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Capitulo 6 – A Agulha (Malamed)

Anatomia de uma agulha

A agulha é constituída de uma peça única de metal tubular, em torno da qual é colocado um adaptador plástico ou metálico
para seringas e a fixação da agulha (Fig. 6-1).

Todas as agulhas têm em comum os seguintes componentes: o bisel, o corpo, a fixação e a extremidade para penetração no
cartucho (Fig. 6-2).

O bisel define a ponta ou a extremidade da agulha. Os biséis são descritos pelos fabricantes como longos, médios e curtos.

O corpo da agulha é uma peça longa de metal tubular que vai da ponta da agulha até a sua fixação e continua como a peça
que penetra no cartucho (Fig. 6-1).

A fixação é uma peça plástica ou metálica pela


qual a agulha é presa à seringa.

A extremidade de penetração do cartucho da agulha odontológica se estende através


do adaptador da agulha e perfura o diafragma do cartucho de anestésico local. Sua extremidade rombuda se situa dentro do
cartucho.

Dois fatores que devem ser considerados ao se selecionar agulhas para uso em diversas técnicas de injeção são o calibre e o
comprimento.

CALIBRE

O calibre designa o diâmetro da luz da agulha: quanto maior for o número,


maior será o diâmetro da luz. Uma agulha calibre 30 tem um diâmetro interno
menor do que uma agulha calibre 25. Nos Estados Unidos, as agulhas têm
códigos de cores para o calibre (Fig. 6-5).

Hamburg demonstrou em 1972 que os pacientes não conseguem diferenciar


agulhas de calibre 23, 25, 27 e 30. Outros autores confirmaram esse achado.
Um experimento clínico demonstrou isso:

1. São selecionadas três agulhas − de calibres 25, 27 e 30.

2. Deve-se secar a mucosa bucal sobre os dentes maxilares anteriores.

3. Não se deve usar anestesia tópica.

4. A mucosa deve estar bem esticada.

5. A mucosa deve ser penetrada delicadamente (cerca de 2 a 3 mm) por cada uma das três agulhas, sem se revelar ao paciente
que agulha está sendo usada. Deve-se escolher um local diferente para cada penetração.

6. Interrogue o paciente quanto a sua “sensação”: Qual delas foi mais sentida? Qual delas foi menos sentida?
As agulhas de calibre maior (p. ex., calibres 25 e 27) têm vantagens claras sobre aquelas de calibre menor (calibre 30) (Quadro
6-1).

Embora rara hoje em dia por causa do uso de agulhas descartáveis,


a quebra da agulha tem ainda menor probabilidade de ocorrer com
uma agulha maior.

Embora o sangue possa ser aspirado por todas as agulhas de calibre 23 a 30, a resistência à aspiração é maior ao serem usadas
agulhas de calibre menor, aumentando a probabilidade de que o arpão metálico se desprenda do êmbolo de borracha durante
a aspiração, tornando inútil a tentativa de aspiração.

As agulhas mais comumente utilizadas (p. ex., mais frequentemente adquiridas)


em odontologia são as de calibre 30 curta e a de calibre 27 longa. 16 A agulha
calibre 25 (longa ou curta) continua a ser a preferida para todas as injeções que
apresentam alto risco de aspiração positiva.

A agulha calibre 30 não é especificamente recomendada para nenhuma injeção,


mas pode ser usada em casos de infiltração localizada, como na obtenção da
hemostasia durante a terapia periodontal.

Minimizando a Deflexão da Agulha: Técnica de Inserção


Birrotacional (TIBR)

Foi descrita uma nova abordagem para a redução da deflexão da


agulha. A inserção rotacional (descrita como técnica de inserção
birrotacional [TIBR]), uma técnica em que o operador efetua a rotação
da peça manual ou da agulha num movimento de rotação para diante
e para trás enquanto faz a agulha avançar através do tecido mole, se
assemelha às técnicas usadas na acupuntura ou na instrumentação
endodôntica.

A deflexão de uma agulha é uma consequência de forças resultantes agindo sobre o


bisel da agulha durante a penetração tecidual e o avanço da agulha. Uma agulha
biselada de ponta excêntrica gera diversas forças diferentes que agem sobre ela
durante a inserção ao se usar uma técnica de inserção linear sem rotação. A técnica
de inserção linear é a usada convencionalmente com a seringa odontológica
tradicional, que geralmente é segura com uma pegada de palma e polegar (Fig. 6-6).
Durante esse tipo de inserção uma força perpendicular ao movimento direcional para
diante (vetor) age sobre a superfície da agulha biselada, fazendo a agulha se desviar
(ou apresentar deflexão) numa direção oposta àquela para a qual o bisel está voltado
(p. ex., se o bisel estiver voltado “para cima”, o movimento de avanço causa uma
deflexão da agulha “para baixo”). Quanto mais longo for o comprimento da agulha,
mais exagerada será a inclinação ou deflexão em consequência da maior distância
percorrida ao longo do trajeto da deflexão. Quanto menor for o diâmetro da agulha,
mais exagerada será a inclinação ou deflexão, porque uma agulha de calibre menor
tem menos capacidade de resistir à força de desvio ou deflexão sobre a superfície da
extremidade da agulha biselada.
COMPRIMENTO

As agulhas odontológicas estão disponíveis em três comprimentos: longas, curtas e ultracurtas. As agulhas ultracurtas estão
disponíveis unicamente de calibre 30. Apesar da alegação de uniformidade do comprimento por parte dos fabricantes, são
encontradas diferenças significativas (Tabela 6-4).

O comprimento de uma agulha curta situa-se entre 20 e 25 mm (medido da


fixação à ponta), com padrão em torno de 20 mm, e é de 30 a 35mm para a
agulha odontológica longa, com padrão em torno de 32 mm (Fig. 6-8).

CUIDADO E MANEJO DAS AGULHAS

As agulhas disponíveis aos profissionais de odontologia nos dias atuais são pré-esterilizadas e descartáveis. Com o cuidado e o
manejo adequados elas não devem ocasionar dificuldades significativas.

1. As agulhas nunca devem ser usadas em mais de um paciente.

2. As agulhas devem ser trocadas depois de várias (três ou quatro) penetrações teciduais no mesmo paciente.

a. Depois de três ou quatro inserções, as agulhas descartáveis de aço inoxidável ficam embotadas. A penetração nos tecidos se
torna progressivamente mais traumática a cada inserção, produzindo dor à inserção e irritabilidade quando a sensação retorna
após o procedimento.

3. As agulhas devem ser cobertas com uma bainha protetora quando não estiverem sendo
usadas, para evitar a picada acidental por uma agulha contaminada (Capítulo 9). 4.

Deve-se dar atenção sempre à posição da ponta da agulha não coberta, quer dentro ou
fora da boca do paciente. Isso diminui muito o risco potencial de lesão ao paciente e ao
administrador.

5. As agulhas devem ser descartadas de maneira apropriada após o uso para evitar uma
possível lesão ou nova utilização por indivíduos não autorizados. As agulhas podem ser
destruídas por qualquer uma das seguintes maneiras:

a. Agulhas contaminadas (assim como outros itens contaminados por sangue ou saliva,
como cartuchos) devem ser descartadas em recipientes especiais para itens
“contaminados” ou “pontiagudos” (Fig. 6-9).

b. O uso apropriado de uma agulha ou unidade de seringa autoembainhada (agulha de “segurança”) (conforme discutido no
Capítulo 5) minimiza o risco de picada acidental por
agulhas.

c. Em casos em que as agulhas forem ser reutilizadas em


injeções subsequentes (uma prática peculiar à profissão
odontológica em relação à medicina ou outras profissões
de cuidado de saúde, em que segundas injeções raramente
são administradas), tampar novamente a agulha usando-se
a técnica de “encaixe” ou um porta-agulhas (Fig. 6-10).

d. Agulhas contaminadas nunca devem ser descartadas em recipientes de lixo abertos.

Em suma, na realidade, apenas uma agulha para anestésicos locais é necessária em consultórios dentários, a de calibre 25
longa, que pode ser usada em todas as técnicas anestésicas discutidas nesse texto. Ela proporciona uma rigidez que não está
disponível com o uso de agulhas de calibre maior (diâmetro menor) e é necessária para injeções do ligamento periodontal
(LPD) e para injeções intrasseptais; ela sofre deflexão em grau menor que as agulhas menores e proporciona aparentemente
uma aspiração mais fácil e mais confiável. Como a sensibilidade dos pacientes não aumenta com o uso da agulha calibre 25
longa, seu valor aumenta ainda mais. Na realidade, porém, é prático ter à mão uma segunda agulha − curta calibre 25 ou 27−
para uso em injeções em que a espessura do tecido mole a ser penetrado seja inferior a 20 mm e o risco de aspiração positiva
seja mínimo, bem como em áreas da cavidade oral em que a estabilização de uma agulha longa pode se mostrar difícil (p. ex.,
dentes maxilares anteriores, o palato).

PROBLEMAS COM AS AGULHAS

Dor à Inserção

O uso de uma agulha de ponta rombuda pode ocasionar dor à penetração inicial da mucosa. Essa dor pode ser evitada usando-
se agulhas descartáveis novas bem pontiagudas e aplicando um anestésico tópico no local de penetração. A agulha deve ser
trocada depois de três ou quatro penetrações da mucosa, caso sejam necessárias múltiplas inserções.

Quebra

Entortar as agulhas enfraquece-as, tornando-as mais propensas a se quebrar ao


contato subsequente com tecidos duros como os ossos. As agulhas não devem ser
entortadas para ser inseridas em tecidos moles a uma profundidade de mais de 5
mm. Nenhuma das técnicas de injeção usadas em odontologia (em que a agulha
penetra em tecidos moles) exige que a agulha seja entortada para o êxito da injeção.

Os dois bloqueios de nervos mencionados (BNAI, ASP) podem ser administrados com
êxito facilmente por uma agulha reta (não entortada)

Não se deve fazer tentativas de mudar a direção de uma agulha quando ela estiver
incrustada num tecido. Se for necessário mudar a direção da agulha, deve-se
primeiro retirar a agulha quase que totalmente do tecido e, então, alterar sua
direção.

Lesão ao Paciente ou ao Administrador

A penetração de áreas do corpo pela agulha, com a lesão daí resultante, pode ocorrer de maneira não intencional. Uma causa
importante é a falta de atenção por parte do admi - nistrador, embora um movimento súbito e inesperado do paciente
também seja uma causa frequente. A agulha deve permanecer tampada até que seja usada e deve ficar segura (embainhada
ou novamente tampada) imediatamente após a retirada da boca.

RECOMENDAÇÕES

1. Devem ser usadas agulhas descartáveis estéreis.

2. Se múltiplas injeções vão ser administradas, deve-se trocar a agulha depois de três ou quatro inserções num mesmo
paciente.

3. As agulhas nunca devem ser usadas em mais de um paciente.

4. As agulhas não devem ser inseridas num tecido até sua fixação, a não ser que isso seja absolutamente necessário para o
sucesso da injeção.

5. Não se deve alterar a direção de uma agulha enquanto ela ainda estiver no tecido.

6. Uma agulha nunca deve ser forçada contra resistência.

7. As agulhas devem permanecer tampadas até que sejam usadas e devem ficar seguras imediatamente após a retirada.
8. As agulhas devem ser descartadas e destruídas depois do uso para evitar lesão ou reutilização por pessoas não autorizadas.
9. As técnicas de injeção apresentadas na Tabela 6-5 estão relacionadas juntamente com as agulhas recomendadas (para
adultos de tamanho médio).

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