Você está na página 1de 33

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA NATUREZA


CURSO BACHARELADO DE MEDICINA VETERINÁRIA
PATOLOGIA GERAL

ALTERAÇÕES
CADAVÉRICAS

Docente: Prof. Dr. Francisco Glauco de Araújo Santos;


Discentes: David Willian, Eric Kaike Gomes da Conceição, Gabriela Inglez Melo
da Silva e Yasmin Wislly Guedes dos Santos.
SUMÁRIO

01 02 03
Introdução Alterações Alterações
cadavéricas cadavéricas
Abióticas Imediatas

04 05 06
Alterações Alterações Fatores que influenciam
cadavéricas Mediatas cadavéricas no aparecimento das
ou Consecutivas Bióticas alterações cadavéricas

07 08
Referências
Considerações bibliográficas
finais

2
INTRODUÇÃO
O que são alterações cadavéricas?

Alterações que o cadáver apresenta logo depois do momento da morte e que não
tenham ocorrido no indivíduo vivo;

Podem ser observadas nos exames macro e microscópicos dos tecidos dos
animais;

É importante não confundir as alterações decorrentes da morte com as lesões


provocadas em vida pelas doenças;

São divididas em: Alterações Cadavéricas Abióticas e Alterações Cadavéricas


Bióticas.

(NUNES, 1996 apud VASCONCELOS, 1987).

3
ALTERAÇÕES CADAVÉRICAS ABIÓTICAS

Alterações não transformativas ou alterações que não modificam o cadáver no


seu aspecto geral;

Divididas em: Imediata e Mediatas ou Consecutivas;

Imediatas: assim que é declarada a morte do animal;

Mediatas ou Consecutivas: logo após a morte do animal.

(NUNES, 1996 apud VASCONCELOS, 1987).

4
ALTERAÇÕES CADAVÉRICAS ABIÓTICAS
IMEDIATAS

Significado: morte somática, clinica ou geral;

Consequência da cessação das funções vitais do organismo;

Iniciam imediatamente após a morte do animal;

Causando: insensibilidade, imobilidade, parada das funções Cardíacas e


Respiratória, inconsciência e Arreflexia.

(NUNES, 1996 apud VASCONCELOS, 1987).

5
ALTERAÇÕES CADAVÉRICAS ABIÓTICAS
MEDIATAS OU CONSECUTIVAS

Significado: autólise;

Caracterizada por:
1. Livor mortis
2. Algor mortis
3. Rigor mortis
4. Coagulação do sangue
5. Embebição pela hemoglobina
6. Embebição pela bile
7. Meteorismo ou timpanismo post mortem
8. Deslocamento, torção e ruptura de vísceras
9. Pseudoprolapso retal
(NUNES, 1996 apud VASCONCELOS, 1987).
6
Alterações cadavéricas Abióticas
1. LIVOR MORTIS

Livor mortis ou hipóstase cadavérica;

É a presença de manchas avermelhadas nos locais de declive do cadáver ou dos


órgãos;

A mudança de coloração surge na pele dos cadáveres, devido o depósito do


sangue estagnado nas partes mais baixas do corpo pela ação da gravidade;

Aparece cerca de 2 a 4 horas após a morte, se o animal permanecer na mesma


posição.

(SERAKIDES e OCARINO, 2022)

7
Alterações cadavéricas Abióticas
1. LIVOR MORTIS

Fonte: SERAKIDES e OCARINO, 2022


Fonte: SERAKIDES e OCARINO, 2022
Figura 1. Suíno com manchas hipostáticas avermelhadas Figura 2. Suíno com manchas hipostáticas
nos locais de declive. avermelhadas nos locais de declive.

8
Alterações cadavéricas Abióticas
2. ALGOR MORTIS

Algor Mortis ou frialdade cadavérica;

É a baixa de temperatura e resfriamento do cadáver devido a parada das funções


vitais;

Ocorre 3 a 4 horas após a morte;

O aparecimento depende da espécie, estado de nutrição do animal, da


temperatura do ambiente e a causa da morte.

9
Alterações cadavéricas Abióticas
3. RIGOR MORTIS
Rigor mortis ou rigidez cadavérica;

Estado de contração e rigidez dos músculos do corpo após a morte, onde o


cadáver apresenta nenhuma ou pouca mobilidade articular;

Aparece em torno de 2 a 4 horas após a morte e dura em torno de 12 a 24 horas;

Ocorre devido à ausência de trifosfato de adenosina (ATP) durante o


relaxamento muscular;

O enrijecimento inicia-se nos músculos involuntários e depois nos músculos


voluntários: coração, músculos respiratórios, mastigatórios, perioculares,
pescoço, membros torácicos, tronco e membros pélvicos.

10
Alterações cadavéricas Abióticas
3. RIGOR MORTIS

Fonte: SERAKIDES e OCARINO, 2022

Fonte: SERAKIDES e OCARINO, 2022


Figura 3 . Cão em fase de rigor mortis com intensa rigidez Figura 4. Cão em fase de rigor mortis.
e nenhuma mobilidade articular.

11
Alterações cadavéricas Abióticas
4. COAGULAÇÃO DO SANGUE
A parada da circulação sanguínea impede a distribuição de oxigênio para o corpo
e as células endoteliais começam a morrer, liberando tromboquinase que
transforma o fibrinogênio em fibrina, desencadeando uma coagulação.

Fonte: SERAKIDES e OCARINO, 2022


Figura 5. Mecanismo de formação da coagulação do sangue pós morte.
12
Alterações cadavéricas Abióticas
4. COAGULAÇÃO DO SANGUE
É possível observar a coagulação na necropsia de grandes vasos e no interior do
coração;

Coágulo cruórico (avermelhado): formado por hemácias;

Coágulo lardáceo (amarelado): formado por leucócitos, plaquetas e fibrinas.

Fonte: SERAKIDES e OCARINO, 2022


Figura 6. Coágulo misto (cruórico e lardáceo). 13
Alterações cadavéricas Abióticas
5. EMBEBIÇÃO PELA HEMOGLOBINA

Embebição pela hemoglobina ou embebição sanguínea;

É o surgimento de manchas avermelhadas superficiais, na camada interna de


grandes vasos sanguíneos, endocárdio e tecidos claros adjacentes aos vasos
sanguíneos;

Aparece devido à hemólise após a morte com liberação de hemoglobina que tinge
os tecidos de vermelho;

Aparece em torno de 8 horas após a morte.

14
Alterações cadavéricas Abióticas
5. EMBEBIÇÃO PELA HEMOGLOBINA

Fonte: SERAKIDES e OCARINO, 2022

Fonte: SERAKIDES e OCARINO, 2022


Figura 8. Endocárdio ventricular
Figura 7. Cérebro de cão com intensa esquerdo de cão com intensa
embebição pela hemoglobina. embebição pela hemoglobina.

15
Alterações cadavéricas Abióticas
6. EMBEBIÇÃO PELA BILE
É o surgimento de manchas amarelo-esverdeadas nos tecidos circunvizinhos à
vesícula biliar, como o diafragma, serosa intestinal e estomacal, omento,
mesentério, cápsula hepática, etc.;

Aparecem devido à autólise rápida da parede de vesícula provocada pelos ácidos


biliares, fazendo com que os pigmentos biliares se difundam.

Fonte: SERAKIDES e OCARINO, 2022


Figura 9. Órgãos de cão com embebição pela bile corada em amarelo.
16
Alterações cadavéricas Abióticas

7. TIMPANISMO OU METEORISMO POST MORTEM


É a distensão abdominal que ocorre por um acúmulo de gases no trato
gastrointestinal pela ação de microrganismos do intestino;

Os gases são formados pela fermentação e putrefação do conteúdo


gastrointestinal;

Afetando as vísceras ocas (rúmen, omaso, abomaso, estômago e intestino)


ficando distendidas, cheias de gases e com paredes mais finas.

Fonte: SERAKIDES e OCARINO, 2022


Figura 10. Bovino com intensa distensão abdominal pelo acúmulo de gases. 17
Alterações cadavéricas Abióticas

8. DESLOCAMENTO, TORÇÃO E RUPTURA DE VÍSCERAS


Ocorre devido a fermentação e putrefação do conteúdo gastrointestinal, que
originam gases;

A formação de gases vão para as porções mais elevadas das vísceras e as forçam
a mudar de posição e romper-se.

Fonte: SERAKIDES e OCARINO, 2022

Fonte: SERAKIDES e OCARINO, 2022


Figura 11. Parede ruminal com
Figura 12. Caviidade abdominal de cão com estômago e
extensa área de ruptura.
alças intestinais distendidas, cheia de gases. 18
Alterações cadavéricas Abióticas
9. PSEUDOPROLAPSO RETAL
É exteriorização do reto através do ânus, sem alterações da circulação;

Ocorre devido ao aumento da pressão intra-abdominal, causada pelo timpanismo


após a morte.

Fonte: SERAKIDES e OCARINO, 2022


Fonte: SERAKIDES e OCARINO, 2022

Figura 13. Equino com insinuação Figura 14. Bovino com


post mortem do reto pelo ânus. pesudoprolapso retal. 19
ALTERAÇÕES CADAVÉRICAS BIÓTICAS
Alteram a apresentação geral do cadáver;

Significado: decomposição, putrefação ou heterólise;

Desse modo, as alterações podem ser caracterizadas por:

1. Pseudo-melanose;
2. Enfisema cadavérico;
3. Maceração;
4. Coliquação;
5. Redução esquelética.

(SERAKIDES e OCARINO, 2022)

20
Alterações cadavéricas Bióticas
1. PSEUDO- MELANOSE:
Sinonímia: manchas de putrefação;

Formado através do ácido sulfídrico originado das putrefações que ao reagir com
o ferro formam o sulfato de ferro.

Fonte: SERAKIDES e OCARINO, 2022


Figura 15: Alças intestinais e fígado de cão, respectivamente com pseudomelanose, manchas de
coloração cinza esverdeada em órgãos abdominais.

21
Alterações cadavéricas Bióticas
1. PSEUDO- MELANOSE:

Fonte: SERAKIDES e OCARINO, 2022


Figura 16. região torácica de cão Figura 17. Regiâo abdominal de cão
com pseudo-melanose. com pseudo-melanose.

22
2. ENFISEMA CADAVÉRICO: Alterações cadavéricas Bióticas

Sinonímia: “creptação post mortem”;

Verificação no tecido subcutâneo, no muscular e em órgãos parenquimatosos;

Mecanismo de formação: proliferação de bactérias putrefativas que decompoõem os


tecidos e formam bolhas.

Fonte: SERAKIDES e OCARINO, 2022


Figura 18. Baço de um cão com enfisema Figura 19 .Baço de um cão com enfisema
cadavérico. cadavérico e acinzentado pela
pseudomelanose.
23
3. MACERAÇÃO Alterações cadavéricas Bióticas

Verificação: desprendimento das mucosas em geral;

Mecanismo de formação: proliferação de bactérias >


enzimas proteolíticas > tornam as mucosas friáveis;

Fonte: SERAKIDES e OCARINO, 2022


Figura 20 . Estômago de cão com Figura 21 . Intestino de cão com
desprendimento post mortem da desprendimento post mortem da
mucosa (maceração). mucosa (maceração).
Figura 22 . Rúmen com
desprendimento post mortem da
mucosa (maceração).
24
Alterações cadavéricas Bióticas
4. COLIQUAÇÃO
Sinonímia: “liquefação parenquimatosa post mortem”;

Verificação: perda progressiva do aspecto e estrutura das vísceras;

Mecanismo de formação: proliferação de bactérias > enzimas proteolíticas >


decompõem e liquefazem o parênquima visceral.

Fonte: SERAKIDES e OCARINO, 2022


Figura 23. Baço de um cão com aspecto amolecido
(coliquação post mortem).
25
Alterações cadavéricas Bióticas

5. REDUÇÃO ESQUELÉTICA
Sinonímia: “esqueletização”;

Verificação: desintegração dos tecidos moles.

Fonte: Dreams time.


Figura 24. Crânio bovino em processo de
esqueletização.

26
FATORES QUE INFLUENCIAM NO APARECIMENTO
DAS ALTERAÇÕES POST MORTEM

Há muitos fatores que devem ser levados em consideração ao se analisar alterações


post mortem, alterando desde a velocidade e tempo com a qual essas alterações irão
se manifestar, até a intensidade das mesmas;

Didaticamente, pode-se agrupar estes fatores em dois grandes grupos, intrínsecos e


extrínsecos.

(FERREIRA, 2012)

27
FATORES EXTRÍNSECOS:
TEMPERATURA
A temperatura ambiente trata-se do fator externo mais impactante, visto que uma
alta temperatura atua como um catalisador para o aparecimento precoce das
alterações cadavéricas, enquanto temperaturas baixas irão inibir o crescimento
bacteriano e atividades das enzimas proteolíticas;

Outros fatores extrínsecos de importância são a circulação de ar e a presença de


líquidos, que podem favorecer a atuação e dispersão de microrganismos.

(BORDIN, 2014)

28
FATORES INTRÍNSECOS
TAMANHO
Quanto maior o tamanho do animal, mais difícil será o resfriamento;

ESTADO DE NUTRIÇÃO
O teor de glicogênio retarda a instalção do rigor mortis;
Animais obsesos armazenam calor;

TECIDO TEGUMENTAR
A gordura diminui a dissipação de calor;

CAUSA MORTIS
Infecções bacterianas;
Doenças neurológicas com sinais de convulsão e tremores;
Doenças que resultam em congestão generalizada;
Anemias.
(BORDIN, 2014)

29
FATORES INTRÍNSECOS

Fonte: Atlas de Patologia Veterinária.


Figura 25. Carcaça bovina com abdômen distendido.

30
CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com o exposto, pode-se observar que as alterações cadavéricas são de


suma importância para o entendimento da Patologia como um todo, visto que o
estudo deste tema permite maior precisão ao se estabelecer uma causa mortis,
que por sua vez, possibilita o enfoque na atuação dos profissionais de saúde
competentes em uma eventual prevenção, de forma segura e eficiente da
patologia que possivelmente ocasionou o óbito do paciente.

31
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CASTRO, G. Aula 07 alterações cadavéricas. Youtube, 2020. Disponível em:


<https://youtu.be/_KWbu2iz33A?si=3bxAoEWdnQYMTIK6>. Acesso em: 21 de out. 2023.

BOELONI, J. N. Alterações cadavéricas - Patologia Geral Veterinária (Universidade


Federal de Lavras). Studocu, 2021. Disponível em: <https://www.studocu.com/pt-
br/u/36890824?sid=166139711698109080>. Acesso em: 23 de out. 2023.

NUNES, I. J. Cadernos Técnicos da Escola de Veterinária da UFMG, Belo Horizonte, n.


16, p. 5-30, 1996.

SERAKIDES, R.; OCARINO, N. M. Alterações post mortem ou pós morte. Cadernos Técnicos
de Veterinária e Zootecnia, n. 13, p. 34-64, 2022.

VASCONCELOS, A. C. Necropsia e remessa de material para laboratório em Medicina


Veterinária. 2. ed. Teresina: Universidade do Piauí, 1987. 81 p.
OBRIGADO!

Você também pode gostar