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ALTERAÇÕES PÓS-MORTE E ACHADOS

INCIDENTAIS DE NECROPSIA

Profa. Laura Iglesias


ALTERAÇÕES PÓS-MORTE
Alterações observadas em um cadáver e que não
tenham ocorrido no indivíduo vivo.

Importância
Evita confundir as alterações decorrentes da
morte e as lesões provocadas em vida pelas doenças.
Possibilita o cronotanatognose (estimativa da
hora da morte, (khrónos-tempo; thanatos-morte; e
gnosis-conhecimento) em casos de medicina legal.
A - Alterações abióticas - Não modificam o cadáver no seu
aspecto geral.
1 – Imediatas (morte somática ou clínica):
Insensibilidade,
Imobilidade,
Parada das funções cardíaca e respiratória,
Inconsciência
Arreflexia
2 - Mediatas ou consecutivas (autólise):
Livor mortis (hipostase),
Algor mortis (frialdade),
Rigor mortis (rigidez),
Coagulação do sangue,
Embebição pela hemoglobina e bile,
Timpanismo ou meteorismo post-mortem,
Deslocamento, torção e ruptura de vísceras,
Pseudo-prolapso retal
B – Alterações transformativas

Modificam o cadáver.
Dificulta a avaliação dos achados
macroscópicos
(Decomposição enzimática, putrefação,
maceração)

*Pseudo-melanose
*Enfisema tecidual
*Maceração,
*Coliquação
*FENÔMENOS AUTOLÍTICOS
AUTÓLISE = é a destruição de um tecido por enzimas
proteolíticas produzidas pelas células e liberadas após a
morte. Basicamente inicia os processos gradativos de
decomposição do cadáver.
• Histologicamente: perda de limites celulares e da afinidade tintorial.
• Citoplasma granuloso e hialino, há perda dos limites.
• Ausência de reação inflamatória.
CÉLULAS QUE PRECOCEMENTE MOSTRAM OS EFEITOS DA
AUTÓLISE: alto índice metabólico

nervosas, medula da adrenal, trato intestinal,


epitélios especializados de algumas vísceras
como o pâncreas, fígado e rins.
TECIDOS QUE OFERECEM MAIOR RESISTÊNCIA À AUTÓLISE E
PUTREFAÇÃO:

pele, tecidos fibrosos, cartilagens e ossos

Como consequência ocorrem as seguintes alterações


cadavéricas:
RECONHECIMENTO DAS ALTERAÇÕES CADAVÉRICAS / MARCHA DA
PUTREFAÇÃO
Algor mortis (frialdade cadavérica) – resfriamento do
cadáver.
• Dissipação do calor pela evaporação.
A manifestação do algor mortis após a morte depende da
espécie, do estado de nutrição, da temperatura ambiente e
da causa mortis. Em geral, já se torna perceptível três a
quatro horas após a morte.
Mecanismo de formação: com a parada das funções vitais
(inclusive da termorregulação) e com a evaporação atuando
nas superfícies corporais (dissipando o calor), ocorre o
resfriamento gradual.
Livor mortis (hipostase cadavérica) – redistribuição do
sangue no corpo pela ação da gravidade.
Acúmulo de sangue nas regiões mais baixas por ação
da gravidade.

Aparecimento após a morte: entre duas e quatro horas, se o


animal permanece na mesma posição. Normalmente aparece
com o final do algor mortis acima discutido.
Mecanismo de formação: com a parada da função cardíaca
ocorre o acúmulo de sangue nas regiões mais baixas por ação
da forca da gravidade.

• Obs: diferenciar da congestão hipostática, que ocorre com


o animal em vida.
Manchas avermelhadas ou arroxeadas
Em órgãos pares, como rins e pulmões, o órgão congesto
é mais pesado, escuro e deixa fluir sangue ao corte.
Nesse caso é importante comparar as alterações com o
órgão contralateral.

UFG – Escola de Veterinaria e Zootecnia http://vet.uga.edu/


j

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Rigor Mortis (rigidez cadavérica)
Contração muscular que ocorre após a morte.
Depende do estado nutricional e da causa mortis
(estoque de glicogênio reduzido o aparecimento do
rigor mortis é mais rápido).

ATP é necessário para "desbloquear" as


unidades de contração em miofibras.
Se ATP está esgotado, as unidades de
contração permanecem bloqueadas
Rigor geralmente surge de 2 a 4 horas
após a morte e é completado 6 a 8
horas e pode durar de 12 a 24 horas.
O tempo varia ​dependendo das condições
ambientais e de carcaça.
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Mecanismo:
É necessário trifosfato de adenosina (ATP) para
manter o relaxamento post-mortem dos
músculos.

• Glicogênio esgotado concentração de ATP


cai o músculo torna-se rígido devido à
formação de ligações entre actina e miosina.

• O rigor mortis persiste até que estas ligações


são destruídos pelo avanço da autólise.
UFG – Escola de Veterinaria e Zootecnia
• Verificação: normalmente inicia-se pelos músculos
mandibulares e as articulações das extremidades. Com a
rigidez dos músculos, as articulações tendem a pouca
mobilidade.
• Aparecimento após a morte: em torno de duas a quatro
horas, dependendo principalmente do estado de nutrição
do animal e da causa mortis. Em animais caquéticos ocorre
mais precocemente.
• Duração: em torno de doze a vinte e quatro horas,
dependendo principalmente do estado de nutrição do
animal e da causa mortis, sendo menos pronunciado e
menos duradouro naqueles animais que morreram
caquéticos ou após exercícios musculares intensos.
Perda da mobilidade
das articulações.

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UFG – Escola de Veterinaria e Zootecnia


• Observações: o rigor tende a iniciar nos músculos
involuntários, abrangendo posteriormente os voluntários,
na seguinte sequência: coração (logo na 1ª hora após a
morte), músculos respiratórios, músculos mastigatórios,
músculos perioculares (promovendo a retração do globo
ocular), músculos do pescoço, dos membros anteriores, do
tronco e dos membros posteriores.

• Essa mesma sequência é válida para o término da


alteração. A musculatura lisa intestinal (principalmente a
do jejuno), ao entrar em rigor mortis, pode determinar
inclusive intussuscepções post mortem.
“Achados” comuns de necropsia, sem significado
clínico

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intussuscepção
Coagulação do sangue
• Coágulos vermelhos (cruóricos), amarelados (lardáceos,
associados à agonia), ou mistos, nas câmaras cardíacas
(geralmente do lado direito do coração) e nos vasos.
• Não é de se esperar a presença de coágulos, no ventrículo
esquerdo, pois o rigor deve expulsar totalmente o sangue desta
câmara cardíaca.
• A ocorrência de coágulos no ventrículo esquerdo sugere, mas
não necessariamente significa, debilidade do miocárdio, fato
comum nas insuficiências cardíacas congestivas e nas doenças
crônicas caquetizantes.
• Aparecimento após a morte: em torno de duas horas.

• Duração: em torno de oito horas, com posterior hemólise do


coágulo e formação de um líquido vermelho escuro.
Mecanismo de formação: células endoteliais, leucócitos
e plaquetas em hipóxia liberam tromboquinase, que irá
desencadear a formação de coágulos.
Obs: diferenciar coágulo de trombo
Coágulo: consistência úmida, superfície lisa e
brilhante, vermelho intenso ou amarelo, estrutura
uniforme, não aderido a parede do vaso, endotélio
vascular abaixo do coágulo não é lesado, formado
após a morte.

Trombo: aspecto seco, friável, inelástico, aderido a


parede do vaso e quando retirado deixa superfície
rugosa e sem brilho.
Forma-se em torno de duas horas após a morte e tem duração
aproximada de seis a oito horas.
Trombos

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Artéria pulmonar à esquerda do brônquio


Está completamente obstruída por um
trombo, bloqueando o fluxo de sangue.

Equino
Trombo verminótico.

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Embebição pela hemoglobina

Pigmentação avermelhada nos tecidos causada pela


liberação da hemoglobina após hemólise.
Mais evidente em coração, grandes vasos
sanguíneos e tecidos claros como omento e
intestino.
É diferenciada de hemorragia por ser superficial e
diminuir de intensidade à medida que se aprofunda
no tecido.

Aparecimento em torno de oito horas após a morte.


Embebição pela hemoglobina
Normal Embebição

https://vetpath.wordpress.com/
Sem embebição Com embebição
Ocorre em aproximadamente 8 horas após a morte.

g
EMBEBIÇÃO BILIAR
Pigmentação amarelo-esverdeada dos
tecidos adjacentes à vesícula biliar,
principalmente fígado e intestino delgado.
Inicia algumas horas após a morte e é
causada pela rápida autólise da vesícula
biliar; em virtude da ação dos sais biliares,
facilita a difusão dos pigmentos biliares.

É diferenciada de icterícia por ser


localizada e não difusa.
Icterícia
Gordura de equino
Obs.: Icterícia – não confundir
com embebição biliar.

n
Timpanismo cadavérico (meteorismo pós mortem)
A fermentação e a putrefação do conteúdo
gastrointestinal resulta em grande volume de gás, que
distende as vísceras ocas aumentando a pressão intra-
abdominal.
– Ocorre em função da fermentação e formação de gás por
bactérias do intestino.
– Diferenciar de meteorismo ou timpanismo ante-mortem.

www.flickr.com
Deslocamento, torção e ruptura de vísceras
Modificação na posição das vísceras, às vezes com torção e até ruptura
das mesmas.

Em consequência do aumento
de gases devido à fermentação
e aputrefação do conteúdo
gastrointestinal.
Diferenciam-se de
lesões ante mortem pela
ausência de alterações
circulatórias.

Daschund macho adulto deslocamento gástrico pós-morte


As alterações circulatórias indicam manifestações patológica.
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Pseudoprolapso retal (prolapso retal cadavérico)
O aumento da pressão intra-abdominal e
intrapélvica causado pelo meteorismo pós-morte,
ocasiona a expulsão do reto.
Exteriorização da ampola retal, com ausência
alterações circulatórias.
Pseudoprolapso Prolapso

Prolapso

https://c1.staticflickr.com/ www.nadis.org.uk
K
FENÔMENOS PUTREFATIVOS

De natureza bacteriana devido aos microrganismos


presentes no trato digestivo ou que penetram no organismo
provenientes do meio externo.
• Heterólise: destruição de um tecido por enzimas
proteolíticas geralmente da proliferação de bactérias
saprófitas, que decompõem (putrefazem) o organismo,
alterando suas características de modo a torná-lo
impróprio para a necropsia.

• Como consequências da heterólise, podem ocorrer as


seguintes alterações:
• Pseudo-melanose (manchas da putrefação) –
resulta do sulfeto de hidrogênio oriundo da
putrefação combinado com o ferro da
hemoglobina, formando o sulfeto ferroso e corando
os tecidos de cor cinza azulada, verde ou preto.
Áreas focalmente
extensas esverdeadas,
azuladas ou cinzas,
principalmente na pele
do abdômen e em órgãos
próximos ao intestino,
como fígado, rins e baço

Pseudomelanose tecido
subcutâneo de cão.
• .
lllç
• Enfisema cadavérico – bactérias putrefativas
decompõem os tecidos levando à formação de
pequenas bolhas de gás no tecido subcutâneo,
muscular, na superfície das membranas mucosas,
serosas do trato intestinal e em órgãos
parenquimatosos.
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O fígado pode apresentar áreas focais
a coalescentes na cápsula e até ficar
difusamentepálido ou amarronzado
com bolhas de putrefação,
semelhante a chocolate aerado.
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bactérias putrefativas bolhas de gás


• Maceração – desprendimento das mucosas em geral.
– Resultante das enzimas proteolíticas geradas pela proliferação
bacteriana.
– Ocorre muito rápido na mucosa ruminal.
Diferenciar
• Coliquação – (liquefação parenquimatosa post
mortem) – enzimas proteolíticas produzidas pela
proliferação bacteriana decompõem e liquefazem o
parênquima das vísceras. Perda do aspecto e
estrutura das vísceras.
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• Redução esquelética (esqueletização) –
desintegração de tecidos moles (desaparecimento
das partes moles).

https://pt.wikipedia.org/
“Achados” comuns de necropsia, sem significado
clínico
a
Mutilação

http://www.theparacast.com/
l
Fatores que influenciam no aparecimento
precoce ou tardio das alterações cadavéricas:
• Temperatura ambiente – quanto mais alta, maior a
velocidade de instalação das alterações cadavéricas
(temp. baixa inibe ação e síntese de enzimas
proteolíticas e crescimento bacteriano).

gazetaonline.jor.br
• Tamanho do animal – quanto maior, mais difícil o
resfriamento e maior a velocidade de instalação
das alterações cadavéricas.
• Estado de nutrição – maior teor de glicogênio
muscular, mais tempo para o rigor mortis se
instalar (atrasa o rigor). Animais mal nutridos
desenvolvem o rigor mortis mais rapidamente;

Maria (Mary)
Branquinho
• Cobertura tegumentar - Pêlos, penas, lã e camada
de gordura.

http://www.farmpoint.com.br/

Crédito: EFE
• Causa mortis – infecções clostridianas, septicemias,
intoxicações com estricnina aceleram a instalação
de alterações cadavéricas.

• Grau de umidade do ambiente.


• Higiene do ambiente.

http://defesamorpelosanimais.zip.net/
FIM!
Gratidão!

"Que a eterna luz do sol te ilumine, que todo o amor


te envolva, e a luz verdadeira, no teu interior, guie o
teu caminho para casa."
Bênção Sufi

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