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Espiritualidade na Vida Cotidiana

Swami Nirmalatmananda

Responsável da Ordem Ramakrishna, Belur Math – Índia, pela propagação do movimento


Ramakrishna Vedanta no Brasil - Diretor Espiritual do Centro Ramakrishna Vedanta
Rio de Janeiro

Rio de Janeiro, 14 de maio de 2004

Uma vida orientada à espiritualidade


Façamos uma pequena meditação orientada, o que também participará do processo de
tornar a sua vida cotidiana orientada à espiritualidade. Cada vez que vocês se
sentarem para a meditação ou qualquer outro tipo de prática espiritual, tentem
fazê-lo o mais perfeitamente possível. Como fazer isso? Colocando todo o seu
coração. Não é dizendo “tenho que fazer”, não, esta não é a atitude. “Eu gosto de
fazer porque é algo que me faz bem”. Sempre que você disser à sua mente: “isso vai
ser bom para a minha vida,” a mente tenderá aceitar o que você está dizendo. Por
isso é dito para que se faça isso com todo o seu coração e com toda a sua alma.

Na medida do possível, sentem-se numa posição ereta, de maneira que não haja
nenhuma tensão, nenhuma contração em parte alguma do corpo. Sinta-se confortável, o
que não significa que se possa deitar; essa não é a idéia. Mantenha seus pés bem
colocados no chão. Se você apoiar seu peso nos calcanhares ou nos dedos dos pés,
estará havendo uma tensão nesses pontos do corpo. Portanto sinta o chão. Assim
estará sentindo a sua força, a sua firmeza. Mesmo quando se sentar com as pernas
cruzadas, faça-o sem tensão. Muitas vezes as pessoas se sentam nestas posturas,
contorcidas, reclinadas para frente, para atrás ou para os lados. Parece que alguma
coisa vai acontecer. Todos estes modos implicam numa postura física que vai acabar
tornado sua meditação mais difícil.

A idéia de meditação como prática espiritual é a seguinte: Transportar-se para além


da consciência corpórea. Mas ao assumir uma posição tensa, você ficará já desde o
início muito ligado ao corpo físico. Portanto ao se sentar para meditar, sente-se
numa posição confortável, de maneira que possa com facilidade se transportar para o
interior da mente.

No que quer que você faça, a sua postura é indicadora da sua atitude mental, é seu
reflexo. Imagine que você esteja fazendo sua prática espiritual com energia e
entusiasmo. Sua postura, sua atitude, tudo isso vai demonstrar o seu entusiasmo.
Nós já temos problemas demais na vida cotidiana. Não inclua a sua vida espiritual
na vida cotidiana como mais um problema. Esta não é uma boa idéia. A prática
espiritual, deveria ser um meio de se compreender como elaborar uma forma de
libertação dos problemas cotidianos.

Se a prática espiritual não for enfocada de uma maneira correta e adequada, mais um
problema estará sendo acrescentado. Muitas pessoas reclamam dizendo que não têm
tempo para fazer a prática espiritual; ou que estão praticando, porém sem
resultados. Seja lá o que se queira fazer, devemos fazê-lo da maneira correta.
Portanto sinta o chão, feche os olhos, inspire profundamente pelo nariz, e então
expire completamente pela boca, devagar. Faça isso umas cinco vezes.

Uma Oração
Agora faça mentalmente uma oração, para que o seu próprio desenvolvimento
espiritual avance, e para o bem estar de todos os seres viventes. Imagine com
bastante força em sua mente, as ondas da sua oração sendo uma manifestação do
Senhor, alcançando cada canto do horizonte. Tente tornar-se consciente da
totalidade. Continue mantendo esta consciência da totalidade. Repita com clareza um
Nome Sagrado, com toda sua alma e coração repita este nome. O que quer que faça,
faça com amor. Ore assim:

Ó Senhor Supremo, que sois a personificação do Conhecimento e da Força, preenchei


nosso coração e nossa alma com vigor, sabedoria e felicidade. Concedei-nos a força
para trabalhar de maneira a superar todas as dificuldades da vida. Permanecei
conosco hoje e por todos os outros dias, em cada instante de nossas vidas e
especialmente quando chegar nosso último momento nesse mundo.

Om, Om, Om

A Contínua Batalha
Existem muitas explicações para a vida. Uma das explicações mais comuns é que a
vida é uma luta contínua. Seja você um estudante, seja um chefe de família, seja um
trabalhador, ou um aposentado. A vida é uma luta contínua.

Temos muitos sonhos e tentamos realizá-los. As vezes realizamos estes sonhos, porém
na maioria delas quase sempre aquilo que realizamos não permanece conosco; por
exemplo, alimentamos a idéia de ter muitas coisas, tentamos obter algumas delas, e
aquilo que conseguimos muitas vezes não permanece; o que permanece não é
desfrutado; o que desfrutamos, não vai permanecer assim para sempre, pois está
constantemente mudando. Mesmo que consigamos alguma felicidade, ela não ficará
conosco por muito tempo. E se juntarmos todas estas questões poderemos tentar
descobrir onde está a felicidade. Depois de uma série de experiências, chega-se à
vida espiritual. E nela mais uma vez se começa a luta.

O que acontece é que muitos iniciam a batalha, e depois de algum tempo acham que é
muito difícil, então começam a dizer que não têm tempo para a prática espiritual,
que tantas outras coisas precisam ser feitas, perdem o interesse por alguma razão.
E para estas pessoas uma dos maiores problemas é o seguinte: Visualizam a vida
espiritual como algo inteiramente diferente da vida cotidiana, como se ambas fossem
separadas. Essa não é a maneira ideal de se olhar para esta questão.

Ação e Fadiga
Não negamos que exista a vida espiritual, bem como as atividades seculares, esta
distinção. O certo é que temos de agir, desde o início da manhã até o final da
noite, o tempo todo, de uma ou de outra forma. Você não pode simplesmente ficar
sentado sem fazer nada. Nenhuma graça vai ser concedida a você dessa maneira. Não é
possível. Pelo menos por enquanto. E portanto o seu pensamento é: ‘Já tenho tanta
luta para enfrentar, não vou encarar mais uma batalha com a vida espiritual. Estou
chegando do trabalho, fico muito cansado, não me sinto sequer capaz de me sentar,
não tenho vontade de fazer nada nesse momento.’ Todos nós temos esse tipo de
sentimento. Não é essa uma experiência que todos conhecemos? Com essa postura
mental, mesmo que você tente, não conseguirá fazer uma prática espiritual. Dessa
maneira, o que lhe restará é ir dormir. Não terá muita energia, nem entusiasmo. E
aí, no dia seguinte, você acordará muito cansado. Muitas pessoas acordam assim, se
sentindo muito cansadas. Dormiram a noite inteira, mas ao se levantarem dizem que
estão muito cansadas. Conheço pessoas que saíram de férias por quinze dias, talvez
para Europa, Paris; e aí quando regressaram, a primeira coisa que disseram é que
estavam muito cansadas. Não foi por causa da viagem. Mas a postura geral da pessoa
é de muito cansaço. Por que isto acontece? Você passou quinze dias fora, de férias,
o objetivo da sua viagem era descansar, se sentir bem, mas você volta e diz que
está muito cansado, que precisa tirar mais uns dois ou três dias de folga. Há algo
de errado nesta história. As pessoas vão à praça, ao parque para caminhar, correr.
Conheço uma pessoa, uma senhora que queria caminhar comigo, aí começamos uma
caminhada. E ela falou de todos os problemas da sua vida e, pouco a pouco, com o
passar do tempo, depois de 10, 20 ou 30 minutos, ela não podia mais andar, eu
percebia o tempo todo o que estava acontecendo e lhe disse, ‘você veio ao parque
com a intenção de fazer uma caminhada, e não de ficar pensando novamente nos mesmos
problemas como de costume; para você isto está sendo uma perda de tempo. Onde quer
que vá, a mente lhe acompanhará, mas se não há concentração no que se está fazendo,
se não se gosta do que se está fazendo, nenhum benefício será retirado desta
atividade.’ A maioria das pessoas faz o que não gosta, mas faz mesmo assim. Não é
verdade? Sentem que têm que fazer isto ou aquilo. Como se um peso enorme estivesse
sobre seus ombros, forçando-as a agir dessa forma. Mas com este tipo de atitude não
se alcançará resultados favoráveis. Você tem que mudar de atitude. ‘Eu gosto de
caminhar’ e não ‘eu tenho que caminhar’. Se você fala: ‘Eu tenho que meditar porque
Swami falou, porque as pessoas falam para eu fazê-lo, mas eu não tenho energia’
etc., com esse tipo de atitude não se ganha nada. A postura deve ser: ‘eu gosto de
fazê-lo, gosto de meditar, gosto de ler, gosto de levar uma vida espiritual,’ você
vai ganhar a energia necessária para prosseguir.

Atitude Correta
A atitude é muito importante, a atitude correta, não só na vida espiritual, seja na
música, numa caminhada, qualquer outra atividade, você tem que ter a atitude
correta. É a atitude que lhe fornece a energia, que lhe traz o entusiasmo, que lhe
dá o impulso de fazer mais. Todas as grandes coisas começam sempre de uma maneira
pequenina. Existe um número muito grande de obras filantrópicas em andamento, sendo
tocadas por várias pessoas, por várias instituições, todas elas iniciadas de uma
maneira muito pequena. Como? Existe um segredo? O segredo é a atitude correta. Se
você tiver que trabalhar todos os dias, pelo dia inteiro, faça isso com a atitude
correta. Considero este, um dos pontos mais importantes em nossa vida cotidiana.
Portanto com a atitude correta ao se enfocar a vida espiritual, ela vai lhe
proporcionar bem mais do que você espera.

Para dar um exemplo recente de algo que aconteceu comigo: Eu havia planejado ir à
Venezuela, por uns dez ou quinze dias. Nesta época havia uma série de greves em
diversos setores na capital Caracas. Todos os devotos me aconselharam, ‘não Swami,
não vá, o momento é desfavorável, todo dia há um tumulto em Caracas, não sabemos o
que poderá acontecer...’ Esta era o tipo de atitude. Eu acabei sentindo que seria
melhor concordar, talvez houvesse algum sentido nisso. E, como se não bastasse,
ainda houve a greve da Polícia Federal no Brasil. Uma grande greve. O vôo saía às
dezesseis horas, tive que ir para o aeroporto às dez da manhã, permanecendo na fila
por três horas. E aí me perguntei que tipo de viagem era aquela. Comecei então a me
sentir cada vez menos e menos entusiasmado, centenas de pessoas esperando para
passar pela inspeção da segurança. Eu estava lendo um livro, em pé na fila. O tempo
médio para se chegar ao ponto de inspeção era de três horas. Claro que comecei a
ficar um pouco desapontado. Mas a medida em que a fila andava, chegou um ponto, em
que fechei o livro, cerrei os olhos, e fiz o que se poderia chamar de uma meditação
de um minuto, de onde voltei com uma atitude completamente diferente. A primeira
coisa que fiz foi dizer para mim mesmo, eu vou gostar dessa viagem. Há centenas de
pessoas me esperando, essa programação já está feita. Estas pessoas de diversas
cidades também fizeram suas programações, isso tudo é uma obra de Thakur. O que
estou indo fazer é uma pequena parte desse processo, da maneira como Ele ordenou.
Eu gosto de fazer isso. Essa luta faz parte do processo. E pensar dessa maneira
mudou meu sistema. Naquele momento descobri que havia uma senhora de Caracas que
veio visitar o Brasil, e estava regressando para a Venezuela. Comecei a conversar
com ela, e pedi que me falasse à respeito de Caracas. Mas ela começou a me relatar
todos os problemas por que passava em Caracas. E aí pensei, ‘acho que fiz a ligação
errada’, então me virei para o outro lado e vi uma jovem que ia viajar. Normalmente
os jovens têm um ideal de mudança. Ao começar a conversar com ela, notei que havia
alguma vida, e depois de alguns minutos, comecei a esquecer todas aquelas coisas
que estavam pesando sobre meus ombros. Vocês não imaginam, mas por um momento,
estive quase a ponto de cancelar a viagem. Mas no final das contas, o que
aconteceu? Com essa mudança de atitude comecei a observar como as pessoas mostravam
em seus semblantes o como era difícil enfrentar a fila, não se podia sair da fila
sequer para comer alguma coisa, tanta dificuldade. Mas a medida em que fui mudando
minha atitude, tudo mudou, senti-me completamente renovado. Comecei a me perceber
mais e mais entusiasmado. O passar das horas já não me incomodava tanto. ‘Tudo bem,
quando esta fila andar avançarei um pouco mais.’ Até que chegou o momento em que
entrei no departamento, pude comer alguma coisa, conversar com outras pessoas.

Então fiz uma viagem de seis horas. Vocês não são capazes de imaginar, que uma
história iniciada dessa maneira acabaria se transformando numa viagem excelente. E
comecei a pensar como seria maravilhoso passar aqueles dez dias divulgando a
mensagem da Vedanta. Um dos tópicos da minha palestra na Universidade de Los Andes,
em Mérida situada a uma hora e meia ao sul de Caracas, era Globalização, Belicismo
e a Perspectiva da Vedanta. Eu nunca havia falado a esse respeito, não estava
sequer preparado para o tema, mas como havia chegado com uma atitude modificada, e
durante o vôo reunira vários e vários itens, consegui fazer dessa viagem uma viagem
maravilhosa.

Então o ponto em questão é: como a sua mudança de atitude pode lhe apontar uma nova
direção? Dependendo da sua atitude, já é possível perceber se haverá um bom
resultado, ou um resultado morno. Na vida espiritual ou no trabalho cotidiano,
tente manter a atitude correta. Esse princípio pode ser aplicado em qualquer setor
da vida.

Espiritualizar o Cotidiano
Até uma coisa muito pequena, quase insignificante, pode ser enfocada numa
perspectiva espiritual. Darei um exemplo: Havia um monge que trabalhou comigo, ele
continua lá em nosso mosteiro matriz. Cada vez que recebia uma correspondência, a
primeira coisa que fazia era oferecê-la aos pés de uma imagem da Divindade. E só
então abria o envelope para ler a carta. E o mesmo fazia quando ia enviar a carta
resposta, colocando-a aos pés da Divindade, antes de remetê-la. A idéia é muito
simples, mas este homem aprendeu a espiritualizar uma pequena parte do seu
cotidiano. Podemos também fazer isto com o nosso trabalho cotidiano. De qualquer
maneira o trabalho terá que ser feito, mas você pode estabelecer um elo entre o que
está fazendo e a divindade. Muita gente sabe disso, lê a esse respeito, mas depois
acaba esquecendo. Esse esquecimento se torna um grande problema. Mas se esse ponto
for relembrado, pode-se estar cozinhando, correndo no parque, dirigindo, fazendo
uma prova, etc., um elo com o divino é criado, e a pessoa faz de si mesma um
instrumento em suas mãos. Estará divinizando a si mesma. Pouco a pouco, sua mente
vai-se acostumando com as ondas da divindade, e de forma gradativa, mente e coração
vão se tornando mais e mais unidos. Novos hábitos são criados e automaticamente se
percebe que qualquer tipo de atividade possui uma corrente subjacente de divindade.

Na Índia cada vez que alguém começa a escrever, a primeira coisa que faz é colocar
o símbolo AUM. Na tradição cristã, quem sabe, se faz uso do símbolo da cruz. Parece
algo muito simples. Mas o significado desse hábito é estabelecer um elo permanente
com a divindade que se está tentando alcançar. Assim, por exemplo, se estamos
cozinhando podemos pensar por um minuto, ‘estou cozinhando esse alimento para que
ele seja oferecido a Deus.’ À hora das nossas refeições, costumamos fazer um
cântico. Não se trata meramente de um ritual, o que ocorre é que essa atitude
espiritualiza o que estamos prestes a fazer. Não se come simplesmente pelo ato de
comer. Estamos nos lembrando da Divindade, e antes de mais nada oferecemo-lhe o
alimento, de forma que o Divino participe dessa oferenda. Isso significa que você
não estará ingerindo o alimento só para você. Há uma diferença entre os seres
humanos e subumanos, que quando vão tomar seu alimento simplesmente pegam a comida
sem pensarem. Mas existem alguns animais que não fazem assim. O javalis, quando
tomam seu alimento, não comem imediatamente. Eles emitem um som para chamar os
demais de sua vara. E só quando todos estão juntos, eles comem. Vocês sabiam disso?
Na Índia existe essa prática: As donas de casa preparam a comida, oferecem às
pessoas, para os membros da família, e o chefe da família pega uma pequena porção
de arroz que é então oferecida aos ancestrais e à Divindade, colocando esse bocado
de lado. A esposa pega a porção reservada levando-a para fora da casa, pronunciando
‘Káh, Káh, Káh’, que é um som semelhante ao emitido por uma espécie de corvo que
habita a redondeza. E assim fazendo, logo chega um pássaro para se alimentar, que
emite o mesmo som para chamar outro, que chama a outro ainda, até que o bando todo
chega, e aí sim começam a comer. Quando estão comendo, essas aves emitem uma série
de sons que ao serem ouvidos, indicam ao chefe da família que ele pode começar sua
refeição. Podemos perceber quanto significado existe atrás de um ato tão simples: a
lembrança dos ancestrais: o pai, o avô, o pai do avô, todos os antepassados. E
através dos pássaros que vêm comer o alimento dá-se a espiritualização, a
recordação e a divinização do ato de comer. Portanto se estamos dispostos a agir
por todo o dia, devemos pensar no que podemos fazer para divinizar todas as nossas
ações dedicando um pequeno pensamento ao divino.

Ser um instrumento divino


Tenhamos um pensamento, mesmo que rapidamente, capaz de nos ligar ao divino antes
de começarmos qualquer atividade. E quando da sua conclusão, lembremo-nos mais uma
vez da divindade. Lembremos no início, lembremos no final, e ao fazer assim,
gradualmente desenvolveremos um hábito, perceberemos que mesmo durante a execução
da ação, a divindade estará sendo recordada. Chegará um momento em que você se
perguntará, quem é que está agindo? ‘Serei eu, ou será um poder maior, que se
manifesta e age através de mim?’ Você começa com a atitude de quem pensa, ‘eu sou
aquele que faz’, e gradualmente através da prática, a sua atitude mudará e você
perceberá: ‘há uma outra força atuando através de mim.’ Para executar uma ação
adequadamente, existem muitos fatores necessários. Imagine que você queira escrever
uma carta. Será necessário um computador, tinta, envelope, papel, etc. Somente com
todos esses itens uma boa carta poderá ser escrita. Mas quando a carta é concluída,
você reivindica todo o mérito para si mesmo. Se o computador pudesse falar, ele
diria: ‘e a minha parte nessa história?’ Portanto se analisarmos corretamente,
muitos fatores colaboraram para a obtenção do melhor desempenho possível. E se
houver a atitude correta, isso será lembrado, bem como o mais importante: que
existe uma força agindo por seu intermédio. Chegará à compreensão de que você não é
aquele que faz, mas um instrumento através do qual aquilo é feito. E quando se
desenvolve esta atitude, de ser um instrumento nas mãos do Senhor, é sinal de que
houve um avanço na vida espiritual. Posso afirmar com cem por cento de garantia,
que quando se alcança realmente esse nível, de compreender corpo e mente como
instrumentos, é que se estará realmente no caminho da vida espiritual. Esse
resultado é alcançado depois de uma sucessão de tentativas em se executar as ações
de maneira adequada.

Enfocar problemas como desafios


Para os aspirantes espirituais existe um ponto muito importante: todos os dias e em
todos os lugares, encontramos dificuldades na vida espiritual. Já fiz experimentos
a esse respeito com algumas pessoas. Experimentei esse tipo de enfoque. E as
pessoas sempre reclamam: ‘tenho muitos problemas durante o dia, trabalho até a
noite, são muitos problemas e não tenho energia para superá-los, o que posso
fazer?’ Pensei então em como podemos mudar esse tipo de atitude. Eu mesmo tomei uma
atitude. Suponha que você veja as coisas da seguinte maneira: ‘isso não é um
problema, é um desafio.’ Só com esse tipo de atitude haverá uma mudança imediata.
Existe algo que está desafiando uma parte do seu ser, que está lhe demandando
alguma energia, expondo algum tipo de dificuldade. E o que acontece é que esse
desafio quer aflorar algum tipo de força existente em seu interior. Espera-se que
você supere aquele problema, mas falta-lhe a energia necessária. O problema
apresentado implica num desafio, e aí então há o despertar de uma reação da sua
parte. ‘Estou sendo desafiado, vejamos como vou resolver este problema. E se minha
primeira tentativa não der resultado, tentarei de outra forma, e se essa também não
funcionar partirei para uma terceira maneira.’ Imaginemos que nada funcione, o que
você faz? Você vai parar? Muitas pessoas dizem que tentaram todas as
possibilidades. Suponha que você chegou ao ponto de ter tentado tudo e não ter
conseguido. Nunca ponha um ponto final no seu esforço. Eu também passei por isso.
Havia tentado várias soluções para um problema. E aí fui conversar com uma pessoa
que já havia conseguido superar este problema, já tinha passado por ele. Então lhe
perguntei sobre como havia feito. ‘Será que você pode me dar uma dica?’ Não há nada
de errado em se pedir ajuda. Portanto jamais existirá um limite para seus esforços.
Se você puder se lembrar da divindade, mesmo que por um pequeno lapso de tempo,
enquanto faz o esforço, cada vez mais força será obtida para realizar o que deve
ser feito. Imagine que uma criança de colo esteja tentando andar. E aí ela cai, e
novamente se levanta, caindo mais uma vez. Acaso passará pela cabeça dos pais
colocarem um limite às tentativas de andar da criança. Por acaso os pais falam para
a criança? ‘Tente andar por dois meses, se você não conseguir pare.’ Isto não se
diz. Por que então não aplicar a mesma fórmula no seu próprio caso. Lembre-se desse
ponto.

Reclamar significa não tentar


O que não faz sentido é continuar reclamando. Reclamar significa que você não
tentou o suficiente, isso é que significa reclamar. Você não impõe um limite ao
aprendizado de uma criança. Aplique a mesma formulação ao seu cotidiano. Existem
muitas maneiras de se fazer as coisas, e muitas maneiras de se vincular o que está
sendo feito à divindade. Fazer esse vínculo entre o que se está fazendo e a
divindade é semelhante a se colocar um pouquinho de mel no alimento, basta um
pouquinho de mel para adoçar todo alimento, seja qual for sua natureza – azeda,
salgada, doce – ficará mais doce, tal é o efeito de umas gotas de mel. Portanto
quando nos lembramos da divindade, seja um ideal, um nome, uma forma, ou sem nome
ou forma - qualquer coisa que faça aflorar o melhor que existe em você - você
desperta o que há de melhor em si mesmo. O responsável por esse florescimento é a
ligação estabelecida com o que é divino.
Mantenha-se preparado
Tente com criatividade. Divinize as suas ações, as coisas pequenas e as coisas
grandes. E aí verificará que a prática espiritual se tornou muito fácil. Ao se
sentar para meditar, perceberá que a mente se tornou meditativa com facilidade. Se
quiser meditar bem à noite, não poderá andar de qualquer maneira durante o dia, a
meditação não vai acontecer. Um preparo deve ser feito. Aquele pequeno vínculo que
se estabelece de vez em quando, que foi estabelecido durante o dia, prepara-lhe
muito bem para a meditação noturna. O mesmo se dá para se conseguir uma boa
meditação pela manhã.

Cada vez que você se coloca na posição de estar fazendo alguma coisa, e se
conscientiza de que aquele que as faz é o Senhor, e a postura de ser um instrumento
nas mãos Dele é assumida, verá que tudo muda. Provem isso para vocês mesmos,
experimentando a partir de pequenas coisas. A questão é mudar a atitude. A atitude
existente até então não tem produzido resultado, portanto mude essa atitude. Tente
encarar os fatos de uma maneira diferente. Pergunte a outros como conseguiram. Nada
se perde em pedir ajuda.

Conclusão
Creio que essas poucas idéias sejam suficientes. Ponham-nas em prática e verifiquem
como a sua vida espiritual vai mudar. Imagine que você esteja se levantando pela
manhã, o que acontece normalmente é que você se levanta, dá bom dia às pessoas
próximas, um beijo, isso é normal. Mas amanhã, acrescente um novo ingrediente:
lembre-se do seu ideal espiritual, mesmo que seja por alguns segundos, e antes de
começar a fazer qualquer coisa, faça uma saudação a este ideal. E uma diferença
poderá ser notada. Faça o mesmo ao se deitar para dormir. Muitas pessoas vão para a
cama com o coração pesado, cheio de pedras, isso acontece. Como torná-lo leve? Faça
a si mesmo essa pergunta: ‘Como posso torná-lo leve?’. Faça perguntas inteligentes
e obterá respostas inteligentes, pois o processo de pensar se tornou criativo.
Então como posso me sentir mais leve na hora de dormir? Eu não vou responder a
vocês, não contarei meu segredo. Respondam vocês mesmos e o segredo também será de
vocês. Não faça as mesmas coisas sempre da mesma maneira esperando um resultado
diferente, pois nada vai acontecer. Agir assim é uma loucura. Por exemplo: Suponha
que uma abelha tenha entrado aqui na sala pela janela, que mais tarde é fechada. O
inseto quer voltar para o exterior, vê a luz e tenta sair, mas bate no vidro, vindo
a cair no chão. E tenta esta saída exaustivamente, bater no vidro e cair. É o que
fazemos conosco. Se me perguntarem o que é a loucura, uma resposta possível seria:
‘fazer sempre o mesmo esperando um resultado diferente’. É algo que não leva a um
resultado favorável. Portanto temos que olhar para as coisas de uma maneira nova,
às vezes de uma maneira muito criativa.

Pudemos hoje recolher muitas idéias aqui. Se vocês forem suficientemente espertos
para colocarem algumas delas em prática, obterão resultados surpreendentes. Essas
são algumas idéias novas, poucas, porém suficientes.

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