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INSTRUMENTAL CIRÚRGICO
PARTE I
INTRODUÇÃO
Com o advento tecnológico e as novas técnicas cirúrgicas criadas durante os anos de evolução
da técnica cirúrgica um número de instrumentos foi idealizado e utilizado pelos diversos
cirurgiões durante a história da cirurgia. Muitos desses instrumentos foram idealizados e criados
por cirurgiões em determinadas épocas. Com o passar do tempo vários desses instrumentos
foram sendo dispensados ou substituídos por outros mais práticos e viáveis a um determinado
procedimento.
O instrumental cirúrgico pode ser classificado e dividido em especial e comum. Especiais são
aqueles usados em apenas alguns tempos de determinadas cirurgias. Já os comuns constituem
o instrumental básico de qualquer tipo de intervenção cirúrgica em seus tempos fundamentais, a
saber: diérese, exérese, hemostasia e síntese.
Seus nomes correspondem em geral ao nome do autor que o descreveu.
Em uma classificação geral os vários tipos de instrumentos poderiam ser agrupados também da
seguinte maneira: diérese, hemostasia, preensão, separação, síntese e especiais. Nesta
classificação são considerados apenas os instrumentos cirúrgicos propriamente ditos.
Cabe ainda mencionar que em sua maioria, encontramos diversos tamanhos para quase todos
os tipos de instrumental, sendo realizada em “cm” (8, 10, 12cm, assim por diante).
DIVISÃO
• Diérese;
• Síntese;
• Preensão/hemostasia;
• Auxiliares (ou exposição), e
• Especiais.
DIÉRESE
Diérese advém do latim “diaerese” e do grego “diaíresis”, ambos significando divisão, incisão,
secção e separação, punção e divulsão. Com o objetivo de atingir a região sobre a qual se planeja
realizar o procedimento, com preservação dos planos anatômicos e finalidade terapêutica
(MARQUES, 2005). Ou seja, é uma manobra cirúrgica destinada a promover uma via de acesso
através dos tecidos.
• Bisturi;
• Tesouras
• Serras;
• Ruginas;
• Trépanos;
• Agulhas, e
• Outros.
O bisturi, provavelmente o mais antigo dos instrumentos cirúrgicos, constituído por um cabo reto
com encaixe em uma das extremidades para lâmina desmontável e descartável. Os cabos de
bisturi mais utilizados são os de número 3,4 e 7. O cabo de bisturi Bard-parker nº 3 é destinado
para lâminas pequenas (n.º 9 a 17), cujos formatos são variáveis e adaptados a determinada
função, que possibilitam incisões mais críticas, delicadas. O cabo de bisturi Bard-parker nº 4, é
usado habitualmente e se destina para lâminas 18 a 50 e as mais empregadas são as de
números 22, 23 e 24 (ALMEIDA e ALMEIDA, 2005). O de número 7 é mais longo e fino. Existem
ainda os bisturis de lâmina fixa.
Lâminas de bisturi.
Abrindo corretamente a embalagem. Maneira correta de apresentar. Maneira correta de retirar da embalagem.
Para conectar a lâmina ao cabo é necessária a utilização de uma pinça hemostática reta (Kelly)
de modo a evitar cortes ao manuseá-la. NUNCA SEGURE A LÂMINA COM SUAS MÃOS!!!!
Segura-se a lâmina em sua extremidade superior com a pinça hemostática reta (Kelly) que possui
uma estrutura metálica que assegura apreensão. O cabo é segurado pelo corpo de modo que a
face cortante da lâmina fique apontada para cima. A lâmina é deslizada pelo cabo até que haja
um estalido. A remoção obedece aos mesmos procedimentos, entretanto a pinça hemostática
reta (Kelly) deverá segurar a lâmina em sua porção mais proximal em relação ao cabo e (inferior)
levantando-a para desconectá-la e deslizando-a em sentido oposto ao anterior, com o auxílio de
seu polegar.
Forma correta de colocação da lâmina no cabo. Forma INCORRETA de manusear a lâmina.
Existem alguns métodos para segurar um bisturi, dependendo muito onde e como vai ser usado:
a) Como uma faca, onde o dedo indicador posiciona-se sobre a porção dorsal posterior da
lâmina, com a finalidade de controlar a pressão dessa sobre o tecido a ser enfocado. Usar
esta posição para as incisões de pele e de tecidos mais duros.
b) Como um lápis, podendo dessa maneira ser manipulado pelos dedos sem movimentar o
pulso. Usado para dissecação e incisões delicadas, onde não há necessidade de pressão
sobre o tecido a ser incisado.
2- TESOURAS
As tesouras, são instrumentos de corte, podem ser curvas ou retas, fortes ou delicadas e em
diversos tamanhos. Podem apresentar lâmina simples ou serrilhada e pontas rombas ou
pontiagudas ou uma combinação das duas. Assim podemos ter tesouras Romba-Romba, Romba-
Fina, Fina-Fina. Enquanto a tesoura reta é mais utilizada pelo auxiliar para o corte de fios, as
curvas são mais utilizadas pelo cirurgião.
As mais utilizadas são:
• Mayo;
• Metzenbaum.
As tesouras de MAYO, são muito empregadas na rotina cirúrgica, principalmente na versão R
(Romba), para tecidos mais grosseiros, como fáscias, em superfícies ou em cavidades, e corte de
fios. É considerada mais traumática que a de Metzenbaum, por apresentar a porção cortante
proporcional à não-cortante.
Aqui cabe uma observação: algumas escolas de cirurgiões consideram as tesouras de Mayo retas
como instrumental de síntese, uma vez que elas, no mais das vezes, são utilizadas para corte de
fios pós suturas.
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Tesouras de Mayo, curva e reta, mais grosseiras. Tipos de Tesoura de Mayo quanto sua ponta.
As tesouras METZENBAUM são indicadas para a diérese mais delicada de tecidos, podem ser
utilizadas em cavidades, introduzindo-as a fundo. É indicada para diérese de tecidos orgânicos
por ser considerada menos traumática, pois apresentar sua porção cortante mais curta que a não-
cortante.
Tesoura para fio de aço, detalhe do entalhe para se encaixar o fio. Tesouras para bandagens.
Tesouras de Potts-Smith.
Tesouras de Potts-Smith.
SÍNTESE
• Porta-agulhas;
• Pinças anatômicas de dissecção (ou de dissecção anatômicas). Tal como acontece com as
tesouras retas, acontece também neste grupo em que algumas escolas consideram que estes
instrumentais figurem aqui, já outras, que figurem no grupo de instrumentais de
preensão/hemostasia. Para fins didáticos, entendemos estarem melhor agrupados aqui.
O porta-agulhas
Estes instrumentos são os responsáveis por este fim, através da aplicação de suturas. Para isto
são utilizadas agulhas e pinças especiais para conduzi-las denominadas PORTA-AGULHAS.
Embora haja porta-agulhas muito delicados para a preensão de agulhas pequenas, uma
característica destes instrumentos é a robustez da sua parte preensora, bastante diferenciada das
pinças hemostáticas. São fundamentais para a confecção das suturas, uma vez que a maioria das
agulhas é curva e os espaços cirúrgicos são exíguos. Somente as agulhas retas e as de
conformação em "S" dispensam o seu uso. Os porta agulhas mais utilizados são os de MAYO-
HEGAR e de MATHIEU.
PARTES DE UM PORTA-AGULHAS:
Cremalheira
Detalhe da Wídia.
2- PORTA-AGULHAS de MATHIEU
O porta agulhas de Mathieu difere muito do anterior, na sua forma, por não possuir anéis nas
hastes tem a abertura da parte preensora limitada, pois há uma mola em forma de lâmina unindo
suas hastes, o que faz com que fiquem automaticamente abertos, quando não travados. São
utilizados presos à palma da mão, o que os fazem abrir, se inadvertidamente for empregada força
excessiva durante a sua manipulação. Sua melhor indicação seria para sutura de estruturas que
oferecem pouca resistência à passagem da agulha. Um bom indício disto é que não possuem a
fenda longitudinal que aumenta o apoio da agulha.
Contamos ainda com outros tantos porta-agulhas para aplicações específicas, cada um com uma
particularidade inerente à sua aplicação. Citamos: Porta-agulhas de Olsen-Hegar, este com uma
particularidade interessante que tem uma tesoura logo abaixo de sua ponta, porém seu manuseio
requer muito cuidado, pois não é incomum o corte “acidental” do fio em que se está utilizando para
a sutura no momento. Temos ainda os Porta-agulhas de Castroviejo (oftalmologia, cirurgia
plástica, cirurgia dermatológica, microcirurgia, cirurgia vascular, etc.), Porta-agulhas para fio de
aço (ponta bem curta que lhe garante robustez para manuseio do fio de aço = suturas de esterno
em cirurgias cardíacas e torácicas), Porta-agulhas vasculares, etc.
• Pinça anatômica de dissecção (apenas ou dita “pinça anatômica sem dente”). Estas
apresentam pequenas estrias transversais nas pontas propiciando pinçamento atraumático;
• Pinça anatômica de dissecção com dente de rato (ou simplesmente “pinça anatômica com
dente, pinça com dente ou ainda, dente de rato” = estas nomenclaturas podem e são utilizadas
na prática diária).
Servem para segurar tecidos no ato da dissecção. As pinças sem dente se destinam para
manuseio de tecidos localizados abaixo da pele, todo e qualquer. NUNCA se manipular a pele
utilizando uma pinça anatômica sem dente! Para tal, utilizamos somente a pinça com dente de
rato, e de maneira contrária, NUNCA manipular qualquer tecido que não seja a pele com ela. Para
manipulação de vasos sanguíneos, utilizamos um subtipo de pinça de dissecção sem dente, que
são as chamadas pinças vasculares, que ao invés de ranhuras transversais, apresentam micro
dentes dispostos em uma carreira dupla, em uma dos ramos da pinça e outra de uma carreira
simples e central na perna oposta.
Pinça anatômica de dissecção Cushing sem dente. Detalhe das estrias transversais.
Pinça anatômica de dissecção Cushing com dente de rato. Detalhe do dente. Detalhe do encaixe.
Pinça anatômica de Adson sem dente. Pinça anatômica de Adson com dente de rato.
Pinça de dissecção vascular De Bakey. Pinça de dissecção vascular De Bakey angulada e detalhes.
PREENSÃO/HEMOSTASIA
São instrumentais que tem como objetivo segurar tecidos e vísceras, principalemente aqueles que
apresentam sua superfície lisa que, quando envolvida em secreções, sangue ou o próprio líquido
cavitário, dificulta o manuseio com as mãos calçadas com luvas, por serm, nesta situação,
extremamente escorregadio. Encontramos uma gama enorme delas com aplicações bem
específicas. Têm como característica o fato de que suas pontas (zona de preensão) são
compostas de estrias transversais, que visam maior atrito com a superfície a ser alocada entre as
duas pontas para devida preensão, seja ela hemostasia ou simplesmente preensão para
manipular o tecido em questão. Todas elas são compostas por olivas e cremalheira, sem a qual,
a função de preensão torna-se difícl. Quanto ao formato, temos pinças retas e curvas, em sua
maioria, existindo aquelas em cuja apresentação é apenas em formato reto. Estão listadas a
seguir.
AUXILIARES (AFASTADORES)
São representados por afastadores, que são elementos mecânicos destinados a facilitar a exposição do
campo operatório, afastando as bordas da ferida operatória e outras estruturas, deforma a permitir a
exposição de planos anatômicos ou órgãos subjacentes, facilitando o ato operatório.
Dividem-se em:
• Afastadores estáticos, e
• Afastadores dinâmicos.
AFASTADORES DINÂMICOS
São aqueles que exigem tração manual contínua.
▪ Afastador de Farabeuf = apresenta-se em formato de “C” característico, sendo utilizado no
afastamento de pele, tecido celular subcutâneo e músculos superficiais. Existem em tamanhos
variados.
▪ Afastador de Doyen = Por se apresentar em ângulo reto e ter ampla superfície de contato, é utilizado
primordialmente em cirurgias abdominais.
▪ Afastdador de Deaver = Apresenta sua extremidade distal em formato de semi-lua, análoga ao
desenho de contorno dos pulmões, é amplamente utilizado em cirurgias torácicas, pode também ser
utilizado em cirurgias abdominais.
▪ Válvula Maleável = Empregada tanto em cirurgias na cavidade torácica, quanto na cavidade
abdominal. Por ser flexível, pode alcançar qualquer tipo de formato ou curvatura, sendo, portanto,
adaptável a qualquer eventual necessidade que venha a surgir durante o ato operatório.
▪ Afastadores de Volkmann = podem ser dotados de duas a seis garras, rombas ou agudas, na
extremidade que retém os tecidos. São utilizados pelo assistente, que facilita as manobras do
cirurgião, ficando, por isto, com as mãos ocupadas.
▪ Afastadores de Senn Muller = apresenta uma de suas extremidades em formato de garras, podendo
ser estas, de pontas romba ou de pontas agudas. A outra extremidade é uma alça angulada
semelhante a um Farabeuf. São destinadas a afastamentos mais precisos, de incisões
pequenas.
Existem ainda uma variedade de outros afastadores dinâmicos que não são da prática diária
de cirurgias de rotina, portanto não serão mostrados aqui.
Existem ainda uma variedade de outros afastadores auto-estáticos que não são da prática
diária de cirurgias de rotina, portanto não serão mostrados aqui.
Como dito no início deste material, não há uma unanimidade em relação à classificação dos
instrumentais, portanto, nesta categoria não seria diferente. Vocês verão em literaturas e escolas
diferentes, enorme diferença, principalmente nesta categoria supra mencionada. Portanto, estou
certe de que será melhor para o aprendizado geral que deixemos esta categoria a ser melhor
explanada em escolas cirúrgicas específicas, nas quais nem todos escolherão para seguir, mas
quem optar por tal, terá nela, o melhor aprendizado sobre o tema.