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Afesù

Ayà gbo Afesù yà to!

(silêncio, o rito do afesù irá acontecer):

Darei inicio neste trabalho relatando mais uma vez sobre a importância de Èsù
sobre todos e qualquer ritual, quer que seja no âmbito afro brasileiro ou ìsèsè
l’agbá.

Todos nós devemos demonstrar gratidão a Èsù em especial, mas durante toda
nossa vida as bênçãos conquistadas, a gratidão é sem sombra de dúvidas o
mais digno dos sentimentos e o mais apreciado por Eledunmare, sem ele
nossas vidas seriam um meado de desencontros entre perdas e ganhos.

Usamos sempre uma expressão ao reverenciar Èsù que representa bem esta
gratidão que se diz:

- Awa sopé k’èsù bá wa, Èsù batì’re!

Somos gratos por todas as vitorias conquistadas pela bondade de Èsù.

Ipàdé e Afesù semelhanças e responsabilidades:

Estamos diante de dois ritos de maior importância de toda casa de culto aos
òrìsà, por um lado o Ipàdé que protege e dinamiza a casa, do outro o Afesù
que protege o iniciado e traz a certeza de que terá através de sua fé bons
frutos, dinamizando assim sua existência profissional e espiritual.

A semelhança se da em ter sua responsabilidade nas mãos da Iyamoro, da


Ajimuda e seu clã, ou seja, todos os componentes do rito de Ipàdé.

A explicação para isto esta em se saber que o culto de Ipàdé é direcionado


pelo guardião do ase Èsù em reunir toda ancestralidade (ègùngùn), Òrìsà,
Irúnmólè e Iyami agbá para proteger e garantir a vitória e prosperidade do ase
como um todo.

E o culto de Afesù igualmente ao Ipàdé esta para garantir a vitória do iniciado


e o proteger de todo importuno de sua jornada, comandado por Èsù que evoca
o ase de Òsòyìn, Ebora e Òrúnmìlà. A um ditado popular que diz: “o filho
apanha em casa para que não sofra na rua”.

No Ipàdé os cânticos são comandados pelo Asòbá e no Afesù pelo


bàbálòsòyin ou Bàbá àsà.

Questão do corpo docente do Ipàdé estar vinculado ao Afesù é pelo simples


fato de que é ela, a Ìyámoro que entrega as oferendas que são liturgicamente
preparadas e entregues pela Ajimuda, ambas auxiliadas por seu corpo
docente.

Ao contrário de que muitos pensam o rito de Afesù se da inicio assim que se


faz a Sàsòyìn, ritual indispensável para evocar os poder das folhas, pedindo
licença e proteção a Èsù, assim como encaminhar suas oferendas para que
tudo ocorra com tranquilidade sem conflitos e atrapalhações.

Toda vez que se inicia um rito na casa de ase, o sacerdote assim como a
Ìyáàlase diz em voz alta e em bom tom: Aláàgbá Èsù! E todos os presentes
respondem: Èsù Láàróòye!

O significado desta saudação é:

O protetor dos anciãos. (Aláàgbá Èsù)

Èsù que fala por todos. (Èsù Láàróòye), ou seja, neste caso é aquele que
intervém por nós.

É através dos cânticos específicos que demonstramos a Èsù toda nossa


gratidão por ele estar sempre nos direcionando e conduzindo todo ase que se é
necessário para que um rito seja ele de iniciação ou comemorativo ser
satisfatório.

Pois é assim que se encerra o ritual em um cântico que diz que o ritual ocorreu
com sabedoria, tão rápido quanto perfeito para se perpetuar.

Ritual de Afesù como pacto do iniciado:

O pacto ocorre de forma figurada através dos elementos colocados a frente do


noviço, afirmando assim o inicio de uma vida regrada e devotada aos òrìsà,
tendo como testemunha Òrúnmìlà, Ebora, Òsòyin e Èsù, garantindo assim a
autenticidade do pacto assegurando a punição aos transgressores.

É por esta razão que quando estamos evocando os Onilè dizemos:

Ma jè ki arija Èsù

Que eu não sofra pela ira de Èsù

Ma jè ki arija Ewé

Que eu não sofra pela ira de Òsòyìn

Ma jè ki arija Ifá

Que eu não sofra pela ira de Òrúnmìlà

Ma jè ki arija Ògún
Que eu não sofra pela ira de Ògún

Ma jè ki arija Sàpànòn

Que eu não sofra pela ira de Sàpànòn

Diz-se isso em uma afirmação de não termos transgredidos nosso pacto em


nos devotar ao òrìsà, sem descumprir com nossas responsabilidades de não
trair, não revelar os segredos a nós confiados, e a não maldizer nosso
professor.

A conduta adequada de bom caráter nos conduz a perfeição.

Preparando o Afesù:

Para o preparo do Afesù se é necessário estar em absoluto preceito de boca e


corpo.

Dos ingredientes para Noviço:

Sete folhas de ewé Lara (folhas de mamona);

Um pouco de Ifún ou Gáàri (no caso do Èlègún)

Um pouco de Oyin (mel)

Sete bolas para osùpa, podendo substituir por velas brancas.

Sete talos de ewé Lara (de folhas de mamona).

As folhas de mamona simbolizam a escolha que todo iniciado terá que fazer
constantemente entre honrar sua promessa ou punição por não cumprir.

A farofa de mel simboliza os votos de uma vida doce sem sofrimento.

O fogo representado pelo Osùpa ou por velas simbolizam o respeito em não se


atear fogo em si mesmo, não atentar contra vida humana e vegetal, assim
valorizando e defendendo a obra da criação. Também simboliza a
transformação em que deverá ocorrer nos quesitos educacionais e moral do
iniciado.

Os Egbón assim como os bàbálòrìsà e Ìyálòrìsà se realiza o ritual de Ità,


parecido com o Afesù do noviço, tendo como diferenciado os ingredientes e
alguns cânticos específicos para suas idades ou tempo de iniciação.

Dos ingredientes do Egbón:

Sete folhas de ewé Lara;

Feijão preto torrado;


Feijão fradinho torrado

Milho de galinha torrado;

Sete bolas para osùpa, podendo substituir por velas brancas.

Um pouco de Efún

Um pouco de Oyìn

Quatorze talos de ewé lara

Neste caso as folhas de mamona esta em se escolher o caminho do


sacerdócio ou continuar sua jornada em se devotar aos òrìsà sem ter o
compromisso do sacerdócio. A dedicação de se auxiliar o Bàbálòrìsà ou Iyá
com lealdade e comprometimento em todos os rituais do ase.

O feijão preto torrado simboliza o desejo de negar o caminho ruim e de


sofrimento.

O feijão fradinho torrado simboliza o nosso pedido de nunca passarmos por


dificuldades financeiras.

O milho de galinha torrado representa o final de todos os problemas, também


para que não tenhamos problemas com a justiça dos homens.

O fogo representado pelo osupà ou velas simboliza a transformação do noviço


para a fase adulta, a transformação de toda ignorância em um estado de
compreensão e entendimento.

O Efún simboliza a riqueza e a prosperidade a vitória nas dificuldades.

O oyìn - mel simboliza uma vida doce e sem sofrimentos.

Os talos da mamona simbolizam a punição, a penitência que todos nós


estamos propícios a receber de acordo com nossas escolhas. Nos alerta a
importante missão em não se cometer erros para que não aja sofrimento em
nossas vidas.

Obs: Ifa deverá ser consultado para saber onde deve ser ou se deve ser
utilizado o mel e o Efún.

De acordo com cada Òrìsà os ingredientes do ita serão diversificados de


acordo com as orientações de Ifá.

Lembrando que nunca devemos colher folhas no período noturno por estar
quebrando o pacto de èjéwésùn.
O pacto de Èjéwésùn (explicação):

Conta um itan do mérìndìnlògùn no odù éjì ológbon que indicou ao cordeiro


Èjéwésùn a não acordar as folhas no período noturno, orientando para que
fizesse um ebo com uma ovelha, pano vermelho e um cabrito para Èsù, para
não vir perder sua vida em uma emboscada. Ele cumpriu o ebo mas acabou
não dando a parte de Èsù, e é por este motivo que existe pessoas que não
cumprem com as orientações de Ifá por completa, mas por outro lado pela
oferta da ovelha e o pano vermelho sempre haverá aquele que acatará as
orientações de Ifá.

O cordeiro tinha o nome de Odóàgutan, antes de vir ao ayé sua mãe procurou
Òrunmìlà para consultar Ifa na véspera da partida de seu filho. Foi orientado
para que Odóàgutan fizesse ebo para Èsù com um cabrito.

Ele se recusa a fazer o ebo, mas sua mãe pede para que Òrunmìlà
intercedesse por seu filho levando ela o cabrito para Èsù. Então Òrunmìlà
orientou a mãe de Odóàgutan a colher duzentas folhas para lavar a cabeça de
seu filho diante do ojugbó de Èsù.

Assim como não se poderia lavar a cabeça de seu filho ausente, a mãe em
desespero pediu a Òrunmìlà que fizesse algo a fim de substituir a ausência de
Odóàgutan. Òrunmìlà então disse que não poderia despertar as folhas pelo
passar da hora, que a floresta estava adormecida e sendo assim não deveria
ser perturbada, foi desta forma que Odóàgutan passou a ser chamado de
Èjéwésùn que significa o juramento de não se colher folhas durante a noite.

Por isso quando alguém diz que não irá poder realizar o ebo nós dizemos
perante Ifá:

Ìsé ati àkó bi omo Eledunmare, que significa aquele que não realiza os
trabalhos de ifá é tão filho de Eledunmare quanto aquele que o faz.

Dos cânticos específicos ao Afesù / Ità:

Dentre tantos cânticos vou descrever aqui apenas os mais importantes.

Ewé Lárà:

Sua finalidade simbólica é a do renascimento para todos os sentidos de nossas


vidas. A palavra Lara significa forte e que assim seja o noviço em sua nova
jornada, também pode corresponder a quebra de uma inveja e que assim o
noviço não inveje o caminho alheio e se preocupe em sua própria jornada.
Orin fún Afèsù: (cantiga para Afesù)

Wa’nú Afèsù

Odàrà ko gbà lá o

Wa’nú Afèsù

Èsù trás amor e benção

Ajuda e proteção maravilhosa

Èsù trás amor e benção

Afèsù:

Ritual cujo objetivo é pedir proteção, resistência, renovação para o noviço


através do ase de Òrúnmìlà, Òsòyin, Ebora e Èsù.

Obs:

Para sacerdote cujo rito denomina-se Ità, apenas se canta para Èsù e muito
pouco se canta para Òsòyìn.

Orin fún Èsù ti Afèsù:

Èsù kú̀ rò l’órì mi

Òwónrínsogbè k’èsù gbà

Èsù kúrò l’óde Arè

Owonrinsogbe kesu gba

Ìjẹ̀ lú ni ilé rẹ

Owonrinsogbe k’esu gba

Gbatì rẹ món yá lọ

Òwónrínsogbè k’èsù gbà

Esu partir do meu destino

Owonrin sogbe pode Esu aceitar

Esu ao partir da terra

Owonrinsogbe Esu possa aceitar


Ijelu é sua casa

Pegue sua parte e saia

Owonrinsogbe Esu possa aceitar

Orin fún Èsù ti Afèsù:

Èsù má nan mí o

Olomo ní lagbà

Èsù ma nòn mí o

Esu não me repreende

Senhor dos filhos dos ancestrais

Esu não me repreende

Orin fún Èsù ti Afèsù:

Gúnnugún ń gbẹ’bọ rọ̀ run

Dùgbẹ̀

Òdìdè ń gbẹ́ ’bọ rọ̀ run

Dùgbẹ̀

O abutre está levando sacrifício para o céu

Dugbe

Odide está levando sacrifício para o céu

Dugbe
Orin fún Èsù ti Afèsù:

Ọ̀ wónrínsorógbè Ìsìnkú pẹ̀ yìndà lẹ́ yìn mi

Àbíkú omo pẹ̀ yìndà lẹ́ yìn mi ko malọ

Ọ̀ wónrínsorógbè o ìsìnkú pẹ̀ yìn dà lẹ́ yìn mi

Elémèrè omo pẹ̀ yìn dà lẹ́ yìn mi o ka má ló

Owonrinsogbe o espírito da morte parte de mim

Abiku criança desiste de mim e sai

Owonrinsogbe o espírito da morte parte de mim.

Elemere criança se afasta de mim e parte

Orin Iségùn ti Afèsù:

Dáni ni bó s’ita

Òrìsà bè bebe òrìsà

É o Ita que nos trás a vitória

Òrìsà faça acontecer òrìsà

Dáni ajé lo

Òrìsà bè bebe òrìsà

Manda o mal embora

Òrìsà faça acontecer òrìsà

Orin Iségùn ti Afèsù:

Ribiti ‘se

Ase nu bárù ase ayò

A corrente forte

Uni os elos da felicidade


Orin fún Èlègùn:

Tani bo ewé o

Èni a Ìsè di segùn

Yi o pinyin o n pinyin

Èni a Ìsè n ji mi

Èni a Ìsè n ji mi

Tani bo ewé o

Quem se cobre com folha

Prepara-se para magia

Que você estará compartilhando

Ficará encantado ao despertar

Ficará encantado ao despertar

Quem se cobre com folha

Tani bo ewé o

Èni a Ìsè n l’Òsu

Èni a Ìsè n l’Òsu

Tani bo ewé o

Quem se cobre com folha

Prepara-se para se tornar um iniciado

Prepara-se para se tornar um iniciado

Quem se cobre com folha


Erú káfi ká’yò dé ilé

Erú káfi ká’yò dé ilê o

Fomos de casa em casa levar alegria.

Fomos de casa em casa levar alegria

Orin fún Ità:

Ità owó

Ità o mòn

Ità owó

Ità we’se

Ità atrai dinheiro

Eu sou Ità

Nós somos um só

Ità wòn ni’se

Ità wòn ni’se èniyàn

É o propósito deles Ità

É o corpo de alguém forte Ità

Arirá wò tù segedé

Ta lá se ero

Arirá wò tù segedé

Ta lá se iwa
Arirá wò tù segedé

Ta lá se oro n pa

Arirá wò tù segedé

É o que deixa o aprendiz confortável

A calma é quem faz isso

É o que deixa o aprendiz confortável

O bom caráter quem faz isso

É o que deixa o aprendiz confortável

O sacrifício é quem faz isso.

O verdadeiro significado do culto de Afesù:

Afesù era um devotado sacerdote do culto a Èsù que não sabia mais o que
fazer para que seus três filhos parassem de brigar entre si, sempre explicando
aos seus filhos que não deveriam agir desta forma grotesca. Um dia Èsù pediu-
lhe que fizesse da seguinte maneira:

Pegasse um fecho de atori (varetas) e entregasse aos seus filhos dizendo:


“darei uma gratificação para aquele que conseguir quebrar de uma só vez
este feixe de varetas”.

Sabendo que não teriam êxito na tarefa, Afesù compreendeu o propósito de


Èsù com o ensinamento.

Cada um deles então tentou de todas as maneiras para quebrar os feixes, em


volta do pescoço, por meio dos joelhos, com os pés e nada de conseguirem.
Por fim Afesù desfez o feixe de atori e os quebrou batendo-os neles dizendo:

“Se vocês permanecerem unidos isso nunca aconteceria, agora quando vocês
brigam entre si, qualquer um poderá os prejudicar”.

A lição de Afesù é para que os irmãos não lutem entre si e para que todo
iniciado entenda o sentido de união e cooperação, para que o ase nunca se
disperse, fique fragilizado ou enfraqueça por desunião e má conduta.

Ifá àá gbe wa o!

Fagbola Abifarin Monteiro

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