Você está na página 1de 22

Prof.

Marcelo Ayan – Médico Legista - CPC “Renato Chaves”


Curso: Tanatologia Médico-Legal

APOSTILA DE TANATOLOGIA MÉDICO-LEGAL

1. INTRODUÇÃO

A palavra tanatologia advém do grego tanathos que quer dizer morte e logus,
estudo. “Morte” provém do latim mors, mortis, advindos de mori (morrer). O campo de
atuação da Tanatologia compreende as causas da morte, as circunstâncias em que
ocorreu, os fenômenos cadavéricos, e as repercussões jurídico-sociais.

Entende-se por morte a cessação total e permanente das funções vitais, de forma
assíncrona, ou seja, é um processo de velocidade variável e não um fenômeno isolado e
instantâneo. Nem todas as células morrem ao mesmo tempo, o que dá origem a uma
série de questões de ordem ética, médica e legal. Do ponto de vista jurídico, é a extinção
do sujeito de direito.

Alguns termos são utilizados para o diagnóstico de morte em seres humanos:

 Morte cerebral ou cortical: perda definitiva e irreversível das funções cerebrais


relacionadas com a existência consciente;

 Morte encefálica: perda definitiva e irreversível das funções do cérebro,


cerebelo, bulbo raquidiano, tálamo e hipotálamo. Segundo a Resolução nº
1.480/1997 do CFM, “os parâmetros clínicos para constatação de morte encefálica
são: coma aperceptivo, ausência de atividade motora supraespinhal e apneia”. A
morte é a interrupção total e irreversível das atividades cerebrais,
cardiocirculatórias e respiratórias.

Quanto à extensão, a morte pode ser classificada em:

 Celular ou histológica: é a morte (necrose) celular e tecidual com suas


alterações bioquímicas e morfológicas, microscópicas e macroscópicas; e

 Anatômica: morte do organismo como um todo.

Quanto à reversibilidade, a morte pode ser classificada em:

 Aparente: estado patológico transitório que simula a morte, aparência de morte,


_________________________________________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista _____________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________________________________
MEDICINA LEGAL Tanatologia Forense

porém as funções cardíacas, embora quase imperceptíveis, estão presentes e a


volta à vida é possível, de forma espontânea ou por eficiente socorro médico.
(Ex.: coma epilético, catalepsia e a morte aparente do RN);

 Relativa: parada efetiva e duradoura das funções nervosa, respiratória e


circulatória. Pode ser revertida por manobras terapêuticas extraordinárias; e

 Absoluta ou Real: ausência definitiva das atividades biológicas, verificada pela


inatividade encefálica.

Quanto à maneira, a morte pode ser classificada em:

 Natural: estado mórbido adquirido, resultante de alterações orgânicas ou


perturbação funcional provocada por agentes naturais, inclusive os patogênicos.
Sua instalação é lenta e, de certa forma, endógena. Não há responsabilidade a
apurar (Ex.: IAM, AVC, Câncer);

 Violenta: decorre de causas externas de instalação abrupta (exceto


envenenamentos crônicos). Pode ser acidental, criminosa ou voluntária. É a
que não resulta da idade ou de doença (natural), mas sim de ato praticado por
terceiro (homicídio) ou pela própria pessoa (suicídio), bem como de acidente,
sempre existindo a responsabilidade penal a ser apurada; e

 Suspeita: quando não há elementos, ainda que momentaneamente, para


determinar se a morte foi natural ou violenta. É aquela que após a investigação
cuidadosa das circunstâncias em que o óbito ocorreu e de seu local suscita
razões para se suspeitar, de modo fundamentado, que sua causa tenha sido
violenta. (Ex.: morte num presídio)

Quanto ao processamento ou à rapidez, a morte pode ser classificada em:

 Súbita: cessação dos sinais vitais de maneira surpreendente (instantânea) e


imprevista, acometendo quem estava em aparente higidez. É uma doença,
geralmente cardiovascular, desconhecida que evolui sem chamar a atenção; e

 Agônica: mediata ou em grande intervalo de tempo. O diagnóstico diferencial


entre morte súbita e morte agônica é feito pelas docimasias hepática e
suprarrenal, ou seja, pela pesquisa de glicose e glicogênio no fígado, e de

__________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista ________________________________________________________________


________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Medicina Legal TANATOLOGIA FORENSE

adrenalina nas glândulas suprarrenais, respectivamente.

Quanto à causa jurídica, a morte violenta pode ser classifica em:

 homicídio, suicídio ou acidente.

Segundo o Código Civil (CC), pode ser declarada a morte presumida se for
extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida ou se alguém,
desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o
término da guerra, por exemplo.

Quando ocorrem óbitos simultâneos de partícipes do mesmo evento, isto é, se dois


ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum
precedeu ao(s) outro(s), chamamos comoriência, situação prevista pelo art. 8º do CC.
Existindo a possibilidade de se determinar quem morreu primeiro, chamamos
primoriência.

Os fenômenos cadavéricos podem ser reunidos em três grandes grupos: abióticos


imediatos (sinais de incerteza ou de diagnóstico clínico), abióticos mediatos (sinais de
certeza ou consecutivos) e transformativos (destrutivos e conservadores).

O estudo desses sinais permite o diagnóstico da morte (tanatognose), bem como o


diagnóstico do tempo da morte (cronotanatognose). Esse estudo é praticado no local do
crime, assim como no Instituto Médico Legal e no Serviço de Verificação de Óbito.

2. TANATOGNOSE (diagnóstico da morte através de estudo dos fenômenos cadavéricos)

2.1- SINAIS ABIÓTICOS IMEDIATOS OU DE INCERTEZA

Os sinais abióticos (ou avitais ou vitais negativos) imediatos são os indícios de


ausência de vida que surgem imediatamente após a morte:

a) Ausência de função cardiocirculatória:

 Batimentos cardíacos ausentes, pulso ausente, pressão arterial zero.

b) Ausência de respiração;

______________________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista _______________________________________________________


____________________________________________________________________________________________________________________________________________
MEDICINA LEGAL Tanatologia Forense

c) Ausência da função cerebral:

 Inconsciência (de 8 a 10 segundos após a anoxemia cerebral), insensibilidade


(tátil, térmica e dolorosa), imobilidade, abolição total do tônus muscular ou
flacidez muscular difusa;

 Os músculos relaxam, permitindo eliminação de fezes, urina, esperma; as


pupilas se dilatam – midríase; o corpo se amolda ao apoio, o tórax se achata, a
boca fica entreaberta devida queda da mandíbula; as rugas da face se atenuam
(“máscara da morte” ou face hipocrática).

Individualmente, esses sinais não têm valor absoluto, apenas insinuam a morte.

3. SINAIS ABIÓTICOS MEDIATOS, CONSECUTIVOS OU DE CERTEZA

Os sinais ou fenômenos abióticos mediatos são os indícios de ausência de vida


que vão surgindo mais tardiamente e determinam sua realidade. São também chamados
de sinais consecutivos (surgem após aos imediatos) ou de certeza (confirmam
efetivamente a morte).

3.1- DESIDRATAÇÃO CADAVÉRICA (Dessecamento)

Decorre da evaporação dos líquidos corpóreos e acarreta:

a) Perda de peso (sinal de Dupont): em média, 10 a 18g/Kg/dia no adulto; e


8g/Kg/dia no feto e RN;

b) Desidratação cutânea: pele e mucosas com aspecto pardacento e endurecido


(pergaminhamentro);

c) Alterações oculares: perda de tensão do globo ocular (sinal de Stenon-Louis),


opacificação da córnea com formação de tela viscosa (sinal de Winslos), mancha
enegrecida na esclerótica (sinal de Sommer-Larcher).

Fatores que interferem na velocidade da desidratação cadavérica:

a) Ambientais: temperatura alta acelera a desidratação, e a baixa, retarda;

__________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista ________________________________________________________________


________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Medicina Legal TANATOLOGIA FORENSE

b) Superfície de evaporação: ausência de roupa favorece a evaporação,


consequentemente, a desidratação;

c) Características individuais: crianças e idosos desidratam mais rapidamente.

3.2- RESFRIAMENTO ou ESFRIAMENTO DO CORPO (ALGOR MORTIS)

Com a morte celular, deixa de haver a produção de energia (calor do metabolismo


celular), ocorrendo o resfriamento do corpo (de 36,5ºC), progressivamente, até atingir o
equilíbrio térmico com o meio ambiente (de 25°C), o que leva aproximadamente 20 horas
nas crianças e 24 horas nos adultos. Em geral, essa perda é de 0,5°C por hora nas
primeiras 3 horas, acelerando-se para 1°C por hora nas demais horas.

Fatores que influenciam na velocidade do resfriamento corporal:

a) Ambientais: temperatura baixa – acelera, ventilação – acelera, umidade e meio


aquoso – retardam;

b) Superfície de exposição: ausência de vestuário – acelera;

c) Características do indivíduo: obesidade – retarda;

d) Causa da morte: infecção – atividade bacteriana – retarda.

3.3- LIVORES CADAVÉRICOS ou HIPÓSTASES (LIVOR MORTIS)

Ilustração 1 - LIVORES OU HIPÓSTASES / Fonte: Livro Medicina Legal II –


Eduardo Roberto & Alcântara Del-Campo, Ed. Saraiva

______________________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista _______________________________________________________


____________________________________________________________________________________________________________________________________________
MEDICINA LEGAL Tanatologia Forense

Livores são manchas cutâneas; hypo, do grego em baixo, e estase, parado. Como
a pressão nos vasos após a morte é zero, o sangue contido dentro dos vasos sanguíneos
se deposita nas partes mais baixas do cadáver por ação da gravidade, exceto nas regiões
comprimidas ou de apoio uma vez que nessas áreas os vasos estão fechados.

O mesmo fenômeno ocorre nos órgãos internos, constituindo as hipóstases


viscerais. Esse sangue depositado aparece como pequenos pontos que se tornam
manchas arroxeadas, que é a cor do sangue pobre em oxigênio e rico em gás carbônico
(cianose).

As hipóstases surgem de trinta minutos a três horas após a morte e se fixam nos
tecidos após, aproximadamente, 8 (oito) a 12 (doze) horas. Têm coloração azul-violácea
ou vinhosa, podendo variar do róseo claro (intoxicação por monóxido de carbono ou
cianeto) ao roxo enegrecido, dependendo da causa mortis.

A evaporação da água corpórea diminui a parte líquida do sangue (plasma),


fazendo com que as hemácias fiquem aglomeradas e não consigam mais se movimentar
(fixação das hipóstases). A partir daí, mudar a posição do cadáver não altera as
hipóstases, permitindo identificar a posição primitiva do corpo. Exemplo: enforcado mais
de doze horas suspenso – as hipóstases da cintura para baixo não se alteram ao deitar o
corpo do cadáver no solo.

As hipóstases podem ser de difícil apreciação (imperceptíveis) nos cadáveres de


pessoas de raça negra (pela pele escura), bem como de portadores de anemia severa
(pela diminuição de glóbulos vermelhos que deixa o sangue muito claro).

Os pontos da pele que se encontram pressionados pelo solo ou por objetos, tais
como marcas do piso, pedras, uma arma ou qualquer outro objeto, não permite a
formação dos livores, formando, por contraste, desenhos onde se pode claramente
identificar estes objetos. Uma arma de fogo, por exemplo, que fora, indevidamente,
removida do local, pode se encontrar desenhada na região das hipóstases cadavéricas,
sem que o responsável por esta ação se dê conta disso.

Seu valor médico legal: avaliação do tempo da morte (fixação em oito a doze
horas), identificação da posição primitiva do corpo (dá indícios de adulteração da cena do
crime) e diagnóstico da causa da morte (variação da coloração das hipóstases).

__________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista ________________________________________________________________


________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Medicina Legal TANATOLOGIA FORENSE

3.4- RIGIDEZ CADAVÉRICA (RIGOR MORTIS)

Os músculos, inicialmente flácidos, contraem-se pela última vez à custa de células


que ainda não morreram. Note que, a morte é um processo em que as células vão
morrendo, cada uma ao seu tempo, dependendo da maior ou menor necessidade de
oxigênio.

A rigidez (retração e endurecimento de todos os músculos) é uma variante da


contração muscular normal, provocada pela escassez de oxigênio, acúmulo de ácido
lático e desidratação. Inicia-se na mandíbula (face) e nuca (pescoço), evoluindo de forma
descendente, pela musculatura torácica, membros superiores, abdome e membros
inferiores (Lei de Nysten).

Começa na primeira ou segunda hora após a morte, generalizando-se após duas a


três horas e atingindo o máximo entre cinco e oito horas. Será mais ou menos intensa
dependendo da massa muscular do cadáver, podendo inexistir nos idosos e desnutridos.
Daí ser parâmetro pouco confiável. Essa rigidez se desfaz com o início da putrefação
(24h), seguindo a mesma sequência descendente (regra de Thoinot), a não ser que tenha
havido manipulação do cadáver para desfazê-la.

O espasmo cadavérico (raro e controverso) é a manutenção da última posição do


indivíduo antes de morrer (sinal de Kossu) – a rigidez não é precedida pela fase de
relaxamento. A presença de gramíneas fortemente presas nas mãos fechadas de
afogados, indica que o indivíduo estava vivo ao cair na água, pois se inicialmente
houvesse o relaxamento, teria soltado o que pegou.

Fatores que aceleram o processo de rigidez cadavérica:

 Alta temperatura ambiente;

 Morte súbita em plena atividade física;

 Desidratação orgânica / hemorragias agudas;

 Eletrocussão / eletroplessão;

 Enfermidades convulsivantes (epilepsia, tétano, eclampsia);

 Envenenamento pela estricnina;

______________________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista _______________________________________________________


____________________________________________________________________________________________________________________________________________
MEDICINA LEGAL Tanatologia Forense

 Idade tenra e senilidade.

Fatores que retardam o processo de rigidez cadavérica:

 Baixa temperatura ambiente;

 Enfermidades crônicas, caquexia;

 Edemaciação do corpo / morte por afogamento;

 Robustez física.

3. FENÔMENOS TRANSFORMATIVOS (TARDIOS) DESTRUTIVOS

3.1- AUTÓLISE: consiste na destruição das células (desintegração tissular) pelas próprias
proteínas (enzimas proteolíticas) que produzem, promovendo ação digestiva (lisossomos)
em virtude da liberação das mesmas pela ação lesiva do ácido lático (acidificação dos
tecidos – queda do pH).

3.2- PUTREFAÇÃO: É a decomposição (destruição) fermentativa, progressiva do corpo


pela atividade bacteriana (micróbios intestinais), produzindo grande quantidade de gases
e dando uma coloração verde-enegrecida ao cadáver. É o fenômeno transformativo
destrutivo mais comum.

O corpo humano é composto de 34,5% de matéria orgânica, 4,5% de matérias


minerais e de 60 a 80% de água, donde 2/3 são intracelulares. Somente os ossos, os
cabelos e as unhas escapam da putrefação. Os microorganismos que já habitam o corpo
humano, sobretudo os intestinos, transpassam as mucosas alteradas pela morte, invadem
os tecidos e vísceras, seguindo pelas vias sanguíneas e linfáticas.

A velocidade da putrefação depende, basicamente, de dois fatores:

a) temperatura do ambiente – o calor antecipa, e o frio retarda a ação das


bactérias;

b) condições individuais - infecções (aumento das bactérias) antes da morte; e


obesidade (dificulta o resfriamento), precipitando a putrefação.

__________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista ________________________________________________________________


________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Medicina Legal TANATOLOGIA FORENSE

3.2.1- FASES DA PUTREFAÇÃO (em geral, segue quatro fases)

Ilustração 2 - FASES DA PUTREFAÇÃO


Fonte: Livro Medicina Legal II – Eduardo Roberto & Alcântara Del-Campo, Ed. Saraiva

1ª FASE – COLORAÇÃO OU CROMÁTICA:

O processo putrefativo inicia-se com a mancha verde abdominal (devido


formação de sulfemoglobina = gás sulfídrico + Hb) que se localiza na fossa ilíaca direita,
região correspondente à localização do ceco (parte mais dilatada e superficial do intestino
grosso), entre 18 e 24 horas após a morte, espalha-se por todo o abdome e depois por
todo o corpo, numa tonalidade verde-enegrecida, durando, em média, 7 dias.

Nos afogados, RN e fetos mortos retidos no útero materno, a mancha inicia-se no


tórax (região esternal), talvez pela maior proliferação bacteriana nos pulmões.

______________________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista _______________________________________________________


____________________________________________________________________________________________________________________________________________
MEDICINA LEGAL Tanatologia Forense

2ª FASE – GASOSA OU ENFISEMATOSA:

A intensa produção de gases (gás sulfídrico ou sulfeto de hidrogênio – H 2S;


hidrogênio fosforado ou fosfina – PH 3; amônia ou nitrato de hidrogênio – NH 3) distende os
tecidos, fazendo com que o corpo aumente de volume, e quando se desprendem do
cadáver dão o odor fétido, durando aproximadamente 2 (duas) a 3 (três) semanas.

Por efeito da compressão gasosa intra-abdominal, o sangue é impelido para a


periferia do corpo (ação centrífuga), ocasionando a turgescência (enchimento) da rede
venosa superficial, que se torna saliente e nitidamente visível (desenho vascular),
constituindo a circulação póstuma de Brouardel.

Alguns efeitos provocados pelo aumento da pressão exercida pelos gases:

 Prolapso (eversão) do útero que se exterioriza pela vagina, ou do reto;

 Parto pós mortem – eliminação do feto morto, quando houver gravidez, por
compressão do útero pelos gases;

 Eliminação de secreção avermelhada pela boca e nariz, em decorrência da


compressão dos pulmões;

 Eliminação de fezes, urina ou esperma;

 Aumento de volume (distensão) do abdome, tronco, face, pênis e bolsa escrotal,


protrusão dos globos oculares e da língua, postura de boxeador (aspecto
monstruoso);

 Formação de bolhas (flictenas) com destacamento da pele, pelos, unhas e cabelos.

A atividade bacteriana dá origem a substâncias semelhantes a alcalóides,


denominadas ptomaínas – podendo positivar os testes utilizados par detectar drogas
alcalóides como morfina, LSD, falseando esses resultados.

3ª FASE – COLIQUATIVA:

É a dissolução pútrida (desintegração progressiva) das partes moles do cadáver ou


sua deliqüescência, reduzindo seu volume e alterando sua forma, durante meses.
Caracteriza-se pela presença de inúmeras larvas de insetos (fauna cadavérica), que
participam da destruição do corpo. O estudo da fase de evolução dessas larvas pela
__________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista ________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Medicina Legal TANATOLOGIA FORENSE

Entomologia Forense também permite avaliar o tempo de morte (cronotanatognose).

4ª FASE – DE ESQUELETIZAÇÃO:

É a fase final do processo da putrefação (decomposição) do cadáver, onde


permanecem somente os ossos que aos poucos vão se tornando frágeis e esfarelados,
tem a duração de alguns meses ou anos.

3.3- MACERAÇÃO

Ocorre nos corpos mantidos submersos. É chamada séptica (com germes) quando
e meio líquido contaminado e de asséptica (sem germes) no caso de feto morto retido no
útero materno a partir do quinto mês.

A pele perde aderência e descola (destacamento) após a formação de bolhas que


se rompem. Os fetos apresentam cor avermelhada, couro cabeludo se desprende, a face
fica deformada e achatada, os membros ficam flácidos e com grande mobilidade em
decorrência do descolamento ósseo.

4. FENÔMENOS TRANSFORMATIVOS (TARDIOS) CONSERVADORES

A interferência de alguns fatores pode impedir ou interromper a putrefação do


cadáver, no todo ou em parte, ficando preservadas as marcas da violência.

4.1- SAPONIFICAÇÃO (ADIPOCERA)

Decomposição das gorduras, por hidrólise, formando glicerina e ácido graxo, que,
em seguida reagem com um álcali, formando sais de ácido graxo (sabão), cujo efeito
bactericida paralisa o processo da putrefação. A saponificação cadavérica ocorre quando
o corpo permanece por longo tempo em meio líquido ou é inumado em terreno úmido,
argiloso e sem ventilação.

O resultado é a adipocera, substância branco-amarelada, de consistência mole e


friável (quebradiço), semelhante a sabão, queijo ou cera (sinal de Thouret), de odor
rançoso. Quanto mais antiga, mais escura se torna, endurecida e quebradiça. Este
fenômeno é raro, geralmente limitado a parte(s) do cadáver (pessoas obesas). Inicia-se
cerca de um a dois meses após o óbito, completando-se ao final de um ano.

______________________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista _______________________________________________________


____________________________________________________________________________________________________________________________________________
MEDICINA LEGAL Tanatologia Forense

4.2- MUMIFICAÇÃO

Desidratação rápida e intensa do cadáver que inibe o crescimento bacteriano, com


redução de massa e volume corpóreos, retração, enrugamento, endurecimento, e
tonalidade escura da pele, completando-se em 6 (seis) meses.

Ocorre quando o cadáver é deixado em local quente, seco, e bastante arejado,


sendo mais comum em pessoas magras, idosas, recém-nascido e nos casos de
hemorragia aguda. Há desintegração dos músculos e vísceras, permanecendo somente
os ossos, unhas e dentes.

4.3- CALCIFICAÇÃO OU PETRIFICAÇÃO

Infiltração dos tecidos do cadáver por sais de cálcio, gerando aparência pétrea.
Fenômeno extremamente raro, que ocorre principalmente com embriões ou fetos mortos
retidos no útero (abaixo do quinto mês de gestação). Esse feto calcificado é chamado
litopédio (“criança de pedra”).

4.4- CORIFICAÇÃO

Processo conservativo em que a pele fica ressecada e endurecida, ou seja, com o


aspecto, cor e consistência semelhante a couro curtido (processo de Dalla Volta),
observado em corpos dispostos em urnas metálicas de zinco, hermeticamente fechadas.
As vísceras, a musculatura e o tecido subcutâneo podem manter-se preservados.

5. CRONOTANATOGNOSE ou Diagnóstico Cronológico da Morte

É o capítulo da Tanatologia que estuda os meios de determinação (aproximativos)


do tempo transcorrido entre o óbito e o exame necroscópico. Diversas circunstâncias
aceleram, retardam ou apenas alteram o curso natural dos fenômenos cadavéricos.
Quanto maior o intervalo de tempo, maior será a dificuldade na determinação precisa do
intervalo tempo pós-morte.

Alguns fenômenos são observados na determinação do tempo da morte recente:

 Esfriamento do cadáver: Fórmula de Glaister e Rentoul:

Tempo (em horas) após a morte = (36,9 – temperatura retal) ÷ 0,8;


__________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista ________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Medicina Legal TANATOLOGIA FORENSE

 Perda de massa corporal: em média, aproximadamente, 8 a 18 gramas / Kg / dia;

 Rigidez cadavérica: inicia-se logo na primeira hora e generaliza-se entre duas e


três horas, atingindo seu máximo após cinco a oito horas (regra de Fávero);

 Livores hipostáticos: surgem na primeira hora após o óbito, mas apenas se tornam
evidentes entre a segunda e a terceira hora. Podem ser modificadas pela ação da
gravidade, até tornarem-se fixos, após um período de seis a 15 horas;

 Crioscopia do sangue: ponto de congelamento, que diminui à medida que evolui o


tempo de morte. A temperatura de congelamento é de -0,55ºC a -0,57ºC;

 Mobilidade dos espermatozóides: até 36 horas após o óbito;

 Reação muscular: até seis horas após a morte;

 Fundo de olho: depois de transcorridas duas horas do óbito, ocorrem fragmentação


da coluna sanguínea e aparecimento do anel isquêmico perivascular. Arteríolas
desaparecem após cinco horas; artérias 15 horas; veias, 30;com 60h todo o fundo
de olho está cinza-amarelado; e com 90 a 100h, está irreconhecível;

 Dilatação pupilar pela atropina: até quatro horas após o óbito;

 Volume de líquido intraocular: perda de cerca de 0,02ml a cada hora, após corrida
a morte, num limite de 24 horas;

 Nível de potássio no humor vítreo: nas primeiras 12 horas após o óbito, aumenta
progressivamente, em média em 120%, variando entre 4,7mEq K/L e 10,4 mEq
K/L, aproximadamente;

 Conteúdo gástrico: quando exibe alimentos não digeridos, pode-se inferir que
alguma refeição foi realizada nas últimas horas antes do óbito. Dependendo do tipo
de alimento, o tempo de permanência no estômago do indivíduo vivo pode variar
entre uma e cinco horas. Desde que conhecidos os hábitos alimentares da vítima
ou o horário da sua última refeição, e

 Crescimento de pelos: em média, é de 0,5mm por dia e cessa com a instalação da


morte. Conhecendo-se o momento em que o indivíduo e barbeou, pode-se deduzir
o horário da morte (sinal de Balthazard).

______________________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista _______________________________________________________


____________________________________________________________________________________________________________________________________________
MEDICINA LEGAL Tanatologia Forense

Outros fenômenos são utilizados na determinação do tempo da morte não


recente:

 Fases da putrefação: a) de coloração, inicia-se entre 18ª e a 48ª hora. Tem


duração aproximada de sete a 12 dias; b) gasosa, tem início por volta da 48ª horas
após o óbito e dura aproximadamente 30 dias. Atinge seu grau máximo entre cinco
e sete dias após o óbito. A circulação póstuma de Brouardel torna-se visível entre a
36ª e a 48ª horas; c) coliquativa, em geral, inicia-se no fim da segunda semana e
dura aproximadamente dois meses; d) de esqueletização, tem início entre a
terceira e a quarta semana e termina com aproximadamente seis meses (a anos)
após o óbito;

 Cristais de Westenhöfer-Rocha-Valverde: surgimento, no sangue, por volta do


terceiro dia após a morte, de cristais prismáticos ou laminares, incolores ou tingidos
de azul, pelo ferrocianeto de potássio (C 6N6FeK4), ou de castanho, pelo iodo,
resultantes da decomposição globular. Desaparecem por volta do 35° dia; e

 Fauna cadavérica: estágio de desenvolvimento dos insetos das ordens dos


dípteros (moscas e mosquitos), coleópteros (besouros), lepidópteros (borboletas e
mariposas) e himenópteros (vespas, abelhas, formigas) cujas larvas têm atividade
necrofágica.

Para estimativa do tempo de morte fetal intra-útero, utiliza-se a seguinte


classificação:

 Grau 0: pele de aspecto bolhoso. Óbito de menos de menos de oito horas;

 Grau 1: início do descolamento da epiderme. Óbito entre oito e 24 horas;

 Grau 2: grande descolamento cutâneo e derrame serossanguinolento


(avermelhado) nas cavidades serosas. Óbito de mais de 24 horas;

 Grau 3: derrames das cavidades serosas tornam-se turvos; fígado torna-se


amarelo-amarronzado. Óbito de aproximadamente 48 horas.

6. PROVAS DE VIDA EXTRAUTERINA

__________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista ________________________________________________________________


________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Medicina Legal TANATOLOGIA FORENSE

As provas de vida extra-uterina ou simplesmente docimasias (do grego dokimos:


eu provo), têm o objetivo de constatar se o nascituro morreu ainda dentro do útero ou se
houve vida fora dele. De acordo com Vanrell (2002), podem ser classificadas em três
grandes grupos:

a) Docimasias respiratórias diretas (verificação direta dos pulmões), como:

- Docimasia hidrostática de Galeno, ou prova de Galeno-Rayger-Scheger: baseia-se na


diferença de densidade entre um pulmão que respirou (emersão) e um que não respirou
(imersão), dentro de um recipiente contendo água. Deve ser realizada até 24 horas após
a morte; a partir daí, começam a surgir os gases oriundos da putrefação. Esta prova é
uma das mais simples e, sem dúvida, uma das mais utilizadas;

b) Docimasias não respiratórias (análise técnica de outros órgãos, excetuando-se os


pulmões), como:

- Docimasia gastrintestinal de Breslau: verificação da ocorrência de ar no tubo digestivo


da vítima, de forma semelhante à docimasia hidrostática de Galeno;

c) Docimasias ocasionais, como:

- Docimasia alimentar de Beothy: pesquisa de leite ou de outros alimentos no estômago.


Os referidos elementos não existem no natimorto.

7. LESÕES EM VIDA (in vita) E PÓS-MORTE (post mortem)

As lesões in vita são aquelas que têm sinais de reação vital do organismo,
apresentam:

 Infiltrações hemorrágicas / coagulação do sangue;

 Ferimento com bordas afastadas (retração dos tecidos);

 Equimoses com coloração fixa em vida;

 Escoriações com presença de crosta;

 Reação inflamatória (zonas de queimaduras como vermelhidão, bolhas e

______________________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista _______________________________________________________


____________________________________________________________________________________________________________________________________________
MEDICINA LEGAL Tanatologia Forense

secreção);

 Eritema cutâneo, flictenas com líquido seroso rico em albumina e leucócitos


(resultado de queimaduras)

As lesões produzidas após a morte não apresentam reação vital, podendo ser
causadas por queda acidental ou arrastamento do cadáver.

As provas complementares para diferenciar as lesões produzidas em vida daquelas


encontradas após a morte são:

a) Prova de Verdereau: consiste em comparar a relação existente entre hemácias e


leucócitos;

b) Prova histológica: consiste no exame dos tecidos, com técnicas próprias através da
retirada, fixação, montagem e coloração para posterior análise anatomopatológica.

8. ESTABELECIMENTO DA CAUSA JURÍDICA DA MORTE

8.1- EXAME DO LOCAL (afetos à Perícia Criminal)

Os peritos1 analisam os vestígios encontrados no local do crime. Dentre eles


destacam-se: desordem e utensílios quebrados (houve luta), janelas e portas fechadas
(agressor possuía chave ou suicídio) e manchas de sangue (arrastamento do corpo).

Ainda: respingo de sangue (corpo parado – redondo; em movimento – alongado),


bilhetes ou cartas de despedida (letra da vítima – suicídio; digitadas – impressão digital no
papel) e análise da arma encontrada no local do crime (presa a mão da vítima ou
próxima).

8.2- EXAME DO CADÁVER (NECROPSIA)

A necropsia (ou exame necroscópico, autópsia, tanatoscopia) é a análise do


cadáver, efetuada pelo médico e seus auxiliares, que visa estudar a causa e as
circunstâncias em que se deu a morte, além de promover a identificação da vítima.

O Código de Processo Penal (CPP) determina um intervalo mínimo de 6 (seis)


1
Código de Processo Penal do Brasil (1941): Art. 158 - Quando a infração deixar vestígios será indispensável o exame de corpo de
delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
__________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista ________________________________________________________________
________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Medicina Legal TANATOLOGIA FORENSE

horas entre o óbito e a necropsia, salvo se o perito, pela evidência dos sinais de morte,
julgar que possa ser feita antes daquele prazo. Não existe limite para sua duração.

Pode ser solicitada por autoridade judiciária, por autoridade policial ou pelo
Ministério Público. Deve ser realizado em local apropriado, com instrumental, pessoal
auxiliar, exames complementares e recursos para documentação fotográfica e
radiográfica.

Devem ser cumpridos também procedimentos para exame de vestígios, reflexões


sobre as lesões internas e externas, trajetória e ângulo de incidência dos instrumentos
lesivos, causa e maneira da morte, intenção do agressor, possibilidade de crime sexual,
possibilidade de emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outros meios
insidiosos ou cruéis, coleta de material e cuidados relativos à entrega desse material.

Após a necropsia, o médico legista deve, sem sair de sua postura científica, redigir
o laudo do exame.

O exame do cadáver2 é realizado no Instituto Médico Legal (morte violenta ou


morte suspeita) ou no Serviço de Verificação de Óbito (demais mortes não atestadas por
médico). Note que o estabelecimento da causa jurídica da morte não é atributo do perito
que fornece informações.

Qualificação do indivíduo: são recolhidos todos os dados que possam contribuir na


identificação (cor da pele, cabelo, íris, peso, altura, dentes, tatuagens, deformações,
planilha decadactilar etc.). Histórico: breve narrativa dos fatos (ex.: encontrado suspenso
em forca...).

Exame das vestes: descrição e caracterização (últimos dados dos familiares).


Rasgadas, desalinhadas e sujas denotam que houve luta; busca-se por perfurações e
quando encontradas devem ser precisamente descritas quanto ao número, localização e
dimensão.

Exame externo: sinais abióticos imediatos e mediatos, sinais de contenção


(estigmas ungueais, marcas de algemas ou cordas nos pulsos e/ou tornozelos), lesões de

2
Ib.: Art. 162 - A autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito, salvo se os peritos, pela evidência dos sinais de morte,
julgarem que possa ser feita antes daquele prazo, o que declararão no auto. Parágrafo único. Nos casos de morte violenta, bastará o
simples exame externo do cadáver, quando não houver infração penal que apurar, ou quando as lesões externas permitirem precisar a
causa da morte e não houver necessidade de exame interno para a verificação de alguma circunstância relevante. A rt. 164 - Os
cadáveres serão sempre fotografados na posição em que forem encontrados, bem como, na medida do possível, todas as lesões
externas e vestígios deixados no local do crime. (Redação dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)
______________________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista _______________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________________________________________
MEDICINA LEGAL Tanatologia Forense

defesa (afasta o elemento surpresa), lesões que denotam luta (equimoses e escoriações
nas partes expostas do corpo), resíduos de pólvora nas mãos da vítima; sinais de
manipulação do cadáver (manchas de hipóstase no lado oposto ao esperado pela posição
do corpo, ausência de rigidez nos braços, quando ainda presente na nuca e membros
inferiores).

Exame interno: craniotomia (incisão bimastóide e rebatimento do couro cabeludo –


hematoma, fratura da base do crânio, projétil,etc.), toracotomia (costótomo e rebatimento
de retalhos – coração e pulmões) e laparotomia (bisturi – vísceras, conteúdo gástrico,
como plâncton,etc.).

Exames complementares: dosagem alcoólica, toxicológico, anatomopatológico,


radiológico, residuograma. Exemplo: o encéfalo pode ser encaminhado ao laboratório
para realização de exame histológico que venha a caracterizar um acidente vascular
cerebral hemorrágico; pesquisa de Antígeno Prostático Específico - PSA e
espermatozóides na vagina (móveis, até dez horas após; e imóveis, até dois ou três dias)
nos casos de crimes sexuais.

Reação vital: determinar se uma lesão foi feita antes ou após a morte pode ser
difícil nas proximidades do evento letal (pouco antes ou pouco depois). Esse intervalo é
chamado de período de incerteza (Tourdes).

Elementos importantes do suicídio: antecedentes de tentativas anteriores


(cicatrizes), lesão única em certos locais do corpo, situação de crise pessoal, história de
doença mental, afastamento da roupa no local da lesão e formas de morte (enforcamento
e imolação pela ação do fogo são eminentemente suicidas).

A necropsia esclarece se a morte foi de causa violenta ou natural, no entanto, em


casos raros, nem mesmo este procedimento será competente para dar tal esclarecimento
e nestes casos resta o registro morte indeterminada.

O laudo necroscópico do IML do Pará é composto de cinco quesitos:

 O primeiro: qual a causa da morte do examinado?

 O segundo: qual o instrumento, ação ou meio que a produziu?

 O terceiro: foi produzida por meio de veneno, fogo, explosivo, asfixia ou por

__________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista ________________________________________________________________


________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Medicina Legal TANATOLOGIA FORENSE

outro meio insidioso ou cruel? (resposta especificada)

 O quarto: se a vítima é menor de 14 anos e/ou teve outro motivo que diminuísse
sua capacidade de defesa?

 O quinto: há vestígios de tortura?

9. DESTINO DOS CADÁVERES

Cadáver é o corpo morto, enquanto conserva a aparência humana, e mantém a


conexão de suas partes, incluindo o natimorto expulso no termo da gestação. O conceito
exclui os restos humanos em estado de quase esqueletização, o esqueleto (ossada), as
cinzas humanas, as partes de um corpo, as peças amputadas e os fetos com menos de
180 dias.

Confirmada a realidade da morte e após o registro do atestado de óbito no cartório


(certidão de óbito), o cadáver poderá ter como destino:

a) Inumação simples: é o sepultamento em caixões próprios, em inumatórios com


1,75 m de profundidade, 0,80 m de largura e distante 0,60 m em todos os sentidos,
das outras sepulturas. A inumação não se processará antes de 24 h, nem após 36
h após a morte, podendo, no entanto, ser imediata em casos de epidemias,
conflitos armados e catástrofes;

b) Inumação com necropsia: a necropsia está indicada de forma obrigatória nos casos
de morte violenta (homicídio, suicídio e acidente) ou suspeita. Nos casos de morte
natural temos ainda a indicação clínica de necropsia para aquelas situações em
que há dúvida ou interesse científico no diagnóstico da morte, devendo ser
assinado um termo de permissão dos familiares ou responsáveis para a execução
do procedimento;

c) Cremação: é a incineração do cadáver, reduzindo-o a cinzas, que serão colocadas


em uma urna, que poderá ser enterrada. Trata-se de um processo prático,
higiênico econômico. Nestes casos a Declaração de Óbito deverá ser assinada por
dois médicos, nos casos de morte natural, e por um médico legista, em casos de
morte violenta. Nas mortes violentas, para que se proceda à cremação é

______________________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista _______________________________________________________


____________________________________________________________________________________________________________________________________________
MEDICINA LEGAL Tanatologia Forense

necessário autorização da autoridade judiciária;

d) Embalsamamento: consiste na introdução nos vasos sanguíneos e nas cavidades


tóraco-abdominal e craniana de líquidos desinfetantes e conservadores,
objetivando impedir a putrefação do cadáver. Está indicada nos casos em que o
sepultamento será realizado em prazo superior a 4 (quatro) dias ou quando o corpo
tenha que ser transportado para fora do estado ou país em que ocorreu o óbito. O
transporte de cadáveres, sem conservação só poderá ser feito até o prazo máximo
de 24h entre o óbito e o sepultamento.

10. EXUMAÇÃO

Do latim ex, para fora + húmus, solo, terra é o ato de retirar da sepultura o cadáver
humano ou seus restos mortais. É o ato de desenterrar um cadáver a fim de submetê-lo,
em geral, a uma segunda necropsia (necropsia pós-exumação). É importante o fato de
que quanto mais se processa a decomposição do cadáver, menos elucidativo e mais
difícil é o exame necroscópico.

No âmbito criminal, a exumação ocorre, em geral, por três diferentes motivos:


suspeita de morte violenta no curso do processo, identificação duvidosa e esclarecimento
ou revisão de necropsia realizada. É um procedimento que deve ser acompanhado por
médico legista, e a área precisa ser devidamente isolada pela polícia, a fim de evitar que
o público possa atrapalhar.

De acordo com o CPP, em caso de exumação para exame cadavérico, a


autoridade deve providenciar para que, em dia e hora previamente marcados, se realize a
diligência, da qual se lavrará auto circunstanciado.

O administrador de cemitério público ou particular deve indicar o lugar da sepultura,


sob pena de desobediência. A área deverá ser fotografada durante todos os passos da
operação e os achados devem ser cuidadosamente anotados. Após a escavação, o corpo
deve ser limpo e isolado (quando não se encontra no interior de um caixão), no próprio
local. Somente então deve ser retirado e acondicionado. Amostras da terra devem ser
coletadas em casos de suspeitas de envenenamento. Havendo dúvida sobre a identidade
do cadáver exumado, proceder-se-á ao reconhecimento pelo Instituto de Identificação ou

__________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista ________________________________________________________________


________________________________________________________________________________________________________________________________________________
Medicina Legal TANATOLOGIA FORENSE

por entidade congênere.

Referências Bibliográficas

1. CUNICO, Edimar. Perícias em Locais de Morte Violenta – Criminalística e Medicina


Legal, edição do autor, 2010

2. FRANÇA, G.V. Fundamentos de Medicina Legal, 2ª edição, Guanabara Koogan, 2012

3. GRECO, Rogério e cols. Medicina Legal à Luz do Direito Penal e do Direito Processual
Penal, editora Impetus, 2009

4. MARTINS, C.L. Medicina Legal, 5ª edição, editora Campus, 2012

5. ROBERTO, Eduardo; DEL-CAMPO, Alcântara. Curso & Concurso – Medicina Legal II,
editora Saraiva, 2009

6. TAVARES, J.M.F; GONZAGA, A.A. Vade Mecum Polícia – Delegados e Servidores


Estaduais, editora revista dos tribunais, 2013

7. VAZ, Márcia; BENFICA, F.S. Medicina Legal, editora livraria do advogado, 2008

______________________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista _______________________________________________________


____________________________________________________________________________________________________________________________________________
MEDICINA LEGAL Tanatologia Forense

__________________________________________________ Marcelo Ayan – Médico Legista ________________________________________________________________

Você também pode gostar