pavilhonar
em suas distintas vertentes (o pavilhão em estrela, por exemplo) com elementos do tipo
casa de campo e do tipo claustral. Nesse processo, o projetista assumiu uma
racionalidade explícita uma vez que, definidos por ele os grupos funcionais ocupantes de
cada pavilhão, cada caso foi trabalhado de modo a apropriar o tipo que ele julgou mais
adequado para abrigar aquela função.
Cinco dos dezoito hospitais analisados foram enquadrados como afiliados ao tipo
arquitetônico hospitalar torre sobre pódio. São eles: o Natal Center, o Walfredo Gurgel, o
PAPI, o Memorial e o Santa Helena. Nesta seção, são apresentados os resultados da
análise tipológica desses hospitais, sendo que três deles são integrados em uma única
subseção.
Assim, observa-se que o Natal Center apresenta-se como um edifício afiliado ao tipo torre
sobre pódio, na absoluta maioria dos elementos de observação: o princípio estruturador, a
disposição das zonas, a solução geométrica da planta, a volumetria e a estrutura
correspondem a esse tipo.
O terreno apresenta um desnível no sentido do eixo transversal dos blocos: as cotas vão
diminuindo na medida em que se vai aproximando da rua. Em função disso, o teto do bloco
frontal de três pavimentos está no mesmo nível que o teto do segundo pavimento da base
do bloco do meio. Este é também o nível do teto do terceiro bloco. Vistos de perfil,
portanto, o conjunto dos três blocos – pouco afastados um do outro – tem a aparência de
um “T” invertido, semelhante ao esquema geométrico do hospital tipo torre sobre pódio.
O terreno tem forma estreita e alongada nos primeiros dois terços a partir da rua que são
dedicados ao estacionamento e vias de acessos. No ultimo terço, o terreno se alarga e aí são
implantados os três blocos. Entre os três blocos e entre eles e as divisas do terreno, há um
enlaçado de vias que dão acesso a cada bloco, sempre separando os fluxos por tipo de
acesso como abastecimento, urgência e emergência, paciente externo e admissão de
pacientes internos. Observando o desenho da implantação pode-se perceber que o formato
do terreno interferiu nas dimensões e posicionamento dos blocos, no traçado das vias de
acessos e estacionamentos.
posicionar quase a totalidade dos leitos de um mesmo lado da circulação – aquele que
recebe os ventos dominantes. Do outro lado da circulação, são posicionadas as atividades
de apoio. Assim, a dependência da climatização artificial fica minimizada, tanto na
internação quanto nos ambientes localizados na base. Outro efeito dessa “concentração
moderada” na organização dos espaços é no alcance da eficiência na execução das tarefas:
menos concentrado o arranjo espacial, as distancias percorridas serão maiores.
As circulações internas dão seqüência aos fluxos que chegam das vias externas de acesso, e
distribuem esses fluxos no interior do edifício. As circulações internas têm três níveis de
hierarquização. As circulações principais fazem a ligação entre os blocos e as circulações
secundárias fazem as ligações entre atividades dentro de cada unidade funcional. Há um
nível terciário de circulação, ainda pouco desenvolvido, que corresponde à estrutura de
fluxos no interior da área destinada a algumas atividades de rotinas mais complexas – o
centro cirúrgico, por exemplo.
O Hospital Maternidade Santa Helena (FIG. 34) presta atendimento à população em clínica
ginecológica e obstétrica, tendi sido aberto ao público em 1976. O PAPI (FIG. 35) é
especializado em pediatria, atuando nas clínicas médica e cirúrgica desde 1982. Os dois
hospitais têm seus programas espaciais semelhantes quanto aos serviços de atendimento
aos pacientes, ambos apresentando centro cirúrgico, laboratório de análises clínicas, raios-
x e consultas médicas.
Os dois hospitais têm como principal figura dos seus esquemas geométricos o retângulo.
No Santa Helena são dois retângulos que se interceptam segundo um ângulo de 45o. O
retângulo paralelo à rua representa três pavimentos iguais superpostos, enquanto o oblíquo
representa apenas dois.
No PAPI são dois retângulos próximos, de tamanhos distintos, que estão posicionados
paralelamente. Esses dois retângulos se tocam na parte da frente por meio de aproximação
de suas faces longitudinais; na parte de trás do retângulo menor eles estão interligados por
meio de uma circulação perpendicular a seus eixos. Entre as duas ligações, forma-se uma
espécie de poço de iluminação. Ambos os retângulos da planta do PAPI representam três
pavimentos iguais superpostos.
153
Em que pese o fato de, em ambos os casos, ser possível verificar um afastamento entre os
retângulos formadores da planta, a aproximação entre eles coaduna com a observação de
que podem ser entendidos como um bloco contínuo. Na verdade, podem ser aproximados
ao tipo torre sobre pódio: no Santa Helena, a linha vertical é pouco expressiva; no PAPI a
horizontal que destaca o pódio da torre é inexistente.
Isso é resultado do porte pequeno que têm esses hospitais. No caso do Santa Helena, que
apresenta proporcionalmente poucos leitos, não foi necessário empilhar tantos pavimentos
de internação para abrigá-los, de modo que a “torre” não se destaca da base. No PAPI, o
“pódio” é reduzido porque o hospital não conta com tantos serviços de apoio (faltam-lhe a
lavanderia e os vestiários de funcionários, por exemplo) que requeressem espaço em planta
para posicioná-los.
No PAPI, os leitos estão distribuídos em apartamentos individuais, com dois, três e seis
leitos, todos com banheiro anexo. No Santa Helena, apenas há apartamentos individuais e
enfermarias de quatro leitos, sempre com banheiro anexo.
Outro caso é o do Hospital Memorial (FIG. 36), operativo desde 1990. Especializado em
ortopedia, com internação, serviço de pronto socorro, raios-x e laboratórios de análises
clínicas, centro cirúrgico atendimento de fisioterapia, o Memorial é dedicado à clientela
particular e de convênios, sendo todos os apartamentos de internação de apenas um leito,
com banheiro anexo. As atividades de apoio não registram a lavanderia, nem se
apresentam bem estruturadas.
A implantação do edifício no terreno foi influenciada pelo formato deste e pela relação
com as vias do entorno. A forma da planta se encaixa no terreno, com a ressalva do recuo,
das vias de acessos e dos estacionamentos.
Nos três casos, o princípio organizador dos espaços é similar. Seguiu-se a regra de reunir
espacialmente as unidades funcionais, mas ao organizá-las no interior do edifício não foi
seguido por completo o princípio de observar as inter-relações funcionais entre as
unidades. Em conseqüência, foi gerada uma maior dificuldade para que houvesse uma
155
eficiente separação e controle de fluxos, o que se agrava pelo fato de que a hierarquização
desses fluxos não foi tão aprofundada.
Assim, as volumetrias dos dois hospitais podem ser comparadas às do tipo torre sobre
pódio, levando em conta que a mudança de posição do centro cirúrgico, ausência de
elementos da zona de apoio e até o porte do hospital se refletiram na desconficguração do
volume e sua assimilação a um bloco sem torre e sem pódio. Assim, essas volumetrias dos
três hospitais são uma variação simplificada, onde a torre o pódio se unificam em um só
volume. Essa simplificação é evidentemente sentida também na estrutura, em que a
característica comum aos três hospitais vai ser uma solução de modulação em planta, com
pilares igualmente espaçados, mas com vigas de contorno salientes e lajes com pequenos
vãos.
Nos casos do Walfredo e do Natal Center, os fluxos são separados e disciplinados por meio
de uso de circulações hierarquizadas. O mesmo não acontece nos demais, reflexo também
do fato de os princípios funcionalistas não terem sido completamente absorvidos. Da
mesma forma, o Walfredo e o Natal Center exibem separação dos fluxos externos ao
edifício em quatro categorias, enquanto os demais o fazem em apenas duas.
Em termos de volumetria, pode-se verificar que, dos cinco hospitais analisados, dois
apresentam a volumetria esperada – o Walfredo e o Natal Center – enquanto os demais
apresentam uma volumetria em monobloco. Por fim, no que tange à estrutura, destaca-se o
Natal Center por apresentar uma solução perfeitamente integrada à volumetria e à idéia
organizadora dos espaços, qual seja a estrutura de concreto armado modulada em grandes
vãos livres, com lajes colméia e vigamento de contorno. Os demais, embora usando
largamente o concreto armado, trazem uma proposta mais convencional, com módulos
espaciais de pequenas dimensões e, portanto, maior densidade de vigas e pilares.
Os dois hospitais enquadrados no tipo hospital rua foram frutos de iniciativa do Governo
estadual e financiados com recursos públicos. Os projetos levaram em consideração um
modelo assistencial de saúde para o estado, em sintonia com a então política do Ministério
da Saúde. Esse modelo era baseado em um sistema de unidades hierarquizadas e
regionalizadas.
Quando inaugurado em 1986, o Hospital Santa Catarina (FIG. 37) prestava assistência nas
especialidades médicas de ginecologia e obstetrícia, pediatria, clínica médica e clinica
cirúrgica. Já o Hospital Maria Alice Fernandes (FIG. 38), aberto ao público em 1998,
157
A organização espacial das atividades seguia, nos dois hospitais, princípios rígidos. As
atividades de uma mesma natureza funcional eram reunidas em unidades (unidades de
internação, de centro cirúrgico e obstétrico, de ambulatório etc). As unidades, por sua vez,
estavam organizadas espacialmente em zonas, segundo a sua relação com os cuidados dos
pacientes: unidades com atividades diretamente ligadas aos cuidados dos pacientes
externos (ambulatório, diagnóstico, urgência); as ligadas diretamente aos pacientes
internos (internação, centro cirúrgico e obstétrico); e as que dão suporte logístico-técnico
ao funcionamento das duas primeiras zonas e não guardam relação direta com os cuidados
dos pacientes (lavanderia, nutrição, central de esterilização, administração etc).
Essa organização funcional das atividades em unidades, das unidades em zonas, e das
zonas em um todo integrado considera as relações e interdependências internamente a cada
zona e de cada uma delas com o todo, refletindo uma visão sistêmica do edifício. Os fluxos
de pessoas e materiais entre zonas e atividades são controlados no intuito de executar
eficientemente os procedimentos e rotinas estabelecidas.
Nos dois casos, as atividades do hospital foram distribuídas em varias plantas retangulares
independentes, de diferentes tamanhos e posicionadas ora paralelamente ora
ortogonalmente entre si. Essas plantas são conectadas através de circulações
perpendiculares ao seu eixo longitudinal. As plantas e circulações formam um conjunto de
figuras geométricas retangulares desenvolvidas através de uma malha reticular ortogonal
que regula tanto seus limites como seus afastamentos.
Tanto no Santa Catarina quanto no Maria Alice Fernandes, os leitos são distribuídos em
quartos de um, dois e quatro leitos, sempre com banheiro anexo.
Ainda quanto ao posicionamento dos blocos no terreno, temos no caso do Hospital Santa
Catarina, uma variação importante em relação ao tipo rua hospitalar. Nesse tipo, os
blocos são posicionados paralelamente entre si, com um lado conectado a uma circulação e
outro solto para permitir a expansão do bloco sem afetar os demais. O espaçamento entre
blocos é apenas o necessário para iluminar naturalmente os ambientes. Em muitos
ambientes, inclusive, é prevista a utilização de equipamentos mecânicos para ventilação e
climatização.
Observando a volumetria dos edifícios, verifica-se que ela é marcada por paralelepípedos
de expressiva horizontalidade, posicionados paralelamente ou ortogonalmente (caso da
internação no Santa Catarina), que se interconectam por uma circulação de eixo
perpendicular aos blocos. Não há um volume que se sobressaia em relação ao outro, apesar
159
As semelhanças entre os dois hospitais analisados nesta seção dão realce ao fato de que
ambos foram projetados sob a vigência de normas técnicas estritamente prescritivas.
Os hospitais Promater (de 1996, FIG. 39), Femina (2001, FIG. 40) e do Coração (2000,
FIG. 41) foram concebidos por iniciativa de três grupos diferentes de médicos de Natal,
com o intuito de prestar assistência médica especializada em ginecologia, obstetrícia e
pediatria (nos dois primeiros casos) e em cardiologia (no terceiro), sempre tendo como
clientela-alvo os portadores de seguro ou plano de saúde privado. As atividades de
cuidados aos pacientes nos três hospitais envolvem centro cirúrgico, raios-X, laboratório
de análises clínicas, ultra-som, mamografia. No Hospital do Coração, adiciona-se
tomografia computadorizada, ecocardiografia e hemodinâmica.
Nos três casos, os serviços de apoio são diversificados e bem estruturados, de acordo com
os processos e rotinas para execução das tarefas, constando de: serviços de farmácia, de
nutrição e dietética, de processamento de roupa, central de administração de material e
equipamentos, conforto e higiene para funcionários, limpeza e zeladoria, central de
esterilização e serviços de engenharia clínico-hospitalar.
Esses hospitais não estavam integrados à rede do Sistema Único de Saúde, nem mesmo
como assistência conveniada. O nível de resolutividade nos dois primeiros hospitais
corresponde ao nível médio de complexidade; no terceiro é de alta complexidade. A
distribuição de leitos de internação nos três hospitais privilegia os apartamentos individuais
com banheiro anexo, de modo que apenas cerca de 10% dos apartamentos são de dois
leitos, mantendo-se aí o banheiro anexo.
160
A configuração geral da planta pode ser sintetizada por três figuras geométricas: um
quadrado e dois retângulos iguais e paralelos, todos alinhados segundo um eixo paralelo ao
comprimento do terreno.
Esse bloco conta com 500 m2 de área construída, com altura de 7,2 m. Ele ganha destaque
em relação ao conjunto em função de que o hall de entrada foi dotado de grandes
dimensões e porque foram utilizadas soluções que valorizam o seu espaço interno. A
iluminação zenital e os jardins internos proporcionam luz natural no núcleo da planta
quadrada. No limite entre o quadrado e o primeiro dos retângulos, estão posicionados
elevador e escada, que distribuem todos os fluxos dos pacientes externos e familiares.
As outras duas figuras são dois retângulos iguais e paralelos conectados por uma
circulação, que representam as plantas de blocos de quatro pavimentos. Nos dois blocos, o
subsolo é destinado a garagem. Nos pavimentos térreos, estão posicionados serviços de
apoio e centro cirúrgico. Nos demais pavimentos estão posicionados os apartamentos da
internação. Embora plantas com forma retangular facilitem a ventilação e a insolação
natural dos ambientes internos (como no tipo pavilhonar), nesse hospital só a insolação foi
aproveitada, já que o edifício é dotado de ar condicionado em todos os ambientes.
Essa circulação em torno do pátio se repete em todos os pavimentos e faz a ligação entre os
compartimentos de um mesmo andar. A ligação no sentido vertical se faz através de
elevadores e escadas posicionados em um dos lados do pátio.
Os esquemas geométricos da planta e do perfil guardam semelhança com o tipo torre sobre
pódio. Entretanto, há dois elementos de divergência com respeito a este tipo. Por um lado,
a existência, no núcleo do bloco, de um pátio avarandado de grandes dimensões
horizontais e verticais traz grandes repercussões na conformação espacial do hospital. Por
outro lado, na Femina, a área dedicada a internação é inferior à que se dedica aos serviços
de diagnóstico, relação inversa da que se verifica no tipo torre sobre pódio.
A volumetria é aproximada à do tipo torre sobre pódio, embora a altura da torre não seja
marcante e o pátio, vazando torre e pódio, retire o caráter de maciço que o volume aparenta
162
quando observado do exterior. Por outro lado, embora as dimensões relativas sejam
diferentes, a volumetria revela alguma semelhança com aquela do tipo claustral.
Na área central, em continuação ao hall de entrada, está posicionado um átrio com pé-
direito de quatro pavimentos, iluminado naturalmente através de uma cobertura translúcida
de policarbonato. Na planta do átrio, estão posicionados elevadores e escadas que fazem a
comunicação vertical das atividades de cuidados aos pacientes externos. Em volta do átrio,
em todos pavimentos, há uma circulação que faz a comunicação horizontal entre esses
serviços. Para o átrio se voltam todas as esperas dos serviços aos pacientes externos. Ou
seja, o átrio polariza todos os fluxos e áreas de espera dos serviços dedicados aos pacientes
externos.
Os três edifícios apresentados nesta seção são implantados em áreas urbanas residenciais
adensadas. São volumetrias predominantemente verticais, que buscam ocupar o terreno na
máxima possibilidade. Logo, as formas dos edifícios são contingenciadas pelos formatos
dos lotes.
Observando a configuração geométrica das plantas dos três hospitais verifica-se que elas
conformam esquemas geométricos diferentes, mas sempre formados por figuras
geométricas que se juntam, colando faces sem usar a intermediação de circulações. A
volumetria se torna aparentemente maciça e concentrada, mas isso é descaracterizado pela
presença de átrios ou pátios que vazam verticalmente o edifício.
Esse é um ponto em comum entre os três hospitais: a existência de um elemento com altura
de vários pés-direitos, que traz iluminação natural ao interior do edifício. Esse elemento,
pátio ou átrio, tem grande importância na organização dos espaços dos três hospitais.
O fato é que, nos três casos analisados nesta seção, a natureza funcional das atividades e
suas inter-relações para atender as rotinas estabelecidas no hospital são consideradas de
maneira sistêmica. As atividades são agrupadas, segundo sua natureza funcional, em
unidades, e estas em três zonas (de internação, clínica e de apoio).
A organização das zonas segue o principio das inter-relações funcionais, mas com uma
diferença. O átrio aglutina todos os fluxos de pacientes que se dirigem aos serviços
externos e internos do hospital e distribui esses fluxos através de salas de espera. Em
conseqüência, atividades de algumas zonas, em função de terem contato direto com o
público externo, são deslocadas do espaço de suas zonas para o átrio.
respectivas imagens junto aos clientes, o que revela a natureza também comercial do
empreendimento.
Assim, pode-se observar, nas análises desses hospitais, que eles mostram um certo
descolamento do tipo modernista, por meio de uma pretensão de focar o desenvolvimento
da planta na atenção ao cliente, com considerações relativas a seu bem-estar. Entretanto,
nos três casos esse esforço se concentra no espaço do átrio e seu entorno. A ordenação
espacial do restante do hospital ainda segue a solução tipo do hospital modernista –
unidades e zonas funcionalmente organizadas para atender rotinas estabelecidas em função
dos procedimentos.
dos hospitais em Natal é explicitada, tendo em conta os dezoito hospitais estudados neste
capítulo.
QUADRO 2
Agrupamentos tipológicos por período histórico-contextual
Períodos
Tipos
1889-1930 1930-1945 1945-1964 1964-1985 Depois de 1985
Observe-se que o exemplar que fixa a presença do tipo colônia entre os hospitais de Natal,
o Hospital Colônia São Francisco, é o primeiro dos dezoito hospitais analisados a ser
implantado, em 1929. Nesse período da Primeira República, a ação consorciada dos
Governos federal e estadual tinha entre seus principais objetivos o financiamento de
políticas de combate à hanseníase. Tal combate era feito principalmente por meio da
segregação dos enfermos com respeito à vida social urbana, com implantação e
166
Por sua parte, entretanto, a sociedade civil local destaca-se nas primeiras décadas do século
XX por sua organização e por iniciativas vinculadas ao processo de modernização da
cidade. A Maternidade Escola Januário Cicco foi, como se detalhou no capítulo 4,
resultado de uma ação da sociedade civil organizada. A Maternidade representa, dentre os
hospitais de Natal, o tipo casa de campo, cuja formação remonta ao período renascentista.
Como o projeto de arquitetura pode ser datado no período entre 1928, ano em que se
divulgou a intenção do empreendimento, e 1932, quando tiveram início as obras de
construção civil (ver capítulo 4), pode-se considerar que a Maternidade – finalmente aberta
ao público em 1950 – é um exemplar que reflete as condições contextuais da década de
1920.
mas, não se pode deixar de levantar a possibilidade de que a decisão arquitetônica tenha se
dado em conexão com a natureza cívica do empreendimento que levou à implantação do
hospital.
Isso demonstra que o projeto, embora tenha lançado mão de uma forma do passado, pôde
incorporar soluções funcionais dele contemporâneas, em uma clara demonstração de que o
projetista fez a opção de adotar o tipo casa de campo – talvez por seu valor simbólico para
a iniciativa cívica – ante a possibilidade de usar o tipo pavilhonar, mais ajustado ao modo
de organização interior dos espaços em um hospital com as características da Maternidade.
A análise tipológica do projeto mostrou que o Hospital Infantil pode, a princípio, ser
afiliado ao tipo pavilhonar, mas constitui de fato um caso de hospital em que o arquiteto
se aprofundou nas possibilidades tipológicas do edifício. Para diferentes grupos funcionais
de atividades, o projetista adotou distintas configurações geométricas e princípios
organizadores dos espaços da arquitetura hospitalar precedente, buscando apropriar e
mesclar, de forma racional, soluções tipológicas de diferentes períodos do passado.
Distinguem-se claramente os hospitais privados dos públicos pelo que revelam de interesse
por privacidade na internação. Os hospitais pavilhonares públicos vão do grande hall
aberto de enfermaria do Evandro Chagas até o Getúlio Vargas, em que os leitos são
distribuídos por enfermarias menores. Enquanto isso, nos hospitais privados do período
pavilhonar (Policlínica e São Lucas) já se nota a presença mais significativa de
apartamentos individuais e de dois leitos. Em que pese essa distinção, vale salientar que a
opção pelo tipo pavilhonar é consistente no setor privado e no setor público, em todo o
período que vai de final dos anos 1920 até os anos 1960.
Uma mudança tipológica só vai ocorrer no fim dos anos 1960, quando do projeto do
Walfredo Gurgel, hospital público inaugurado em 1971, na onda do financiamento pelo
Governo Federal de hospitais de grande porte de natureza curativa. O Walfredo é, em
Natal, o primeiro hospital de grande porte (150 leitos), de grande resolutividade e com seus
serviços estruturados de acordo com as primeiras normas para planejamento e construção
de hospitais, estabelecidas pelo Ministério da Saúde, normas que ainda não refletiam
totalmente os princípios da organização espacial pertencentes aos tipos do período
modernista.
Como último componente desse grupo tipológico, tem-se o Natal Center, inaugurado em
2002. Esse hospital é, dentre todos os analisados, o que mais bem se enquadra nas
definições tipológicas. A iniciativa privada de um grupo de médicos, com financiamento
bancário, tocou o empreendimento com objetivos de lucratividade. A clientela-alvo é
constituída de portadores de seguro ou plano de saúde privado. Construído, como os
demais desse grupo tipológico, em áreas urbanas de alto adensamento, a verticalização é
necessária para abrigar uma grande quantidade de leitos, o alto nível de resolutividade e os
serviços complexos e bem estruturados.
170
Trata-se de hospitais – o Santa Catarina, de 1986, e o Maria Alice Fernandes, de 1998 mas
com obras iniciadas dez anos antes – que foram planejados para integrar-se a uma rede de
serviços hierarquizada, com a necessidade de guardar possibilidades de expansão e
diversificação de serviços. Seus princípios de organização espacial são absolutamente
funcionalistas, ressaltando o caráter sistêmico do hospital, com foco principal na eficiência
de rotinas e procedimentos. Também correspondiam a um período ainda marcado pela
rigidez das normas ministeriais (Portaria 400) e respondem a preocupações construtivas de
redução de custo, pela via da modulação e da padronização de componentes.
É essa rigidez que vai ser quebrada pela presença de exemplares afiliados parcialmente ao
tipo shopping/hotel/residência, um grupo tipológico cuja implantação se concentra no
período entre 1995 e o presente. Dele constam três hospitais – Promater, Femina e do
Coração –, todos eles construídos por grupos de médicos, organizados economicamente de
maneira empresarial, e irrompem no cenário de uma saúde pública marcada pelo
crescimento dos planos e seguros de saúde, em que a competição pelo cliente é uma
preocupação do empreendimento hospitalar.
Os três hospitais têm em comum a presença de um átrio ou pátio, cuja função é receber e
dar conforto aos pacientes, além de distribuir os fluxos que se originam fora do edifício.
Como já se comentou, esses hospitais seguem, nas outras áreas interiores do edifício, os
princípios funcionalistas de organização do espaço, de modo que a apropriação dessa nova
tipologia – que se caracteriza por transferir ao cliente e ao paciente a sensação de
familiaridade e exclusividade de atendimento –, se atém àqueles elementos vinculados ao
171
entorno do átrio, o que pode ser explicado em função da expressividade desses espaços no
aspecto comercial.
Recolocando os tipos ocidentais, pode-se estabelecer que eles evoluíram dos tipos
medievais identificados como claustral e basilical, mais ligados à noção católica do
hospital, para os tipos renascentistas da enfermaria cruzada e, posteriormente, da casa de
campo. A exceção a esse processo de substituição tipológica diz respeito ao tipo colônia, o
mais longevo dos tipos hospitalares, que foi largamente usado em todo o mundo até o
século XX.
Ao comparar essa evolução com o caso de Natal, pode-se verificar que os tipos claustral e
basilical não marcaram presença hospitalar em Natal, pelas razões já expostas
anteriormente. A análise feita em dezoito hospitais constatou, tão somente, que o Hospital
Infantil e a Femina fazem referência ao claustro, mas redefinindo-o e requalificando-o,
tanto espacialmente quanto funcionalmente. Por sua vez, o tipo colônia esteve presente já
em princípios do século XX, através do Hospital Colônia São Francisco.
Feitos esses comentários sobre os primeiros hospitais da cidade, há que salientar que, em
verdade, a primeira onda mais sistemática de construção de hospitais em Natal já nasce
com a vinculação ao tipo pavilhonar, que se fez presente na arquitetura hospitalar da
cidade por cerca de quarenta anos, a partir de finais da década de 1920.
Da mesma forma que no processo evolutivo geral o pavilhonar foi sendo desenvolvido
tipologicamente ao longo de sua vigência, em Natal o uso desse tipo vai se aperfeiçoando
do início (Evandro Chagas) para o fim (Getúlio Vargas) do período de sua vigência. Esses
desenvolvimentos também são similares aos que se verifica em termos ocidentais:
enfermarias menores, maior abrangência da noção de funcionalismo, soluções de planta
geometricamente mais elaboradas, passagem progressiva da alvenaria portante para o
concreto armado.
Da mesma forma que no caso geral, em Natal o tipo pavilhonar é substituído pelos tipos
modernistas, que depois dão lugar ao tipo contemporâneo, híbrido de shopping center,
hotel e residência. O intervalo modernista dos anos 1960 a 1980, em que os tipos torre
sobre pódio e hospital rua fizeram presença em Natal, é bastante próximo, historicamente
falando, do intervalo de vigência desses tipos – e mais o tipo sanduíche – em todo o
mundo.
173
Por fim, a substituição dos hospitais modernistas pelos pós-modernistas também reflete
uma tendência mundial. A diferença no caso de Natal é que essa substituição aparenta ser,
hoje, apenas um movimento de transição, na medida em que resulta de apropriar elementos
tipológicos dos hospitais modernistas no âmbito de uma visão humanizada e, ao mesmo
tempo, comercial do hospital. Assim, ainda não se verifica em Natal a presença de um
hospital que haja absorvido totalmente as características do tipo shopping
center/hotel/residência.
Uma vez verificado esse sequenciamento, cabe discutir os fatores que, em Natal, induzem
a suplantação ou substituição de um tipo por outro. Nessa discussão, há que definir a priori
os momentos em que se procede a evolução de um para outro tipo, bem como estabelecer
previamente uma sistematização dos fatores relevantes para a indução de mudanças.
Por outro lado, com base na análise realizada no capítulo 3, é possível elencar os potenciais
fatores indutores de mudança para verificar seu papel em cada um dos movimentos acima
detalhados, quais sejam:
Um elemento central desse processo era a questão da higiene e da saúde pública e, nesse
âmbito, o problema da carência de infra-estrutura hospitalar na cidade. Ao mesmo tempo,
forjavam-se no Governo Federal as primeiras políticas nacionais de combate a
enfermidades infecto-contagiosas e a doenças mentais, cujo escopo incluía a implantação
de hospitais especializados nas principais cidades do país.
Nesse quadro, a demanda da sociedade local vai se articular com uma ação federal
organizada, com base técnico-científica, em que o projeto do edifício hospitalar se dá de
modo a incorporar conhecimento médico e a buscar um certo padrão de eficiência
funcional (higienização e sanitarização ambiental, organização das tarefas na enfermaria,
entre outras). O tipo pavilhonar havia sido desenvolvido na Europa, e continuava ainda
sendo adotado em princípios do século XX em todo o mundo, porque dava respostas de
caráter médico a essas necessidades, respostas mais precisas e eficazes que os tipos
anteriores, uns mais ligados ao caráter religioso do hospital, outros ao seu caráter cívico-
institucional.
Esse segundo movimento na evolução tipológica dos hospitais de Natal vai se processar na
medida em que crescem as exigências quanto ao padrão tecnológico dos serviços prestados
pelo hospital e quanto a sua organização, mas também pelo crescimento de demandas
sociais por maior privacidade na internação. Tal mudança, entretanto, vai requerer a
incorporação em larga escala da tecnologia construtiva do concreto armado, liberando a
organização dos espaços da rigidez das alvenarias portantes e flexibilizando o uso de vãos
mais livres para o posicionamento de atividades.
O domínio local das possibilidades do concreto armado e das vedações cerâmicas leves é
um fator imprescindível para viabilizar o seguinte movimento tipológico, de superação do
tipo pavilhonar pela torre sobre pódio, na década de 1960. O cenário para essa substituição
de tipos, entretanto, é multifacetado.
Paralelamente à vigência do tipo torre sobre pódio, na primeira metade dos anos 1980 vai
se agregar ao cenário tipológico do hospital natalense um outro tipo modernista: a rua
hospitalar. O hospital rua surge como opção em Natal em face do crescimento periférico
urbano das duas décadas anteriores. Na medida em que a cidade adquiria uma dinâmica de
crescimento na Zona Norte, havia que, em consonância com a política nacional de
hierarquização da rede de saúde pública, implantar hospitais flexíveis, aptos a serem
176
Um último movimento tipológico registrado é a emergência nos anos 1990 de uma vertente
de apropriação do tipo hospitalar pós-modernista, um tipo híbrido de shopping center, hotel
e residência. Como já se demonstrou na análise dos três hospitais de Natal afiliados a esse
tipo, essa apropriação do tipo não tem sido integral, mantendo-se elementos tipológicos
dos tipos modernistas (principalmente do torre sobre pódio) e absorvendo elementos do
novo tipo.
Mas, em Natal, essa competição ainda não amadureceu a ponto de os novos conceitos de
foco no cliente, foco no paciente, humanização, personalização, entre outros terem sido
completamente assimilados na concepção de empreendimentos hospitalares, menos ainda
na dos edifícios hospitalares correspondentes.
Capítulo 6
Conclusões
178
6. Conclusões
A origem dos questionamentos que motivaram o trabalho de pesquisa que redundou nesta
dissertação remonta aos anos 1980. Ante as prescrições rígidas da normativa então vigente
no Brasil para o projeto e construção de unidades de atenção à saúde (a Portaria n. 400, do
Ministério da Saúde), em especial ante a definição prévia de configurações gerais para o
edifício hospitalar, cabia questionar-se em que medida tal definição era correta, desde
quando era assim e até quando seria.
No caminho buscado para responder àquelas indagações, pôde-se vislumbrar que a base
para entendê-las melhor guardava uma relação com a História da Arquitetura. Não uma
história dos edifícios – em que, como diz Pérez-Gómez (1991, p. 15), a história da
arquitetura é sintetizada em algo parecido com uma “coleção de borboletas” –, mas uma
história interpretativa da arquitetura como produto de um diálogo entre o ato criativo do
projeto, o precedente arquitetônico e o contexto físico-social, com suas necessidades e
demandas socioeconômicas e políticas, mas também com sua cultura, seu conhecimento e
sua tecnologia.
Essa ampla interpretação da história da arquitetura foi sistematizada por Sir Banister
Fletcher (1987) em fins do século XIX e, como afirma Newton (1991, p. 47), “oferece uma
compreensiva análise tipológica” ao entender que cada solução arquitetônica surgiu em
resposta a exigências formuladas por um contexto específico, fixou-se e depois foi
suplantada por outras soluções que mais bem respondiam a contextos novos, surgidos de
transformações da sociedade.
O trabalho de investigação cujo resultado material concreto é esta dissertação fundou sua
plataforma teórico-conceitual naquela “história tipológica” de Fletcher, que também
forneceu as raízes mais fundamentais da estrutura metodológica aqui adotada. Entretanto,
há duas considerações relevantes a serem feitas neste capítulo conclusivo.
Em primeiro lugar, na medida em que o foco do trabalho de pesquisa se dirigia para uma
arquitetura setorial específica e singular como a arquitetura de hospitais, houve que
promover adaptações significativas no conceito de contexto. Enquanto no procedimento
historiográfico de Fletcher o contexto é um entorno geoeconômico e político geral, aqui o
179
conceito de contexto foi redefinido de forma menos geral e mais precisa (ver capítulos 3 e
4, respectivamente para os casos dos contextos referentes às evoluções tipológicas do
hospital ocidental e do hospital em Natal). Enfatizaram-se principalmente os aspectos
culturais, socioeconômicos e políticos mais diretamente ligados à saúde pública e aos
hospitais, na intenção de abarcar um contexto capaz de influir mais diretamente nas
configurações arquitetônicas, seja para fixá-las, seja para transformá-las.
Em segundo lugar, tendo em vista todo o debate acumulado nos últimos quarenta anos em
torno da noção e do conceito de tipo, não havia sentido em fixar-se nas definições
tipológicas que Fletcher, implicitamente, adotou para descrever as arquiteturas dos seus
distintos contextos histórico-geográficos. Buscou-se então internalizar ao trabalho de
investigação a construção conceitual requerida para constituir uma matriz de análise
tipológica operativa com vistas a sua aplicação à arquitetura hospitalar.
A razão para tanto consiste em que o uso do conceito de tipo trabalhado por seus
estudiosos contemporâneos está contaminado por entendimentos e interpretações
divergentes e conflituosas, na mesma medida em que esses estudiosos reiteram a
importância de Quatremère de Quincy, Durand e Viollet-le-Duc para a formulação do
conceito e remetem às suas obras para lastrear apologias ou restrições ao tipo e à tipologia.
Sem embargo, foram incluídos na revisão bibliográfica os textos mais nucleares das obras
dos três teóricos com respeito aos conceitos de tipo e tipologia, conforme indicaram as
listas de referências da literatura que, neste trabalho, representou a parte mais relevante da
180
Dessa forma, procedeu-se a uma tentativa de aproximação entre os três teóricos, lançando
mão de seus conceitos de tipo, mas privilegiando as suas abordagens tipológicas, por
entender que suas formulações sobre o tema são compatíveis e reconciliáveis. A matriz de
instrumentos de análise proposta ao final do capítulo 2 é o resultado material e operativo
dessa tentativa. Pode-se concluir, em sua estruturação mesma, que a hipótese de trabalho
da reconciliação entre as visões de Quatremère, Durand e Viollet-le-Duc foi validada, na
medida em que a complementaridade entre as três abordagens se confirma na própria
definição dos instrumentos.
Evidentemente, como ela é definida com um propósito claro de aplicação neste estudo,
esse caráter operativo da matriz faz com que ela se deixe influenciar pelas características
singulares do projeto de arquitetura hospitalar, principalmente em termos da concepção
idealizada do espaço. Isso não implica, entretanto, na impossibilidade de adaptação da
matriz de análise para outras arquiteturas setoriais ou na sua generalização.
No capítulo 3, a tarefa proposta era de dupla face. Por um lado, havia que aplicar o
instrumental definido anteriormente para elaborar uma análise tipológica da evolução da
arquitetura hospitalar ocidental em um período de quinze séculos, da Idade Média à
contemporaneidade. Por outro, essa análise tipológica havia que estar referida aos
diferentes contextos históricos que deram suporte e validaram soluções arquitetônicas que
prevaleceram durante largos, uns mais outros menos, períodos históricos.
181
A complicação básica da primeira faceta dessa dupla tarefa era a expectativa de que um
instrumental desenvolvido para a análise de projetos pudesse ser aplicado a descrições
literárias, fotográficas, pictóricas ou arquitetônicas de séries de hospitais ou de hospitais
isolados que se consagraram por representar períodos históricos nos quais condições
contextuais relevantes se mantivessem constantes.
O fato é que a matriz pôde ser aplicada, não sem dificuldades ou necessidade de
aproximações, juntamente com os contextos elaborados, para evidenciar de maneira
consistente a evolução dos hospitais no Ocidente. Produziu-se aí uma narrativa analítica de
que emerge um quadro do itinerário tipológico da arquitetura hospitalar em que a
permanência ou a substituição de tipos, e mesmo a coexistência de alguns deles, podem ser
compreendidas de maneira articulada com as transformações sociais e econômicas.
Para cada transformação tipológica por que passou o hospital ocidental em seu percurso
histórico, transformações essas avaliadas pelos diferenciais tipológicos evidenciados pelo
instrumental analítico adotado, a abordagem utilizada permitiu compreender quais fatores
de contexto foram relevantes e decisivos. Esse resultado permite afirmar a validade da
matriz de análise e a consistência do conceito de tipo que a instrui.
Nessa etapa, então, havia que aplicar o instrumental a projetos e edifícios concretos, de
variadas naturezas. Para uma aplicação consistente da metodologia, havia também de
elaborar, mediante uma periodização daqueles cem anos, os correspondentes quadros
contextuais na cidade de Natal. Tratava-se de estabelecer, com base na exploração histórica
do capítulo 3, um conjunto de elementos contextuais que poderiam ser considerados como
os fatores potencialmente determinantes da evolução tipológica do hospital em Natal.
Entre esses elementos contextuais havia alguns endógenos à cidade, tais como base
demográfica e territorial, estágio de desenvolvimento econômico e social, ação política
local, organização da sociedade civil, conhecimento e tecnologia médica incorporada, entre
outros. Mas havia também que considerar elementos exógenos relevantes, tais como a
política pública federal para a saúde em todas as suas dimensões.
Entretanto, dos onze não analisados, para três é possível afirmar que sua exclusão não
interpõe problemas para os resultados da análise. São eles: o primeiro Hospital da Caridade
(implantado em 1856), o São João de Deus (de 1892) e o Asilo de Alienados (de 1911).
Pelas informações que se conseguiu obter com respeito a esses hospitais, eram eles pouco
mais que casas reformadas funcionando como albergues destinados a dar guarida a doentes
pobres e enfermos mentais.
Pode-se avaliar como positiva a experiência de aplicar o instrumental analítico aos dezoito
hospitais trabalhados. O enquadramento desses dezoito hospitais em grupos tipológicos
baseados nos tipos arquitetônicos definidos no capítulo 3 se deu sem grandes dificuldades.
Inclusive, o caso do Hospital Infantil, o qual foi tratado em separado, foi de grande
importância para demonstrar que a abordagem tipológica da projetação não tem porque ser
entendida como limitante da criatividade do arquiteto.
Concluiu-se da primeira fase da análise tipológica que Natal, nos cem anos analisados,
registrou a presença de quase todos os tipos hospitalares revelados no capítulo 3, com
exceção de tipos mais diretamente ligados à presença da Igreja como provedora ou peça
185
É importante ressalvar que a pequena Natal de início do século XX já contava com uma
perspectiva de modernização, ancorada na ação do Estado e na participação cívica da
sociedade, principalmente das elites. Ao mesmo tempo em que isso ajuda a explicar a
ausência da Igreja Católica na história hospitalar de Natal, também propõe uma resposta ao
fato de que a cidade tenha contado, no século XX, com um tipo hospitalar firmado na
Europa dos séculos XVI a XVIII, de inspiração renascentista.
Uma última singularidade relevante para a análise é aquela que fixa, no processo de
superação dos tipos modernistas ao longo dos anos 1990 e 2000, um tipo de transição que
apenas apreende de forma superficial a sinalização das mudanças. Nesse mesmo período, a
arquitetura hospitalar ocidental buscava internalizar ao hospital a integralidade da herança
tipológica do shopping center, do hotel e da residência, em uma hibridação capaz de forjar
um novo tipo arquitetônico em que o foco no paciente constitui o aspecto mais central da
organização e da definição dos espaços hospitalares.
Por fim, cabe salientar que os resultados obtidos da análise dos fatores indutores de
mudança revelam que, no caso de Natal, os mais significativos são as políticas públicas
nacionais de saúde, as condições de mercado, dadas pelas demandas sociais em
transformação, e as alterações na natureza e nos objetivos do empreendimento hospitalar.
Esses elementos se mostraram suficientes para explicar os movimentos de alteração do tipo
dominante, no caso de Natal.
187
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2002.
STONE, Peter (Ed.). British hospital and health-care buildings. Design and appraisals. Londres:
The Architectural Press, 1980.
TAVARES Silva, José. Discursos. Natal: Ed. Departamento de Cultura da UFRN, 1964.
THOMPSON, John D; GOLDIN, Grace. The hospital: a social and architectural history. New
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UNGERS, Oswald Mathias. Dieci opinioni sul tipo: Oswald Mathias Ungers. Casabella, v. XLIX,
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VALINS, Martin; REESE, Amy; BAST, Ken. Healthcare Reform and Change. In: VALINS,
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VIDLER, Anthony. The idea of type: the transformation of the academic ideal, 1750-1830.
Oppositions, n. 8, p. 95-115. 1977
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VOGEL, Morris. Managing medicine: creating a profession of hospital administration in the United
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Londres: Routledge, 1989. p. 243-253.
Anexos
Anexo I
Anexo II
Período pré-republicano
O processo de urbanização do país ainda não estava consolidado; o Estado nacional era frágil em face de oligarquias regionais, não permitindo
Cenário
seu funcionamento institucional efetivo. Em conseqüência, a política nacional de saúde era incipiente e as ações locais eram apenas de caráter
nacional
urbano-higienista. Os poucos hospitais da época eram filantrópicos ou beneficentes, construídos com recursos de particulares ou da Igreja
relevante
Católica, e tinham natureza segregacionista: eram depósitos de pacientes com o fim de proteger os que estavam fora da instituição.
Pequeno crescimento urbano. Não havia assistência à saúde da população, apenas medidas de higiene urbana. Foram adquiridas, com recursos
Contexto
provinciais, edificações precárias para abrigar enfermos indigentes, loucos e furiosos.Em geral, a manutenção era feita com recursos do
local
governo provincial, de instituições de caridade e de filantropos.
Instituição
hospitalar
Hospital da Caridade Lazareto da Piedade Hospital São João de Deus
Ano base Operativo em 1856 (desativado em 1906) Operativo em 1882 (desativado em 1957) Operativo em 1892 (renomeado em 1943)
Desativado em 1906; substituído pelo Em 1911, Asilo de Alienados; em 1921, Ligeiramente reformado em 1943, passou a
Hospital da Caridade Juvino Barreto, Hospício de Alienados; em 1933, Hospital de denominar-se Hospital Getúlio Vargas. Foi
Observações implantado em 1909 em outra área. Alienados. Desativado em 1957; substituído objeto de ampla reforma e ampliação em
pelo Hospital Colônia João Machado, em 1966.
outro local.
Abrigo de indigentes (pobres, escravos, Segregação dos “loucos e furiosos” para Local para acolhimento de tuberculosos
Perfil da
presos) sem condições para tratamento na proteção da sociedade. Não havia pessoal pobres, segregados para proteção da
assistência
residência. Não havia pessoal especializado. especializado. sociedade. Não havia pessoal especializado.
Recursos Construção: Governo da província Construção: Governo da província Construção: Governo estadual
financeiros Custeio: Governo provincial e caridade Custeio: Governo provincial e caridade Custeio: Governo do estado e caridade
Bairro da Cidade Alta, Rua da Salgadeira, na Bairro do Alecrim, no terreno que hoje recebe Bairro das Quintas.
Localização
encosta do Rio Potengi. o Centro de Saúde do Alecrim.
Tipologia Casa reformada sem registro gráfico Casa reformada sem registro gráfico Casa reformada sem registro gráfico
1ª República: 1889 a 1930
Foram sendo suplantados os fatores inibidores da implantação de uma política nacional de saúde, construída com base nas idéias e atuações do
Cenário movimento sanitarista, cuja ênfase estava na conscientização coletiva acerca da interdependência sanitária. Ações são concentradas na capital
nacional nacional e em cidades portuárias. Há campanhas sanitárias de combate às epidemias urbanas e endemias rurais. Foram criadas as CAPs, que
relevante financiavam a assistência médico-hospitalar. Introduzem-se enfoques curativos e terapêuticos nos hospitais, que ainda dependem da caridade e
do esforço das comunidades religiosas. Criação do DNSP com criação de programas nacionais de combates a doenças infecto-contagiosas.
Acentuado crescimento populacional; grande esforço da elite dirigente para a modernização urbana, com atuações na área de saneamento
Contexto
ambiental e saúde publica. O governo estadual é o principal mantenedor dos serviços hospitalares. Foram introduzidos cuidados terapêuticos
local
na assistência hospitalar, com presença permanente de médicos, religiosas treinadas, laboratório de análises clinicas e prática de cirurgias.
Instituição
hospitalar
Hospital da Caridade Juvino Barreto Hospital Colônia São Francisco
Ano base Operativo em 1909 (renomeado em 1935) Operativo em 1929 (desativado nos anos 1990)
Sucessivas reformas e ampliações; em 1935, é reinaugurado como Só foi desativado como hospital em finais do século XX, com as
Observações
Hospital Miguel Couto. mudanças na política de saúde para enfermos de hanseníase.
Hospital geral, com introdução de cuidados terapêuticos e realização Confinamento de pacientes com hanseníase. Não havia pessoal
Perfil da
das primeiras cirurgias; laboratório de análises clínicas. Havia irmãs especializado.
assistência
religiosas treinadas para cuidados de enfermagem.
Recursos Construção: Governo estadual Construção: Governo estadual e federal
financeiros Custeio: Governo estadual, filantropia, receita de clientes particulares. Custeio: Governo federal, governo estadual, filantropia
Localização Av. Nilo Peçanha, bairro de Petrópolis. Av. Capitão-Mor Gouveia, bairro das Quintas.
Tipologia Casa reformada sem registro gráfico. Colônia.
Estado Novo: 1930 a 1945 (parte I)
Tentativa de formulação de uma política nacional de saúde unificada. A ação preventiva era articulada nacionalmente pelo ministério e
Cenário
executada em associação entre este e os serviços estaduais. Criação dos IAPs destinados a financiar assistência a saúde curativa a categorias
nacional
profissionais organizadas. Surgiram novos hospitais de particulares e do estado com ênfase na ação curativa. O edifício hospitalar passou a
relevante
incorporar a verticalização e o zoneamento do espaço por diferentes funções.
Crescimento demográfico e desenvolvimento urbanístico; assunção pelo Estado de funções de controle urbanístico e de provisão de infra-
estruturas e serviços públicos. Implantação de novos hospitais, ampliação e/ou reforma de existentes, sempre com novas características como:
Contexto
aumento da especialização dos serviços médicos, intensificação do caráter terapêutico da assistência hospitalar, novas tecnologias de
local
diagnósticos. Presença mais intensiva de médicos. Criação da Sociedade de Medicina e Cirurgia, elemento de difusão de novos conhecimentos
e tecnologias. Também aparece por primeira vez o hospital construído com recursos angariados por um grupo de médicos.
Instituição
hospitalar
Hospital Miguel Couto Hospital Infantil
Ano base Operativo em 1935 Operativo em 1936 (início da construção: 1923)
Sucede o Hospital de Caridade Juvino Barreto, com modernização e Renomeado para Hospital Infantil Varela Santiago em 1967.
reformas de porte. Renomeado para Hospital das Clínicas quando
Observações
encampado pela UFRN em 1960; em 1984, passou a chamar-se
Hospital Universitário Onofre Lopes.
Hospital geral, amplamente reformado para abrigar diferentes Hospital especializado em pacientes infantis, contando com
especialidades como: clínicas médica, cirúrgica, ginecológica, ambulatório, raios-x, laboratório de análises clínicas, centro cirúrgico
Perfil da
obstétrica, dermatológica, radiológica, oftalmológica e urológica. e internação.
assistência
Corpo médico presente na assistência aos pacientes, em geral
indigentes, mas também particulares.
Construção: Governo do estado Construção: Governo do Estado e doações de particulares
Recursos
Custeio: Subvenções do Governo estadual e receita própria, geridos Custeio: Subvenções do Governo estadual e doações de particulares,
financeiros
pela Sociedade de Assistência Hospitalar geridos pela mantenedora
Bairro de Petrópolis Av. Deodoro da Fonseca, limite entre os bairros de Petrópolis e
Localização
Cidade Alta.
Tipologia Casa reformada sem registro gráfico. Várias apropriações das vertentes do tipo pavilhonar.
Estado Novo: 1930 a 1945 (parte II)
Tentativa de formulação de uma política nacional de saúde unificada. A ação preventiva era articulada nacionalmente pelo ministério e
Cenário
executada em associação entre este e os serviços estaduais. Criação dos IAPs destinados a financiar assistência a saúde curativa a categorias
nacional
profissionais organizadas. Surgiram novos hospitais de particulares e do estado com ênfase na ação curativa. O edifício hospitalar passou a
relevante
incorporar a verticalização e o zoneamento do espaço por diferentes funções.
Crescimento demográfico e desenvolvimento urbanístico; assunção pelo Estado de funções de controle urbanístico e de provisão de infra-
estruturas e serviços públicos. Implantação de novos hospitais, ampliação e/ou reforma de existentes, sempre com novas características como:
Contexto
aumento da especialização dos serviços médicos, intensificação do caráter terapêutico da assistência hospitalar, novas tecnologias de
local
diagnósticos. Presença mais intensiva de médicos. Criação da Sociedade de Medicina e Cirurgia, elemento de difusão de novos conhecimentos
e tecnologias. Também aparece por primeira vez o hospital construído com recursos angariados por um grupo de médicos.
Instituição
hospitalar
Hospital Evandro Chagas (Hospital) Policlínica do Alecrim
Ano base Operativo em 1943, desativado em 1982 Operativo em 1944 (início das obras: 1942)
Observações Serviços foram transferidos para o Hospital Getúlio Vargas, em 1982. Renomeado Hospital Professor Luiz Soares em 1967
Hospital especializado em doenças infecto-contagiosas, atendendo Hospital geral. Assistência aos pacientes era prestada por médicos e
preferencialmente enfermos pobres. irmãs de ordens religiosas. Havia aparelho de raios-X, laboratório de
Perfil da
análises clínicas, farmácia, pronto socorro. Voltava-se aos indigentes,
assistência
mas havia internação com enfermarias e apartamentos para pacientes
particulares.
Construção: Governo federal Construção: recursos próprios de médicos, apoio dos Governos
Recursos Custeio: Governos estadual e federal estadual e federal
financeiros Custeio: contribuição de associados, receitas de particulares,
subvenções do Governo estadual, IAPs
Localização Bairro das Quintas Bairro do Alecrim
Tipologia Pavilhonar. Pavilhonar.
Redemocratização ao golpe militar: 1945 a 1964 (parte I)
O período é marcado pela ação dos IAPs, que adquiriram maior solvência financeira, e pelo surgimento da medicina de grupo como os planos de
Cenário
saúde privados.Esses dois segmentos capitalizados para o consumo, somados a recursos federais e estaduais, propiciaram suporte financeiro para
nacional
ampliação dos serviços de saúde de tipo curativo, com apoio em tecnologia diagnóstica e técnicas cirúrgicas. Apareceram os primeiros sinais de
relevante
abertura para acesso de parcelas menos abastadas da população aos serviços terapêuticos em hospitais de grande porte e qualidade do serviço.
Forte crescimento populacional da cidade e dinamização da economia urbana. Há fortalecimentos dos IAPs e surgem serviços de medicina de
Contexto
grupo. Ampliações de hospitais existentes e construções de novos hospitais pela iniciativa privada. Consolidação da presença do conhecimento
local
médico-terapêutico nos hospitais, influenciando na sua organização.
Instituição
hospitalar
Hospital Dr. Luiz Antônio Maternidade Escola Januário Cicco
Ano base Operativo em 1949 Operativo em 1950 (início das obras: 1932)
Iniciativa da Liga Norte-rio-grandense de Combate ao Câncer (LNCC). Administrada pela Sociedade de Assistência Hospitalar, de início. Foi
Observações incorporada à UFRN em 1960.
A princípio, um albergue para servir de abrigo para pacientes de câncer. Hospital especializado em obstetrícia e ginecologia. Havia enfermarias
Perfil da Aos poucos, foram sendo introduzidos os serviços de internação e e apartamentos para particulares, e serviços de apoio como nutrição,
assistência tratamento. lavanderia, c. cirúrgico, laboratório de analises clinicas e farmácia.
Contava com médicos e irmãs para ajuda nos cuidados de pacientes.
Recursos Construção: recursos próprios da LNCC e donativos Construção: doações da sociedade
financeiros Custeio: Governo estadual, recursos da LNCC e doações Custeio: Governo estadual
Localização Bairro das Quintas Bairro de Petrópolis
Tipologia Casa reformada sem registro gráfico. Casa de campo.
Redemocratização ao golpe militar: 1945 a 1964 (parte II)
O período é marcado pela ação dos IAPs, que adquiriram maior solvência financeira, e pelo surgimento da medicina de grupo como os planos de
Cenário
saúde privados.Esses dois segmentos capitalizados para o consumo, somados a recursos federais e estaduais, propiciaram suporte financeiro para
nacional
ampliação dos serviços de saúde de tipo curativo, com apoio em tecnologia diagnóstica e técnicas cirúrgicas. Apareceram os primeiros sinais de
relevante
abertura para acesso de parcelas menos abastadas da população aos serviços terapêuticos em hospitais de grande porte e qualidade do serviço.
Forte crescimento populacional da cidade e dinamização da economia urbana. Há fortalecimentos dos IAPs e surgem serviços de medicina de
Contexto
grupo. Ampliações de hospitais existentes e construções de novos hospitais pela iniciativa privada. Consolidação da presença do conhecimento
local
médico-terapêutico nos hospitais, influenciando na sua organização.
Instituição
hospitalar
Casa de Saúde São Lucas Hospital João Machado Hospital Médico-Cirúrgico
Ano base Operativo em 1952 (início das obras: 1948) Operativo em 1957 (início das obras: 1947) Operativo em 1959
Sucedeu o antigo Hospital de Alienados, com Inicialmente uma casa reformada. Nos anos
Observações mudança de sede. 1960, um edifício de dois pavimentos.
Hospital geral com enfermarias e apartamentos Hospital especializado em doença mental. Hospital geral, com 12 leitos de internação,
Perfil da para internação. Com centro cirúrgico, Introduzidos cuidados terapêuticos. centro cirúrgico, laboratório de analises
assistência laboratório de análises clínicas, raios-x, Havia médicos e irmãs de ordens religiosas clinicas, raios-x, ambulatório, e serviço de
serviços de apoio como nutrição e lavanderia. para prestar assistência aos pacientes. apoio como nutrição.
Construção: recursos dos empreendedores e Construção e custeio: Governos estadual e Construção: recursos dos empreendedores
Recursos
empréstimos federal Custeio: IAPs, clientes particulares, convênios
financeiros
Custeio: IAPs e pacientes particulares
Localização Bairro do Tirol Bairro de Morro Branco Bairro de Petrópolis
Tipologia Pavilhonar. Pavilhonar. Casa reformada sem registro gráfico.
Ditadura militar: de 1964 a 1985 (parte I)
Urbanização acelerada e concentração de renda agravam as condições de saúde pública do país. Embora o modelo assistencial previsse um
Cenário sistema regionalizado e hierarquizado de unidades de saúde, ele funcionava precariamente e com ênfase em atendimento curativo. Os IAPs são
nacional unificados no INPS, uma hiperinstituição nacional, com um orçamento gigantesco, gerida ineficazmente. Houve expansão de leitos hospitalares
relevante privados, financiados e mantidos com recursos do INPS. O Ministério da Saúde promulga normas e padrões para projeto e construção de
unidades físicas de saúde.
Crescimento acentuado da população com ocupação predominante da periferia da cidade. Construção dos primeiros hospitais públicos
Contexto
concebidos como partes de um sistema de atendimento regionalizado e hierarquizado. Construção de hospitais privados especializados, tendo no
local
INPS como maior financiador da prestação de serviços.
Instituição
hospitalar
Hospital Getúlio Vargas Hospital Walfredo Gurgel Hospital Santa Helena
Ano base Ampliado e reformado em 1966 Operativo em 1971 Operativo em 1976
Inicialmente Hospital São João de Deus, Renomeado nos anos 1990 para Hospital
passou a Getúlio Vargas em 1943. Em 1966, Antônio Prudente
Observações
houve modernização, ampliação e reforma de
porte. Renomeado Giselda Trigueiro em 1990.
Hospital especializado em tuberculose. Hospital geral com ênfase no atendimento Hospital materno-infantil com 60 leitos,
Assistência prestada a tuberculosos indigentes de urgência e emergência, 150 leitos de centro cirúrgico e obstétrico, berçário,
por médicos e irmãs de ordens religiosas. internação, centro cirúrgico, ambulatório, raios-X, laboratório de análises clinicas e
Perfil da
Havia 180 leitos, aparelho de raios-X, laboratório de analises clinicas e unidades unidades de apoio como nutrição,
assistência
laboratório de análises clínicas, serviços de de apoio como nutrição, lavanderia e lavanderia e administração.
apoio como nutrição, lavanderia e
administrativos.
administrativa.
Construção e custeio: Governos federal e Construção e custeio: Governo do Estado e Construção: Recursos próprios, FAS e
Recursos
estadual Federal bancários
financeiros
Custeio: Particular e convênios, INPS
Localização Bairro das Quintas Bairro do Tirol Bairro do Alecrim
Tipologia Pavilhonar Torre sobre pódio. Torre sobre pódio.
Ditadura militar: de 1964 a 1985 (parte II)
Urbanização acelerada e concentração de renda agravam as condições de saúde pública do país. Embora o modelo assistencial previsse um
Cenário sistema regionalizado e hierarquizado de unidades de saúde, ele funcionava precariamente e com ênfase em atendimento curativo. Os IAPs são
nacional unificados no INPS, uma hiperinstituição nacional, com um orçamento gigantesco, gerida ineficazmente. Houve expansão de leitos hospitalares
relevante privados, financiados e mantidos com recursos do INPS. O Ministério da Saúde promulga normas e padrões para projeto e construção de
unidades físicas de saúde.
Crescimento acentuado da população com ocupação predominante da periferia da cidade. Construção dos primeiros hospitais públicos
Contexto
concebidos como partes de um sistema de atendimento regionalizado e hierarquizado. Construção de hospitais privados especializados, tendo no
local
INPS como maior financiador da prestação de serviços.
Instituição
hospitalar
Hospital PAPI Maternidade Santa Isabel Hospital Santa Catarina
Ano base Operativo em 1982 Operativo em 1984 Operativo em 1985
Transformado em hospital de ortopedia e
Observações traumatologia, renomeado ITORN nos anos
1980
Hospital especializado em pediatria, com 120 Hospital maternidade com 54 leitos, Hospital Geral, com 50 leitos, ênfase em
leitos, ambulatório, centro cirúrgico, urgência, ambulatório, centro cirúrgico, raios-x, clínicas de atendimento básico como pediatria,
raios-x, laboratório de análises clinicas e laboratório de análises clínicas e unidades de cirurgia, obstetrícia e ginecologia. Conta com
Perfil da unidades de apoio como nutrição e apoio como nutrição, lavanderia e serviços serviços de urgência, ambulatorial, laboratório
assistência administrativa. administrativos. de análises clínicas, raios-x e unidades de
apoio como nutrição, lavanderia e serviços
administrativos. Hospital de referência local e
de média complexidade.
Construção: recursos próprios, FAS e Construção: recursos próprios e bancários Construção: Governos estadual e federal
Recursos empréstimos bancários Custeio: receita de clientes particulares e de Custeio: SUS
financeiros Custeio: receita de clientes particulares e de convênios
convênios
Localização Bairro do Tirol Bairro de Petrópolis Zona Norte
Torre sobre pódio Prédio reformado sem registro gráfico de sua Rua hospitalar.
Tipologia
implantação inicial.
De 1985 ao presente (parte I)
A política de saúde trata a questão da saúde e do meio ambiente saudável como dever de Estado e direito universal do cidadão. O financiamento
é garantido pelo Governo federal, mas a gestão é repartida entre União, estados, municípios e sociedade. Esses princípios são concretizados no
Cenário
Sistema Nacional de saúde (SUS), que deve enfatizar a ação preventiva. Formalmente o sistema esta universalizado e homogeneizado, mas sua
nacional
concretização esta comprometida pela depreciação da rede e falência fiscal do governo federal. Tais problemas dão origem ao crescimento do
relevante
negócio privado de atenção à saúde, com base em financiamento subsidiados (via BNDES) e sustentado pelos convênios e planos de saúde
complementar, e também pelo SUS.
A verticalização possibilitou que a população se concentrasse em algumas áreas centrais; o crescimento periférico adquire caráter metropolitano.
Contexto Na ausência de investimentos em novos hospitais públicos, abrem-se possibilidades de mercado para as instituições privadas, principalmente
local pela ampliação do número de segurados por planos ou seguros privados de saúde. A instauração da concorrência pela clientela de seguros e
planos deu origem a crises que levaram os hospitais privados a reenfocarem os serviços de alta complexidade, bem remunerados pelo SUS.
Instituição
hospitalar
Hospital Promater Hospital Maria Alice Fernandes Hospital Memorial
Ano base Operativo em 1996 Operativo em 1998 (início das obras: 1988) Operativo em 1990
Observações
Hospital materno-infantil, com 80 leitos, Hospital especializado em pediatria, com 70 Hospital geral com ênfase em ortopedia. Com 17
centro cirúrgico, UTI neo Natal, raios-x, leitos, 6 leitos de UTI, urgência, raios-x, leitos, serviços de urgência, raios-x, laboratório
Perfil da
laboratório de análises clínicas, mamografia, laboratório de análises clínicas, de analises clinicas, centro cirúrgico, nutrição,
assistência
ultrassonografia e serviços de apoio como ultrassonografia, serviços de apoio como lavanderia, farmácia e UTI.
nutrição, lavanderia e farmácia. nutrição, lavanderia, farmácia.
Construção: recursos próprios e bancários Construção: Governos estadual e federal Construção: recursos próprios, BNDES
Recursos
Custeio: receita de clientes particulares e de Custeio: SUS Custeio: receita de clientes particulares e de
financeiros
convênios convênios
Av. São José, bairro de Lagoa Nova Zona Norte, Conjunto Parque dos Coqueiros Av. Beira Canal, no limite entre os bairros de
Localização
Barro Vermelho, da Cidade Alta e do Tirol
Tipologia Shopping center/hotel/residência Rua hospitalar Torre sobre pódio
De 1985 ao presente (parte II)
A política de saúde trata a questão da saúde e meio ambiente saudável como dever de Estado e direitos universais do cidadão. O financiamento é
garantido pelo financiamento federal, mas a gestão é repartida entre estado e municípios e sociedade. Esses princípios são concretizados no
Cenário
Sistema Nacional de saúde (SUS) que deve enfatizar a ação preventiva. Formalmente o sistema esta universalizado e homogeneizado, mas sua
nacional
concretização esta comprometida pela depreciação física e ética da rede e falência fiscal do governo federal. Tais problemas dão origem ao
relevante
crescimento do negocio privado de atenção à saúde, com base em financiamento subsidiados (via BNDES) e sustentado pela potencialidade de
geração de renda dos convênios e planos de saúde complementar.
A verticalização possibilitou que a população se concentrasse em algumas áreas centrais; o crescimento periférico adquire caráter metropolitano.
Contexto Na ausência de investimentos em novos hospitais públicos, abrem-se possibilidades de mercado para as instituições privadas, principalmente
local pela ampliação do número de segurados por planos ou seguros privados de saúde. A instauração da concorrência pela clientela de seguros e
planos deu origem a crises que levaram os hospitais privados a reenfocarem os serviços de alta complexidade, bem remunerados pelo SUS.
Instituição
hospitalar
Hospital do Coração Hospital Femina Natal Hospital Center
Ano base Operativo em 2000 Operativo em 2001 Operativo em 2002
Renomeado em 2004 para Hospital UNIMED
Observações
Hospital geral com ênfase em cardiologia. Hospital materno-infantil, com 54 leitos de Hospital geral, com ênfase em cardiologia e
Com 58 leitos de internação, 13 leitos de UTI, internação, centro cirúrgico, UTI neo-natal, oncologia, com 150 leitos de internação, centro
urgência, centro cirúrgico, 25 consultórios, urgência em pediatria, raios-x, laboratório de cirúrgico, UTI, urgência, hemodinâmica, raios-
Perfil da raios-X, laboratório de análises clínicas, análises clínicas, e serviços de apoio de x, laboratório de análises clínicas,
assistência tomografia computadorizada, hemodinâmica, nutrição, lavanderia, farmácia, administrativos ultrassonografia, serviços de apoio como
ultrassonografia, serviços de apoio como e almoxarifado. nutrição, lavanderia, farmácia, almoxarifado e
lavanderia, nutrição farmácia, almoxarifado e administrativos.
administrativo.
Construção: recursos próprios e BNDES Construção: recursos próprios e BNDES Construção: recursos próprios e BNDES
Recursos
Custeio: receita de clientes particulares, de Custeio: receita de clientes particulares, de Custeio: receita de clientes particulares, de
financeiros
convênios e SUS convênios e SUS convênios e SUS
Localização Bairro de Lagoa Nova Bairro de Lagoa Nova Bairro do Tirol
Tipologia Shopping center/hotel/residência Shopping center/hotel/residência Torre sobre pódio.
Anexo III