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Noções de Tanatologia

Profª Msc. Luciana Alvares


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• As coisas mais simples e óbvias podem ser as mais difíceis de
conceituar. Definir o que é a morte é tão difícil quanto
conceituar a sua antítese: a vida.
• A maior parte das definições sobre morte são definições
negativas, expressas pela via da exclusão. Como por ex.: dizer
que ocorre morte qdo não ocorrem certos fenômenos
considerados vitais.
• Do ponto de vista jurídico, a conceituação seria “ é a extinção
do sujeito de direito.”
• Ponto de vista médico: cessação da vida. Prognóstico de
irreversibilidade de um processo: não há mais de se retornar à
vida.

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• Tríade de sistemas: respiratório, circulatório e nervoso. Os
2 primeiros existem em função de atender às necessidades
do terceiro.
• Classificação dos tipos de morte:
• Quanto à realidade morte real
morte aparente

1- Morte real: Caracterizada pela suspensão total e definitiva de


todas as atividades vitais.
* Cessação da respiração
* Cessação da circulação
* Cessação de atividade cerebral
A Medicina Legal adotou a etapa da morte clínica como definidora.
Para evitar uma inumação precipitada, que poderia ser fatal, era
preciso determinar se uma pessoa estava realmente morta ou
apenas se encontrava em um estado de morte aparente. Assim
foram estabelecidos prazos mínimos para que sejam feitos
procedimentos como necropsia e sepultamento.
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• 1- Morte real: A atividade neurológica é a única das funções vitais
que ainda nao teve condições de ser mantida por meios artificiais
(ou de ser prolongada). Daí que seus prejuízos , sua
irrecuperabilidade ou a sua extinção sejam, praticamente,
sinônimos da própria extinção da vida.
• É ao nível neurológico que ocorrem os mais variados e sutis
estados intermediários entre a vida e a morte, os “estados
fronteiriços”, como por ex os “estados de vida parcial” (comas).

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• 2- Morte aparente: Estado transitório em que as funções vitais
aparentemente estão abolidas, em consequência de uma doença
ou entidade mórbida que simule a morte. Esses casos tb podem
ser causados pelo abuso de depressores do SNC ou por acidentes,
onde a temperatura corporal cai sensivelmente e há um grande
rebaixamento das funções cardio-respiratórias, fornecendo, a um
simples exame clínico, a aparência de morte real.
• Neste quadro, a vida continua ainda que seus sinais externos não
se manifestem: os batimentos cardíacos tornam-se
imperceptíveis, assim como os movimentos respiratórios , e
podem inexistir elementos de motricidade e de sensibilidade
cutânea.

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• 2- Morte aparente: a denominada tríade de Thoinot define
clinicamente o estado de morte aparente, e é constituída
por:
• Imobilidade,
• Ausência aparente da respiração,
• Ausência de circulação.

• A duração desse estado de morte aparente pode durar, de


acordo com diversas opiniões (das mais controversas) de
alguns minutos até dias.

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• Tanto o conceito qto o momento em que a morte ocorre ainda é
polêmico entre os autores. Há quem defenda ser no momento da parada
cardiorrespiratória (morte biológica ou real), e outros no momento em
que há parada neurológica (morte encefálica).
• A lei brasileira adotou como momento da morte a encefálica , segundo
dispõe o art. 3º da Lei 9.434/97 (Lei de Transplante de Órgãos).
• Importante não confundir morte encefálica com morte cerebral!
Embora rotineiramente sejam consideradas sinônimas, o cérebro é
apenas uma parte do encéfalo (tronco encefálico, cérebro e cerebelo), e
a lei exige morte encefálica!!
• Portanto, este é o critério de momento da morte adotado pela Medicina
legal.

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• Uma série de fenômenos começa a ocorrer no corpo, pois a morte
não é um acontecimento instantâneo, mas sim um processo
gradativo que vai evoluindo com o tempo.
• Assim, qto maior o tempo que tiver decorrido desde o momento
da morte, mais efeitos poderão ser observados no cadáver.
• Esses fenômenos serão estudados pelos legistas na necropsia ou
exame cadavérico. Este só poderá ser feito após o interstício de 6
horas desde a constatação da morte, salvo qdo esta puder ser
verificada de imediato pelo médico, dispensando-se esse prazo.

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• 1- Fenômenos abióticos:
a) IMEDIATOS
b) MEDIATOS ou consecutivos

• 2- Fenômenos transformativos ou tardios:


a) DESTRUTIVOS
b) CONSERVADORES

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• 1- Fenômenos abióticos:
a) IMEDIATOS: São aqueles que surgem instantaneamente
com a constatação do óbito.
Não podem ser dissociados da morte. São eles:
- perda da consciência
- perda da sensibilidade
- cessação dos movimentos respiratórios
- cessação da circulação sanguínea
- cessação das atividades neurológicos
- abolição da motilidade e do tônus muscular (imobilidade
cadavérica)

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• 1- Fenômenos abióticos:
a) IMEDIATOS: São aqueles que surgem instantaneamente
com a constatação do óbito.
Não podem ser dissociados da morte. São eles:
- perda da consciência: pode ser diagnosticada tentando se
comunicar com a pessoa. Caso esta não responda ou não faça
nenhum sinal indicativo, significa que está inconsciente.

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• 1- Fenômenos abióticos:
a) IMEDIATOS: São aqueles que surgem instantaneamente
com a constatação do óbito.
- Cessação dos movimentos respiratórios: uma das formas de
diagnosticar é auscultar os movimentos peitorais.
- O primeiro sinal é a não movimentação do peito. Após isso,
podemos posicionar um espelho próximo das narinas e da
boca para saber se há entrada e saída de ar dos pulmões.
- Se o espelho embaçar é porque a pessoa está respirando.
Atualmente este diagnóstico tb pode ser feito por medições
eletrocardiorrespiratórias.

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• 1- Fenômenos abióticos:
a) IMEDIATOS: São aqueles que surgem instantaneamente
com a constatação do óbito.
- Cessação da circulação sanguínea: tb pode ser diagnosticada
pela auscultação. Se o coração estiver bombeando sangue, é
provável que exista circulação. Senão, haverá parada
cardíaca.

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• 1- Fenômenos abióticos:
a) IMEDIATOS: São aqueles que surgem instantaneamente
com a constatação do óbito.
- Cessação da atividade neurológica: essa medição é feita por
meio de aparelhos de eletrocardiograma, que medem as
frequencias neurais.

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• 1- Fenômenos abióticos:
a) IMEDIATOS: São aqueles que surgem instantaneamente
com a constatação do óbito.
- Cessação da motilidade e do tônus muscular (imobilidade
cadavérica): Via de regra, mortos não andam. Portanto, esse
diagnóstico poderá ser visual e facilmente extraído qdo se
tem a perda da consciência e da sensibilidade.

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• 1- Fenômenos abióticos:
b) MEDIATOS ou CONSECUTIVOS: São aqueles que surgem logo
após os imediatos, podendo levar minutos, horas ou até dias
para ocorrerem.
Alguns provocam efeitos que demoram dias para desaparecer,
como a rigidez cadavérica.

Outros demoram poucas horas após o óbito para surgire, como o


resfriamento do corpo e a desidratação.
Portanto, não são fenômenos instantâneos ao óbito, como são
os imediatos.
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• 1- Fenômenos abióticos:
b) MEDIATOS ou CONSECUTIVOS:
- b.1) Desidratação do corpo, que abrange:
- Perda de peso
- Pergaminhamento da pele
- Dessecamento das mucosas dos lábios
- Modificações dos globos oculares (dilatação da pupila)
- b.2) Esfriamento da temperatura corporal
- b.3) Rigidez cadavérica
- b.4) manchas de hipóstase cutâneas ou livores cadavéricos
- b.5) manchas de hipóstase viscerais
- b.6) espasmo cadavérico 18
• 1- Fenômenos abióticos:
b) MEDIATOS ou CONSECUTIVOS:
- b.1) Desidratação do corpo, que abrange:
- Perda de peso: perda de líquidos (sangue, água);

- Pergaminhamento da pele (pele seca, dura e amarelada);

- Dessecamento das mucosas dos lábios (ficam secos e opacos);

- Modificações dos globos oculares (dilatação da pupila): olho fica


enegrecido (“olhares negros dos cadáveres). Devido à essa aparência,
deu-se o hábito de fechar os olhos dos mortos.

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• 1- Fenômenos abióticos:
b) MEDIATOS ou CONSECUTIVOS:
- b.2) Esfriamento do corpo: não tem uma escala precisa,
mas crê-se que o corpo perde cerca de 1º C por hora após
a morte, variando de acordo com o local onde se encontra
o corpo.
- A tendencia é o corpo resfriar-se até atingir o equilíbrio
com o meio em que se encontra, ou seja, com a
temperatura ambiente. Por isso, o local onde é encontrado
pode interferir no diagnóstico da hora da morte.

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• 1- Fenômenos abióticos:
b) MEDIATOS ou CONSECUTIVOS:
- b.3) Rigidez cadavérica:
enrijecimento dos músculos,
que se contraem, tornando o
corpo estático.
- Manifesta-se primeiramente nos ossos maxilares e no pescoço.
- Algumas horas depois, atinge os membros superiores, até
chegar aos inferiores.
- Acredita-se que esse processo tem início por volta de 1-2
horas após a morte, atingindo a totalidade do corpo
aproximadamente 8 h após o óbito.
- 24 h após a morte, o corpo começa a ir perdendo a rigidez e
aos poucos vai tornando-se flácido, até dar início à fase de
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putrefação (48-72 h pós-morte).
• 1- Fenômenos abióticos:
b) MEDIATOS ou CONSECUTIVOS:
- b. 4) manchas de hipóstase cutâneas ou lividez cadavérica:
Consistem no acúmulo de sangue nos tecidos cutâneos.
- Formam-se de acordo com a lei da gravidade, ou seja, nas partes
mais baixas do cadáver, permitindo determinar a posição em que
o corpo foi encontrado.
- Com a morte, o sangue para de circular e fica sujeito à lei da
gravidade. Se um corpo for encontrado deitado com o ventre
voltado para o chão, é nessa região do corpo que encontraremos
as manchas avermelhadas na pele.

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• 1- Fenômenos abióticos:
b) MEDIATOS ou CONSECUTIVOS:
- b. 5) manchas de hipóstase viscerais: Tambem chamadas de
lividez visceral, são as mesmas manchas cutâneas decorrentes do
acúmulo de sangue, porém agora nos órgãos internos.
- A tendência do sangue ao parar de circular é de se acumular na
parte do órgão que estiver voltada para baixo, devido à ação da
gravidade, principalmente nos órgãos com maior irrigação
sanguínea, como os rins e o fígado.

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• 1- Fenômenos abióticos:
b) MEDIATOS ou CONSECUTIVOS:
- b. 6) Espasmo cadavérico: Decorrente da rigidez cadavérica
abrupta. Pode não ser um fenômeno totalmente aceito pelos
autores. Consiste na manutenção da posição em que se
encontrava a pessoa antes de ser surpreendida pela ação letal.
- Não deve ser confundida com a rigidez cadavérica que se instala
progressivamente. O espasmo surge de imediato após a morte. É
como se a pessoa ao morrer ficasse paralisada na posição em que
estava, como uma estátua. Pode denotar uma possível surpresa
na agressão sofrida pela vítima.

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• Fenômenos TRANSFORMATIVOS ou tardios destrutivos: São
aqueles que surgem após algumas horas e até alguns dias
posteriores a morte. Por este motivo são denominados
tardios. São destrutivos porque irão DECOMPOR e DESTRUIR
os tecidos do corpo.
• São eles:
• 1) Autólise

• 2) Putrefação

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• Fenômenos consecutivos ou tardios destrutivos:
• 1) Autólise: é a autodestruição das células do organismo.

• Com a morte há perda de água no interior das células, e os


compostos químicos que foram diluídos pela água passam a ficar
concentrados, principalmente os ácidos.
• Com isso, as células começam a romper uma a uma, até que
fenômenos químicos internos dos próprios compostos que
constituem o corpo destroem-nas.
• Não há interação ou interferência de seres externos (bactérias,
por ex.) na autólise. Ela é decorrente das enzimas do próprio
corpo que alteram sua natureza, passando a destruir os tecidos.
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• Fenômenos consecutivos ou tardios destrutivos:

• 2) Putrefação: É a destruição do tecido por interferência do


meio-ambiente e de MO existentes no interior do corpo.
• Inicia-se após a autólise e consiste na decomposição da
matéria orgânica do corpo pela ação de diversos MO. Com a
autólise, o corpo destrói suas células e, por conseguinte, suas
defesas contra agressões de seres externos e até mesmo
internos. Assim, as bactérias que antes eram controladas,
passam a decompor o tecido humano.
• Geralmente, ela começa pelo intestino, dando origem à
mancha verde abdominal.

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• Fases ou períodos da putrefação:

• A) Fase de coloração
• B) Fase gasosa
• C) Fase coliquativa
• D) Fase de esqueletização

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• Fases ou períodos da putrefação:

• A) Fase de coloração: Há a formação de uma mancha


verde inicialmente na região abdominal, que depois se
espalha pelo corpo todo até atingir uma tonalidade
verde-escura.
• Em geral é por onde se inicia a putrefação.
• Inicia-se por volta de 20-24 h após a morte.

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• Fases ou períodos da putrefação:

• B) Fase gasosa: Há a formação de gases no interior do corpo,


dando a aparência de inchaço. Muitas vezes o corpo pode chegar a
ficar com uma forma gigantesca. Esses gases se formam abaixo da
epiderme e fazem pressão sobre o sangue acumulado que se
acumula na região periférica do corpo, devido à ação da gravidade.

• Em virtude do destacamento ou deslocamento da epiderme, na


derme o sangue esboça o que a doutrina denomina de circulação
póstuma de Brouardel, formando espécies de tatuagens na derme
com o sangue acumulado.

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• Fases ou períodos da putrefação:
• B) Fase gasosa:

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• Fases ou períodos da putrefação:
• B) Fase gasosa:

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• Fases ou períodos da putrefação:
• B) Fase gasosa:

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• Fases ou períodos da putrefação:
• B) Fase gasosa:

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• Fases ou períodos da putrefação:
• B) Fase gasosa:

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• Fases ou períodos da putrefação:
• B) Fase gasosa:

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• Fases ou períodos da putrefação:
• B) Fase gasosa:
• Circulação póstuma de Brouardel: é o acúmulo de sangue
já em decomposição, por esse motivo bem mais escuro
que o normal, nos tecidos mais superficiais da pele,
formando uma espécie de tatuagem na pele, desenhando
os trajetos dos vasos sanguíneos.
• Tem origem com o aumento da pressão interna no corpo,
que empurra o sangue para a superfície da pele.

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• Fases ou períodos da putrefação:
• C) Fase coliquativa: é onde há a desintegração
progressiva dos tecidos mais moles, fazendo o corpo
reduzir o seu volume e a sua forma.
• Varia conforme as condições do ambiente, podendo
perdurar por meses após a morte.
• É como se o corpo fosse se consumindo e ficando com
uma aparência menor, mais magra. O adulto pode ficar
com o tamanho aproximado de um adolescente, e este
pode ficar do tamanho aprox. de uma criança.

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• Fases ou períodos da putrefação:
• C) Fase coliquativa:

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• Fases ou períodos da putrefação:
• C) Fase coliquativa:

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• Fases ou períodos da putrefação:
• D) Fase de esqueletização: Por fim, temos a fase em que
os tecidos se liquefizeram durante a fase coliquativa, até
acontecer a desintegração total destes. Permanecem
somente os ossos que aos poucos vão se tornando
frágeis, quebradiços e esfarelados.
• É a fase da ossificação do corpo. Nenhum tecido existe.
Apenas restam os ossos, que, com o tempo, tb irão se
desintegrar.

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