Você está na página 1de 6

O equino é um herbívoro não ruminante capaz de suprir grande parte ou a

totalidade da sua demanda nutricional pela ingestão de gramíneas. Apresenta


a região ceco-cólica bastante desenvolvida, sendo este o principal sítio de
fermentação. Este processo também ocorre na região aglandular do estômago,
porém a produção de ácidos graxos voláteis é inferior, quando comparado ao
intestino grosso. O conhecimento do sítio de aproveitamento de cada
ingrediente é de suma importância para a combinação dos mesmos,
favorecendo o ótimo aproveitamento de cada um deles e evitando excessos
que podem ser prejudiciais ao metabolismo do equino. O estudo atual do
fracionamento de carboidratos, por mais que não seja adaptado a fisiologia e
metabolismo dos equinos, nos fornece informações sobre as diferentes frações
que o compõem e com isso pode-se inferir sobre a produção de energia por
cada fração gerada. A manutenção de equinos em pastejo ou sob o
fornecimento de feno ou alimentos volumosos é essencial para a manutenção
da atividade e saúde do seu trato digestório. Atualmente, com o objetivo de
aumentar a disponibilidade de energia, ingredientes como a polpa cítrica, polpa
de beterraba e casca de soja, vem sendo utilizados nas formulações. Estes
ingredientes de fermentação mais rápida e fácil, são uma alternativa segura
para elevar a concentração energética da dieta de equinos, por proporcionar a
diminuição do aporte de amido na dieta de equinos. (BRANDI e FURTADO,
2009).

A entrada do trato digestório é formada por lábios fortes e extremamente


móveis. O cavalo apreende o alimento principalmente com os lábios e a
língua, e no pastoreio ou na ingestão de substâncias mais firmes (ramos e
tubérculos) também são usados os incisivos (superiores e inferiores), o que
lhe permite pastar próximo ao solo, cortando a forragem. O lábio superior é
utilizado para colocar a forragem entre os dentes do cavalo. O cavalo
normalmente só mastiga de um lado, com alterações periódicas (60-80
movimentos mastigatórios por minuto).

Durante a mastigação o alimento é triturado, o volumoso é dividido em


partículas de no máximo 2 mm de diâmetro e 1-4 mm de comprimento (1,6
mm de comprimento) sendo esta divisão essencial para a manutenção do
transito intestinal normal. Alimento de fibras curtas ou volumoso
excessivamente picado (< 2 cm) podem ser deglutidos sem mastigação e
com isso causar obstipações. A prensagem promovida pelos molares libera
proteínas e açúcares que podem ser rapidamente utilizados no estômago e
intestino delgado. A saliva é produzida e misturada com o alimento somente
durante a mastigação. Assim o tempo de ingestão tem grande influência
sobre este fator. Cavalos produzem cerca de 40-90 ml de saliva por minuto,
quantidade variável com a natureza do alimento. A saliva não contém
enzimas digestivas, mas contém expressivas quantidades de minerais e
bicarbonato (50 mEq/L), que provavelmente servem para neutralizar os
ácidos formados na porção inicial do estômago, além de umidecer o
alimento e favorecer o trânsito e a penetração do suco gástrico no bolo
alimentar (Meyer, 1997 e Frape, 2008).

Dentre as secreções aportadas ao ID, destacam-se o suco pancreático, que


tem como característica marcante a baixa concentração de enzimas e a
secreção constante, mediado pela secretina. Embora a secreção seja
contínua, esta aumenta em 4 a 5 vezes quando se oferece o alimento pela
primeira vez. O estímulo à secreção não aumenta a concentração de
bicarbonato, como ocorre nas demais espécies (Frape, 2008). O cavalo não
possui vesícula biliar, assim a secreção é contínua e cessa apenas quanto o
jejum é superior a 48 h. A bile, juntamente com o suco pancreático, eleva o
pH da digesta para 7 na região duodenal (BRANDI e FURTADO, 2009).

O eqüino apresenta esfíncteres bastante desenvolvidos que o impedem de


regurgitar. Quase metade da superfície mucosa é recoberta por epitélio
aglandular, e a porção mucosa fica restrita a regiões fúndicas e pilóricas,
onde são secretados ácido clorídrico, pepsina e hormônio polipeptídico e
gastrina, respectivamente. A secreção hormonal é iniciada pela refeição, e
nos equinos a liberação esta vinculada a distensão gástrica e não à
visualização do alimento. (BRANDI e FURTADO, 2009)

Sabe-se que a digestão dos alimentos na espécie eqüina, desde que estes não
sejam excessivos, independe da intensidade de trabalho e da temperatura
ambiente. Por outro lado, a digestibilidade é influenciada pelas variações
individuais, pela eficácia da mastigação, pela presença de parasitos internos,
pelo tempo de permanência do alimento no trato digestivo, pela composição e
pelo volume do alimento (WOLTER, 1975).
A estrutura anatômica entre o esôfago distal e o cárdia normalmente só permite
trânsito no sentido aboral. Assim, sob condições normais, o estômago sempre
contém um pouco de gás (COLIN et al., 2005).

O esvaziamento gástrico em resposta à ingestão de alimento ocorre pelas


fases de relaxamento receptivo e de acomodação (LORENZO-FIGUERAS et
al., 2002).

A fase de relaxamento receptivo do estômago dos equinos envolve mecano-


receptores presentes na faringe e/ou esôfago. Já a fase de acomodação
depende do controle por feedback de sensores do duodeno, ativados pelo
contato do alimento com as mucosas gástricas. Isso justifica a importância do
tipo e qualidade do alimento oferecido no ajustamento fisiológico, que é
dependente da adequação das dietas (MERRIT, 2003).

O estômago do cavalo tem uma capacidade que varia entre 7,5 a 15 litros,
sendo pequeno em relação aos compartimentos subsequentes do trato
digestório, já que só representa entre 8 e 10% de seu volume (AL JASSIN &
ANDREWS, 2009).

Anatomicamente, o estômago possui curvaturas maior e menor, cuja superfície


interna é integrada por quatro regiões: cárdica, fúndica, corpo e pilórica. A
parede gástrica é constituída pela serosa, três camadas musculares,
submucosa e mucosa. A mucosa possui duas áreas que são denominadas
pavimentosa ou não glandular e a secretora ou glandular, pelo que se
considera um estômago unicavitário composto (KÖNIG et al., 2004).

A mucosa glandular do estômago representa os 2/3 da superfície gástrica


interna, em que há produção de ácido clorídrico e pepsinogênio. Também é
onde há efetivos mecanismos protetores, como a produção de muco,
bicarbonato e rápida re-epiteliação da mucosa. (VIDELA & ANDREWS, 2009,
BUCHANAN & ANDREWS, 2003). A área glandular possui em sua extensão
uma variedade de glândulas, como as cárdicas e pilóricas produtoras de muco
gástrico; as glândulas próprias ou fúndicas, com células acessórias produtoras
de muco; células parietais secretoras do ácido clorídrico; células principais
secretoras de pepsinogênio; células D secretoras de somatostatina; células G
produtoras de gastrina; e células semelhantes à enterocromafim, secretoras de
histamina e serotonina (MERRIT, 1999).

A área não glandular, aproximadamente 1/3, tem epitélio escamoso


estratificado sem auto-proteção eficiente (MURRAY, 2009). Na região
aglandular ocorre a fermentação sob atividade de microrganismos que
degradam açúcares, amido e proteínas (BRANDI E FURTADO, 2009).
Segundo Frape (2008) o resultado é a produção de ácido lático, ácidos
graxos de cadeia curta, e pequenas quantidades de gases. Na região média
do estômago o pH varia entre 5 e 6, enquanto na região pilórica pode
atingir 2,6 em dietas exclusivas de feno, o que não ocorre com dietas a
base de concentrado.

O maior volume do fluido do estômago origina-se pela secreção ácida contínua


com ou sem presença de alimento, variando de 10 a 30 litros dia. Além do
ácido clorídrico, o conteúdo gástrico contém saliva, ácidos graxos voláteis
(AGV) e secreção intestinal por refluxo duodenal (MERRIT, 2003).

O controle da secreção clorídrica envolve mecanismos de feedback


responsivos a diferentes fatores, como o pH e a composição do alimento.
Nesse processo, ocorrem interações complexas entre componentes neurais
(nervo vago) e hormonais, envolvendo a gastrina, secretina, colecistocinina,
somatostatina, peptídeo liberador de gastrina, histamina, serotonina,
acetilcolina, entre outros (JOHNSON, 1971; SANDIN et al., 1999).

A acetilcolina oriunda do nervo vago e a gastrina são os principais ativadores


da secreção pelas células parietais, através da bomba de prótons induzida pela
ATPase-K-H, que permite o intercambio de H+ / K+ na membrana celular,
porém, no equino, as células parietais são mais sensíveis à histamina
(CAMPBELLTHOMPSON, 1994).

A somatostatina e, em menor proporção, o peptídeo relacionado ao gene da


calcitonina, inibem a secreção clorídrica ao controlar de maneira parácrina as
células produtoras de gastrina e histamina. O tempo de permanência do
alimento no estômago varia entre 2 e 6 horas (WEYENBERG et al., 2006).
Dependendo diretamente da frequência da ingestão e do tipo de alimento. O
estômago raramente fica completamente vazio e a ingestão de alimento
estimula a passagem do conteúdo gástrico ao duodeno, promovendo o trânsito
normal entre esses compartimentos (GUERRING & HUNT, 1986).

A porção do ceco e cólon ventrais são as áreas de maior concentração de


bactérias digestoras de celulose. Em animais recebendo duas dietas por dia,
a população de microorganismos do Intestino Grosso do eqüino pode ser
alterada mais de 100 vezes durante um período 24horas. Tais flutuações se
refletem a mudança na disponibilidade de nutrientes (amido e proteína) e
conseqüentemente nas alterações de pH.

Segundo Moore-colyer (1998) a alteração na dieta e a relação concentrado:


feno não apenas terá grandes efeitos sobre o número de microrganismos,
mas também influenciará consideravelmente a distribuição de espécies no
Intestino Grosso.

A degradação microbiana parece ocorrer em taxa mais rápida no ceco e


cólon ventral que no dorsal, e é mais rápida ainda quando é utilizado amido
do que carboidratos estruturais. O pH ótimo, tanto para a atividade
microbiana como para absorção, é de aproximadamente 6,5. A absorção
dos AGV é depende do antiporte de Na +/H+ bem como das trocas de
Cl-/HCO3-. Nos equinos o butirato passa prontamente para a corrente
sangüínea. O ácido lático produzido no estômago não é absorvido e utilizado
no ID, mas ao atingir o intestino grosso é absorvida juntamente com o
produzido no local e parte é metabolizada a propionato pelas bactérias
(Frape, 2008).

Brandi, Roberta Ariboni; Furtado, Carlos Eduardo. Importância nutricional e


metabólica da fibra na dieta de equinos. Revista Brasileira de Zootecnia.
Sociedade Brasileira de Zootecnia, v. 38, n. spe, p. 246-258, 2009. Disponível
em: <http://hdl.handle.net/11449/30818>.
WOLTER, R. 1975. Alimentación del caballo. Zaragoza: Ed. Acribia.172p.
Disponível em: http://www.sbz.org.br/revista/artigos/2401.pdf

Você também pode gostar