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Abstract: Freedom is one of the most controversial topics in the history of philosophy. The
aim of this article is the search for the conception of freedom in the work of the Russian nov-
elist Fyodor Dostoevsky (1821-1881), and the French philosopher Jean-Paul Sartre (1905-
1980), as well as to the respective consequences generated from the exercise that refers to free
will. In both, freedom is a fundamental condition for human beings, and although the free
choice of situations gives rise to a sense of anguish, we cannot escape this responsibility, be-
cause we can be acting bad faith losing the authenticity of our very existence.
1. Introdução
tema filosófico completo, ele nos traz através de seus contos e romances escritos no século
XIX, várias perspectivas psicológicas e sociais profundas (quase sempre trágicas) de temas
como: a miséria, morte, religião, niilismo, culpa, redenção, e sobretudo a liberdade. Ele utiliza
seus personagens, como formas de personificações de ideias e correntes de pensamento, que
ao longo de suas histórias, passam a viver em um constante movimento, sempre em conflito
umas com as outras, trazendo assim, grandes reflexões em forma dialética, sobre os temas que
Dostoiévski põe ao debate. O russo procurava sempre requerer a singularidade e a existencia-
lidade do homem, apesar de sua devota fé em Deus e na crença em sua religião, acreditava
piamente que o homem é guiado por ele mesmo, sendo criador de sua própria história. Deste
modo, lhe é considerado por vários pensadores, como um dos principais percussores do mo-
vimento filosófico do século XX, chamado de “Existencialismo”, este, que teve como princi-
pal expoente Jean Paul-Sartre.
Em um segundo momento, ainda na busca sobre o conceito de liberdade e as suas con-
sequências, iremos examinar essas questões através de Jean Paul-Sartre, um dos principais
filósofos do século XX. Mais especificadamente, em seu livro “O Existencialismo é huma-
nismo” (2014), resultado de uma palestra proferida por ele em Paris, e da obra “No Café Exis-
tencialista” (2017), da autora Sarah Bakewell, que narra toda a história e as características
filosóficas do movimento Existencialista. Sartre, era um convicto ateu e humanista, acreditava
que a liberdade seria a única forma da condição humana, e que todos nós somos livres, ou me-
lhor dizendo, condenados a sermos livres. Essa capacidade de agir conforme o nosso próprio
livre-arbítrio, acaba por trazer, com efeito, uma enorme responsabilidade diante de nossas es-
colhas, pois somos os únicos responsáveis pela construção de nossa própria existência. E di-
ante desses encargos, o indivíduo acaba por produzir em si mesmo um sentimento de angús-
tia, do qual não é possível eliminá-la. E caso se deseje fugir dela, através de desculpas ou mo-
tivos exteriores como a religião, por exemplo, este indivíduo estaria agindo de má-fé, e dessa
forma, assumindo uma existência falsa, ou não autêntica. A obra de Sartre, devido a essa sua
enorme atenção ao tema da liberdade, acabou por influenciar a literatura, cinema, filosofia, e
movimentos sociais ao longo do século XX, principalmente no período do pós-guerra, onde
esse tema estava no centro de muitas discussões.
O estudo sobre a concepção da ideia de liberdade, tem a sua devida importância, por se
tratar de um tema universal e de grande interesse em nossa cultura. Se faz necessário o enten-
dimento dessa questão, pois trata-se de um conhecimento necessário, para a nossa transforma-
ção em seres mais autênticos.
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qual, no decorrer da trama, o protagonista acaba apresentando a sua própria tese, que será de-
batida em alguns momentos do romance, onde o mesmo, afirma que:
O “homem extraordinário” tem o direito...ou seja, não o direito oficial, mas ele
mesmo tem o direito de permitir à sua consciência passar... por cima de diferentes
obstáculos, e unicamente no caso em que a execução de sua ideia (às vezes salvado-
ra, talvez, para toda a humanidade) o exija. (DOSTOIÉVSKI, 2016, p.264)
Porém, em um momento de crise, em que ele não possui mais condições de finan-
ciar os seus estudos, e se vê preocupado com o futuro de sua carreira e vida de sua família, ele
“decide livremente matar um ser socialmente daninho e parasita para demonstrar a si próprio
que pertence àquele eleitíssimo número de seres excepcionais aos quais tudo é permitido”
(PAREYSON, 2012, p.45). Dessa forma, o jovem tenta demostrar para si mesmo, a sua pró-
pria liberdade absoluta, e a praticidade de sua tese, acreditando ser ele, um homem extraordi-
nário. Contudo, no momento em que efetuou o assassinato de uma velha agiota, ele acaba por
matar também a sobrinha da primeira vítima, que aparece repentinamente no local do crime.
Após os dois assassinatos, Raskólnikov acaba sentindo uma forte culpa sobre o ato cometido
durante toda a trama, onde se inicia todo um forte tormento psicológico no protagonista. Que
por fim, depois de tanto sofrimento, e de viver com a consciência do crime, acaba se arrepen-
dendo da ação e se entrega à polícia para ser preso.
Já em Os Irmãos Karamazov, que é sem dúvida a obra-prima de Dostoiévski, ro-
mance complexo, que ao longo da narrativa, explora várias questões acerca de temas como a
natureza humana, moral e religião. A trama gira em torno do conflito entre a fé e a razão, e do
famoso questionamento “Se Deus não existe, tudo é permitido?”. Esses temas possuem como
agente principal, o intelectual ateu Ivan Karamazov, que constantemente vive angustiado, de-
vido à perda de sua fé na ordem das coisas e no mundo. Em relação a liberdade, ao longo do
romance, Ivan cita a Lenda do Grande Inquisidor, um poema que situa-se na Espanha do sé-
culo XVI, onde Cristo aparece novamente. Assim que a população reconhece Cristo, o Gran-
de Inquisidor manda prender Cristo, e o visita na prisão para fazer acusações ao mesmo, afir-
mando que o motivo do sofrimento da humanidade, e a fonte de sua miséria, é o peso do livre-
arbítrio defendido por Cristo, e continua dizendo que os homens “nunca poderão ser livres
porque são fracos, pervertidos, insignificantes e rebeldes” (DOSTOIÉVSKI, 2012, p.351). O
Inquisidor continua relatando que o mundo moderno proclamou a liberdade, e dela, resulta-se
a multiplicação das necessidades, com efeito “Para os ricos o isolamento e suicídio espiritual,
para os pobres, a inveja e o assassinato” (DOSTOIÉVSKI, 2012, p.426). Fica claro que para
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Ivan Karamazov, não há nada mais angustiante do que a liberdade, e ao fim do romance, ele
acaba tendo alucinações em que o Diabo, onde o mesmo, fica zombando de suas ideias niilis-
tas.
Como se pode perceber em algumas de suas obras, para Dostoiévski, a liberdade é
uma necessidade moral e psicológica da personalidade humana, mesmo que isso resulte em
efeitos dramáticos, como podemos observar em Raskólnikov e na Lenda do Grande Inquisi-
dor. Para nos aprofundarmos nessa questão, tomaremos a obra “Dostoiévski: Filosofia, Ro-
mance e Experiência Religiosa” de Luigi Pareyson como guia. Esse registro, diz respeito a
um curso ministrado pelo filósofo italiano sobre “O Pensamento Ético de Dostoiévski” em
1967, que se apresenta como um curso de filosofia moral, retratando os principais tópicos do
pensamento dostoievskiano. Desse modo, podemos conceber que para Dostoiévski, a liberda-
de real, trata-se de uma liberdade fundamental, ou seja, “a liberdade de escolher entre o bem e
o mal, a liberdade de decidir entre a rebelião e a obediência, a liberdade de recusar ou de re-
conhecer o princípio do ser e do bem.” (PAREYSON, 2012, p.133). Podemos encontrar em
Dostoiévski, a divisão da liberdade em dois sentidos, o primeiro, seria a obediência a Deus, e
o segundo, a serviço do demônio, onde “o significado último do destino do homem e da histó-
ria humana está na luta entre Deus e o demônio, entre o bem e o mal, [...], entre a positividade
esperada escatologicamente e a negatividade vivenciada temporalmente. (PAREYSON, 2012,
p.40). E seria nesse embate entre os dois lados, que o homem deveria exercer o seu livre-
arbítrio, nessa “dialética da liberdade, que constitui o eixo central do pensamento de Dostoié-
vski.” (PAREYSON, 2012, p.40).
Apesar de Dostoiévski, avaliar o bem como a melhor propensão a se ter nos mo-
mentos de escolha, para ele, eliminar a possibilidade de escolha entre o bem o mal, mesmo
com a possibilidade de preferir o mal, não seria algo de grande estima, visto que “o bem não é
verdadeiramente tal se é imposto ou se é necessário. O bem é constituído como tal pela possi-
bilidade de acolhê-lo ou recusá-lo.” (PAREYSON, 2012, p. 134). Dessa forma, a imposição
do bem, que ocasiona a eliminação completa da liberdade primária, acaba se tornando algo
tão insatisfatório, quanto a própria escolha do mal. Essa experiência da liberdade, acaba se
tornando a única possibilidade de realização do bem.
Mesmo acreditando que não se deve limitar a liberdade de escolhas afim de impor
o bem, Dostoiévski alerta, que a liberdade utilizada de forma aleatória e ilimitada, acaba acar-
retando para o próprio sujeito, sérias consequências desagradáveis: “A afirmação da liberdade
arbitrária e sem lei traz consigo a indistinção entre bem e o mal, melhor, a equivalência entre
eles: nasce daí a mais absoluta falta de senso moral, o amorismo total, a indiferença por qual-
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quer valor” (PAREYSON, 2012, p.42). Mais adiante, “o amoralismo e a indiferença trazem
consigo a morte da alma, a inércia do coração, a mais fria insensibilidade” (PAREYSON,
2012, p.49). Podemos encontrar essa questão em Crime e Castigo com Raskólnikov, onde o
estudante na intenção de exercer a sua liberdade de forma totalmente exagerada, acaba por
perder a noção do quão condenável é realizar um assassinato de um ser humano, fato esse rea-
lizado, que viria posteriormente se transformar em grande sofrimento e culpa para o mesmo.
Esse sentimento de culpa, tão presente na obra de Dostoiévski, é para o escritor russo, o único
meio de salvação para o homem. Para isso, é necessário que o homem não se sinta culpado
apenas por suas próprias culpas individuais, e sim, que se senta culpado por todas as culpas
individuais de todos os outros homens, onde cada um deverá ser culpado por tudo e por todos.
Pois:
Por fim, podemos compreender também em sua obra, que a liberdade é parte es-
sencial do ser humano, sem ela, e sem a responsabilidade do peso das escolhas, o homem per-
de a sua essência, acaba-se despersonalizando e se tornando indigno: “Sem a liberdade huma-
na não existe nem responsabilidade nem culpabilidade humana: o homem não tem dignidade e
o mal não existe. Aqueles que [...] negam a oportunidade da punição lesam a dignidade do
homem e rebaixa-o a simples produto das circunstâncias” (PAREYSON, 2012, p.77).
O filosofo francês Jean-Paul Sartre, teve grande parte de sua obra filosófica e lite-
rária voltada para o tema da liberdade. Sartre é o principal expoente de uma importante cor-
rente de pensamento que surgiu na França no século XX, influenciada por filósofos como
Heidegger, Nietzsche, Kierkegaard, e também pelo próprio Dostoiévski. Essa escola filosófica
é denominada como “Existencialismo”, onde a liberdade é um dos seus principais pilares,
tendo suas investigações, partindo sempre do subjetivo, se interessando especialmente pela
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própria experiência humana concreta e real. O movimento não era em sua totalidade homogê-
neo, apesar de que o ponto central das obras existencialistas serem bastante próximas umas
das outras, os existencialistas basicamente se dividiam em duas categorias:
Os primeiros, que são cristãos, e entre os quais eu listaria Jaspers e Gabriel Marcel,
de confissão católica; e, por outro lado, os existencialistas ateus, entre os quais é
preciso colocar Heidegger, e também os existencialistas franceses e eu próprio. O
que eles têm em comum é simplesmente o fato de considerarem que a existência
precede a essência. (SARTRE, 2014, p.18).
Como já exposto acima, Sartre pertencia à divisão dos existencialistas que eram
ateus, estes “Se perguntavam como podemos viver uma vida dotada de sentido na ausência de
Deus. Todos escreviam sobre a angústia e experiência de se sentirem esmagados pela esco-
lha” (BAKEWELL, 2017, p.17). Eles usavam de seus esforços, para tentar encontrar respostas
a esses problemas, do peso da liberdade em nossas escolhas, do desemparado causado pela
falta de fé em Deus, resultado de uma sociedade moderna em que aos poucos foi ficando cada
vez mais distante das religiões, que nortearam toda a civilização ocidental por quase dois mi-
lênios.
Ao longo da nossa vida, somos sempre colocados em uma posição de escolha, li-
vres para decidir o que devemos ou não fazer. Mesmo no momento em que optamos por não
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realizar alguma decisão, estaremos escolhendo de uma forma ou de outra, nessa situação, op-
tando por não decidir. O problema dessa concepção, é de que não há indicativos sobre qual
seria o melhor caminho a escolher, não existe nenhuma regra a priori que sinalize o que de-
vemos fazer diante de certas situações. Mesmo que se acredite que somos guiados por leis
morais, ou pelo nosso perfil psicológico, ou por antigas experiências, todos esses elementos
podem ter alguma influência, porém eles apenas somarão à “situação” em que você se encon-
tra, no qual apenas à partir desse ponto, é que você mesmo decidirá como agir segundo a sua
própria vontade. É diante desse contexto, que se tem a famosa citação de Sartre em que “O
homem está condenado a ser livre”, visto que “Condenado, pois ele não se criou a si mesmo,
e, por outro lado, contudo, é livre, já que, uma vez lançado no mundo, é responsável por tudo
que faz.” (SARTRE, 2014, p.24).
Essa capacidade de assumir escolhas, acaba resultando por consequência, segundo
Sartre, em uma responsabilidade total para a existência de cada ser humano. No momento em
que o homem realiza a sua escolha, a decisão reflete sobre o que ele considera ideal para toda
a humanidade. Desse modo, além de decidir por nós, acabamos por escolher por todos os ho-
mens também, pois:
Não existe um de nossos atos sequer que, criando o homem que queremos ser, não
crie ao mesmo tempo uma imagem do homem conforme julgamos que ele deva ser.
Fazer a escolha por isso ou aquilo equivale a afirmar ao mesmo tempo o valor da-
quilo que escolhemos, pois não podemos nunca escolher o mal; o que escolhemos é
sempre o bem, e nada pode ser bom para nós sem sê-lo para todos. [...]. Assim, nos-
sa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, pois ela envolve a hu-
manidade com um todo. (SARTRE, 2014, p.20-21)
Considerações finais
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Referências
DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Crime e Castigo. Tradução de Paulo Bezerra. 7º. ed. SP: Editora
34, 2016.
DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Os Irmãos Karamázov. Tradução de Paulo Bezerra. 3. ed. SP: edi-
tora 34, 2012.
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FRANK, Joseph. Um Escritor em Seu Tempo. Tradução de Pedro Maia Soares. 1. ed. SP:
Companhia das Letras, 2018.
BAKEWELL, Sarah. No Café Existencialista. Tradução de Denise Bottman. 1. ed. RJ: Obje-
tiva, 2017.