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Mestranda da Universidade de São Paulo – USP, no Programa de Pós-graduação em História Social da Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – FFLCH. Orientação: Prof.ª Dra. Maria Cristina Correia Leandro Pereira.
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Os mais antigos exemplares sobreviventes até os dias atuais se encontram no ciclo de afrescos da pequena igreja
de Kastoria (c. 900), na Grécia, e em algumas igrejas rupestres da Capadócia (primeira metade do século X). Cf.
PACE, Valentino. Le Jugement Dernier entre Orient et Occident. Paris: Cerf, 2007, p. 34.
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b) Nos registros superiores encontra-se a Deesis (do grego δέη ις – oração, súplica),
representação tradicional bizantina do Cristo Juiz, este flanqueado pela Virgem
Maria e São João Batista, junto com os apóstolos e os anjos;
c) Sob o Cristo, aparece a Etimasia (do grego ἑ οιμα ία – preparação), representação
do trono vazio, à espera da Segunda Vinda de Cristo, geralmente flanqueado por
anjos e por Adão e Eva prosternados;
d) À esquerda e à direita da imagem é representada a ressurreição dos mortos, feita por
Terra e por Mar;
e) À direita do Cristo Juiz se encontra o grupo dos eleitos, distribuídos em um ou dois
registros;
f) À esquerda do Cristo Juiz se encontra o grupo dos condenados, dentro de um lago
de fogo, que é alimentado por um rio flamejante cuja fonte está sob os pés do Cristo;
g) Nesse lago, encontram-se também dois anjos e Hades3, sentado sobre uma criatura
monstruosa e com uma criança no colo;
h) O registro inferior, enfim, é ocupado à direita pelo paraíso, à esquerda pelos
compartimentos infernais; em frente à porta do paraíso se encontram São Pedro e
um anjo, e depois da porta estão a Virgem Maria, São Dimas e Abraão; nos
compartimentos infernais, os condenados são submetidos a diferentes tipos de
tormentos.
i) A pesagem das ações, ou Psicostasia, situa-se entre o inferno e o paraíso e é feita
por um anjo que porta uma balança, o qual é perturbado pela intervenção de um ou
mais demônios.
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A questão da figuração de Hades nos infernos bizantinos foi trabalhada em PIσCIσATτ, Mariana. “τ inferno e
a figuração de Hades como o Demônio no mundo bizantino”. Anais do V Encontro Nacional de Estudos da
Imagem [e do] II Encontro Internacional de Estudos da Imagem [livro eletrônico]. VISALLI, Angelita
Marques et al (org). Vol. 11. Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 2015.
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possibilidades de usos de modelos e estilos que possuíam a capacidade de gerar outras imagens
com variantes e derivações, ou que poderiam ser simplesmente retomados e reproduzidos.
Russo explica que a palavra modelo (modèle) é derivada do italiano modelo, para a
linguagem das artes, e designa uma “figura destinada a ser reproduzida”; o italiano viria, na
primeira metade do século XVI, do latim tardio modellus que, por sua vez, descenderia da
alteração do latim modulus, módulo, molde (MAGNANI e RUSSO, 2010: 211). A partir do
sentido inicial de “figura a se reproduzir”, entende-se a expressão como toda forma provinda
de uma construção, destinada a ser reproduzida outras vezes.
A expressão pode ser aplicada a diferentes campos. O período clássico insistiu na ideia
da norma/padrão e, portanto, do que deveria ser imitado; no vocabulário artístico pode também
indicar a pessoa que posa para um pintor ou escultor; no campo da moda, refere-se a alguém de
tipo perfeito, que serve como exemplar; além disso, no domínio da manufatura ou da produção
industrial em série, o modelo refere-se a um ou outro tipo de fabricação. Porém, o emprego do
termo que mais nos interessa é o que Daniel Russo classifica como de ordem científica: “na
matemática, o modelo é o que suporta a modalização” (MAGNANI e RUSSO, 2010: 211), ou
seja, que comporta o conjunto de variações e derivações. Desse modo, a partir de um inicial, o
modelo reproduzido se insere em um novo conjunto e se relaciona com as especificidades do
novo contexto.
O historiador Peter Klein explica que a localização frequente do Juízo Final no muro
oeste pode estar relacionada ao simbolismo dos pontos cardeais: a associação do sol poente ao
mal e à morte, e do sol nascente à vida e salvação. Assim, o altar mor era, salvo algumas
exceções, construído na direção leste, enquanto a porta de entrada do edifício situava-se na
direção oeste (KLEIN, 1993: 89 – 101). Contudo, segundo Jérôme Baschet, no que diz respeito
à localização do Juízo Final, sua presença no portal ou na contrafachada importa mais que sua
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No manuscrito Grego 74, o lago de fogo ocupa boa parte da lateral esquerda da imagem,
como uma mancha vermelha sólida que se destaca do restante da composição. Mas são os
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Podemos destacar outras variações como essas anteriores entre as imagens aqui em
questão. No ícone do Sinai, por exemplo, não há a representação da pesagem das ações, que
são encontradas em Torcello e no manuscrito bem no centro das imagens, entre o Paraíso e o
Inferno. Em Torcello, ela é situada bem acima da porta de saída, sobre a imagem da Virgem
em oração, destacando-se para quem se encaminha para a porta de saída. No ícone, a
ressurreição dos mortos ocupa um espaço significativo na parte inferior central e direita da obra,
sendo a ressurreição por terra e mar apresentadas lado a lado. No mosaico torcellano a
ressurreição aparece no segundo registro, por terra à extrema direita e por mar à extrema
esquerda. No manuscrito, por sua vez, ocorre o oposto do mosaico: por terra à esquerda e por
mar à direita, e as duas cenas não fazem parte do mesmo registro. Além disso, o mar é
representado dentro de um elemento formal, como se “fechasse” a água e os animais marinhos
nesse espaço.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PACE, Valentino. Le Jugement Dernier entre Orient et Occident. Paris: Editions du Cerf,
2007.