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Anjos da Escuridão 02
Gena Showalter
Beleza Despertada
Anjos da Escuridão 02
Autora de Best Sellers do New York Times, Gena Showalter retorna com outra cativante estória
dos Anjos da Escuridão, com um guerreiro atormentado que é colocado de joelhos pelo mais
delicado dos seres humanos...
Seu nome é Koldo. Ele é cheio de cicatrizes, poderoso, seu controle é lendário e ele vive apenas pela
vingança contra o anjo que removeu violentamente suas asas. Mas se ele se render às forças do
ódio, será eternamente condenado.
Nicola Lane nasceu com um coração deficiente, mas ainda assim, esta frágil humana mostra força
surpreendente contra demônios que seguem cada movimento dela, determinados a exterminá-la.
Ela é a chave para a libertação de Koldo... E sua queda. Embora ele lute contra o dever, o destino e
contra a primeira prova do viciante sabor do desejo, sua batalha mais dura vai ser aquela pela vida
de Nicola, mesmo que tenha de sacrificar a sua própria vida...
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 1
Gena Showalter
Anjos da Escuridão 02
Traduzido do Inglês
Formatação: Δίκη
Envio e Capa: Elica
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 2
Gena Showalter
Anjos da Escuridão 02
Comentário da Revisora Val: Koldo é o mais sensível, o mais carente e o mais cruel entre os Anjos
Enviados.
Teve uma infância terrível com a mãe que o odiava e que fazia questão de lhe dizer e demonstrar isso
todos os dias em que viveu com ela. Uma mulher egoísta e egocêntrica, linda, que também era um Anjo
Enviado e que deveria ser perfeita, mas que por uma trapaça do destino tornou-se cruel e infeliz e
descontou na criança que Koldo foi todas as suas frustrações.
Koldo tem todos os motivos para ser um homem cruel e ele é. O objetivo de sua vida é se vingar. Ele é
um dos Anjos Enviados do Altíssimo, mas ignora seus ensinamentos de amor e benevolência para se vingar
eternamente da mulher que mais o fez sofrer. Por isso ele está no Exército da Desonra de Zacharel.
Zacharel tem um amor especial por esse guerreiro que salvou sua vida a custa de enorme sacrifício e
luta para ajudá-lo, para que ele permita que o amor de Nicola substitua o ódio que domina seu coração.
Nicola tem uma estória muito semelhante à de Koldo, mas escolheu viver, aproveitar cada momento
que ela tem, mesmo passando por tantas privações, desesperança, incertezas e tristezas. Ela é fraca
fisicamente, tem problemas cardíacos e vive no limite entre a vida e a morte. Mas o amor por sua irmã
gêmea a fortalece e ela cuida dela e mantém a ambas vivas.
Quando conhece Koldo, ele se interessa por ela e a ajuda a se curar convencendo-a que o Altíssimo
pode ajudá-la a superar todas as suas dificuldades, se ela acreditar. Nesses trechos a autora nos mostra a
força da fé e eu me emocionei muitas vezes por que em certos momentos nos sentimos tão inseguros,
vulneráveis e até mesmo fracos e incapazes de lidar com os problemas que a vida nos apresenta. A autora
nos lembra de que existe um Ser Superior, alguém que nos estenderá a mão se Dele nos lembrarmos.
Essa estória não é hot. Ela tem momentos sensuais, mas leves e despretensiosos. O foco é a luta entre
o bem e o mal. A mudança que o amor pode fazer em nossas vidas. A consequência de nossas escolhas... É
um livro emocionante.
Um fato que considerei inusitado, principalmente por se tratar de um guerreiro tão carrancudo, é que
Koldo tem fixação pela cor rosa. Ele decora um quarto rosa para Nicola, compra roupas cor de rosa para ela
e quando a vê usando-as fica excitado e emocionado. Para ele o rosa representa tudo que é relacionado à
feminilidade, à maternidade e a delicadeza feminina que ele sempre quis receber através do amor de sua
mãe, mas do qual nunca desfrutou. E Nicola é doce com ele, carinhosa, e a cada toque afetuoso que ela lhe
concede ele se sente privilegiado, sente-se presenteado com todo amor que ele sempre quis receber.
Mas ainda assim ele insiste em sua vingança...
Em um dado momento do livro Nicola diz uma das coisas mais certas na estória: Que Koldo a
ensinava sobre o amor divino e a necessidade de fortalecer sua fé para tentar se curar, mas ele não segue
esses preceitos. Que ele também precisa se curar, limpar seu coração do ódio e desejo de vingança.
Em minha interpretação a autora quis mostrar que o ser humano tem força e capacidade que sequer
imagina, de prosperar em meio às adversidades, de aprender e perdoar, de se superar e de ser feliz. Que
nem sempre o mais frágil é o mais fraco, e que o supostamente mais forte muitas vezes possui deficiências
inimagináveis.
Eu gostei muito da estória, mas considerei que no final os acontecimentos passaram-se muito
rapidamente, e quando vi, o livro tinha terminado.
Espero ansiosa pelos próximos livros, principalmente pelo Thane e o Axel, que é um personagem
muito divertido e confuso, que me tirou gargalhadas enquanto revisava.
E finalmente, gostaria de agradecer à colaboração das revisoras Iris, Sandra Aluani, Érika, Diane, Alê
Bevilacqua e Elen Mariano pelo comprometimento com os prazos, pela boa vontade e pelo trabalho bem
feito. E a Élica, Maga das Capas, que indicou tantas boas meninas e me ajudou nos momentos que precisei.
É um prazer revisar com vocês. Muito obrigada meninas.
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Gena Showalter
Anjos da Escuridão 02
Primeiro, para a minha surpreendente nova editora, Emily Ohanjanians, por me aceitar e não
vomitar quando eu expliquei o meu “processo”.
Para Marie, que cuida de mim de tantas maneiras!
Para minha mãe e meu pai, por atenderem a cada uma das minhas ligações para falar sobre
o livro nunca dizendo: "Isto de novo? Mas falamos sobre isso ontem, por uma hora.”
Para a minha agente Deidre Knight, por sempre ter me apoiado. Mesmo quando eu digo
coisas como "Então... Aqui está o que eu quero fazer em seguida.”
Para Jia Gayles, por estar sempre disposta a ajudar com as promoções.
E para Jill Monroe, por muitas razões para listar aqui.
Deus é bom. Todo o tempo, Deus é bom.
Prólogo
Aos sete anos, Koldo sentava-se o mais silenciosamente possível no canto do quarto. Sua
mãe estava escovando os cabelos, adoráveis cachos escuros encaracolados com fios de ouro puro.
Ela se empoleirava na frente da penteadeira, cantarolando baixinho, mas com entusiasmo, a
imagem sardenta e sorridente refletida em um espelho oval. Ele não podia fazer nada, exceto olhá-
la, fascinado.
Cornelia era uma das criaturas mais bonitas já formadas. Todos sempre diziam isso. Seus
olhos eram de um pálido violeta, cercado por cílios em uma mistura de marrom e dourado
semelhante aos cabelos. Seus lábios eram em forma de coração, e a pele pálida brilhava tão
ofuscantemente quanto o sol.
Com os cabelos e olhos escuros e a pele profundamente bronzeada, Koldo não se parecia em
nada com ela. A única coisa que tinham em comum eram as asas e talvez fosse por isso que ele
fosse tão orgulhoso das penas brilhantes e brancas, macias como pelúcia, ligeiramente âmbar por
baixo. Era a sua única característica redentora.
Seu cantarolar cessou de repente.
Koldo engoliu em seco.
—Você está olhando para mim, — ela retrucou, qualquer sugestão de sorriso
desaparecendo.
Ele colou seu olhar sobre o chão, como ela preferia. — Desculpe mamãe.
—Eu já lhe disse para não me chamar assim. — Ela bateu a escova sobre o balcão de
mármore. —Você é tão tolo que já esqueceu?
—Não, — ele respondeu suavemente. Todos elogiavam sua doçura e gentileza, assim como
sua beleza, e tinham razão para fazer isso. Ela era generosa em seus elogios e gentil com todos que
se aproximavam dela, com todos, exceto Koldo. Ele sempre conviveu com um lado muito diferente
dela. Não importava o que ele fizesse ou dissesse, ela encontraria uma falha. E, no entanto, ele
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ainda a amava com todo seu coração. A única coisa que sempre quis era agradá-la.
—Pequena criatura horrível, — ela murmurou enquanto se levantava, o cheiro de jasmim e
madressilva exalando dela. O tecido roxo de sua túnica dançava nos tornozelos, as joias costuradas
na bainha brilhando na luz. —Assim como o seu pai.
Koldo nunca conhecera seu pai, só tinha ouvido falar sobre o homem.
Maligno.
Nojento.
Repulsivo.
—Estarei recebendo amigos, — disse ela, sacudindo os cabelos sobre o ombro. —Você deve
ficar aqui em cima. Entendeu?
—Sim. — Oh, sim. Ele entendeu. Se alguém sequer o avistasse, ela ficaria envergonhada por
sua feiura. Ela teria raiva. E ele sofreria.
Ela olhou para ele por um longo tempo. Finalmente resmungou, — Eu deveria ter afogado
você na banheira quando era jovem demais para resistir,— e marchou para fora da sala, a porta se
fechando atrás dela.
A rejeição cortava profundamente até o osso e ele não tinha certeza do por quê. Ela já havia
dito coisas muito piores antes, inúmeras vezes.
Apenas me ame, mamãe. Por favor.
Talvez... Talvez ela não pudesse. Ainda não. A esperança desfraldou em seu peito e ele
levantou o queixo. Talvez ainda não tivesse feito o suficiente para provar a si mesmo. Talvez se
fizesse algo especial, ela finalmente perceberia que ele não era em nada parecido com o pai. Talvez
se limpasse o quarto dela... E tivesse um buquê de flores frescas esperando por ela... E cantasse
uma música que embalasse seu sono... Sim! Ela iria abraçá-lo e beijá-lo em agradecimento, da
forma como muitas vezes ela abraçava e beijava os filhos dos empregados.
Animado, Koldo dobrou os cobertores que usou para a sua enxerga no chão e saltou para
ficar de pé. Correu pelo aposento, pegando as roupas descartadas e sandálias, depois afofou as
almofadas espalhadas pelo tapete central, onde Cornelia gostava de relaxar e ler.
Ignorou a parede de armas, o chicote, os punhais e espadas e endireitou os itens sobre a
penteadeira: a escova, os frascos de perfume, os cremes para a pele de sua mãe e o líquido de
cheiro pungente que ela gostava de beber. Poliu cada colar, pulseira e anel em sua caixa de joias.
No momento em que terminou, o quarto e tudo o que nele havia, brilhava como se fosse
novo. Sorriu, satisfeito com seus esforços. Ela apreciaria tudo o que ele fez, tinha certeza disto.
Agora, as flores.
Cornelia queria que ele ficasse aqui e se tivesse prometido obedecê-la, ele teria obedecido.
Mas ele não tinha prometido. Dissera apenas que entendia seus desejos. Além disso, isto era para
ela, tudo por ela, e ninguém iria vê-lo. Certificar-se-ia disso.
Caminhou até a varanda, abrindo as portas duplas. O ar fresco da noite soprava sobre ele. O
palácio estava situado em um reino distante abaixo dos céus, tendo por vizinhos milhares de
estrelas cintilantes em uma vastidão infinita de veludo negro. A lua estava brilhante e alta, uma
mera lasca curva em dois pontos para cima.
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antigas e secas, e acrescentou as novas e úmidas hastes. Voltou ao seu lugar no canto, cruzou as
pernas e esperou.
Horas se passaram.
Mais horas se passaram.
Quando as dobradiças rangeram sinalizando que a porta estava sendo aberta, suas pálpebras
estavam pesadas, os olhos pareciam secos e ásperos como uma lixa, mas conseguiu ficar acordado
e agora se sacudia em uma atenção ansiosa.
O suave ruído de passos. Uma pausa.
—O que você fez?— Sua mãe ofegou. Ela girou, observando cada centímetro do quarto.
—Eu deixei o quarto ainda mais bonito para você. — Me ame. Por favor.
Uma inalação aguda da respiração antes que ela marchasse para dentro, parando na frente
dele e olhando para baixo com ódio ardente. —Como você se atreve! Eu gostava das minhas coisas
do jeito que eram.
A decepção quase o esmagou, tão pesada que se instalou sobre seu peito. Mais uma vez, ele
falhou. —Eu sinto muito.
—Onde você conseguiu a ambrosia?— Mesmo enquanto falava, seu olhar pulou para as
portas duplas que levavam à varanda. —Você voou, não é?
Apenas um minuto de hesitação antes que ele admitisse: — Sim.
No início, ela não teve nenhuma reação. Então, endireitou os ombros, um ato determinado.
—Você acha que pode me desobedecer e nunca sofrer quaisquer consequências. É isso?
—Não. Eu só...
—Mentiroso!— Ela gritou. Sua palma bateu contra seu rosto, a força do impacto impelindo-o
contra a parede. —Você é igualzinho ao seu pai, fazendo o que quer, quando quer, não importa
como alguém se sente sobre o assunto e eu não vou mais tolerar este comportamento.
—Eu sinto muito,— ele repetiu, tremendo.
—Acredite em mim, você vai sentir. — Ela o agarrou pelo braço e arrastou-o para que ficasse
de pé. Ele não lutou, permitindo que ela o atirasse sobre a cama de bruços e amarrasse seus
pulsos e tornozelos contra as colunas.
Outras chicotadas, ele pensou, não se permitindo implorar pela piedade que não iria
aparecer. Ele seria ferido, mas iria se curar. Sabia que era um fato. Ganhara mil outras punições
como esta, mas sempre se recuperou. Fisicamente, pelo menos. Internamente, seu coração iria
sangrar pelos próximos anos.
Sua mãe selecionava uma lâmina na parede, ignorando o chicote que normalmente preferia.
Ela iria... Matá-lo?
Finalmente Koldo puxou e se retorceu, mas não era forte o suficiente para lutar contra ela e
se libertar. —Eu sinto muito. Eu realmente sinto muito. Nunca mais vou limpar seu quarto, eu
prometo. E nunca vou deixá-lo de novo.
—Você acha que é este o problema? Oh, você é um menino tolo. A verdade é que eu não
posso deixá-lo solto. Você está manchado pelo sangue vil de seu pai. — O fogo nos olhos dela
espalhara-se para o resto de seus traços, criando uma expressão selvagem e enlouquecida. —
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Capítulo Um
Dias atuais
Koldo desceu a ala do CTI do hospital. Ele e o guerreiro com ele estavam ocultos dos olhos e
protegidos do toque humanos. Os médicos, enfermeiros, visitantes e pacientes se enevoavam
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através deles, completamente inconscientes do mundo invisível que se desenrolava ao lado deles.
Um mundo espiritual que dera origem a este mundo natural, o mundo humano.
Um mundo espiritual que era a verdadeira realidade para toda a criação.
Um dia, esses seres humanos iriam descobrir o quanto essa declaração era realmente exata.
Seus corpos iriam morrer, seus espíritos iriam subir ou descer e começariam a entender como o
mundo natural era fugaz e o espiritual, eterno.
Eterno. Assim como a irritação de Koldo parecia ser. Ele não queria estar aqui entre os
humanos, em mais uma missão tola e realmente não gostava de seu companheiro, Axel. Mas o seu
novo líder, Zacharel, queria mantê-lo ocupado, distraído, por que suspeitava que Koldo oscilava à
beira de quebrar uma lei celestial.
Zacharel não estava errado.
Depois de tudo que Koldo havia sofrido no acampamento de seu pai... Depois de escapar e
passar séculos em busca de sua mãe, Koldo finalmente a encontrou e a trancou dentro de uma
gaiola em uma de suas muitas casas.
Então, sim. Koldo vacilava. Mas ele nunca causaria nenhum dano irreversível à mulher.
Sequer se rebaixaria a quebrar uma de suas unhas. Por enquanto, simplesmente esperava lhe
ensinar o horror de ser preso pelas circunstâncias, como ela lhe ensinou. Como ainda o estava
ensinando.
Mais tarde, ele poderia... Não tinha certeza. E já não gostava de considerar o futuro.
Por causa de sua aversão a Cornelia, Koldo havia desembarcado no Exército da desgraça. Era
um nome terrível a se escolher para uma força defensiva, mas no entanto, foi um dos que se
encaixou. Os membros eram os piores dentre os piores, o pior entre os maus... Machos e fêmeas,
Enviados, que estavam em perigo de condenação.
Por vários motivos, todos os vinte soldados haviam ignorado valorizadas leis divinas. Eles
foram criados para amar, mas odiavam. Foram criados para ajudar os outros, mas realmente
apenas provocavam ferimentos. Deveriam construir, mas só destruíam.
Três meses atrás, os membros receberam o prazo de um ano para consertar seus maus
caminhos, ou seriam despojados de suas habilidades e chutados para o inferno.
Koldo faria o que fosse necessário para evitar que isso acontecesse, até mesmo negar-se à
sua verdadeira vingança. Recusava-se a perder a única casa que já conhecera.
Axel agarrou-o pelo braço, impedindo-o. —Cara! Você viu os sacos de carne naquela menina?
E lá estava a razão número um por que Koldo tinha um problema em trabalhar com Axel. —
Você conseguiria ser mais nojento?— Puxou o braço para arrancá-lo do contato com o guerreiro,
algo que ele não gostava.
—Sim,— disse Axel com um sorriso irreverente. —Eu podia. Mas alguém, e eu não vou dizer
o seu nome, K, meu camarada, precisa tirar a cabeça fora do buraco. Eu não estava falando sobre
os peitinhos dela.
Koldo passou a língua sobre os dentes. —O que, então?
—Alôooo! Os demônios dela. Olhe.
Seu olhar deslizou para o quarto à sua direita. A porta estivera deslizando para fechar, e
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agora se fechou com um clique, bloqueando a visão dos ocupantes. —Tarde demais.
—Só é tarde demais quando você está morto. Vamos. Você tem que ver isso.— Axel avançou
como um fantasma através da porta.
As mãos de Koldo se curvaram em punhos e ele lutou contra a vontade de socar uma parede.
Eles tinham uma missão, e distrações apenas estendiam o seu tempo em um lugar cheio de
demônios rindo da dor dos seres humanos que sofriam e sussurrando nos ouvidos de quem
quisesse ouvir.
Vocês não vão sobreviver, diziam. Não há esperança. E estes humanos... Tantos eram
fantoches, com mãos agarradas puxando suas cordas. Se não conseguissem lutar, se tornariam
vítimas de uma guerra entre o bem e o mal, ou nesta vida ou depois da morte. De uma forma ou
de outra.
Essa é apenas a maneira como as coisas funcionavam.
O Altíssimo dominava os céus. —Ele era na verdade uma trindade sagrada que consistia no
Misericordioso, o Ungido e o Poderoso e Ele era o Rei dos reis, a Sua palavra era a lei. Ele tinha
nomeado vários subordinados ao longo dos céus. Germanus ou Divindade, como alguns da raça de
Koldo o chamavam, referindo-se a um título, nada mais, era um desses subordinados. Um rei
responde perante o Rei.
Germanus liderava a elite dos sete. Zacharel, Lysander, Andrian, Gabek, Shalilah, Luanne,
Svana e cada um destes sete liderava um exército de Enviados. Zacharel, por exemplo, era
responsável pelo Exército da Desgraça.
Enviados pareciam exatamente com os anjos, mas não eram realmente anjos. Não no sentido
em que o mundo conhecia, pelo menos. Sim, Enviados eram alados. Sim, travavam uma guerra
contra o mal e ajudavam aos humanos, mas na verdade, eram filhos adotivos do Altíssimo, suas
vidas amarradas a Dele. Ele era a fonte de seu poder, a essência de sua própria existência.
Como os humanos, os Enviados lutavam contra os desejos da carne. Experimentavam a
luxúria, avareza, inveja, ira, orgulho, ódio, desespero. Os Anjos, na realidade, eram servos e
mensageiros do Altíssimo. Eles não experimentavam nenhuma dessas coisas.
Mente na missão.
Koldo endireitou a espinha. Zacharel encarregou a ele e Axel de matar um demônio
específico aqui no hospital. O demônio cometera o erro de atormentar um paciente que sabia
sobre o mundo espiritual em torno dele, um homem que clamou pela ajuda do Altíssimo.
O Altíssimo era o amor personificado, disposto a ajudar a quem clamasse por Ele. Às vezes,
os anjos eram despachados nessas missões, às vezes eram os Enviados. Às vezes ambos,
dependendo da situação e das habilidades necessárias. Desta vez, Koldo e Axel foram escolhidos.
Eles estavam próximos, liderando uma sessão de treinamento, quando a voz de Zacharel sussurrou
através de suas mentes, dando instruções.
Axel espreitou a cabeça através da porta e disse: —Cara! Você está perdendo isso!
—A pessoa neste quarto não é a nossa...
Sorrindo, o guerreiro, mais uma vez desapareceu.
—... Atribuição,— Koldo terminou de falar para ninguém, exceto para si mesmo. Sua ira se
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intensificou.
Controle-se.
Poderia seguir em frente e lutar contra o demônio contra o qual deveria lutar, sem problema,
mas de acordo com as ordens de Zacharel, não deveria prosseguir sem o seu parceiro.
Rangendo os dentes, marchou em frente. Deslizou pela obstrução de ferro, sem qualquer
dificuldade, parou e olhou ao redor. O quarto era pequeno, com várias máquinas ligadas à mulher
loira imóvel sobre a cama. Uma mulher ruiva sentava-se ao lado dela, conversando facilmente.
A ruiva não tinha ideia de que havia dois demônios em pé atrás dela, fingindo não ver os
Enviados no quarto.
—Dois dos caras no meu escritório começaram a discutir sobre quem poderia correr mais
rápido,— disse ela, —e logo as apostas estavam voando.
Sua voz tinha uma qualidade sussurrante, como se enchesse tudo de névoa e sonhos, e caía
sobre Koldo como mel quente. E ainda, com a sensação calmante veio um estiramento. Cada
músculo de seu corpo ficou tenso, como se estivesse se preparando para a guerra. Ele queria
lutar... Contra um ser humano tão delicado? Mas por quê? Quem era ela?
—Eu me senti como se estivesse em pé no meio do pregão de uma bolsa de valores ou algo
assim.
Risadas borbulharam dela, um riso tão belo e puro, sem nenhuma contenção. O tipo de
risada que ele nunca experimentou.
—Eles decidiram correr no estacionamento em vez de almoçar, e o perdedor teria que comer
o que quer que estivesse na vasilha de plástico na geladeira da sala de descanso. A que estava lá há
mais de um mês e que agora estava preta. Eu ouvi os gritos quando estava saindo do
estacionamento, mas não consegui ver quem ganhou.
Desejosos agora. Por quê?
—Você teria torcido pelo Blaine, tenho certeza. Ele é o mais baixinho, então não pareceria
tanto uma torre sobre você e tem os mais belos olhos azuis. Não que sua aparência tenha nada a
ver com a velocidade, mas conheço você e sei que gostaria que ele ganhasse de qualquer maneira.
Você sempre foi uma boba quando se trata de belos olhos azuis.
Ele só podia ver a parte de cima dela, mas a julgar pela fragilidade de sua estrutura óssea, era
uma coisinha pequena. Suas feições eram simples, a pele pálida como porcelana e os olhos
cinzentos como uma tempestade de inverno. Sua massa de cabelo cor de morango estava puxada
em um rabo de cavalo alto, as pontas se frisando todo o caminho até os cotovelos.
Havia um ar de fadiga em torno dela, e ainda assim, notava-se um brilho nos olhos invernais.
Um lampejo que os demônios atrás dela logo extinguiria.
Ele forçou sua atenção sobre a dupla. Um havia se postado a esquerda e outro ao lado direito
dela e ambos mantinham uma mão possessiva em seus ombros. Eram do tamanho de Koldo, com
olhos escuros e pupilas que lhe lembravam de poços sem fundo. O da esquerda tinha um único
chifre saindo do centro da testa, e tinha escamas carmesim, em vez de pele. O da direita tinha dois
chifres grossos se erguendo do couro cabeludo de cabelos escuros e emaranhados.
Havia muitos tipos diferentes de demônios, de todas as formas e tamanhos diferentes. Desde
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o primeiro do tipo, o arcanjo caído Lúcifer, ao viha, a paura, o násilí, o slecht, o grzech, o Pica e o
envexa. E, infelizmente, muitos mais. Cada um procurando a destruição da humanidade, um
homem de cada vez, se necessário.
Em meio aos tipos de demônios, havia fileiras. O da direita era um paura última geração e
sabia tudo sobre o medo. O da esquerda era um grzech nova geração e sabia tudo sobre a doença.
Demônios como esses gostavam de unir-se aos seres humanos e por meio de sussurros e
enganos, infectá-los com uma toxina que causava picos em seus níveis de ansiedade, no caso do
paura, e o sistema imunológico enfraquecia, no caso do grzech. Então, os demônios se
alimentavam do pânico que se seguia e continuavam enfraquecendo os seres humanos mais e
mais e tornando-os alvos fáceis para a destruição.
A menina deve ter sido um verdadeiro Buffet.
O quanto ela estaria doente?
O da esquerda desistiu de tentar ignorar Axel e olhou para ele enquanto dançava ao redor,
batendo em seu rosto e dizendo: —Estou batendo em você, estou batendo em você, o que vai
fazer sobre isso, hein, hein?— Com o sotaque de bom garoto do interior que às vezes gostava de
usar.
Koldo desprezava demônios com cada grama de seu ser. Não importava seu tipo ou grau, eles
eram ladrões, assassinos e agressores, assim como o povo de seu pai. Deixavam caos e confusão
em seu rastro. Eles arruinavam. E esta dupla não deixaria a menina a menos que fossem forçados,
mas mesmo assim ela poderia acolher outros.
Seu peito ardia enquanto ele mudava o foco para a menina sobre a cama. Mas... Seu olhar foi
como laser através da coberta amarrotada, a bata de hospital fina e até mesmo peles e músculos.
O que ele viu o surpreendeu.
Para ele, a loira já estava tão transparente quanto vidro, o que possibilitou que ele visse o
demônio que vermifugou seu caminho dentro do corpo dela. Outro grzech, diferente do que
assolava a ruiva. Este tinha tentáculos que se estendiam através da mente da loira e em seu
coração, drenando sua vida.
O Altíssimo frequentemente abençoava aos Enviados com habilidades específicas e
sobrenaturais durante situações difíceis, coisas como esta visão de raios-X, como ouvira outros
chamá-la. Até agora, Koldo nunca tinha experimentado nada parecido. Por que aqui? Por que
agora? Por que essa menina e não outra?
As perguntas foram ofuscadas um segundo mais tarde, quando, num piscar de olhos, Koldo
compreendeu exatamente como isso aconteceu com ela, a informação parecendo entrar
diretamente em seu cérebro.
Nascida com vinte e seis semanas, a loira e sua irmã gêmea ruiva lutaram para sobreviver aos
problemas cardíacos com os quais nasceram. Múltiplas cirurgias foram necessárias e as duas quase
morreram várias vezes. Cada vez anulando qualquer progresso já feito. Ao longo dos anos, seus
pais se pegavam dizendo, —Você tem que se manter calma ou vai ter outro ataque cardíaco.
Palavras inocentes que pensavam que serviam para ajudar as gêmeas, ou assim parecia.
Palavras eram uma das forças mais poderosas conhecidas ou desconhecidas pelo homem. O
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Altíssimo criou este mundo com suas palavras. E os seres humanos, que foram moldados à Sua
imagem, poderiam direcionar todo o curso de suas vidas com suas palavras, suas bocas eram como
o leme de um navio, como o freio em um cavalo. Eles construíam com suas palavras. Destruíam
com elas.
Eventualmente, a loira chegou a acreditar que o menor aumento em suas emoções iria
realmente causar outro ataque doloroso de coração e com sua crença, o medo dominara sua vida.
Medo, era o início da desgraça, a lei celeste afirmava que o medo de uma pessoa viria sobre
ela. No caso da loira, o medo viera na forma do grzech. Ela chamou sua atenção e foi um alvo fácil
desde então.
Primeiro, o demônio liberou sua toxina no ouvido dela, sussurrando sugestões destrutivas.
Seu coração pode parar a qualquer momento.
Ah, a dor... É insuportável. Você não conseguirá viver com isso de novo.
Desta vez, os médicos podem não ser capazes de reviver você.
Demônios sabiam que os olhos e ouvidos humanos eram uma porta de entrada para a mente
e a mente era uma porta de entrada para o espírito. Então, quando a loira aceitou as terríveis
sugestões, constantemente rolando-as através de sua mente, o medo se multiplicou e se tornou
uma verdade envenenada, fazendo suas defesas desmoronarem, permitindo que o demônio se
esgueirasse dentro dela, criando uma fortaleza e destruindo-a de dentro para fora.
Ela, de fato, tivera outro ataque cardíaco e o órgão necessário enfraquecera além do ponto
em que a medicina humana pudesse reparar.
Será que o Altíssimo queria que Koldo a ajudasse, mesmo que ela não fosse a sua missão
atual? Era isso que esta revelação queria dizer?
Suspirando, a ruiva se recostou na cadeira, atraindo a atenção de Koldo novamente. Mais
uma vez, ele viu a carne e o sangue, em vez de espírito. O dom do Altíssimo não tinha se estendido
a ela.
Não teve tempo de imaginar por quê. Uma lufada de canela e baunilha o atingiu,
rapidamente seguida pelo cheiro nauseante de enxofre. Um cheiro que a menina não seria capaz
de perceber, desde que os demônios estavam com ela.
—É hora de eu ir,— disse ela, esfregando a parte de trás do pescoço, como se os músculos
estivessem atados. —Depois te contarei quem ganhou a corrida, LaLa.
Ela teria alguma ideia de que o mal pesava sobre ela e espreitava cada movimento seu?
Saberia que estava cheia de toxina de demônio, assim como sua irmã? Que, se não lutasse,
iria acabar nas mesmas circunstâncias, os demônios parasitando o caminho dentro de seu corpo?
Koldo poderia matar Canhoto e Destro, mas, novamente, outros demônios sentiriam que ela
era presa fácil e a atacariam. Inconsciente da presença deles como ela claramente estava, se
renderia novamente.
Para qualquer tipo de sucesso a longo prazo, ele teria que ensiná-la a travar uma guerra
contra a toxina. Mas, para isso, precisaria de sua cooperação e tempo. Cooperação ela talvez não
desse. Tempo, ela poderia não ter. Mas... Talvez fosse ela quem o Altíssimo queria que ele
ajudasse. Talvez Koldo devesse salvar a ruiva do destino da loira.
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 13
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Anjos da Escuridão 02
De qualquer forma, a escolha para ajudá-la ou não, não era de Koldo. Germanus e Zacharel
poderiam emitir ordens, mas não o Altíssimo. Nem mesmo quando Ele revelava uma verdade. Ele
nunca passaria por cima do livre arbítrio.
—Você quer entrar nesta, companheiro?— Axel perguntou, começando a bater nos
demônios que agora rosnavam atrás da ruiva. —Porque estou a ponto de levar as coisas até um
próximo nível.
—Um nível acima do irritante é ainda mais irritante,— disse ele, interiormente furioso
porque já sabia que pegaria a missão. Sobrevivência sempre veio em primeiro lugar.
Por que estava furioso, afinal? Gostava do som da voz da menina, e daí? Quem era ela para
ele? Ninguém. Por que ele se importaria com ela e com seu futuro?
—Temos uma missão,— acrescentou. —Vamos terminar com isso.
Imediatamente a culpa tentou levantar-se. Não importa quem ela era ou deixava de ser, ele
era frio e insensível o suficiente para deixá-la entregue a um destino tão maligno, não era? Seu pai
teria feito a mesma escolha. Sua mãe... Não tinha certeza do que ela teria feito. Ela ainda parecia
amar a todos, exceto Koldo.
—Ah, vamos lá, Chefe,— disse Axel. —Pare e brinque, esse é o meu lema.
—Vamos lá, você— ele respondeu a Axel. —Agora!— Antes que mudasse de ideia.
—Claro, claro.— Axel forçou sua passagem por trás dos demônios e chutou um na parte de
trás dos joelhos. O outro se retorceu rapidamente para bater no lado da cabeça de Axel com um
punho forte, enviando o guerreiro voando através da parede.
Koldo entrou na frente de seu irmão quando ele voltou para o quarto, impedindo-o de saltar
em um ataque frontal. —Toque-o de novo e você vai descobrir o meu talento com uma espada de
fogo,— disse aos demônios.
Lealdade era importante para Koldo. Merecida ou não.
—É isso aí.— Axel não parecia chateado ou até mesmo sem fôlego. Ele parecia feliz. —O que
ele disse.
Koldo lançou-lhe um olhar, viu que ele erguia os punhos e estava pulando de um pé para o
outro. Axel não poderia ter milhares de anos de idade. Simplesmente não podia.
—Vocês são os intrusos aqui,— disse o demônio que tinha pensado que a cabeça de Axel era
uma bola de beisebol. Sua voz era tão irregular como vidro quebrado. —A menina é nossa.
Koldo lutou contra a vontade de ferir e mutilar os demônios enquanto se afastava, agarrando
Axel pela gola da túnica e jogando-o pela única porta para o corredor. —Eu rezo para que nos
encontremos outra vez,— ele disse aos demônios.
Eles sibilaram enquanto Koldo saia do quarto.
Axel ficou no meio do caminho, os cabelos negros voando em torno do rosto que ele adorava
afirmar que as mulheres viam em seus sonhos, porque ele o via nas próprias fantasias. Seus olhos
azuis elétricos perfuravam Koldo. —Cara! Você amassou minhas roupas.
Eles estavam de volta ao cara, em vez de Chefe. Claramente, o guerreiro não tinha ideia de
como as emoções de Koldo estavam voláteis. E cada passo para mais longe da menina escurecia
ainda mais o seu humor. —O que te importa isso? Estamos prestes a nos envolver em uma batalha,
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todos os músculos enrijecendo novamente, Koldo se deixou levar de volta para o quarto da loira
no hospital.
Só que, a ruiva já tinha ido embora.
A decepção o atingiu primeiro, seguida por uma nova maré de frustração e raiva.
Teletransportou-se rapidamente para sua casa escondida nas falésias ao longo da costa Sul-
Africana. Um piscar e a ação foi executada. Ele aprendeu muito sobre si mesmo e suas habilidades
desde que caiu no meio do acampamento de seu pai todos aqueles séculos atrás.
Um homem faria simplesmente de tudo para sobreviver, garoto. E eu vou provar isso para
você.
Palavras de seu pai e sim, Nox realmente provou o que dissera.
Apenas com isso, a frustração e a raiva transbordaram e ele rugiu. Bateu os punhos contra a
parede, uma e outra vez, embebendo os dedos em vermelho, quebrando seus ossos junto com a
pedra. Cada soco era o testemunho de uma raiva de séculos, uma dor profunda em sua alma que
nunca tinha ido embora e uma ferida purulenta que sabia que nunca cicatrizaria.
Ele era o que era.
Ele era o que seus pais fizeram dele.
Tentou ser mais. Tentou ser melhor. E a cada vez, falhou miseravelmente. As trevas
constantemente o inundavam, batendo contra uma já instável represa feita de memórias
contaminadas e emoções corrosivas. Uma represa que ele só era capaz de reconstruir depois de
explosões como esta.
A sessão de socos prosseguiu até que estava ofegante e pingando suor. Até que pele e
músculos estavam em tiras e os ossos quebrados, expostos. Mesmo assim, poderia ter dado outros
mil golpes, mas não o fez. Forçou-se a exalar com calculada precisão e imaginar uma cascata de
trevas o deixando.
A represa se refortificou.
Dores e cortes se deram a conhecer, mas isto estava bem. As batidas tinham parado. Por
agora, isso era tudo o que importava.
Marchou pela sala de estar. Ao longo do caminho, segurou a gola da túnica suja e puxou o
tecido sobre a cabeça. Deixou cair a roupa no chão, vento e orvalho girando em torno dele, sem
qualquer impedimento. Não havia portas para bloquear o vento, nenhuma janela para silenciar a
música da natureza, toda a casa estava aberta aos elementos. Melhor ainda, o teto, paredes e chão
eram formados pelos elementos, apresentando uma brilhante amostra de rocha escura.
Parou na orla com vista para uma cachoeira magnífica correndo até bater na pedra irregular
abaixo. Lençóis de pesada névoa se elevavam de um mar turbulento, envolvendo seu corpo nu.
Ele vinha até aqui quando desejava privacidade e paz. A turbulência em torno dele tinha uma
maneira de fazer sua mente parecer mais calma do que estava. O vento se intensificou, sacudindo
as esferas tecidas nas pontas de sua barba.
Houve um tempo em que ele possuía cabelos para combinar. Longo, grosso e negro, esferas
intrincadamente tecidas ao longo das preciosas mechas. Agora... Esfregou uma mão sobre a maciez
do seu couro cabeludo. Agora, ele era careca, seu precioso cabelo sacrificado em favor da
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Anjos da Escuridão 02
vingança.
Agora ele se parecia com seu pai.
Antes que pudesse deter-se, sua mente o levou de volta a uma das muitas vezes em que
estivera no fundo de um poço profundo, escuro, milhares de demônios como serpentes sibilantes
deslizando sobre seus pés que tinham sido esfolados como peixes... Em torno de seu pescoço, que
tinha sido retalhado como um tender de Natal.
Serpes eram muito parecidos com cobras e continuamente afundavam suas presas nele, por
todo o seu corpo, injetando veneno diretamente em suas veias. Mas por tudo isso ele passou
completamente imóvel, mantendo-se forte, recusando-se a algo mínimo como gemer. Seu pai
prometera remover um dedo para cada sinal de fraqueza que ele exibisse. E quando tivesse
arrancado todos os seus dedos, dissera que iria tomar suas mãos, seus pés... Braços e pernas.
Naquela época, ele ainda não havia atingido a plena maturidade, daí a razão das suas asas
não terem crescido novamente, e também teria sido incapaz de regenerar seus membros. Teria
sofrido toda a sua vida, e...
Espanou as feias memórias para o fundo de sua mente, onde pertenciam. Então, seu pai o
torturou por onze anos. E daí? Ele foi resgatado por outros Enviados e mais tarde se tornou parte
daquele mesmo exército. Não no que ele estava no momento, mas um diferente, comandado por
Ivar, já falecido. Naquela época, Ivar era o melhor da Elite e estar sob seu comando foi uma honra.
No entanto, em uma explosão de temperamento muito parecida com a que acabou de
demonstrar, Koldo jogou fora essa oportunidade, superando Ivar na frente de seus homens.
O arrependimento ainda o perseguia. Tal falta de respeito por um homem tão admirável...
Koldo foi expulso do exército e deixado por conta própria por um tempo. Usou o tempo livre
para voltar até o acampamento de seu pai e destruir a tudo e todos.
O único grande dia de sua vida.
Estendeu a mão e agarrou a rocha acima dele. Agora eu sou parte deste novo exército,
liderado por um homem, uma vez conhecido apenas como Gelo. Amanhã, Zacharel teria outra
missão para ele, uma muito abaixo de seu nível de habilidade. Koldo sabia disso, porque seu líder o
enviou todos os dias pelas últimas três semanas, não permitindo que ele tivesse tempo para
quebrar nenhuma lei celestial e precipitar um julgamento sobre a sua cabeça. Pelo menos,
supostamente.
Koldo podia mentir.
Koldo podia roubar.
Koldo podia matar.
Podia fazer qualquer das outras coisas que a sua espécie não poderia fazer. Mas ele não faria
isso.
Felizmente, não teria que se preocupar em ser emparelhado com Axel. Zacharel gostava de
atribuir-lhe um novo parceiro para cada nova missão, provavelmente para mantê-lo fora de forma.
Infelizmente, estava funcionando.
E, no entanto, havia uma luz brilhante, ele percebeu. A menina do hospital em Winchita,
Kansas. A ruiva. Ele ainda queria vê-la.
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Anjos da Escuridão 02
Certamente ela não era tão pequena quanto ele parecia se lembrar. Por tudo o que sabia, ela
possuía pernas longas e ágeis de uma dançarina. Certamente seu cabelo não era da cor de doce de
morangos. Tinha que ser de um vermelho bombeiro ou um loiro escuro comum. Certamente
imaginara a pureza do seu tom. Certamente.
Endireitou-se, a antecipação ofuscando tudo. Ele tinha que saber, o desejo era uma entidade
viva dentro dele.
Primeiro, porém, teria que caçá-la.
Capítulo Dois
Koldo passou o resto da noite vasculhando os arquivos celestes mantidos sobre todo humano
que já viveu e aprendeu várias coisas interessantes sobre a loira e a ruiva. A menina em coma era
Laila Lane e a outra, a que ele queria observar, era Nicola Lane. Tinham vinte e três anos, gêmeas,
com Nicola sendo a mais velha por dois minutos, e solteiras.
Tão jovem. Muito jovem.
As duas eram idênticas. A única razão para Laila ter o cabelo loiro era porque ela o clareou,
na esperança de ser única. As meninas não tinham família, e se apoiavam apenas uma na outra.
Seus pais morreram em um acidente de carro há cinco anos.
Koldo saiu da biblioteca e se teletransportou para o quarto de Laila no hospital. Mais uma
vez Nicola não estava em nenhum lugar a vista. Mas não estava preocupado. Segundo as fofocas
das enfermeiras, ela vinha todos os dias. Ele tinha apenas que esperar.
Caminhou até a beirada da cama. Desta vez, o dom concedido pelo Altíssimo não estava em
operação, por isso, quando olhou, viu a loira em vez de ver o demônio escondido debaixo de sua
pele.
A visão era quase tão ruim.
O cabelo dela estava ressecado, fino e emaranhado. Havia olheiras sob os olhos e os lábios
estavam rachados. A pele estava severamente amarelada, o fígado, obviamente, falhando.
Ela não iria durar muito mais tempo.
A Água da Vida era um líquido poderoso capaz de reparar a carne humana mais danificada e
era a única coisa capaz de salvá-la. Serviria também para livrá-la do demônio. Mas seus
pensamentos, palavras e ações eram o que influenciariam seu sucesso contínuo.
O grzech poderia retornar para ela e tentar envenená-la novamente. Assim, mesmo se Koldo
a alimentasse com a água, ela teria que aprender a lutar contra as forças do mal e então realmente
lutar. Ela estaria disposta a se envolver neste tipo de batalha?
Talvez sim. Talvez não. De qualquer maneira, Koldo não estava disposto a sofrer e sacrificar e
teria que fazer isso para se aproximar da margem do Rio da Vida. Primeiro, seria chicoteado.
Segundo, seria forçado a desistir de algo precioso para ele. Na última vez ele abriu mão do seu
cabelo. E não havia nenhuma pista do que seria convidado a dar na próxima vez. Sua capacidade
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2Pelo fato de serem os mesmos demônios que acompanhavam Nicola e eles sempre tomarem a mesma posição ao lado dela, um a
direita e outra a esquerda, Koldo os apelidou de Destro e Canhoto.
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seu cérebro apodrecido. Então, Koldo teletransportou-se para trás dele, chamando a espada de
fogo, já a balançando. O demônio se atirou para frente, ficando abaixado. Mas não o suficiente. O
cheiro de fumaça e enxofre encheu o ar. Um estrondo soou. Um dos chifres da criatura agora
estava faltando.
Com as feições contorcidas de raiva, o demônio pulou para ficar sobre os cascos, sangue
negro escorrendo por seu rosto, do nariz quebrado. Rugindo, ele se lançou. Gingando para a
esquerda, pulando para a direita, Koldo entrou na dança da batalha. O demônio sabia quando e
para onde se mover, às vezes conseguindo evitar lesões. Pareciam dançar um tango, de um lado do
quarto ao outro, de parede a parede, no chão, no teto, rolando na cama, caindo sobre Nicola
enquanto ela continuava a conversar com sua irmã, não demonstrando nada, sequer um ofego na
respiração.
Koldo soltou a espada e pegou um punhado de pelos no peito do demônio. Lançou a criatura
através da parede. Um segundo depois, o demônio correu de volta para dentro do quarto.
—A menina é minha,— o demônio rosnou, fazendo um círculo ao seu redor. —Minha! E
nunca vou deixá-la ir.
—Você foi tolo quando decidiu seguir Lúcifer, em vez do Altíssimo e é tolo agora, se acha que
pode me superar. Você luta em nome de um lugar de derrota e sempre lutará.— Há muito tempo,
o Altíssimo tinha esmagado todas as forças do inferno. Mas ainda assim as criaturas atacavam os
humanos, determinados a ferir aqueles que o Altíssimo amava.
E o Altíssimo amava todos os humanos. Ele queria adotá-los, como fizera com os Enviados.
Um silvo de raiva soou. —Eu vou mostrar-lhe a derrota!— Ao invés de iniciar um ataque em
grande escala, o demônio recuou um passo atrás, dois... Três. Um lento sorriso levantou os cantos
de seus lábios. —Sim, eu vou mostrar-lhe a derrota. Muito, muito em breve.— Com isso, ele
desapareceu através da parede.
Koldo esperou, em prontidão, mas o demônio nunca mais voltou. Sem dúvida, tinha ido
recrutar alguns de seus amigos.
Estarei preparado.
O único problema era, muito, muito em breve, não dizia nada a Koldo. Em seu reino, um dia
poderia ser tão longo como mil anos, e mil anos poderiam ser curtos como um dia.
—O que diabos está acontecendo?— Nicola exclamou. —É como se duas pedras tivessem
sido tiradas dos meus ombros.— Enquanto falava, um sorriso iluminava seu rosto inteiro,
transformando-a de simplória a primorosa. Sua pele pálida assumiu um brilho radiante, seus olhos
tornando-se da cor do verão em vez de inverno.
A umidade na boca de Koldo secou.
—Oh, Lala! É maravilhoso!
Maravilhoso, sim, mas a toxina ainda fluía por suas veias. Isso teria que ser tratado.
Ele teria que encontrar uma maneira de revelar-se delicadamente a ela, algo que nunca
fizera com um humano. E teria que conquistar sua confiança, algo que nunca antes se importara
em tentar. Mas quando? Como? E como ela reagiria?
Seja astuto como uma serpente e ainda assim, tão inofensivo quanto uma pomba, Germanus
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Anjos da Escuridão 02
Capítulo Três
No dia seguinte,
O elevador soou e as portas duplas se abriram. Nicola Lane entrou no pequeno recinto,
aliviada ao descobrir que estava sozinha. Estava...
Não estava sozinha, percebeu com um choque de surpresa. Oh, uau. Certo. No canto mais
distante, um homem muito alto e muito musculoso se moveu entre as sombras. Como poderia não
tê-lo visto, mesmo que por um segundo?
As portas se fecharam, selando-a dentro com ele. Eu não julgo pela aparência exterior. Eu
realmente não julgo pela aparência exterior. Mas, oh, uau, uau, uau, ele tinha que ser um Viking
viajante no tempo que foi enviado aqui para raptar mulheres modernas para levar para seus
homens em casa, porque tinham matado todas as mulheres de sua aldeia.
Estou assistindo muita TV.
Ele certamente exalava uma vibe de todo perigoso o tempo todo. E agora, já era tarde demais
para evitar uma possível pilhagem.
Seu coração acelerou, a batida descompassada deixando-a tonta.
—Andar?— Ele perguntou, a voz profunda cheia de bordas mais irregulares como um
espelho quebrado.
—Térreo,— ela conseguiu responder, e ele apertou o botão indicado.
Foi um milagre o elevador inteiro não se soltar, pela força que ele usou.
Houve uma agitação exagerada e o carro começou a descer. O cheiro do céu da manhã —e,
isso poderia ter sido mera fantasia de sua parte — e arco-íris encheram o pequeno recinto, em
cada lufada de ar que vinha do homem. Esta era, muito possivelmente, a melhor colônia que ela já
cheirou e como as mulheres nos comerciais da marca AXE, teve que lutar contra o impulso de
inclinar-se para ele e cheirar seu pescoço.
E ele simplesmente não adoraria isso? Exigiria saber o que diabos ela estava fazendo, ela
entraria em pânico e seu coração falharia, como o de Laila fizera... E... E... Não iria pensar em sua
bela e preciosa Laila agora. Não iria pensar em perder outro ente querido. Primeiro sua mãe, pai e
irm... Não, não iria pensar nisso, também. Acabaria desmoronando.
E aquele calor delicioso vinha do Viking, também? Pela primeira vez em anos, Nicola se
sentiu envolvida por calor, o frio de seus medicamentos e má circulação finalmente expulsos.
O homem se virou e encostou-se à parede, totalmente de frente para ela. Nesse momento,
ela decidiu que muito alto e muito musculoso não era uma descrição adequada para ele. O mais
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Anjos da Escuridão 02
alto e o mais musculoso homem que ela já tinha visto pessoalmente ou na TV funcionava melhor,
mas, novamente, a descrição não conseguia captar a essência de sua absoluta amplitude. Ele. Era.
Enorme.
E tudo bem, sim, ele também era muito bonito, apesar de sua aura assassina e saqueadora.
Tinha a pele bronzeada, a cabeça careca brilhante e uma barba preta amarrada por três esferas de
cristal. Seus olhos eram de um tom surpreendente de dourado e encimados por duas sobrancelhas
grossas com um proeminente arco destacado no centro. Usava uma camisa e calça de linho branca
e cada peça de roupa caía de forma fluida como a água. Havia um par de botas de combate em
seus pés.
E ela estava estudando-o como se ele fosse um inseto em um microscópio, percebeu,
horrorizada com seu próprio comportamento. Nicola tinha ido muitas vezes à escola com eletrodos
colados ao peito e tubos saindo da roupa, então conhecia a dor de um observador de olhos fixos e
arregalados. Sua atenção se fixou sobre os brilhantes tênis rosa que sua irmã gêmea lhe dera no
seu aniversário no ano passado.
—Sou bastante grande, eu sei,— disse ele com um sotaque que não conseguiu identificar.
Pelo menos ele não pareceu ofendido.
Ainda assim, seu estômago pareceu cair no fundo de um poço. Ele percebeu seu exame
sobre ele e agora procurava... Confortá-la por sua grosseria? Muito inesperado e doce. Bem, então,
ela seria corajosa.
Levantou o queixo e forçou-se a encontrar o seu olhar. —Talvez eu seja apenas
surpreendentemente pequena,— disse ela, tentando apelar para o humor.
Suas pálpebras se estreitaram ameaçadoramente, escondendo todo aquele ouro, deixando
apenas o preto das pupilas. —Não minta, mesmo através de insinuação. Nem por qualquer motivo,
nem mesmo para ser boa.
Seus dedos ficaram dormentes e seu coração mais uma vez vibrou. Ele estava bem com o
fato de ser encarado, mas brincar era uma ofensa mortal. Bom saber.
—Mentiras são a linguagem do mal, — acrescentou em um tom mais suave.
Um tom suave, mas ainda intenso.
O elevador parou, as portas se abriram e um homem baixo e corpulento deu um passo para
dentro.
—Você vai pegar o próximo elevador,— anunciou o grandalhão.
O homem menor congelou instantaneamente. Lambeu os lábios, recuando. —Quer saber?
Está certo. Farei isso. — Ele girou e se afastou apressado.
Por um momento, Nicola considerou segui-lo. Teria sido educado e teria sido sábio. E os dois
nunca mais se cruzariam. O fato de que o Viking queria ficar a sós com ela não poderia augurar
nada de bom.
As portas começaram a se fechar. Agora era a sua chance de correr.
Mas... Não poderia fazê-lo. —Você não gritou com ele, — ela ressaltou, sem saber por que
estava tendo problemas para manter o silêncio e por que tinha ficado. —Você parece que grita em
qualquer oportunidade.
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—Eu não gritei com você também, — ele disse com uma careta. Um momento se passou. Ele
acenou com a cabeça como se tivesse acabado de perceber algo importante. —Você é sensível.
Vou ser mais cuidadoso.
O que, ele temia sua ira?
Ele a estudou tão intensamente como ela fizera com ele, fazendo-a se contorcer. —Você
mede um metro e cinquenta e oito, não é?
—E meio, muito obrigada. — Ela nunca esquecia aquela metade muito importante!
—É uma altura mais ou menos decente para uma mulher, eu acho.
—Para um menino de oito anos também. — Ela resmungou.
—Não qualquer um que eu saiba, — respondeu ele, impassível.
Ele estava provocando-a? Ou era simplesmente brusco assim?
Finalmente o elevador parou de vez e as portas se abriram para o saguão. Seu companheiro
educadamente acenou para que ela saísse primeiro. Ela ofereceu um sorriso confuso, disse —
Obrigada— e saiu — viva.
Quase sozinha, pensou melancolicamente. Seria capaz de selecionar através de seus
pensamentos e descobrir o que faria quando sua irmã... Quando Laila...
Não podia pensar na palavra, embora soubesse que isso iria acontecer mais cedo ou mais
tarde. Um ato de misericórdia para Laila. Outra tristeza para Nicola. Não tinha certeza de quantas
mais poderia suportar e ainda sobreviver.
A maioria das pessoas com a sua condição e coração subdesenvolvido morria no final da
adolescência. Mas ela e Laila duraram até os vinte e poucos anos, um verdadeiro milagre e ela
deveria ser feliz com o tempo que tiveram juntas. E no entanto, ela queria mais. Para ambas. Laila
não estava satisfeita com sua vida e uma pessoa devia estar satisfeita antes de morrer. Certo?
Nicola apenas... Bem, ela precisava decidir sobre um plano de ação para hoje. Por uma vez,
sua mente não estava envolta por um espesso véu de medo e ansiedade. E por que as pessoas
estavam olhando para ela como se ela fosse um monstro horrível e bestial determinado a...
Não estavam olhando para ela, percebeu, mas para o homem ao seu lado. O gigante do
elevador. Nicola parou, e ele também. Ele não conseguiu manobrar em torno dela, como se sua
leve presença de alguma forma bloqueasse seu caminho. Encarou-o totalmente, ancorando as
mãos nos quadris. Ele se afastou três passos e ela se viu tremendo toda novamente.
O calor vinha dele.
Ele olhou para ela, os olhos dourados emoldurados pelos mais negros e mais exuberantes
cílios de todos os tempos, tão inesperado naquele rosto confuso de guerreiro viajante no tempo.
—Posso ajudá-lo?— Ela perguntou.
—Não, mas você pode tomar um café comigo.
Não, ele disse. Significando que ela não poderia ajudá-lo. Ele realmente levava a sério a coisa
da honestidade. E ele tinha acabado de... Convidá-la para sair? —Por que você iria querer fazer
isso?— Ela perguntou em voz alta. E por que não tinha simplesmente dito não? Ela deveria voltar
ao trabalho, tipo, em breve. A hora do almoço estava quase acabando.
—Eu não estou pronto para ir para casa.
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Ah. Não era um encontro, então. Ele simplesmente ansiava por uma distração do que quer o
tivesse levado para o Palácio das Lágrimas e da Morte e, oh, ela poderia entender isso. E não
estava desapontada por ele não querer nada romântico com ela. Realmente. Sua mãe tinha razão.
Meninos eram sinônimo de excitação e excitação era sinônimo de outro ataque cardíaco. E, de
verdade, não sentira falta dos meninos e da excitação tanto assim porque sempre teve Laila. Mas
Laila estava... Estava...
—Um café parece ótimo,— ela resmungou, enquanto seu queixo tremia. Claramente ela
precisava de uma distração, também. O planejamento poderia esperar. Então, poderia funcionar.
Agarrar-se fora deste poço de auto-piedade era mais importante. —Há uma pequena cafeteria no
final deste corredor.
Ele deu um passo ao lado dela e todo aquele calor delicioso retornou. Eles se puseram em
movimento, ganhando vários olhares e até mesmo alguns sussurros. As pessoas deveriam estar
chocadas com a diferença em seus tamanhos e ela não podia culpá-los. O topo da cabeça de Nicola
não conseguia chegar aos enormes ombros do homem.
—Então, qual é o seu nome?— Ela perguntou.
—Koldo.
Cold-oh. Deveria ser estrangeiro. —Eu sou Nicola.
—Nicola. Latim, que significa Um Povo Vitorioso.
Viraram a primeira esquina, embora o cenário não mudasse. Todos os corredores eram
iguais: branco e prata, com sinais afixados ao longo das paredes. —Hum, você acabou de olhar
secretamente seu telefone celular. Eu não posso ver ou você já sabia o significado?
—Eu sabia.
—Por quê?
—As palavras que falamos são importantes, poderosas e desde que nomes são falados todos
os dias, dirigidos a pessoas específicas, as pessoas muitas vezes se tornam o que são chamadas. Eu
gosto de saber com quem estou lidando.
Bem, ela não iria dizer-lhe que era a pessoa mais derrotada desde sempre e quebrar suas
ilusões. —O que Laila quer dizer?
—Beleza Sombria.
Interessante. Laila era justa, mas também era linda. —O que Koldo quer dizer?
—Guerreiro famoso.
Um guerreiro, como ela presumira pela primeira vez? Ela se perguntou se ele estava no
exército. —Você é realmente famoso?
—Sim.
Sem hesitação. Sem orgulho. Em sua mente, ele pareceu simplesmente ter indicado um fato.
Ela admirava sua confiança.
—Então, o que você faz, Koldo?
—Estou no exército.
Acertou em cheio!
Duas esquinas mais e chegaram à cafeteria. Ele a dirigiu a uma mesa vazia. —O que você
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gostaria, Nicola?
O nome dela em seus lábios... Um abraço e uma maldição, tudo em um. Foi um pouco
desconcertante. —Oh, eu aceitaria...
—Você não vai se oferecer para me dar dinheiro e me insultar,— disse ele e pela primeira vez
parecia genuinamente ofendido. —Agora, então. Vamos tentar de novo. O que você gostaria? Eu
vou pagar.
Ela sorriu. Ninguém jamais insistiu em pagar-lhe algo para beber. A maioria das ofertas vinha
dos colegas que sabiam sobre sua situação e eram simbólicas. No momento em que ela
mencionava que pagaria sua própria conta, a outra pessoa imediatamente concordava. —Um chá
de ervas, por favor. Algo sem cafeína. E muito obrigada.
Um aceno de cabeça, e ele estava longe, deixando-a gelada. Ela observou quando ele se
aproximou do balcão. Viu como o caixa estranho o olhou com fascinação absoluta. Ele não pareceu
notar enquanto fazia o pedido e esperava pelas bebidas... E muffins e biscoitinhos e croissants e
outros parecidos.
Que tipo de mulher chamaria sua atenção? Ela se perguntou.
Uma que tivesse o tipo guerreiro, provavelmente. Forte, capaz, com ossos grandes o
suficiente para suportar qualquer tipo de abuso, quer dizer, contato.
Ele voltou alguns minutos depois e espalhou um verdadeiro buffet de festa diante dela, o
cheiro de frutas, fermento e açúcar elevando seu aroma e deixando-a com água na boca. Ela não
comia há muito tempo, ao que parecia, porque estivera consumida pela preocupação por Laila, o
medo pelo pagamento das contas que não tinha sequer começado a listar e, bem, tentando não se
afogar em um mar de desespero.
Hoje era diferente, porém. Mesmo tão aborrecida como estava, sentia-se melhor do que
estivera em um longo, longo tempo, e seu estômago roncou.
Com as bochechas ruborizadas, pegou o chá e bebeu o líquido escaldante, saboreando sua
doçura. — Sério, Koldo. Isso significa muito para mim. Mil vezes obrigada não seria o suficiente.
—O prazer é meu, Nicola.
Tão educado. Ela gostava disso.
E os gostos certamente superavam os desgostos agora, não é?
—A comida é para você, também,— ele disse, empurrando um muffin em sua direção.
Seus olhos se arregalaram de espanto. —Tudo isso?
—É claro.
É claro, ele tinha dito. Como se ela estivesse acostumada a comer por uma legião inteira.
—Você precisa manter suas forças,— acrescentou. —Neste momento, você está muito
pálida, muito frágil.
Ela não se sentiu insultada. Ela estava pálida e frágil. Nicola escolheu um dos croissants,
pegando-o por uma ponta quente e amanteigada. —Então... Você estava aqui visitando alguém?
—Sim.
Embora esperasse com atenção, ele não ofereceu mais do que isso. —Eu sinto muito.
—Não sinta. Eu não sinto.
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Anjos da Escuridão 02
Eeeee... Novamente ele não ofereceu nada mais. —Você vem sempre aqui?
—Esse poderia ser o plano, sim.
Silêncio.
Muito comunicativo? Mas tudo bem, nenhum problema. Eles realmente não estavam aqui
para conhecer um ao outro, certo? Estavam aqui para esquecer suas vidas, mesmo que por pouco
tempo. —Estou sempre aqui. — Todos os dias, na verdade.
—Talvez nós nos vejamos outra vez.— Ele levantou uma fumegante xícara de café aos lábios
tão inchados e vermelhos como maçãs doces e bebeu. Sua expressão não mudou, a forte
temperatura da bebida, de alguma forma não chegando ao ponto de fusão e soldando sua língua
no céu da boca.
—Talvez,— ela ofereceu.
Mais uma vez, silêncio.
O que se supunha que as garotas deveriam falar com os garotos quando eles não estavam
interessados nelas romanticamente? Porque, se ela tivesse que ser honesta, algo que
definitivamente ele aprovaria, isto era doloroso. Não era o que ela esperava ou desejava.
—O que você faz quando não está aqui, Nicola,— ele perguntou, finalmente tomando as
rédeas da conversa.
Aliviada por seus esforços, ela relaxou em seu assento. —Eu trabalho como contadora todos
os dias da manha à tarde.— Um trabalho garantido para manter a pressão arterial estável. Ela
podia processar números, classificar recibos e elaborar um plano financeiro para obter redução de
gastos. Ninguém melhor do que ela mesma, era fato. Ela ainda estava administrando as dívidas de
seus pais e as próprias e os custos médicos de Laila ainda estavam se acumulando. —E sou caixa de
um mercado de alimentos orgânicos todas as noites e nos fins de semana.
—Nenhum desses trabalhos surgiram a partir de um sonho de infância.
Não, mas os sonhos morrem... E se você não for cuidadoso, os fantasmas assombram o seu
presente. —Por que você acha isso?— Ela não gostava dos seus empregos, mas sempre fizera o
necessário para sobreviver.
—Eu sou muito observador.
E bastante modesto.
—Então, o que você gostaria de fazer?— Perguntou.
Por que não dizer a verdade? —Eu gostaria de viver, — disse ela. Realmente viver. —Queria
viajar pelo mundo, saltar de aviões, dançar em cima de um arranha-céu, mergulhar em um mar
profundo em busca de tesouros e ter um elefante de estimação.
Ele inclinou a cabeça para o lado e progressivamente encontrou seu olhar. —Interessante.
Porque ela mencionou atividades ao invés de uma carreira? Bem, havia uma razão para isso.
Ela nunca teria certeza de quanto tempo iria viver, então, uma carreira parecia sem sentido. —E
você?— Ela perguntou. —O que você quer fazer?
—Eu estou fazendo. — Ele se recusou a desviar o olhar. —Você ainda pode fazer todas as
coisas que mencionou.
—Na verdade, não posso. Meu coração não poderia suportar. — Deixou-o pensar que seus
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Anjos da Escuridão 02
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Capítulo Quatro
Determinado a provar seu ponto de vista a Nicola, Koldo se teletransportou para fora do
hospital direto a sua casa subterrânea em West India Quay. O local de sua maior vergonha.
O lugar onde ele mantinha sua mãe.
A caverna pequena e escondida era iluminada por um suave brilho verde que emanava de
um lago com água não contaminada pela vida humana. Ar tão fresco que literalmente crepitava
com a vitalidade que o envolveu.
Assim como a casa na África do Sul, ele não mantinha muitos móveis aqui, nenhum enfeite
nas paredes, nada de decorações e sem comodidades de qualquer tipo. Ao contrário da outra casa,
nesta havia uma jaula, uma vasilha de comida, uma de água e um cobertor. Ele teria dado uma
cama para sua mãe, mas ela nunca tinha dado uma a ele.
—Bem, bem,— disse ela. —Olha quem voltou.
E lá estava ela. Cornelia. Um nome que significava chifre. E ela era certamente isso. Afiada e
mortal, capaz de perfurar o coração de um homem e friamente observar de pé enquanto sua vida
era drenada.
Ela sentava-se no canto da jaula, usando uma túnica feita por mãos humanas e tecido
natural. Uma que Koldo tinha lhe jogado depois de arrancar-lhe a que tinha sido feito nos céus, as
vestes que seu povo usava que poderia limpar a si mesmas e seus usuários. Mas ele não queria
que Cornelia se sentisse purificada de nenhuma forma. Queria que ela soubesse qual era a
sensação de sujeira que nunca poderia ser limpa.
Sua pele era pálida, suas sardas um grande contraste. Seu longo cabelo tinha sido cortado e
agora caia sobre as orelhas, os cachos emaranhados e saindo em espigas. Ele não era o único a
intentar este feito. Algumas semanas atrás, ela havia sido capturada por uma horda de Picã e
arrastada para o inferno em uma tentativa de forçar Koldo a trair Zacharel. Ele não o traiu.
Resgatou-a ao invés disto.
Não tinha ideia do que fora feito a ela, só que a tortura de fato, ocorreu. Quando a
encontrou, ela estava pairando à beira da morte, que foi a única razão que ela não lutara com ele
quando a medicou para restituir sua saúde. Agora, lá estavam eles.
Ela, cheia de ódio como sempre.
Ele, surpreendentemente insatisfeito com a situação.
Como uma criança presa sob o domínio do pai, ele sonhara castigá-la das piores maneiras. E
3Selah é uma palavra usada 71 vezes nos Salmos hebraicos, e é um conceito difícil de traduzir. A Bíblia Amplificada traduz como
Pare e pense sobre isso.
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ainda queria. Oh, mas como ele queria. O desejo sempre estava lá, queimando em seu peito. Mas
não o faria. Não podia fazer isso. Permitia-se fazer pequenas coisas, como negar-lhe cama e roupas
adequadas, mas nada mais. Ele não era em nada parecido com ela e todos os dias provava isso. Ele
viria aqui, lutaria contra o impulso de fazer algo e depois sairia.
Um homem sábio teria melhor critério do que sequer se aproximar da porta da sua tentação,
mas Koldo ainda não se convenceu de que devia deter-se.
—Olá, mamãe.
Ela puxou o ar em um ofego. —Eu deveria ter cortado sua língua quando tive a chance— Ela
jogou uma pedra nele. A pedra ricocheteou em seu ombro e caiu no chão.
—Assim como deveria ter me afogado. Eu sei.
Seus olhos se estreitaram, os longos cílios se juntando e escondendo o profundo violeta que
ele tantas vezes vira em seus pesadelos. —Eu não tinha estômago para tal violência na época. Mas
seu pai... Eu esperava mais dele. Ele deveria ter feito o que eu não consegui.
—Oh, nunca duvide de que ele tentou. — Muitas vezes.
Koldo pensou novamente no dia em que Cornelia voou com ele sobre o acampamento de
seu pai e o deixou cair ali. Tão fraco e agonizante como estava, o pouso doeu mais do que a
eliminação brutal de suas asas.
Um homem enorme, careca, com mais músculos e cicatrizes que Koldo já tinha visto
marchou em sua direção. Cornelia gritou, — Conheça o seu filho, Nox. Talvez vocês possam se
destruir um ao outro, — antes de levantar voo.
Nox. Um nome que significava noite.
Koldo desmaiou segundos depois, apenas para despertar no chão de uma tenda espaçosa, o
careca pairando sobre ele, sorrindo amplamente, os olhos tão negros como o seu nome indicava.
—Você é meu filho, não é? Criado por um anjo benfeitor.
Sua mãe? Uma benfeitora?
—Aposto que você está cheio de ideias tolas sobre o certo e o errado, — Nox continuou. —
Não é, rapaz?
Concentrar-se nas palavras tinha sido difícil. Tudo dentro de Koldo tinha gritado para ele
correr e nunca olhar para trás. Mas estava preso dentro de um corpo fraco demais para se mover
ou teletransportar. Tudo o que podia fazer era ver como os finos novelos de fumaça flutuavam dos
poros do macho, impregnando o ar com enxofre.
Foi quando a realização bateu com a força de uma colisão em Koldo. Um careca, de olhos
sem fundo e fumaça preta poderia significar apenas uma coisa. Nefas. Seu pai vinha de uma das
mais perigosas e vis raças existentes. Uma raça que se esgueirava entre os seres humanos,
envenenando lentamente, dolorosamente... Destruindo totalmente. Uma corrida sem consciência.
Uma corrida como os demônios gostavam.
Os Nefas eram traficantes da morte. Sugadores da alma.
A idade de suas vítimas nunca importava. O sexo de suas vítimas nunca importava. Eles
viviam de infligir dor. Matavam. E riam ao fazê-lo.
—Não se preocupe, — o homem dissera. —Você pode desaprender.
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Nox queria que Koldo abraçasse o modo de vida dos Nefas e Koldo resistiu... No início. Mas
cada vez que tentou escapar, teletransportando-se para longe, seu pai estivera junto aos seus
calcanhares, facilmente o encontrando e arrastando de volta, punindo-o. Uma vez, Nox o amarrou
e derramou ácido em sua garganta. A vez depois desta, Nox arrancou um dos seus olhos e
prendeu-o na barra de sua gaiola, para que ele pudesse observar a si mesmo observando a si
mesmo. Koldo teve que reconquistar o olho e colocá-lo de volta no lugar. Até então, ele já era um
pouco mais velho e foi capaz de curar-se parcialmente. Ainda assim, sua visão nunca mais foi a
mesma.
Amargura e ódio criaram raízes dentro dele. Por que ele? Por que ninguém o salvava?
Quanto mais ele seria forçado a suportar?
Por fim, perdeu a vontade de lutar. Tinha se rendido. Invadira aldeias. Ajudara seu pai e os
outros soldados a colar suas bocas sobre as de suas vítimas e sugar suas almas inocentes, deixando
apenas cascas sem vida.
Um homem devia fazer de tudo para sobreviver, garoto.
Foi a única das lições de seu pai que ele levou a sério.
Agora, Koldo tinha certeza que havia passado do ponto da redenção. Poderia ter lutado mais.
Deveria ter lutado mais. O fato de não tê-lo feito... A culpa sempre o montava e a vergonha sempre
o enchia.
Tinha muitas lembranças. Aquelas do tipo sombrias que nunca iam embora. Cada uma delas
fazendo muito para arrancar seus olhos, apenas para apagar sua linha de visão, ou cortar suas
orelhas, só para calar os gritos.
Ao longo dos anos ele fizera um nome famoso o suficiente para chamar a atenção de
Germanus. Um exército de Enviados voara para o acampamento de seu pai para destruir Koldo,
viram as cicatrizes em suas costas e erroneamente assumiram que ele não era Nefas, pois em
Nefas não poderiam crescer asas e Koldo, obviamente, as tivera em algum momento. Então, os
soldados o capturaram, ao invés disto.
Esta foi o início de sua nova vida.
Germanus, um nome que significa irmão, poderia ter e provavelmente, deveria tê-lo matado,
apesar de suas origens.
Koldo tinha sido feroz. Ele rosnou, amaldiçoou e atacou quem se aproximava dele. Depois de
todas as coisas que fizera, depois de todas as pessoas que matara, ele deveria perdoar-se e adotar
a atitude de benfeitor? Impossível!
Mas Germanus havia olhado mais profundo do que a superfície e viu a vergonha e culpa nos
olhos de Koldo. Emoções cruas e intensas, mesmo passado todo aquele tempo.
O rei dos Enviados passou os próximos anos persuadindo Koldo a diminuir sua fúria, fazendo
o melhor para consolar um macho jovem com um passado tão danificado, garantindo que Koldo
fosse treinado para lutar da maneira certa, que tivesse um lugar seguro e confortável para dormir,
que sempre tivesse uma boa refeição para comer.
Tinha sido a primeira experiência de Koldo em carinho e preocupação real e ele logo
aprendeu a amar Germanus. Morreria para protegê-lo.
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—Por que você acasalou com Nox?— Ele perguntou a sua mãe enquanto andava ao redor da
gaiola.
—Por que não? Ele era um homem muito bonito.
Algumas mulheres poderiam achar um macho tão perigoso atraente, Koldo supunha. Apesar
da careca e dos olhos mortos, ele tinha o rosto mais bonito do que qualquer outro que Koldo já
tinha visto. A pureza dos traços, um brilho que a maioria dos seres só podia sonhar.
—Você esperava domá-lo? Achava que seria aquela que o mudaria?
Cornelia empurrou-se para ficar de pé, mantendo sempre seu olhar sobre ele, nunca se
permitindo dar-lhe as costas, onde suas belas, brancas e douradas asas repousavam. Ela esperava
que ele as arrancasse. Estava certa de que o faria. Era uma de suas maiores tentações.
—O mal não pode ser alterado, — disse ela.
—Ele te traiu com outra? Uma de sua própria espécie, talvez? Uma fêmea mais adequada aos
seus gostos particulares? Ou, talvez, ele se virou para muitas outras mulheres.
—Cale-se.
Mas ele não podia. Estava se aproximando da verdade. Mesmo enquanto um enjoo revolvia
seu estômago, ele disse: — Ele costumava rir de você, sabe. Dizia que você o amava, que implorou
para que ele ficasse com você, que ficasse para sempre com você. Disse que chorou quando ele
partiu. Disse que...
—Cale-se, cale-se, cale-se!— Gritou ela, correndo para as barras onde Koldo estava. Ela as
sacudiu com tanta força que ficou surpresa pelo metal reforçado ter se mantido estável.
A ferocidade de sua reação deveria tê-lo agradado. Era o que sempre quis dela, depois de
tudo. Frustração, raiva. Desamparo. Espelhando o que ele sentira por tantos anos. Mas o mal estar
se intensificou. Como ele podia fazer isso a uma mulher? A qualquer mulher?
Como poderia ferir outro de sua espécie?
Ela cuspiu em suas botas. —Eu odeio você. Eu te odeio tanto que mal posso respirar através
desta sensação. Eu te odeio tanto que prefiro apodrecer nesta jaula do que fingir que te amo ou
dizer que sinto muito pela maneira como te tratei. Eu não sinto! Nunca vou sentir. Você era uma
abominação antes e é uma abominação agora. O dia em que você morrer será um dia em que eu
me rejubilarei.
Mágoa e fúria se juntaram à colcha de retalhos de suas outras emoções, a escuridão em sua
mente se espessando, mais uma vez batendo contra a represa. Ele deu um passo para trás, para
longe dela, para se impedir de atacá-la e acabar com ela, tornando-se assim como seu pai. O
aroma de jasmim e madressilva o seguiu.
Mesmo aqui, ela mantinha a desprezível fragrância com ela.
O que um menino inocente havia feito para garantir este tipo de rejeição? Como ela poderia
culpar Koldo pelo tratamento de seu pai com ela?
Como poderia Koldo ainda sentir-se ferido, depois de todo esse tempo?
—Se um dia eu morrer, — disse ele, —você não vai ser a causa. Você é muito fraca. Sempre
foi fraca e é por isso que Nox deixou você.
Mais uma vez ela cuspiu em suas botas.
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Com as mãos cerradas, ele teletransportou-se até sua casa no sul da África. Possuía dezesseis
residências em todo o mundo, cada uma firmemente protegida longe de curiosos olhos humanos,
mas cada vez mais essa era a que ele preferia, aquela em que passava a maior parte de seu tempo
livre.
Antes mesmo que percebesse, estava batendo nas paredes, arrancando a pele recém-curada
de seus dedos. Sangue espirrou. Ossos estalaram.
Desta vez, a raiva não conseguiu ser drenada tão rapidamente.
Horas pareceram passar antes que arrancasse a roupa, rasgando o tecido em sua pressa.
Camisa e calça caíram no chão e se amontoaram em comum acordo, as partes rasgadas formando
uma túnica perfeita. Gotículas de água fria espirraram contra sua pele nua enquanto olhava para a
cachoeira turbulenta.
Aquela mulher...
Socou o lateral da parede, poeira e detritos pulverizados no ar. Ela sempre o reduzia a isso, a
um homem que se sentia como se seu coração tivesse sido arrancado do peito, pisado, cortado,
chutado e queimado até as cinzas. Ele tinha que conseguir ganhar uma mão vencedora com ela.
Caso contrário, iria matá-la.
Quando Cornelia desse seu último suspiro, seu espírito deixaria seu corpo. Mas ela não iria
para cima, não passaria o resto da eternidade com o Altíssimo nos altos céus. Ela não poderia. Por
morrer com o ódio brilhando em seu coração estava marcada para ir para baixo, para baixo, baixo.
Era uma lei espiritual que ninguém, nem mesmo um Enviado, poderia suplantar.
Coisas diabólicas não poderiam coexistir com as coisas divinas.
Razão número um pela qual o próprio Koldo estava em perigo.
Cornelia merecia tal destino, sim. Ela merecia sofrer por toda a eternidade. Mas não seria ele
a mandá-la para uma sepultura prematuramente. Ele não era como ela, e se tivesse que lembrar-
se disso todos os dias, ele o faria. Mais do que isso, queria... O que nunca poderia ter. Respostas.
Seu amor.
Absolvição.
Rangeu os dentes. Não, ele não era como ela e não queria mais aquelas coisas. Um gosto de
vingança era tudo o que desejava.
O pensamento o atingiu e ele congelou. Não havia nenhuma maneira de alguém como ele
ajudar uma mulher tão frágil como Nicola, não é?
Deveria ter ficado longe dela, percebeu. Mas não ficou e agora era tarde demais.
Teletransportou-se para longe dela para provar a existência de atividade sobrenatural, na
esperança de forçá-la a aceitar isso e dar o primeiro passo em direção a luta contra os demônios.
Agora ela sabia.
Agora ela faria perguntas.
Se ela perguntasse as pessoas erradas, elas poderiam lhe dar as respostas erradas.
Esfregou a mão sobre a lisura do seu crânio. Tinha que se ater ao seu plano.
E isso não era uma coisa tão ruim, disse a si mesmo. Nicola o intrigava. Sua voz, tão suave,
tão doce... Tão viciante, uma carícia pela qual seus ouvidos já ansiavam novamente. Sua
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sagacidade. Sua resistência. Sua bravura. Ele foi ríspido com ela, mas ela não chorou nem implorou
por misericórdia.
Ao longo de sua muito curta experiência sobre a Terra, um desastre após outro acontecera a
ela. Talvez os demônios fossem responsáveis, ou talvez o fosse o mundo imperfeito. Talvez ambos.
Fosse qual fosse a razão, ele queria o melhor para ela. O melhor que ele próprio encontrou com
Germanus.
Koldo apenas teria que ensiná-la a combater as toxinas. E tinha que fazê-lo, enquanto a
mantinha calma. O medo apenas fortaleceria o que o terror deixara para trás e tensão apenas iria
enfraquecer seu sistema imunológico, reforçando o que o grzech deixara para trás. Sem medo e
sem tensão, as toxinas eventualmente desapareceriam. Com esperança e alegria, as toxinas
desapareceriam mais rápido.
Ideia intrínseca, o que você alimentava crescia e o que você privava, morria de fome.
Ela seria capaz de olhar além das emoções negativas e ver a luz?
Uma faísca de antecipação o arrepiou, de alguma forma, ofuscando a cascata quase
esmagadora de ácido que sua mãe havia causado. Apesar de tudo, mal podia esperar para ver
Nicola novamente, para saber o que ela decidiu pensar sobre seu desaparecimento. Se ela se
convenceu de que havia imaginado, ou se aceitou que ele era algo além de humano.
—Então, não a visão que eu estava esperando,— disse uma voz masculina atrás dele.
Ainda nu, Koldo girou e enfrentou Thane, o segundo no comando do exército de Zacharel.
Thane, que significava homem livre. E o guerreiro certamente parecia ser tudo o que a palavra
implicava. O apetite carnal do macho era bem conhecido. Caçava uma nova amante a cada dia,
descartando aquelas com as quais terminava como se fossem um lenço sujo.
E ainda assim, mesmo sabendo disso, as mulheres se reuniam em torno dele, como se fosse
o único homem na criação com cabelos loiros e cacheados e grandes olhos azuis.
—O que Zacharel quer que eu faça agora?— Koldo exigiu saber, alcançando a bolsa de ar ao
seu lado para retirar outra túnica. Enfiou o tecido sobre a cabeça, tentando não olhar para as asas
de Thane. Elas se arqueavam sobre os ombros largos do guerreiro, roçando todo o caminho até o
chão. O puro branco era apenas quebrado pelo ouro deslumbrante. Tentou e falhou.
—Vai ser melhor lhe mostrar, em vez de explicar, — disse Thane, com uma nota estranha na
voz.
O que não augurava nada de bom. —Muito bem. Vá em frente.
Capítulo Cinco
A semana seguinte passou em um borrão para Nicola. Todo dia ela acordava em uma hora
indecentemente cedo da madrugada, ia trabalhar, visitava a irmã em seu horário de almoço,
voltava para o trabalho, ia para seu segundo emprego e trabalhava até altas horas da noite antes
de por fim se arrastar para casa, assistir TV para relaxar e depois de dormir por quatro míseras
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ter filhos. Viver, realmente viver, como costumavam fazer em sonhos, antes da tragédia convencê-
las a lidar com a realidade em vez da fantasia.
Koldo dissera que visitaria o hospital novamente, mas não mencionou quando. Se esperasse
muito mais tempo, ela poderia estrangulá-lo quando ele aparecesse, só para liberar um pouco da
tensão. Todo dia esperava por ele tão diligentemente que as enfermeiras perguntavam se ela
gostaria de um Xanax ou dez para ajudá-la a relaxar.
Quando alguma coisa realmente boa já aconteceu com você?
A questão flutuou em sua mente e ela franziu a testa.
Ser otimista só vai te levar a esmagadora decepção.
Não. Não, isso não era verdade.
Você não precisa de mais uma coisa para se preocupar agora.
Suas mãos se enrolaram em punhos. Antes de conhecer Koldo, ela poderia ter desabado sob
o peso destes pensamentos. Definitivamente, teria lutado contra e ganhado uma dor de estômago,
andado mil quilômetros sem sair da cadeira e fritado as bordas de seus nervos, até que seus
membros começassem a tremer incontrolavelmente. Agora...
—Eu não estou te ouvindo. — Ou a si mesma. Seja como for! Ela tinha esperança pela
primeira vez em anos e não estava disposta a perdê-la. Inclinou-se para trás na cadeira em sua
mesa. —Ele vai manter sua palavra. Vai aparecer e vai responder a todas as minhas perguntas.
Os pensamentos deprimentes pararam e ela deu um suspiro de alívio.
Bateram na porta.
—Você é Nicola Lane?— Uma voz dura e cortante perguntou.
Nicola piscou rapidamente e enfocou na mulher bonita na porta aberta. Ela era alta, esbelta
e magra, com uma queda de lustrosos cachos negros. Sombras consumiam os olhos cor de
chocolate. Os de Koldo eram mais leves, como caramelo, e, uau, Nicola parecia estar com fome.
A mulher usava um conjunto preto e branco sob medida, uma saia lápis e saltos agulha de
milhas de altura que complementavam perfeitamente as unhas dos pés pintadas de preto e
branco. Tudo sobre ela gritava estilo, sofisticação e um sangue friamente calmo. Então, o que ela
estava fazendo aqui, na capital mundial do estresse da classe média?
—Eu sou Nicola, sim.
—Bem, parabéns. Agora sou parte de seu departamento.
Sarcasmo no primeiro dia. Maravilhoso. —Você é Jamila Engill ou Sirena Kegan?
Franzindo a testa, a menina disse: — Jamila Engill.
—Nome bonito. — Ela se perguntou o que significava Jamila. Sem dúvida Koldo saberia.
—Você tem duas novas contratações?
—Sim. — Nicola puxou as lapelas do suéter e os juntou para afastar o frio que a atitude de
Jamila irradiava. Certo, tudo bem. O frio vinha da saída de ar no teto. —Por favor, sente-se e vamos
nos conhecer.
Jamila marchou para dentro do escritório e largou-se sobre a cadeira mais próxima. Com o
queixo levantado, entrelaçou as mãos no colo e manteve o olhar estreito sobre Nicola, com as
costas eretas.
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O que eu fiz para merecer isso? Koldo passou os últimos seis dias com Thane. Uma
eternidade, certamente. Uma punição, definitivamente. Viajaram para A Queda, a casa de
negócios de Thane. Um palácio de iniquidade, para ser mais exato. Que seria visível ao olho
humano, se não fosse pelas nuvens que o rodeavam. Mas tinha que ser assim. Somente o
Altíssimo, os Enviados, os anjos e demônios operavam no reino espiritual. Outras criaturas
sobrenaturais, como as que Thane entretia, não seriam capazes de visitá-lo, se não fosse dessa
forma.
O lugar inteiro estava em processo de uma lenta queda em direção à terra, movendo-se um
mero centímetro por dia.
Caindo.
Como os membros do Exército da Desgraça poderiam fazer a qualquer sinal de má conduta.
Simbolismo no seu melhor momento, ele pensou. Mas, então, a maldade de qualquer tipo
provocava uma imediata separação do Altíssimo.
O clube iria eventualmente acabar no inferno.
Não vá pensar sobre isso.
Exceto para concluir com sucesso as três últimas missões de extermínio de demônios que
Zacharel atribuíra ao exército inteiro, Koldo e seus companheiros não deixaram o clube.
Thane e os companheiros anjos Xerxes e Bjorn viviam lá e Koldo não tinha certeza de como
foram autorizados a manter seu status como Enviados. Mas agora ele sabia por que foram dados a
Zacharel. Mais do que usar uma nova mulher a cada noite, eles brigavam com intensidade brutal
com quem os irritava e quase todos que eles encontravam os irritava.
Agora, os quatro estavam no bar, sentados em um canto sombreado. Diferentes raças
imortais perambulavam, bebendo e dançando, com as mãos errantes. Desde as encrenqueiras e
felizes Harpias até os barulhentos e felizes Fênix e tudo o mais entre eles. Vampiros, metamorfos,
Faes e incontáveis outros.
Os metamorfos Serpentes eram considerados os mais perigosos, com as Fênix em segundo
lugar. Mas a raça que superava a todos eles? A espécie que ninguém sequer considerava, porque
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todos gostavam de fingir que não eram nada mais do que um pesadelo? Os Nefas.
Koldo estava muito contente que ninguém soubesse sobre seu pai. Mais contente que
ninguém jamais soubesse. Mesmo os Enviados que o resgataram do acampamento todos aqueles
séculos atrás não tinham nenhuma pista sobre suas origens.
—Está se divertindo?— Thane perguntou.
—Por que estou aqui?— Ele questionou.
O guerreiro derrubou na garganta uma dose de vodka. —Já não passamos por isso? Porque
Zacharel nos mandou ficar juntos e eu me recuso a viver em um de seus casebres.
O nível de frustração de Koldo aumentou. Supunha-se que ele teria uma babá permanente
agora? Não. Absolutamente não. Recusava-se. Algo teria de ser feito. —E a nossa missão? Aquela
da qual você não podia me contar? O que você tinha para me mostrar?
—Eu nunca disse que era uma missão.
Não devo matar um Enviado.
—Mas se eu tivesse dito que queria que você viesse a minha casa e se divertisse,— Thane
continuou, — você teria dito...
—Não. Nunca.
—E foi por esta razão que eu insinuei que havia uma missão.
Koldo bateu com o punho na mesa, ganhando vários olhares de o que está acontecendo com
aquela besta furiosa? dos clientes mais próximos.
Seu olhar voltou-se para Bjorn, que estava sentado à direita de Thane. —Ele é sempre
complicado assim?
—Você é sempre curioso assim? — Foi a resposta irritada.
Bjorn tinha cabelos escuros e pele bronzeada com veios dourados semelhantes aos que se
teciam através de suas asas. Seus olhos eram de um arco-íris de cores, do azul mais claro ao verde
mais escuro, com matizes que iam do rosa ao roxo jogados na mistura.
Seu nome era o equivalente escandinavo para urso. Mais uma vez, outro ajuste perfeito.
Com a mandíbula travada, Koldo olhou para Xerxes.
Xerxes, era o nome persa para monarca. O macho tinha longos cabelos brancos puxados para
trás e torcido entre joias. Sua pele era da cor de leite e recoberta com uma cicatriz após outra
entrecruzadas, em padrões irregulares de três. Atraente, sim, mas eram os olhos que realmente
prendiam a atenção de uma pessoa. Eram de um brilhante vermelho-rubi, e reluziam com uma
raiva infinita igualada à de poucos.
Eu sou um destes poucos.
—Eles são sempre tão enigmáticos?— Koldo perguntou.
—Você é sempre tão irritante?
Todos os três homens riram de suas próprias piadas ridículas.
Koldo recusou-se a invejar aquela amizade, ou sua total comodidade uns com os outros.
Ouvira falar que eles se encontraram dentro de uma fortaleza demônio, cada um prisioneiro, cada
um torturado. Koldo não tivera ninguém durante seus anos de angústia e talvez fosse por isso que
preferisse sua vida solitária. Quanto menos pessoas estivessem a par de seus segredos, menos
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 41
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Anjos da Escuridão 02
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Anjos da Escuridão 02
—Nós já estamos no céu, doçura, — Thane disse, claramente lutando contra uma onda de
diversão.
Ela revirou os olhos. —Não interessa. Ele entendeu o que eu quis dizer. Não foi, Assassino?
—Eu preferiria que você não... — Koldo começou, apenas para ser interrompido novamente.
—Movam a mesa,— disse a garota, esfregando as mãos. —Eu quero começar essa festa de
inauguração logo e do jeito certo. E esse jeito é o meu, se alguém não entendeu o que eu quis
dizer.
Koldo beliscou a ponte de seu nariz enquanto Bjorn e Xerxes se levantavam para obedecer a
Harpia. Antes que os guerreiros pudessem se mover, ele ficou tenso.
Não por causa das intenções deles e não por causa da Harpia. Lá no fundo, onde o instinto
chiava e estalava, ele experimentou uma súbita consciência.
Nicola estava em apuros.
—Eu tenho que ir.— Ele ficou de pé, virando acidentalmente a mesa no chão.
—Bem, essa é uma maneira de fazer isso,— murmurou a garota.
As ordens de Zacharel afirmavam que Koldo deveria permanecer com Thane vinte e três
horas por dia. Se desobedecesse, se arriscaria a uma punição. E já tinha usado a sua hora de hoje.
—E você tem que vir comigo,— disse o guerreiro, apontando para ele para mostrar que haveria
consequências se fosse ignorado.
—Espere. Você está indo embora agora?— Os brilhantes e rosados lábios da Harpia
curvaram-se em um beicinho sedutor. —Mas eu ainda nem comecei e tenho alguns movimentos
malvadamente legais. Eu já mencionei que sou muito flexível?
O olhar de Thane se estreitou sobre Koldo. —Nós não iremos sair. Se formos, nunca mais vou
conseguir te trazer de volta aqui.
O guerreiro tinha tanto a perder quanto ele, Koldo percebeu e isso lhe deu todo o poder de
barganha que precisava. —Nós voltaremos. Você tem a minha palavra. Até então, é melhor me
seguir.— Ele instruiu Thane sobre onde ir e se teletransportou para o hospital, mas... Nicola não
estava lá. Foi então para o escritório dela. Ela não estava lá, também. Ele, no entanto, detectou
uma Enviada, bem como uma garota que ele não conhecia, mas achou que conhecia.
Não houve tempo para questionar a mulher. Teletransportou-se para a casa de Nicola, mas
sua ruiva não estava lá, também. No segundo trabalho dela... Nada. Voltou para o hospital, onde se
materializou em um posto de enfermaria vazio e usou o computador. Uma boa decisão. Laila foi
transferida para um novo quarto.
Thane aterrissou bem na frente dele. Fechou suas asas enquanto olhava em volta. —O que
estamos fazendo aqui?
—Você está esperando que eu conclua o meu assunto e eu estou no processo de concluí-lo.
Sem outra palavra, transportou-se para o novo quarto de Laila. E foi lá que encontrou Nicola,
chorando sobre o corpo de sua irmã.
Capítulo Seis
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Koldo avaliou a situação rapidamente. O monitor cardíaco de Laila estava muito rápido.
Havia um odor muito forte no ar – o aroma da morte iminente. Havia um chiado em sua
respiração, mesmo com as máquinas fazendo todo o trabalho — o som da morte iminente. Embora
ela não estivesse morta, seu espírito já estava meio caminho fora do corpo, apenas esperando para
subir ou descer, qualquer que fosse o caminho que ela escolheu para si mesma.
Ela não deverá durar muito mais. Uma vez que seu espírito estivesse fora, o corpo não
sobreviveria.
A testa de Nicola repousava na cama, seus delicados ombros sacudiam enquanto ela
chorava em desespero. Desespero… Uma mistura de medo e tensão, que reforçava as toxinas.
Logo mais, cada demônio do hospital estará faminto por ela.
—Nicola,— ele disse, entrando no campo natural e se tornando visível. Sua primeira palavra
a ela em todos esses dias. Percebeu então, que não deveria ter esperado até a tragédia acontecer.
Sua atenção se desviou para ele, e os olhos inchados e vermelhos pousaram em sua face.
Ela arfou, —Koldo,— com uma grande dose de surpresa. Seu nariz estava entupido, a voz, em vez
de rouca e sonhadora, esganiçada. Fios de cabelos grudados nas bochechas molhadas. —O que
você está fazendo aqui? Como me encontrou?
Como poderia explicar que estava sentindo a dor dela, quando ele mesmo não tinha muita
certeza de como ou porque fazia isso? Ignorando a pergunta, forçou a olhar para Laila. —Ela está
morrendo.
Uma pausa. Um tremor, —Sim. Eu não deveria estar chorando. Eu sabia que isso estava por
vir.— Nicola cobriu o rosto com as mãos, enxugando as lágrimas, talvez na tentativa de afastar a
tensão. —Ela precisa que eu me acalme. Eu preciso me acalmar.
Eu também.
—Mas...
—Você está sofrendo,— ele disse.
—Sim.— Suspirando, ela desmoronou contra as costas da cadeira. Liberou uma respiração,
inspirou outra, e seu nariz enrugou adoravelmente. —Da última vez você tinha um cheiro
maravilhoso. Dessa vez você está com cheiro de bordel.
Ele não estava envergonhado pela ofensa. Nada jamais o ofendeu ou iria ofender. Ele
estava… Superaquecido. Sim. Por isso sentiu as bochechas, repentinamente, pegando fogo. —E
como você sabe como cheira um bordel?
—Bem. Você está com o cheiro que eu acho que um bordel tem. Cigarros, álcool e vários
perfumes.
—Minhas desculpas.— A primeira parte do que ela disse finalmente penetrou em sua
cabeça.
Antes, ela havia considerado que ele tinha um cheiro maravilhoso!
Seu corpo ficou tenso, como antes. Mas sem nenhum desejo de infligir dor... Ele queria
apenas tocá-la, oferecer conforto e... Ele não tinha certeza.
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Admirava a lealdade de Nicola a sua irmã. Desejava ter alguém que o amasse metade dessa
maneira. Mas vê-la nua... Foi fascinante, ele percebeu, o sangue esquentando em suas veias,
derretendo, o queimando. Um calor que nada tinha a ver com raiva. Aquilo borbulhava, lavando o
homem frio que ele costumava ser.
Talvez ele a quisesse sim daquele jeito.
A ideia quase o fez tropeçar. Sua mente embaralhou. Mas... Mas... Mas ela era tão delicada,
tão frágil. Ele a coibia. Poderia quebrá-la. Por que ela? Por que agora? O desejo por ela era
improvável. Impraticável.
—Não,— ele rosnou. Ele não podia.
—Oh,— ela disse baixando os ombros. —Então, você quer que eu te obedeça quando você
disser para fazer... O que?
—Ficar calma. Abraçar a paz. Plantar alegria.
—Plantar?
—Há uma irrefutável lei espiritual que diz que uma pessoal colhe o que planta. Assim
sendo, se você plantar alegria entre os outros, irá colher alegria para si mesma. E agora você
precisa de alegria.
—Calma, paz, alegria,— ela evocou. Como se ele fosse maluco.
Talvez ele fosse. —Sim.
—Por que você precisa que eu sinta essas coisas?
Se você não as sentir, as toxinas irão crescer, e eventualmente você irá morrer, assim como
sua irmã. Não eram, necessariamente, palavras calmantes, pacificantes e alegres, então ele
permaneceu calado.
—Não seria preferível que eu tivesse que, sei lá, fazer crescer a barba, ficar mais alta e
atuar no papel em uma pequena produção de Koldo chamada O Que Você Está Pedindo É
Impossível? Porque isso eu acho que posso fazer.
Humana tola. Pela primeira vez em sua vida, ele queria sorrir. —Não.
Desesperada, ela disse, —Que tal o número da garota da cafeteria? Eu poderia te dar isso, e
podemos ficar quites.
Garota da cafeteria? —Lembra-se quando eu te disse que poderia te ajudar a se curar?
—Como se eu pudesse esquecer.
—Esse é o caminho.
Um momento passou. Um momento que ela passou piscando para ele. —Calma, paz,
alegria,— ela repetia. —Diga-me que a minha irmã viverá mais que apenas algumas semanas e
estará feito.
Como se ele estivesse no controle de quanto sua irmã sobreviveria. Mas ela não sabia disso
e estava tentando ganhar mais tempo. —Sinto muito se não fui muito claro. Eu lhe darei minha
oferta máxima. Não há mais nada que eu possa fazer em nome da sua irmã. Portanto, não haverá
negociações nos meus termos.
—Eu imaginei, mas tinha que tentar.— Ela lhe deu aquele mesmo lindo sorriso do elevador,
e ele teve a prevenção de capturar mentalmente a imagem dessa vez. Aquela que ele pudesse se
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lembrar na pior das noites, quando o passado ameaçasse emergir e engoli-lo. Ela era a prova de
que existia no mundo mais do que escuridão e dor.
—Temos um trato?— Ele perguntou.
—Sim temos.
Ele assentiu. —Muito bem. Não deixe que os médicos retirem o aparelho de suporte vital
dela. Eu retornarei em breve.
—Mas...
Ele foi embora antes que ela pudesse terminar a sentença. A partir de agora, cada
momento contava.
Ele apareceu para Thane, que marchava no corredor do hospital, e disse a ele onde estava
indo. Depois, apareceu na nuvem de Zacharel, na parte mais baixa do céu. Como não tinha asas
não podia pairar do lado de fora da entrada para esperar a permissão, por esse motivo Zacharel lhe
deu um convite aberto para entrar—desde que ele permanecesse na sala de estar.
—Zacharel,— ele chamou. Paredes de névoa o cercaram, nublando a visão que tinha do
restante da casa. Mas é assim que as nuvens trabalham. Elas abriam somente se você passava no
meio delas.
Seu comandante pisou através da névoa, o cabelo bagunçado, o manto sujo, rasgado e
salpicado de sangue. As asas douradas arqueavam de suas costas, pedaços de penas faltando.
Seus instintos protetores emergiram. —O que aconteceu com você?— Koldo exigiu. —
Precisa de ajuda?
A cabeça negra de Zacharel inclinou para o lado, os olhos esmeralda ficaram claros, como
se ele tivesse... Chorado. —Nenhuma ajuda é necessária. Você irá descobrir o que aconteceu com
o restante dos Enviados. Uma reunião será convocada muito em breve, e todos os exércitos estarão
aqui. Até lá... O que está fazendo aqui, Koldo?— A última palavra foi dita num suspiro cansado.
Koldo gostava e respeitava Zacharel. O guerreiro pegara a responsabilidade do mais
indisciplinado exército dos céus, e não tinha medo de sujar as mãos para ajudar todo e qualquer
de seus homens em apuros.
—Eu dei a Annabelle uma ampola da Água da Vida e preciso do restante.
Zacharel o encarou por um longo tempo antes de dizer, —Por que você precisa?
—Há alguma sobrando?— Ele perguntou, se recusando a afirmar seu motivo, quando não
tinha certeza se havia um prêmio a ser oferecido.
Ignorando sua pergunta, Zacharel se virou e sinalizou para que Koldo o seguisse.
Após alguns passos, a nuvem se abriu, revelando uma sala de estar adaptada para o mais
rico dos humanos, com um sofá forrado de veludo, uma metade com encosto e a outra metade
aberta. Era ideal para qualquer casal de Enviado e humana. Havia uma cadeira combinando, uma
mesa de centro esculpida feita de cristais de todo o mundo. Uma tapeçaria pendurada na parede,
com as palavras O Amor Perfeito Afasta O Medo escrito em grego no centro.
Claramente Annabelle havia decorado—Annabelle, que estava sentada em frente a mesa de
centro, debruçada sobre os livros, furiosamente escrevendo passagens no computador.
—Olá, Koldo,— disse quando lhe deu uma olhadinha. Ela tinha cabelos negros azulados,
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lisos e pesados, e intensos olhos cor de âmbar. Sua mãe japonesa e pai americano certamente
dividiram a melhor combinação de DNA para criá-la, ele pensou, pois não havia uma única falha
em suas feições perfeitas. E ainda assim, ela não poderia ser comparada a Nicola. Um fato que o
encantava. Por quê?
Ele inclinou a cabeça em agradecimento.
Zacharel relaxou no sofá atrás dela, envolvendo-a entre as pernas. Se recusando a dar
importância a urgência dentro de si, Koldo sentou-se na cadeira em frente a eles. O encosto da
cadeira não ofereceu nenhuma restrição aos seus movimentos, devido a falta de suas asas.
Uma pontada incandescente surgiu através de seu peito.
—Você perguntou se sobrou um pouco. Sim, sobrou,— Zacharel disse.
—Oh, sobre o que estamos falando?— Annabelle perguntou, derrubando a caneta.
—Quanto?— Koldo insistiu, ignorando-a.
—Uma única gota.
Annabelle sorriu com prazer. —A Água da Vida, então.
Uma gota. Era o suficiente para o que Koldo planejava. —Eu gostaria de comprá-la de
você.— As palavras pareceram vir de dentro de um túnel de vidro quebrado. Ele derramou sangue
por esse liquido. Perdeu seus cabelos por ele. E agora teria que dar mais alguma coisa?
Annabelle cumpriu o seu papel no trato, ele se lembrou. Ela manteve Zacharel longe dos
céus enquanto Koldo procurava por sua mãe. A Água era dela. Não dele. Então sim, ele tinha que
dar mais alguma coisa.
—De novo, por quê?— Zacharel perguntou.
—Tenho esperanças de que salve uma fêmea.— Pelo menos por um tempo.
Annabelle bateu um dedo contra o queixo. —Humana?
Ele não falou mais nada. Essa informação não era necessária.
—A fêmea que você encarcerou?— Zacharel perguntou firmemente.
Ele sabia que Koldo tinha uma Enviada presa em algum lugar porque Koldo salvou duas
fêmeas do inferno, tudo algumas semanas atrás. Sua mãe, e uma soldado de Zacharel. Essa
soldado perdera-se em sua dor e não estava ciente das ações de Koldo. Mas estava consciente. E
contou a Zacharel tudo que testemunhou.
Zacharel não tinha ideia que Cornelia era a mãe de Koldo, e ainda não ordenara que Koldo
a libertasse. Talvez, porque conhecia Koldo e simplesmente sabia que ele a caçaria novamente. Em
vez disso, o manteve ocupado com todas aquelas missões e agora com o emprego de babá,
esperando que isso o mantivesse longe de qualquer transgressão.
Um dia talvez Zacharel percebesse que nada poderia deter Koldo.
—Não,— ele disse. —Não aquela que eu prendi.— Novamente, não ofereceu mais nada.
—Ela é...
—Isso não está aberto a discussão.
Zacharel estalou a mandíbula, a verdadeira imagem do comandante que ouviu muito papo
de seu subordinado. —Você deveria estar com Thane, observando-o. O que está fazendo com uma
fêmea humana?
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Então Koldo deveria impedir Thane de cometer um crime e não o contrário? —Eu voltarei
para Thane. Você tem a minha palavra. Agora, irá me vender a Água ou não?
Os olhos esmeralda brilharam em chamas nervosas. —Não.
Koldo olhou para Annabelle.
Seus ombros delicados aparentemente se encolheram. —Desculpe, mas eu sei que é
complicado discutir com Zachy quando ele fica teimoso.
Não, ela não sabia. Ela discutia com —Zachy— não importava o seu humor. Koldo já
presenciou—e a viu vencer a discussão.
Rangendo dentes, Koldo estalou aos seus pés. —Muito bem.— Tentaria e compraria uma
gota de Água de outra pessoa. Se falhasse, se tivesse que se aproximar do Alto Conselho Celestial,
ele... Não iria, pensou. Poderia enfrentar um açoite, sem problemas, mas ainda não tinha certeza
de qual sacrifício eles proporiam dessa vez.
Então, tinha que achar alguém disposto a vender a Água. Se falhasse em retornar e manter
sua parte do acordo, Nicola nunca iria confiar nele. E se ela nunca confiasse nele, nunca o ouviria.
Nunca encontraria conforto com ele.
Nunca plantaria a alegria que ela tanto precisa.
Ele caminhou para fora da sala de estar.
—Koldo,— Zacharel chamou.
Ele parou, seus músculos se retesaram. Ele é o seu líder. Mostre respeito—mesmo adorando
a ideia de arrancar sua cabeça fora do corpo. Virou-se devagar e encarou o guerreiro. —Sim?
—Eu não venderei. Entretanto, darei a você.— Zacharel alcançou uma bolsa de ar e retirou
um frasco transparente. Uma única gota de Água rolou e brilhou no fundo. —No dia em que você
deu o frasco a Annabelle eu derramei uma gota em um recipiente separado e guardei para você,
esperando o dia em que você precisaria. Eu somente rezo para que use sabiamente. É uma
segunda chance... E eu não oferecerei uma terceira.
Capítulo Sete
Nicola estava tonta e perto de desmaiar. Seus nervos estavam desgastados, o coração
alternando entre vibrar dolorosamente e parar como se espremido por um punho de ferro rígido.
Koldo tinha saíra a 16 minutos e 32 segundos. Durante esse tempo, o médico voltou esperando
desligar as máquinas de Laila. Acabar com ela. Para sempre.
Como Nicola manteria a calma, abraçaria a paz e semearia alegria com isso?
Ela pediu mais tempo, e o médico tentou convencê-la a se apressar.
Laila está com dor.
Ela está pronta para ir. Seu corpo não pode suportar por si só, e sua mente já se foi.
Ela nunca vai se recuperar disso.
Nicola recusou.
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Finalmente, ele deixou o quarto. Mas voltaria. Sabia que ele voltaria.
Se Koldo não conseguisse voltar a tempo...
Laila vai morrer hoje, ela pensou, e quase vomitou.
Sua tontura aumentou, e não tinha certeza de que teria força para permanecer lúcida por
muito mais tempo. Se desmaiasse de frio...
Mais uma vez, Laila iria morrer.
Se. Se. Se. Como odiava a palavra! Ela...
Koldo entrou em seu campo de visão, como se tivesse aberto uma porta que ela não podia
ver.
Alívio a percorreu, e ela saltou para ficar em pé. Ele era tão grande e forte como ela se
lembrava, talvez maior, talvez mais forte, e era um guerreiro. Em algum tipo de exército, ele disse.
Enquanto ele estivesse aqui, Laila estaria segura.
Exceto que seus olhos tinham uma sombra severa.
Porque severo?
Olhou para ele, em busca de uma pista. Usava as mesmas camisa branca e calça larga de
antes, as mesmas botas de combate, parecendo confortável, elegante e pronto para a ação. Não
havia manchas de sangue que sugeriam que teve que lutar contra algo em seu caminho até aqui.
Toda aquela severidade era por causa de Laila, então.
—Koldo, — ela murmurou.
Ele acenou com a cabeça em reconhecimento. —Pare de se preocupar, Nicola.
—Primeiro me diga se nosso acordo está de pé.— As palavras saíram correndo. E uau, ela
realmente colocou sua confiança e esperanças em um estranho como este? Um estranho de
origens tão duvidosas?
Sim, na verdade. Ela colocou. A sobrevivência de Laila era muito importante.
—Está, — assegurou a ela.
Bom. Isso era bom. —Onde você estava?— Ugh. Observe a acusação. Você não quer que ele
fuja de você.
—Aqui e ali.
Uma adorável evasiva. —Bem, você tem certeza que isso vai funcionar?— O que quer que —
isso— fosse.
—Eu tenho certeza que vai doer, — Koldo disse, mais uma vez ignorando sua pergunta, —e
ela vai gritar, mas seu corpo vai se curar. O que acontecerá depois caberá a ela. Ainda quer que eu
continue?
Nicola tinha um pouco de talento para dissecar tons e revelar uma suposição apenas
insinuada. O que acabara de ouvir de Koldo? Ele não achava que os resultados valeriam o esforço.
Bem, muito ruim. Ela valia. Laila valia tudo. Sua irmã merecia uma segunda chance. Não importa
quão curta fosse.
—Sim, — ela respondeu finalmente.
—Muito bem. — Koldo se aproximou da cama e gentilmente manteve os lábios de Laila
separados. Ele abriu a mão para revelar um frasco vazio... Não, não vazio. Uma única gota de água
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nunca. Poderia estar morrendo neste exato segundo, mas Nicola não estava com ela. Apenas
estranhos.
Como ela poderia ter feito isso? Como poderia ter arriscado tanto, sem saber mais?
Os pontos negros engrossaram. Sua respiração aqueceu outro grau, e o frio em seu sangue
se transformou em lodo gelado e espesso. Sabendo que iria desmaiar a qualquer momento, Nicola
tentou sentar-se. Mas seus joelhos cederam um segundo mais tarde, já não eram capazes de
manter seu peso, e ela tombou para frente.
Seu rosto bateu no chão de azulejos, e ela não sabia de mais nada.
Algo ergueu as pálpebras de Nicola, e uma luz brilhante, de repente a expulsou da escuridão.
Pequenos detalhes chamaram sua atenção. Havia um latejar em suas têmporas, um sinal sonoro
constante, beep, beep em suas orelhas e uma corrente de frio no braço.
Uma voz a chamou, mas não conseguia distinguir as palavras. Uma luz mais brilhante piscou
sobre um olho, depois o outro. Tentou se afastar, mas sua cabeça estava pesada demais para se
mover. Tentou alcançar e empurrar a coisa estúpida para afastá-la, o que quer que fosse, mas seu
braço estava ainda mais pesado.
Parecia que tinha adormecido ao volante de um carro e acordado dentro de um amontoado
retorcido, o corpo enfraquecido preso no lugar. A ajuda ainda por chegar.
—Nicola?
Apague isso. A ajuda chegou.
Piscou rapidamente, e finalmente conseguiu se concentrar. Um homem pairava sobre ela.
Tinha cabelos e olhos escuros, e sua pele era de um negro bonito. Usava um jaleco e um
estetoscópio envolto no pescoço. Dr. Carter, do County General, ela percebeu. O médico de Laila.
—Você desmaiou, — disse ele, seu tom suave.
—Não, eu—... Tinha desmaiado, sim. A memória jogou-se através de sua mente, e ela se viu
no quarto de Laila. Koldo alimentara sua irmã com uma gota de alguma coisa, depois desapareceu,
e sua irmã começou a gritar. Uma enfermeira empurrara Nicola para fora da sala e o medo a
trespassou.
Agora estava deitada em uma cama de hospital, ligada a um intravenoso e usando uma
camisola de papel fino.
—Sua pulsação está regular,— informou.
Não importa. —Laila, — disse ela, tentando sentar-se.
Dr. Carter gentilmente a empurrou de volta para baixo. —Você bateu a cabeça muito forte
quando caiu. Na verdade, teve uma concussão, e a manteremos internada para observação pelo
resto da noite.
—Laila, — repetiu ela, com a voz um simples coaxar.
Seus lábios se curvaram em um sorriso lento. —É a coisa mais incrível. Uma vez que ela se
acalmou, verificamos que seus sinais vitais estavam realmente mais fortes do que estiveram nas
últimas semanas. Tiramos um pouco de sangue, e os resultados nos surpreenderam. O fígado e os
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Nicola esfregou os olhos, mas... Ainda podia ver um macaco feio com tentáculos em vez de
braços situado ao lado da cama de Laila. A criatura estava olhando para Nicola com ódio nos olhos
enquanto acariciava o braço de Laila, como se tentando capturar sua atenção.
Uma alucinação? Certamente. Ela teve uma concussão, afinal de contas. Mas... Mas...
Parecia tão real. Assim como os monstros que via quando criança.
Koldo materializou-se ao lado da cama de Nicola, consumindo sua atenção e dominando
seus pensamentos. Em qualquer outro momento, a surpresa teria aumentado seu batimento
cardíaco. Porque realmente, pensou que nunca iria se acostumar a ver um homem aparecer do
nada. Mas havia drogas atualmente muito fortes em seu organismo, impedindo qualquer tipo de
reação adversa.
—Você está vendo?— Ela perguntou.
—O que?, — respondeu ele, olhando ao redor.
O macaco foi embora, ela percebeu. —Não importa.
Ele olhou para ela e franziu a testa. —Eu recebi permissão para voltar, deixar —a pedra no
meu sapato— por mais uma hora, e verificar você. Aparentemente, sou uma fera enjaulada. E
encontro você machucada?— Havia um fio de raiva em seu tom. —Por que está machucada?
—Eu bati minha cabeça quando desmaiei, — ela admitiu.
—E por que você desmaiou?— Ele se inclinou e traçou as mãos calejadas pela testa dela,
exatamente onde bateu durante seu desmaio. Uma pontada aguda de dor a fez estremecer e ele
recuou com um brilho de vergonha nos olhos.
Uma parte dela lamentou a perda de seu toque, com dor ou não. Ele acabou de lhe dar um
toque pessoal, não profissional, e era a primeira vez que a alguém a tocava assim desde que Laila
fora internada aqui. Ela gostou. Muito.
Ele era tão quente. Tão vibrante.
Tão... Necessário.
—Bem, é tipo uma história engraçada.— De repente, nervosa, torceu o lençol da cama, e
talvez as drogas não fossem tão fortes afinal, porque seu coração deu um salto. —Veja só, você
tinha acabado de dar à minha irmã uma gota de líquido e desapareceu, e ela começou a gritar.
—Como eu disse que faria.
—Sim, mas eu não estava exatamente preparada e...
A compreensão chegou, iluminando os olhos dourados para um âmbar brilhante e
sobrenatural. —Você estava preocupada.
—Bem, sim. Eu mencionei que Laila estava gritando?
Seus lábios franziram. Com irritação? Ela se perguntou. Sim. Definitivamente com irritação.
Ele parecia pronto para matá-la. Provavelmente não ajudaria seu humor se ela lhe dissesse que, de
repente, ele lembrava-a de um modelo masculino vistoso da Blue Steel4. Ou Magnum5. E que ele
era muito, muito, muito bonito. Tipo, belíssimo.
Eu tenho que assistir menos TV nas noites em que eu não consigo dormir.
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Eeeeee ele mostrou os dentes em mais uma temível carranca. —Como eu poderia? Um
acordo foi fechado.
E ele sempre foi um homem de palavra. Já sabia isso sobre ele, e tinha que parar
inadvertidamente de insultar seu senso de honra. Ele poderia ficar perto dela, não importa o que
aconteça, mas ela queria que ele fosse tão feliz quanto ela deveria ser, enquanto ele estivesse
fazendo isso. —Por que você quer ensinar alguém como eu, afinal?— Nicola não tinha nada a
oferecer em troca. —E o que você quer me ensinar? Eu pensei que você só queria que eu fizesse a
coisa da calma, paz e alegria.
Ele afastou os olhos, dizendo: —Talvez eu saiba o que é sofrer uma farsa após a outra,
desesperado por esperança, mas não encontrar nenhuma.— Ele estudou sua irmã por um longo
tempo. —Eu só rezo para que Laila prove ser tão confiante quanto você.
—Isso a ajudará? Vai salvá-la por mais de algumas semanas?— Um sussurro. Um ruído
áspero, desesperado.
—Honestamente? Só ela sabe a resposta para isso. Posso ensinar a ela o que eu ensinar a
você e não, não vou compartilhar os detalhes ainda. Vocês estão drogadas, e esquecerão as partes
mais importantes. Farei tudo que eu puder para fazê-las sentirem-se calmas, em paz e felizes.—
Um lampejo de dúvida em seus olhos, seguido de... Raiva? Ele balançou a cabeça e acrescentou: —
Mas será que ela vai ouvir?
Será? Laila, que era tão cabeça-dura, tão teimosa, iria discutir até ficar sem fôlego. Laila, que
possuía a capacidade única de sintonizar qualquer um a qualquer momento. Nicola a amava, mas
era muito consciente de suas falhas.
—O que você nos ensinar, o que sentirmos, irá nos ajudar a curar?— Ela perguntou.
—Sim. Eu vi leprosos purificados. Vi coxos andarem e cegos recuperarem a visão.
—Eu vou fazê-la ouvir, então.— Determinação misturada com uma dose inebriante de
excitação. Ao longo dos anos, ela foi examinada por centenas de médicos. Mil exames foram feitos.
Um milhão de procedimentos e cirurgias foram suportadas. O prognóstico foi sempre o mesmo.
Lamentamos Srta. Lane, mas não há nada que possamos fazer.
Agora havia esperança para Laila, também.
A expressão de Koldo suavizou-se enquanto olhava para ela. Ele realmente parecia
orgulhoso dela. —A única maneira de falhar é desistir, Nicola Lane. Você não é uma desistente, isso
eu posso dizer.
Um elogio de um homem tão brusco era mais doce do que as palavras de adoração de
qualquer sedutor.
—Nicola?
Nicola sacudiu ao som da voz de sua irmã. Uma voz que era áspera, as bordas quebradas,
mas ainda incrivelmente bonita. —Laila! Você está acordada!
Koldo deu um passo atrás, saindo do caminho, e o olhar de Nicola girou na direção de sua
irmã. A primeira coisa que ela notou: o macaco não retornou. A segunda coisa, Laila estava
brilhando.
Apesar de suas feições serem idênticas, Laila, de alguma forma sempre foi a mais bonita. A
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carismática. As pessoas sempre gravitaram para ela, penduradas sobre cada palavra sua.
Mesmo Nicola, a séria, nunca disposta a assumir riscos, sempre fora encantada por ela.
—Estou com sede, — Laila murmurou. Ela ainda estava deitada de lado, com a cabeça
apoiada no travesseiro, mas agora suas pálpebras estavam abrindo e fechando lenta e
repetidamente, como se estivesse lutando para permanecer acordada. —Eu realmente gostaria de
um pouco de água.
Nicola olhou para Koldo. —Você pode apanhar...
Mas ele não estava mais lá.
Laila franziu a testa, seu olhar, finalmente, permanecendo aberto, e disse: —Onde o médico
foi?
O Doutor? Sim, o título caberia a Koldo muito bem, pensou ela. —Eu gostaria de saber.
Capítulo Oito
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—Ela vai precisar sair, também. A boa notícia é que eu tenho um amigo, — ele interrompeu.
—Tenho certeza que você ouviu que Blaine e sua namorada terminaram há alguns meses, e
mesmo que ele tenha me obrigado a comer aquela porcaria na geladeira depois de nossa corrida,
eu ainda gosto dele.
Blaine. Blaine, a quem Laila iria achar demasiado bonito para resistir.
Entretanto, Laila estaria forte o suficiente para sair de casa? E se estivesse, Nicola poderia
negar a sua irmã um pouco de diversão antes dela... Antes que ela... De qualquer maneira. E se
esse divertimento a levasse à felicidade tão necessária?
Talvez Dex sentisse que ela beirava a capitulação. Gozando de um meio sorriso, ele se
inclinou para frente e escreveu algo em um pedaço de papel. —Aqui está o meu número. Ligue-me
se você mudar de ideia.
—Obrigada, — ela sussurrou.
Ele se levantou e caminhou até a porta, só para fazer uma pausa e dizer: —A propósito, você
tem um cheiro muito bom.— E entrou em movimento.
—Até mais, lindinho, — disse Sirena da área da recepção.
—Uh, com certeza, — Dex respondeu, claramente desconfortável.
Então... Koldo achou que o cheiro era terrível, e Dex achava que ela cheirava bem. Quem
estava certo?
Koldo o Honesto, sem dúvida.
Suspirou. O telefone tocou enquanto estava recolhendo o resto de suas coisas.
O telefone ainda estava tocando, quando saiu do escritório. Sirena e Jamila estavam de pé
no espaço entre as mesas, os narizes se tocando enquanto olhavam, suspiravam e bufavam uma
para a outra. Mãos em punhos, os membros estavam tremendo.
—Eu sei o que você é, — retrucou Sirena.
—Eu não posso dizer o mesmo, — Jamila sussurrou, —mas eu sei que você é chave de
cadeia.
—Você quer sobreviver a isso? Você vai sair e nunca mais voltar.
—Desta vez, eu posso dizer o mesmo.
As duas claramente tinham história. —Alguém vai ficar com isso?— Nicola perguntou, o peso
dos arquivos já lhe deixando arfante.
As mulheres se afastaram com um pulo, como se as tivesse cutucado com atiçadores
quentes.
Sirena lançou-lhe um sorriso, toda a raiva desapareceu. —Claro, — disse ela, caminhando
para sua mesa para pegar o telefone. —Contabilidade.— Quando acomodou-se em sua cadeira,
girou o fio entre os dedos. —Bem, você tem simplesmente a voz mais doce.— O riso de menina
provocou um encolhimento em Nicola. —É. Eu sou. Espere. Diga-me mais devagar para que eu
possa ter a certeza de transcrever cada fascinante palavra.
Nicola enfrentou Jamila, que ainda estava no lugar, ainda lutando para controlar suas
emoções mais sombrias. —Eu não vou perguntar o que foi, e também não estarei de volta até
tarde amanhã. Tudo o que eu quero é que vocês duas se abstenham de comer gatinhos, chutar
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Seus lábios se arreganharam em uma paródia de sorriso, revelando longos dentes afiados. —
Você é minha, e eu sempre mato o que é meu, — disse ele ― pouco antes de desaparecer.
Koldo fechou-se no quarto de luxo que Thane lhe tinha dado em A Queda, e deitou em cima
da cama maciça de veludo drapeado. Thane, Bjorn e Xerxes foram para suas suítes com as fêmeas
que escolheram e ele sabia que não iria vê-los novamente até de manhã.
Provavelmente era o melhor.
Sua visita muito curta a Nicola deixou-o ávido.
Sua voz rouca e sonhadora ainda deixava todos os músculos do seu corpo tensos e
zumbindo. Mais uma vez seria capaz de sentir seu cheiro profundo de canela e baunilha, uma
fragrância inebriante não mais mascarada pela mácula de demônios. Em vez disso, foi envolto
pelos maus odores que o lembravam de sua mãe. Jasmim e madressilva. Muito pior do que
enxofre.
E, no entanto, ele esqueceu esse fato quando olhou para os lábios dela. Seus próprios lábios
se suavizaram em preparação para... Alguma coisa. Um beijo, talvez. Uma ligeira pressão deles
juntos, ou talvez uma fusão lenta.
E se a tivesse beijado? Não sabia nada sobre a arte de beijar. Poderia ter pressionado com
muita força, e tê-la ferido. Poderia ter pressionado muito gentilmente, e deixá-la querendo.
Teria feito papel de bobo.
Ela poderia ter rido. E se ela risse...
Outra rejeição, ele pensou, as mãos em punhos. Teria sido uma das milhares, e milhares mais
por vir. Ele nunca foi bom o suficiente, e poderia nunca ser. Nunca foi o que as pessoas que ele
mais queria que o amassem desejavam, e nunca poderia ser.
Respirou fundo, quando uma parte de suas palavras foi registrada. Eu não quero que Nicola
me ame. Ele não precisava de seu amor.
Não precisava do amor de ninguém.
O que quer que Nicola o fizesse sentir, tinha que parar. O calor. O formigamento. A ânsia pelo
desconhecido.
Acomodou-se em uma posição sentada. Exercitar-se-ia até que estivesse tremendo tanto que
não conseguiria ficar de pé. Isso pararia tudo.
Thane estourou através das portas duplas. O cabelo do guerreiro estava preso como uma
espiga, a pele estava arranhada e cheia de marcas de mordida, mas seu manto transformara-se em
uma armadura de batalha.
—Há maior atividade demoníaca do que de costume em um prédio no Kansas, — disse o
soldado, não tendo tempo para preliminares. —Estamos sendo enviados para investigar.
—Kansas?— Onde Nicola vivia. Koldo saltou para ficar de pé, seu próprio manto encolhendo,
apertando e engrossando, tornando-se um metal leve que o protegeria das garras venenosas de
seus adversários. —Acabamos de vir de lá.— Ele olhou para o relógio. Três horas atrás, percebeu
com uma bolha de choque. Como o tempo passou depressa. —Onde no Kansas?
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Anjos da Escuridão 02
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Koldo procurou em cada centímetro do local, mas não encontrou nenhum sinal de Nicola. O
escritório estava vazio. E ela não deixara notas em seu calendário.
—O que você está fazendo, mexendo nas coisas de Nicola?— Uma fêmea exigiu atrás dele.
Ele reconheceu a voz e virou-se lentamente, ficando cara-a-cara com a mulher que estivera
presa no inferno com sua mãe. A mulher que ele resgatou e trouxera de volta da beira da morte.
A mulher que ainda tinha que lhe agradecer, e que em vez disso tinha corrido para Zacharel,
expondo o fato de que Koldo prendera outra Enviada.
Uma vez ela foi uma portadora da alegria, agora era uma guerreira. Uma das guerreiras de
Zacharel, para ser exato. Jamila. A palavra árabe para linda. E ela certamente era. Era linda e
indescritível, mas era tão mordaz quanto ele. Eles eram como duas lâminas e constantemente
cortavam um ao outro em tiras.
—Você sabe de Nicola Lane? Onde ela está?— Ele exigiu. Fúria... Uma fúria sombria e terrível
estava fervendo dentro dele, ameaçando transbordar. Se ela tivesse sido machucada, ele... O que?
Destruiria este lugar? Provavelmente. Mataria todos dentro? Talvez. Ainda não conseguia se
importar com as consequências.
Acalme-se. Obtenha respostas primeiro.
—Ela foi para casa.— O queixo de Jamila levantou, demonstrando irritação. —Agora é a sua
vez de responder a minha pergunta. O que você está fazendo aqui?
Se ela estava em casa, estava segura. —Eu poderia perguntar o mesmo, — disse ele,
relaxando.
—Mas não é a sua vez.
—Então?
—Então.— Ela cruzou os braços sobre o peito e olhou para ele. —Zacharel disse-me para
relatar o que acontece com Nicola enquanto ela está no Estella. Eu tentei ficar no reino espiritual,
observando-a, mas tenho certeza que ela me sentia. Ela ficava tensa toda vez que me aproximava.
Ela sempre foi tensa. Mas eles trabalhariam nisso.
—Eu decidi dar ao reino real uma chance, — Jamila terminou.
—Por que Zacharel quer que você espione Nicola?
—Ele não ofereceu uma explicação, e eu não me importava o suficiente para perguntar.
Bem, Koldo se importava. Ele perguntaria. Precisava saber. Isso não poderia ser uma
coincidência.
—Agora, — Jamila disse, —você não receberá outra resposta de mim até eu conseguir uma
de você.
O que eles estavam fazendo aqui? —Um alarme foi levantado, e nos disseram que havia um
aumento de atividade demoníaca.
Ela franziu a testa, dizendo: —O alarme não foi emitido por mim. O local esteve cheio de mal
desde o primeiro dia, mas não aumentou.
—Então por que fomos chamados?— Ele perguntou numa explosão de frustração tornando-
o o que os humanos chamam de irritadiços. Já podia sentir os dedos que se preparavam para o
contato com a parede. Quanto mais distorcido melhor. —E quem teria emitido esse relatório?
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Anjos da Escuridão 02
—Como ninguém nunca me diz nada, — ela falou amargamente. —Desde a minha... O brilho
irritado empalideceu em seus olhos, os ombros curvados com a derrota. —Não importa.
Desde que ela... O que? Foi capturada e salva? As pessoas a trataram de forma diferente?
Suavemente? Como se tivessem medo de que ela fosse quebrar? Provavelmente. Era assim que
eles estavam com ele, e ele odiava. —Você não tem que temer tal tratamento de mim. Você me
irritou antes e está me irritando agora. Tratá-la com doçura é a última coisa que eu quero fazer.
Sua expressão se suavizou, mas apenas ligeiramente. —Obrigada. Isso é gentil de sua parte.
Passos ecoaram atrás deles, pesados e duros, o culpado claramente não tentando ser
sorrateiro. —Nunca tivemos um alarme falso antes, — disse Axel enquanto serpenteava em um
canto e caminhava para dentro da sala. Seu cabelo estava desgrenhado, marcas de sangramento de
três garras na bochecha. —Mas a palavra é, este veio de uma fêmea sorridente.
Todas as fêmeas riam ―todas, menos Nicola. Iriam trabalhar nisso também. —Você matou
os demônios, sem prejudicar os seres humanos, correto?
—Na verdade, nenhum assassinato foi feito da minha parte.— Um brilho de humor dançava
naqueles olhos azuis elétricos. —Eu marquei um encontro para a noite de sábado.— Seu olhar
deslizou para Jamila, e seus lábios curvaram-se nos cantos. —Eu estava planejando uma noite para
dois, mas diga a palavra, princesa, e eu a transformarei em uma noite para três. Você, a outra
menina e a câmera do meu telefone.
—Você é nojento.— Jamila empurrou-o para fora do caminho e pisou fora da sala.
—Isso é um sim?— Axel perguntou.
—Argh!— Foi sua única resposta.
Axel riu. —Coisinha sensível, não é? Acho que vou domá-la apenas com sorrisos e divulgação
dos direitos.
Ele esperava ter relações sexuais com ela, ir embora e nunca mais olhar para trás? —Você
não vai chegar perto dela, — Koldo encontrou-se ladrando.
—Por quê?— Axel perguntou, piscando diante de sua veemência. —Você a quer?
—Não.
—Mas não quer que eu a tenha?
—Exatamente.
Um dar de ombros. Uma pausa. —É justo. Mas e quanto às meninas do hospital? Elas estão
disponíveis?
O nome Axel era o nome hebreu para paz. No caso do guerreiro, o nome era uma mentira.
Koldo agarrou-o pelo colarinho e jogou-o através da parede.
—Foi algo que eu disse?— Axel resmungou, a voz flutuando através da madeira e gesso
intocados.
Limpando as mãos depois de um trabalho benfeito, Koldo seguiu os passos de Jamila. Sabia
que Axel tinha as habilidades necessárias para lutar contra ele, selvagemente e sem misericórdia, e
Koldo não tinha certeza de que ganharia. Por isso a atitude despreocupada do macho para com ele
confundia-o.
Ele dobrou a esquina, só para ver o avanço de Thane. O loiro parecia aborrecido, sua fachada
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Anjos da Escuridão 02
habitual de eu quero ser um pouco perverso no café, almoço e jantar se foi. Tinha acontecido
alguma coisa?
Enquanto Koldo se aproximava, o prédio inteiro tremeu, e um estrondo rasgou o ar. Vozes
humanas aumentaram em súbito pânico. Koldo parou, franziu a testa. A agitação continuou,
intensificando-se. Um coro de gritos doloridos soou de cima, no céu.
Então, tudo se acalmou, aquietou.
Ele entrou em movimento novamente. Um terremoto? Aqui? Agora? E que afetou os céus?
Mas... Isso não pode estar certo.
Thane o olhou e fez uma pausa. —O que foi isso?
—Não tenho ideia.
—Bem, não importa. Zacharel está tentando descobrir por que fomos enviados aqui, quando
claramente não era uma ameaça real. Enquanto isso, iremos para casa. Minha casa.
—Eu o encontrarei lá.— Primeiro verificaria Nicola, só para ter certeza que tudo estava bem.
Por que... Um demônio poderia tê-la seguido até sua casa, ele percebeu. Houve um tempo
que Koldo teria feito algo assim. Teria seguido sua vítima. Teria encontrado o momento perfeito,
longe da proteção da pessoa.
Um demônio poderia tê-la machucado. E aqui estava Koldo, de pé em um corredor, sem fazer
nada. Perfurar as paredes não parecia suficientemente violento. Queria estrangular a si mesmo!
Os gritos dos inocentes... Todas as pessoas que ele machucou... Todas as pessoas que
matou... De repente surgiram em sua mente.
Thane o olhou desconfiado. —Você está planejando uma parada extra, não é?
Koldo desapareceu sem dizer uma palavra, aparecendo na pequena casa decadente com
tapete esfarrapado e mobiliário tão terrível que ele não os colocaria dentro da gaiola com sua mãe.
Ouviu um som ― diferente dos gritos.
Deu um passo a frente e encontrou Nicola no quarto mais próximo da sala de estar. Ela
estava cantarolando baixinho, colocando sua irmã na cama. E ela era linda de uma forma que
deveria ter sido impossível.
—Não temos nenhum chocolate?— Laila perguntou, as palavras um pouco arrastadas, ou de
exaustão ou pela medicação.
—Ainda não, mas teremos. Estou indo para a loja.
—Você é a melhor, CoCo.
—Isso é porque eu tenho o bom DNA da mamãe e do papai,— brincou Nicola. —Você ficou
com as sobras.
Laila riu, mesmo enquanto seus olhos se fechavam. Os lábios de Koldo tremeram nos cantos.
—Eu te amo.
—Eu também te amo.
Ele deveria sair. Não tinha o direito de estar aqui, observando, divertido, enquanto o sangue
escorria do passado dele para o chão. Salpicando aqui, salpicando lá, manchando todo lugar que
aparecia.
Seus punhos encontraram o caminho para seus próprios olhos, e ele cambaleou para trás.
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Anjos da Escuridão 02
Teletransportou-se para seu quarto no clube de Thane, e caiu no chão, trabalhando por cada
inalação. Ele era sujo, Nicola era pura. Ele era gelo, Nicola era fogo.
E ele estava em apuros. Mais uma vez, queria beijá-la.
Argh! Não deveria querer nada dela. Não poderia querer mais dela. Ele não era bom para ela.
Não era bom o suficiente.
Iria ajudá-la, mas teria que certificar-se de mantê-la à distância. Iria ajudá-la ― e, em
seguida, iria cortar seu vínculo.
Como ele reagiria a isso, não tinha certeza. Mas não seria bonito.
Capitulo Nove
Antes de deixar A Queda, Thane pediu para que sua amante permanecesse em sua cama, de
modo que ela estava justamente onde ele desejava quando retornou. Ela concordou de bom
grado. Agora, após seu retorno, ele parou um instante para analisa-la. Brilhantes cabelos
vermelhos espalhados sobre os travesseiros, os fios lembravam chamas vivas. Delicadas correntes
forjadas por um ferreiro imortal cercavam seus pulsos e tornozelos.
Eram —correntes de escravos. — O metal obrigava-a a obedecer qualquer comando de seu
amo. Ele desprezava a escravidão, e tentara remover as correntes. Falhou vergonhosamente.
E continuava furioso por isso.
Tivera que ouvir, impotente, enquanto demônios violavam Xerxes. Tivera que assistir,
incapaz, quando demônios penduraram Bjorn sobre ele, quando esfolaram toda a pele do
guerreiro e dançaram ao redor da sala com seus —casacos de pele. — Fora obrigado a permanecer
deitado no chão, acorrentado, incapaz de lutar, enquanto esses mesmos demônios lambiam o
sangue do peito e das pernas do guerreiro.
Gritar fazia os demônios rirem.
Implorar misericórdia fazia os demônios rirem.
Gracejar, rir, gargalhar. Era tudo que faziam.
Ele nem chegou a ferir as criaturas como desesperadamente desejava. Mas o pior? Eles não o
torturaram como fizeram com os outros. Seu único sofrimento foi mental, emocional.
Ele teria preferido que fosse físico.
—Depressa, — ela implorou, contorcendo-se em cima do colchão. —Estive pensando em
todas as coisas que você vai fazer comigo, e preciso de você.
—Você precisa do meu dinheiro, — ele disse, enquanto se despia. Kendra foi encontrada na
—Região do sexo— e comprada por Bjorn. O guerreiro tentou liberta-la, mas ela desejava um
guardião – e o premio veio para ele. Um trabalho ao qual Thane deu boas vindas.
—Talvez no começo. — Ela deslizou a ponta do dedo ao longo de uma trilha indecente. —
Mas viciei-me em seu toque. Eu preciso de você. Só você.
Isso era bom. Não era? Ele podia ter milhares de amantes diferentes em uma semana, mas
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Anjos da Escuridão 02
sempre voltava para essa. Ela não se envergonhava com o que faziam, e nunca o olhou com horror
nos olhos. Então porque se sentia enjoado?
Sentou-se na cama e se arrastou para cima. Cada centímetro mais perto dela, e o desejo de
ferir se intensificava. O desejo de ser ferido também.
As coisas que lhe foram negadas dentro de uma cela de prisão.
Ele não era tolo. Sabia por que se sentia assim. Sabia que era por isso que ele atacava. E
gostaria de odiar a si mesmo por seus desejos, mas os resultados lhe agradavam demais. Por um
momento, só um momento, gostaria de se deleitar na satisfação que não encontrava em nenhum
outro lugar.
Era passageiro, mas bastava. Pelo menos era o que dizia a si mesmo.
—Você precisa de mim também, — ela adicionou. —Eu sou a única que pode te satisfazer.
Não. Isso não era verdade.
Ele não queria que fosse verdade. Mulheres eram inconstantes. Amavam num minuto e
odiavam em outro. Sorriam, e então choravam. Ele não se permitiria depender de algo que não
conseguia controlar.
Ela mordiscou seu queixo. —Você nunca ficaria completamente satisfeito com nenhuma
outra. Elas são tão aborrecidas.
Seu sangue aqueceu de raiva – e excitação. —Qualquer uma pode me agradar. A qualquer
hora. De qualquer maneira. — E ele provaria isso.
Intensamente concentrado, começou a fazer as coisas normais que os homens fazem para
suas mulheres. Beijando carinhosamente, tocando gentilmente. Ela não resistiu e entregou-se ao
momento, sussurrando encorajamentos, gemendo. Mas, após meia hora assim, enquanto a
excitação dela aumentava, a dele diminuía.
Por quê? Porque ele não gostava disso?
—Oh Thane, — ela ofegou, enquanto o despia. —Eu nunca imaginei que você podia ser
assim.
—Eu... Não posso, — ele respondeu entre dentes cerrados. Um fino brilho de suor cobria sua
pele. O desejo de fazer coisas horríveis com ela bombardeava-o. Ela podia chorar e implorar. Mas
ele não mostraria misericórdia. Depois disso, era ela quem iria fazê-lo chorar e implorar. E também
não mostraria piedade. Ele não permitiria. Então... Então ele se sentiria satisfeito.
Deveria se sentir envergonhado. Bjorn e Xerxes se sentiam. Odiavam o que faziam a si
mesmos. Odiavam ainda mais o que faziam com suas mulheres.
Frustrado, Thane eliminou o contato com Kendra e levantou-se da cama – antes que
qualquer um deles estivesse satisfeito. Tremia quando empurrou a túnica sobre a cabeça e cobriu
sua nudez. O tecido adaptou-se as nervuras de suas asas e desceu suavemente por seu corpo ate
tocar o chão.
—Qual é o seu problema?— ela arfou. —Estava tão bom.
Não. Não estava.
Um brilho afiado passou por seus olhos. —Você esta planejando pegar outra mulher e tentar
de novo?— Amargura irrompia dela.
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—Não é da sua conta. — Ela sabia o que significava estar com ele, antes mesmo de
concordar em ficar.
—Você deveria ser mais agradável comigo, — ela bufou, socando o edredom. —Eu posso
decidir te deixar.
—E eu posso mostrar onde fica a porta. — E não lamentaria perde-la. Sentiria falta de sua
total falta de inibição, sim. Mas da mulher em si? Não. Ele estava comprometido com Bjorn e
Xerxes, e não havia espaço em sua vida para outra pessoa.
Saiu do quarto, enquanto ela gritava seu nome, fechando a porta e ignorando-a. Entrou no
escritório que dividia com seus companheiros. Eles estavam empoleirados na poltrona reclinável
de veludo vermelho que ele encontrou na India, os pés apoiados na mesa de cristal que um dos
clientes do clube perdeu em um jogo de pôquer. Os dois já tinham terminado com suas mulheres e
estavam bebendo. Ambrosia com uísque para Bjorn e... Ele cheirou... Vodca para Xerxes.
Ambos estavam trêmulos e pálidos. As bochechas de Xerxes estavam encovadas, e Thane
também sabia que o guerreiro vomitou recentemente. Bjorn tinha os olhos embotados com
memórias corrompidas.
O toque de outras pessoas sempre lembrava aos guerreiros as coisas horríveis que
enfrentaram naquelas cavernas infernais. Mas ainda assim eles foderam com tantas mulheres
quanto Thane. Talvez tentando provar que eram normais, percebeu agora. Ele sempre assumiu que
esperavam punir a si mesmos por aquilo que uma vez não conseguiram evitar.
Serviu-se uma dose de vodca e sentou-se ao lado de seus amigos.
—Koldo esta te procurando, — Bjorn disse após entornar o que restava em seu copo.
Um homem podia lidar com muitas coisas em um dia, mas teimoso e intratável como Koldo
era, Thane precisava estar em sua melhor forma para sair desse encontro ileso. E ele não estava. —
Deixe que procure.
Xerxes esfregou dois dedos ao longo da cicatriz em sua mandíbula. —Ele não parece ser do
tipo que desiste.
—Que pena. — Zacharel suspeitava que Koldo vacilava, a beira do abismo. Ele tinha a mesma
opinião sobre Thane. Então, decidiu juntá-los, pensando que iriam cuidar um do outro, fornecendo
algum tipo de equilíbrio aos demais. Pelo menos foi isso que Thane pensou.
Era a coisa mais sábia que Zacharel já fizera... Ou a mais estúpida.
—Qual é o acordo de Koldo, afinal de contas? — Bjorn perguntou.
Xerxes levantou uma sobrancelha incolor. —Se eu conheço bem Thane, e eu conheço, ele fez
uma pequena pesquisa antes de abordar Koldo.
Thane deu de ombros. —Eu descobri que nosso convidado perdeu pouco mais de uma
década em um acampamento de Nefas quando era mais jovem.
Os olhos de arco-íris brilharam perigosamente quando Bjorn disse: —O que foi feito com ele?
—De acordo com um dos Enviados que o resgatou, nada que Koldo admitiria. Ele estava
imundo, feroz, e massacrou todos os habitantes da vila. Todos humanos.
—Porque ele faria tal coisa?— Xerxes perguntou.
—Meu palpite? Ele já não tinha esperança. — Um homem sem esperança era uma arma
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perigosa. Os três sabiam disso muito bem. —Eu ouvi que Nefas trancava seus jovens numa prisão
com humanos inocentes, permitindo que somente um ficasse de fora – para matar os outros. Se
ninguém estivesse disposto a cometer o assassinato, todos morriam de fome.
Xerxes raspou as unhas contra uma das cicatrizes em seu braço. —Ele não poderia ter sido
criado assim. Eu nunca o ouvi praguejar. Nunca o vi beber. E todos nós vimos como ele trata as
mulheres.
Mas eles não tinham visto o que Koldo fazia nos bastidores. Não tinham visto os buracos em
suas paredes. Buracos do tamanho de seus punhos. Ele estava tão ferrado quanto eles.
Um sinal sonoro soou do interfone, poupando-o de ter que formular uma resposta. —
Senhor, Cario tentou esgueirar-se de novo, — disse uma voz masculina.
Cario. A menina tola. Esta era sua terceira tentativa de chegar a Xerxes nas últimas três
semanas. Por alguma razão, ela estava obcecada com o homem. O guerreiro, porém, não tinha
ideia de quem ela era ou por que queria alguma coisa com ele. Suas origens não eram claras, mas
uma coisa sabiam. Ela podia ler suas mentes e sabia sobre seus passados.
Um passado que estavam determinados a manter em segredo.
—Diga-me que você a pegou desta vez,— Xerxes exigiu.
Um estalo de ar no alto-falante. —Uh, bem...
O guerreiro deu um soco no braço da cadeira. —Essa mulher precisa ser detida.
—Dobre o número de guardas em cada uma das portas, — Thane disse. Então, para Xerxes,
ele acrescentou, —Nós vamos encontra-la. Não se preocupe.
—O que ela quer com você, afinal?— Bjorn foi para o bar e serviu outra bebida. Uma bebida
que rapidamente engoliu e que foi prontamente substituída por outra.
—Eu não tenho a menor ideia.— Largando-se contra o encosto da cadeira, Xerxes esfregou a
mão pelo rosto. —A primeira vez que a vi foi quando ela veio para o clube e Thane ofereceu-lhe
meus serviços sexuais.
—Eu pensei que estava te fazendo um favor.
—Você pensou errado, meu amigo. E agora, eu tenho que ir.— Xerxes ficou em pé,
claramente desconfortável com o tema da conversa. —McCadden ainda tem de ser alimentado.
McCadden era um Enviado caído que tentou assassinar uma das incumbências de Zacharel,
e ainda planejava, assassinar o homem. Xerxes deveria tê-lo eliminado e salvo a si mesmo do
trabalho de babá, mas matar seu ex-companheiro não era uma opção. Então, o mantinham
trancado.
Xerxes saiu da sala sem dizer uma palavra.
Bjorn olhou para o fundo do seu copo vazio, com os ombros levemente curvados. —Eu
deveria ir, também.
Não, Thane queria dizer. Fique comigo. Mas ele não era tão carente. —Vejo você amanhã,
então.
—Amanhã. — A resposta de seu amigo estava vazia, as costas retas quando saiu da sala.
O silencio envolveu Thane imediatamente.
Silêncio. Como ele o desprezava. Ficou sozinho com seus pensamentos, suas memórias.
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Anjos da Escuridão 02
Carrancudo, se levantou e andou em direção a seu quarto, e parou. A Fênix ainda estava em sua
cama. Poderia ir ate ela, poderia tê-la e, finalmente, —acabar com eles—... mas não. Ele iria acabar
com a sua relação. Não iria tê-la em seus braços novamente.
Caminhou de sua ala privada no prédio espaçoso para o elevador, e desceu para o bar.
Encontraria outra amante aqui, esqueceria as preocupações com seus amigos e manteria a mente
longe do passado.
No momento em que as portas se abriram, revelando a caverna escura com paredes forradas
de veludo, sofás e mesas de vidro preto, o barulho o assaltou e ele foi capaz de relaxar.
Ele vagava pela escuridão. Os clientes estavam em todas as direções. Alguns sentaram nas
mesas, bebendo, inspirando ambrosia, enquanto alguns descansavam nos sofás em volta,
inclinando-se, tanto quanto possível sobre o amante escolhido para essa noite. Alguns dançavam
no centro da sala, com as mãos errantes. Ele escutou conversas sussurradas.
—Você vai gostar, eu prometo. Basta tentar.
—... relação material com potencial. Sério. Todos essas gostosas são escória.
—Realmente pensou que eu ficaria com alguém como você?
Seu olhar vasculhou... Examinando... Até que, finalmente, encontrou a Harpia loira que
Koldo rejeitou.
Ela teria que servir, decidiu.
Thane perambulou para mais perto dela. Enquanto a luz rosa e azul clara caía estroboscópica
sobre ela, podia ver que ela não cobriu a pele luminosa com maquiagem. Preciosos tons
irradiavam dela, proporcionando uma festa para os olhos.
Uma festa para todos os outros homens, também. Eles se reuniram em torno de sua mesa,
olhando para ela com fascínio enquanto ela contava uma história sobre... Os riscos de um
escapamento de carro?
Ele deu um passo atrás dela. —Fora, — disse aos homens com um tom brusco e que
prometia graves consequências se desobedecessem.
A maioria caiu fora. Alguns demoraram, olhando para ele, até que ele virou e os encarou com
a força de seu olhar. Eles pularam e correram.
A garota se virou para ele, franzindo a testa. —Porque você fez isso? Agora minha
experiência está arruinada. Arruinada!
—Que experiência?
—Descobrir o quanto eu poderia ser chata e ainda assim agitar o clube.
Ela era uma coisinha pequena e divertida, não era? Ele se inclinou e sussurrou em seu
ouvido: —Que tal você me agitar, hein?
—Uh, acho que não.
—Por quê?— Ela estivera disposta a dar uma dança erótica a Koldo porque ele tinha o rosto
de um assassino. Thane era ainda mais merecedor, já que tinha os reais instintos homicidas.
—Você não é exatamente o que estou procurando.
Uma recusa verdadeira ou um jogo? —Posso fazê-la mudar de ideia quanto a isso.
—Não leve a mal, mas não. Não, você não pode.
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Anjos da Escuridão 02
Humm. Quando ele se endireitou, sentiu elos de fumaça flutuando pelo ar. Fumaça que não
era de cigarros ou charutos, mas de madeira carbonizada e tecido. Estudou o bar, em busca de
provas de um incêndio. Encontrou Kendra vindo em sua direção, usando nada mais do que sutiã,
calcinha e as correntes de escravos.
—Thane, — ela gritou. —Eu sabia que você viria até aqui.
A multidão se afastou para abrir caminho para ela.
Seu cabelo vermelho brilhante estava em pé, como se tivesse levado um choque. Seus olhos
cintilavam como fogo ardente, e sua pele brilhava o suficiente para rivalizar com a da Harpia. Seus
braços foram reduzindo, suas garras prolongado e lançando pequenas chamas douradas no chão.
Chamas que não apagavam. Cresciam.
Ela revelou presas afiadas e cuspiu, —Você me deixou na cama para vir até aqui se divertir
com alguma vagabunda suja de rua?
—Ei!— A Harpia estalou. —Eu tomei banho hoje.
Ele chamou o chefe da segurança, para dispersar os curiosos. Vozes iradas subiram da
multidão, mas o Fae que tinha contratado era bom em seu trabalho. Thane desprezava
demonstrações públicas como esta, e não toleraria isso.
Logo, somente ele e a Fênix permaneceram.
—Eu nunca prometi fidelidade, Kendra,— ele disse suavemente. —Na verdade, eu prometi o
oposto. Você dizia ser feliz com nosso acordo.
Seu queixo elevou-se com desprezo. —Eu era. As coisas mudaram.
—Por quê?
Ela pensou por um momento. Obviamente, não conseguiu encontrar uma resposta
satisfatória, porque bateu o pé e disse: —Se você acha que há outra mulher por aí que vai fazer as
coisas nojentas que você precisa, você está errado. Eu lhe disse. Eu sou a única capaz de satisfazê-
lo.
Nojento, ela disse.
E ela estava certa. Mas ela sempre o fez pensar que gostava.
Ela mentiu, e ele odiava mentirosos. —Eu disse a você, — ele respondeu suavemente,
mesmo quando a raiva o inflamou. —Há muitas pessoas que podem me satisfazer. E elas satisfarão.
Mas você não. Nunca mais.— Ele diminuiu a distância entre eles, agarrou-a pelo pescoço e apertou
com força suficiente para tornar a respiração difícil, mas não impossível.
Seus olhos se arregalaram de medo.
—Você não devia ter testado meu temperamento. Agora eu vou puni-la. E eu te prometo:
antes que eu termine você desejará que eu tivesse te matado rapidamente.
Capitulo Dez
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Anjos da Escuridão 02
tempo suficiente para pegar sua irmã no hospital, garantir que Laila ficasse bem em casa, tomar
um banho para lavar a loção que Koldo desprezava e percorrer os corredores do supermercado
mais próximo. Medo que ela não achava que conseguiria eliminar. Mas, quando virou o carro em
seu bairro para voltar para casa, finalmente transbordou – não conseguiu evitar. Mesmo que
pudesse, não sabia como. Em segundos, sentiu como se tivesse entornado o mais tóxico dos
champanhes com todos os possíveis efeitos colaterais convergentes: tontura, perturbação do
estômago e zumbido nos ouvidos.
Com a visão turva, estacionou próximo ao meio-fio e inclinou a cabeça contra o volante,
respirando com lenta deliberação. Ainda estou lidando com os efeitos colaterais de uma concussão.
Isto é tudo. Certamente.
Esperemos.
Ou isso, ou Koldo trouxera algo desagradável para sua vida.
Mas... Não. Ele era um guerreiro (famoso) em sua essência. Ele estava atento. Ele saberia se
tivesse atraído algo malévolo. E se tivesse, ele não teria lhe deixado para trás para se cuidar
sozinha. Ele não era do tipo que fugia. Não podia ser.
Ele a ajudou quando poderia ter permanecido invisível. Ou o que quer que fosse. Ajudou
Laila quando poderia nem ter se envolvido.
Isso se devia a concussão... Mas ela não estava satisfeita com essa explicação. Não estava
tranquila sobre isso. Então... E se Nicola não estava tendo alucinações? E se a criatura que ela viu
fosse real? Afinal, Koldo poderia chegar e sair em um piscar de olhos, e ele não era uma
alucinação. Por que outra coisa não podia fazer o mesmo?
Assim, se o guerreiro não levou a criatura à sua porta, então... O que levou? E o que era isso,
exatamente?
Quando era mais jovem, tinha ouvido meninas sussurrando na escola, com medo dos
monstros em seus armários. Até aquele momento, Nicola não sabia nada sobre tais monstros. Seus
pais nunca permitiram que ela e Laila assistissem TV, e escolhiam cuidadosamente cada livro que
leram. Ela tinha sido tão maravilhosamente inocente em relação aos males lá fora, temendo
apenas o que seu próprio corpo fazia com ela.
Mas, claro, tudo mudou depois dessa conversa sussurrada.
Não conseguia mais dormir. Procurava monstros em cada esquina, ate que começou a vê-los.
Um macaco, furioso e com presas enormes parado no ombro de sua mãe. Dois no ombro de seu
pai. Um seguindo Laila. Um seguindo Nicola.
O medo crescente e o estresse constante danificaram ainda mais seu coração. Mas, depois
de meses de terapia e medicamentos novos, conseguiu encontrar uma pequena medida de paz.
Paz instável, que ia e vinha. Mas nunca mais viu outro monstro. Até recentemente.
Nos últimos dias, tinha visto dois. Um com Laila, e um em seu trabalho.
Talvez não estivesse tão louca naquela época. Talvez os monstros sempre estiveram lá, e ela
simplesmente fechou os olhos. Mas agora... Agora seus olhos estavam abertos novamente.
Seu estômago torcia em centenas de pequenos nós, as bordas afiadas o suficiente para
cortar. E foi exatamente o que fizeram, fazendo-a estremecer.
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Percebeu que não podia pensar sobre isso agora. Preocupar- se, mais do que já fizera, era
violar as regras de Koldo. E, além disso, tinha muito que fazer. Laila estava em casa, esperando por
ela. Nicola comprou o chocolate que sua irmã pediu, bem como algumas outras necessidades
básicas, como sorvetes, sanduíches e batatas fritas. Os mantimentos estavam, provavelmente,
assando no calor do carro, já que Bucket não consertou o ar-condicionado.
Inspire profundamente... Expire profundamente. Forçou sua mente a se concentrar em
pensamentos calmantes. Laila, feliz. Koldo, contando aquelas piadas que ele mencionou. Podia
imaginar o que ele diria.
Por que o guerreiro atravessou a estrada?
Essa é fácil. Para matar o cara do outro lado.
Um que de diversão em seu sorriso.
Toc, toc.
Quem está aí?
Donut.
Que Donut?
Donut correr de mim, garota insignificante.7
A diversão permaneceu pelo resto do caminho.
Sua visão clareou. O estômago acalmou. Depois de verificar a rua e encontra-la vazia, ela
avançou. Seu olhar escrutinou a área em ruínas que qualquer um com metade de um cérebro teria
evitado. A maioria dos gramados era alto e cheio de ervas daninhas, para esconder a evidência de
crimes recentes, ela tinha certeza, e a maioria das casas tinha pedaços de madeira tapando as
janelas8. Todas as casas estavam pichadas, a dela incluída.
As sirenes da polícia podiam ser ouvidas durante toda a noite, todas as noites, e ela tinha
certeza de que o vizinho à sua esquerda tinha um laboratório de metanfetamina no porão. Mas
isso era tudo pelo que podia pagar, após a casa de seus pais ter sido vendida para pagar alguns
credores de sua pilha absurda de dividas.
Chega. Nicola tinha exatamente uma hora antes de bater o cartão no mercado orgânico Y &
R. Um lugar no qual não podia dar-se ao luxo de fazer compras, mesmo com o desconto de
empregado. Planejava passar cada minuto dessa hora restante com Laila.
Só que, depois que arrumou as compras, descobriu que sua irmã havia se mudado da cama
para o sofá. Embalagens vazias de comida estavam ao seu redor, enquanto dormia. A TV reprisava
um antigo episódio de Castle. Nicola sorriu. Isso era o que ela queria há muito tempo. Laila, aqui.
Laila, relaxada.
Mas seu sorriso desapareceu quando viu dois macacos empoleirados no topo do sofá, ambos
olhando para ela, o pelo levantado de forma agressiva. Como a criatura no hospital - de fato, a da
7 Na piada, a palavra Donut substitui a expressão do not que significa algo como não faça. Nesse caso, não corra.
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esquerda devia ser exatamente a mesma que ela tinha visto - tinham tentáculos em vez de braços,
serpenteando como cobras famintas prontas para uma refeição.
Como uma criança, Nicola teve vontade de gritar e sair correndo.
Somente algumas horas atrás, saíra apavorada cantando os pneus do carro.
Agora, iria descobrir a verdade de uma forma ou de outra.
Tremendo, marchou para frente e estendeu a mão. Uma das criaturas desencadeou um grito
de raiva, para assustá-la ou para somente avisá-la de que estava prestes a perder a mão. O outro
golpeou-a com um dos tentáculos, e o contato queimou, deixando um vergão vermelho.
Isso significava... Significava que os monstros eram reais.
Antes que pudesse entrar em pânico, ambas as criaturas pularam do sofá e desapareceram
atrás do muro.
Seus joelhos cederam e ela caiu no chão, tentando estabilizar seu coração agitado. Doce
misericórdia. O que isso significa? E o que iria fazer a respeito?
Pouco depois da meia noite, Nicola encerrou seu turno no mercado orgânico Y & R, e
sinceramente, nunca se sentiu tão feliz com o fim de um dia. Não só porque estava ansiosa para
voltar a Laila, mas também porque cada colega de trabalho que cruzou seu caminho a insultou. Por
nenhuma razão! Cada cliente que se dirigiu para seu caixa tinha gritado com ela. E, okay, sim, eles
tinham uma boa razão.
Os macacos com tentáculos a seguiram. Eles, e cerca de vinte de seus amigos mais queridos.
Mas pelo menos eles não estavam oscilando em torno da pobre Laila.
Dez minutos após a sua chegada, a horda se reuniu dentro do mercado, subindo pelas
paredes, ao longo das telhas do teto, caindo sobre os ombros de todos que ela encontrou, sem o
conhecimento deles claro, rindo e apontando para ela.
Ela gritou.
Ela olhou.
Quase desmaiou.
Mas ninguém tinha visto. Ninguém reagiu. Bem, não reagiram aos demônios. Eles reagiram a
seus ataques agudos de terror.
Cerca de vinte minutos atrás, as criaturas desapareceram da mesma forma que vieram.
Ela queria falar com Koldo. E talvez escalar o corpo dele como uma árvore e se esconder lá
em cima na estratosfera superior onde, com sorte, ninguém seria capaz de vê-la e não teria que
lidar com esse tipo de situação.
—Nicola, eu preciso falar com você em meu escritório.
A voz lhe afastou de seus pensamentos, e ela virou-se para ver seu chefe de pé no final de
seu caixa. Ele tinha cabelo cor de areia, olhos castanhos e pele num tom de oliva. Seria um cara
decente, se não fosse tão esquisito.
Era o tipo que massageia os ombros de todas as mulheres que encontrava, —apenas para
ajudar a relaxar—.Isso não teria sido tão ruim, ela supunha, mas ele também gostava de sussurrar:
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Anjos da Escuridão 02
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que os jornais estavam empapados? Como não poderia sentir aquele... O nariz dela franziu...
Aquele cheiro nojento? —Ela, hum, está melhor. Está em casa.
—Isso é bom.— Seu tom baixou, e o olhar também, pousando em seus seios e
permanecendo ali.
—Isso é muito bom.
As mãos de Nicola se curvaram em punhos. —Isso era tudo o que você queria?
Um momento se passou antes que ele pudesse se lembrar que ela tinha um rosto. Ele
recostou-se na cadeira e cruzou as mãos sobre o peito.
—Seu desempenho hoje foi incomum, mas você sabe disso. Você irritou vários clientes
cobrando os itens duas ou três vezes.
—Mas eu consertei os erros.
—No entanto, — continuou ele suavemente, —Tenho certeza que em breve você vai estar
me pedindo para tirar algum tempo para ficar com sua irmã, e como você sabe, não temos
ninguém que possa tomar seu lugar. Vou precisar contratar alguém novo. E se eu contratar alguém
novo, por que a pessoa simplesmente não poderia assumir todas as suas horas?
Uma maré de medo tomou conta dela, seguido rapidamente por um impulso intensificado de
fugir. Mas por que fugir? Perguntou-se agora. A ameaça já fora emitida, e esta era sua chance de
oferecer um contraponto. Então, mais uma vez ela ficou.
—Eu posso prometer que nunca mais teremos outro dia como o de hoje.— A partir de agora,
iria ignorar a existência dos macacos. Isso é o que os terapeutas lhe disseram para fazer quando
criança, e tinha funcionado. Certo? —Eu não vou pedir nenhum dia de folga, você tem a minha
palavra.
O macaco começou a pular para cima e para baixo, gritando, e ela teve dificuldade em
distinguir as próximas palavras do Sr. Ritter. —E se sua irmã ficar doente de novo? O que vai
acontecer então? E se você ficar doente de novo?
—Não importa. Eu virei trabalhar.
Lábios franzidos, ele estendeu a mão e traçou um dedo sobre a foto de sua esposa e três
filhos. —O quanto você quer manter este trabalho?
—Muito, — disse, inclinando-se para frente. —Existe algo que eu possa fazer? Horas extras?
Você decide!
A mão dele caiu para a lateral do corpo. Ele sorriu.
O macaco ficou quieto e também sorriu.
—Estava esperando que você dissesse isso, — disse o Sr. Ritter, um brilho repugnante
cintilando nos olhos. —Eu quero que você comece me dizendo como pretende usar a sua boca em
mim, e por fim descreva como vai se curvar sobre minha mesa. Então quero que você faça
exatamente isso.
Um momento se passou em silêncio enquanto sua mente processava o que acabara de ouvir.
Ele não tinha... Ele não poderia ter... Ah, mas ele podia, e ele tinha. —Você não tem que me
demitir. Eu me demito.— Ela levantou-se e marchou para a porta. A fechadura não destrancou-se
quando a girou. Sentia raiva misturada com frustração quando esbravejou, —Deixe-me sair. Agora.
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Anjos da Escuridão 02
—Eu tranquei a porta. Espero que você não se importe.— Sorrindo, o Sr. Ritter ficou de pé,
caminhou ao redor da mesa. O macaco pulou para o chão e seguiu-o, o tamborilar das garras
retumbando a cada passo. —Eu me pergunto como você é na cama, sabe?
Ela tentou a fechadura de novo, mas, novamente, não funcionou. O medo aboliu o ar de seus
pulmões, expurgando todas as outras emoções. Estava presa nesta pequena sala, e ninguém estava
lá para ouvir o seu grito de ajuda.
—Deixe-me sair, Sr. Ritter.— Havia um tremor em sua voz, que ela não conseguia esconder.
—Se tentar alguma coisa, lutarei contra você. Você será punido.
—Eu quero que você lute. Não que vá lhe fazer qualquer bem. Mas não... Não serei punido.
Isso eu prometo.
Com o coração batendo forte, ela se virou para ele. A ação lhe deixou tonta, mas ela
conseguiu se manter em pé.
Ele estava tão perto que só tinha que esticar o braço para agarrar uma mecha de seu cabelo
entre os dedos muito finos. —Eu disse a todos que planejava demiti-la esta noite. Amanhã, se a
polícia bater na minha porta, contarei a eles que você me ofereceu seu corpo para ficar, e, claro,
em um momento de fraqueza, eu sucumbi. E oh, as coisas pervertidas que você me deixou fazer.
Depois disso, porém, você ainda estava demitida. Horrível de minha parte? Sim. Mas merecedor de
suas mentiras maliciosas sobre estupro? Tsc tsc tsc. Não.
Estupro. A palavra ecoou surdamente em sua mente. Foi por isso que os seus instintos
impeliram que fugisse enquanto ainda podia, ela percebeu, e não porque ele tinha planejado
demiti-la. Por que, por que, por que não escutou?
—N-ninguém vai acreditar em você.
—Não vão?— Ele avançou cada vez mais perto dela. —Eu sei o que estou planejando fazer, e
ate mesmo eu acredito em mim. Veja, você me disse que caiu no hospital e bateu a cabeça.
Suponho que você teve contusões. O que é um pouco mais? Como é que alguém seria capaz de
notar a diferença?
Os médicos seriam capazes de perceber a diferença. E tinha certeza de que as autoridades
seria capazes também... Mas o que isso importava agora? No momento em que descobrissem a
verdade, o mal já teria sido feito.
O medo aumentava, beirando as raias do pânico. Não podia ceder a ele. Devia lutar.
Nicola virou um punho, com a intenção de socá-lo no nariz e ganhar alguns minutos para
encontrar uma arma, mas ele pulou para fora do caminho, evitando o contato. Antes que pudesse
desferir outro ataque, ele chutou e atingiu seus dois tornozelos. Ela voou para trás, o crânio
batendo na porta. Uma dor aguda torceu um suspiro dela, enquanto pontos luminosos
obscureciam sua visão, e ela escorregou para o chão de concreto.
Outra concussão? Ela perguntou-se distante.
Sorrindo, o Sr. Ritter se inclinou sobre ela. —Eu coloquei uma câmera no banheiro das
mulheres, sabe? Sua calcinha sempre foi a minha favorita.
Sua imagem nublou, misturando-se com a do macaco. A criatura estava, mais uma vez, se
preparando para fazer xixi. De alguma forma, ela conseguiu encontrar forças para virar a cabeça e
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—Até a próxima batalha, guerreiro. — Thane abriu as asas e elevou-se no ar com o Sr. Ritter
agarrado ao seu lado.
Capítulo Onze
Sua responsabilidade carga, Koldo pensou. As ações de Nicola agora seriam dele. Se ela
matasse um humano, ele seria responsabilizado. Se um demônio a matasse, seria como se fosse
ele mesmo quem tivesse dado o golpe mortal.
Suas vidas agora estavam, irrevogavelmente, atadas.
Como o comandante de Koldo, Zacharel tinha autoridade para colocar qualquer um,
qualquer pessoa, aos cuidados de Koldo. Assim como Germanus tinha autoridade para colocar
Koldo aos cuidados de Zacharel. Mas porque Zacharel fez isso com ele? Como os guerreiros da Elite
poderiam ter esperança de vencer?
Quaisquer que fossem as respostas, Koldo deveria perguntar depois a Zacharel. Agora, queria
que o estado de choque de Nicola passasse. E ele realmente precisava freiar seu temperamento.
Tão gentil quanto possível, puxou a trêmula Nicola para ficar de pé dentro de seus braços. —
Feche os olhos. — Ele podia teletransportar o que quer que estivesse em seus braços, e foi capaz
de levá-la para casa com apenas um pensamento. Em um minuto estavam no escritório, e no
minuto seguinte estavam no meio da sala da casa dela. Seus braços, que estavam ao redor dela,
caíram, e ela cambaleou para trás. Quando se endireitou seu olhar se fixou nos arredores
familiares de sua sala de estar e seu queixo caiu.
—Estou em casa. Mas como pode... Nós não demos nenhum passo... E só se passou um
milésimo de segundo!
—Chama-se flash9. É o que tenho feito o tempo todo desde que comecei a vir aqui. Dessa
vez, eu trouxe você comigo.
Sua mão voou para o pescoço. —De onde eu venho, flashing significa expor seu corpo nu
para alguém.
Ele não questionaria essa afirmação. Não depois de tudo que ela passou hoje. —Mas não
viemos do mesmo lugar, viemos?
—Eu... Eu acho que não.
Ele estivera aqui antes, mas mesmo assim olhou ao redor, percebendo os detalhes que
ignorou anteriormente. A casa era pequena e a beira de desmoronar, mas era limpa. As paredes
estavam amareladas e descamando pelo tempo, mas foram raspadas. Onde o carpete fora
arrancado, o chão era manchado.
A casa não era digna dela.
Deveria levá-la para morar em uma de suas casas.
9Utilizamos a palavra teletransportar para tradução de flash em todo o livro, mas a autora faz um trocadilho com essa palavra na
próxima frase, então deixamos a palavra em inglês.
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Anjos da Escuridão 02
Sim ele pensou. Nunca convidara ninguém para nenhuma de suas casas, embora alguns
guerreiros tivessem se auto-convidado, ainda assim, repentinamente ansiava por se
teletransportar com Nicola para a casa de praia ou para o rancho perto do vulcão, para rodeá-la
com veludos, sedas e luxos de todo tipo.
Se ela protestasse, ele poderia lembra-la de seu acordo. Pelo tempo que considerasse
necessário, ela iria fazer o que ele dissesse, quando ele dissesse, sem nenhuma discussão. Mas...
Precisava do seu consentimento.
—Sente-se. Eu vou fazer um chá.
—Você vai ficar?— Ela chiou.
Esse chiado era um sinal de alívio? Ou desapontamento?
—Eu vou ficar. — Tente se livrar de mim. Veja o que acontece.
Ela engoliu em seco e assentiu.
Ele não gostava do quanto ela estava pálida e trêmula e embora odiasse se afastar dela,
mesmo que por um segundo, fez exatamente isso. Na cozinha, procurou até encontrar os itens
necessários. Ela tinha uma caçarola, uma panela e dois itens das outras coisas. Havia algumas
comidas enlatadas, algumas latas de sopa, mas pouca coisa de tudo. Há quanto tempo ela estava
vivendo assim?
Muito tempo, ele decidiu.
Teve que consertar o acendedor do fogão, a fim de ferver a água, e tão logo fez uma
fumegante xícara de chá de camomila deu a ela. Ela descansou no sofá, com as pernas debaixo do
corpo e um cobertor envolto em torno dos ombros. A cor já havia retornado a suas bochechas e o
tremor diminuiu.
—Obrigada. — Ela disse respeitável e polida, e tão adorável que o peito dele doeu.
—De nada. Beba enquanto eu vejo como Laila está.
—Eu a olhei antes de me sentar, — ela admitiu.
Ele deveria ter adivinhado. —E como ela está?
—Bem. Estava dormindo. — Depois de soprar sobre a superfície do chá, Nicola bebeu. —Na
verdade, isso é tudo que ela tem feito ultimamente. É normal?
—Sim. — Seu corpo estava agarrando seu espírito. —Não se preocupe. Ela não vai passar
todo o resto do tempo na cama.
Nicola estremeceu com a referência ao tique-taque do relógio. —Mas se ela está melhor
agora, por que não pode continuar assim?
Ele ouviu o desejo em seu tom de voz e sabia que esse era o momento perfeito para
apresentá-la para o mundo espiritual ao seu redor.
Koldo se agachou na frente dela. Vários cachos ondulados de cabelo tinham escapado de seu
rabo de cavalo e agora caiam sobre as têmporas, emoldurando seu rosto. Olheiras escuras
marcavam a pele macia sob os olhos e os lábios estavam inchados. Ela os teria mastigado por
medo? Ou teria sido atingida?
Calma. —Você vai deixar de trabalhar no supermercado. Entendeu? —Não era o que ele
tinha planejado dizer, mas as palavras escaparam de qualquer maneira.
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—Me perdoe, — ela ofegou e deixou cair o braço. —Não tive intenção de maltratar você.
Essa suave carícia era considerada mau trato? O que ela achou que ele fizera com ela?
Perguntou-se, um pouco enjoado.
—Eu gostei. — Koldo tomou-lhe a mão o mais carinhosamente possível e a trouxe de volta
para seu rosto. Pouco a pouco, Nicola relaxou e assim permaneceu. Logo, ela estava acariciando a
barba por vontade própria, hipnotizando-o com suas ações. Ele teve que engolir um ronronar de
aprovação.
—O que aconteceu depois?, — Perguntou ela.
—Lúcifer e seus anjos caídos introduziram doença, pobreza, sofrimento e até mesmo a morte
física no mundo. Quanto aos seres vivos no núcleo da terra, estavam sem corpo, procurando
desesperadamente um receptáculo Alguns vieram à superfície, procurando. São as criaturas que
você conhece como demônios.
Um tremor de repulsa a embalou. —Todos eles parecem terríveis.
—Eles são.— Mais do que ela percebeu. —Por um tempo, os anjos caídos viveram entre os
humanos, chamavam a si mesmos de deuses, perseguiam a terra em seu lazer, atormentando
quem desejavam. Alguns até acasalaram-se com as fêmeas humana e seus filhos tornaram-se
conhecidos como Nephilim. Eram criaturas horríveis cheias de ódio e impulsionados pela ganância.
Eram gigantes, selvagens, brutais e... —Como explicar? —Diferentes culturas deram-lhes nomes
diferentes.
—Na mitologia, — disse ela, arregalando os olhos.
—Exatamente. Grega, Titan. Egípcia. Nórdica. Qualquer uma, todas. Os anjos caídos foram
punidos por contaminar a raça humana, e acorrentados sob o inferno, onde não poderiam ser
libertados por seus companheiros. Os Nephilim foram eliminados, pelo menos por um tempo.
Com os braços em volta da cintura, cortando o contato com Koldo, seus tremores se
intensificaram novamente. Não do mesmo jeito que no supermercado, mas o suficiente para fazê-
lo ficar junto a ela.
Enquanto colocava o cobertor com mais firmeza ao redor dos ombros dela, ele disse: —Há
também demônios no inferno, não para atormentar os espíritos lançados lá. Eles se referem a si
mesmos como altos senhores e asseclas, mas têm nomes muitos diferentes, muitas classificações
diferentes. Alguns preferem ficar aqui.
—Procurando um receptáculo, você disse.
Ele assentiu com a cabeça. —E alguém para atormentar, para se alimentar.
—É isso que eles querem de mim?
—Sim. Querem encher você com seu veneno enfraquecendo suas defesas contra eles, o que
lhes permitiria atravessar sua pele e seu corpo. Uma vez dentro de você, eles lutam para controlar
seus pensamentos, suas ações e durante todo o tempo alimentam-se de suas emoções negativas,
infectam você com doenças.
—Doenças, — ela repetiu.
—Sim, mas não há cura. Para obtê-la, o Altíssimo lutou e derrotou Lúcifer de novo. —Foi
quando o primeiro da espécie de Koldo foi criado, encarregado de escoltar os humanos das trevas
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10Escherichia Coli é um grupo grande e diverso de bactérias que podem causar diarreia, infecção urinária, doenças respiratórias e
pneumonia.
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seria tão poderoso quanto o Altíssimo, e não ouviria os gritos de um ser humano. Mais do que isso,
ele estava limitado ao número de tropas que poderia enviar.
—Como você tem certeza?
—Ele prometeu resgatar todos os seres humanos que clamarem a Ele, e Ele sempre cumpre
suas promessas.
—Todo ser humano. Até mesmo eu?
Suas sobrancelhas muito finas franziram. —Você é humana?
—Ha, ha. Você sabe que eu sou. Espere. Eu sou, certo?
Não sorria. —Você é. E agora, estou terminando esta conversa. —Para o bem de ambos. —
Há tarefas a serem feitas, e espero que eu seja homem o suficiente para fazê-las.
Capítulo Doze
Nicola observou enquanto Koldo andava pela casa inteira, consertando tudo o que estava
quebrado, reforçando as fechaduras das portas e janelas, e até mesmo se teletransportando para
estocar comida nos armários e geladeira. Todo o tempo, ela cambaleou.
Os monstros que tinha visto quando criança eram reais.
Demônios envenenaram a ela e sua irmã.
O cara no qual não conseguia parar de pensar não era humano.
Ela se concentrou nele - era menos complicado. Ele seria naturalmente careca ou raspou a
cabeça? Não havia nenhum indício de cabelo em seu couro cabeludo, o que a levou a crer que não
havia folículos. Mas isso pouco importava. Bonito como ele era, não tinha necessidade de cabelos.
E agora que sabia como eram suas costas sob a túnica, considerou-o mais do que bonito, de
tirar o fôlego. Paralelamente aos dois lados da espinha estava o tecido cicatrizado de cerca de doze
centímetros de comprimento e quatro de espessura. Em algum momento de sua vida, ele tivera
asas. Algo ou alguém, arrancou-as? Um demônio? Agora, a tinta vermelha ramificou em ambas as
cicatrizes, formando as asas gloriosas. O projeto era tão incrivelmente detalhado, cada pena
representava individualidade. E os músculos por baixo daquelas tatuagens... Misericórdia.
Como poderia um homem que parecia tão feroz como ele fazer uma gentileza? Ou o homem
e o Enviado estariam interligados? Não poderia haver um sem o outro?
E o fogo latente em seus olhos? Seria como saltar a um lugar de perigo? Ou desejo?
Ele terminou de estocar seus armários e se encostou na parede entre a cozinha e a sala de
estar. Cruzou os braços sobre o peito e balançou a cabeça. —Então você sabe como relaxar.
Ha-ha. —Se você quer me mimar, deixarei você cuidar de mim.
—Na verdade, eu gostaria de questioná-la. Por que você trabalha tanto?
O que ele estava realmente perguntando: Por que você trabalha tanto e ainda vivem na
miséria total? —Despesas médicas,— foi tudo o que ela disse.
Ele abriu a boca, fechou-a, em seguida, respirando pesadamente. —Eu quero pagar suas
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Anjos da Escuridão 02
contas, — ele disse hesitante, provavelmente esperando que ela voasse para fora do sofá e o
atacasse por se atrever a sugerir uma coisa dessas.
Como se tal proposta fosse ofendê-la. —Eu não estava insinuando ou qualquer coisa desse
tipo, — disse ela com um sorriso. —E espere um segundo. Você tem dinheiro?
—Muito. Os Enviados são recompensados pelo seu trabalho. E eu gostaria de fazer isso, mais
que tudo.
—Mas...
—Eu tinha planejado pagar suas contas de um jeito ou de outro. Desse jeito, eu posso pegar
os avisos vencidos empilhados na cesta que você rotulou de —Destino, — com o seu
conhecimento, em vez de roubá-los e acabar recebendo uma punição por isso.
Ter um peso financeiro tão grande retirado de seus ombros... Não viver com medo de perder
sua casa, ter seus eletrodomésticos desligados, ser capaz de dispor de Twinkies Hostess 11 reais, em
vez de uma imitação seca...
—Oh, Koldo.— Ela saltou do sofá e se atirou contra ele. Pela primeira, ele ficou duro. Depois
de alguns segundos, no entanto, ele se suavizou e passou os braços em torno dela. —Sim, sim, mil
vezes sim. Aceito. E muito obrigada, por sinal,— ela brincou, em um esforço para mascarar o
queixo tremendo. —Quer dizer, eu sou como uma doadora e não estou disposta a permitir que
você seja punido.
Ele bufou, e era um som tão lindo. —Isso agrada a você, então? Te faz feliz?
—Faz. — Seu coração trovejou no peito em um ritmo boom, boom, boom. —Eu sei que
deveria me sentir culpada, por estar usando você e seu dinheiro ou algo assim, mas eu
simplesmente não consigo convocar a emoção.
Ele endureceu de novo, dizendo: —Se você sentir um pingo de culpa, vou retirar a minha
oferta.
—Você ouviu a parte sobre ser incapaz de convocar a emoção, certo? E você é cheio da
grana, não é? Isso é o que significa 'muito', não é?
—Sim, sou cheio da grana, — disse ele, a rigidez o deixando.
É claro que ele era. Um suspiro sonhador a deixou. —Você tem que ser o homem mais sexy
que eu já conheci.— Beleza, inteligência e Megabucks12.
Ele se acalmou.
Suas palavras ecoaram em sua mente e ela quase gemeu. Não. Não, não, não. Ela não
acabou de dizer isso em voz alta. Não poderia ter dito isso em voz alta. —Quero dizer, você tem
que ser o homem mais doce que eu já conheci.
Ele olhou para ela, em silêncio.
—Você me considera sexy?, — Ele finalmente perguntou.
Ela considerava. E realmente dissera isso em voz alta. O calor encheu suas bochechas. Para
disfarçar, escondeu o rosto no pescoço dele. —O que você faria se eu dissesse que sim?— Ele
poderia tê-la tocado hoje, poderia tê-la abraçado, mas ela não tinha esquecido o que ele disse. Eu
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Anjos da Escuridão 02
13 Desenho animado americano de um robô gigante, adaptado do anime de Mitsuteru Yokoyama, dos anos 1956.
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Anjos da Escuridão 02
Ele mergulhou nela, inclinando a cabeça, hesitantemente, rolou a língua contra a dela. No
momento do contato, uma cascata de calor derreteu seus ossos, e ela se afundou nele, seu corpo
de repente bateu-se contra o dele.
A força do beijo aumentou, acelerou.
Isto era... Era...
—Bom, — ele murmurou, e ela não tinha certeza se ele estava fazendo uma pergunta ou
mandando-a gostar.
—Perfeito. — Mas perfeito não parecia adequado.
Magnífico. Inebriante. Extraordinário. Não, as palavras não eram boas o suficiente.
A língua dela encontrou a dele, impulso com impulso, seus dedos deslizando através da
barba, prendendo atrás de seu pescoço, apertando-o por vontade própria.
O horror do dia desapareceu. Sr. Ritter deixou de existir. Havia apenas este momento e Koldo.
Ele estava certo. Ela precisava de algo bom para limpar o mal.
—Estou machucando você?— Ele perguntou e havia algo em seu tom. Algo que ela nunca
ouvira antes. Vulnerabilidade, talvez.
—Não. Eu juro.
—Não lhe dei o suficiente?
—Você está me dando em abundância.
Ele levantou a cabeça. Linhas de expressão ramificavam de seus olhos e boca, e uma gota de
suor escorria por sua têmpora. —Meu sangue está aquecido, praticamente em chamas já.
—O meu também.
—Você gostou?
—Muito.— Ele estava... Inseguro quanto ao seu desempenho? Era esse o problema?
Ele voltou ao que estava fazendo, não apenas beijando-a, mas consumindo-a. As grandes
mãos vagaram sobre suas costas, para cima e para baixo, para cima e para baixo, em seguida,
colocou as mãos sobre a parte mais alta de suas costas. Tão forte como ele era, conseguiu manter
os toques leves.
—Koldo, eu quero... Eu preciso...— Mais.
—Nicola, — Laila chamou, sua voz cortando a tensão.
Koldo pulou, em seguida, afastou-a dele, afastou os olhos dos dela e sacudiu os ombros,
como se tivesse asas que quisesse alargar.
—Eu volto, — disse ele firmemente.
Espere. O quê? Não! —Aonde você vai?
Ele a ignorou, dizendo: —Estou mandando você tirar o dia de folga amanhã. Para descansar.
—Eu vou. Mas...
—Não. Sem mas. Não haverá argumentos. Lembra-se?
Ele estava usando o seu acordo contra ela, ela percebeu. Então, o que mais poderia dizer,
exceto, —Não se preocupe comigo. Eu manterei a calma, ficarei em paz e semearei alegria. — Sua
voz estava trêmula. —E obrigada. Por tudo.
Ele acenou com a cabeça, mas a ação foi seca. —Faça-nos um favor, e guarde seus
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Capitulo Treze
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...Retrocedeu. —Você tem certeza?, — Perguntou, procurando qualquer sinal que indicasse
uma mentira. O enrugar dos seus lábios. O enrugamento do nariz. Uma franzir de testa profundo.
Axel não exibiu nenhum desses.
—Sim, tenho certeza.— Afirmou facilmente. Expressão relaxada.
Muito bem. Os demônios ainda rondavam Laila, isso ele já sabia. —Obrigado, — disse
apenas um pouco relutante.
—Eu vou cobrar, não se preocupe.
Koldo teria dito o mesmo, e não podia culpá-lo. —Cobre de mim. Não dela.— Ele prometeu
pagar as contas dela, não aumentar ainda mais suas dividas.
Axel revirou os olhos. —Como se houvesse alguma dúvida. Ela não tem nada que eu
queira.— Ele limpou as mãos na toalha sobre sua coxa antes de pegar um pedaço de melão da
bacia ao lado.— Aqui. Coma.
Koldo pegou a fruta e mordeu o centro suculento. Doces sabores explodiram em sua língua,
e seu corpo ronronou agradecido. Os Enviados podiam morrer de uma variedade de maneiras
diferentes, e a fome era uma grande possibilidade.
Graças ao Altíssimo Koldo tivera a previdência der abastecer a dispensa de Nicola antes de
deixá-la. Ela estivera bem alimentada durante sua ausência. E agradeceu ainda mais
fervorosamente por Axel ter tomado conta dela.
Mas Koldo teria que fazer melhor do que confiar em outro Enviado para uma tarefa dessas.
Se algo parecido acontecesse novamente - não que realmente fosse acontecer. Koldo nunca
cometeu o mesmo erro duas vezes - Axel poderia estar muito ocupado para cuidar de Nicola. Ele
também poderia perder o interesse, ou decidir que Koldo não tinha nada de valor para oferecer
como pagamento.
Eu terei que marcá-la, Koldo pensou. Não apenas com essência, mas com tinta. Iria codifica-
la.
O Altíssimo fez uma aliança de sangue com os Enviados. Em troca de obedecer Suas leis, eles
receberiam proteção. Koldo não tinha sido expulso dos céus, portanto, a promessa ainda era
válida, o que significava que o código ainda estava gravado em seu coração. E sendo Nicola seu
fardo, sua responsabilidade, a promessa agora se estendia a ela. Entretanto, teria que fazer
também sinal exterior para fortalecer a ligação.
Marcaria a pele dela, e esse código seria capaz de criar uma barreira entre ela e quaisquer
demônios que ousassem se aproximar. Tudo o que ela teria que fazer era se concentrar nas
sequencias numeradas durante um ataque. Quanto mais olhasse para suas tatuagens, mais forte o
poder do código poderia tornar-se, até, finalmente, expandir-se, cobrindo todo seu corpo e
protegendo-a.
Mas se um demônio conseguisse distraí-la...
Não vai acontecer, Koldo assegurou-se. Iria treiná-la para isso, também.
—Então, por que os Serpes estão atrás de você?— Axel perguntou.
—Eu também gostaria de saber a resposta para isso.— Seu pai ainda estava lá fora ou não?
Koldo não tinha visto o corpo de Nox, apenas assistiu enquanto granada após granada eram
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disparadas em direção a ele, sem que se desse conta da necessidade de manter distância das
explosões. Foram múltiplos booms e uma intensa onda de calor, chamas lambendo o chão e
saltando para o céu.
Deveria tê-lo matado pessoalmente. Mas Koldo teve que escolher. Destruir Nox cara a cara,
ou destruir o homem junto com tudo pelo qual ele trabalhou em um só golpe. Koldo escolheu a
segunda opção.
Quando os fogos extinguiram, ele cavou os escombros e encontrou ossos demais para contar.
Se Nox tivesse sobrevivido, por que estaria se revelando agora? Como seguira Koldo ate a
casa de Nicola?
—Então, o que você pretende fazer com a ruiva?— Axel perguntou.
—Por que você vive em um lugar como este?— Koldo retrucou. —Você claramente prospera
com o que provavelmente considera adoração de seus pares, mas ainda assim se isola.
Uma pausa.
—Muito bem, então concordamos em não questionar um ao outro,— o guerreiro finalmente
respondeu.
—Ótima resposta.— Ambos tinham seus segredos. Koldo acabou com a fruta. —E agora eu
tenho que ir.
—Okay, mas uh, ei, — disse Axel, de pé. —Você talvez irá querer caçar a sua garotinha e dar-
lhe um duro sermão. Veja bem, eu normalmente não faço fofocas, ainda mais sobre um ser
humano, mas se eu ficar quieto isso poderia realmente voltar para me assombrar. Ou seja, você iria
querer socar a minha cara bonita.
Tinha que começar a divagar? Justo agora? —Fala logo!
—Ela está planejando um encontro com outro cara.
Irritado, rapidamente Koldo transportou-se para a casa de Nicola. Não tinha certeza sobre o
que fazer quando estivessem cara a cara. Só sabia que tinha que vê-la. Mas ela não estava em casa,
e, transportando-se novamente, comprovou que também não estava no escritório. Jamila e outra
menina, a loira de origens misteriosas, estavam no escritório dela, as duas lançando maldições
uma para a outra, enquanto a loira mantinha um homem preso à mesa de Nicola, os dedos
enroscados em seu pescoço, as calças e cuecas caídas nos tornozelos.
—Dormir com todos os caras daqui?— Jamila esbravejou. —Sério? Esse é o seu plano?
—Quase isso, — a loira sorriu. Pelo menos sua roupa estava no lugar. —Então por que você
não me faz um favor e some? E da próxima vez bata antes de entrar em um escritório.
—Claro, já estou indo. A propósito, o seu plano é estúpido.
—Sim, bem, seu cabelo é estúpido.
Mulheres.
Jamila mostrou os dentes em uma carranca. —O que isso significa?, — Perguntou, acenando
com a mão na direção do homem. —Quero dizer, realmente.
—Quando a namorada descobrir o que ele fez, vai se machucar, derramar rios de lagrimas.
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Mas teria que trazê-la de volta para o encontro, certo? Por que... E se de fato o homem
pudesse fazê-la feliz? E então? Ela precisaria dele. Ele iria ajudá-la a purgar ainda mais a toxina do
demônio.
Lampejos de raiva dançaram através de Koldo, e ele se viu respirando muito mais
fortemente, lutando contra a vontade de socar as paredes.
Se desse vazão a seu temperamento, derrubaria a casa de Nicola.
Estava um pouco áspero no trato com a caixa que estava na parte de trás do armário, as
coisas dentro tinindo. Verificou para ter certeza de que não tinha quebrado nada e encontrou uma
caixa de fotos. Quanto mais as folheava, mais suas ações suavizaram. Havia fotografias de Nicola e
sua irmã, e as duas com seus pais, bem como de um pequeno menino ruivo. Ele olhou para eles,
tinha que ser um parente, mas... Quem seria? Um irmão? Nicola nunca mencionou nada, e ele
também nunca perguntou. Em todas as informações que Koldo pesquisou, nada foi mencionado.
Intrigado, Koldo cavou mais fundo dentro da caixa. Encontrou artigos sobre a morte dos pais
dela e a apreensão de um motorista bêbado que bateu no carro deles, matando o casal, bem como
o filho mais novo, Robby, e que o motorista havia sido liberado da prisão no ano passado.
Nicola perdera mais do que Koldo tinha imaginado. Ela perdeu um irmão de seis anos,
saudável, com um futuro brilhante, um menino que era o favorito em seu coração.
Ela deve desprezar o homem que arruinou sua vida. Provavelmente sonhou com uma morte
dolorosa para ele. Idealizou a vingança. Só não estivera forte o suficiente e não teve tempo ou
recursos para fazer qualquer coisa sobre isso.
Talvez Koldo ferisse o macho no qual ela estava interessada. Sendo punido ou não. Talvez,
então, ela gostasse dele mais do que do outro...
Balançou a cabeça violentamente, parando o pensamento antes que pudesse tomar forma.
Koldo não estava interessado em ganhar a afeição de ninguém. Ele tentou isso antes, e falhou
miseravelmente. Jurou nunca mais fazer isso de novo, e essa era uma promessa que iria manter. E,
acertar as contas de Nicola não era uma tentativa de ganhar alguma coisa, disse a si mesmo.
Precisava de Nicola calma e relaxada, isso era tudo.
Acabe com isso.
Sim. Iria mantê-la em... Chiriqui, província do Panamá, decidiu, e teletransportou a maioria
das coisas dela para uma de suas casas mais opulentas. Havia exuberantes montanhas verdes em
todas as direções, e um céu azul cheio de nuvens brancas e fofas. O tempo era primaveril e
constante durante todo o ano. A comida era fresca, orgânica e caseira, e iria nutrir tanto Nicola
quanto sua irmã, da melhor maneira. Elas iriam prosperar aqui, gostassem ou não.
Desembalar seus pertences levou muito pouco tempo. Ela tinha tão pouco. Bem, iria
comprar para ela e sua irmã um novo guarda-roupa. E as roupas novas não seriam uma tentativa
de ganhar seu afeto, somente um simples gesto de bondade. Um presente de boas vindas para a
casa nova.
Mas o que ele sabia sobre moda feminina? Nada.
Conhecia alguém que sabia, no entanto.
Koldo teletransportou-se para a casa de Zacharel e chamou, saudando. Alguns segundos
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depois, a névoa fina se dissipou e Annabelle apareceu, vestindo uma camiseta e jeans. Seu cabelo
preto estava preso em um rabo de cavalo, lembrando-o de Nicola, os olhos castanho-dourados
brilhavam alegremente.
Ela sorriu quando o viu. —Ei, Koldo. Zacharel não está aqui.
—Eu não estou aqui para vê-lo.
O sorriso dela caiu em uma careta de confusão, e ela olhou para trás. Quando voltou-se para
ele, bateu no próprio peito. —Eu, então?
—Sim. Preciso de um favor.
—Um favor?
Ela questionaria tudo o que ele dissesse?
—Mas não temos mais a Água da Vida, — acrescentou.
—Eu sei disso. Eu preciso... — Ugh. Estava realmente fazendo isso? perguntou-se, mas em
seguida imaginou Nicola em um top rendado cor de rosa e um short minúsculo que viu uma
mulher usando certa vez. Uma estranha queimação correu de seu nariz ao umbigo. Sim, ele
realmente iria fazer isso. —Preciso levá-la às compras.
Annabelle esfregou as orelhas. —Espere. Você acabou de dizer esfregar15? Sua casa está suja
e você quer uma empregada doméstica? Porque eu sei que um guerreiro como você nunca diria a
minha palavra favorita com S.
—Alguém disse a palavra com S?— Uma mulher gritou. —Porque eu não pude deixar de
ouvir a conversa.
Uma gritaria animada começou. Barulho de passos. Em seguida, quatro das mulheres no
exército de Zacharel pisaram através da névoa. Charlotte, Elandra, Malak e Ronen.
Ele preferia lutar contra uma horda de demônios do que enfrentar essas mulheres. Elas
foram treinadas como soldados, monstros no campo de batalha, frias, assassinas impiedosas e
ainda assim gostavam de tagarelar incessantemente sobre nada.
—O que você quer comprar?, — Perguntou Charlotte, uma morena linda com feições
ousadas e pele escura. —Uma espada de novo? Bem, uma boa notícia. Eu tenho uma que sei que
você vai adorar, e com o pacote —amigos com benefícios, — isso só vai lhe custar uma parte de
sua alma.
—Eu disse pra vocês ficarem lá atrás e ficarem quietas, — Annabelle repreendeu.
—Oh, não era apenas uma sugestão?, — Disse Ronen, a mulher de cabelos negros viciada em
pipoca.
Elandra era a tímida do grupo, e ela olhou para o chão, onde a barra de sua túnica ondulava.
Ela era, de longe, a mais bela mulher que Koldo já tinha visto. Ou tinha sido, até que ele conheceu
Nicola. Do alto da cabeça até as solas dos pés, Elandra lembrava um diamante vivo. Seu longo
cabelo branco brilhava. Seus olhos prateados brilhavam. Sua pele pálida brilhava.
Malak era a única do grupo com uma imperfeição, embora ela escondesse muito bem. Havia
uma grande cicatriz redonda no centro de sua testa, provavelmente de uma lesão que recebeu
15Annabelle acha que não entendeu direito, por que Koldo é o tipo de homem que nunca chamaria uma mulher para ir as compras.
Então quando ele fala em inglês shopping, ela entende mopping que significa esfregar.
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Anjos da Escuridão 02
quando era muito jovem para se regenerar. Seu cabelo, tingido de verde brilhante, ostentava
franjas grossas para esconder a cicatriz.
—Dê ao homem uma chance para explicar, — disse Annabelle.
As mulheres olharam para ele, com expectativa.
Koldo não tinha ideia do que elas fizeram para ingressar no Exército de Desgraça de Zacharel.
A menos que suas personalidades irritantes tivessem sido o fator decisivo.
Ele olhou para Annabelle, dizendo: —Minha mulher...— Espere. Era isso que Nicola era dele?
Não tinha certeza, considerando que ela logo sairia em um encontro com outro cara. E será que
seus dentes se alongariam, como os de seu pai, quando estava furioso?
Teria que ter mais cuidado.
—Eu tenho uma amiga, — acrescentou um pouco mais rudemente do que pretendia, e parou
para se concentrar. Ela não era sua amiga, tampouco. —Eu tenho uma humana, uma fêmea, e ela
precisa de roupas novas.
As Enviadas exclamaram entusiasmadas. Ronen até pulou e bateu palmas. —Longe de mim
espalhar fofocas, — disse ela. —Mas Koldo tem uma namo-amiga.
—Aposto que ela tem dez metros de altura e seiscentos quilos de músculo,— Charlotte
exclamou.
—Já chega. Dê-nos um pouco de privacidade, — disse Annabelle, enxotando-as.
Embora franzissem a testa e fizessem beicinho, obedeceram.
—Okay, então deixe-me ver se entendi, — disse Annabelle. —Você quer me levar, em vez de
sua mulher, amiga, humana, do sexo feminino, para escolher e comprar essas roupas?
Sim. Ele iria ferir seus sentimentos agora. Poderia arruinar sua felicidade recém-descoberta.
—Eu não quero esperar, — disse ele entre os dentes cerrados. Verdade. Ele queria esse ponto fora
do caminho. —E... eu não sei o que as fêmeas preferem.
A mão dela pousou sobre o coração, e ela sorriu. —Zacharel já teve o mesmo problema
comigo. Então, por que você não compra para ela algo que você gostaria de vê-la usando?
—Eu vou comprar o que eu gosto, sim,— porque ele não seria capaz de se controlar, —mas
eu gostaria que ela tivesse escolhas.— Dessa forma, ela não teria nenhuma razão para recusar o
presente.
—Você sabe pelo menos qual o tamanho do manequim dela?
Ele ergueu as mãos. —Ela é pequena. Delicada.
Annabelle riu, o som despreocupado. —Oh, você está em apuros, amigo. Mas, sim, tudo
bem. Eu vou ajudá-lo.
O alívio que sentiu foi tão potente quanto uma droga. —Por um preço, é claro.
—Não. Sem pagamentos. Eu sei que vocês, garotos, gostam de operar assim, mas será
gratuito. Apenas me convide para o casamento, e estará tudo bem.
Capítulo Catorze
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—Você tem que experimentar isso.— Laila empurrou um pedaço de chocolate na boca de
Nicola, antes que ela tivesse tempo para formar uma resposta.
Chocolate contém cafeína, então muito raramente ela se permitia esse pecado. Mas quando
o fazia... A consistência pegajosa era deliciosa, e fechou os olhos para saborear. Um erro. Ela e sua
irmã estavam passeando ao longo do caminho de paralelepípedos sinuosos pelo parque, e ela
esbarrou em uma lata de lixo.
O baque despertou a atenção de Laila, e sua gêmea explodiu em gargalhadas. —CoCo
Maluquinha chuta uma lata.
Invólucros vazios, sanduíches meio comidos e copos da Starbucks esparramaram sobre o
concreto, mas Nicola sorriu enquanto limpava a bagunça. Como é maravilhoso ouvir a diversão de
sua irmã. Quando terminou, procurou o gel antibacteriano na bolsa e higienizou as mãos.
—Você tem chocolate no queixo, — disse Laila, tentando soar calma, mas falhando. O cinza
de seus olhos brilhava maravilhosamente. O sol brilhante, lançava raios dourados sobre a pele que
não via o exterior há meses, iluminando-a, fazendo-a irradiar saúde e vitalidade.
Nicola limpou o rosto com as pontas dos dedos. —Melhor?
—Muito. Agora você está quase tão bonita quanto eu.— Fingindo uma vaidade que nunca
possuíra, Laila estudou as cutículas dizimadas. —Repare que eu disse quase.
—Alguém precisa de óculos. Seu cabelo é loiro, mas suas raízes são vermelhas,— Nicola
respondeu, balançando o rabo de cavalo. —É bastante horrível.
Laila ofegou com indignação fingida. —Quero que você saiba que este look esta na moda
agora. Totalmente estiloso e sofisticado.
—Eu não sigo tendências. Eu as crio.
Sorrindo, sua irmã estendeu-lhe a mão. —Você é tão chata. Venha, caminhe comigo.
Deram as mãos e retomaram o passeio. A tranquilidade do momento ajudou a difundir as
memórias do ataque, algo que ela não compartilhou com sua irmã. Memórias continuavam
tentando subir para a superfície de sua mente. Enquanto estava no chuveiro. Enquanto selecionava
a calcinha que vestiria hoje. Enquanto fazia o café da manhã.
Uma vez, quase desmoronou e chorou. Mas então se lembrou do beijo de Koldo, seu beijo
doce e delicioso. Sua incerteza. Sua vulnerabilidade. Seu desejo de ter certeza que ela estava se
divertindo. E tudo tinha mudado.
Ele era um guerreiro grande e forte. Apostaria que houve um tempo em que nada poderia
abalar a confiança dele. Mas então ela apareceu.
Como se sua opinião fosse importante para ele.
—Eu conseguia ouvi-la no hospital, sabe?— disse Laila, investigando um assunto que vinham
evitando.
—Sério?— Ela sempre perguntava. Sempre tinha esperança.
—Sim, e você me manteve lá mais tempo do que eu queria ficar. Sempre que eu sentia-me
afastando, você estava lá para me puxar de volta.
—Isso me faz feliz.
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Anjos da Escuridão 02
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Anjos da Escuridão 02
bem vindas, por ordens de Koldo. Ela só... Tinha que passar para a irmã. A vida de Laila estava em
perigo. Ela precisava ser salva e Nicola faria o que fosse necessário para salvá-la.
Laila sacudiu a cabeça, dizendo: —Você só acredita nele, porque tem uma queda por ele.
Seus olhos brilham cada vez que você fala dele.
—Não brilham.
—Brilham sim.
—Não!
—Sim!
Laila deixou cair a caixa vazia de doces e começaram uma briga de tapas, rindo como as
meninas que costumavam ser, antes que a doença, o medo e a perda tivessem cobrado seu preço.
Mas Laila aguentou muito pouco, logo já estava lutando para respirar.
Nicola pegou a caixa e jogou-a na lata de lixo mais próxima, depois recuperou o braço da
irmã para caminharem. Elas tinham perdido esse tipo de interação. Alguns anos atrás, Nicola tinha
ido para a faculdade da comunidade local e Laila optara por não —desperdiçar o pouco tempo que
lhe restava.— Então Nicola conseguiu um emprego em Estella e Laila focou em sua arte. Em
seguida, Laila ficou doente. Bem, ainda mais doente. Depois disso, Laila parou de pintar e começou
a passar cada minuto livre dentro de um consultório médico ou na cama.
—Eu prometo, — disse Laila. —Não existe nenhum demônio me seguindo.
—Neste segundo, não.
Outro sorriso triste foi lançado em sua direção. —Você está vendo coisas de novo, isso é
tudo. Isso vai parar, assim como antes.
Não, não iria parar. Não desta vez. Os olhos espirituais de Nicola foram abertos, e ela nunca
iria fechá-los novamente. Mas não queria passar a hora do almoço discutindo.
—Então, ouça. Eu já disse sim para isso, e adoraria que você se juntasse a mim. Apenas...
Prometa que vai manter a mente aberta quando eu falar sobre isso, okay? Por favor.
As sobrancelhas de Laila se uniram em confusão. —O que você está falando?
—Um cara no trabalho me convidou para sair. Convidou a ambas, na verdade. Em um
encontro duplo, nada de estranho, — ela se apressou a acrescentar. Alguns homens ouviam a
palavra gêmeas e suas mentes voavam a clubes de strip e fantasias sobre trios.
—Estou intrigada. Vá em frente.
—Ontem eu liguei para ele e aceitei. Para mim, não para você.— E ela só debateu três horas
antes de pegar o telefone e ligar. Estava cansada, e talvez um pouco ressentida, de esperar Koldo
aparecer, de esperar por algo mais do que uma conversa e um beijo com ele, sonhando com o que
poderia ter acontecido se Laila não os tivesse interrompido, imaginando como ele olharia para ela
da próxima vez que a visse. Ternamente? Ferozmente? Ou tão friamente quanto um professor com
sua aluna?
E se ele tivesse namorada? Se já estivesse comprometido com alguém e para sempre fora do
mercado?
Uma névoa de fogo rolou através de sua mente, e ela experimentou o que suspeitava ser
uma raiva assassina. Se esse desgraçado tivesse uma namorada...
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Anjos da Escuridão 02
—Uh, CoCo?
—O que?, — Ela rosnou.
—Nada. Nada , — disse Laila, segurando as mãos, com as palmas para fora. —Só me avise
quando estiver pronta, e nem um momento mais cedo, e eu não vou nem perguntar o que essa
fúria assassina irradiando de você significa. Quer dizer, um segundo eu estava conversando com
minha irmã mais velha, e no seguinte, eu estava olhando para uma assassina em série.
Acalme-se. Acalme-se. Seu coração estava batendo de forma irregular, e se não tomasse
cuidado iria desmaiar. Ou pior, fortalecer a toxina do demônio. E, realmente, isso era bobagem.
Estava furiosa por nada. Koldo não era do tipo canalha traidor. Ele era do tipo que terminava
rapidamente o relacionamento se não quisesse mais estar com você.
—Essa é a irmã que eu conheço e amo, — disse Laila. —Então... continuando nossa conversa.
Você aceitou um encontro com um colega de trabalho.
—Sim. E eu adoraria ligar novamente e aceitar o encontro duplo em seu nome. O nome do
outro cara é Blaine e ele...
—Pare aí. O resto dos detalhes não importa. Eu estou dentro!
Depois do último relacionamento desastroso de Laila, Nicola esperava um pouco de
resistência. —Sério?
—Sim. Não tenho certeza de quanto tempo mais eu tenho para viver, então sim, vou fazer
tudo o que eu puder.
—Isso inclui ouvir o que Koldo tem a dizer, eu espero.
Laila mostrou a língua. —Vamos ver. Então, o que esse cara no seu escritório fez para levá-la
a dizer sim? Você sempre foi alheia à população masculina.
—Eu não sou alheia a nada. Só não quero ter que lidar com todas as complicações.— E, okay,
sim, o argumento era um pouco ruim, considerando que Koldo trouxe mais complicações do que a
maioria.
Um cara sem camisa e usando short azul sorriu quando correu passando por Laila. —Ei, linda.
—Ei. — Ela devolveu o sorriso e até acenou, fazendo-o diminuir o ritmo e depois parar,
claramente determinado a abordá-la. Sua irmã o poupou do problema e diminuiu a distância entre
eles.
Suspirando, Nicola saiu do caminho e esperou. Mais cinco minutos, e teria que voltar para o
trabalho.
Evitou um homem passeando com seu cachorro e...
Viu Koldo sem barba?
Não, não era Koldo, percebeu decepcionada. A poucos metros de distância havia um homem
com o mesmo tipo de corpo de Koldo, careca e com feições ousadas e quase assustadoras em sua
similaridade. Este homem usava uma camisa preta e calça de couro preta, e ambas foram
moldados para a sua pele. Ele era, talvez, dez ou vinte anos mais velho do que Koldo, a pele ao
redor dos olhos e da boca enrugada. Era bonito, mas estava sem a barba sexy.
Eles tinham que ser parentes, entretanto. Não havia maneira que dois caras pudessem ser
tão parecidos e não pertencer a mesma família.
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Anjos da Escuridão 02
Ela acenou, apenas para congelar no lugar quando ele estendeu a mão para acariciar... Uma
cobra. Uma grande serpente com chifres saindo debaixo das nojentas escamas verdes, e chifres
longos e com múltiplas pontas, normalmente só vistos em cervos. O resto do corpo da criatura
enrolava-se em torno do homem, a cauda balançando e chacoalhando. Os olhos eram vermelhos
como rubis e a observavam atentamente.
Não era uma cobra. Essa coisa não poderia ser uma cobra.
Seria um... Demônio?
O mal flutuava na brisa, uma pitada de enxofre no ar. Oh, sim. Um demônio. E os demônios
causam doenças, Koldo dissera e provavelmente milhares de outras coisas que ela não queria nem
descobrir.
Sem chance de esse cara ser algum tipo de Enviado.
—Laila, — ela chamou com a voz cavernosa.
—Só um segundo, — respondeu Laila. —Estou memorizando um número muito importante.
O atleta riu.
O careca sorriu para Nicola, mas não era um sorriso agradável. Um olhar tão escuro quanto a
noite percorreu-a da cabeça aos pés, lembrando-a do malicioso Sr. Ritter. Seu coração, já
empolgado pelo chocolate, chutou em uma batida irregular.
Nicola correu para frente e agarrou a mão de sua irmã, puxando-a alguns passos para trás. —
Vamos. Temos que sair daqui.
—Mas...— O corredor começou.
—Por quê?— Laila disse, dando as costas para ele para se concentrar em Nicola. —O que há
de errado?
—Você vê aquele homem ali?
Laila olhou para a direita. —O careca? Sim. E daí?
—E a sua cobra de estimação? Você pode vê-la também?
—Uh, ele não tem uma cobra de estimação. Ou um cachorro ou um gato ou um pássaro.
Querida, você está bem? Está pálida e trêmula.
Sua irmã ainda não conseguia ver o demônio, então. —Vamos.— Girou e acelerou o passo,
arrastando Laila com ela.
—O que está acontecendo?— Sua irmã exigiu saber.
—Eu te direi mais tarde.— O parque estava lotado de mães e seus filhos, pais e seus cães,
bem como empresários e empresárias na pausa para o almoço, esperançosos de pegar um pouco
de sol antes de rastejar de volta para as sombras da rotina diária. Manobrou em torno deles, mas
mesmo fazendo o seu melhor não conseguiu evitar alguns.
Ouviu Ei! E Cuidado! várias vezes, e teve que murmurar algumas desculpas precipitadas. Seu
sangue gelou a um nível perigoso, mesmo que sua pele ameaçasse um superaquecimento. Suor
rolou por sua espinha.
—Devagar, — Laila bufou.
Lançou um olhar por trás delas. O homem ainda estava lá, ainda sorrindo para ela, e ainda
acariciando o demônio. Mas não estava seguindo-a. Aliviada, ela diminuiu o ritmo... Reduziu a
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Anjos da Escuridão 02
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Capítulo Quinze
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Anjos da Escuridão 02
—Eles são reais, — disse ele, — e são o mal. Vagam pela Terra, perseguindo os seres
humanos como você, e gostariam de nada mais do que arruinar a sua vida e encerrá-la
bruscamente. E você está permitindo.
—Eu... Eu...
—Pode vencê-los, sim. Estou aqui para ajudar. —Tendo pena dela, levou-a de volta à sala de
Nicola e deu um pequeno empurrão em direção ao corredor. —Pode ir para o seu quarto agora.
—Q-quarto. Sim. Obrigada. —Com os braços envolvidos em torno da cintura, tropeçou em
seu caminho pelo corredor. A porta se fechou.
—O que fez com ela?— Nicola exigiu saber, dando um passo à frente e batendo os punhos
em seu peito.
Tão esguios como eram aqueles punhos, ele mal registrou o impacto. —Provei que
demônios, de fato, existem.
—Você deveria tê-la acalmado. Ela teve um dia difícil, e esse tipo de estresse poderia não
ter sido bom para os seus níveis de toxinas.
—Algumas pessoas podem ser acalmadas. Algumas devem ser pressionadas. Agora vamos
voltar para a cozinha. Vou tatuar seus braços e você vai me dizer tudo o que aconteceu no parque.
—Espere. O quê? Tatuar meus braços? — Ela chiou.
Impulsionou-a para frente. — Para proteção adicional contra os demônios.
Um pouco atordoada, ela caiu na cadeira. — Vou falar sobre o parque, — ela disse, — mas
primeiro você me dirá sobre essa mudança. Depois vamos falar sobre a tatuagem.
—Minha casa é fortificada contra o mal.— Ele era dono de uma nuvem de defesa, e a
nuvem agora cercava a propriedade, agindo como uma barreira contra o resto do mundo. — A sua
não é.
—Mas...
—Nada de mas. Fui atacado na última vez que estive aqui. Por isso demorei a voltar. Estava
me recuperando.
Um suspiro deslizou dela. —Você se machucou?
—Sim.
—Oh, Koldo. Sinto muito. Não tinha ideia. — Colocou a mão sobre a dele, num gesto de
gentileza e remorso.
Um gesto que fez com que seu sangue fosse de muito quente a incandescente.
—Não foi culpa sua, — disse ele, a voz áspera. Ele era responsável por sua própria
distração. — Agora, o que aconteceu no parque?
Ela apoiou os cotovelos no balcão, finalizando o contato, e ele quis uivar.
Estava assim tão necessitado dela?
Pressionando a língua contra o céu da boca, ele terminou com a tinta. Escolhera um
vermelho profundo e vibrante que, à primeira vista, poderia fazer com que a maioria das pessoas
assumisse que ela estava sangrando. Mas não se importava exatamente com o que os outros
pensavam. Queria que sua tatuagem combinasse com a dele.
Ela era sua responsabilidade, afinal de contas. Não havia nada mais além disso.
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Anjos da Escuridão 02
Pela primeira vez em sua vida, ele pensou que provou uma mentira e fez uma careta.
—Esses demônios... — Ela estremeceu. — Não eram como os macacos. Eram piores. Eram
cobras! Deslizavam das árvores e pelo chão e corriam atrás de nós e...
—Cobras?— Ele exclamou, seu estômago torcendo.
—Com chifres! E pele! Encurralaram-nos, nos cercaram, e foi aí que chamei o Altíssimo, e
Ele enviou anjos — ou talvez Enviados. Possuíam grandes asas azuis. Um azul como eu nunca vi
antes, radiantes e brilhantes, quase como uma cachoeira de glitter. E suas túnicas eram o branco
mais brilhante que eu já vi.
—Anjos reais. — Ele assentiu com a cabeça. —Continue.
—Houve uma batalha, e então, boom, os anjos venceram, os demônios se foram e Laila e
eu conseguimos sair do parque sem ferimentos.
Então. Os serpes retornaram para Nicola exatamente no dia em que Koldo acordou de seu
envenenamento. Isso não poderia ser uma coincidência.
—Você nunca se arrependerá de ser tatuada, — disse a ela. —O que coloquei em sua pele
irá protegê-la, como os anjos a protegeram hoje, mas também fará o que eles não podem.
Fortalecerá você quando estiver mais frágil. Deixe-me fazer. Por favor.
—Mas... Mas...
—Eu já menti para você? Alguma vez a induzi ao erro?
—Não, — ela admitiu suavemente.
Ele estendeu a mão e traçou o dedo ao longo da curva de sua mandíbula. —Deixe-me fazer
isso, — repetiu ele. —Por favor.
Um momento se passou. Por fim, a determinação endureceu seu rosto e ela tirou o suéter,
arregaçou as mangas da camisa. —Muito bem.
Alívio e satisfação colidiram, e ele queria bater os punhos no peito. Ela confiava
plenamente nele, sem restrições. Essa era a primeira vez, e faria tudo em seu poder para merecer
o que ela lhe dava. —Gostaria de poder dizer o contrário, mas isso vai doer, Nicola.
—Eu tinha um pressentimento, — disse ela secamente.
Antes que ela pudesse mudar de ideia, ele começou a trabalhar. No início, quando a agulha
bateu em sua pele, ela se encolheu e ofegou. Por duas vezes ele quase parou, mas nas duas vezes
se lembrou de que era para o bem dela. Isso era necessário.
—Distraia-me. — Sua voz era tensa. —Por favor.
—Como?
—Diga-me... O quanto você envelhece. Ou, se nunca envelhecerá.
—Fui um garoto uma vez, uma criança com meus pais. — Agora, ele e sua mãe pareciam ter
a mesma idade. —Eu amadureci normalmente, como um ser humano, até atingir a idade de 30
anos. Depois disso, a minha aparência permaneceu a mesma. E enquanto eu viver, minha
aparência ficará assim.
Isso era verdade para a maioria das raças sobrenaturais. Os Nefas, no entanto, envelheciam
até os 50 anos, antes de parar. Ele supunha que era porque a vileza de seus atos apodrecia suas
almas, e almas podres produziam carne podre.
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Anjos da Escuridão 02
Koldo estava feliz que as feições dos Enviados fossem mais fortes do que as dos Nefas,
permitindo que tivesse cabelos disfarçando a fumaça negra.
—Então... Um dia serei uma senhora de idade, mas você ainda vai parecer com um Viking
jovem e viril?
Um Viking? Era assim que ela o via?
E... Estava certa sobre a coisa da idade, ele percebeu. Nunca dera atenção a qualquer
pensamento sobre isso porque nunca se imaginou com uma humana. Mas havia uma forma de
evitar tal resultado. Zacharel vinculara sua vida à de Annabelle, garantindo que ela não
envelhecesse mais. Porém, se um morresse, o outro imediatamente o seguiria. Koldo não poderia
fazer esse mesmo compromisso com Nicola. Teria que dividir um pedaço de sua alma manchada, e
isso ele nunca faria.
E por que deveria se preocupar resolvendo seus sentimentos sobre o assunto agora, afinal?
Ela estava interessada em outro homem.
—Sim, — foi tudo o que ele disse, e deixou por isso mesmo. —Existe alguma coisa que
gostaria de saber?
Nicola suspirou quanto a arma deslizou sobre um tendão sensível. —Você fará isso para
Laila?
—Se ela permitir. — Ele se inclinou para trás, estudou as gravuras. Os números escritos
começavam nos cotovelos envolvendo-se em todo o caminho até os pulsos.
161911213327.
219113215122231.
2209131520825418.
—Concluído, — disse, satisfeito.
Nicola inclinou a cabeça para o lado enquanto olhava por cima da pele vermelha e inchada.
—É algum tipo de código?
—É.
—E o que quer dizer?
—Que você está protegida pelo Altíssimo, e a força Dele é sua força.
—Muito legal. — Ela traçou um dedo ao longo dos vários números. —Há algo tão fascinante
sobre cada um deles, não é? Quase como se estivessem vivos, mantendo meu olhar cativo.
Isso porque eles estavam, em ambos os casos. —A próxima vez que encontrar um demônio,
simplesmente olhe fixamente para os números como está fazendo agora.
—Olhar fixamente? Sério? E isso fará... O que?
—Salvará sua vida.
—Bem, tudo bem, então.
Seu aroma de canela e baunilha enrolava em torno dele, misturando com a sua pele,
reivindicando sua atenção. —Nicola? — falou com a voz grossa.
Ela olhou para ele, lambeu os lábios. —Sim.
Qualquer coisa que tivesse a intenção de dizer, ele esqueceu. Encontrou-se indo ao redor
do balcão, ficando de pé na frente dela, entre suas pernas. Suas mãos encapsularam através de seu
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Koldo teletransportou Nicola e Laila para a sala de estar de sua fazenda. —Olhe ao redor, —
disse ele, fazendo o melhor para mascarar sua crescente tensão. Provavelmente falhando. —Mude
o que quiser. Coma o que quiser. Eu voltarei.
Odiava deixá-las de forma tão abrupta, sem nada mais do que uma acolhida, mas sua
próxima tarefa não podia esperar.
Enquanto Nicola balbuciava um protesto, ele teletransportou-se para a caverna onde sua
mãe estava escondida. Desta vez, não demorou do lado fora, mas esgueirou-se para dentro. Com
um único olhar, memorizou os detalhes. Cornelia estava mais suja do que antes, a túnica
manchada de lama e sangue, a bainha desfiada. O cabelo curto estava emaranhado nas laterais.
Estava sentada no canto da gaiola, e havia um rato empoleirado em sua mão — um rato que ela
estava alimentando com um pedaço de grão.
Ela viu Koldo e praguejou. —Você não pode me deixar em paz?
—Seu precioso amante está perseguindo minha mulher.
—Não tenho amante, — ela esbravejou.
—Ah, mas você tem. Meu pai, o homem que desejou por todos esses anos, está pensando
em me atacar.
Cornelia endureceu enquanto absorvia suas palavras. No momento em que as aceitou
como verdade, ela realmente jogou o rato nele, a criatura gritando ao longo do caminho. Koldo o
pegou, colocou-o no chão e observou quando saiu correndo.
Seu primeiro erro foi assumir que ela tinha um coração, garotinho.
—Cruel até mesmo com seus animais de estimação, — Koldo disse.
Ela tremia, visivelmente lutando para manter seu temperamento sob controle. Se não
estava enganado — e tinha que estar enganado— havia um brilho de arrependimento em seus
olhos.
—Pensei que ele estivesse morto, — ela sussurrou.
—Assim como eu. Nós dois estávamos errados.
Observando-o atentamente, Cornelia ficou com as pernas bambas. —Se ele está atrás de
você, você está condenado. Ele é astuto, e não há nada que possa fazer para impedi-lo.
—Posso matá-lo.
—E isso funcionou tão bem para você antes, — ela zombou com uma risada dura. —
Especialmente agora que tem uma mulher, você disse? Estou surpresa que alguma mulher possa
realmente suportar olhar para você.
Sua mulher. Era do que chamara Nicola, não era? Teria que vigiar melhor suas palavras, pois
a humana não era dele, não dessa maneira, e agora, nunca seria. Ela escolhera outro homem. E
Koldo realmente não podia culpá-la, mesmo que ainda estivesse com tanta raiva que poderia
destruir esta caverna pedra por pedra. Ela estaria melhor com um de sua própria espécie.
—Provavelmente deveria dizer adeus a ela. — Cornelia traçou a ponta do dedo ao longo
das barras ao lado dela e sorriu feliz. —Ele fará as coisas mais terríveis com ela, e o forçará a
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Pela primeira vez, ela conheceria a dor que ele experimentara em suas mãos. Pela primeira
vez, entenderia as profundezas da traição. Pela primeira vez, temeria as coisas que Koldo poderia
lhe fazer.
—Vamos ver se posso fazê-la mudar de ideia? — Ele retirou uma navalha da bolsa de ar ao
seu lado e teletransportou-se para o centro da gaiola — o único caminho para entrar ou sair. —
Pareço com meu pai, apesar de desprezá-lo. Acho que é justo que você se pareça com ele também,
já que claramente ainda está apaixonada por ele.
Seus olhos se arregalaram, e ela se afastou dele, o máximo que possivelmente conseguiria.
— Você não ousaria, — gritou ela. —Meu cabelo está apenas começando a crescer novamente.
Suas palavras apenas provaram o quão pouco sabia sobre ele. —Assim como você não se
atreveria a arrancar as minhas asas?
Ela inclinou-se para a esquerda, depois correu para a direita, tentando evitá-lo quando ele
se aproximou. — Você me desobedeceu. Tinha que ser disciplinado.
—Não desse jeito. — Koldo simplesmente teletransportou-se na frente dela e agarrou-a
pelos braços. Era seu primeiro contato desde que a carregou para fora das profundezas do inferno
e trouxe aqui. Ela estava mais magra, pele e ossos praticamente, lembrando-o de Laila. Laila, a
própria imagem de Nicola. Mas isso não o amoleceu, também, e não o impediu. Na verdade, o
deixou muito mais irritado.
—Seu único objetivo era me fazer sofrer, — disse, sacudindo-a. — Por quê?
Não deveria ter perguntado. Lamentou a pergunta imediatamente, e sabia que revelava a
mágoa da qual nunca fora capaz de se desfazer.
—Não podia permitir que você ficasse como ele, — disse ela, e toda a luta desapareceu
dela. Ela olhou para ele com mais do que ódio. —Deveria ter sabido que era uma causa inútil.
Eu não sou nada parecido com o meu pai! —Então você o desprezava.
—Sim, — ela sibilou.
—No entanto, dormiu com ele.
—Sim! Tudo bem? Sim. Poderia dizer que ele me enganou. Poderia dizer que foi um
momento de fraqueza. O que você quer ouvir?
Seu aperto aumentou quando lhe deu outra sacudida. —A verdade.
Totalmente calma, ela disse, — Você foi um erro. Essa é a verdade.
Com suas palavras, ela rasgou uma casca de seu coração, e a ferida sangrou em sua alma.
—Você está certa, — disse ele, desejando ser insensível. Em vez disso, estava tão destroçado por
dentro que não tinha certeza se seria capaz de se recuperar. — Eu fui um erro. E agora vou
mostrar-lhe por quê.
Empurrou-a de cara no chão, segurou-a para baixo com um joelho no centro de suas costas
e, enquanto ela gritava e tentava lutar para se livrar, removeu todos os fios de seu cabelo, até que
deixou o couro cabeludo limpo.
O som de uma mulher gritando, a visão dela lutando, fez com que muitas lembranças
terríveis emergissem. Mas mesmo quando fechou os olhos e balançou a cabeça, as imagens não o
deixaram.
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Nunca deixara de ser o homem moldado por seu pai, ele percebeu. E nunca deixaria.
Capítulo Dezesseis
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leve tom de rosa, mas não menos brilhante. E esse deveria ser o quarto onde Koldo queria que ela
ficasse, porque os cobertores que sua mãe costurara algumas semanas antes do acidente de carro
estavam dobrados e descansando na beirada da cama.
Um ventilador de teto enfeitado girava lentamente em cima. Um mural dos céus havia sido
pintado em todas as quatro paredes, com um sol brilhante no canto direito, brilhando sobre as
nuvens de todos os tamanhos e formas.
À esquerda, havia uma grande janela panorâmica com vista para um viçoso bosque de
laranjeiras. E por trás das folhas de um verde luxuriante e pedaços roliços de frutas, podia ver
várias montanhas e até mesmo um vulcão soprando fumaça espessa no ar. Havia três lagoas de
tirar o fôlego, com peixes que saltavam e cruzavam a superfície.
Nicola ficou ali, maravilhada com a beleza, observando o pôr do sol no horizonte, formando
vermelhos e rosas, criando o contraste perfeito para os verdes luxuriantes e azuis da terra
inclinada. Pássaros cantavam.
Quanto tempo Koldo queria que ficasse aqui? Ela pensou... Esperava... Bem, isso não
importava mais. Koldo não queria que ela fosse ao seu encontro — um sinal maravilhoso — mas
ficou tão irritada que insistiu. Que bobagem. Especialmente considerando o fato de que só aceitou
o encontro porque ele desaparecera nesses três dias.
Agora ele estava de volta... Mas ela estava presa.
O que faria?
Um farfalhar de roupas atrás dela a fez girar. Koldo estava a poucos metros de distância da
cama, com a cabeça baixa e as mãos cerradas. Fios de cabelo claros entremeados por escuros
presos no rosto e no peito. Listras de sujeira em sua pele. Tinha marcas de mordida nas mãos. Sua
respiração era profunda e uniforme, mas estava usando muita força, como se a calma que
mantinha em sua fachada fosse tênue.
—O que foi? — Todos os pensamentos do desastroso encontro a deixou, e correu para ele.
— Você foi atacado de novo?
Silencioso, simplesmente caiu de volta na poltrona felpuda atrás dele.
A preocupação a tomou quando agachou na frente dele e descansou as mãos em suas
coxas duras como pedras. Calor irradiava dele, envolvendo-a, e ela estremeceu por uma razão que
não tinha nada a ver com a temperatura.
—Fale comigo, — ela levou. —Por favor.
Os olhos dourados suplicavam que ela... O que?
Nunca o vira assim. Tão dilacerado. Tão torturado.
Tão quebrado.
—Koldo.— O que mais poderia dizer?
Ele se reclinou para trás, batendo a cabeça contra o arco de madeira. —Eu... Fiz algo. Algo
terrível. Foi merecido. Deveria estar feliz com os resultados, mas... Mas...
O que ele poderia ter feito para causar esse tipo de reação? —Diga-me.
Ele passou uma mão pelo rosto. —E observar o ódio tomar suas feições também? — Como
Laila, ele riu sem humor. — Não.
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Anjos da Escuridão 02
As mechas de cabelo flutuavam dele e para o ar, girando ao chão. Ele gosta de piadas.
Provoque-o. —Você deu a alguém um corte de cabelo não muito bom, não foi? — Ela perguntou
com um pequeno sorriso.
Ele fechou os olhos, exalou uma respiração e ergueu os braços para cima e para trás com
força feroz, abrindo um buraco na parede. O estrondo afiado a sacudiu.
Tal reação... Ele teria realmente dado a alguém um corte ruim de cabelo? —Koldo...
—Sinto muito, — ele resmungou, com foco sobre ela. —Não deveria ter feito isso.
Okay, talvez não um corte ruim, mas sua tristeza e melancolia definitivamente tinha alguma
coisa a ver com o cabelo.
—Faça-me esquecer, — suplicou ele. —Só por pouco tempo. Conte-me uma história.
Ela faria qualquer coisa para trazer-lhe paz. Mas o que ela poderia dizer a um guerreiro de
séculos para entretê-lo? Oh, eu sei! —Uma vez, uma menina da minha classe chamou a mim e a
Laila de Frankenstein Esquisitóide por causa dos tubos saindo de nossas roupas e eu sei, eu sei, é
um nome muito original, mas eu discordo. Ela fez Laila chorar. Note que eu disse Laila. Não eu, só
para que fique claro. Eu não passei vinte minutos no banheiro, encostada a um vaso nem um
pouco sanitário, soluçando tanto que a meleca estava borbulhando do meu nariz.
O menor grau de dor desapareceu de sua expressão, e ele passou a mão levemente sobre a
linha de sua mandíbula. —O que aconteceu depois?
Ela estremeceu quando disse, — Você tem que adivinhar o que alguém muito educada,
muito delicada como eu fez para se vingar da pequena puta.
—O que?
—Adivinha.
—Você, como a rebelde da pesada que é, xingou-a com um nome muito sujo.
—Não. Dei um soco no rosto dela e quebrei seu nariz. Ninguém chama a minha irmã gêmea
de Frankenstein Esquisitóide e consegue escapar. Que sirva de lição para você. Você pode querer
escrever e circular isso.
Ele soltou uma risada. Uma risada muito áspera, muito rouca, levando-a a acreditar que ele
não rira em anos. Talvez nunca. E fora ela quem o trouxe a esse ponto, afastando sua perturbação,
arrancando-o para fora da escuridão lamacenta para dentro da luz. E oh, ele era bonito assim.
Tanto que queria se levantar, engatinhar em seu colo e beijá-lo. Simplesmente pressionar
seus lábios nos dele, saboreá-lo, reaprendê-lo e oferecer conforto de outra maneira. Mas depois
da briga que tiveram...
—Outra história, — disse ele.
—Farei uma pergunta ao invés. — E provavelmente parecerá necessitada, mas ela não se
importava. —Os Enviados têm encontros?— Obviamente, eles se beijavam, mas...
Sua testa franziu, como se a mudança de assunto o deixasse confuso. — Alguns sim.
Não faça isso. Não pressione. — E você?
—Não.
Oh. Uma grande decepção que ela negara caiu por ela. — Nunca?
—Nunca. — Ele olhou para ela, realmente olhou para ela, seu olhar dourado perscrutando.
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Anjos da Escuridão 02
Baixou os braços para os lados. As mãos agarraram o tecido da cadeira, como se tivesse que forçar-
se a ficar parado.
Para evitar perfurar outro buraco na parede ou fazer qualquer outra coisa?
—Se eu te disser que torturei outro Enviado, — ele disse, — Você pensaria que sou um
monstro?
Pensaria? —Você torturou?
Silêncio.
Sim. Ele o fez. E sentiu que a ação, qualquer que fosse, fora merecida. Não foi isso o que
dissera há pouco? Mas ainda assim se arrependeu, quer ele percebesse isso ou não.
—O que aprendi ao longo dos anos é que as pessoas não devem ser definidas por um único
erro. Todo mundo faz besteira, — disse ela. —Você tem que perdoar a si mesmo e seguir em
frente.
Ele passou a língua sobre os dentes. — O que faz você pensar que este foi o meu primeiro
erro?
Ela suspirou. —Você está perdendo o ponto, Koldo.
—Não importa. Seja qual for o ponto, eu não consigo me perdoar.
—Consegue sim. Não é um sentimento, mas uma escolha — e, em seguida, agir sobre essa
escolha. E eu sei que eu deveria ser aquela que busca a alegria, mas é claro que você precisa,
também. Acho que sua falta de vontade de deixar isso ir, o que quer que isso seja, é tanto uma
toxina quanto um provocador de demônios.
Outra rodada de silêncio.
Bem, a sabedoria não tinha funcionado. Tentaria humor novamente. —Quero dizer, sério.
Todos os melhores terapeutas na TV dizem que o foco no passado provoca estagnação. E diarreia.
Ele soltou outra risada, em seguida, rapidamente ficou sério. —Você já fez algo para
machucar... — Ele apertou os lábios.
—Machucar quem?
Ele limpou a garganta. —Onde está sua irmã?
Boa saída. Mas chateado como estava, ela permitiu. —Dormindo no quarto dela. — Nicola
levantou, estendeu-lhe a mão. —Sei o que farei para você se sentir melhor. Vamos para a cozinha e
eu vou transformar a refeição mais medíocre que você já teve em prazer de degustação, já que
minhas especialidades são jantares à base de cereais e micro-ondas. Enquanto isso, você pode me
dar outro sermão.
—Eu não dou sermões. Eu ensino. —Colocou a mão na dela, a palma calejada fazendo
emergirem arrepios. Ele parou por um momento, não permitindo que ela o ajudasse a levantar-se.
Então, balançou a cabeça, como se tivesse acabado de tomar uma decisão e puxou-a para baixo.
Ganindo, ela caiu em seu colo e seu rabo de cavalo bateu no rosto dele. Ela colocou as
mãos em seus ombros grandes e fortes para equilibrar-se e perdeu o fôlego quando ele encaixou
os lábios nos dela.
Oh, doce misericórdia. Como da última vez, seus ossos imediatamente derreteram. Não
importava que fosse muito duro no início, depois muito suave, ele marcou-a, reclamou-a,
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Anjos da Escuridão 02
encantou-a. E seu gosto, oh, seu gosto. Era decadência, pura e simples, como o verão e o inverno, a
primavera e o outono, cada temporada, cada dia, levando-a direto para a eternidade.
Colocou os braços ao redor dele, segurando-o perto. Ele gemeu, e em seguida... Em
seguida, ele descobriu exatamente como queria beijá-la, e a pressão se estabilizou. Ele inclinou a
cabeça, aprofundando o contato. Tomando, dando. Exigindo, suplicando. Possuindo.
Tornou-se mais do que um beijo, e em algum nível, isso a assustou. Ele estava dando a ela
algo precioso. E ela estava dando a ele algo precioso de volta. Mas não sabia o que era aquilo —
sua confiança? Um pedaço de seu coração? E não tinha certeza se queria saber.
O que aconteceria se ela se apaixonasse por ele? Se lhe desse tudo?
Ele acolheria seus sentimentos mais suaves? Ou fugiria deles?
Quaisquer que fossem as respostas, a assustavam também. Tudo que sabia era que cada
ponto de contato a lembrava que nunca experimentara nada parecido com isso, e provavelmente
nunca experimentaria novamente. Como poderia? Ele era a luz na escuridão. O porto na
tempestade. A esperança que precisava no meio da guerra.
Não havia outro homem como ele. Ele era único. E queria que ele encontrasse tanto prazer
com ela, quanto ela encontrava com ele. Queria ser o que ele precisava.
Agradá-lo, e não desapontá-lo.
As mãos dele percorriam os contornos de suas costas... Então mais abaixo. Ele acariciou e
apertou e... E... Ela foi consumida, tremendo, necessitada. Ofegante, desesperada. E ele estava...
Tremendo, também, ela percebeu, tão afetado quanto ela, os dedos ásperos, um pouco
desesperados, e a consciência disso a quebrou.
—Koldo, — Desesperada, enfiou os dedos sob a gola de sua túnica. O tecido rasgou com um
simples toque, concedendo-lhe o contato pele a pele, o cheiro de sua carne aquecendo-a. E
quando seus músculos saltaram debaixo de seu toque, como se estivessem procurando um
contato mais próximo, o calor aumentou — e ficou mil vezes melhor. Ele era tão suave, tão duro,
tão... Exatamente o que ela sempre quis, sem nunca saber que desejava.
—Nicola, — ele ofegou.
—Mais, — ela exigiu, a palavra escapando por vontade própria. Continuou a rasgar sua
túnica, finalmente descobrindo toda a amplitude de seu peito.
Doce misericórdia. Ele. Era. Magnífico!
Bronzeado e tonificado, com os músculos e tendões empilhados, cinzelado pela mão de um
mestre. Seu peito... Aquele estômago ondulado com barras de ferro... Aquele umbigo
perfeitamente mergulhado. Uma cicatriz aqui, uma cicatriz acolá, mas ainda assim, nada sobre ele
era falho. Ele foi aperfeiçoado em um campo de batalha, cada marca um emblema da força.
Beijou seu pescoço e a cabeça dele caiu contra o encosto do sofá, permitindo a ela melhor
acesso. Beijou seu ombro, clavícula, afoita em sua tentativa de mostrar-lhe como o aceitava
profundamente, o que quer que tivesse feito, o que quer que o futuro reservasse. Seu toque se
intensificou na cintura dela, e ela levantou uma vez mais para tomar seus lábios. Ele gemeu em sua
boca, e assumiu, dominando-a da forma mais surpreendente. E ela estava... Estava...
Lutando para respirar, ela percebeu, tentando sugar em um suspiro único de oxigênio, mas
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agora. Certo?
— Estava na cozinha e encontrei isso. — Sorrindo, Laila ergueu uma garrafa de vodca.
Koldo enrijeceu. —Onde você encontrou isso?
—Nas mãos de um de seus amigos. E uma coisa boa que ele trouxe, porque quase morri de
um ataque do coração quando o vi e precisava de um pouco de algo para me acalmar.
—Um amigo? Que amigo?
—O tipo que vai te esfaquear no peito só para te ouvir gritar.
O olhar de Nicola fixou-se na cadeira que Koldo deixara. Havia duas impressões de palmas
brilhantes nas almofadas, com manchas de glitter dourado o tom exato de seus olhos. Impressões
que não estavam lá antes. O que... Como... Estranho, ela terminou.
De pé ao seu lado, ele estendeu a mão, colocou dois dedos sob o queixo dela e forçou-a a
encará-lo. —Fique aqui. E lembre-se do que eu disse sobre as tatuagens. —Com isso, saiu do
quarto fazendo barulho, fechando a porta atrás de si.
Capítulo Dezessete
Koldo nunca esqueceria a sensação deliciosa dos lábios de Nicola contra os seus ou a
suavidade de seu corpo pressionado contra ele, ou a doçura de seu gosto e mil outras coisas que
colocou seu sangue em fogo, fazendo-o doer, até alcançar a beira do desespero.
O tempo todo que a teve nos braços, esqueceu o horror de suas ações anteriores. Sua
fragilidade interior fora aliviada, e ele se sentiu completo. Feliz. Em paz pela primeira vez.
O futuro parecia brilhante. Problemas? Que problemas? Não houvera nenhuma raiva,
nenhum temor, nenhuma sensação de desesperança. Ele fora... Normal.
Mas fizera alguma coisa para perturbá-la, não importa o que ela alegou. Primeiro se
derretera. Então, depois de sair de seu desmaio, ela endureceu, preparando-se para fugir.
Ela se arrependera do que acontecera?
Provavelmente. Ele a atacou, e ela estava preparada para deixá-lo. Se ela conseguisse, a
teria perseguido e... O quê? Exigiria que ainda o desejasse?
Ele não seria tão patético. Seria?
Talvez sua desistência fosse o melhor. Ele não a teria sempre, e por isso não podia permitir-
se passar a contar com ela. Tinha a si próprio, e apenas a si mesmo, e essa é a maneira que tinha
que ser. Assim era seguro. Isso é o que sabia.
Esgueirando-se na cozinha, convocou a espada de fogo. As chamas crepitavam, derramando
luz na frente dele. O que esperava encontrar, não tinha certeza. Zacharel não sabia da existência
deste lugar, nem quaisquer outros Enviados. Seu pai não sabia, também, mas o macho estava lá
fora, caçando-o ativamente.
Para sua surpresa, encontrou Axel sentado à mesa da cozinha, comendo a comida que
Koldo comprara para Nicola e sua irmã.
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—Como se eu realmente quisesse ficar por aqui e carregá-lo novamente. Eu mencionei que
você pesa mais do que um prédio? —Axel levantou-se, abriu as asas e saltou no ar, pulverizando-se
através do teto e desaparecendo.
Koldo seguiu pelo corredor em direção ao quarto de Nicola. Laila estava pulando na cama,
cantando fora de sintonia, perdendo o fôlego.
— ... Algo, algo, algo, você me ama. Sim. Sim. Algo, algo, juntos.
Nicola descansava no sofá, um cobertor espalhado nas pernas. Um de seus livros sobre
estratégias de batalha celestiais descansava no colo.
—Há roupa de dormir no armário, — disse ele, e ela olhou para cima. Encontrar aqueles
olhos cinzentos tempestuosos era sempre um prazer e uma dor. Eles sempre eram diretos.
Exceto desta vez.
Ela desviou o olhar. As faces coradas.
Ele se mexeu desconfortavelmente e acrescentou as palavras que Annabelle dissera que
seriam necessárias. —Estas peças foram compradas para você e só você. Nenhuma outra mulher já
as usou.
—Obrigada, — disse Nicola rigidamente.
Este não fora o problema, então.
Laila continuava a cantar.
—Fui chamado repentinamente, — explicou.
—Oi Cold-oh, — disse Laila, caindo sobre o colchão e saltando. —Adivinha? Eu vou ter o
bebê da sua casa. Eu o amo tanto!16
Ele... Não tinha ideia do que dizer diante disso.
—Quando vai voltar?— Nicola perguntou, brincando com um fio solto no cobertor.
—Não tenho certeza, mas vou me certificar de que alguém estará aqui para escoltá-la para
trabalhar se não conseguir voltar pela manhã.
—Não se preocupe. Eu não trabalho no Estella no fim de semana.
Isso mesmo. Amanhã era sábado.
—Mas nós temos nosso encontro duplo, — disse Laila. —E vai ser divertido!
As mãos dele cerraram ao seu lado enquanto aguardava, esperando o que Nicola falaria.
Mas ela permaneceu em silêncio, claramente ainda desejando ir, mesmo depois de tudo o que
aconteceu entre eles.
É melhor assim, lembrou-se.
—Vou garantir que você chegue lá, como prometido, — disse entre dentes.
E agora, ele deveria ir. Sabia que deveria ir. No entanto, ainda assim, hesitou. — Comprei
um telefone celular, — disse a Nicola. Annabelle insistira. — Está na primeira gaveta do criado-
mudo. Comprei um para mim, também. — Atualmente descansava em um bolso de sua túnica.
—Qual é o seu número? — Ela perguntou.
—Ele já está programado no dispositivo. — E era o único ali. O único que lhe permitiria
16 Laila cumprimenta Koldo e continua cantando canções sem sentido. A pronúncia do nome Koldo é semelhante a palavra Cold que
significa frio, e Laila o chama assim.
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colocar lá. —Chame-me se você precisar de mim. Por qualquer motivo. — Ou mesmo se você não
tiver um.
Ela assentiu, abriu a boca, fechou-a.
—Não se preocupe com nada. Mantenha a calma.
—E espalhe alegria, — disse ela com um suspiro. — Sei o que fazer.
Ele não se incomodou em dizer-lhe para ficar dentro dos limites da propriedade. A nuvem
garantiria que ela o fizesse.
Sem outra palavra, Koldo teletransportou-se ao jardim do templo de Germanus. Pela
quantidade de vezes que esteve aqui ao longo dos séculos, conhecia a área de cor. Dois rios fluíam
das colunas de alabastro na frente e acabavam através das flores, em cascata ao longo dos lados do
penhasco nas nuvens, para regar as estrelas. Pela primeira vez, no entanto, toda a extensão estava
coberta com Enviados. Centenas de homens e mulheres o cercavam, o nível de ruído totalmente
fora de controle.
Koldo transportava aqui e ali, procurando os soldados que pertenciam a Zacharel.
Encontrou-os na extrema esquerda, na frente dos degraus de alabastro e colunas de rica hera que
levavam às portas duplas e altas do templo.
Charlotte e Ronen piscaram e acenaram para ele.
Elandra virou-lhe as costas.
Malak estava muito ocupado encarando Bjorn para notá-lo.
Bjorn estava muito ocupado conversando com Thane e Xerxes para notar Malak.
Jamila o viu e franziu a testa. Ela empurrou pelo caminho até ele e disse: — As coisas estão
indo mal em Estella. Sirena desaprova a sua menina. A odeia, na verdade. As coisas que ela faz e
diz quando Nicola não pode ouvir... —Ela estremeceu.
A notícia o surpreendeu. Como alguém poderia encontrar falha em essa humana tão gentil?
— Vou lidar com ela. — Quem ou o que ela fosse. —Você sabe o que Sirena é?
—Sim. O mal.
—Então, você não tem certeza?
—Não, — ela resmungou.
Segunda-feira, quando levasse Nicola ao trabalho, encontraria uma maneira de questionar
esta Sirena. Ela não era Nefas, e não era demônio. Mas era alguma coisa. E se odiava Nicola,
poderia estar trabalhando para seu pai.
A esta altura, Koldo tinha que suspeitar de todos.
Axel esgueirou-se para o seu lado e deu um tapinha em seu ombro. —Ainda bem que você
conseguiu deixar a Peituda tempo suficiente para fazer uma aparição.
—Chame-a assim novamente, e vou cortar o seu coração de seu peito e dar a ela como um
troféu. — Enquanto falava, ele avistou Malcolm e Magnus.
Os dois pareciam ser de origem asiática. Malcolm tinha cabelo escuro tingido de verde nas
pontas, os fios saindo de um ponto único ao longo do centro da cabeça. Tinha olhos tão pálidos
que eram quase brancos, e ossos tatuados no pescoço.
Magnus era tão sério e claramente delineado, como qualquer empresário humano. Bem, se
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—qualquer empresário— tivesse mais de dois metros de altura e mais de cento e trinta quilos de
músculos.
Axel afastou a ameaça acenando com as mãos. — Posso recomendar que você descasque a
pele do meu corpo, também?
O que você poderia dizer a um homem como este?
Seu olhar pousou em Thane. O guerreiro acenou uma saudação.
Bjorn e Xerxes franziram a testa enquanto olhavam para cima nos degraus para... Zacharel,
que estava caminhando pelo estrado ao lado dos outros seis membros da Elite.
Havia quatro homens e três mulheres, cada uma representando um dos exércitos de
Germanus. Embora possuíssem as mesmas asas de ouro maciço, que era a sua única semelhança.
Lysander, o loiro de olhos escuros, se aproximou, levantou as mãos, e a multidão aquietou
instantaneamente. Com a expressão séria, ele disse sem qualquer indício de emoção, — Dói-me
ser o portador de más notícias, mas a hora chegou. Vocês precisam saber a verdade. Precisam
saber que o nosso rei... O nosso rei está morto.
Koldo vacilou. Não estava certo de quanto passou desde que Lysander fez o seu
pronunciamento, só sabia que o tempo de fato passou. Gritos de negação e desespero ressoaram,
e, com as emoções em alta, o caos se seguiu. Lutas estouraram, Enviado contra Enviado maníaco.
Lágrimas foram derramadas e o futuro de sua espécie foi lamentado. Eventualmente, as coisas se
acalmaram o suficiente para a reunião continuar. Para terminar. Então, um por um, os exércitos
voaram para longe. Todos, menos os de Zacharel.
Zacharel ordenou que ficassem, e então ficaram.
Koldo andou para trás e para frente, seu corpo se movia por conta própria. Seu líder
estava... Seu rei estava... Estava... Germanus estava morto. Morto.
Morto.
Nunca deveria ter permitido que sua raiva substituísse seu afeto pelo homem e o
mantivesse longe do templo. E não apenas sua raiva, mas arrependimento. Sabia que Germanus
desaprovaria seus planos para a sua mãe, e não queria dar ao homem a chance de expressar seu
descontentamento, de alertar Koldo contra suas ações.
Agora, nunca mais teria a oportunidade de sentar com o Enviado que o encorajara e
alimentara e mergulhar em suas muitas palavras de sabedoria.
Depois de tudo que Koldo sofrera em sua infância, Germanus fora o único a dar-lhe
esperança para o futuro. E agora seu corpo era poeira, o seu espírito nos céus com o Altíssimo.
Quando isso poderia ter possivelmente... Acontecido? A resposta ficou clara antes que a
questão acabasse de se formar. O tremor no escritório de Nicola, ele pensou. Na época, achara que
o tremor saltou de algum tipo de terremoto isolado. Mas não. Um ser grande e poderoso morrera,
e até mesmo o mundo inteiro sentira isso.
Mas Koldo não soubera, não suspeitara. Continuou, como se nada estivesse errado.
Zacharel acenou para que os soldados se aproximassem. Eles deram um passo à frente, e
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alguma razão, ele permitiu. Não havia nada que pudéssemos fazer que já não estivéssemos
fazendo. Mas devemos empregar nossas habilidades agora, contra os demônios que estão na terra
e na clandestinidade. Temos razões para acreditar que estão planejando a construção de exércitos
de seres humanos possuídos, tornando impossível que lutemos de forma eficaz.
Porque os seres humanos não poderiam ser prejudicados. Porque os seres humanos não
poderiam ser possuídos a contragosto. Tinham que cair intoxicados ou acolher os demônios de
braços abertos.
—Eles devem ser encontrados, — Zacharel continuou, — e devem ser parados antes que
seu mal se espalhe como a doença que é. E vocês, meus soldados, são os encarregados dessa
tarefa.
Capítulo Dezoito
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amarelara. Vários pássaros mortos estavam caídos na sombra. Um cão por perto tentou marcar a
árvore, mas agora estava saltitando ao lado de seu dono e choramingando, as patas provavelmente
queimando.
—Qual é o dano?— Axel perguntou, dando um passo ao lado dele.
—Alguma vez você já foi exposto à fumaça Nefas?
—Bem, sim. Quem não foi?
Quase todos ainda respirando. Mas tudo bem. Axel sabia o que esperar se permitisse a si
mesmo sequer roçar contra o material. —Confira todas as outras árvores. Qualquer uma que
estiver relacionada com a mancha terá que ser arrancada, toda a área limpa.
—Então você pretende ser o chefe de nossa pequena parceria?— Axel perguntou
casualmente.
Koldo ignorou a pergunta. —Você tem uma nuvem?
—Este é o dia de perguntas bobas? Claro que tenho uma nuvem.
—Chame-a.
Axel concordou, e uma fração de segundo mais tarde, névoa branca os envolveu.
—Deixe os seres humanos verem o parque, — disse Axel à nuvem, — mas não permita que
se aproximem de nós.
À medida que a névoa limpava, tornando-se transparente para os olhos e um pouco sólida
ao toque, formando uma bolha em torno deles, Koldo saltou para o trabalho necessário. O veneno
e fumaça não o matariam, mas o enfraqueceriam. Ainda assim, passou os braços em volta do
tronco da árvore e, usando toda a sua força, arrancou as raízes do solo. Jogou a coisa inteira em
uma bolsa de ar para ser queimada depois. Também pegou cada grão de sujeira que tivesse o
aroma penetrante e revelador da fumaça. Pegou cada folha caída, até mesmo os pássaros mortos.
—Havia cinco outras, — disse Axel, retornando ao seu lado.
Passaram as próximas horas na limpeza, Koldo deixando pedaços da nuvem em torno de
cada um dos locais, impedindo que qualquer ser humano visse o que fora feito. Hoje à noite,
quando as pessoas estivessem aconchegadas com segurança em suas camas, Axel poderia remover
a barreira. Os humanos chegariam amanhã de manhã e entenderiam o que quisessem sobre essa
farsa.
—O que você sabe sobre os Nefas? — Perguntou a Axel quando pegaram a última das
folhas infectadas.
—Eles gostam de atacar seres humanos, Enviados, ou qualquer um, também, e acham que
as regras, como compaixão e generosidade são estúpidas. Ah, sim, e são tão maus quanto os
demônios.
Koldo assentiu. — São planejadores. Fazem pequenas coisas primeiro, para ver como o
adversário vai reagir, bem como para provocar tanto medo quanto possível, já que o medo
confunde, enfraquece e faz você fazer coisas que normalmente não faria.
—Sua mãe arrancou suas asas, mas eu arrancarei seu coração e o darei de comer aos cães,
— disse seu pai. O brilho de uma lâmina de prata que segurava, ondulou com a luz. —Você quer
que eu leve o seu coração, menino?
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Por que não? Você já o quebrou. — Quero que você morra. — Ele sentou-se no canto da
jaula, sujo e com sangue endurecido de suas muitas tentativas frustradas de fuga.
Uma risada zombeteira emergiu. —Muito ruim. Estou aqui para ficar. E dei cinco dias para
fazer o que mandei. Agora, você tem cinco segundos para fazê-lo. Matar o ser humano ou outra
coisa. Um....
—Algum dia vou fazer você sofrer por isso.
—Três...
—Algum dia em breve.
Dobradiças — Cinco, —dobradiças guincharam quando a porta de uma gaiola para a qual
não podia se teletransportar para dentro ou para fora foi aberta.
Koldo saltou para ficar de pé, trêmulo, andou até o humano trêmulo que foi empurrado
para dentro da célula e bateu.
No presente, ele apertou os punhos nos olhos para interromper as repugnantes imagens
encharcadas de carmim por trás deles. Se pudesse voltar atrás... Queria muito voltar.
Você tem que perdoar a si mesmo, Nicola disse.
Duvidava que ela proferisse essas palavras se soubesse sequer a metade das coisas que
fizera. Ele deveria ter morrido ao invés de ceder às demandas de seu pai. Deveria ter...
Concentre-se. Distração matava. Certo. Assim. Uma guerra antiga já fora renovada. Primeiro
golpe, Nox aparecera para Nicola. Segundo golpe, a dizimação do parque. O terceiro aconteceria
muito em breve — mas seria pela mão de Koldo.
Apostaria que seu pai deixara um homem para trás, alguém para vigiar a área para relatar a
todos a reação de Koldo. Olhou em volta, e certamente, viu um homem alto com a cabeça careca e
os olhos escuros de um predador na barraca de pretzel17, comprando o lanche do meio-dia e
olhando diretamente para a área.
Mesmo que o contato com a fumaça o deixasse um pouco instável, Koldo saiu da proteção
da nuvem, permitindo que o Nefas o identificasse.
O homem deu um sorriso largo e cheio de dentes, as presas brancas e brilhantes faiscando
enquanto se aproximava. A fumaça não estava vazando de seus poros. A função corporal era algo
que todos os Nefas podiam controlar, a maioria dos dias simplesmente optavam por não fazê-lo.
—Nós estamos fazendo isso, estamos?— Axel perguntou, parecendo animado. — Bom,
tudo bem, então. Ainda bem que estou usando minhas cuecas de menino grande hoje.
Antecipação zumbia através de Koldo. Encontrou-se com seu inimigo no meio, estudou-o de
novo. Nunca se viram antes. Ou o homem era mais jovem do que Koldo por vários séculos, ou o
seu pai o roubara de outro clã Nefas.
Ele mastigava prazerosamente, como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo,
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assumindo que Koldo não faria nada na frente de testemunhas humanas. — Demorou bastante
para reunir sua coragem e mostrar-se, — disse o Nefas em uma voz muito profunda. — Tenho uma
mensagem para você, Koldo, o Terrível.
Koldo não tinha vontade de ouvir o resto. Todos os Nefas podiam teletransportar-se e ele
teve que agir rapidamente. Em um movimento fluido, retirou suas facas curtas de dois gumes da
bolsa de ar que usava para armazenar suas armas e bateu, cruzando os pulsos para formar um par
de tesouras gigante.
—Nuvem, — disse Axel, quando a cabeça do homem separou-se do seu corpo.
A nuvem estava lá em um instante, protegendo os acontecimentos quando as duas peças
bateram no chão e uma poça de sangue negro formou-se.
—Bem, o pretzel está arruinado, — acrescentou o guerreiro casualmente. — Então você
não estava curioso a respeito da mensagem?
—Não. Sabia o que ia dizer. —Um Olá do pai de Koldo, bem como uma ameaça à Nicola,
tudo em uma tentativa de prolongar a apreensão de Koldo.
—Se importa em partilhar com o resto da turma?
—Me importo.
—É justo, já que não estava realmente interessado. Mas tenho que dizer, estou tão
orgulhoso agora. —Axel achatou a mão sobre o coração. —Você pegou meu movimento
patenteado emprestado, provando que sou mais do que apenas impressionante. Sou
impressiolicioso18. Isso é uma palavra? É provavelmente uma palavra de menina, mas quem se
importa! Sério. Você vê uma lágrima no meu olho? Porque tenho certeza que estou sentindo uma.
Koldo não entendia o humor do homem, e, no entanto, percebeu que estava começando a
gostar de Axel apesar disso. Ele era forte, corajoso e nunca recuava em uma luta. Nunca permitiu
que o humor de Koldo afetasse o dele, e estava feliz de fazer qualquer coisa que Koldo pedisse. Ou
exigisse.
Qual era a história desse homem?
—Você é muito estranho, — Koldo observou.
—Não. Sou misterioso. Há uma grande diferença.
—Você é definitivamente estranho.
Koldo colocou o corpo e a cabeça na bolsa de ar com as árvores e a sujeira, e procurou por
quaisquer outras pegadas perfurantes. Não encontrou nenhuma, mas, não esperava encontrar.
Tinha apenas que esperar que seu pai tivesse deixado um rastro para trás, pensando em levá-lo
para uma armadilha.
A armadilha que sabia que não era realmente uma armadilha, mas uma arma.
—Então, aonde você quer ir a partir daqui?— Axel perguntou.
—Preciso queimar a bolsa de ar e verificar as mulheres. Vamos nos encontrar amanhã à
noite e ir à caça dos Nefas.
—Me encontre lá.
18Impressiolicioso – não, essa palavra não existe! Trata-se de uma brincadeira da autora, misturando awesome + delicious, que se
torna ‘awesomelicious’ no original, a mesma lógica em português nos dá: impressionante + delicioso -> impressiolicioso
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Anjos da Escuridão 02
A manhã chegou, a luz do sol penetrando pela fresta entre as cortinas que cobriam a janela
do quarto de Nicola. Esticou os músculos tensos, e sentou-se. Depois que colocou Laila na cama,
voltou ao seu lugar no sofá e leu. Depois de um tempo, fechou os olhos, pensando em recarregar,
e então... Nada até agora.
Não fora para a cama, mas estava lá agora. Não se cobrira, mas estava enrolada no
edredom. Não havia maneira de que Laila a tivesse levado, de modo que só poderia significar que
Koldo retornara. Apenas não a acordara.
Argh! Ele era muito doce para seu próprio bem. Agora não podia evitá-lo para sempre e
fingir que o beijo nunca acontecera. Agora teria que enfrentá-lo e agradecê-lo por sua gentileza.
Resmungou enquanto se arrastava para fora da cama, resmungou enquanto escovava os
dentes e tomava banho, tendo o cuidado com suas novas tatuagens, e resmungou até mesmo
enquanto vestia um adorável top rosa e short jeans brilhantes.
O momento em que olhou-se no espelho, as queixas pararam. Usara coisas de segunda mão
a maior parte de sua vida. Seus pais fizeram compras em brechós, e depois, quando estava no
comando de suas próprias finanças, ela também. Agora... Olhe para ela. Estava... Estava... Incrível.
Um gemido borbulhou dela. Mais uma vez, Koldo era responsável por algo maravilhoso em
sua vida. E realmente, por um pouco de tempo durante o beijo, ela o fez experimentar este mesmo
sentimento de admiração. O fez sentir-se especial. Ela sabia, nunca iria esquecer a forma como ele
tremia.
Talvez... Talvez ela não fosse uma má escolha para ele, afinal de contas. Sim, desmaiara
durante o seu segundo momento íntimo juntos. E sim, poderia desmaiar na próxima vez, também.
Mas cortá-lo de sua vida em vez de enfrentar a enfermidade e o embaraço que se seguia? O
quanto ela poderia ser tola?
Poderia ser fraca — mas era mais forte do que isso, pensou, amarrando o cabelo em um
rabo de cavalo, enquanto os fios ainda estavam molhados. Era o cabelo de sua mãe, e quase o
cortara mil vezes. Mas toda vez que pegava a tesoura, lembrava-se do modo como sua mãe
costumava escová-lo e trançá-lo, da forma como seu pai costumava chamá-la de Mini Kerry, depois
de sua mãe, e a maneira como seu irmão costumava puxar as pontas.
Seu irmão. Seu lindo Robby.
Lamentamos, Miss Lane, mas seu irmão foi jogado...
Não, não pense nisso. Pensar nele abria feridas que nunca foram realmente curadas. Então,
sempre o afastava de seus pensamentos antes que tivessem tempo para se formar.
Levantando o queixo, saiu do quarto e decidiu verificar sua irmã primeiro. Mas o quarto de
Laila estava vazio, a cama desfeita e roupas espalhadas pelo chão.
Atravessou a sala de estar — ainda nenhum sinal de sua irmã — e foi para a cozinha. Nicola
deu um suspiro de alívio quando viu Laila na mesa, a cabeça apoiada na palma da mão erguida.
Uma xícara de chá fumegando na frente dela.
—Não fale, — sua irmã resmungou. —Só... Não fale.
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Anjos da Escuridão 02
—Ressaca?
Laila gemeu. —CoCo! Por favor.
—Desculpe, — ela sussurrou. Nicola preparou uma xícara de chá para si mesma, e tomou
um gole do líquido quente, adoçado.
—Você deve comer a fruta, — uma voz masculina disse, e Laila emitiu outro gemido.
O coração de Nicola acelerou em uma rápida batida quando virou-se para enfrentar Koldo.
Ele usava as mesmas camisa e calça branca soltas que usara no hospital. Havia linhas de tensão ao
redor de seus olhos. Uma tensão que combinava com a que ouvira em sua voz na noite passada.
Ele parou para olhá-la de cima a baixo, e seu queixo caiu. Ele começou uma leitura mais
agradável sobre ela, as pupilas dilatando. — Você... Você...
—Sim? — Ela perguntou, esperançosa. Está linda? Impressionante? Vale a pena tentar
beijá-la de novo?
—Está usando a roupa que escolhi para você. — Um coaxar.
—Sim.— Ela esperou. Ele não disse mais nada.
Sério? Isso é tudo o que conseguiria? O óbvio? —Eu vou comer, se você comer, — ela
resmungou.
Ele pensou por um momento, assentiu rigidamente e sentou-se à mesa. Nicola descansou
na cadeira ao lado dele. Havia um prato cheio com laranjas, morangos, banana e melão. Ela
escolheu um morango e o mordeu bem no centro, o suco escorrendo pelo pescoço e fazendo-a
gemer.
—Oh, isso é bom. — Quase o suficiente para fazê-la esquecer da falta de entusiasmo de
Koldo com sua aparência. Quase.
Ele estendeu a mão e pegou uma gota que havia escorregado em seu queixo. Seus olhos se
arregalaram quando ele levou o dedo à boca, e provou. —É, — ele concordou, um tom rouco em
sua voz.
Sua pele formigava onde ele a tocou, queimava da forma mais deliciosa. E quando seu olhar
baixou para onde seu dedo estivera, um brilho de satisfação reluziu nos olhos dele.
Okay, então ela finalmente esqueceu.
—Você está mais animada hoje, — disse ele.
Ela gostava que ele estivesse tão sintonizado com ela. —Estou.
—Por quê?
Seu desconforto com o beijo de ontem era algo particular, entre eles, e não algo a ser
compartilhado, nem mesmo com sua amada irmã gêmea. —Então,— ela disse, mudando de
assunto. —Quem decorou sua casa?
Houve uma pausa antes que ele desse de ombros e dissesse: — Eu decorei, —
surpreendendo-a. O que, sem pressionar por uma resposta? Nenhuma profunda preocupação
sobre o que a aborreceu?
Você é uma bagunça. —Só para esclarecer, você decorou cada quarto?
—Sim, todos os quartos.
—Mas... Há muito rosa no meu.
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Anjos da Escuridão 02
19 How I Met Your Mother, um seriado cômico estadunidense exibido no Brasil na TV por assinatura (FOX Brasil), gira em torno da
vida de cinco amigos, e é narrada por um deles, Ted Mosby, no ano de 2030. A série demonstra o protagonista contando aos seus
filhos como conheceu a mãe deles.
20 O Ibuprofeno é um fármaco do grupo dos anti-inflamatórios não esteroides (AINE) sendo também analgésico e antipirético,
utilizado frequentemente para o alívio sintomático da dor de cabeça dor dentária, dor muscular, moléstias da menstruação, febre e
dor pós-cirúrgica. Também é usado para tratar quadros inflamatórios, como os que apresentam-se em artrites, artrite reumatoide
(AR) e artrite gotosa. O seu nome vem das iniciais do ácido iso-butil-propinóico-feólico noia.
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Anjos da Escuridão 02
—Eu sei, mas eu tenho que tentar algo. —Por favor, entenda.
As mãos dele estavam na ponta da mesa, e os dedos começaram a ficar lívidos. Finalmente,
o lado da mesa foi arrancado, as aparas de madeira choveram no chão. Koldo saltou para ficar de
pé e pisou para fora da sala.
Deixando-a sozinha.
Tão desoladamente sozinha.
Capítulo Dezenove
Thane aterrissou no centro de Teaze, um salão de beleza e clube de dança na terra, que
atendia imortais. Onze mulheres de espécies diferentes se movimentavam em torno do pequeno
edifício, cada uma mais bonita e com menos roupa do que a outra. O único macho no local era
William das Trevas, também conhecido como O Sempre Excitado, também conhecido como o
guerreiro que se recusava a revelar suas origens, e atualmente estava sentado em uma cadeira
giratória com folhas de papel no cabelo.
—Eu sei que você está aqui, — disse William, sorvendo um copo do que parecia ser
ambrosia misturada com vinho tinto.
Tenso, Thane entrou no reino real para revelar-se completamente para o guerreiro.
Imediatamente sentiu o doce aroma do vinho, o forte odor de produtos para cabelo, o aroma
pungente de esmalte de unhas e a fragrância familiar de sexo. Muito e muito sexo.
William deve ter dormido com cada uma das estilistas.
—Como você sabe?— Ninguém podia senti-lo quando ele não tinha vontade de ser sentido.
—Ele está dizendo isso a cada dois minutos na última hora, — disse a menina que caminhava
até William para remover as folhas.
Elétricos olhos azuis brilhavam quando William entregou sua taça a uma mulher que
passava por ele, elétricos olhos azuis que faziam Thane se lembrar de Axel. Mas então, havia uma
razão para isso. —Você tem que estragar tudo, Lakeysha?
A linda menina negra sorriu amplamente. —Bem, sim. Você me arruinou para outros
homens, então pensei que eu poderia devolver o favor de alguma forma.
Thane estudou o edifício, esperando que metade de suas brincadeiras fáceis fosse um
truque, que um inimigo estivesse à espera nas sombras, pronto para atacá-lo. Viu tijolos e
argamassa, espaços internos abertos com 15 cadeiras de beleza, ou como quer que elas fossem
chamadas, e uma linha de secadores de cabelo redondos e pias. Sem sombras ameaçadoras. Sem
silvos de uma arma.
Na parte de trás havia uma grande porta vermelha. Se a atravessasse, sabia que iria entrar
no clube, onde havia pequenas gaiolas penduradas no teto, e postes que se estendiam dos níveis
privativos. Um thum thum thum de rock pesado balançava até a fundação do edifício.
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Anjos da Escuridão 02
—Eu deveria estar ofendido, — disse William, tendo notado o dardejar do olhar de Thane. —
Não fiz nada para ganhar sua desconfiança.
—Você vive. Você respira. É o suficiente.
William tinha ido morar com os Senhores do submundo ― guerreiros imortais que lutavam
para libertarem-se dos anseios escuros dos demônios que os oprimiam. Ele passou séculos
trancado dentro do Tártaro, tanto por seus instintos mulherengos como por seu temperamento
selvagem. Mataria qualquer um, a qualquer momento, por qualquer motivo.
Sem dúvida, não era o mais confiável dos machos. Mas informação era informação e Thane
queria saber o que ele sabia.
Thane interrogou algumas de suas conexões mais sombrias no A Queda, o que eles sabiam
sobre os seis demônios responsáveis pela farsa no céu, e embora tivesse descoberto várias coisas
interessantes, não descobrira nada de valor.
—Claramente eu recebi sua mensagem, — disse William. —Você queria me encontrar, então
aqui estamos. O que você quer?
Muitas coisas. Começariam com informações. —Você é irmão de Lúcifer.
Por um momento, a máscara afável que William às vezes usava caiu, revelando o guerreiro
cruel em seu núcleo. —Ele é meu irmão adotivo. Adotado. Não somos do mesmo sangue.
—Ambos foram educados por Hades, o guardião do inferno.
Um estalo de sua mandíbula. —É. daí?
Então, ambos pensavam da mesma forma. Certamente. —Onde estão seus asseclas? Os
seis demônios responsáveis pela morte de meu rei?
—Como eu vou saber?
Uma evasiva. Que não seria tolerada. —Os demônios vivem agora entre os humanos. Vocês
estão agora vivendo entre os humanos. Eles são maus. Você é mau. Eles vieram do inferno. Você
passou muitos séculos no inferno. Você deve saber onde eles foram.
Longe de ofendido pela descrição, William inchou-se. —Eles poderiam estar em qualquer
lugar. Em todos os lugares. Você terá que atraí-los para fora.
—Como?
—Eu realmente preciso fazer o seu trabalho para você?— William deu de ombros. —Tudo
bem. Eu farei. Pode haver um bando inteiro de vocês atrás deles, mas isso não significa que vai
encontrá-los. Então, coloque uma recompensa por suas cabeças. Até mesmo suas mães iriam
entregá-los ― se eles tivessem mães, é claro.
Cada instinto guerreiro que ele possuía se rebelou. —E tomar a matança de minhas
próprias mãos?
—Mas o trabalho seria feito, então eu realmente não vejo qual o problema.
É claro que William não via nenhum problema. Ele só pensava no objetivo, não no dano
colateral. —O trabalho pode ser feito, mas pode não ser. Eu não saberei ao certo, já que não
tomarei parte nisso. E os demônios mentem. Eles nunca são confiáveis.
A menina terminou com as folhas, e William acenou para que ela se afastasse.
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Anjos da Escuridão 02
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Anjos da Escuridão 02
Os números de Fênix diminuíram severamente ao longo dos séculos, já que muito poucas
de suas mulheres eram capazes de conceber. Por isso os homens caçavam continuamente as
fêmeas. Se uma única era encontrada, era imediatamente levada para o acampamento das Fênix
― e mantida lá para sempre.
Nesse momento, Kendra estaria casada com um guerreiro. Nesse momento, ela era mais
uma vez uma escrava.
Thane devia se sentir culpado.
Ele não se sentia.
Provavelmente nunca se sentiria.
—Eu senti a tensão no reino dos céus, assim como na Terra, e soube que era um prelúdio
para a próxima guerra, — disse Bjorn. —Eu soube que um inimigo estava planejando algum tipo
de ataque, mas achei que o inimigo surgiria dentre os Titãs tentando surpreender e governar o
mundo.
—Titãs... Demônios... Qual é a diferença?— Xerxes disse.
Não muita. —Eu não ficaria surpreso ao descobrir que estão trabalhando juntos.
Thane terminou tirando as adagas dos braços, cada uma delas gravada com número após
número para representar ao Altíssimo a promessa de força, então puxou as luvas e bateu nos
ombros de seus amigos. Preferia mais esta armadura que aquela formada por sua túnica. —
Ninguém vem ao nosso território e fere o nosso povo. Os demônios queriam uma guerra, e por
isso vamos dar-lhes uma guerra.
—Pelo rei, — disse Bjorn.
—Ele ainda não tinha terminado o seu caminho,— Xerxes disse, —mas agora está em paz,
seu espírito no Altíssimo, no reino dos céus. Um lugar muito melhor.
Compartilharam um momento de silêncio, cada um lembrando o que o bom rei fizera ao
longo dos anos.
Juntos, saíram da suíte para o teto do clube. Thane chamejou suas asas. Um céu escurecido
se estendia ao redor dele, as estrelas brilhando lindamente.
—E agora vamos terminar o nosso caminho.— Thane mergulhou na noite, descendo,
descendo, descendo, e virando a oeste. O ar chicoteando contra sua pele, enrolando seu cabelo,
tornando-se mais quente quanto mais perto chegava do chão, mesmo quando o pico da montanha
de Serra Nevada entrou no seu campo de visão. Havia uma grande quantidade de pinheiros, e um
lago tão claro como cristal. Cabanas humanas de esqui. Seres humanos marchando através da
neve.
E aqui estava a casa de Maleah. Uma cabana composta de pedra e gelo, escondida em um
rochedo. Os enviados gostavam de morar junto aos elementos, e a fêmea deve ter ficado presa ao
hábito.
Thane transpôs as paredes e encontrou-se dentro de uma sala sem qualquer tipo de
conforto. Havia computadores, telas de TV, rádios e todos os tipos de outros equipamentos, mas
não havia sofás, almofadas ou cobertores. Não havia fotos.
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Anjos da Escuridão 02
Uma mulher da qual ouvira falar, mas que nunca havia visto manejava tudo com um olhar
penetrante e digitação constante em um teclado. Parecia uma princesa gótica, com sua pele
branca, longos cabelos brancos, várias tatuagens e piercings. Uma espessa franja escondia sua
testa e emoldurava os grandes olhos azuis.
Bjorn e Xerxes pousaram ao lado dele.
—Bonita, — Bjorn disse, olhando-a. —Eu não tinha ouvido esse fato.
Se ela colaborasse, talvez ele a levasse para a Queda para alguns dias de diversão. Se não...
Não poderia matá-la. Seria contra as regras. Mas poderia fazer outras coisas desagradáveis.
—Eu o esperava mais cedo, — disse ela, de repente. Sua cadeira girou, e ela observou
Thane com um olhar firme.
Ela não deveria ter sido capaz de senti-lo. Naquele instante, ela era humana.
E bonita, não lhe fazia justiça ele percebeu. Suas feições eram ousadas, sensuais. Ela tinha
grossos cílios brancos e olhos de pálpebras pesadas. Um nariz forte, com um piercing enrolando
em ambas as narinas. Maçãs do rosto bem definidas. Lábios exuberantes, com dois piercings
abaixo do menor. Um queixo teimoso.
Ele entrou no reino real. —Impossível, — disse ele. —Você sabia exatamente quando eu
viria.
—Eu sabia quando você estava previsto para vir. — Pensei que estaria com um pouco mais
de pressa. —Seu olhar varreu sobre ele, medindo-o. — Se gostou ou não do que viu, ele não podia
ter certeza. Sua expressão endurecida não se alterou. —William disse que você era um arrogante.
Ela não tinha ouvido falar dele enquanto vivia nos céus. Ele ficou um pouco ofendido. —
Você é amante dele?
Ela riu com genuína diversão, mas não confirmou ou negou.
Bjorn e Xerxes se juntaram a ele no real, e ela deu aos guerreiros a mesma análise. Mais
uma vez, a expressão dela permaneceu impassível, ilegível.
—Armados para a guerra, eu vejo, — disse ela. —Contra mim?— Não havia medo em seu
tom. Somente aceitação.
—Por que você caiu?— Thane perguntou.
Outra risada borbulhou dela. —É. Observe-me enquanto eu não falo sobre isso.
Muito bem. Ele iria descobrir mais tarde. —O que você sabe sobre seis demônios...
—Que agora estão se escondendo aqui na terra?— Ela perguntou arqueando uma
sobrancelha.
Ele deu um passo em direção a ela, com as mãos fechadas em punhos. —Sim.
—Eu vou te mostrar.— Ela virou-se para seus monitores, começou a digitar. —Nova York é
uma área de alta criminalidade, certo, mas com altos e baixos, e muito raramente há um aumento
enorme e repentino. As coisas geralmente se constroem. Bem, ontem à noite houve um pico
diferente de qualquer coisa que tenha visto antes. Assassinatos, estupros, roubos,
espancamentos, mas a maioria aconteceu na privacidade dos lares humanos e não foram
declarados. E não foi apenas em uma área selecionada, mas generalizada.
—Isso não prova nada, — disse ele.
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Anjos da Escuridão 02
Ela bufou. —Como você sabe, a mera presença de um demônio faz com que a atmosfera e
a energia de um lugar mudem.
—É verdade, mas isso não significa que o aumento foi causado por demônios.
—Quem matou o seu rei agora estaria fraco. Germanus teria lutado, e lutado muito. Os
demônios sabiam que vocês logo estariam em seus calcanhares, e então teriam que reconstruir
sua força rapidamente. Como se alimentam do mal, teriam enviado seus asseclas para fazer o
maior dano possível.
Deslumbrante e inteligente. Sim, ele a queria. —Então, eles se espalharam.
—Definitivamente.— Ela apontou para um mapa do mundo em uma tela separada,
batendo o dedo contra as áreas avermelhadas. —Cada um desses lugares teve um aumento
semelhante.
—Há 12 lugares, disse Xerxes, mas ainda assim apenas seis demônios.
Ela revirou os olhos, dizendo: —Você sabe tão bem quanto eu que nós temos
conhecimento dos esquemas do inimigo. Eles sabem que podemos rastreá-los desta forma, e
queriam uma maneira de contornar isso. Daí os asseclas que eu mencionei.
Nós, ela disse, como se ainda fosse parte de um exército. —Você acha que eles estão
mandando suas forças para atacar outras áreas, longe deles, para dividir nossos esforços.
—Exatamente.
Ele, Bjorn e Xerxes trocaram um olhar. Ela provavelmente estava certa, e eles deveriam ter
percebido isso por conta própria.
Então, por onde vamos começar? Xerxes perguntou, sua voz sussurrando através da mente
de Thane. Eles podiam se comunicar com todos os membros do exército de Zacharel desta
maneira, se desejassem, mas preferiam falar apenas uns com os outros.
Eu não acho que isso importe, Bjorn disse. Não importa aonde iremos, estaremos
destruindo parte de um exército de demônios.
Verdade. Mas os seis líderes estarão concentrando seus esforços em obter o controle dos
humanos. Quanto mais humanos recrutarem, menos podemos fazer para lutar de volta.
Então, novamente, de onde você quer começar? Xerxes perguntou.
—Ninguém lhe disse que é falta de educação falar telepaticamente na frente de uma
garota?— Maleah murmurou.
Thane a ignorou. Ele pensou por um momento. Vamos nos dividir, cada um toma uma área.
Se um dos seis for descoberto, quem o encontrar alertará os outros e nós nos encontraremos.
Bjorn assentiu.
Xerxes enrijeceu. Muito bem.
Desde o resgate da masmorra do demônio, eles não tinham ficado mais do que uma única
noite separados. Sempre cobriram as costas uns dos outros. Mas ficar juntos agora seria abrandar
a busca, e deviam ao antigo rei mais do que isso.
Eu irei para Nova York, Bjorn disse.
Eu para as Highlands, Xerxes disse.
Las Vegas era o segundo maior ponto vermelho, mas...
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Anjos da Escuridão 02
Eu irei para Auckland. Tenho uma casa lá. Thane protegeria o que era seu.
Ele apertou a mão de Bjorn e puxou-o para algo que os humanos chamavam de abraço de
urso. Então, Bjorn chamejou suas asas e foi-se. Fez o mesmo com Xerxes, e ele também correu
para longe.
—Muito obrigado, Maleah, — a garota murmurou com um aceno de cabeça. —Você nos
ajudou tremendamente, Maleah, e não poderíamos ter feito isso sem você.
—Isso ainda não foi provado, — Thane disse a ela.
Ela atirou-lhe uma careta. —É melhor você aprender boas maneiras antes de se aproximar
de mim novamente. Caso contrário, não darei nenhuma informação nova.
—Uma promessa?
—Uma ameaça.
Ele lutou contra um sorriso. Ele ainda tinha que encontrar uma mulher que pudesse resistir
a ele por muito tempo. E isso não era o orgulho falando, mas a verdade. Muitas mulheres tinham
uma fraqueza por um rosto bonito, e ele tinha um rosto mais bonito do que a maioria. Teria se
entristecido pelo fato de que tão poucas se importassem em olhar além da superfície para o
homem que ele era por dentro, se na verdade, quisesse uma mulher que o enxergasse por dentro.
—Por que você faz isso?, — Perguntou a Maleah. —Você não pode comprar o seu caminho
de volta.— Ninguém podia. Alguns dos Enviados retornaram ao céu depois de cair, mas as ações
não tinham nada a ver com isso. Eles tiveram que se aproximar do Altíssimo e pedir.
—Eu sei que não posso, — ela disse suavemente.
—Então por que faz isso?, — Ele perguntou de novo.
Ela não o encarou, mas ele podia ver que seu sorriso era triste. —Você provavelmente está
intimamente familiarizado com a minha resposta.
—E qual é?
—Arrependimento.
Capítulo Vinte
Nicola queria estar em qualquer lugar que não fosse uma churrascaria chique com dois
homens que mal conhecia. Mas estava determinada a ter uma noite sociável por causa de sua
irmã. E, até agora, todos na mesa acreditavam que ela estava aproveitando.
—... E, assim, a cerca de dois anos, percebi que ela estava me traindo com o meu irmão
durante quase todo o nosso relacionamento. E quer saber? Isso não foi a pior coisa que ela fez! —
Blaine, — o acompanhante de Laila, contou outra história sobre a mulher que tinha quebrado seu
coração, arruinou sua vida e deixou-o enrolado em todos os tipos de destroços emocionais,
parando apenas o tempo suficiente para engolir o resto de sua quinta cerveja.
Laila colocou a mão sobre o coração, os olhos lacrimejantes enquanto ouvia embevecida e
tentava oferecer conforto.
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Anjos da Escuridão 02
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Anjos da Escuridão 02
Ela, também.
—Por que os números?— questionou.
—Por que não?, — disse ela, porque não tinha outra resposta plausível.
Ele deu de ombros, dizendo: —Tudo bem. Então eu lhe disse que não tenho um encontro
há meses?
—Mas por quê?— O momento em que as palavras saíram de sua boca, ela percebeu seu
erro e corou. —Sinto muito. Foi uma pergunta muito rude. E não tenho direito de julgar. Não
tenho um encontro há anos.
Ele tomou um gole do vinho, estudando-a por cima da borda do copo. —Isso é impossível.
Todo homem no escritório está meio enamorado por você. E se você tivesse mostrado o menor
sinal de interesse, estariam completamente apaixonados por você.
Apaixonados por ela? Não havia nenhuma maneira. —Por que eles querem...— Outra
pergunta rude, e que ela não iria terminar.
—Por que eles querem você?— Dex perguntou, completando a frase para ela. Ele deu outra
risada, desta vez relaxada. —Você é tão serena, tão tranquila, e tem estado tão triste
ultimamente. Tornou-se uma compulsão fazer você sorrir. Está mais bonita a cada vez que a olho,
mas você não tem ideia. E eu poderia continuar e continuar.
—Obrigada, — ela respondeu suavemente. Se não mudasse de assunto, explodiria em
chamas. —Então... Você já passou algum tempo com Jamila e Sirena?
Ele estava no processo de engolir mais um gole de vinho e engasgou. Tossiu e bateu no
peito.
—Você está bem?
—Tudo bem, tudo bem, — ele ofegou. —Uh, o que faz você perguntar sobre essas duas?
—Eu só estava me perguntando como elas são com o resto do escritório.
—Ah, ah, eu acho ótimo. Eu... Realmente não me importei em saber mais sobre elas.
O garçom chegou com a comida, arranjou os pratos sobre a mesa, e Dex soltou um suspiro
aliviado. O aroma acentuado de especiarias bateu nela, e seu estômago revirou com fome, um
apetite voraz exigindo atenção. E nesse momento desejou ter pedido uma costeleta suculenta, em
vez de um prato de fettuccine.
—Conte-me mais sobre seu processo de recuperação, — disse Laila ― e Blaine fez
exatamente isso.
—Eles estão se dando bem, — Dex disse, novamente alcançando e afagando a mão de
Nicola.
A mesa não tremeu, ainda assim a taça de vinho repentinamente virou, o líquido vermelho
escuro rapidamente derramando sobre a jaqueta e calça dele. Ganindo, ele pulou.
—Desculpe-me, — disse entre dentes antes de correr para o banheiro dos homens.
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Ela merecia alguém melhor do que Dex. Melhor do que Koldo. Mas... Não conseguiria nada
disso e isso era tudo. Ela ficaria com Koldo. Todos os outros detalhes poderiam ser trabalhados
depois.
Sangue podia manchar suas mãos, mas ele sempre iria tratá-la com ternura. E ela não era
como Cornélia e Nox, já percebera isso. Nunca iria tratá-lo com ódio e crueldade.
Ela o fez rir, quando ele estivera na pior. Ele adorava tê-la em seus braços. Adorava tê-la em
seu colo. Adorava falar com ela, ensinando-a, escutando a sua inteligência e as suas observações,
simplesmente sentindo-a respirar. Adorava saboreá-la, e agora queria tudo dela.
Por que tentar encontrar outra mulher, uma imitação, quando já tinha a coisa real? Nicola
era a criatura mais bela que ele já viu, e ele queria... Tudo dela. Queria abraçá-la. Queria vê-la com
os cabelos fluindo pelas costas. Queria ouvir mais histórias sobre a sua infância. Queria vingar as
injustiças feitas a ela.
Ele apenas... A queria.
E ele teria essas coisas ― e muito mais.
Um dia você vai querer uma mulher, Nox dissera em um de seus —momentos de ensino. —
Você vai fazer qualquer coisa para tê-la.
Na época, ele zombou. Agora? Percebeu a verdade dessas palavras.
Mas, uma vez que a tiver, você terminará com ela. Sua curiosidade será amenizada, a
obsessão vai desaparecer, e você poderá virar seu olhar para a próxima conquista.
Foi isso que aconteceu com a minha mãe? Koldo tinha perguntado. Você quis, você teve, e
depois já não a desejava mais?
Nox soltou uma risada profunda e retumbante. Exatamente. Mas, oh, eu gostava dela,
entretanto.
Talvez Koldo perdesse o interesse em Nicola também, mas talvez não. As palavras de seu
pai não eram exatamente confiáveis, embora Koldo tivesse visto provas para sustentar sua
alegação. Thane, Bjorn e Xerxes certamente pareciam pensar que as mulheres eram descartáveis.
Mas isso não importa. Koldo não lutaria mais contra essa atração. Não se preocuparia com o
que poderia dar errado, o que Nicola poderia querer ou o que poderia acontecer no futuro.
Dissera a ela para não se preocupar com sua doença ou qualquer outra coisa, que só a
prejudicaria, e agora ele iria seguir seu próprio conselho.
Só tinha que descobrir como proceder.
—Parece que você está pronto para ter a ruiva para o jantar,— Axel disse como se lesse
seus pensamentos. —Simplesmente revele-se, leve-a para a casa dela e resolva seu problema.
Dessa forma, podemos voltar a seguir os Nefas.
—E se ela lutar comigo em público?
—Só existe uma chance de 49 % de que ela vença então você deve estar seguro.
—Você não pode estar falando sério—
—Quando se trata de matemática, falo sempre sério. Faça alguma coisa ou saia, — disse
Axel, polindo as unhas. —Estou entediado. Coisas ruins acontecem quando estou entediado.
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—A trilha Nefas ficou fria, — lembrou o guerreiro. —Tudo o que podemos fazer é perguntar
por aí e tentar encontrar seu ninho. E se isso falhar, tudo o que podemos fazer é esperar pelo
próximo ataque. Você não tem nada melhor para fazer.
Ele olhou para Nicola, que agora estava mordiscando a comida, observando a irmã. Antes
de Dex a deixar, correndo para longe, ela olhou para a massa com uma fome que Koldo queria que
fosse dirigida a ele.
Olhou para Laila, que empurrava a comida sem dar uma única mordida e apoiou os
cotovelos sobre a mesa. Enquanto Blaine devorava sua costeleta de porco e contava outra história
sobre sua ex-amante, ela enxugou os olhos lacrimejantes, simpática a sua dor.
Dex deu a volta no canto mais distante, o casaco pendurado no braço. Sua camisa branca lisa
estava com algumas pinceladas de vermelho, e havia uma mancha úmida no lado esquerdo da
calça. Ele estava mal humorado quando voltou ao seu lugar.
—Nós podemos ir embora, — Nicola ofereceu.
—Tudo bem, — Dex respondeu rigidamente. —Minha vaidade tomou uma pancada forte,
isso é tudo.
—Bem, talvez haja algo que eu possa fazer para ajudar.— Mordiscando o lábio inferior,
Nicola pegou o copo de água, respirou fundo e derramou metade do conteúdo no próprio colo.
A mandíbula de Dex caiu quando ela ofegou e sorriu, e Koldo odiava que outro homem a
visse tão relaxada, tão feliz, e que ela estivesse se esforçando tão diligentemente para entreter,
para agradar.
—Agora parece que nós dois fizemos xixi nas calças, — disse ela.
Uma gargalhada explodiu do homem.
Risos que deveriam ter sido de Koldo.
—Ok, eu provavelmente lutaria com você por ela, — disse Axel. —Isso foi realmente legal.
Koldo teletransportou-se para fora do restaurante, mentalmente comandou sua túnica
para que se tornasse uma camisa e calça pretas, e marchou de volta para dentro, desta vez no
reino real, onde todos pudessem vê-lo.
As recepcionistas espiaram-no, e só podiam ficar embasbacadas. Vários grupos estavam
esperando por uma mesa, e deram-lhe um amplo espaço. Suspiros soaram. Murmúrios surgiram.
Ele não se incomodou de falar com qualquer um dos humanos, e marchou direto para a mesa de
Nicola. Conversas cessaram. Podia imaginar Axel rindo, mas felizmente não podia ver ou ouvir.
Dex viu, e seu garfo parou no ar. Seus olhos se arregalaram. —Você!
Blaine o avistou e endireitou-se no assento com um estalo.
—O que...— Laila começou, olhou para cima e gemeu. —Oh, não.
Nicola olhou para cima, depois olhou de novo. —Koldo. O que você está fazendo aqui?
—Você o conhece?— Dex perguntou com um chiado.
Koldo olhou para os ocupantes da mesa. Deveria ter pensado nisso um pouco mais, ele
percebeu. Não tinha ideia do que dizer. —Nicola, — ele começou.
—Sim?— Ela jogou o guardanapo na mesa e se levantou. A metade de baixo de seu vestido
estava encharcada, gotas de água escorrendo pelas pernas nuas.
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Anjos da Escuridão 02
Ele se elevou sobre ela, o que deveria tê-lo dissuadido. Poderia machucá-la, sem sequer
perceber, e poderia prejudicá-la o suficiente para matá-la. Mas seus olhos se encontraram, e seu
sangue aqueceu, e soube que não poderia passar mais uma noite sem tê-la em seus braços.
—Sua irmã teve sua diversão, não é?
—Uh, não realmente,— Nicola disse, olhando para o rosto de Laila à beira das lágrimas. —
De qualquer maneira, ela está mais triste do que nunca. Desculpe Blaine, mas é verdade.
—Isso pode ser corrigido.— Para Axel, que ele ainda não conseguia ver, ordenou: —Tome
conta da irmã dela. Faça-a feliz. —Pegou a mão de Nicola e puxou-a em direção à saída.
—Koldo,— ela ofegou, embora não oferecesse resistência. —Sério. O que foi? Aconteceu
alguma coisa?
No fundo, ele pensou ter ouvido alguém perguntar se ela queria que a polícia fosse
notificada.
Ele atirou-lhe um olhar por cima do ombro. —Você é minha. E vou ficar com você.
Capítulo Vinte e Um
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Anjos da Escuridão 02
—De você, então. Mas posso corrigir isso. —Olhou para ela com a mesma intensidade que
ela ouviu em sua voz, e com o mesmo calor. —Feche os olhos.
—Por quê? Você vai me teletransportar...
Ele o fez. A teletransportou. Ela piscou, e encontrou-se em pé em seu quarto, no Panamá.
Ele a soltou... Só para apoiá-la contra a parede mais próxima.
Nicola engoliu em seco. —Laila...
—Está sendo cuidada.
—Bem, eu tenho que me desculpar com Dex.
—Você pode. Amanhã. Poderá enviar-lhe um cartão. —Ele apoiou as mãos em suas
têmporas, seu perfume inebriante, envolvente, em torno dela, tão certamente quanto seus braços
fizeram. Ela respirou profundamente, seu batimento cardíaco fora de controle.
—Você não pode estar com outro homem, — ele rosnou. —Nunca mais. Por nenhum
motivo.
Apesar do ritmo demasiado rápido de seu coração, o resto do pânico desbotou-se, o antigo
pânico e o novo. —Eu não quero estar com outro homem, — ela admitiu.
Ele assentiu com convicção. —Você pertence a mim. Somente a mim, para sempre. —Mais
uma vez, ele soava como se estivesse fazendo uma promessa.
Eles tinham que ser um casal.
—Você entende o tipo de garota que está recebendo?— Ela achatou as mãos sobre seu
peito, o calor dele escoava através da camisa e roçava sua pele. —Eu sou apenas eu, e venho com
alguns desafios.
Ele sorriu, satisfeito. —Eu sei disso. O que eu não sei é como estar em um relacionamento,
mas vou aprender. Estou fadado a cometer erros ao longo do caminho. Simplesmente me diga
quando eu errar e eu vou corrigir. De acordo?
Derretendo mais rápido... —Concordo.
Ele não disse mais nada. Simplesmente apertou os lábios nos dela.
Não foi o beijo brutal que ela esperava de um homem tão determinado, ou o beijo doce e
terno que compartilharam da primeira vez. Era calor e eletricidade, necessidade, carência e
obsessão. Dependência e desejo. Uma tomada e uma doação. Uma reivindicação inabalável.
Ela gemeu de prazer e ele levantou a cabeça. Olhou-a nos olhos, procurando.
—Eu não estava reclamando— disse ela. —Juro.
Ele voltou a beijá-la... Beijando tão profundamente, rodeando-a com o calor febril de sua
pele. Ela mal podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Era surreal. Era maravilhoso. Ele
pertencia a ela, e não havia ninguém aqui para detê-lo prematuramente. Estavam sozinhos.
Seu coração vibrou. Seus membros tremeram.
—Está tudo bem?— Ele falou com a voz rouca.
—Mmm-hmm.
Ele segurou seu rosto, as mãos deixando marcas cauterizadas quando a inclinou onde a
desejava. As pupilas dele estavam dilatadas, os lábios vermelhos, inchados e úmidos. —Você vai
me dizer se isso mudar?
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Anjos da Escuridão 02
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Ele arrastou a ponta dos dedos para baixo de sua coxa, provocando um arrepio atrás do
outro. Então... Arrastou os dedos para cima, deixando um rastro de fogo em sua esteira, e, ah, isso
foi... Foi... Muito bom, muito bom, muito após o estresse da noite, E... O nevoeiro se formou em
sua cabeça, assim como antes.
—Koldo, — ela tentou dizer, mas seu nome não era nada mais do que um sopro. Ele a beijou
novamente, roubando o pouco que lhe restava, e todo o tempo os dedos decadentes continuaram
a dar-lhe as mais suaves carícias, levando seu corpo para alturas que não estava pronta para
chegar.
Seu mundo inclinou, e a escuridão desceu.
O tempo deixou de existir. Os ruídos desapareceram. As sensações a deixaram...
De repente, algo bateu em seu rosto. Algo frio bateu sobre sua testa.
Franzindo a testa, Nicola puxou-se da escuridão e piscou para abrir os olhos. Koldo pairava
sobre ela, e estava deitada na cama, com a cabeça apoiada em uma almofada de veludo macio.
Seu vestido estava no lugar, alisado para baixo de suas pernas.
Oh, não. —Aconteceu de novo, não é?
—Sim. Você desmaiou. —Sua autopunição era palpável. —Eu a carreguei para a cama.
Mesmo tendo consciência de que ele gostaria dela de qualquer maneira, apesar de algo
assim, o constrangimento ainda aquecia suas bochechas, assim como ela suspeitou que
aconteceria. —Eu sinto muito, Koldo.
—Não sinta. Eu a pressionei muito, muito rápido. —Sua camisa, mais uma vez cobria o peito
magnífico, o que era, talvez, a maior tragédia agora. —Da próxima vez, irei mais devagar.
—Da próxima vez, — disse ela, e queria ronronar com satisfação.
Ele franziu a testa. —Você não quer uma próxima vez?
Mais do que qualquer coisa. —O que o faz pensar que eu não quero? A menos que você não
queira me desejar uma próxima vez— ela acrescentou rapidamente. —Você está dando a
entender que pretende que voltemos a ser apenas amigos?
Ele passou a mão contra seu queixo, o polegar acariciando o rosto. —Você bateu a cabeça? É
claro que eu não quero ser apenas seu amigo. E você deve me conhecer o suficiente para saber
que eu nunca insinuei nada.
Tão verdadeiro. Ela sorriu para ele. —Você poderia ser mais doce?
Seus lábios se contraíram nos cantos. —Primeiro, eu não me importo se você desmaiar a
cada vez que fizermos isso. Você vale qualquer esforço. Segundo, eu lhe faço feliz. Portanto, estou
ajudando na sua cura.
Não apenas feliz, ela pensou. Delirante.
—Você deseja que permaneçamos apenas amigos?— Ele perguntou, e desta vez o tom era
tão afiado que poderia tê-la cortado. Sua expressão, no entanto, era torturada. —Eu não sou um
homem disposto a comprar seu afeto, mas talvez eu pudesse fazer outras coisas. Existe algo que
você queira que eu não lhe dei?
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Seu coração deu uma guinada. —Não, — ela admitiu. —Eu não quero que sejamos apenas
amigos. E você me deu tudo. —Ele era o homem no qual ela pensava a noite toda. O homem com
quem queria estar. O homem que ela desejava.
Ele relaxou, assentiu com a cabeça e mudou seu toque para o pescoço, onde a pulsação
martelava descontroladamente. —Eu gosto dos beijos que compartilhamos.
—Eu também gosto.
—Eu gosto do seu gosto, da sensação de seu corpo.
—Sim.
—Eu quero a toxina fora de você.— Seu tom foi colocado com determinação. —Para
sempre.
Ela, também. Mais do que nunca. E teriam que mudar de assunto antes que ela pressionasse
empurrasse muito, muito rápido. —Diga alguma coisa para me distrair. Por favor.
Ele olhou para ela por um longo tempo antes de assentir, decidido. Rolando para o lado,
disse: —A primeira vez que a vi não foi no elevador.
—Não foi?
—Não. Um dia antes, fui enviado para o hospital para ajudar um humano, e me deparei com
o quarto de sua irmã. O Altíssimo me mostrou que ela estava na condição em que estava porque
entretera um demônio de medo por muito tempo, o demônio conseguiu rastejar seu caminho
dentro do corpo dela. Ele mostrou-me porque Ele queria que eu a ajudasse. Ela, sim, mas você
também, eu acho. Você estava em perigo de sucumbir da mesma maneira.
Nicola descansou contra ele, encontrando companheirismo, conforto e aceitação, todos
envolvidos em uma posição tentadora, apesar do tema. Ou talvez por causa disso. Conhecimento
era poder. —Eu estava recebendo um demônio? Quer dizer, eu sei que eu tinha a toxina, mas eu
pensei que... Eu não sei o que pensei.
—Havia dois deles pendurados em torno de você.
Um suspiro formou-se em sua garganta. —Mas eu nunca soube. Nunca os vi.
—Se eu fizer do meu jeito, você nunca vai ver.— Ele passou o braço sobre seu pescoço em
um abraço parecido a um estrangulamento suave ― gentil, mas um estrangulamento seguro, no
entanto. Ele era tão novo com este tipo de coisa como ela, e ela estava subitamente lutando
contra um sorriso.
—Diga-me algo sobre você, — disse ela. —Algo que nunca disse a ninguém.
Uma longa pausa. Ele engoliu em seco. —Quando eu era criança, eu vivia constantemente
com medo. Minha mãe me odiava, e meu pai abusou de mim...
—Oh, Koldo. Eu sinto muito. —Seu pai causou as cicatrizes?
—Eu nunca sabia que horrores teria que enfrentar, somente que teria que enfrentá-los.
Não admira que ele fosse tão feroz, tão distante, tão vulnerável e inseguro. Ele construiu um
escudo em torno de si, desesperado para proteger o coração frágil, que tinha sido pisoteado pelas
pessoas que mais deveriam tê-lo amado. As pessoas que, ao invés, o rejeitaram com seu abuso.
Ela traçou os dedos ao longo dos cumes de seu estômago, desejando que a camisa
desaparecesse, em seguida, repreendendo-se por desejar isso.
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 160
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Anjos da Escuridão 02
—Faça-me uma pergunta, — disse ele. —Qualquer pergunta. Eu gosto de compartilhar com
você.
Ela pensou por um momento. —Por que você estava tão chateado quando falamos ao
telefone após a reunião de ontem?
—Eu tinha acabado de descobrir que um homem que eu amava estava morto.
—Oh, Koldo,— ela repetiu. Ele sofreu um golpe atrás do outro, e o conhecimento a
entristeceu.
Ele tomou sua mão, levou seus dedos aos lábios e beijou. Em seguida, passou a mão sobre
suas bochechas, queixo, a barba fazendo cócegas em sua pele, antes de mais uma vez beijar os nós
dos dedos. —É uma punição que eu merecia.— A mesma culpa e vergonha que às vezes viu em
seus olhos agora escorriam de seu tom.
—Eu vou dizer uma coisa, e não quero que você se sinta ofendido, tudo bem?
—Tudo bem, — disse ele, relutante.
—Isso é a coisa mais ridícula que eu já ouvi! Você não merecia perder um amigo.
Ele relaxou um pouquinho. —Eu não tenho sido sempre o homem que você conhece.
—E eu não tenho sido sempre a garota que você conhece.
Ele balançou a cabeça. —Você sempre foi doce, amável e carinhosa, e é isso.
Não. Ele não sabia a plena verdade, que ela e Laila já haviam planejado assassinar o homem
responsável pela morte de seus pais e irmão. E seria eternamente grata que o plano tinha falhado.
Um momento de raiva teria mudado todo o curso de suas vidas, e não para melhor.
Mas tudo o que ela disse a Koldo foi: —Você está cometendo um erro, — e beijou-lhe o
peito. Não havia nenhuma razão para estragar o momento. —E perceba como sou maravilhosa,
mostrando-lhe isso como você pediu.
—Maravilhosa. Sim.
Não havia nenhum sarcasmo em sua voz. Querido homem. —Say-la, — ela interrompeu,
lembrando a forma como ele uma vez usou a palavra com ela.
Ele ficou em silêncio.
Ela traçou um X sobre a batida pesada do seu coração. —O que a palavra significa?
—Pare e pense sobre o que foi dito.
Bem, bem. A partir de agora, ela poderia usar a palavra depois de tudo o que ela disse. —
Então, agora que já desnudamos nossas almas, e eu exauri sua mente com minha inteligência, o
que você quer fazer com o resto do nosso encontro?
—Descansar. Para o que eu planejei amanhã, você vai precisar.
Pela primeira vez em toda sua vida, Koldo passou a noite na cama com uma mulher. Sua
mulher. Algo que ele queria. Só que, o que ele realmente queria era desnudar Nicola, desnudar-se,
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Anjos da Escuridão 02
beijá-la, tê-la ― tê-la de novo ― e talvez de novo e cair em um sono profundo. Então acordar e tê-
la novamente. Fisicamente, no entanto, ela não estava pronta para isso.
Talvez ele também não estivesse.
Da próxima vez precisava ir mais devagar, fazer com que ambos estivessem prontos. Amava
as sensações percorrendo-o tão intensamente que ele ficava a beira de perder o controle. Se isso
tivesse acontecido, ele poderia tê-la tomado com muita força. Machucá-la do jeito que ele sempre
temeu.
Um pensamento preocupante.
Um pensamento horrível.
O que um homem temia vinha sobre ele. Sabia disso. Então, era hora de parar de ceder e
começar a lutar contra essas preocupações no momento em que elas viessem. Praticar o que ele
ensinava.
Enquanto conversaram, e ela se aconchegou ao seu lado, ele esperava que o resto de sua
excitação desaparecesse. Mas isso não aconteceu.
Só piorou.
Enquanto ela dormia, seu hálito quente se espalhou ao longo do pescoço dele em uma
carícia decadente. Seu coração batia em sincronia com o dele, ligando-os da maneira mais sutil.
Seus aromas se misturaram, almíscar masculino com doçura feminina, e tudo o que ele queria
fazer era recomeçar de onde pararam.
Não é possível. Não!
Tudo tinha que ser perfeito para ela. Nunca quis que ela olhasse para trás e se arrependesse.
Preferia morrer. Ele não seria mais uma tragédia em sua vida. Ele seria outra coisa.
Eu tenho que ser algo especial.
Toda a sua força era necessária para permanecer imóvel, ignorando as dores de seu corpo.
No momento em que o sol se levantou, ele estava tremendo ― e suando e ofegante e muito
mais desesperado. Desembaraçou-se de Nicola, e mesmo que ela fosse a fonte de seu tormento,
odiava deixá-la. Ela resmungou um leve suspiro e rolou de bruços, os cabelos cor de morango
ainda presos no rabo de cavalo esparramando sobre os travesseiros.
Ele não podia mergulhar nela. Realmente não podia. Não se incomodou em tomar um banho
antes de se teletransportar para uma serraria próxima e reunir tudo o que precisava para construir
uma segunda casa, menor no quintal da fazenda. Sua roupa o limpando por dentro e por fora.
Em seguida, começou a trabalhar. Decidiu mudar sua mãe para o Panamá.
Ela era uma parte de sua vida. Uma parte que não queria mais esconder de Nicola. Ontem à
noite, contando a ela sobre seu passado, descobriu uma paz diferente de qualquer outra. E gostou
disso. Agora, queria que ela soubesse de tudo. Queria ser completamente honesto com ela. No
entanto, não iria apenas contar. Iria mostrar.
Uma hora acelerou em outra enquanto trabalhou naquela manhã, serrando e martelando.
Eventualmente, tirou a camisa. Suor escorria por seu peito e costas, e o sol batia contra sua pele.
Seus músculos saudaram a tensão.
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—Gostaria de algo para beber?— Nicola chamou da porta da cozinha. —Eu fiz uma
limonada.
Ele olhou para cima e desejou não tê-lo feito. A excitação voltou com força total, como se
nunca tivesse se afastado dela. Ela tomou banho e puxou o cabelo úmido em outro rabo de cavalo.
Aqueles olhos tempestuosos estavam brilhantes, as bochechas rosadas. Os lábios ainda estavam
inchados por seus beijos. Usava uma camiseta branca justa e jeans com strass ao redor da cintura.
Tão jovem. Tão fresca.
Tão sua.
—Não, obrigado, — respondeu ele. Se ela viesse aqui, iria agarrá-la e nunca a soltaria.
—Você tem certeza?— Ela levantou um copo cheio até a borda. —Você parece muito, muito
quente. E eu quero dizer, em todos os sentidos.
Ele fez uma pausa, levantou o martelo no ar.
—O que você está fazendo aí fora, de qualquer maneira?— Ela perguntou.
—Construindo uma cela.
Esperava que ela jogasse outra pergunta para ele.
Ela não o fez. Ela disse, —Eu aposto que você está trabalhando com bastante sede.
Estou. Por você. —Você não gostaria de saber.
—Eu aposto que gostaria...
Ah, não, você não gostaria. —Você está flertando comigo?
—Estou.
Confirmação. Matando-o. —Volte para dentro, Nicola. Agora.
Um suspiro sonhador a deixou. —Então comandante. Eu nunca pensei que teria uma
fantasia com um rosnante trabalhador manual, especialmente depois que fiquei com raiva de você
por ter rosnado no outro dia.
Ele quase abandonou as ferramentas e pisou atrás dela. Quase.
Ela se afastou. Poucos segundos depois, Axel passou fora da porta, o cabelo escuro
desgrenhado, os olhos azuis brilhando enquanto bebia a limonada que tinha sido feita para Koldo.
Suas asas estavam enfiadas nas costas, e ele usava a túnica habitual de anjo, o branco reluzente ao
sol.
—Ei, você sabe alguma coisa sobre um imortal chamado William das trevas? Ele também
atende pelo apelido de Sempre Excitado. Porque, de repente, sem nenhum motivo, ele decidiu me
derrubar, — disse Axel entre os goles. —Está realmente começando a ser irritante.
—Não.— No momento em que o guerreiro chegou ao lado de Koldo, ele arrebatou o copo e
bebeu o conteúdo. —Meu, — disse ele.
—Assim não é legal. Alguém precisa aprender o significado de hospitalidade. E compartilhar.
E gentileza. E fraternidade. E amizade. E altruísmo.
—Eu me certificarei de procurar as palavras mais tarde.— Koldo entregou-lhe o copo vazio.
—Obrigado por cuidar de Laila a noite passada.
Axel jogou o copo no meio dos arbustos atrás de si. —Cara, essa menina tem problemas.
—Eu sei.
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Embora estivessem fora dos fusos horários, Koldo sabia quando a segunda-feira amanheceu
no Kansas, e levou Nicola e Laila até a parte traseira do edifício Estella. As meninas não queriam
separar-se, e ele gostou da ideia de ter as duas no mesmo local.
Ele materializou no reino real e andou com a dupla pelo beco para a porta da frente.
—Você não vai considerar o meu pedido para sair?— Perguntou a Nicola. —Apesar de que é
perigoso aqui?
—Eu não vou.
Mulher frustrante. —Por quê?
—Porque ela não vai ter você sempre, mas sempre vai precisar do trabalho, — respondeu
Laila.
Não tinha como protestar, ele percebeu. Planejava manter Nicola, mas estava tão incerto
sobre seu futuro como qualquer humano. Na verdade, estava mais incerto do que a maioria.
—Muito bem, — respondeu, porque, realmente, não havia mais nada a dizer. Pisou dentro
dos limites do elevador.
Havia dois outros homens no elevador minúsculo, e eles apertaram-se contra a parede mais
distante, ficando o mais longe possível dele. Ele se esforçou para aliviar sua carranca antes que a
dupla começasse a gritar por ajuda.
—Não olhe para as mulheres, e vocês ficarão bem, — disse ele.
Instantaneamente eles desviaram os olhares.
O perfume doce de Nicola flutuava em torno dele, e sua raiva para com ela foi perdida por
outro soco de excitação. Em que ponto o seu corpo acabaria por se fechar, o desejo por essa
mulher sendo demais para suportar? Como supunha convencê-la a fazer amor sem se matar?
Ela inclinou-se para ele e sussurrou: —A última vez que estivemos em um elevador juntos,
eu queria cheirar seu pescoço.
Ele prendeu a respiração. Ela realmente iria matá-lo.
—Eu me pergunto como você teria reagido.
Laila sufocou. —Se vocês ficarem mais caramelados, eu vou vomitar.
Nicola deu um tapa no braço dela. Laila bateu de volta, e as duas explodiram em uma briga
infantil e um ataque de risos.
O elevador apitou e as portas se abriram. Os homens correram para fora, e as meninas
deixaram suas travessuras, agindo como se nunca atacassem uma a outra. Humanas bobas. Mas
suas brincadeiras deixaram seu humor mais leve. Oh, ter uma companheira de brincadeiras.
Não tinha certeza se Axel tinha ou não dormido com Laila novamente ontem à noite, mas de
qualquer forma, a cor dela estava melhor, e houve um salto em seu passo.
Koldo queria colocar esse mesmo salto no passo de Nicola.
Tomou sua mão ― suave, delicada ― e conduziu-a ao escritório. Jamila sentava-se em uma
das mesas na frente, vestida em um vestido preto apertado, os cabelos escuros empilhados em
cima da cabeça. Sirena estava longe de ser encontrada.
Proteja-a, ele projetou na mente da Enviada. Uma habilidade que estava cada vez mais
confortável de usar, percebeu. Qualquer coisa pela segurança de Nicola. Com sua vida.
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Ela estava aqui por ele, então, não Nicola. Enviada por seu pai? Perguntou-se de novo.
Para... O quê? —Eu sou um Enviado, sim, mas também sou o protetor de Nicola, e destruirei
qualquer um que pense em machucá-la para chegar a mim.
—Bem, você não está fazendo um trabalho muito bom com seus deveres de proteção, —
anunciou ela, estalando a língua. —Eu poderia tê-la matado a qualquer momento. E eu queria, eu
admito. Resistir tem sido difícil.
Um lampejo de raiva praticamente queimou um buraco no peito dele. Podia sentir seus
dentes e unhas alongando. Controle. —Você já fez alguma coisa para atacá-la, não é?
Ela passou a língua sobre um canino longo demais. —Fiz, mas antes de eu começar a me
gabar, você deve saber que fui eu quem deu o alarme falso sobre os demônios. Eu sabia que você
iria voltar de novo e de novo para investigar. E adivinha? Você voltou.
—E você queria me ver... Por quê?
—Porque estamos destinados a ficar juntos.— Ela se inclinou para trás e passou o dedo
entre os seios. —Quanto ao que eu fiz para Nicola... Eu roubei o dinheiro do caixa e adulterei
algumas contas. E ela teria sido presa se a sua preciosa Jamila não houvesse descoberto e
corrigido tudo. Mas não se preocupe. Eu a pegarei da próxima vez.
Destinados a ficar juntos? Estendeu a mão e agarrou a garota pelo pescoço, empurrando-a
para o ar. Quando ela gritou, transportou-a para a caverna onde mantinha sua mãe. Cornélia já
estava na outra cela que construíra para ela, embora ainda não tivesse explicado as coisas a
Nicola.
Ele tentou, mas tinha parado. E se ela não fosse capaz de entender?
Deixou Sirena cair no centro da cela e teletransportou-se para trás das barras. Ela se virou de
frente para ele, os olhos estreitados. —O que você pensa que está fazendo?
—Pensar? Não. Saber? Sim. Você vai ficar aqui por alguns dias. Por sua própria conta, sem
nada para fazer, mas refletindo sobre a melhor forma de me acalmar. Eu vou voltar e você vai me
dizer tudo o que quero saber e, provavelmente, milhares de coisas que eu não quero.
Ela correu em direção a ele, tentando alcançar através das barras e agarrá-lo.
Sorrindo friamente, ele teletransportou-se de volta para o escritório.
Mas não foi dada a oportunidade de falar com Nicola. Axel estava lá com Jamila, e os dois
estavam discutindo.
—O que quer que seja que você está planejando fazer precisa esperar, — disse o guerreiro
quando avistou Koldo. —Eu encontrei rastros de Nefas fora deste edifício.
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—Eu não gosto disso, — Koldo disse. Estava muito fácil. Os Nefas nunca foram tão óbvios
com seus rastros.
Ele e Axel foram do ponto A ao B para C e agora D, sem ter que procurar por uma pista. As
migalhas estavam simplesmente aqui e ali, óbvias para qualquer Enviado. Uma trilha de
teletransporte. Um verniz de veneno em uma porta. Uma pegada cravada. Uma sugestão de
fumaça com odor de enxofre. Escamas de demônios serpe.
—Quer ter uma sessão de manicure e pedicure e discutir nossas opções?— Axel perguntou.
—Não.— Estavam cientes do fato de que poderia ser uma armadilha, e então poderiam
voltar o plano contra os Nefas.
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Koldo arremessou através do beco, Axel alguns passos atrás dele, cada um escondido no
reino espiritual, as espadas de fogo prontas. Mas quanto mais seguiam a trilha mais nova, mais
claro Koldo se lembrou das vezes que ajudou seu pai a fornecer pistas falsas para os outros,
mesmo que soubesse que o pesquisador poderia suspeitar que fosse uma armadilha. Nox nunca se
preocupou com isso, queria apenas distrair os machos.
Distraí-los, para que Nox pudesse roubar algo de valor, sem qualquer oposição.
Koldo parou, e Axel bateu em suas costas. —Não é uma armadilha, é uma distração. Ele só
quer nos afastar do Estella.
Rangendo os dentes, Koldo lançou a espada de fogo e teletransportou-se para o prédio, no
escritório de Nicola. Encontrou o telefone espatifado no chão. Encontrou uma arma descartada ―
que ele reconheceu. Longa, fina, o metal que se estendia do cabo que parecia ser da largura da
mandíbula de uma cobra.
Seu pai.
A primeira centelha de raiva o atingiu. O perfume de Nicola criou uma doçura suave no ar,
mas essa doçura não poderia cobrir a podridão de enxofre. Demônios serpe estiveram aqui. E
Nicola estava... Estava...
Não! Ele deu um soco na parede. Ela estava viva, disse a si mesmo. Não acreditaria em
qualquer outra coisa. Seu pai não iria matar o seu único ás.
Mas ainda assim sua fúria ampliou, fúria escura e violenta. Seus dentes alongaram, as unhas
afiaram.
Controle. Precisava de respostas. O que aconteceu aqui? Onde estava Jamila? Como os
demônios tiraram Nicola de dentro do prédio?
Eles a teriam enganado ou levaram-na à força. Com a destruição neste escritório, ele tinha
que acreditar que fora a força. Então... Porque ela não pediu ajuda ao Altíssimo? Por que não
olhou para suas tatuagens?
Ou teria olhado?
Teria agido tarde demais?
Eles teriam usados ambos? Força e astúcia?
Desta vez, a raiva cresceu como uma árvore, galhos e folhas brotando, até que não
conseguia ver além da espessura da folhagem. Koldo jogou os documentos e arquivos da mesa no
chão. O computador era o próximo, rachando a tela. Pegou a mesa e a bateu no chão, dividindo a
madeira. Arrebentou a cadeira em pedaços. Socou outro buraco na parede. Depois outro e outro.
Pare. Você tem que parar. Esse não é você. Não mais.
Fez uma pausa, ofegante, suando ― perdendo tempo, ele percebeu.
Respirou dentro e fora, obrigando-se a ficar calmo, o homem racional que sua mulher
precisava. Nicola não poderia ter ido longe, Koldo a tinha visto há uma hora. Mas infelizmente,
sabia a quantidade de danos que poderia ser feita nesse período de tempo.
Fique calmo.
Axel pousou ao lado dele, deu uma olhada ao redor da sala e entendeu o que aconteceu,
sem nada ter que ser dito. —Nosso novo plano?
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Ele levantou o queixo. —Seu povo não pode dizer o mesmo. Você os abandonou, escolhendo
salvar a si mesmo, em vez de ficar e emitir um aviso.
Em um piscar de olhos, a presunção deu lugar à fúria. —Você é responsável por suas mortes,
não eu. Você é a razão pela qual tive que gastar todo esse tempo reconstruindo. Planejando.
Esperando. Eu sabia que não poderia ferir um homem que não tinha nada a perder.
Tendo as intenções de Nox afirmadas tão claramente ― ferir Nicola, em um esforço para
ferir Koldo ― encharcou sua raiva com o medo. Nox nunca fez uma ameaça vazia. Ele só fazia
promessas.
—Onde estão as garotas?— Koldo exigiu.
—Nós vamos chegar a isso, — Nox respondeu suavemente.
Uma lufada de ar e, em seguida, Axel estava ao lado dele, as asas dobradas nas costas.
Nox sorriu lentamente. —Você fez um amigo. Que bom. Mas tudo o que isso significa é que
mais sangue será derramado hoje.
Humanos passaram caminhando, viu-os e aceleraram o ritmo.
—Ah. Os feios Nefas pensam que vão ganhar. —Axel colocou a mão sobre o coração. —Seria
fofinho se não fosse tão estúpido. Aposto que você é um arauto, não é? Sim, você vai chorar
quando for espancado. Eu posso perceber.
—As meninas, — Koldo insistiu.
—Aqui.
O novo interlocutor o fez voltar-se para a esquerda. Ele observou quando Sirena saiu de uma
nuvem de fumaça preta, arrastando Nicola e Laila atrás dela.
As meninas estavam amarradas juntas, pálidas e trêmulas. Sirena deu um puxão brutal em
seus pulsos, puxando-as pelo laço, e tropeçaram para frente, caindo no chão. Nicola tinha um
lábio cortado e o queixo machucado, mas Laila estava ilesa. Havia uma faixa clara de fita que
cobria as bocas de ambas e as lágrimas haviam manchado faixas vermelhas pelo rosto de Laila.
Nicola irradiava raiva e determinação.
Ela lutaria. Até seu último suspiro, ela lutaria.
A raiva de Koldo voltou com força total, a culpa rápida em seus calcanhares. Deveria tê-las
protegido. Mas não protegeu. Ele falhou. E iria punir-se por isso, prometeu. Ninguém teria que
fazer isso por ele. Certificar-se-ia de que sofreria por isso.
—Como?— Ele exigiu.
Sirena arrumou-se, afofando o cabelo. —Como você, eu posso teletransportar. Estou
surpresa que você não percebeu. Mas apreciei a estada sugerida no Chez Caveman.
Ela podia teletransportar. Ela não era careca, mas podia produzir fumaça preta quando se
teletransportava. Ela era definitivamente Nefas, embora devesse ser de raça mista, como ele. Sua
outra metade não era de um Enviado, o que era certo. Ela não tinha asas, ocultas ou não.
Nenhuma espada de fogo.
—Olhe para isso, — disse seu pai. —Meus únicos filhos estão se dando tão bem. Como é
delicioso.
Axel, que tinha se movido, mas permanecia ao lado de Koldo, enrijeceu.
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Anjos da Escuridão 02
Mas até mesmo Koldo se enrijeceu. Os únicos filhos de Nox? Koldo estudou Sirena
intensamente. Ela era baixa. Ele era alto. Ela era loira, de olhos azuis. Ele tinha cabelos escuros,
olhos âmbar. Mas... Seus traços eram um pouco semelhantes, percebeu. Tinham as mesmas
maçãs do rosto fortes, o mesmo nariz e queixo orgulhosos e teimosos.
Ele... Tinha uma irmã.
—Eu vou te dar uma chance, — disse Nox. Enquanto falava, cinco demônios serpes
levantaram-se da terra e deslizaram para os lados. —Só para fazer as coisas certas entre nós.
Vincular-se a Sirena e continuar minha linhagem, ou morrer aqui com sua mulher, depois de eu
brincar com ela um pouco.
Um truque, certamente. —Você espera que eu case com um parente consanguíneo?
—Esperar? Não. —Nox riu com má intenção, o som arrepiante. —Exigir? Sim.
Koldo estalou a mandíbula, não se permitindo olhar muito para Nicola e pegar sua reação a
isso.
—Sirena é um saboroso petisco, — acrescentou o pai, chegando a acariciar o traseiro dela.
—Você vai se divertir muito com ela. Eu me diverti.
Macho nojento. E eu surgi de sua costela. —Você está confortável com isso?— Ele
esbravejou para Sirena.
—Estou, — disse ela, e se inclinou sobre Nicola. Deu um beijo na fita que cobria a boca de
Nicola enquanto a garota tentava virar a cabeça. As intenções de Sirena eram claras: queria a alma
de Nicola. Todo o tempo o olhar permaneceu em Koldo. —Você foi prometido para mim desde o
meu nascimento, e eu vou ter você. De uma forma ou de outra. O que acontecerá com a humana
depende de você.
Quatro outros Nefas caminharam até seu grupo, dois comendo de um saco de pipoca, outro
mordendo uma maçã caramelada e outro bebendo uma xícara de café. Mas podia ver as armas e
facas escondidas em seus pulsos, cintura e tornozelos. Eram guerreiros.
Pior, havia dois demônios com eles. Canhoto e Destro. O braço de Canhoto havia sido
recolocado, embora frouxamente pendurado ao seu lado, mas o chifre de Destro ainda estava
faltando. Os dois machos estavam sorrindo.
Eu vou me teletransportar até as meninas e jogá-las em você, ele projetou na mente de Axel.
Pegue-as e leve-as para a segurança. Ficarei para trás para lutar.
Esperava resistência. Afinal, o Enviado acabou de descobrir que Koldo era meio Nefas, a raça
mais vil que andava na terra.
Em vez disso, Axel disse: Cara, é melhor você manter-se vivo. Não há nenhuma maneira que
eu possa lidar com essas duas senhoritas por muito tempo... Sem dar uma festa transando.
—O que será?— Nox exigiu.
Os serpes deslizaram para as garotas, as bocas pairando perto de seus ouvidos, prontos para
espirrar sua toxina em cima delas. As garotas iriam experimentar intensas ondas de medo, e esse
medo iria abrir suas mentes para ataques mais duros. Elas eram fortes o suficiente para resistir?
Para superar?
Sirena deu outro beijo na boca tampada de Nicola, e sorriu.
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—Eu vou tê-la, — disse ele, embora não especificasse qual delas. E a palavra tinha muitos
significados diferentes, não é?
Nicola estremeceu. Laila soluçou caindo no chão.
Sirena endireitou-se.
Nox assentiu com satisfação, mas disse: —Eu realmente não acredito em você. Mas tudo
bem. Você não vai deixar este lugar até que seja feito. Então, terá que ser punido por matar o meu
povo.
—Não. Não é assim que será. —Ele teletransportou-se até as garotas, desalojando Sirena
enquanto cobria as humanas com seu próprio corpo. Os serpes imediatamente entraram em ação
exalando sua toxina antes de afundar as presas em seus braços.
Uma queimação em suas veias, uma liberação do veneno.
No momento em que as criaturas se afastaram, com a intenção de fazer outro ataque, ele
jogou as duas fêmeas para Axel, como planejado. As asas do anjo bateram rapidamente e ele
disparou para o ar, deixando Koldo sozinho com uma horda de Nefas enfurecidos.
—Você não deveria ter feito isso, — disse Nox, se esticando para pegar o cabo de uma
espada que estava amarrada a suas costas. —Eu estava disposto a ser bom. Agora, não tanto.
Sirena retirou duas espadas curtas.
Os quatro guerreiros Nefas jogaram fora suas comidas e retiraram as armas.
Canhoto e Destro desembainharam suas garras.
—Devemos lutar em algum lugar privado, — Koldo disse.
Uma palavra de seu pai. —Não.
Muito bem, então. Koldo estendeu o braço e chamou a espada de fogo. As chamas
irromperam, uma mistura de amarelo e azul, estalando. Estaria lutando contra seus inimigos em
ambos os reinos, real e espiritual. Não era o ideal, mas também não era impossível.
A maioria dos seres humanos no parque ofegou com a exibição de agressão e armamento.
Alguns correram. Alguns se sentaram como se estivessem prestes a se divertir com uma peça de
teatro depois do jantar.
Os Nefas teletransportaram para os lados de Koldo enquanto os demônios convergiram. Ele
balançou a espada para a esquerda e para a direita em rápida sucessão, indo primeiro para seu
pai, mas o macho teletransportou a poucos metros de distância para evitar ser atingido. Ao
mesmo tempo, os outros o atacaram. Ele se esquivou uma, duas, três, mas não o resto, e tomou o
impacto na lateral do corpo, braço e perna.
Uma bala atingiu de raspão o ombro. Uma dor aguda o fez silvar. Sangrando,
teletransportou para trás de Nox, e brandiu a espada. Mas seu pai o percebeu e também
teletransportou, deixando três de seus homens vulneráveis. A espada passou através de seus
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corpos. Dois dos Nefas caíram de cara, mortos. O outro virou enquanto ele caía e disparou outro
tiro. Desta vez, Koldo se teletransportou antes que as balas pudessem atingi-lo.
Canhoto percebeu que ele estava perto o suficiente para atacar e balançou, sua asa
cortando, alcançando... Errando o alvo. Koldo teletransportou para o outro lado, atacou e
decapitou um Nefas. Mas Canhoto e Destro estavam familiarizados com sua maneira de lutar e
anteciparam sua aterrissagem.
No momento em que estava ocupado balançando a espada em outro alguém, eles voaram
acima e sobre ele, chutando-o no rosto. Ele tropeçou para trás. Um coro de —ooh— e —aah—
surgiu da crescente multidão.
Sirena apareceu atrás dele, agarrando-o antes que pudesse se endireitar, mas ao invés de
esfaqueá-lo, como esperava, ela pressionou seu corpo contra o dele, e cravou as unhas em seu
pescoço. Unhas que pareciam vazar um líquido em ebulição diretamente em suas veias. Seu
aperto era forte. Impossivelmente forte.
Respirações quentes espalharam sobre sua pele quando ela disse, —Irei saborear cortar sua
fêmea em tiras e sugar sua alma.— Ela pulou para lamber seu rosto com um golpe longo e quente.
—Você é meu, e não se esqueça disso.
Enquanto ela falava, as caudas dos serpes envolveram seus tornozelos e puxaram. Ele bateu
com o cotovelo para trás, perfurando Sirena no estômago quando caiu. Ambos caíram. Quando a
respiração dela explodiu em uma corrida de dor, ele tentou virar, determinado a acabar com ela.
Mas os demônios que ainda seguravam seus tornozelos deram um puxão brutal, e ele derrapou.
Canhoto e Destro estavam lá, dando socos e pontapés nele. Todo o tempo, os Nefas
restantes se teletransportaram para todos os lados, socando e desaparecendo, socando e
desaparecendo. Picadas afiadas irromperam sobre cada centímetro dele. Ele rolou, e os demônios
se agarraram a ele quando tentou sentar-se. Ele permitiu, querendo-os perto o suficiente para o
contato com sua arma. Arranharam e o morderam, perdidos em sua necessidade de vingança, sem
saber que ele estava levantando a espada de fogo.
Matou três antes de Sirena recuperar a compostura e se aproximar dele ao lado de Nox. Mas
quando Sirena levantou o braço, como se quisesse agredi-lo, colocando-se em perigo, Nox
empurrou a filha para fora do caminho. Ela bateu nos dois demônios que se aproximavam do
outro lado de Koldo, os três caindo ao chão, longe do ataque da espada de Koldo. Koldo ainda
talhou os demônios que estavam aos seus pés. Vapor fétido subiu, sangue negro derramado. A
grama estalou.
Um pé com botas chutou a lateral de seu corpo. Era Nox.
Rolou para evitar outro chute, e viu um brilho de metal com o canto do olho. Um dos Nefas
estava levantando uma espada, se preparando para decapitá-lo. Mais uma vez Koldo rolou, a
ponta da arma batendo na sujeira, grãos escuros voando em todas as direções. Teletransportou-se
para uma posição a poucos metros de distância, logo atrás de seu pai. Girou, e a ponta de fogo
deslizou um pouco acima do ombro de Nox, dirigindo-se para o seu coração, mas antes o macho
se afastou.
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Uma lufada de asas penetrou seus ouvidos, seguida por outra. Malcolm e Magnus
aterrissaram a alguns metros de distância dele, Jamila atrás deles. Grunhidos começaram a dividir
o ar. Metal contra metal batendo e queimando, ressoando. Koldo girou, e viu que os Enviados
estavam engajados em uma batalha feroz. Malcolm e um Nefas. Magnus e um Nefas. Jamila e
Sirena. Os Nefas poderiam ter se teletransportado para seu próprio bem, mas Koldo conhecia sua
mentalidade. Sabia que gostavam de permanecer em uma batalha o maior tempo possível,
causando a maior quantidade de danos que pudessem, indo embora apenas diante da ameaça de
morte.
Os serpes estavam no processo de deslizar para longe o mais rápido possível.
Nox não tinha retornado.
Malcolm atacou com as mãos enluvadas em metal cravejado. O guerreiro Nefas com quem
ele lutava tinha vazamentos e buracos por todo o corpo. O macho cambaleou para trás, e Malcolm
avidamente o perseguiu. Mas Magnus tomou o prêmio de seu irmão e usou um chicote para
decapitar a criatura, antes que ela pudesse se teletransportar.
Os dois assentiram um para o outro em um trabalho bem feito.
Jamila era obviamente mais fraca do que Sirena, e estava tropeçando mais do que Sirena
estava balançando. Koldo puxou um punhal de uma bolsa de ar e teletransportou-se atrás de sua
irmã ― sua irmã! ― e agarrou-a como ela o agarrou antes.
Levantou a arma, determinado a mergulhar profundamente. Não iria perder tempo com
ameaças. Rosnando com frustração e raiva, Sirena realizou seu movimento final,
teletransportando-se antes que ele pudesse atacar. Os únicos Nefas remanescentes
desapareceram um segundo depois.
Os sons das sirenes da polícia chamaram a atenção de Koldo.
A multidão olhou ao redor, os sorrisos dando lugar a um franzir de testas. As palmas
apagaram-se quando os espectadores perceberam que as autoridades não estavam vindo para
apreciar a performance.
Agindo rapidamente, Koldo e os outros Enviados pegaram os pedaços dos falecidos e
jogaram em bolsas de ar, em seguida, entraram no reino espiritual. Quando os policiais correram
para a área, a multidão fugiu com a confusão, e os Enviados se enfrentaram.
—Como vocês sabiam onde eu estava e o que eu precisava?— Koldo perguntou.
—Axel nos disse,— Malcolm falou, esfregando as travas nas mãos juntas.
E o que mais Axel teria mencionado? Esperou, mas ninguém o informou de mais nada.
—Obrigado, — disse ele. Não iria dizer-lhes que não tinha necessidade deles, que teria
resolvido o problema sozinho, porque ainda não tinha coragem de mentir. E eles comprovariam
que era mentira, de qualquer maneira.
Para Jamila disse com firmeza: —Por que você não estava no Estella?
Ela levantou o queixo. —Aquela pequena bruxa Sirena teletransportou-me a uma gaiola em
uma caverna e me trancou lá dentro. Não podia teletransportar e não podia sair. Tive que pedir
ajuda.
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—Eu precisava que você estivesse com Nicola, — disse ele, embora soubesse que não podia
culpá-la por como as coisas saíram errado. Ambos foram pegos de surpresa. Mas ele não estava
exatamente racional no momento.
—Bem, isso é péssimo, — ela retrucou. —Nicola Lane é sua responsabilidade, não minha.
Ela era, não era? —Ela nunca mais colocará os pés nas indústrias Estella.— Ele se certificaria
disso. E se protestasse, azar o dela. Ele iria lidar com as consequências, como deveria ter feito
antes que isso acontecesse. —Eu tomarei conta das coisas a partir daqui.
Koldo teletransportou para a casa, no Panamá, ou melhor, tentou. Ele permaneceu no local.
Franziu a testa, e tentou mais uma vez. Mas, mais uma vez permaneceu onde estava.
O que estava errado? Fora mordido por serpes. Foi esfaqueado, baleado e arranhado pelos
Nefas. Mas suportou tudo isso antes, suportou coisas piores, sem tais consequências. A única
diferença era... Sirena, ele percebeu com medo doentio. Ela tinha vazado algo em suas veias.
Se tivesse perdido para sempre sua capacidade de se teletransportar...
Não conseguiu terminar esse pensamento sem uivar. Não. O veneno iria desaparecer. Ele iria
se recuperar.
Tinha que se recuperar.
Mas queria ser punido, e isso certamente se encaixava.
Pelo menos agora sabia do plano de jogo de Nox. Sabia o propósito de Sirena. Sabia que os
Nefas e demônios estavam trabalhando juntos. E sabia que Canhoto e Destro estavam de volta na
foto, mais determinados do que nunca em recuperar Nicola.
—Leve-me voando para o Panamá, — disse a Malcolm, o rosto aquecido de vergonha.
Odiava ter que confiar em outro ser para o seu transporte.
—Uau. Você não é muito educado, —Malcolm murmurou, mas ainda assim o guerreiro
caminhou até ele e envolveu-o nos braços. —Você me deve essa.
—Eu sei.— Essa era a maneira que o mundo girava. Ele só se preocupava se Nicola o
considerava tão exasperador quanto Malcolm o considerava.
As asas brancas entremeadas com ouro bateram, e uma pontada de inveja acendeu um fogo
no peito de Koldo. Em seguida, estavam voando, o vento batendo contra sua pele, e se viu
fechando os olhos e fingindo que estava voando sozinho. Que estava saudável e inteiro.
Que tinha um futuro imaculado.
Koldo chegou ao rancho embalado nos braços de outro homem. Um homem bonito,
asiático, com um corte de cabelos fauxhawk, tingidos de verde, estranhos olhos prateados e
tatuagens de ossos no pescoço. E... Uau, ele era bonito, mas também era seriamente assustador.
Desesperada para descobrir uma maneira de voltar para o parque e ajudar Koldo, Nicola
ficou andando na frente do sofá, onde Axel e Laila sentavam-se. Se alguém podia ganhar com
chances de dez contra um, era Koldo.
Koldo, que havia prometido se casar com Sirena. Sua irmã horrível como uma Troll.
Koldo, que nunca mentia.
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Anjos da Escuridão 02
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Anjos da Escuridão 02
Koldo puxou-se da escuridão para a luz. Embora estivesse paralisado, sua mente em branco,
não estava inconsciente. Sentiu mãos delicadas acariciando-o, aliviando as picadas que o
atormentavam. No momento em que a carícia parou, uma onda de raiva o invadiu, dando-lhe a
força que precisava para afastar sua imobilidade.
Abriu os olhos, mas sua visão estava enevoada. Piscando, pouco a pouco, as coisas
começaram a clarear. Pisk, pisk. Viu o brilho de uma faca. Viu uma fêmea esticar a faca em direção
a ele, apontando para seu pescoço.
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 179
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Anjos da Escuridão 02
Sua mãe. Sua mãe havia fugido, veio aqui, estava determinada a matá-lo enquanto ele
estava muito vulnerável para contra-atacar.
Rosnando das profundezas do seu ser, ele atacou, batendo na faca e no braço que a
segurava. Um gemido feminino de dor encheu seus ouvidos.
Um gemido que ele reconheceu. Não era sua mãe.
Nicola?
Tentou sentar-se, mas as mãos suaves repentinamente foram substituídas por mãos fortes e
calejadas, aplicando mais pressão para empurrá-lo para baixo.
—Ele não tinha a intenção de me machucar, — disse a mulher.
Sim, Nicola. Sua Nicola.
Ela estava falando com ele? Ou com alguém no quarto?
É claro que havia outra pessoa no quarto. As mãos que o impediam pertenciam a um
homem. Lembrou as ameaças de seu pai contra Nicola...
Koldo lutou contra quem o mantinha no lugar. Tentou envolver os dedos em tiras de aço
rígidas − braços? Pressionou com toda a sua força. Houve uma pancada, uma nuvem de gesso no
ar.
—Fique calmo, — disse um homem.
Outra voz que ele reconheceu. Não seu pai. Mas não era Nicola, então não se importou.
Koldo queria ficar com ela, e faria qualquer coisa para ter sucesso. Socou e socou e socou, até que
finalmente o homem parou de tentar dominá-lo e começou a lutar também. Mas Koldo
rapidamente pegou algo macio– penas− e rasgou.
Um uivo rasgou o ar.
Um peso suave caiu sobre Koldo. Estendeu a mão para desalojá-lo, mas sentiu o doce aroma
de Nicola.
—Calma, — disse ela, os dedos roçando seu queixo. —Você tem que se acalmar agora. Tudo
bem?
—Segura?
—Você está seguro. Eu estou segura. Estamos em sua casa, no Panamá.
Confiando nela, relaxou contra o colchão, envolvendo os braços em volta dela e abraçou-a
perto, respirando-a, saboreando o cheiro de canela e baunilha.
—Eu tenho uma parte da cabeça careca agora,— um dos homens disse. Axel. —Você sabe o
quanto isso é ruim?
—Eu tenho uma espinha quebrada, — o outro rosnou. Malcolm.
—Como se você realmente pudesse ficar pior. Você pode nunca andar de novo, mas pelo
menos você é bonito.
—Você acha que eu sou bonito?
—Eu acho que você está prestes a receber um punhal no intestino.
Passos. Dois pares, se afastando da sala. Malcolm não deve ter perdido a capacidade de
andar, depois de tudo.
—Fique, — Koldo disse a Nicola.
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 180
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Anjos da Escuridão 02
Fragmentos de luz penetraram em sua consciência. Koldo estava feliz, mesmo que a luz fosse
acompanhada de dor. Estava acostumado à dor. Mas no momento em que trabalhou seu caminho
para a consciência plena, onde a voz de Nicola soava aliviada e feliz, foi puxado de volta para a
escuridão à espreita.
Quanto tempo passou, não tinha certeza.
A luz tentou de novo, levantando-o, cada vez mais alto.
—Você tem certeza de que ele não vai se casar com ela?— Nicola perguntou.
—Positivo, — Axel respondeu.
—Mas ele não mente.
—Ele não estava mentindo.
—Argh! Como pode ser isso?
—Pergunte a ele.
Trevas.
Luz.
—... E todos esses Enviados foram aparecendo para verificar você. Estou cozinhando para
eles, e estou ficando melhor. —Uma risada suave acariciou seus ouvidos. —Nunca sobra uma
migalha e eu...
O volume foi diminuindo antes que ela pudesse terminar, a escuridão de volta.
Não! Não, ele queria ouvir suas palavras... Tudo o que ela tinha a dizer...
A próxima vez que a luz fez uma aparição, ele ouviu: —Estou aprendendo coisas
interessantes sobre você. Você costumava ter bastante cabelo, mas depois, um dia, muito
recentemente de fato, você raspou. Você costuma não falar muito. Magnus disse que as palavras
tinham de ser arrancadas com um alicate de você, mas agora você fala mais do que é prudente.
Palavras dele, não minhas. Elandra diz que você gosta de comprar sutiãs e calcinhas. Tenho
certeza que ela estava brincando.
Ele rangeu os dentes e, com um rugido interno, arrebentou a corda que o ligava a toda
aquela escuridão.
Suas pálpebras abriram.
Ao contrário da primeira vez, não houve neblina. Viu Nicola sentada ao lado dele, os traços
suaves, em vez de banhados em preocupação quando ela olhou para baixo, com o cabelo preso e
brilhante, as roupas limpas e arrumadas. E ela tirou seu fôlego completamente.
Estalou os lábios, sentindo o gosto de hortelã. Ela deve ter escovado os dentes dele. Apesar
de seu braço estar fraco, trêmulo, conseguiu estendê-lo e pegar as pontas de seu cabelo. Ela
ofegou de surpresa e encontrou seu olhar. Ele perdeu o fôlego novamente. Aqueles olhos... Uma
tempestade de verão, o calor aumentando, desabrochando as flores do jardim.
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Anjos da Escuridão 02
—Você está acordado.— Ela se inclinou sobre ele para colocar a palma da mão contra sua
testa. —E a febre foi embora.
A posição pressionou seu corpo contra o dele, deleitando-o. Em seguida, ela voltou para o
lugar, interrompendo o contato, irritando-o.
—Quanto tempo eu dormi?, — Perguntou ele, com uma voz áspera. Ele fez um balanço.
Estava nu, um lençol caído sobre o corpo.
—Três dias.
Mais uma vez, ele perdeu três dias para o pai. Ele se lembrou... Lutando contra os Nefas e os
demônios, ganhando quando os Enviados chegaram, mas não foi capaz de se teletransportar. Essa
capacidade teria voltado? Queria tentar, mas não queria deixar Nicola. Mais do que isso, sabia que
seria melhor esperar até que estivesse mais forte. Se falhasse agora, só porque estava fraco e não
tinha lutado totalmente contra o veneno, perderia tempo e energia preciosos se desgastando.
—Ah, e antes que eu esqueça, Axel disse-me para lhe dizer que ele foi cuidar de seu
pequeno segredo sujo no quintal.
Sua mãe, ele percebeu, a tensão aumentando.
—Eu queria ficar o mais perto possível de você e ainda não investiguei o quintal− o que eu
pretendo fazer, não vou mentir sobre isso. Então, você pode confessar e me dizer qual é o seu
pequeno segredo sujo, — disse ela.
Ele queria que ela soubesse. Só não... Agora. Contaria quando estivesse mais forte. —Nada
que lhe diga respeito, — ele resmungou.
—Você não confia em mim?— Uma riqueza de mágoa em seu tom.
—Eu confio em você mais do que já confiei em alguém, mas uma coisa não tem nada a ver
com a outra.— Para distraí-la, ele disse, —O que você tem feito todo esse tempo?.
Um momento se passou. Ela suspirou e disse: —Eu tomei conta de você, entretive seus
amigos. Fiquei calma e feliz. E adivinhe? No fundo, eu sabia que você iria se curar. Assim como eu!
Fui ficando mais forte, também. Não é maravilhoso?.
—Maravilhoso, — ele repetiu. Se ela estava melhor...
Ela colocou a mão ao lado dele, estendeu a mão para a mesa de cabeceira e levantou um
copo de água. —Você falou durante o sono, sabe?
Ele ficou tenso, dizendo: —Sobre o quê?.
Um brilho de tristeza em seus olhos quando ela disse calmamente: —Sobre uma mãe que
arrancou suas asas e um pai que o jogou em um poço de cobras. Você me disse que eles eram
terríveis para você, mas eu não imaginava o quanto eles realmente eram ruins.— Colocou o
canudo em seus lábios. — —Beba.
Ele obedeceu. Não sabia mais o que fazer. Seu estômago torceu, quase rejeitando o líquido
fresco e doce que escorria por sua garganta. Talvez agora fosse a hora de contar sobre sua mãe,
depois de tudo.
—Por que não te conto alguma coisa sobre meu passado?, — ela sugeriu. —Dessa forma,
estaremos quites.
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 182
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Anjos da Escuridão 02
Talvez não. Ele assentiu com a cabeça, intrigado, com fome de mais informações sobre ela.
Qualquer informação.
—Bem... há alguns anos, a minha mãe, pai e irmão foram mortos por um motorista bêbado.
Ele sabia disso, mas ouvir a dor em sua voz sonhadora e rouca o afetou profundamente.
—Robby não era para estar com eles naquele dia. Ele deveria ficar comigo e Laila. — Culpa
se juntou à dor. —Mas ela queria sair com os amigos, e eu queria ir junto para ter certeza de que
ela não ficaria doente, por isso, convenci nossos pais a levá-lo no jantar.
—Você não poderia saber.— Mas ela se culpava, ele pensou, e foi um fardo pesado para
carregar. Um que ele desejava poder tirar de seus ombros. Mas ele não podia. Só ela podia. E se
ela não o fizesse, se falhasse, o peso acabaria por esmagá-la.
Isso, ele sabia em primeira mão.
—É isso mesmo. Eu fiz. No fundo, como com você, eu tive um pressentimento. Eu sabia que
deveria mantê-lo comigo. E acho que Laila também sabia. É por isso que ela é como é, tão
determinada a viver no agora e não olhar para trás. Ela não quer lembrar a nossa parte na morte
de Robby.
—E nem você.
—Eu sei. Durante anos tentamos fingir que ele nunca existiu. Era mais fácil, eu acho. Mas
também foi um prejuízo para ele, e ele merece o melhor. Eu sei agora.
Pode ser por isso que Koldo não tinha encontrado nenhum registro de Robby nos arquivos
celestes. O que você nega aqui perde lá em cima.
—Você tem que perdoar a si mesma. Não foi o que você me disse?— Koldo se aproximou, as
ações mais fáceis agora, sua força retornando pouco a pouco, e segurou a parte de trás do
pescoço de Nicola. Aplicou pressão, puxando-a para si, mas pela primeira vez em seu
relacionamento, ela resistiu.
—Eu sei que você não vai se casar com aquela garota, — disse ela. —Axel me disse. Mas
você disse ao cara tatuado que você a teria, e você nunca mente.
Ela estava com ciúmes? Ele meio que esperava que sim. Na verdade, ele gostou da ideia. —
Você está certa sobre minhas palavras. Eu disse que a teria. Ele assumiu que eu estava falando de
Sirena, mas eu estava falando de você.
Seus olhos se arregalaram. —Você quer... Quer casar comigo?
Será que ele queria? Não. Não, ele não podia. Ele estava contaminado, ele se lembrou. —Ter
uma mulher não é o mesmo que se casar com uma.
—Oh,— ela disse, com os ombros caídos.
Ele a puxou contra ele. Ela se acomodou em cima de seu peito, a cabeça encontrando o oco
de seu pescoço, do jeito que ela gostava. —Você está decepcionada?— Por quê? E por que ele
estava feliz com a reação dela? Será que ele queria que ela quisesse mais dele?
—Eu? Estou feliz que as coisas funcionaram.
—Porque eu sou melhor do que seu outro encontro?
—Imensamente.— Ela brincou com a ponta de sua barba. —Eu gostaria de poder lhe
perguntar sobre o encontro passado.
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 183
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Anjos da Escuridão 02
—Por quê?
—Então eu saberei como me classificar.
—Eu não preciso de experiência para lhe dizer isso. A simples observação prova que você é a
única para mim.
—E o que você observou?— Pelo menos o tom dela era mais leve agora.
—Ao longo dos séculos, ouvi muitas mulheres dizerem a seus amigos que um homem tem
que aceitá-la como ela é, ou ele não a merece. Mas se ela é fofoqueira, mentirosa, enganadora,
cruel para aqueles ao seu redor, muitas vezes com raiva, muitas vezes com ódio, é claro que ele
não pode aceitá-la. Ele está melhor sem ela.
Uma risada asfixiada a deixou. —Esse é um bom ponto, mas o mesmo é verdade para os
homens.
—Sim.
—Então... Como é que você sabe que eu não sou nenhuma dessas coisas?
Ela estava falando sério? —Eu vi você interagir com a sua irmã, sempre colocando as
necessidades dela acima das suas. Você passou um tempo com Axel, mas não o matou − um feito
para qualquer um. E a maneira como você é comigo... Amável, carinhosa, doce, atenciosa,
prestativa, compassiva, amorosa.
Ela deu outra risada, dizendo: —Basicamente, todas essas palavras significam a mesma
coisa.
—Linda, requintada, impressionante, linda, adorável, impressionante, impressionante—
—Então você me quer, hein?, — Ela perguntou com a voz rouca.
—Eu quero. — Muito.
—Bom, porque você me tem. Inteira. — Ela levantou a cabeça, encontrou seu olhar
diretamente. —Eu larguei meu emprego, e você agora é meu guardião oficial.
Ele gostava disso também.
Muito.
—Bem, então, é melhor eu começar a mantê-la adequadamente.— Segurou seu rosto e
inclinou a cabeça para trás, suas mãos se aquecendo. Um tremor sacudiu-a quando ele pressionou
um beijo suave em seus lábios.
Imediatamente ela abriu-se para recebê-lo.
Ele manteve a pressão leve, reaprendendo-a, familiarizando-se com sua doçura, indo
devagar, tentando fortalecer-se contra o sangue fervente de desejo correndo por ele.
Esta era Nicola. Cada momento tinha que ser perfeito.
Mas, então, ela gemeu um som inebriante, excitante, e suas mãos voltaram para sua barba,
e ele perdeu a batalha contra a necessidade de gentileza − não que ele tenha lutado ferozmente.
Chutou o lençol longe dele e rolou, fixando seu peso leve ao colchão. Suas pernas se abriram,
permitindo-lhe afundar contra ela. Dureza contra suavidade. Necessidade. Estendeu a mão,
arrancou o elástico do cabelo dela e viu quando os cachos de morango caíram sobre o travesseiro,
derramando-se em torno dela. Tudo o que podia fazer era olhar para ela. Quis vê-la assim por
muito tempo, e agora, aqui estava ela, muito mais bonita do que jamais poderia ter imaginado.
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 184
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Anjos da Escuridão 02
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Anjos da Escuridão 02
Ele a explorou, e cada novo ponto de contato enviou-o mais profundo e mais profundo em
uma piscina de necessidade, até que estava se afogando, desesperado. Mas sabia que, nas
profundezas de seu ser, todas as suas ações eram uma declaração de seus sentimentos por ela. Ela
era alguém de valor. Era alguém que valia a pena salvar. Era a mulher que ele queria ao seu lado.
Tudo o que precisava, nada que já tivesse conhecido.
Despiu o resto de suas roupas, maravilhado com cada nova revelação desta mulher que
tanto o cativou, e estendeu sua essência por todo o corpo dela, não deixando intocado nenhum
centímetro, fazendo com que toda a pele avermelhada brilhasse muito mais intensamente.
—Koldo— ela suspirou. —Eu me sinto tão quente... Ardente.
—Essa é a essência, doce Nicola.
Ela olhou para ele, dizendo: —Perfeito, — antes de fechar os olhos, gemendo. —Essência?
—Um pó que meu corpo produz apenas para você.— A tensão dentro dele expandiu... E ele
já não queria, percebeu − ele necessitava. Cada músculo que possuía estava apertando seus ossos.
O sangue estava fundindo em suas veias.
—Ah. Isso é bom.
Bom?
Mas, então, ela estava ofegante, contorcendo-se em cima do colchão, e ele estava ofegante
e sussurrando palavra após palavra de aprovação e elogio, um dilúvio que ele manteve preso
dentro de si por muito tempo. Agarraram um ao outro, amassaram um ao outro e ele podia sentir
o batimento de seu coração quando se beijaram desesperadamente. A batida era mais rápida e
mais rápida a cada momento que passava, como se ela se aproximasse da borda de um penhasco.
—Koldo, — disse ela com um gemido.
Tal súplica era inebriante. Quase mais do que ele podia suportar. —Sim?
—Eu preciso...
—Eu preciso, também.— Mas a sua preocupação pelo bem estar dela repentinamente
ofuscou todo o resto. Ele não iria tê-la, não importa o que ela dissesse e não importa o que ele
sentia. Não até que ela estivesse pronta para ele.
Não importa o quanto estava desesperado, a saúde dela era mais importante, e nada iria
mudar isso. Porque ele não queria tomar nada dela, percebeu. Queria compartilhar com ela. E
seria difícil manter esse rumo, ele sabia. Durante toda sua vida foi negado a ele todas as coisas
que muitos tinham como certo. Aceitação, suavidade. Afeto. Ele finalmente tinha tudo isso. E
agora teria que esperar para desfrutá-las, quando eram tão livremente oferecidas?
—Nicola, — disse ele.
—Koldo, — ela gemeu.
—Um dia nós vamos estar juntos.
—Sim. Hoje. Agora. Nós já dissemos isso.
Doce misericórdia. —Não. Houve uma mudança de planos.
Suas mãos apertaram-no, as unhas cravando em suas costas. —Eu posso lidar com isso. Eu
posso!
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Anjos da Escuridão 02
Talvez sim. Talvez não. Mas ele não podia. O pensamento de machucá-la, mesmo de uma
maneira tão pequena, o destruía. Se alguma vez desse-lhe razão para olhar para trás e pensar nele
com pesar, decepção ou raiva, ele estaria disposto a cair sobre sua própria espada.
—Não posso parar... Continue...— disse ela. —Por favor.
Nunca implore, ele queria dizer. Mas gostou demais de vê-la implorando por ele, para
impedi-la de fazê-lo novamente.
—Por favoooor.
—Eu vou te ajudar com esses sentimentos.— De alguma maneira. De algum modo. Embora
não tivesse experiência, tocou-a aqui, ali, aparentemente em todos os lugares ao mesmo tempo,
mas nunca era suficiente, não para ele, mas ela começou a gritar, ofegando tão forte, esfregando-
se contra ele, pedindo, implorando, pedindo mais.
A pressão aumentou dentro dele. Ele se lembrou das vezes em que foi para a sua caverna e
explodiu, a raiva demais para seu corpo conter. Mas isso não era raiva. Era uma fome crua e
animal. Ela era tão extraordinária de observar, de olhos fechados, os cílios lançando sombras
pontiagudas sobre as bochechas, lábios vermelhos e macios, o cheiro dela se intensificando, a
fragrância de seu mel eclipsando todo o aroma de canela e baunilha, e sua boca encheu de água, e
suas entranhas... Suas entranhas... Se despedaçaram.
E então ela estava gritando o seu nome. E ele estava rugindo em uma agonia extraordinária
que o consumia, completamente atordoado, ofegante, transpirando, talvez até mesmo
balbuciando.
Sim, balbuciando.
—O que aconteceu? Isso foi... Não consigo descrever... Eu nunca... O que fizemos... Você
sentiu isso? Como pode...— A realização deixou um filme de constrangimento e um desejo de
fugir, mas ele permaneceu no lugar.
Nicola o abraçou.
Ele caiu sobre o colchão. Estava tremendo, e... Sorrindo, apesar de suas emoções. —Você
experimentou o mesmo que eu?— Finalmente. Uma frase coerente.
—Sim, e eu não desmaiei, — disse ela com um sorriso.
—Nem eu.— Ele não tinha perdido o controle, não tomou o que não devia. Mantivera-se no
rumo e deu mais um passo no caminho para reivindicá-la. Ele lhe dera prazer, e aparentemente,
obtivera seu próprio prazer.
Logo, disse a si mesmo. Muito em breve, iria dar o próximo passo, a tomaria plenamente. E
eles gozariam juntos.
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—Ah, é?— O líder levantou o queixo, todo agressivo e seguro de sucesso. —E por quê?
—Eu não tenho honra, e você não vai gostar do que eu fizer para você.— Para provar isso,
chutou a perna do anjo, cravando o líder no estômago e fazendo-o curvar-se para respirar. Ao
mesmo tempo, torceu a parte de cima do corpo e, agarrando uma espada da bolsa de ar à sua
direita, girou. Cortou a parte inferior de uma das asas de Brendon.
O guerreiro caiu do céu, forçando os outros a dispararem atrás dele para evitar que
finalmente despencasse. Thane teve vontade de rir, mas não podia forçar um aumento de
diversão. Odiava que só fosse respeitado dentro de seu clube. Odiava que todos fora de lá
zombassem dele, levando-o a esse comportamento tão violento.
Como se ele precisasse ser conduzido.
Eles são melhores do que você. Podem fazer o que quiserem. Não conseguia sequer se
lembrar de como era não estar contaminado pelos males da vida.
Tanto faz. Acelerou em movimento novamente.
Teve sorte? Projetou na cabeça de Bjorn. Estavam unidos, tão certamente, tão solidamente,
que a distância nunca importava.
Nada. E você?
Nada.
Teve sorte? Projetou na cabeça de Xerxes.
Não. Ruim. Você?
O mesmo.
Tinha que encontrar e parar Strife, o demônio da discórdia, antes que mais vidas humanas
fossem arruinadas. Ao contrário de alguns de seus irmãos, ele entendia os humanos. Simpatizava
com suas fraquezas. Queria protegê-los da dor que ele havia sofrido.
Thane aumentou a velocidade. Precisava descobrir seu próximo plano de ação. Limpar a
cabeça. Pensar. Sexo era o seu método habitual, mas estava acostumado a encontrar suas
mulheres no clube. Elas sabiam um pouco sobre ele, o que ele esperava, e ele sabia que elas já
estavam na estrada para a ruína. Não precisava se preocupar em destruir a inocência delas.
Mas não tinha tempo para voar para o clube e voar de volta aqui. Teria que correr o risco de
ir a um clube humano, então. Sim, decidiu. Iria para um clube humano. Encontraria uma mulher, a
mais selvagem, transaria com ela e depois decifraria isso. Certamente.
—Não consigo teletransportar,— Nicola ouviu Koldo dizer, a voz cheia de todos os tipos de
raiva. —Você tem que continuar a caçar por conta própria.
Ele não conseguia teletransportar? Acabara de virar a esquina para a cozinha, onde os
homens estavam, mas ao ouvi-lo dizer isso, congelou na porta.
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Anjos da Escuridão 02
—Eu não me importo de fazer isso, — respondeu Axel. —Mas tenho que lhe dizer. Não estou
chegando a lugar nenhum. Seu pai deixou rastro zero.
—Ele planejou isso por muito tempo. Antes de se aproximar de nós, deve ter descoberto
uma maneira para evitar ser detectado.
Nenhum homem a notou. Estavam sentados à mesa. E como pareciam estranhos. Dois
guerreiros primitivos, sentados domesticamente em uma mesa entalhada à mão, com cortinas
xadrez branco e preto cobrindo a janela atrás deles.
—Mas ele não é mais inteligente do que mim, — disse Axel. —Ou o correto seria —do que
eu—? Eu sempre esqueço. Mas tanto faz. Vou encontrar uma maneira de atraí-lo para fora.
—Com fome?— Ela perguntou, finalmente ganhando a atenção deles.
Axel enquadrou os ombros, atento. Koldo passou a mão sobre o couro cabeludo, como se
estivesse envergonhado. Que adorável.
Estavam usando blusas e calças brancas idênticas, o tecido solto, e os dois pareciam
adoráveis. Como melhores amigos que fizeram um pacto para sempre fazer tudo juntos ― até
mesmo vestirem-se.
Diga isso em voz alta. Eu te desafio. —Bem?— Ela solicitou.
—Podemos nos alimentar sozinhos.— Koldo disse, ao mesmo tempo em que Axel dizia: —Eu
estou faminto.
—Bem, a minha resposta combina com a de Axel, — disse ela. —Por isso, vou fazer alguma
coisa.— Nestes últimos dias passara muito tempo na cozinha, tentando novas receitas trazidas
pelos amigos de Koldo, e tinha sido maravilhoso. Descobriu um talento florescendo que não
esperava. Falta de tempo e dinheiro nunca lhe permitiram o luxo de sequer tentar.
Axel sorriu. Koldo fez uma careta. Ela reuniu pratos e talheres e os ingredientes apropriados
para uma salada de abacate e morango, e todo o tempo podia sentir o olhar de Koldo sobre ela,
dois ardentes dardos perfurando-a nas costas.
Estaria pensando sobre a noite passada?
Ela estava. Com cada olhar, cada toque, sentiu as profundezas de sua conexão. Algo
profundo, inexorável.
—Eu gostaria de contratá-la para minha casa, Miz Nicola,— Axel disse. —Tenho um pacote
de benefícios que sei que você vai adorar.
Confusão de roupas, barulho de uma cadeira. O esmagar de osso contra osso.
Nicola virou-se e viu os dois homens baterem um no outro juntos, impelidos para o chão.
Um grunhido de Koldo. —Ela é minha!
Um riso de Axel. —E eu não posso provoca-lo sobre ela?
—Não!
—Crianças! Já chega!, — Disse Nicola, batendo palmas para reivindicar a atenção dos dois.
Eles se separaram, Koldo bufando e soprando, Axel sorrindo.
—O ciúme é tão bonito, — disse Axel.
—Apenas tente me deixar, — Koldo jogou para Nicola.
Eu não vou rolar os olhos. —Sentem-se.
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—Confiança é uma decisão, não um sentimento.— Assim como o perdão. —Dê-lhe uma
chance.
—Eu só... Sinto muito. Não. Eu não consigo.
Nicola poderia ter se enrolado em uma bola e chorado. Mas em vez disso, recuperou-se,
determinada. —Você vai continuar a se preocupar e a preocupação vai te matar. É isso que você
quer?
—Não.— Os ombros de sua irmã caíram.
Nicola estendeu a mão e apertou a dela. —Vamos fazer algo para distraí-la.— Algo para
melhorar seu estado de espírito. Livros não poderiam desligá-la, e TV poderia agravar o problema.
Tudo o que foi deixado era... Ugh. Algo que soava como tortura. —Podemos, eu não sei, nos
exercitar ou algo assim. Deixar nossos corpos em forma.
—Eu não sei. Eu...
—Por favor. Por mim.
Laila massageava a parte de trás do pescoço. —Não estou no clima.
—Nem eu, mas poderíamos fazer exercícios.— Antes que sua irmã pudesse emitir outra
recusa, acrescentou, —Estarei na sala de ginástica. Junte-se a mim, okay?
Uma pausa, um suspiro, então, —Okay. Talvez.
—Definitivamente. — Nicola andou pesadamente em direção ao seu quarto e colocou um
sutiã esportivo, short minúsculo e tênis apertados. Seu primeiro par. Bem, o primeiro par que
realmente colocava em uso.
Entrou na sala de exercícios e olhou em volta. Máquina após máquina cumprimentou-a.
Tudo grande. Todos intimidantes. O único equipamento que reconheceu foi a esteira.
Que teria de fazer.
Nicola definiu um ritmo lento ― primeiro. Mas o suor começou a rolar, e seu coração
começou a bater rapidamente, os músculos queimaram, e ela gostou, então levantou a inclinação
e aumentou a velocidade. Logo estava correndo. E correndo e correndo! Choque a encheu, mas o
exercício era tão bom, bom demais para parar, revigorante, e pensou que poderia durar para
sempre, e que se estivesse fora, poderia correr por todo o mundo. Havia tanto oxigênio em seu
cérebro, seus pensamentos estavam realmente borbulhando, seu sangue estalando e crepitando e
seu rabo de cavalo balançando para frente e para trás, batendo no rosto, e oh, sentia-se bem,
porque estava livre e era saudável e nada poderia detê-la, e...
—Estou satisfeito.
Sua atenção virou para a esquerda. Koldo estava na porta, com uma expressão satisfeita,
com as mãos em punhos nos quadris. A ação a sacudiu, e ela perdeu o próximo passo. A esteira foi
implacável, e ela tropeçou, voando para trás e batendo...
Em Koldo.
Seu corpo era grande e duro, e ela perdeu o fôlego ― a respiração que já estava fina e
estridente. De repente, a cabeça leve, ela arqueou as costas. Ou teria. Os braços de Koldo como
faixas ao redor dela, a seguravam na posição vertical.
—Sinto muito, — disse ele. —Não queria assustá-la.
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Anjos da Escuridão 02
—Não se preocupe com isso, — ela ofegou. E tudo bem, uau, o treino a afetou mais do que
tinha imaginado. —Você provavelmente deve me soltar. Estou suada.
Suas pupilas se expandiram, devorando a cor dourada da íris. —Eu gosto de você assim.
A rouquidão de sua voz... —Você está flertando comigo?
Ele piscou com surpresa. —Acho que estou.
O mundo girou, mas não porque ela estava se sentindo fraca. Koldo tomou-a pela cintura e
manobrou em torno dela para encará-lo. Ela balançou para frente, e teve que equilibrar as palmas
das mãos sobre o peito dele. Seu coração batia tão forte e rápido quanto o dela.
—Está funcionando?
—Está.
—Prove.
Levantou-a. Suas pernas o envolveram quando ele abaixou a cabeça. Suas bocas se
encontraram num beijo explosivo que não ofereceu nenhuma exploração preliminar, apenas
paixão.
Simples assim, e ela era puro movimento, as mãos no rosto dele, não, no pescoço, não,
apertando os ombros, as unhas cravando em sua pele. Foi um momento tão bonito, tão
carregado, duas peças de um quebra-cabeças que se encaixavam.
O desejo a queimava, e necessidade, tanta necessidade. Necessidade, tanta necessidade.
Como se ela não tivesse encontrado satisfação na noite passada. Os dois sentimentos estavam
entrelaçados, indistinguíveis, tão tangíveis quanto o corpo de Koldo.
—Eu tenho que ter você, — disse ele. —Completamente. Se você está bem o suficiente para
correr na esteira, está bem o suficiente para estar comigo.
—Sim.
—Aqui. Agora.
—Simmmm.— Estava acontecendo. Finalmente. Ficariam juntos, e pertenceriam um ao
outro, e iria parar de se preocupar sobre o que poderia dar errado, mesmo que não devessem se
preocupar com nada.
—Uh, vai ser um pequeno problema, — disse outro homem.
Rosnando, Koldo balançou a cabeça em direção à porta. Nicola seguiu seu exemplo. Um Axel
sorridente estava ao lado de outro macho de igual força. Este tinha cabelo preto e olhos verdes
brilhantes que contrastavam totalmente com os lábios, que estavam definidos em uma linha
gelada.
—Zacharel, — Koldo disse, acenando com a cabeça em dura deferência. Para Nicola,
acrescentou calmamente: —Ele sempre parece assim. Não tema.
As pernas de Nicola a deixaram cair no chão. Seu coração estava martelando, mas a batida
era agora estável, forte. Suas roupas estavam no lugar, nada desgrenhado, e ainda assim sentia-se
como se fosse uma adolescente pega com as calças abaixadas.
O novo rapaz olhou-a. —Você está prosperando. Isso é bom.
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Anjos da Escuridão 02
—Você me conhece?, — Perguntou surpresa e confusa. Nunca encontrara este homem. Ele
não era o tipo de rapaz que uma garota esqueceria, jamais. Não, era o tipo de rapaz que uma
garota sonhava para o resto de sua vida, suspirando sonhadora ou chorando amedrontada.
—Eu notei o interesse de um determinado guerreiro em você, e fiz a minha lição para
aprender tudo que fosse possível.— Aquele olhar de jade glorioso deslizou para Koldo antes que
ela pudesse comentar. Não que soubesse o que dizer. —Sua presença foi solicitada nos céus.
Uma pausa tensa deslizou em um silêncio longo e desconfortável antes de Koldo dar outro
assentimento.
Axel e Zacharel foram embora, deixando-a sozinha com seu guerreiro.
—Eu tenho que ir, — disse ele.
Ela estendeu a mão e acariciou seu rosto, o pelo macio em sua mandíbula fazendo cócegas
em sua pele. —Eu entendo. Apenas certifique-se de voltar depressa para casa. Ainda estarei aqui,
e poderemos continuar de onde paramos.
Ele inclinou-se, deu um beijo suave em seus lábios. —Você acabou de garantir que eu volte o
mais rápido possível. E não se preocupe com os invasores do mal. Axel seguramente enviará
outros Enviados para ir e vir, mas ninguém mais pode passar através de minha nuvem.
Um segundo depois, desapareceu, surpreendendo Nicola. Em seguida, reapareceu, um olhar
de espanto no rosto.
—Eu teletransportei, — disse ele.
—Eu sei. Eu vi. — Ele não tinha perdido a capacidade, afinal de contas.
—Mas eu fiz isso duas vezes. Não apenas agora, mas antes, para pegá-la quando caiu da
esteira. Eu estava muito consumido com o que estávamos fazendo para perceber o que fiz até
aparecer nos céus.
Seus lábios se levantaram em um sorriso lento, sensual, revelando dentes brancos perfeitos,
iluminando o rosto inteiro. Ela só podia olhar com espanto, a cabeça girando, os membros
definitivamente tremendo.
—Eu posso te proteger, — disse ele.
—Eu sabia disso, também.
—Eu não estou impotente.
Na esperança de provocá-lo, ela disse: —Estamos jogando o jogo do óbvio? Se assim for,
adivinhe! Posso correr em uma esteira. Posso usar o meu cabelo em um rabo de cavalo. Eu sou
uma garota.
Rindo, ele colocou outro beijo em sua boca. E então, pela segunda vez naquele dia, afastou-
se teletransportando. Desta vez, ela cambaleou. Aquela risada... Um pouco enferrujada, mas
saudável. Irregular, mas linda.
Ela se acostumaria com seu magnetismo?
Nicola pegou um copo de água antes de ir para o quarto de sua irmã, onde encontrou Laila
andando. Ainda.
—Você não veio para a sala de exercícios, — disse ela.
—Desculpe, desculpe, — respondeu Laila. —Eu perdi a noção do tempo.
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Anjos da Escuridão 02
Nicola abriu a boca para responder, mas avistou duas faces de macaquinhos que
espreitavam sobre os ombros de Laila. Eles avistaram Nicola e sorriram satisfeitos.
Ela caminhou para frente, mas se abaixou. Laila parecia não ter ideia. Nicola andou um
círculo ao seu redor, em busca, mas não havia mais qualquer sinal das criaturas.
Um sentido de urgência a bateu. —Escolha algo para fazer, LaLa qualquer coisa. Eu farei com
você. A ansiedade constante tem que acabar agora.
—Eu só... Preciso pensar.
—Sobre o quê?
—Tudo! Somos tão fracas, Nicola. Nós duas.
—Eu estou mais forte a cada dia, e você poderia estar, também. Quer dizer, estamos na
equipe vencedora. Temos guerreiros lutando por nós. Temos o poder e a proteção do Altíssimo.
—Você diz isso, mas...— Laila esfregou o rosto. —E se ele não responder da próxima vez?
—Ele responderá.
—Como você pode ter tanta certeza?
—Eu só sei, lá no fundo.— De alguma forma, Nicola manobrou sua irmã na cama e colocou
as cobertas ao seu redor. —Se você não vai fazer alguma coisa comigo, quero que descanse e dê
uma pausa à sua mente. E se insistir em pensar em alguma coisa pense em tudo o que eu disse. É
a verdade.
—Tudo bem.
—Promete?
—Prometo. — Laila fechou os olhos, e Nicola acariciou seu rosto da forma que sua mãe
costumava fazer com elas. Primeiro, a expressão de sua irmã estava comprimida, o corpo inquieto,
incapaz de ceder. Mas, como o passar do tempo, ela se acalmou. Quando sua respiração
finalmente igualou-se, Nicola levantou-se e dirigiu-se para seu próprio quarto.
Tomou banho e vestiu uma camiseta rosa e calça jeans, querendo mostrar o seu melhor
quando Koldo voltasse ― e dar-lhe algumas peças novas de roupas para arrancar dela. Mas
esperou... E esperou... E ele não apareceu.
Depois de um tempo, os raios de sol se infiltrando pelas janelas a seduziram a ir para o
quintal. O ar estava quente, perfeito e perfumado com flores silvestres cítricas e pinho. Respirou
fundo, desfrutando.
Bang. Bang.
Uma voz feminina ecoou abafada. Franzindo a testa, Nicola correu para o pequeno barraco
que Koldo e Axel tinham construído. Não havia janelas, e parecia não haver nenhuma porta.
—Ajude-me. Por favor.
Era a voz de novo, desta vez mais clara ― vindo de dentro do barraco. Seu tom era... Puro.
Forte. O suficiente para causar calafrios em Nicola. Foi uma pureza que ela reconheceu, uma vez
que ambos, Axel e o chamado Zacharel, possuíam.
Essa fêmea seria uma Enviada? A amante que Nicola estivera tão certa que Koldo não tinha?
—Quem é você?— Ela chamou, apalpando as paredes à procura de qualquer tipo de fresta.
—Ajude-me. Por favor! Deixe-me sair.
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Anjos da Escuridão 02
Por que Koldo colocou a mulher no barraco? Ele não era um homem cruel. Era?
Nicola se acalmou, a mente girando. Ele era um homem que nunca a machucou ― até bateu
no homem que tentou. Era um homem que se desesperou com o fato de que não poderia ser
capaz de protegê-la. Era um homem que a fez se sentir segura em seus braços.
Era um homem em quem confiava.
Mas ela não conhecia ou confiava na mulher.
—Qual é o seu nome?— Perguntou.
Mais uma vez, a mulher ignorou a pergunta, dizendo: —Basta me deixar sair. Tudo bem?
Sim?
O desespero se justificava. A evasiva não. Ela poderia ser uma serial killer? Ou trabalhar com
os demônios?
—Deixe-me sair!— Punhos bateram na parede. —Agora!
Nicola mordeu o lábio inferior... E se afastou.
Koldo observou enquanto Zacharel pousava na beira da nuvem de Germanus ― não, Clerici
era o dono agora.
As asas douradas dobraram-se em volta do guerreiro, e uma pontada de inveja inesperada
atingiu Koldo, como sempre. Tinha que parar de se sentir desta forma, mas, oh, o que poderia ter
sido. Ele não era alguém que acreditava que tudo acontecesse por uma razão. Coisas ruins
aconteciam porque as pessoas tinham o livre arbítrio.
Claro, acreditava que algo ruim poderia ser trabalhado para o bem de uma pessoa. A perda
de suas asas, no entanto? Não conseguia imaginar nada de bom vindo disso.
E a perda de sua capacidade de se teletransportar? Não. Nada de bom poderia ter vindo
disso, também. Como teria viajado? Como teria sobrevivido? Estava grato porque tinha se curado.
O veneno de Sirena desapareceu por conta própria, ou sua alegria em estar com Nicola o
ajudou a superar isso. Provavelmente, o último. Todo dia se apegava um pouco mais firmemente
ao ser humano delicado. Precisava dela um pouco mais ferozmente.
Zacharel fluiu em movimento, dizendo: —Clerici deseja conhecê-lo.
Koldo manteve o ritmo com ele, as botas batendo contra as pedras que formavam um
caminho através da nuvem para a plataforma do templo. Flores desabrochavam de cada lado, rios
sinuosos e tão claros quanto cristal por toda parte. O céu era de um azul brilhante, o sol jogando
raios dourados e alaranjados e entrelaçando-os como fitas.
—Você sabia que eu queria Nicola antes de me designar para protegê-la, — disse ele.
—Sim. Mas você já sabia disso há mais tempo.
—Sabia. O que não fui capaz de descobrir é como você sabia.
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 197
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Anjos da Escuridão 02
Nunca revelando estar desconfortável, Zacharel deu de ombros como se não se importasse.
—O Altíssimo abriu minha mente para uma visão. Vi você voltar para o hospital. Ouvi você falar
com a garota no elevador.
Koldo não se importava de ter visões sobre os outros. Mas outros terem visões sobre ele?
—Ele quer que você seja feliz, — Zacharel acrescentou.
—Eu sei.— Mas ele realmente acreditava nisso? Depois de tudo que Koldo tinha feito... —
Por isso você colocou Jamila no escritório dela?
—Sim. Eu queria que ela estivesse bem guardada enquanto você estava fora. Você era tão
instável, Koldo. Você sabe que era. Era uma bomba muito perto da detonação, e todos em seu
caminho teriam sentido a dor da sua explosão. A garota o acalmou, e eu estou feliz por isso.— —
Zacharel bateu em seu ombro.
Anjos de asas azuis empurraram as portas duplas.
—Vou deixá-lo para sua reunião agora, — disse Zacharel.
—Muito bem. E obrigado. — Koldo caminhou para dentro do edifício, os passos ecoando. O
corredor estava vazio. Antes, estivera alinhado com mobiliário antigo, e sempre agitado com as
atividades dos Enviados, com movimento e vibração. Os demônios devem ter contaminado o
mobiliário, e os Enviados deviam estar à espera de um chamado.
Uma convocação que deveria ser Germanus quem faria.
Mãos em punho, Koldo seguiu pelo corredor. As portas da sala do trono eram guardadas por
outro conjunto de anjos e já estavam abertas. Koldo passou em silêncio, e entrou, observando que
as paredes agora estavam nuas, os murais do reino dos céus do Altíssimo pintados no teto.
Teriam sido apagados?
Ele deveria estar por aí, caçando os culpados. Em vez disso, estava brincando de gato e rato
com seu pai.
—Enfim eu encontro o famoso Koldo.
A voz profunda veio da direita, e Koldo virou-se. Clerici estava empoleirado no degrau do
meio da plataforma, polindo uma espada. Usava uma camiseta e calça brancas, assim como Koldo
preferia. Havia sujeira em suas mãos, assim como na cintura e panturrilhas.
Onde Germanus aparentou idade, Clerici parecia jovem, até mesmo para sua espécie.
Parecia ter uns meros 20 anos, com cabelos e olhos castanhos e um rosto despretensioso. Simples,
para ser honesto. Mas havia algo sobre ele que prendeu a atenção de Koldo. Um magnetismo. Um
brilho de... Amor, talvez, brilhando intensamente naquelas profundezas escuras.
E como Koldo, ele estava sem asas.
—Eu não sou o que você esperava, eu sei, — disse Clerici, correndo o tecido sobre o
comprimento da arma.
—Eu não tinha lhe dado qualquer pensamento.
Um aceno da cabeça escura. —Honestidade brutal. Eu gosto disso.
—Você recebe isso de todos nós.
—Ah, mas você não é obrigado pelo aro da verdade. Você oferece de bom grado.
Um defeito que todos os Enviados podiam sentir nele. —Você tem uma missão para mim?
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Anjos da Escuridão 02
Clerici deixou a lâmina de lado e olhou para cima. —Não, neste momento, não.
Confuso, ele disse: —Por que não?— Pensou que era por isso que estava aqui.
—Você não está pronto.
Uma mentira, com certeza! —Como você sabe disso?— Ele disse entre dentes. Ele foi uma
escolha da primeira rodada, e foi isso.
O novo rei dos Enviados ofereceu um meio sorriso e bateu no centro do peito. Em cima do
coração. —Somente sei.
E agora estou alimentando uma fúria só para você. —Eu sou forte, capaz.
—Não. Você está escravizado por suas emoções.
Ele estalou a mandíbula. Não falaria sobre sua mãe. Não com esse estranho. E sabia que era
para onde o homem se dirigia. —Por que você me chamou?
—Talvez eu desejasse dar as boas-vindas ao meu rebanho.— A cabeça de Clerici se inclinou
para o lado, e ele examinou Koldo com a mesma intensidade com que foi examinado. —Talvez eu
quisesse perguntar se você sente falta de suas asas.
Mais do que qualquer outra coisa no mundo, mas tudo o que disse foi: —Você sente falta
das suas?
—Quem disse que eu já tive asas?— Clerici levantou-se e diminuiu a distância entre eles, e
foi então que Koldo sentiu o crepitar de energia de sua pele, raios batendo contra a sua própria,
queimando-o de fora para dentro.
—Não disse?
—Ah, mas essa informação não é sua para coletar, é?
Privacidade. Que Koldo entendia e respeitava. Ele balançou a cabeça.
—E agora, para o nosso negócio, — disse Clerici. —Eu ofereci a cada um dos Sete da Elite
recompensas pela dedicação ao serviço de Germanus. Eu esperava pedidos de riquezas, nuvens e
outros itens tangíveis. Mas todos os guerreiros me surpreenderam, devo dizer. E Zacharel mais
que todos.
Não houve tempo para responder.
—Eu tenho um presente para você, — Clerici acrescentou. Colocou as mãos levemente nos
ombros de Koldo, mas então, a força não era necessária. No momento do contato, uma cascata
quente de mel começou a lavar Koldo, banhando-o, fortalecendo-o. —Não é porque você merece.
Você não merece. Ao contrário do Misericordioso, o Ungido e o Poderoso, eu não posso ver em
seu coração e saber do bem que você é capaz. A menos que o Altíssimo informe-me o contrário,
posso ver apenas suas ações. Mas Zacharel nomeou você como o destinatário da recompensa
dele, e eu prometi entregá-la.
Mas... Porque Zacharel faria uma coisa dessas?
Os olhos escuros o perfuraram profundamente. —Neste momento, Koldo, você está cheio
de tanto ódio, que não há espaço para o amor. Posso sentir isso. E sem amor... Bem, você vai cair,
e Zacharel não tem vontade de vê-lo cair.
—Eu vou...
—Silêncio.
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Anjos da Escuridão 02
Um simples comando do rei, mas que Koldo não poderia refutar. Seus lábios estavam
colados quando ele assentiu.
—A boca pode ser uma armadilha, — acrescentou Clerici mais suavemente. —Às vezes é
melhor não dizer nada.
Ele sabia muito bem disso. Assentiu novamente.
—Você sabe o que Zacharel pediu-me para lhe dar?— Clerici perguntou.
Antes de Koldo poder adivinhar a resposta, dor atravessou seu corpo inteiro. Dor, tão forte
que sequer se comparava a que sofreu no acampamento de seu pai, quando estava pendurado no
teto por ganchos embutidos nos músculos de seu peito, cada um dos guerreiros Nefas autorizados
a agredi-lo uma vez, com a arma de sua escolha.
Seus joelhos se dobraram e ele caiu no chão com um baque duro. A camisa foi arrancada do
corpo, embora ninguém o tocasse, o material flutuando para o chão. Uma dor acentuada e
agonizante curvou suas costas, e ele caiu o resto do caminho. Seu queixo bateu contra o mármore,
o sabor de cobre em sua língua.
Um grito bateu contra os dentes, dividindo seus lábios. O que Clerici tinha feito com ele?
Não havia nenhuma maneira que pudesse sobreviver a isso. Era muito forte... Estava...
Diminuindo? Sim. Sim, estava, a dor acabou tão abruptamente quanto começou. Ofegante e
suando, Koldo arrastou-se para ficar de pé. Clerici estava longe de ser visto, e havia um grande
peso em suas costas, como se dois guerreiros tivessem saltado sobre ele e se recusado a soltá-lo.
Estendeu-se para trás... E encontrou o suave roçar de penas.
O coração batendo contra as costelas, empurrou tudo o que podia para frente. Penas
brancas com veios de ouro saudaram seus olhos, os tendões grossos, fortes e sem cicatrizes. Ele
perdeu o fôlego, mais uma vez caiu de joelhos. Deu outro puxão, mas o apêndice permaneceu
ligado a ele, puxando forte, criando a dor mais maravilhosa.
Asas. Ele tinha asas!
Sua mente girava quando ficou em pé. —Obrigado. Obrigado!
Caminhou em direção à porta, atordoado, mas no momento que chegou à entrada pegou
velocidade. Logo estava correndo, passando pelo segundo conjunto de portas, para fora, correndo
ao longo do caminho de paralelepípedos, atingindo a borda da nuvem.
Caindo.
Koldo abriu as asas e preso em uma corrente de ar, deslizou noite afora. Jogou a cabeça para
trás e riu com intensa alegria. Ele estava voando! Para cima, para baixo, para cima, para baixo,
bateu as asas. Não, não são —as— asas. Suas asas. Suas. Elas pertenciam a ele. E ninguém seria
capaz de tomá-las dele.
O vento soprava contra sua pele, contra suas penas. Disparou tão alto quanto poderia ir, o ar
esfriando. Mergulhou rente ao chão, o ar aquecendo, antes de torcer o corpo e disparar de volta.
Nuvens polvilhavam sobre ele, frias e úmidas, e os pássaros voaram ao seu lado. Realizou saltos
mortais, rindo o tempo todo.
Nunca estivera tão despreocupado.
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Anjos da Escuridão 02
O que Nicola pensaria quando o visse? Imaginou-a em casa, no quarto dele, na cama,
esperando por ele. Ela sorriria, e ofegaria. Iria exaltar a beleza de suas asas. E por que não? Suas
penas eram o mais puro tom de branco e filetadas com os mais ricos fios de ouro derretido.
Ela seria a primeira pessoa a tocá-las.
Voou até que os músculos esquecidos das costas queimaram pelo esforço, incapaz de tomar
muito mais. Até que suas asas emperraram, recusando-se a moverem-se mais um centímetro, e
ele começou a despencar. Pouco antes de pousar, teletransportou-se para o quintal da frente do
rancho. Bateu com mais força do que ele estava acostumado, e teve que rolar com o impacto.
Terra e grama emaranharam-se em sua barba, roupas e penas.
No momento em que parou, pulou e correu para dentro. Não havia nenhum sinal de
Zacharel, nenhum sinal de Axel. Laila estava dormindo em seu quarto. Ele entrou pela porta do
quarto de Nicola. Ela se sentou na beirada da cama, e pulou quando o viu. Ela estava... Chateada.
Ele perdeu seu sorriso, sua excitação. —O que foi? Aconteceu alguma coisa?
Ela piscou, o olhar fixo em suas asas. —Nós vamos chegar a isso. Primeiro como...?
—Então você não está ferida?
—Não, fisicamente, não.
A emoção voltou e ele girou. —As asas foram um presente.— O prazer o preencheu quando
ele apertou as extremidades das asas e as estendeu ao seu comprimento total. —Toque-as. São
reais.
Ela estendeu a mão, os dedos roçando o arco, que fluía para baixo do centro. Ele fechou os
olhos e saboreou. Mesmo quando criança, ninguém além de sua mãe tocara suas asas, e nunca
desta maneira. Nunca tão suavemente, tão ternamente.
—Elas são maravilhosas, — disse ela. —Mas é meio difícil apreciá-las quando eu sei que você
tem uma mulher presa no barraco lá atrás, e não sei por que ela está lá.
Ele virou-se, seu júbilo drenado. Ela sabia. Ele queria isso, lembrou a si mesmo. Queria que
ela conhecesse esse lado dele. Que o conhecesse completamente. Que quisesse estar com ele
mesmo assim.
—Ela exigiu que eu a libertasse.
—Mas você não o fez, — ele confirmou. Ela não podia. Não havia nenhuma porta.
—Não.— A mão dele subiu até o pescoço, esfregando. —Quem é ela?
Ele observou uma pena flutuar pelo ar e aterrissar no chão, e lutou contra uma onda de
medo. E se Nicola o considerasse um monstro? E se decidisse que estaria melhor sem ele?
Descubra agora, antes de vir a depender mais dela do que você já depende.
—Minha mãe....
A mandíbula de Nicola caiu. —O quê? Por quê? —Ela exigiu saber, diminuindo a distância e
colocando as palmas das mãos sobre seu peito nu. — —Porque ela arrancou seu primeiro par de
asas—?
Sua boca ficou seca. —Entre outras coisas, sim.— Entenda. Por favor. —Depois disso, ela me
jogou em um ninho de víboras. Eu estava tão enfraquecido que não consegui escapar, e por anos
fui forçado a fazer coisas terríveis para sobreviver.
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Anjos da Escuridão 02
Simpatia camuflava suas feições. —Eu sinto muito por isso. Realmente sinto, mas esta não é
a maneira de fazê-la pagar. Você precisa levá-la ao juiz de seu povo. Existe um juiz, não é?
Ele balançou a cabeça com firmeza. —Eu não sei qual será a sentença dele, se será duro o
suficiente.
Ela franziu as sobrancelhas. —Isso não é problema seu.
—Ela me odeia. Sem nenhuma razão, ela me odeia. Não está arrependida pelo que fez. Ela é
orgulhosa.
—E você, é o que? Quer lhe infligir toda a dor que foi infligida a você?, — Perguntou,
claramente atordoada. —Sim. Você quer. Foi o cabelo dela que você cortou naquele dia, não foi?
Uma pausa antes que ele assentisse.
—E você estava com tanta raiva de si mesmo, tão destroçado. Koldo, você não vê? Quanto
mais tempo você ficar com ela, mais a estará prejudicando irremediavelmente. E se o fizer nunca
vai ser capaz de perdoar a si mesmo.
Ele respirou dentro... Fora. —Ela merece sofrer.
—Talvez sim, mas o ódio o faz tão prisioneiro quanto ela. Você não consegue sequer ver
além disso!—
—Eu não me importo.
—Bem, eu me importo. Leve-a para o seu juiz.
Mulher teimosa, assim como ele sabia que ela era.
A raiva cresceu em seu peito. —Você foi ferida por alguém, também. Dói horrivelmente, e,
na época você não tinha meios de contra-atacar. Bem, o que você faria se a oportunidade para se
vingar finalmente se apresentasse?
Antes que ela pudesse responder, ele se teletransportou para o apartamento do homem que
matou os pais e irmão dela. Oh, sim. Ele memorizou o endereço. O macho estava sentado no sofá,
assistindo TV e bebendo cerveja. Carrancudo, Koldo se materializou. O homem o viu, praguejando
e se mexendo para trás. Koldo o agarrou pelo cangote e teletransportou de volta para o quarto no
Panamá.
Nicola estava andando na frente da cama, e nesse momento parou.
Koldo empurrou o homem de cara no chão. —O que você tem a dizer para a pessoa que
matou a sua família?
—Ooo-o que está acontecendo?— O homem em questão choramingou. Seus olhos estavam
arregalados, vítreos, enquanto corriam entre Koldo e Nicola.
Finalmente, a sua atenção permaneceu em Nicola e ele engasgou. —Você.
Então. Ele a reconheceu, apesar dos anos que passaram.
As mãos de Nicola formaram uma tenda sobre a boca.
—Você realmente tem força para perdoá-lo?— Koldo exigiu saber.
Ela não disse uma palavra. Seu olhar permaneceu bloqueado no responsável por sua perda.
As lágrimas rolaram pelas faces avermelhadas do ser humano. —Eu sinto muito, — ele
gritou. —Eu sinto muito. Mas, por favor, deixe-me ir.
—Você só sente muito porque você foi pego, — Koldo gritou para ele.
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Anjos da Escuridão 02
Koldo cometeu um grave erro. Nunca deveria ter desejado que Nicola soubesse sobre sua
mãe. Deveria ter mantido as duas mulheres separadas agora e para sempre. Se tivesse feito isso,
poderia ter continuado com a sua vida, do jeito que era.
Sua mãe... Seria dele para atormentar, para alimentar sua necessidade de vingança.
Nicola... Seria dele para saborear e tocar, para alimentar sua necessidade de carinho.
Agora, ele tinha sua mãe, mas não tinha Nicola. Ela evitava seu olhar. Sempre que ele
entrava em uma sala, ela saía.
Enquanto não pudesse resolver o problema que tinha criado, ele certamente poderia
queimar a lembrança dela. Dois dias após sua discussão, ele mudou sua mãe para a casa que
mantinha na África do Sul, e incendiou a cela no Panamá. Não poderia levá-la de volta ao West
India Quay. Sirena, e agora Jamila, sabiam sua localização.
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Anjos da Escuridão 02
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 204
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Os demônios se esforçavam para afastar-se dele, mas ele virou e bateu com a espada, girou
e girou, cortando ao meio um após o outro. Sangue negro pulverizou em todas as direções. Corpos
bateram contra a grama.
Finalmente o telhado foi limpo e ele foi capaz de entrar na casa. Demônios, demônios, ao
redor de tudo, cada uma maior e mais forte do que o anterior, e todos determinados a causar
estragos.
Dois saltaram sobre ele por trás, arrancando punhados de penas de suas asas. Koldo rangeu
os dentes e soltou a espada, em seguida, puxou as criaturas, quebrou os pescoços e atirou-as
como o lixo que eram.
Onde estava Nicola? Laila?
Espalmou a espada e percorreu o caminho pelo corredor, o pulso em constante movimento.
Demônios caíam como moscas. Havia mais espaço dentro do quarto de Laila, mas nenhum sinal da
moça. Não havia nenhum sinal de ferimento humano, apesar de a mobília ter sido destruída e as
roupas espalhadas pelo chão. Se ela tivesse sido pega...
Um demônio o viu e atacou, mergulhando baixo, bloqueando os tornozelos de Koldo,
empurrando-o. Seu equilíbrio foi liquidado, e não conseguiu se manter de pé. A espada de fogo
desapareceu quando ele caiu. Perdeu o fôlego, e o resto dos demônios atacou, fervilhando sobre
ele.
Mais penas foram retiradas. Sua pele foi mordida, arranhada. Alguém estava tentando
mastigar seu tendão de Aquiles. Koldo agarrou as duas criaturas penduradas em sua perna, rasgou
suas espinhas pela garganta e jogou-as na parede. Pegou mais dois e fez o mesmo, em seguida,
mais dois, até que foi capaz de saltar para cima. O resto dos demônios caíram no chão. Ele chutou,
a navalha na bota ordenadamente cortando intestinos.
Quando terminou, pisou no corredor. A porta de Nicola estava fechada. Ele entrou, cacos de
madeira pulverizados em todas as direções. No centro encontrou Canhoto e Destro raspando as
garras contra uma nuvem de névoa branca.
Nicola estava dentro do nevoeiro, de joelhos, seu corpo cobrindo o de Laila. Estava olhando
para as tatuagens em seu braço. Tatuagens que vieram a vida, formando uma barreira protetora
ao redor dela.
As meninas estavam aqui. Estavam vivas. Estavam seguras.
Uma inundação de alívio potente o mandou marchar para frente. Canhoto viu e recuou,
arrastando Destro com ele. A dupla ganhou velocidade e se inclinou através da parede,
desaparecendo.
Koldo seguiu-os, determinado a acabar com eles de uma vez por todas, mas eles se
provaram astutos e escorregaram para o céu, escondendo-se nas nuvens.
Resignado, voltou para o lado de Nicola e caiu de joelhos. Ele bateu, sentiu a casca dura em
torno dela, e sabia que estava diminuindo, suavizando. Por fim, nada foi deixado, além de ar.
—Nicola, — disse ele.
O som de sua voz a sacudiu, e ela se endireitou em um piscar de olhos. Os olhos grandes e
tempestuosos encontraram-no, e um lamento escapou de seus lábios.
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Anjos da Escuridão 02
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essa era a sua graça salvadora. A graça que ele iria aceitar. Ele iria ganhar o seu amor, iria merecê-
lo, de uma forma ou de outra.
E então, quando fosse digno, se casaria com ela no meio de seu povo e juntaria sua vida à
dela permanentemente, entrelaçando suas esperanças de vida. Não suportaria ficar sem ela.
Eu tenho que libertar minha mãe.
Todos os músculos que possuía ficaram tensos, e sua mente imediatamente se rebelou. Não,
não. Ele não podia. Não conseguiria abandonar sua necessidade de vingança. Mas era a vingança
ou Nicola. Não poderia ter os dois. Sua mãe sempre estaria entre eles, um muro que ele nunca
poderia esperar romper.
Então, sim, teria que libertar sua mãe. Não podia mais olhar para trás. Só podia olhar para
frente.
Com os pensamentos formados, o buraco aumentou, aumentou ainda mais, permitindo à luz
iluminar e se espalhar, eliminando a escuridão por completo.
Koldo beijou Nicola suavemente, delicadamente, e ela o acolheu. Mas sabia que agora não
era o momento de revelar seus planos. Suas emoções eram muito fortes. E ainda não tinha sido
romântico com ela como era apropriado.
—Vamos sair daqui, — disse ele.
—Por favor.
Ajudou-a a se levantar, antes de se agachar ao lado de Laila e pegá-la nos braços. Seu peso
leve mal era registrado. —Dobre-se ao meu lado, — disse a Nicola, —e envolva seus braços em
volta de mim.
Ela obedeceu, e ele levou-as para a casa de Zacharel nos céus. A névoa rodopiou ao seu lado,
quando ele chamou, —Zacharel? Annabelle?
—Estou nos fundos, — respondeu Annabelle.
A névoa se separou, criando uma passarela de sonho quando ele avançou.
Nicola ofegou, estendeu a mão. —Que lugar é esse?— Vários tentáculos de neblina torciam-
se em torno de seus dedos, mas ele sabia que ela também encontrou uma parede sólida.
—A casa habitual de um Enviado, — disse ele.
Annabelle estava na sala de estar, mais uma vez, situada em frente da mesa de café, com
livros que cobriam toda a superfície. Ela olhou para cima, os olhos dourados logo pegando e se
fixando em Nicola.
—E quem é que temos aqui?
—Minha mulher, — disse ele, com um florescimento de orgulho no peito. —Em meus braços
é a irmã dela. Elas precisam de um lugar para ficar por um tempo.
Uma Annabelle sorridente estendeu os braços. —Bem vindos à casa de Zachy, o delicioso.
Ele deu um suspiro de alívio. Sem perguntas. Sem lutas para obter respostas.
—Nós não estamos interrompendo nada, eu espero, — disse Nicola hesitante.
—Nem um pouco. Estou estudando as maneiras dos Enviados, e poderia usar alguém para
trocar algumas ideias. Quer dizer, sou a esposa de um chefe de exército, e preciso conhecer suas
leis, seus pontos fortes e fracos.
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—Estou estudando também, — disse Nicola, e acomodou-se ao lado da beleza asiática. Seu
olhar permaneceu em sua irmã. —Eu sou Nicola, por falar nisso.
—Eu diria que prazer em conhecê-la, mas não seria suficiente para transmitir a minha
felicidade. Você é a primeira mulher humana a entrar dentro desta nuvem... Eu tenho fome de
conversa decente. E, além disso, qualquer uma que possa aceitar Koldo e continuar viva, bem, eu
gosto desde já.
Koldo colocou Laila no sofá. Um leve gemido separou seus lábios, e ela virou para o lado,
mas fora isso, permaneceu em seu estado de sono. Ele se endireitou.
—Ela vai ficar bem, certo?— Nicola perguntou.
Em vez de responder, e estragar seu humor, ele disse: —Há algo que devo fazer.
—O que?
—Você estará segura aqui, — disse ele, evitando essa pergunta, também. —Annabelle é tão
guerreira quanto Zacharel.
Com isso, teletransportou-se para a caverna na África do Sul. Embora Cornélia estivesse
acorrentada à parede no fundo da caverna, a densa umidade no ar a deixou encharcada. A túnica
suja feita de tecido humano estava grudada na pele dela.
Sua cabeça pendeu para o lado na tentativa de descansar no ombro. Havia hematomas sob
os olhos, as bochechas estavam magras e a pele enrugada. Os lábios estavam rachados.
Ele deu um passo à frente dela. Apesar da raiva ainda agitada que sentia por ela, de repente
sentiu compaixão por seu estado e remorso por ter sido quem a colocou nele.
Ela piscou os olhos e os abriu. No momento em que sua presença foi registrada, cuspiu nele.
Ele limpou o cuspe do rosto.
—Todo o meu trabalho duro destruído, — disse ela, ainda fumegando devido as asas dele.
—Você recebeu um presente que nunca vai merecer.
Como ela estava certa, apesar de não estarem falando sobre a mesma coisa. —Eu sei.
—Eu vou orar todos os dias para que alguém as tome de você.
E eu vou orar todos os dias para você encontrar uma maneira de me perdoar por qualquer
mal que acha que eu cometi. —Eu vou começar uma nova vida, mãe.
Suas narinas dilataram quando respirou profundamente. —Oh, bem, bom para você. Espero
que ela te mate.
—Você não está incluída nessa vida.
Seus lábios se curvaram em um sorriso vil. —Finalmente decidiu acabar comigo, não é? Bem,
bem. Já era hora. Você vai ser expulso dos céus. Vai ser humilhado, desgraçado, esquecido. Será
perseguido por demônios pelo resto da sua vida, mas será impotente para detê-los. Você vai
sofrer, e, eventualmente, morrerá. Passará a eternidade no inferno, onde você pertence.
Todo aquele ódio, ele pensou. Que vivia dentro dela. Viajava com ela, comia com ela.
Provavelmente conversava com ela. Ela nunca esteve sem seu companheiro infiel. E nunca estaria,
enquanto o criasse em seu peito. Doía nela, não nele, assim como o ódio dele, feriu a ele e não a
ela.
Nicola estava certa. Ele tinha sido um prisioneiro.
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Capítulo Trinta
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Grata pela mudança, Nicola concordou e permitiu que Koldo a pegasse nos braços e levasse
embora.
E aqui estava ela, fora em seu encontro. Primeira parte? Voando. Koldo a abraçou quando
subiram através do céu, o vento nos cabelos dela, acariciando sua pele. O cheiro das nuvens, o
orvalho da manhã e o sol inundaram seu ser.
Ele estava atrás dela, segurando-a com força. A pressão do ar mantendo as pernas coladas
às dele, em vez de pendendo abaixo. E o mundo... O mundo era exuberante, vivo e glorioso.
Verdes e azuis vibrantes misturando com a terra e mar. Subiram montanhas e mergulharam em
vales. Inverno aqui, verão lá. Um verdadeiro banquete para os sentidos.
—Tudo é tão bonito, — disse ela.
—Houve um tempo em que eu via apenas a feiura.— Ele beijou sua nuca e ela estremeceu.
—Mas não hoje. Hoje é um novo dia, um novo começo. Eu... Eu libertei a minha mãe.
Ela tentou virar-se e olhar para ele, mas não conseguiu. —Oh, Koldo.
—Você estava certa. Eu poderia mantê-la e piorar, ou libertá-la e me curar.
Ela gostaria de poder abraçá-lo. —Foi difícil, não foi?
—A coisa mais difícil que eu já fiz, e, de alguma forma, a mais fácil.
Ela bateu nas mãos dele, unindo-as quando estavam sobre sua cintura. —Estou satisfeita, —
disse ela, como ele sempre dizia a ela.
—Você está prestes a ter mais.— Ele inclinou seus corpos, e começou a descer.
—Onde você está me levando?, — Perguntou ela, sem fôlego.
—Você vai ver.
Já podia distinguir... Um safári na selva? Um rio serpenteava por árvores exuberantes e
manchas de sujeira. Uma leoa perseguia um bando de gazelas. Pássaros de todas as cores
espalhados ao vento. Elefantes bebiam em uma lagoa.
Ele se endireitou pouco antes do pouso e colocou seus pés suavemente no chão. Aromas
familiares mergulhavam no ar. Aromas que ela encontrou no jardim zoológico, as poucas vezes
que seus pais a levaram, mas também coisas que nunca encontrou. Flores exóticas e hera
florescente. Úmida vegetação e uma pureza surpreendente.
—Você está no reino espiritual comigo. Eles não podem vê-la, — Koldo disse. —Vá em
frente. Chegue perto.
—Sério?
Em resposta, deu-lhe o mais gentil dos empurrões.
Nicola avançou hesitante. Apesar do que Koldo dissera, esperava que as magníficas criaturas
fossem fugir. Em vez disso, continuaram a sugar a água através de suas trombas e pulverizando
em suas bocas. Banhavam-se e espirravam água uns nos outros.
Uma risada borbulhou dela, mas ainda assim os elefantes permaneceram no lugar.
Koldo ficou ao lado, observando.
Finalmente, ela se moveu para o lado de um dos poucos bebês, uma coisa adorável que
pesava mais do que ela e Laila juntas. Seu olhar levantado parecia travado nela. Mas... Ele não
poderia vê-la. Poderia?
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Anjos da Escuridão 02
—Eu quero casar com você na maneira do meu povo.— Caiu de joelhos, na maneira do povo
de Nicola. —Quero te proteger com o meu nome, o meu estado, minha fortuna e meu futuro.
Ele... Realmente a amava. A amava. Ela. A simplória Nicola Lane, que passou a vida em um
hospital ou outro e sofreu uma tragédia atrás da outra. E queria se casar com ela. Pelos padrões
do mundo, ela era sem graça, não valia um segundo olhar. E, no entanto, este homem a amava o
suficiente para dar-lhe os desejos de seu coração. A amava o suficiente para desistir do próprio
passado. Para querer construir um futuro com ela.
—Mas eu vou envelhecer, — disse ela, querendo salvá-lo da mágoa mais tarde. —Você não.
E...
—Não. Sua vida será ligada à minha, e enquanto eu viver, você viverá. Enquanto você viver,
eu viverei.
Como... Que... Perfeito! Estava oferecendo-lhe uma vida que ela só havia começado a
sonhar.
—Eu também te amo, Koldo, — disse, a voz trêmula. Ela o amava. Amava o homem que ele
era, o homem que estava se tornando. O homem que um dia seria. Amava seus pontos fortes e
suas fraquezas reconhecidas. Ele era bom para ela, e ela era boa para ele. —E sim. Sim, eu vou me
casar com você.
Seus lábios se levantaram em um sorriso lento. —Vai?
—Vou.— Ele era a outra parte dela, uma parte necessária.
Estava de pé um segundo depois, teletransportando-os para um quarto que ela nunca tinha
visto antes. Teletransportou-se de novo, e desta vez ela pousou na grande cama, Koldo pousando
sobre ela, um dossel rendado sobre eles.
—Tão confiante que eu diria que sim?— Ela perguntou com uma risada, deslizando as mãos
até o peito dele.
—Tão esperançoso.
O olhar dela se moveu sobre o quarto. Viu veludos escuros e sedas leves, mobiliário
vitoriano e uma aura do velho mundo. O aroma de rosas flutuou em uma brisa suave. —Onde
estamos?
—Em uma das minhas casas favoritas.
—Quantas você tem?
—Nós temos 16. Vou levá-la para um tour por cada uma. Mais tarde.
Abaixou a cabeça, apertou os lábios nos dela e... Doce paraíso. A necessidade que tinham
um pelo outro, mais uma vez explodiu. Estavam frenéticos, ansiosos por mais. Por tudo.
—Nós não vamos parar desta vez, — disse ele.
—Nem por um segundo.
—Por nenhum motivo.
Se o fizessem, seu coração finalmente se quebraria. Não pela doença, mas de frustração.
Admitiram seu amor um pelo outro. Agora ela queria mostrar a ele.
Puxou o colarinho da camisa dele, dizendo: —Quero a sua pele contra a minha.— Preciso
disso.
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 212
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Anjos da Escuridão 02
Ele a ajudou a tirar, empurrando o tecido sobre a cabeça. Sua túnica foi a próxima a cair,
deixando-a de sutiã e calcinha. Um rugido subiu dele.
—Você está mais deslumbrante a cada vez que eu a vejo.
Ele a fazia se sentir assim. Como se não se importasse se ela prendia o cabelo ou se não
usasse maquiagem. Como se gostasse dela não importando com o quanto ela pesasse. —Eu sinto
o mesmo sobre você.
Ele ficou de joelhos e apressadamente trabalhou na cintura de suas calças. Mas teve
problemas e acabou puxando com força suficiente para enviar o tecido voando para o chão em
pedaços. Em qualquer outro momento, isso a teria feito rir. Sempre que estavam na cama, as
roupas eram destruídas. Mas ao olhar para ele, perdeu o fôlego. Ele estava intenso, determinado.
—Você me faz feliz, Koldo, — ela disse com sinceridade.
Seu peso voltou sobre ela, pressionando-a, excitando-a. —Espero que tão feliz quanto você
me faz.
—Vamos ver se posso fazê-lo ainda mais feliz. Fique exatamente como está. Não se mova.
—Por quê?, — Perguntou ele, mas mesmo assim obedeceu.
—Eu quero aprender tudo o que puder sobre o homem que amo. Tudo o que você gosta.
Tudo o que você quer.— Eles fizeram coisas antes, mas isso era diferente. Este era um
compromisso, de corpo e alma. Ela lhe daria tudo o que ela era, e conheceriam uma satisfação
como nenhuma outra. Certificar-se-ia disso.
Suas mãos percorreram ao longo dos músculos do peito dele, então no túnel debaixo dos
braços em direção as tatuagens e a suavidade de suas asas. Então, trouxe as mãos para frente
novamente, moveu-se para baixo... Mais para baixo. Sobre as ondulações de seu estômago. As
pernas sem pelos. Os fundos suaves dos pés. Fora as penas, não havia um local maleável sobre ele.
Ele era rocha sólida, a força que ela sempre desejou para si.
E era como seda quente, um uísque suave que intoxicava, derretendo inibições. Ele era tudo.
Era a luz na escuridão. Era... Esperança.
—Nicola, — ele disse entre dentes. —Eu não quero ficar imóvel como estou. Eu quero me
mover.
O seu tom entrecortado a fez tremer. —Então você gosta do que estou fazendo?
—Eu amo.— Uma gota de suor deslizou por sua têmpora. —E odeio.
Uma risada sem fôlego a deixou. —Então, estou fazendo a coisa certa.
—Muito certa, — disse ele em um gemido. —E muito errada.— Suas feições estavam tensas,
os lábios comprimidos. Seu desespero estava crescendo, assim como o dela.
Como ela podia não amar esse homem? Ele nunca tentou ser frio, nunca tentou esconder as
profundezas de seus sentimentos, de seu prazer ou sua necessidade. E, ah, o cheiro de sol que ele
emitia, um cheiro que seu corpo começou a associar com prazer. Agora não foi diferente, e a
necessidade tornou-se impressionante, a fome incomparável.
—Nicola. Eu não posso... Eu devo...— —Em um segundo ela estava pousada sobre ele, no
próximo ele estava pousado sobre ela.— —Está tudo certo, não está?
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 213
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Anjos da Escuridão 02
Com seu peso pressionando o dela, obrigando-a a deleitar-se com sua própria
vulnerabilidade? —Simmm.
Ele era um turbilhão de movimento, alisando as mãos sobre ela, preparando-a para o que
viria a seguir, chamuscando-a com a intensidade de seu calor, arrancando suspiro após suspiro
dela enquanto dava o que seu corpo tão desesperadamente queria.
—Não haverá mais ninguém para você, — disse ele.
—Nem para você.
—Nunca. Estou tão feliz por tê-la encontrado meu amor.
Meu amor. Um carinho mais doce ainda do que seu toque. —Eu também.
Um ronronar de satisfação masculina. —Você é tão macia. Tão quente. Tão minha.
—Tão desesperada por você.— Por tudo o que ele era. Áspero ou suave, apressado ou lento.
Mas ele parou e olhou para ela, intenso e determinado. —Eu quero ser marido e mulher,
antes de gozarmos juntos.
—Aqui, — ela chiou. —Agora?
—Neste segundo.
Ela se derreteu toda novamente... Estava tão ansioso para reivindicá-la legalmente que
estava disposto a colocar o sexo em espera. Quantos homens fariam isso? —Certo, — ela respirou.
—Tudo bem. Mas depressaaaaa. Por favor.
Ele a beijou antes de dizer: —Eu pertenço a você, Nicola. Prometo dedicar minha vida à sua.
—Eu estou feliz. Agora, se você apenas...
—Diga as palavras para mim também.
Oh. —Eu pertenço a você, Koldo.— Esfregou os joelhos contra sua cintura, apertando. —Eu
prometo dedicar minha vida à sua. Agora, você precisa me dizer o que fazer a seguir ou...
—Agora e para sempre.
—Agora e para sempre. Então podemos simplesmente...
De repente, apesar de Koldo não se mover, ela se sentiu dividida em duas, suas costas
curvando-se para fora da cama. Doía. Queimava. E o terrível calor se espalhou como fogo,
liquefazendo seus ossos, incendiando seus órgãos. Ela não era mais um ser, mas dois, e ambas as
partes agonizavam. Mas tão rapidamente quanto as sensações chegaram, elas se foram, e ela caiu
sobre o colchão, ofegante.
—O que foi isso?, — Ela ofegou.
Koldo apoiou-se nos cotovelos. —Estamos casados agora.
—Simples assim?
—Simples assim.
—Como?
—Nossas almas estão ligadas.
—Você quer dizer que somos... Um?— Somente dizer as palavras encheu-a de uma
selvagem satisfação em seus ossos.
—Deste jeito, sim. Agora, do outro jeito.— Ele a beijou novamente, um beijo que afetou
cada centímetro dela, fazendo-a esquecer-se da dor de antes e lembrar-se do prazer por vir. —
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Anjos da Escuridão 02
Estou contente por termos esperado por este momento. Agora você vai ser minha em todos os
sentidos que importam.
—E você vai ser meu.
—Nicola, — disse ele e finalmente ― finalmente― a reivindicou.
Ela gritou. Ele parou, olhando para ela. Preocupação e horror irradiavam dele.
—Estou bem, — ela ofegou. —Estou. Sinto muito. Eu só não sabia o que esperar, e então
estava acontecendo, e agora estou balbuciando, e você não está se movendo, e eu realmente
sinto muito. Por favor, continue.
—Eu te machuquei muito?— Ele perguntou, o esforço de conter-se evidente.
—Não machucou. Juro. Bem, não muito.
Ele não estava convencido. —Você vai me dizer se eu machucar?
—Vou.
Hesitante, ele se inclinou e beijou-a novamente. Suavemente, suavemente. Não demorou
muito para sua paixão se renovar e então, oh, então, eles se casaram no corpo, também. Ela
cedeu a ele sem reservas, aceitando-o, queimando por ele, amando-o, envolvendo-o nos braços,
chorando seu nome, implorando por mais, mordiscando os lábios dele.
—Nunca consigo o suficiente, — respondeu asperamente.
—Fico feliz.— Foi a única palavra que ela conseguiu dizer.
Ele manteve um ritmo lento. Seu olhar encontrou o dela, e se fixou. Ele poderia ter afastado
o olhar, mas não o fez. Olhou para ela como se não houvesse mais ninguém que preferisse ver,
como se estivesse completamente fascinado por ela.
Ninguém jamais a olhou dessa maneira antes.
E eu ficarei com ele. Para sempre.
Nesse momento, alguma coisa profunda aconteceu. A conexão entre eles se aprofundou, e
sua alma cantou a mais linda canção.
Ele é meu. Ele sempre será meu.
Obrigada. Oh, muito obrigada.
Esse amor nunca vai morrer.
Seu coração realmente parecia que se ampliava, recebendo ainda mais amor por ele. Amor,
alegria e paz ― tudo que ele já quis que ela sentisse no mais doce grau.
Ela deu-lhe tudo o que ela era, tudo o que seria um dia, sua respiração emergindo cortante.
Ele deu-lhe tudo o que ele era, tudo o que seria um dia, os músculos apertados debaixo das mãos
dela.
—Amo você, Nicola.
Ele sentiu a intensidade, também, pensou ela. Deve ter sentido. —Amor. Sim.— Ah, o doce
calor... Mais, mais, por favor, mais... Seu coração estava disparado... Seu corpo parecendo se
expandir, assim como o coração, incapaz de conter seu ser mais profundo. —Rápido, — ela
implorou.
Ele obedeceu, os movimentos profundos e seguros.
—Sim. Sim! Koldo, eu vou...— Se desfazer e voar para longe.
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Anjos da Escuridão 02
Capítulo Trinta e Um
Enquanto o sol da manhã chegava ao seu ponto mais alto no céu, lançando raios para dentro
do quarto, a mente de Koldo estava confusa. Nicola estava por cima dele, o queixo apoiado em
seu peito, com os dedos acariciando sua barba, depois ao longo dos planos de seu peito. Ele
estava com a mão espalmada na parte inferior das costas dela, um aperto possessivo para se
assegurar.
Abriu a boca para dizer obrigado de novo, mas cantou ao invés de falar. Não cantava desde a
sua infância, dias antes de sua mãe tirar suas asas. Nunca pensou que cantaria novamente. Nunca
teve motivos. E, no entanto, a sua voz baixa de barítono surgiu, enchendo o quarto, dando a
Nicola esta parte final de si mesmo.
Eu sou seu. Eu me entrego a você.
Quando terminou, ela se sentou para olhar para ele. Ele mais uma vez a cobriu com sua
essência, fazendo com que a pele dela brilhasse como a mais deliciosa sombra dourada e seu
coração se contraiu.
—Isso foi tão bonito.— Seus olhos estavam pesados pela sonolência, molhados com as
lágrimas, os lábios inchados e vermelhos pelos seus beijos. Seus belos cachos vermelhos caíam
emaranhados, protegendo os seios. Era a imagem de uma mulher bem-amada – uma mulher que
ele queria amar novamente. —Que expressão séria, meu famoso guerreiro. No que você está
pensando?
Ele girou um cacho de cabelo em torno do dedo. O sexo não foi o que ele tinha imaginado.
Oh, sabia que corpos nus poderiam se entrelaçar. E, por causa dos beijos e carícias que ele e
Nicola já tinham compartilhado, ele esperava o prazer.
Mas não esperava ter todo o seu autocontrole desfiado por ela. Se soubesse, teria pensado
que odiaria. Em vez disso, adorou cada segundo.
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 216
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Anjos da Escuridão 02
—Eu te contaria, estou satisfeito que você também tenha um cérebro que trabalha
atentamente. Mas apesar disso, você não entenderia.
Uma pausa. Um suspiro. —Será que o sério Koldo deixou escapar uma piada?
—Ele espera que não, — ele disse, tentando não sorrir.
Ela aproveitou. —Estou pensando que alguém precisa de garantias de que fez um bom
trabalho.
—Ele precisa.— E não tinha vergonha de admitir isso. Os sentimentos dela eram importantes
para ele.
—Muito humano da parte dele, — disse ela com um sorriso.
—É justo. Afinal, ele tem um coração humano agora. — Esperava ir devagar com ela,
saborear cada momento, ajudando-a a alcançar gradualmente o clímax, para que o corpo dela não
entrasse em colapso. Em vez disso, ele próprio insistiu em ir mais rápido, para fazer mais, para
fazer tudo o que ela lhe permitisse fazer. Perdeu-se em um mundo de sensualidade –
comprometimento carnal, sim é isso. Não teria gostado de fazer isso com mais ninguém.
Suspeitara antes, mas não tinha nenhuma dúvida agora. Estivera muito vulnerável durante o ato,
todas as suas defesas derrubadas.
—Se eu tivesse que descrever nossa noite juntos com uma única palavra, eu diria...
Huuuuumm.— Ela mordeu o lábio inferior. —Agradável, eu acho.
—Agradável. Você acha?
Uma risadinha borbulhou dela - o tipo que ele queria que ela tivesse. —É. Você precisa de
prática. Selah.
Um grunhido falso retumbou nele. —Eu não vou parar e pensar. Vou começar a agir agora.
— Rolou sobre ela, equilibrando-se sobre seu corpo com uma careta. —Mas antes de eu lhe
ensinar o significado de êxtase - de novo - você vai me dizer como se sente.
—Perfeita.
—Sem fraqueza?
—Não. Estou curada. — Seus olhos se ampliaram. —Estou! Koldo, realmente estou curada!
Meu coração não parou de bater nenhuma vez.
Ela estava... Certa. Nenhuma vez teve demonstrações, ou qualquer sintoma de um defeito
cardíaco. A resistência dela superou a dele. —As toxinas foram embora.
—Sim! Mas, é mais que isso, eu acho. Eu me sinto tão limpa. Tão... Forte.
Sim, isso soou como se mais alguma coisa tivesse acontecido. Como se uma nascente da
Água da Vida tivesse ser formado dentro dela, criado bem-estar e vitalidade. Mas isso significaria
que ela era uma Enviada.
Ele tinha ouvido que esse tipo de coisa acontecia. Mas... Ela seria?
—Eu estou tão contente, — ele disse.
—Eu...— De repente, ela franziu a testa, passou a mão pelo peito. —Algo está errado.
Preciso verificar Laila.
Pela quantidade de vezes que ele sentiu o perigo no qual Nicola estava, não tinha como
desconsiderar sua sensibilidade instintiva. —Claro. — Ele se levantou e vestiu o roupão que havia
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Anjos da Escuridão 02
rasgado. Quando a peça ficou, mais uma vez, em bom estado, foi diferente do que estava
acostumado. Ela abriu-se por trás e quando ele colocou os braços dentro dos buracos, o tecido
adaptou-se em volta de suas asas e trançou as costuras em volta delas.
Puxou Nicola, colocou-a de pé e passou a túnica dela sobre a cabeça, cobrindo suas belas
curvas - com uma pequena careta. Beijou sua testa, e disse: —Aconteça o que acontecer, vamos
passar por isso juntos.
—Eu sei. — Ela estava firme, as faces coradas - sinais bem vindos de seu bem-estar recém-
descoberto.
Koldo teletransportou-a até a nuvem de Zacharel, o romantismo de seu lar cedendo lugar a
funcionalidade da casa de seu líder. —Zacharel, — ele gritou.
—Venha cá. Depressa. Estava prestes a convoca-lo.
Nicola entrou rapidamente, arrastando Koldo com ela. Na sala de estar, Zacharel e Annabelle
se agachavam na frente do sofá, onde Laila ainda estava deitada. Sua pele tinha assumido um tom
amarelado, ela estava se debatendo, gemendo, os dentes revestidos com sangue. Devia ter
mordido a língua.
Nicola correu para frente, empurrou o casal para fora do seu caminho e se ajoelhou ao lado
de sua irmã. —Oh, meu amor. Não.
Zacharel encontrou o olhar de Koldo, levantou-se e reduziu a distância entre eles. —O
coração dela parou, mas fui capaz de reanimá-la,— o guerreiro disse calmamente. —Ela não vai
durar muito tempo.
—Não se atreva a dizer isso, — Nicola se lançou para Zacharel, claramente lutando contra os
soluços.
Algo no peito de Koldo se constringiu. Ele estudou a gêmea de sua esposa. Para sua
surpresa, o Altíssimo, mais uma vez lhe permitiu ver além da pele e ossos, dentro do espírito dela.
Agora havia dois demônios dentro dela.
Eles conseguiram driblar as defesas dela, Koldo percebeu, e seu coração se afundou. Ou pior,
a falta de defesas dela. Como Nicola reagiria quando sua irmã morresse? Laila poderia morrer. Ela
não lutou contra a toxina, mas dera —boas vindas— a ela.
—Os demônios que a afligem...— Koldo começou.
—Eles se foram, — Nicola interrompeu. —Eu sei disso, mas...
—Não, — Koldo disse, arrebentado por dentro. —Eles estão dentro dela, amor.
Nicola enrijeceu. —Não. Não!
—Eu sinto muito.
Violentamente ela balançou a cabeça, dizendo: —Alimente-a com mais Água da Vida.
—Eu não posso ajudá-la se ela não se ajudar.
—Eu vou falar com ela. Vou fazê-la entender. — Ela balançou a irmã, tentando acordá-la. —
Ouça-me, Laila, okay? Você tem que me ouvir. — Nicola sacudiu-a duramente, seu desespero era
evidente.
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Apesar disso, um agonizante gemido foi a única resposta de Laila. Nicola começou a falar,
dizendo-lhe tudo o que ela aprendeu sobre guerra espiritual e a superação de demônios. Ela falava
e falava e falava, mas a condição de Laila não melhorava.
Eventualmente a voz de Nicola se quebrava. Grandes e gordas lágrimas escorriam por seu
rosto. Ela se virou, olhou para Koldo. —Diga-me o que fazer, — choramingou. —Por favor, diga-me
o que fazer para ajudá-la e eu farei.
Espiritualmente, Laila não estava mais forte que quando ele a encontrou no hospital. —
Nicola...
—Não. Não diga isso. Não diga que não há nada que você possa fazer. — Ela bateu no
próprio rosto com as costas da mão. —Tem que ter alguma coisa.
Ele odiava vê-la assim, tão quebrada, tão triste. Sem esperança. Não podia suportar.
E ele não tentou de tudo que estava ao seu alcance para forçar Laila a ouvi-lo, tentou? Ele
concentrou seus esforços em Nicola. Permitiu que a vida o distraísse, cada momento livre que teve
passou com sua mãe ou perseguindo seu pai, mesmo conhecendo o perigo que Laila enfrentava.
Se não tentasse uma última vez, um muro poderia ser erguido entre Nicola e ele. Oh, ela o
perdoaria por qualquer coisa errada que achasse que tinha feito. Se ela sequer o culpasse. Mas
cada vez que ela pensasse nesse momento, ele seria o escalado para o papel daquele que falhou.
Ele teria desistido muito cedo.
Não teria feito tudo o que podia.
E ela teria direito de pensar assim.
O medo o encheu, mas continuou olhando para Zacharel. —Tenho que ir. Proteja as
mulheres.
—O que você...— A resposta tinha chegado do seu líder, porque o macho assentiu. —Tem
certeza de que quer fazer isto?
—Sim, tenho.
Um assentimento da cabeça escura. —Você virá depois?
—Só para dar-lhe o frasco. Se eu ficar, ela tentará cuidar de mim. — E isso só iria
desaprovar o que ele estava prestes a fazer.
Mais uma vez, Zacharel entendeu. —Eu vejo a sua essência sobre ela. Você a reivindicou.
—Sim, eu a reivindiquei.
Ele deu a Koldo outro sábio assentimento. —Manterei as fêmeas em segurança.
—Obrigado. E... Obrigado pelo presente,— disse, abrindo as asas. Virou-se para Nicola. —
Eu tenho que ir, mas voltarei com a Água da Vida. Ganharei mais algumas semanas para ela e
poderemos tentar ensiná-la novamente as verdades que ela precisa para lutar e vencer.
A esperança surgiu em seus olhos e ele lhe deu um beijo rápido antes de se teletransportar
para o reino do Conselho. Não havia tempo a perder.
Um opulento palácio feito de pedra prateada apareceu na frente dele, a estrutura em
camadas saindo de um penhasco íngreme, cada camada em cima de uma torre vermelha escura.
Montanhas cobertas de neve espalhavam-se por trás dele, a névoa caindo em cada um dos picos.
A última vez que estive aqui, perdi o cabelo e a pele das costas.
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Um lento sorriso iluminou o rosto de Dominicus. —Você se tornou mais seguro desde a
última vez que estivestes aqui. Eu aprovo.
Da última vez, ele veio por Zacharel e Annabelle. Da última vez, veio com raiva e ódio no
peito, determinado a fazer o que fosse necessário para capturar sua mãe. Manteve a cabeça baixa,
a voz baixa, com muito medo de ser rejeitado.
Hoje, sabia que não seria recusado. Conhecia seus direitos. Sabia que estava em boa posição
com o Altíssimo, sua raiva amainada, seu passado apagado. Não havia obstáculos em seu caminho.
O que ele queria, queria por amor. E esse sempre foi a maior força de vontade para curar. Ele
nunca quis que uma pessoa sofresse, nem mesmo para aprender uma lição.
—Não temos necessidade de convocar e discutir. Você foi aprovado, — disse Christa com um
assentimento de cabeça.
Como ele sabia que seria. Agora, elaborar os detalhes. —O que devo sacrificar? Darei tudo
o que vocês pedirem, mas gostaria de lembrar que esta não é a maneira do Altíssimo. Ele não
exige nada, só respeito de suas leis.
—Mas nós exigimos, nossas tradições têm que se manter,— Benedictus disse severamente.
—Você ainda quer continuar?
Não houve necessidade de pensar em sua resposta. —Quero.
Uma pausa enquanto os membros se olharam. Em uníssono, concordaram.
—Poderíamos pedir-lhe para ficar longe da humana Nicola, — Katherina disse.
Seu estômago se contorceu. Não. Isso não. Qualquer coisa, menos isso.
—Mas não pediremos, — acrescentou ela. Ele deu um suspiro de alívio. —Vamos tomar suas
asas. Deixa-as aqui. Então, deverá ir ao templo Clerici, onde será chicoteado. Depois, ele o
acompanhará até o portão do Rio. Você concorda?
O rosto manchado de lágrimas de Nicola brilhou diante dos olhos de Koldo. —Concordo,—
ele disse.
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Pelo canto do olho, viu quando uma asa foi colocada no chão, as penas bonitas embebidas
em carmesim, os músculos e tendões, nada mais do que carne crua.
—E agora, a outra, — disse Kafziel.
Koldo manteve a mente em Nicola. Seu rosto bonito, sorridente. Os olhos tempestuosos e
cintilantes. Ela o abraçaria, muito feliz. O beijaria, agradecida.
Valeria a pena.
Não demorou muito para que a segunda asa se juntasse a primeira, e Kafziel ajudou Koldo a
se levantar. Suas pernas tremiam, e o que sobrou de suas costas puxava, esticava, doía e pinicava
– costas que agora seriam chicoteadas.
—A humana poderá desprezar este presente, — Isabella disse tristemente. —Poderá
recusar a Água da Vida, combater seus efeitos.
Ele sabia disso, mas não podia se arrepender de sua escolha. Daria a Laila uma chance. Era
tudo o que podia fazer. Nunca teria que olhar para trás e se perguntar o que teria acontecido se
ele simplesmente tivesse tentado.
—Eu não vou parar agora, — disse ele.
—Vá então para Clerici,— Adeodatus disse com um aceno de cabeça.
—Muitas bênçãos sobre você, Koldo, — os membros anunciaram em uníssono.
Com o pouco de força que lhe restava, Koldo se teletransportou em frente ao portão do Rio
no templo de Clerici. Sua visão já era torpe. Conhecia a área de cor, de qualquer modo. Não havia
grama, apenas sujeira. Não havia árvores, nem flores. Só muita sujeira e um pouco de gordura que
se agrupou ao poste das chicotadas. Em frente a ele subia um portão de ferro que deveria
ultrapassar - se conseguisse andar.
Esperava que houvesse um guarda lá, com um chicote na mão, mas foi Clerici, quem se
adiantou para cumprimentá-lo.
—Olá, Koldo.
Seus joelhos dobraram em frente ao poste, e ele bateu no chão duro. Sua respiração era
irregular, mas podia sentir os aromas de canela e baunilha - uma combinação que surgiu de sua
própria pele. Por mais que tivesse marcado Nicola, ela o tinha marcado.
—Estou satisfeito com você, Koldo. Você colocou o bem-estar de outro antes do seu. —
Clerici diminuiu a distância entre eles. —Não tem ideia do resultado e, ainda assim, você o fez.
Koldo fechou os olhos e não disse uma palavra, não fez nenhuma pergunta.
—O que você está fazendo é uma verdadeira expressão de amor, — disse Clerici, —e eu
elogio você.
Pare de falar!
—Esta é sua última chance de ir embora.
Um músculo tremeu embaixo de seu olho.
—Muito bem,— disse Clerici.
Uma pausa... E então o primeiro golpe caiu.
Couro contra a carne dizimada, e couro ganhou, enviando aos ares pedaços de pele, músculo
e sangue. Koldo cerrou a mandíbula. O segundo golpe foi dado. O terceiro. O quarto. Sua
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Anjos da Escuridão 02
mandíbula doía tanto de tentar conter os gritos que estava certo de que tinha tirado os ossos do
lugar.
Desta vez, imaginou Laila levantando do sofá de Zacharel e fazendo cair a doença como se
fosse um casaco de inverno indesejado. Imaginou as duas irmãs se abraçando, rindo, em seguida,
discutindo as leis espirituais, aprendendo e crescendo e colocando os demônios em seu lugar –
debaixo de seus pés.
O quinto golpe. O sexto.
Ele não tinha mais carne do lado esquerdo, tinha certeza. Cada músculo de seu corpo estava
tenso, tremendo, queimando. Pontos pretos piscaram através de sua visão.
O sétimo. Oitavo. Nono.
Décimo. Décimo primeiro. Décimo segundo.
Enfim Koldo não podia segurar mais. Um grito de agonia irrompeu de dentro dele.
Treze. Quatorze. Quinze.
Inspirava pelas narinas, respirações curtas, ofegantes, e respirava pela boca. O chicote
continuou a cair. Não podia desmaiar. Tinha que ser capaz de passar por aquele portão por conta
própria. Tinha que conseguir a Água e voltar pelo portão. Caso contrário, tudo teria sido em vão.
Depois de 30 golpes, o chicote parou.
—Feito. Está feito.
A cabeça de Koldo pendeu para frente, o rosto apoiado no tronco.
—Nunca se esqueça de que o Altíssimo o cingiu com força, — Clerici disse antes de se
afastar.
O portão em frente a ele abriu com um gemido. Cingiu-me com força? Sim, isso era
verdade. O código estava em seu coração, queimando-o tanto quanto suas costas.
Ele poderia fazer isso.
Arrastou-se para frente, o negro ainda piscando em seus olhos. Quando ultrapassou o
portão de ferro, a sujeira deu lugar a grama, amortecendo suas mãos e joelhos. Sim, ele poderia
fazer isso.
O som de água corrente cumprimentou seus ouvidos, e se obrigou a manter-se em
movimento. A pele arruinada, esticada. Os músculos mutilados, rasgados ainda mais. Um metro,
dois... Ele se arrastava, teletransportando-se vários metros quando podia. A névoa logo saturou o
ar.
Havia dois rios. O Rio da Vida e o Rio da Morte. Todos os que passavam por estes portões
tinham uma escolha. Vida ou Morte. Bênção ou maldição. Um calmo pela brisa fresca, o outro
ardente com um vento cortante. Um era claro e puro, o outro escuro e turvo. Havia aqueles que
realmente tinham escolhido a morte, decidindo cortar sua conexão com o Altíssimo. Caindo
voluntariamente, não querendo fazer parte das leis celestiais.
Na beira do Rio da Vida, Koldo retirou um pequeno frasco de uma bolsa de ar e encheu-o até
a borda, com a mão tremendo. Não posso deixar cair. Se tentasse pegar mais do que o frasco
comportava e derramasse o conteúdo antes de deixar esta área e procurasse apenas repor o
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 223
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líquido perdido, o Conselho saberia e ele perderia a água e tudo o que sacrificou, e nunca mais
teria permissão para chegar a esse local novamente.
Encaixou a rolha no centro. No momento em que foi seguro, colocou o frasco na bolsa de ar
e deu um suspiro de alívio.
Agora, levar o frasco para a nuvem de Zacharel.
Não conseguia percorrer grandes distâncias, teria que fazer um pouco de cada vez. Primeiro,
se arrastou até o portão. Em seguida, se teletransportou para a borda da nuvem. Depois, para a
nuvem ao lado, depois a outra, pulando, ficando cada vez mais perto de Zacharel.
Não, percebeu um pouco mais tarde. Não estava. Estava andando em círculos em torno do
templo de Clerici, percebendo somente quando levantou o olhar. A frustração se juntou a uma
cornucópia de outras emoções.
Imaginou a nuvem de Zacharel. Eu consigo fazer isso. Se teletransportou...
E apareceu no meio do céu, sem nada para lhe ancorar. Caiu em direção à Terra, o vento
batendo nele, e, oh, doeu. Se aterrissasse a essa velocidade, explodiria em tantos pedaços que
seria impossível juntá-los novamente.
Imaginou a casa de Nicola. Estava mais perto, mais manejável. Se conseguisse chegar lá,
poderia convocar Zacharel. Não para ajudá-lo, mas para reivindicar a Água e levá-la para Laila.
Antes que fosse tarde demais.
Vamos. Mais uma vez. Ele teletransportou...
Ainda estava no céu, só que em um local mais baixo.
Teletransportou de novo...
Desta vez, apareceu na sala de estar de Nicola e caiu de barriga com um baque pesado.
Elevou o olhar. Lá estava o sofá que ele tinha deixado para trás e o tapete marrom escuro com
bordas desgastadas e esfarrapadas. Ah, graças ao Altíssimo. Lutando para respirar, alcançou o
frasco com a mão trêmula e o retirou da bolsa de ar.
Zacharel, ele tentou projetar na mente de seu Líder. Fraco como estava, não conseguiu.
Uma sombra caiu sobre ele. —Eu me perguntava quanto tempo você levaria para lutar
contra o meu veneno e nos descobrir, — disse uma voz, uma voz que ele reconheceu. —Eu só não
sabia que você já estaria nas condições que eu queria.
O medo o atravessou. Ela não. Qualquer um, menos ela. Tentou esconder o frasco, mas não
foi rápido o suficiente. Sirena pisou em seu pulso, mantendo-o imóvel.
—Eu sou parte Fae, e como você sabe, alguns Fae possuem habilidades especiais. Posso
bloquear o poder de outros por curtos períodos de tempo. É por isso que você não pode se
teletransportar e o motivo pelo qual não poderia nos encontrar. — O frasco foi arrancado de sua
mão, e um Stiletto foi enfiado nos ferimentos de suas costas, fazendo-o gemer. —O que temos
aqui?— Um instante depois. Ela riu com vontade. —Água da Vida. Como isso é maravilhoso.
—Deixe-me ver isso,— outra voz ordenou.
Não. Não, não, não. Não qualquer um, exceto Sirena, ele corrigiu. Qualquer um, exceto seu
pai.
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 224
Gena Showalter
Anjos da Escuridão 02
Outra sombra. Outra risada, esta profunda, retumbante. —É a Água certamente. A mulher
dele deve estar doente. Ele deve estar tentando salvá-la.
Pop. A rolha caiu no chão e rolou na frente dele.
—Por favor, — Koldo disse, disposto a implorar.
O Stiletto de Sirena se cravava cada vez mais profundamente na sua pele.
—Ah, como eu gosto dessa palavra em seus lábios, — disse Nox – um pouco antes de
derramar o precioso líquido no chão.
Não. Não! Depois de tudo o que ele sofreu, tudo que suportou nas mãos de seu pai – a
oportunidade de Laila foi desperdiçada. Apertou os olhos já fechados. Ele poderia fazer isso de
novo, e faria, mas poderia ser tarde demais.
A Água espirrou no rosto de Koldo, fresca e suave, mas ele apertou os lábios com força, não
permitindo que uma única gota caísse em sua boca. Não iria partilhar da Água até suas costas
estarem totalmente curadas. Beber uma só gota fara com que ele sofresse, e as cicatrizes não se
fechariam por toda a eternidade.
Nox caiu de joelhos, segurou o queixo de Koldo com a mão e obrigou-o a olhar para cima. —
Vamos nos divertir, você e eu.
Thane deixou a humana a quem tinha acabado de dar prazer caída no chão do banheiro e
entrou na boate. As coisas que ele tinha acabado de fazer a ela... As coisas que ela lhe pediu para
fazer... Ela era sua terceira mulher naquela noite. A oitava nos últimos três dias. Normalmente
podia controlar seus desejos. Mas aqui, esta semana, com quanto mais fêmeas se deitava, mais
ele queria, até necessitava. Sexo se tornou tudo no que podia pensar.
Ele parou inteiramente de caçar os demônios.
Algo estava errado com ele. Ainda queria outra mulher. Não tinha certeza de que seu corpo
aguentaria, no entanto. Sua cabeça estava embaçada, os membros trêmulos.
Uma luz estroboscópica lançava raios coloridos sobre a pista de dança. Um rock pulsante e
alto explodia nos alto-falantes e os corpos se contorciam e se esbarravam. Vários perfumes e
colônias se mesclavam no ar, criando um enjoativo mosaico. Saiu do prédio e daquele calor para o
frio da noite.
Seixos ao longo da calçada o fizeram viajar. A lua era uma mera lasca, o céu escuro, onde
apenas algumas estrelas eram visíveis. Havia postes, mas as lâmpadas eram fracas, destacando
apenas pequenos círculos.
Normalmente, suas asas ficavam escondidas em uma bolsa de ar. A túnica envolvia seu
corpo em forma de uma camiseta e calça, ambas negras. Uma onda de tontura o atingiu enquanto
continuava a impelir-se adiante e teve de se encostar-se a um edifício para permanecer em pé.
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 225
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Anjos da Escuridão 02
Bjorn, Xerxes, ele projetou. Não falava com eles desde... Seus primeiros dias em Auckland,
percebeu, com uma careta. Isso não era de seu feitio. Não era do feitio deles. Por que não
tentaram, pelo menos conversar com ele?
Eles viriam aqui e o tirariam desta espiral. Os três juntos poderiam controlar os demônios.
Lutar juntos. Vencer juntos.
Silêncio.
Sua carranca se aprofundou. Eles nunca iriam ignorá-lo. O amavam.
Algo tinha que estar errado com eles, também.
—Ei, você, — uma voz feminina chamou.
Ele parou na entrada de um beco e virou só porque reconheceu a voz. Era a mulher que ele
deixou no banheiro. Ela parecia diferente na vertical. Suas roupas estavam desalinhadas,
enrugadas e o cabelo escuro na mesma condição. Os olhos castanhos brilhavam de excitação. Um
tom brilhante coloria suas bochechas.
A sensação de mau agouro o abateu enquanto lutava para se concentrar nela.
—Você deixou algo para trás, — disse ela, quase o alcançando. Ela estendeu o braço, com o
punho fechado.
Uma pena? —Mostre-me.
Lentamente seus dedos se desenrolaram. Mas... Nada havia em sua palma.
—E o que é?
Um sorriso curvava os cantos de seus lábios. —O seu orgulho.
Raiva bateu por ele. Fora julgado muitas vezes recentemente. —E o seu orgulho? Eu falei
apenas cinco palavras com você antes que viesse para o Box do banheiro comigo.
Sua diversão só aumentou. —Quer saber um segredo bem guardado das Fênix, Enviado? Nós
podemos nos tornar qualquer um. — Enquanto falava, seu rosto se transformou. O cabelo escuro
tornou-se dourado e escarlate. Os olhos castanhos tornaram-se verdes. Orelhas arredondadas
desenvolveram pontas nas extremidades. Dentes humanos cresceram até virarem presas.
A Fênix.
Sua Fênix. Kendra.
Um segundo depois, sua imagem mudou novamente. Para a mulher que ele teve na cama
hoje de manhã. Um segundo depois, a imagem mudou novamente. Para a mulher que possuíra
antes disso. Outra mudança. A fêmea com quem ficou na noite passada. Vez após outra, ela
transformou sua aparência, até que ele viu todas as oito fêmeas humanas com quem
supostamente havia transado.
Engoliu um bocado de palavrões sombrios. —Como você sabia onde eu estaria?
—Eu não sabia. O segui. — Ela jogou o cabelo sobre o ombro. —Mas você não percebeu, não
é? E não tinha a menor ideia. Isso não é muito militar da sua parte, não é?
Sorrateiramente ele alcançou as próprias costas, na bolsa de ar que mantinha amarrada à
cintura. Seus dedos se fecharam em torno do cabo de uma adaga.
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—Você me levou de volta para o meu povo e eles me obrigaram a casar com um guerreiro.
Mas eu fugi na manhã após a cerimônia e usei o dinheiro que tinha guardado para conseguir que
removessem minhas algemas de escrava. Há pessoas especializadas nisto, sabe?
—Seu marido virá atrás de você.
—Sim. E atrás de você, também. — Um riso tilintante. —Quer saber um segredo bem
guardado da Fênix? Quando não somos escravos, podemos escravizar. Toda vez que você dormiu
comigo nos últimos dias, sua necessidade por mim aumentou. Não percebeu?
A raiva brotou, afiada e irregular. Ela queria que ele ficasse viciado em seu corpo. Ele tinha
sido um prisioneiro antes e jurou nunca mais suportar tal inferno novamente. Jurara destruir
qualquer um que sequer tentasse.
E sempre mantinha suas promessas.
Não se deu tempo para pensar sobre suas ações e quão baixo estava prestes a afundar ou na
punição que poderia enfrentar. Não perdeu tempo em ameaçar a garota. Ameaças obviamente
não iriam funcionar com ela.
—Eu não sou escravo de ninguém, — disse ele.
E atacou.
Em segundos, a ponta de sua adaga estava fincada no peito dela. Seus olhos se arregalaram
com... Não confusão ou dor, como ele esperava, mas com alegria.
—Obrigada, — ela ofegou. —Foi mais fácil do que eu pensava.
Seus joelhos cederam e ela caiu no chão. Ficou deitada lá, ofegante, sangue vermelho
derramando dela, seu batimento cardíaco já não mais sustentando-a, mas a matando, bombeando
e bombeando e bombeando a vida para fora de seu corpo.
—Eu vou pegar fogo, transformar-me em cinzas e renascer... Serei mais forte... E você será
para sempre meu.
—Não, — ele rosnou. Não. Não iria acreditar nisto.
Uma risada soou à distância.
Virou-se, lutando contra outra onda de tontura e observou enquanto uma sombra se
esgueirava do telhado do prédio ao lado para baixo pela parede. Olhos vermelhos brilhavam do
centro da escuridão. Outra sombra a seguiu e depois outra. Então sombras começaram a se
esgueirar do telhado de outro edifício.
Demônios.
Muitos, mais do que podia contar. Talvez mais do que poderia combater sozinho, mas
adorava o desafio. Partir seria convidá-los a ferir os seres humanos por perto.
—O menino bonito que esteve à minha procura, pelo que ouvi dizer, — uma voz maligna
proclamou. —Ele quer me punir por ajudar a matar o seu precioso Rei.
Um coro de risadas ecoou.
Thane entrou no reino espiritual e pegou sua espada de fogo, as chamas crepitando,
produzindo uma luz amarela e azul muito mais quente do que as encontradas no inferno, pois
eram puras. As criaturas pareciam óleo de motor que foram misturadas com sangue e congelado.
Eram bolhas e eram perigosas.
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—Eu vou matar você, — ele prometeu com os dentes cerrados. A vertigem se intensificou,
em vez de se desvanecer e estava tendo dificuldade para ficar em pé. Caindo... Caindo... Não!
Reafirmando-se, mais uma vez inclinando-se contra o prédio.
—Vamos descobrir, — a voz maligna gargalhou. —O último a ficar de pé, ganha.
Cada sombra deslizou dos prédios, subindo pelo ar e clamando por Thane.
Girou a espada para a esquerda e para a direita e se arqueou pelo centro, cortando várias
criaturas através do estômago. As sombras chiaram uma e outra vez, mas nenhuma caiu do ar.
Continuavam a aproximar-se dele. Agarrou uma adaga com a outra mão, mas o metal não lhes
causou dano, atravessando-os completamente e fazendo com que as criaturas rissem com mais
vontade.
Uma brisa soprou atrás dele, e soube que algo estava tentando deslocar-se sobre ele.
Abriu as asas, espanando várias sombras para longe e se arremessou no ar, girando as
criaturas que pensaram em sujeitá-lo por trás. Mais sombras convergindo. Ele bateu, tomando o
que parecia ser suas cabeças. Em vez de caírem, no entanto, eles desapareciam.
Thane sabia que seria melhor permanecer em perpétuo movimento, nunca permitindo que
nenhum deles o agarrasse. Correu para o lado de um edifício, em seguida para o outro lado e
depois para o chão e depois para o telhado. A espada, constantemente oscilando. Eles o seguiram.
Por três vezes ele quase caiu. Uma vez caiu de joelhos, mas conseguiu saltar de volta.
De repente, Bjorn apareceu voando, seguido por Xerxes. Ambos aterrissaram ao seu lado,
flanqueando-o. Ficou tão abalado pelo alívio que voluntariamente caiu de joelhos.
—Você não liga, não escreve,— Bjorn disse, saltando em movimento, com a espada de fogo
já desembainhada e balançando.
—Eu tentei, — ele brincou. —Mas não consegui.
—Depois do que tivemos que abrir mão para chegar aqui, depois do que tivemos que fazer
para encontrá-lo, você nos deve uma, — disse Xerxes, passando para as sombras com suas
espadas curtas.
—Pagarei com o maior prazer.
—Os asseclas do conflito, — disse Bjorn. —Sempre provocando brigas. Vamos dar-lhes uma
surra.
Separaram-se, dividindo a atenção das criaturas, pulando, mergulhando, voando para uma e
outra direção, lançando, chutes, socos, mas somente a espada de fogo causava danos. Uma das
criaturas finalmente conseguiu envolver-se em torno de sua cabeça como um escuro cobertor,
sufocando-o.
Gritos, gritos, tantos gritos. Arranhavam seus ouvidos, agrediam sua mente. Pensou ter
ouvido seus amigos gritando ao fundo, mas... Mas... Gritos, tão altos, tão altos e eram dele,
percebeu, vindo dele, do seu passado, do presente, misturando-se, sangrando muito,
encharcando-o.
Muito em breve, as cenas de seu passado se levantariam e se juntariam à festa. As mulheres
com que se deitou e abandonou. Os humanos que simplesmente matou para pegar aos demônios.
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Anjos da Escuridão 02
Os guerreiros que traiu depois de seu retorno do calabouço do demônio. As vezes que riu quando
tinha vontade de chorar.
Então, de repente, uma chama de luz explodiu e as trevas o abandonaram.
Thane caiu para frente, aterrissando de cara. Piscou rapidamente, a neblina em volta
lentamente diluindo, até mesmo enquanto o sangue escorria em seus olhos. Viu Xerxes e Bjorn,
ainda lutando contra as criaturas das sombras, desacelerando, estirando-se, retirando-se com os
tornozelos e joelhos mancando. Os dois guerreiros ficaram perto, protegendo Thane o melhor que
podiam.
Devo ter aterrissado sobre a Fênix, ele pensou. Isso tinha que ser sua pele ainda morna o
amortecendo, não, não morna, mas quente. Muito quente. De alguma forma, na morte, ela estava
se aquecendo, prestes a pegar fogo, por conta própria.
Assim como ela prometeu que faria.
Uma das sombras escapuliu, ficando por baixo, correndo para fora do caminho por qualquer
lado que Bjorn ou Xerxes atacassem e conseguiu agarrar-se a perna nua de Kendra. A criatura ria
como um maníaco, pouco antes de Xerxes decapitá-la.
A sombra desapareceu e Thane viu que uma chama finalmente se acendeu na ponta do
dedo do pé de Kendra. Essa chama se intensificou, espalhando-se. Logo, o pé inteiro foi engolido.
O tornozelo. Panturrilha.
O inimigo desvaneceu e os poucos restantes perceberam que não podiam ganhar e
retrocederam. Colaram-se as paredes do edifício e deslizaram para cima e sobre o telhado.
Covardes!
Thane se moveu para longe do corpo de Kendra. Suas coxas foram as próximas a pegarem
fogo, em seguida, o tronco, braços, peito. O rosto. Cabelos. Cada centímetro dela estava
devastado, torrado e então ela se foi, cinzas flutuando no ar.
Ela iria se renascer. Prometeu isso também. E seria mais forte.
Ele seria seu escravo.
Cada gota de seu ser rejeitava este conceito.
Xerxes pisou ao lado de Thane. —Está tudo bem, meu camarada?
Sua voz soava distante. Thane tentou abrir a boca para falar, mas não tinha forças.
Bjorn deu um passo em direção a ele, parou e franziu a testa. Olhou para seu pulso, onde
havia um arranhão negro, depois de volta para Thane. Confusão brilhava em seus olhos de arco-
íris. Sua carranca se aprofundou. Seus joelhos desabaram.
Xerxes correu para ele, mas...
Bjorn desapareceu.
Desapareceu como se tivesse se teletransportado. Uma capacidade que não possuía. Ou,
como se alguém ou algo o tivesse teletransportado.
—O que aconteceu?— Xerxes gritou. —Bjorn. Bjorn!
Thane lutou para se sentar. Seus amigos. Tinha que ajudar seus amigos. Eles eram o mundo
para ele. Significavam tudo. Não era nada sem eles. Mas a vertigem voltou, inundando sua cabeça
e a fraqueza se derramou em seus membros e só conseguia ficar ali, ofegante, até que desmaiou.
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Anjos da Escuridão 02
Nicola estava sentada ao lado da cama de sua irmã no hospital. Tanta coisa havia mudado
desde a última vez que tinha feito esta dança terrível e ainda assim, Laila ainda era arremessada
em direção à morte.
Se nos encontrarmos de novo nessa situação e tenho a sensação de que vai acontecer, quero
que você me deixe ir.
Não, Nicola dissera na época.
Nunca, ela dizia agora.
Antes, ela não tinha esperança. Agora, era diferente. Mais forte. Mais inteligente. Sabia que
havia uma maneira. Mas sua irmã não sabia e mudar sua mente era o que importava agora.
Sua preciosa Laila, ela pensou, lágrimas marejando em seus olhos. Havia tubos no peito e
braços de sua irmã. A pele já tinha amarelado. Ela entrou em coma e os médicos disseram que
nunca iria acordar. Estava drogada, mas não sem sentir dor, apresentava contrações e seus
músculos se tensionavam.
A cada vez Nicola repetia o que tinha aprendido com Koldo, fortalecendo os sinais vitais de
Laila, mas no momento em que parava de falar, os sinais vitais despencavam. O sono tornou-se o
inimigo de Nicola.
Zacharel fez o que podia para manter Laila viva, mas no final, já precisava de ajuda. Então,
voou com Laila para o hospital. Postou dois Enviados em cada lado de Nicola e eles estavam agora
de pé no corredor, dando-lhe um tempo com sua irmã. Para dizer adeus.
Onde está você, Koldo?
Ele esteve desaparecido por dois dias. Zacharel estava procurando por ele.
Zacharel, que dissera que Koldo tinha ido obter mais água, só porque Nicola tinha pedido e
que deveria ter retornado até o final do primeiro dia. Isso não era tudo o que ele disse, é claro.
Mesmo apenas lembrando-se do resto, Nicola estremeceu.
Seu homem foi chicoteado. Antes disso, foi ordenado a desistir de algo precioso para ele. A
mente dele deve estar uma bagunça. Eu pedi que nosso líder nos desse os detalhes, mas ele me
disse que não eram dele para compartilhá-los.
Era tão ruim que ela queria voltar para aqueles poucos minutos dentro da nuvem de
Zacharel e impedir Koldo de sair. Mas foi por isso que ele saiu sem lhe dizer para onde ia. Para que
ela não pudesse detê-lo. Estava fazendo isso por ela. Sofrendo por ela.
Tenho que encontrá-lo. No entanto, não podia deixar sua irmã para... Para... Simplesmente
não poderia deixar sua irmã sozinha.
E se tivessem pedido a Koldo para abrir mão de Nicola?
Seu estômago se torceu em mil pequenos nós e teve de engolir um gemido de dor.
—Isto é por mim, CoCo.
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A voz de Laila perfurou o silêncio da sala e Nicola se sacudiu com o choque. Claros olhos
cinzentos a observavam, nenhum indício de dor evidente.
Dentro dela, a esperança e a confusão colidiram com o choque, criando uma mistura
inebriante que a deixou tonta. —Você está acordada.
—Só por um momento.— Os lábios rachados se curvaram em um sorriso suave. —Você tem
que me deixar ir, meu amor. Está na hora.
Não. Absolutamente não! —Eu te disse antes. Não posso. Não vou. Nicola veementemente
balançou a cabeça. —Você pode superar isso.
Uma risada fraca reverberou entre elas. —Sempre a mais forte... Bem como a mais sensível.
Eu não quero que você fique olhando para trás e se culpando. Você fez tudo que podia. Recusei-
me a ouvir. E não quero que você tenha medo. Eu não tenho. Não mais.
—Eu não tenho medo, também.— Só estou arrasada. —Você vai ficar melhor. Koldo foi
buscar uma água especial para você. Ela a ajudou antes, e...
—Não, meu amor, estou pronta agora. E pairei entre o natural e o espiritual por um tempo e
tenho algumas coisas combinadas com o Altíssimo. Ele realmente é maravilhoso, sabe? Eu pedi
uma chance de dizer adeus e Ele concedeu.
—Não diga adeus. Eu quero que você fique,— ela sussurrou com a voz entrecortada.
—Eu sei que você quer, mas o medo... Foi feio e eu me deixei arruinar. Pelo menos agora
estou indo para um lugar melhor e um dia estaremos juntas de novo. Por agora, você tem uma
vida para viver. As coisas que você vai ensinar as pessoas... Olha o que você já fez por Koldo.
—Laila...
—Eu te amo, CoCo. — Uma voz tão mansa.
—Não faça isso. Por favor.
—Já está feito.
Não haveria nenhuma mudança de caminho para sua irmã, percebeu. As lágrimas
escaparam, descendo pelas faces de Nicola, uma após a outra, queimando a pele. Estendeu a mão,
pegou a mão frágil de sua irmã e entrelaçou os dedos.
—Eu também te amo, LaLa.
Laila sorriu novamente e deu seu último suspiro.
Nicola andou pelas ruas de seu bairro de infância em uma nuvem entorpecida. A seu pedido,
seus guardas voaram com ela até aqui e agora seguiam discretamente atrás dela. Não conseguia
parar de imaginar a forma como a cabeça de sua irmã pendeu para o lado, o desvanecimento do
brilho de seus olhos, deixando-os vidrados, sem vida. Máquinas apitaram como loucas e
enfermeiras correram para dentro. Mas desta vez, não tentaram salvar a menina. Sabiam que não
conseguiriam.
Desligaram as máquinas, deram um tapinha no ombro de Nicola e deixaram-na sozinha.
O silêncio a cercava. Um silêncio pesado, opressivo. Só foi capaz de ficar sentada lá, as
lágrimas continuando a deslizar por suas bochechas.
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O pensamento subiu de algum lugar profundo dentro dela, onde o instinto habitava. Sim. Ela
decidiu lutar e lutaria.
Eles gostavam de medo e desespero e então, iria dar-lhes alegria e esperança.
Fechou os olhos e pensou em Koldo. Seu marido. Seu lindo marido. Ele a amava e ela o
amava. Nada mais importava. Iria encontrá-lo e ficariam juntos novamente. E daí se ele tivesse
sido intimado a desistir dela? Ela não tinha concordado com esses termos. E não prometera abrir
mão dele.
Iriam lutar esta guerra juntos.
Sua mão começou a arder.
Olhou para baixo e viu quando uma espada de fogo aparecia em sua mão. Gritou e quase
deixou cair a arma, tão grande foi sua surpresa. Mas de alguma forma manteve seu aperto. O cabo
estava quente e leve enquanto fazia dançar as chamas crepitantes através do ar.
Agora, os demônios se afastavam dela, seus corpos sacudidos por grandes tremores.
—Onde você conseguiu isso?— Um deles engasgou.
—Isso não pode estar acontecendo,— gritou o outro.
Eles abriram suas asas, com a clara intenção de voar para longe.
Se eu vou agir, tenho que fazê-lo agora.
—Vocês escolheram o alvo errado, — disse ela. Com um único balanço do braço, Nicola
decapitou as duas criaturas. Suas cabeças rolaram e os corpos caíram. Sangue negro se agrupou
aos seus pés e satisfação se reuniu em seu coração.
A batalha começou.
Magnus e Malcolm viraram a esquina voando, ambos segurando suas próprias espadas de
fogo.
A dela era maior.
Eles pararam quando a viram.
—Você... Você...
—Como...
—Vocês estão tão chocados quanto eu, então vamos discutir isso mais tarde, tudo bem?
Você sabe onde Koldo está?— Ela indagou.
Era hora de começar sua caçada.
Koldo foi transportado para o ninho subterrâneo de seu pai que havia sido transferido para a
casa de Koldo, em West India Quay. As paredes eram compostas de rocha escura e irregular, a
piscina que uma vez foi de água pura, agora era de cor escura. Havia cerca de trinta soldados
Nefas vestidos com tangas, parados em torno de uma tenda cor de carne, à espera de uma
oportunidade para tecer elogios a Nox pela captura de Koldo.
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queria. Mas veja bem, sua mãe estava ajudando a defender uma tribo de humanos empobrecida
que eu queria como meus escravos. Eu a capturei, também. Ah, como ela lutou contra mim.
Um enjoo de repente bateu no estômago de Koldo.
—Eu rapidamente a coloquei em seu lugar, é claro. Debaixo de mim.
Estupro, Koldo pensou, o estômago agora pesado.
Sua mãe fora estuprada. Koldo foi o resultado. Devia ter adivinhado, mesmo quando ela
afirmava querer o homem, provavelmente era a vergonha de admitir a verdade. Em vez disso,
ficou tão cego por seu ódio e sua necessidade de fazê-la sofrer, que zombou dela sobre ser
obcecada por Nox. Não era à toa que ela cuspiu nele.
Culpa e vergonha juntou-se a humilhação de Koldo, a mesma mistura tóxica com a qual lidou
a maior parte de sua vida. Não estava desculpando o comportamento de sua mãe. Mas ela foi
machucada e então revidou. Koldo foi ferido e também revidou. Ele deveria ter quebrado o ciclo.
—Eu me aproveitei dela muitas e muitas vezes e decidi mantê-la, — continuou Nox. —O dia
em que ela deu à luz, cometi o erro de libertar suas amarras. Ela escapou, levando-o com ela. Eu a
procurei, mas ela se escondeu muito bem.
E esta foi, provavelmente, uma das razões pelas quais ela nunca quis que seus amigos o
vissem, Koldo pensou, não porque tivesse vergonha de sua feiura. Ela não queria que as palavras
viajassem e chegassem até Nox.
—Vou... Destruir... Você. — As palavras saíram dele, incontroláveis.
Ele o destruiria. Faria tudo o que precisasse para cumprir sua palavra.
Iria se fortalecer. E iria sair dessa.
Nox bufou e mesmo isso era presunçoso. —Você não pode sequer proteger a si mesmo e
acha que vai me derrubar? Não, Koldo, não é assim que vai funcionar. Você vai se curar e vai se
casar com Sirena. Vai fecundá-la com um filho nem que eu mesmo tenha que roubar sua semente.
Uma vez que ela tenha um filho, não terei mais uso para você.
E ele seria assassinado.
—Até então, conheça o seu companheiro de cela. — Nox gesticulou para a sombra que
Koldo tinha visto no canto da gaiola. —Acredito que vocês se conhecem. Seu nome é Axel. Ele é
um Enviado, assim como você e vai matá-lo se quiser que sua Nicola sobreviva ao que eu planejei
para ela.
Passos soaram... Distanciando-se...
—Mentiroso, — Koldo tentou gritar, mas só conseguiu sussurrar. Nicola estava segura. Axel
estava seguro. Não iria acreditar no contrário.
—Desta vez ele não está mentindo, — ouviu Axel dizer calmamente.
O quê? Koldo tentou sentar-se. Não... Não! Tenho que deixar Axel em segurança. Não podia
permitir que ele sofresse. —Você deve escapar. Agora.
—Não, nada disso agora. — As mãos quentes acariciaram o couro cabeludo de Koldo. —
Estou exatamente onde queria estar.
Koldo relaxou, mas apenas ligeiramente. —Como... Você foi capturado?
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—Você sabe, o de sempre. Eu estava passeando por um beco abandonado, fingindo estar
indefeso e boom, alguém me agarrou.
Então... Ele estava aqui de propósito?
—Os Nefas estavam me seguindo há dias. Eu só deixei-os me pegar.
Koldo estava atônito. —Por quê?
—Como se eu realmente quisesse me separar de um novo parceiro.
Não. Não, não era isso. Axel se preocupava com ele. Axel colocara o bem estar de Koldo
acima do dele. E agora, Koldo deveria feri-lo para salvar Nicola? —Não deveria... Estar aqui. Eu
quero que você vá embora.
—De jeito nenhum. Eu lhe disse. Estou exatamente onde quero estar.
—Sinto muito. Você não tem permissão para me ajudar. A Agua... Você vai sofrer.
—Quem falou qualquer coisa sobre ajudá-lo?
Então o que? Qual era o plano? Qual era o propósito disso?
—Basta sentar-se e aproveitar o show, mano, — disse Axel e Koldo ouviu a diversão em seu
tom.
—Tenho a sensação de que você vai gostar disto. Seu dia está prestes a ser salvo e pela
pessoa mais improvável.
—Quem? Como?
—De jeito nenhum que eu vou estragar a surpresa.
Koldo não se conteve. Colocou-se em uma posição sentada e colocou o braço ao redor de
Axel. —Obrigado.
—Não tem medo de abraço de homem, estou vendo, — o guerreiro disse, claramente
desconfortável.
Koldo o segurou mais apertado.
—Sério? Isso está mesmo acontecendo?
—Eu te amo, cara.
Axel limpou a garganta e passou um braço em torno dele, também. —Eu também te amo.
Mas vou fingir que é a dor que esta falando por nós dois. E se você alguma vez disser algo a
alguém sobre ter ouvido qualquer tipo de tremor na minha voz, eu te mato.
Nicola estava de pé no centro do quarto espaçoso situado em um alto palácio nos céus. Uma
vida inteira parecia ter se passado desde que fora trazida até aqui, mas na realidade, foi apenas
meia hora. Malcolm e Magnus convocaram Zacharel, disseram-lhe o que testemunharam e o
guerreiro de cabelos escuros aproximara-se dela e a trouxera até ali.
Ele ainda não tinha dito uma palavra.
Ainda estava em carne viva sobre a morte de sua irmã, ainda se perguntando onde Koldo
estava e cada vez mais determinada a encontrá-lo, a cada segundo que passava. Precisava estar lá
fora, agora, procurando por ele.
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Ele estava ferido. Sentia isso profundamente dentro de si, um conhecimento que sua
consternação por Laila havia encoberto. Mas que não estava mais escondido e fazia crescer uma
urgência dura sobre ela. Se estava ferido por chicotadas ou algo mais, ela não sabia. Mas saberia.
Em breve.
—Eu tenho que partir, — disse ela.
Zacharel balançou a cabeça.
Homem frustrante! —Assim que eu descobrir como aterrissar na Terra sem ficar achatada,
você não será capaz de me deter.
Ela olhou em torno do quarto, procurando por uma janela que não tivesse três mil metros
ou mais de queda livre. Viu colunas de alabastro, com hera torcida da base até o teto. O chão era
de ébano, marfim nas paredes, tapeçarias deslumbrantes penduradas em cada uma delas. Mas
sem janelas. A única saída era a porta, agora guardada por dois guerreiros alados com espadas de
metal.
Respirou fundo. O ar tinha um cheiro limpo, fresco e puro. Como se nunca tivesse sido
contaminado pelo mal. Olhou para cima. O teto era abobadado, com Enviados pintados por todo
ele, não, não pintado, percebeu. Não era pintado de maneira nenhuma. A cúpula era feita de
cristal e com vista para um reino mais elevado dos céus.
Lá, ela viu... De jeito nenhum... Mas lá estava sua preciosa Laila, de pé ao lado de um homem
jovem e bonito com o cabelo... Vermelho...
Robby? Era o seu Robby, totalmente crescido? Os olhos de Nicola se arregalaram. Os dois
estavam se abraçando e dando risadas, sorrindo tão felizes que fez doer o peito de Nicola.
Estavam juntos novamente.
Alegria se depositou diretamente em seu coração, enchendo-o, transbordando-o. Um dia,
Nicola e Koldo se juntariam a eles. Tivera o conhecimento disto antes, mas agora, a certeza
afundava profundamente em seu espírito, cobrando vida. Sim, um dia.
Mas não hoje.
—Koldo precisa de mim, — disse ela. —Eu tenho que...
Um homem de aparência despretensiosa de repente andou na frente dela, atraindo sua
atenção. Tinha cabelos escuros e macios e olhos escuros. Usava uma túnica branca, com as mãos
ancoradas atrás das costas.
Ah, bom. Alguém mais para se incomodar com isso. —Senhor, — disse ela. —Meu nome é
Nicola, sou humana e preciso...
—Meu nome é Clerici.
—Clerici. Oi. Prazer em conhecê-lo. Eu tenho um problema e...
—Os Enviados não são anjos, sabe? — Ele disse, interrompendo-a novamente. —Somos
muitas vezes chamados de anjos e às vezes nos referimos a nós mesmos dessa forma, mas se
quebrarmos os pedaços, não somos anjos. Na verdade, somos seres humanos com habilidades
especiais. E sim, temos maior expectativa de vida e asas. Também combatemos o mal.
Ceeer-to. Tentando novamente. —Senhor. Eu sei de tudo isso. Foi explicado para mim. Mas
realmente preciso...
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Anjos da Escuridão 02
—Nosso povo serve ao Altíssimo, que é uma Santíssima Trindade , — ele continuou. —O
Misericordioso, o Ungido e o Poderoso. Nós e você, fomos criados à Sua imagem. Somos espíritos,
temos uma alma e vivemos em um corpo. Seu espírito é a sua fonte de poder, que vive para
sempre e sua alma é sua mente, vontade e emoções. Tenho certeza de que você está bem
familiarizada com seu corpo.
—Estou. Agora. Gostaria de partir e...
—O Altíssimo deu a cada um de nós uma espada de fogo. A espada que você empunhou, —
disse ele e parou. Apenas parou e olhou para ela com uma expressão enigmática.
—Ei, você não pode estar mais surpreso do que eu. Mas não há tempo para refletir sobre as
razões. Koldo está lá fora e precisa de mim e eu vou encontrar...
—Você não empunhou uma espada porque se casou com Koldo, apesar de que isto tenha
um papel, eu acho.
Argh! Será que ele nunca permitiria que ela terminasse uma frase?
—Você a empunhou porque foi adotada pela família do Altíssimo. Esta adoção é a
verdadeira origem de um Enviado. Talvez um dia você até mesmo tenha asas. Agora, no entanto,
você vai lutar por nós.
Espere, espere, espere. Ela era agora um ser sobrenatural, destinado a unir-se ao exército
deste guerreiro? Cabeça... Girando... —Estou feliz em ajudá-lo. De verdade. Mas irei atrás de
Koldo primeiro, — disse apressadamente antes que o homem pudesse detê-la. Faria o que fosse
necessário para conseguir. —Vamos falar sobre todas essas outras coisas quando ele estiver em
segurança.
—Eu sei onde ele está, — disse Zacharel. Suas primeiras palavras desde que isto começou.
Nicola girou para encará-lo. —O quê! Por que ainda não me contou? Onde ele está? O que
aconteceu?
—Não havia nada que você pudesse fazer para ajudá-lo. Apenas o teria prejudicado. E minha
atenção foi e é necessária em outro lugar, onde possa fazer algum bem. Outro dos meus
guerreiros está desaparecido e seus amigos estão perto do ponto de ruptura.
—Mas... — Nicola começou.
—A parte sobre Koldo é verdade, — disse Clerici, interrompendo-a. Novamente. —Nenhum
Enviado que tenha sido chicoteado pela Água da Vida pode ser ajudado até que seus ferimentos
cicatrizassem.
—Isso é loucura!— Ela ofegou.
—Eu concordo. Tentei convencer o Conselho a abolir a tradição, mas eles insistem em
continuar do jeito que Germanus fazia. Vou continuar a trabalhar nisso, no entanto. Mas até
conseguir, ajudar Koldo é condenar a si mesmo à mesma dor que ele agora sofre. — Ele se virou
para Zacharel. —Para todos, menos para ela. Ela pode ajudar Koldo. Ela é sua outra metade, uma
extensão de seu ser. Tudo o que fizer para ajudá-lo seria como se ele mesmo estivesse fazendo.
Um músculo tremeu na mandíbula de Zacharel. —Escoltá-la até ele, seria como matar a mim
mesmo, porque não posso lutar contra os Nefas. Não estou ligado ao guerreiro, assim, qualquer
coisa que eu faça em seu benefício antes que ele esteja curado seria considerado auxílio.
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Anjos da Escuridão 02
Até mesmo a menor luz pode crescer até que não haja mais escuridão.
Nicola nunca havia ido à guerra. Bem, não no reino natural, lutando com seu corpo físico.
Mas mesmo se tivesse, sabia que nada a teria preparado para isso.
Zacharel voou com ela para o lado de um edifício em algum lugar no qual não tinha mais
certeza de onde era. Havia múltiplas estruturas, uma ponte, água, pássaros negros em todas as
direções e o ar estava muito gelado, até mesmo úmido. Havia cerca de quinze soldados com ele,
voando ao lado dele e, oh, eram uma visão majestosa.
O céu estava escuro, a lua alta, estrelas cintilavam a distância. Os Enviados, de alguma forma
tinham colorido suas asas de negro com faíscas de minúsculos diamantes ao longo das penas e os
longos apêndices misturavam-se perfeitamente à noite.
À esquerda, conseguia distinguir o belo rosto de Jamila. Havia medo em seus olhos, mas
também um pouco de excitação. Minha colega de trabalho é uma Enviada e eu não tinha ideia. E o
que era aquele barulho? Chocalho... De cauda de cobra? Farfalhar de grama não aparada? Silvo de
um animal que está sendo ameaçado?
—Demônios Serpe, — Zacharel disse. —Como tenho certeza que você sabe, são quase tão
malignos quanto os Nefas e são venenosos para toda a vida. Alimentam-se de destruição.
Os Nefas eram piores e Koldo era aparentado a um. Mas olhe para tudo o que ele fez para
superar sua herança e seu passado. Ele poderia ter nascido para ser vil, mas se arrastou para fora
deste destino e já não era uma parte dele.
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Anjos da Escuridão 02
Olhos verde jade se fixaram nela. —Estas criaturas desejam ferir Koldo. Você pode matá-las?
—Sim. — Sem hesitação. O mal não seria tolerado.
—Ótimo. Porque eles nos sentiram, o que significa que soou o sinal de largada. — Para os
outros, ele gritou, Somente matem aqueles que se aproximarem da garota.
De alguma forma, as palavras reverberaram em sua mente, em vez de em seus ouvidos.
Não houve tempo para questioná-lo, nenhum tempo para se maravilhar. Ele desceu e a
deixou cair na rua. Ela aterrissou com um baque, poeira subindo ao seu redor. Demônios pularam
das sombras, indo direto para ela, mas os homens de Zacharel estavam lá, as espadas de fogo
iluminando a noite e atingindo os demônios antes que pudessem alcançá-la. Grunhidos e gemidos
soaram. Cabeças em breve começaram a rolar.
Tão perto...
Felizmente, não havia outros humanos ao redor. Era muito tarde, ela supunha.
Antes que tivesse tempo para descongelar de seu estado petrificado... E eu pensando que
estava preparada... Pensei errado... Zacharel a levantou e retomou seu ritmo alucinante para o
edifício, que estava se aproximando cada vez mais. Mais perto ainda. Ele não desacelerou.
Ela apertou os olhos bem fechados, esperando o impacto. Mas então ele mergulhou. Cada
vez mais e mais fundo. Certamente iriam atingir o chão a qualquer momento... Agora! O impacto
nunca aconteceu. O ar congelou outro grau e ela olhou para baixo. Estavam agora no subterrâneo
e indo cada vez mais baaaiixo. Ela engoliu um grito de pânico.
Quando aterrissaram no fundo de uma caverna, Zacharel a colocou sobre seus pés e soltou.
Então, ele e seus homens se alinharam atrás dela, fazendo dela um grande e gordo alvo. Suspiros
de choque ressoaram através de um acampamento agora ativo, seguido por grunhidos de raiva.
Passos se ouviram. Guerreiros carecas correram em sua direção. Pouco antes que a alcançassem,
Zacharel quebrou a formação e atacou, balançando sua espada de fogo. Gritos de dor e pânico
reverberaram. Os ofegos e rosnados foram substituídos por grunhidos e gemidos.
Carecas continuavam chegando e o resto dos guerreiros saíram de detrás dela, dando um
passo ao lado dela para impedi-la de ser atropelada... Ou decapitada. Suas espadas dançavam pelo
ar, cortando e retalhando. Carne queimando. Gritos juntando-se ao coro. Os soldados alados
arremessaram-se, capotando no ar, mergulhando, movendo-se tão rapidamente que ela tinha
problemas em rastrear o progresso deles. Alguns dos Nefas fugiram. Outros correram para a ação.
Mas Zacharel e os outros não podiam persegui-los.
—Nicola, — disse Zacharel ao lado dela. —Faça algo para chamar a atenção para si mesma.
Consiga que o resto deles a ataquem.
Sim. Claro.
Não, ela pensou um momento depois. Estava aqui para lutar, não para assistir a ação de
longe. Não para ver os outros serem feridos a defendendo. Ela podia fazer alguma coisa. E faria.
Estendeu o braço e olhou para sua mão. Sua mão vazia. O que ela tinha feito para convocar a
espada antes? Tentou se lembrar do momento. Laila tinha acabado de morrer. Oh, minha querida
Laila. Os demônios tinha ameaçado Nicola. Ela imaginara sua vida com Koldo.
Felicidade a tinha preenchido.
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Anjos da Escuridão 02
Vinte e oito?
Os Enviados irromperam em aplausos. Alguém deu um tapinha em seu ombro, quase
jogando-a no chão. Ela soltou a espada e ela desapareceu.
—Koldo, — disse ela e correu em direção a ele.
Koldo piscou para abrir os olhos. Sua dor desapareceu, a força, retornou. Franziu a testa.
Como era possível? Não estava mais na caverna. Em vez disso, as paredes brancas do seu rancho o
rodeavam.
E o que era aquela coisa quente pressionada contra ele? Olhou para baixo e viu a nuvem das
ondas de morango de Nicola espalhadas sobre o peito. Seu belo rosto estava inclinado para cima,
em direção ao dele e seus olhos estavam fechados. Sua respiração era regular. A confusão se
ampliou. Ele estava preso na jaula com Axel.
Axel! Isso mesmo. O guerreiro tinha sido espancado, quase tão quebrado quanto Koldo, e
ainda assim, depois de ouvir os sons da batalha, ele e Koldo, de alguma forma encontraram forças
para destruir a cela. Juntos, saíram da tenda de escravos. Foi quando viu o que assumiu que era
apenas uma alucinação: Nicola, segurando uma espada de fogo, forçando seu pai a recuar.
Então, mais nada. Ele deve ter desmaiado.
Então aplausos tinham soado, acordando-o e ele ouvira pequenos pedaços de conversa.
—Nunca esperei que uma ex-humana lutasse assim, — alguém disse. —E o fato de que você
tinha as tatuagens, criando o campo de força, foi ainda melhor. É melhor acreditar que eu
receberei um sinal exterior de promessa do Altíssimo, também.
—Você pode ser minha companheira de batalha a qualquer momento.
—Koldo é um homem de sorte.
—Nicola, — Koldo disse agora, com a voz mais áspera do que pretendia.
Como ele, ela piscou abrindo os olhos. Então, se sacudiu ficando ereta e o encarou. —Você
está finalmente acordado.
—Onde está sua irmã?
A tristeza fez suas feições desmoronarem. —Ela não sobreviveu.
Não. Ele tinha falhado com ela, então. Falhou com o amor de sua vida. E com Laila, também.
—Eu sinto muito, Nicola. Eu tentei...
—Eu sei que você tentou. — Ela ofereceu-lhe um sorriso suave. —Eu nunca serei capaz de
agradecer o suficiente por tudo o que você sofreu por ela.
—Eu deveria ter... Eu queria...
—Não. Não faça isso com você mesmo. Nós sequer sabemos se ela teria aceitado a oferta. E
ela está feliz agora. Está com Robby e os dois estão muito felizes.
Koldo aproximou uma mão trêmula pelo desuso e acariciou sua bochecha. Macia, quente. —
Eu amo você, — disse ele.
—Eu também te amo. Demais.
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Anjos da Escuridão 02
Ele respirou o cheiro dela, saboreando o que pensava que nunca teria novamente. —Diga-
me o que aconteceu.
—Bem, para começar, os dois demônios sobre os quais me alertou me atacaram, tentando
infectar-me com mais toxina e eu os matei com uma espada de fogo. Em seguida, o Altíssimo me
adotou. Ou talvez Ele o tenha feito antes e eu não soubesse. Então, eu consegui matar o seu pai e
salvar o dia. Em poucas palavras, eu detonei geral!
—Você... É uma Enviada?— Ele teve aquele momento de desconfiança anteriormente e
ainda assim, ficou chocado até a alma.
Ela assentiu, satisfeita. —Sou.
Ele mal podia processar o conhecimento. Era muito incrível.
—Obrigado, — ele disse ao Altíssimo, por Nicola. Como a espada de fogo, ela era uma
benção dos céus e ele seria eternamente grato por ela. Beijou a linha de sua mandíbula.
—Nós estamos no Panamá, não estamos?
—Sim. — Ela inclinou a cabeça, garantindo que o beijo seguinte fosse nos lábios.
—Quanto tempo fiquei desacordado?
—Duas semanas e um monte de coisas aconteceu.
—Eu posso imaginar. Mas espere. Você me ajudou e não deveria tê-lo feito, amor. É contra
as...
Ela colocou um dedo sobre sua boca, silenciando-o. —Está tudo bem. Eu sou uma parte de
você e você é uma parte de mim. Era como se você estivesse ajudando a si mesmo. Clerici disse. E
adivinha o que mais? Seu cabelo está crescendo novamente.
Ele franziu a testa enquanto movia a mão sobre o couro cabeludo e com certeza, havia uma
penugem ali, fazendo cócegas em sua palma. —Isso é impossível.
—Nada! Clerici não estava satisfeito com algumas das regras que o Conselho impunha.
Regras que iam contra os desejos do Altíssimo. Então, ele cortou algumas. E ainda determinou que
todos os sacrifícios pela Água fossem devolvidos.
Conforme Koldo se mexeu, algo escavou em suas costas. Ele as alcançou, sentindo...
—Brotos de Asas, — disse ele, seu choque ainda mais profundo. Suas asas estavam
crescendo novamente, também. Ele já não seria careca como seu pai. E mais uma vez seria capaz
de voar pelos céus, levando sua mulher onde ela desejasse ir. —O que poderia ser melhor?
Um lento sorriso levantou os cantos dos lábios dela, mas o seu divertimento não durou
muito tempo. —Eu odeio ser a portadora de más notícias, mas você tem que ser informado. Bjorn
está desaparecido. Thane e Xerxes estão enlouquecendo ao procurá-lo. Zacharel e os outros estão
ajudando. E um cara chamado Kane foi flagrado em Nova York, mas depois desapareceu de novo e
isto deixou a todos em um estado de confusão.
Kane. Um dos Senhores do Submundo e o guardião do demônio da catástrofe. Ele estivera
perdido no inferno por semanas, apesar de ter surgido rumores sobre sua tortura. Os amigos do
guerreiro vieram em busca do Exército da Desonra, pedindo ajuda para localizá-lo. Uma promessa
foi assegurada, mas ninguém tivera nem um pouco de sorte, até agora.
** Essa tradução foi feita apenas para a leitura dos membros do Talionis. ** 245
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Anjos da Escuridão 02
—Eu tenho que ajudar o meu povo, — Koldo disse. —Com Kane e com Bjorn. — E os seis
demônios responsáveis pela morte de Germanus ainda estavam lá fora. Encontrar e lidar com eles,
antes que conseguissem infectar toda a humanidade, tinha de ser uma prioridade.
—Eu tinha a sensação de que você diria isso. Por isso agendamos uma reunião com Zacharel
dentro de... Duas horas. Ele te informará de todos os detalhes que eu perdi.
Isso era maravilhoso, mas... —Como você sabia que eu iria despertar?
Ela sorriu lentamente. —Um pressentimento. Então, o que vamos fazer enquanto
esperamos?
Mulher maravilhosa. Mulher preciosa.
Sua mulher.
Envolveu os braços ao redor dela e rolou-a de costas. —Palavras sem ação não significam
nada. Então, prefiro te mostrar.
E ele mostrou.
Fim
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