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Resumo: em Lucas 4,18 -19, podemos perceber que Jesus lê o livro de Isaias no capitulo 61,
no entanto podemos perceber que na leitura do texto há um acréscimo e uma supressão do
texto original. Como o Novo Testamento é escrito em grego a descrição da leitura é copiada
da Septuaginta. Este artigo procura responder por que esta narrativa altera o texto original,
bem como suas implicações nas relações de poder. Buscaremos identificar as intencionalidades
dos textos em todas as circunstâncias sendo elas: a) Texto de Isaias, b) Septuaginta e c) texto
de Lucas. Nessa perspectiva buscaremos convergir todas as narrativas na interpretação dada
por Jesus em confronto com a relação de poder de seu tempo.
Q
uando observamos o texto enunciado, percebemos que alguns fundamentos teoló-
gicos de nosso tempo ainda buscam insistir em uma interpretação literal do texto,
aplicando-a em toda Bíblia. Apesar do texto em epígrafe se referir ao próprio
livro de Apocalipse, foi criado a partir dele um pressuposto em que se utiliza para interpretar
toda Bíblia. Nosso intuito aqui não é fazer uma analise deste texto, nem tam pouco afirmar
O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me
a curar os quebrantados de coração, a pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos
cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, A anunciar o ano aceitável do Senhor.
De acordo com Lucas 4, Jesus afirma que a profecia havia se cumprido aos ouvidos
dos que estavam ali. Antes mesmo de sua fala as pessoas presentes naquela localidade já esta-
vam “fitando os olhos nele”. A comunidade lucana enfatiza esse momento, para eles é único,
por alterar a narrativa referenciada da Septuaginta. Buscamos traduzir o texto tentando trazer
a forma mais literal possível. O primeiro texto é o da Septuaginta e o segundo é o texto da
comunidade lucana. As partes em negritos são aquelas que se diferenciam uma das outras.
O Espírito do Senhor está sobre mim do qual ungiu por causa de mim a se proclamar
aos pobres, tendo enviado a mim para curar para si aqueles que têm esfregado ao
coração e ter proclamado aos cativos a libertação e também aos cegos a recuperação de
vida. Ter chamado o ano aceitável do Senhor e o tempo da recompensa ter chamado
ao lado todos os aflitos.3 (Isaias 61,1-2 – Septuaginta - Tradução do autor)
O Espírito do Senhor esta Sobre mim do qual ungiu por meio de mim a se proclamar aos
pobres, tendo enviado a mim para ter proclamado aos cativos a libertação e também aos
cegos a recuperação de vida a enviar a aquele que tendo sido quebrado pela libertação
à proclamar o ano aceitável do Senhor (Lucas 4, 18-19, tradução do autor).
Buscamos deixar a tradução bem literal para que possamos perceber as sentenças
claramente. Em primeiro lugar, percebemos que a tradução Almeida Revisada e Atualizada
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acrescenta “quebrantados de coração” que seria o equivalente “àqueles que têm esfregado o
coração” – tus suntetrimmenus tê kardía, que somente aparece na Septuaginta. Neste caso, a
Almeida Revisada e Atualizada, busca uma proximidade com o texto proposto pela tradução
de Isaías “o Coração destruído” - lenishverey lev -, a tradução Almeida Revisada e Atualizada
ignora o fato de que no texto de Lucas suprime expressões semelhantes, o que a tradução
busca fazer é trazer uma proximidade com as palavras hebraicas e a intenção da Septuaginta.
Percebemos que há de fato uma preocupação com a alteração proposta por Jesus, talvez uma
tentativa de corrigir o que supostamente havia sido escrito errado. Entendemos que as altera-
ções estabelecidas pela comunidade lucana foram intencionais e com propósito, porém, antes
de analisamos o texto de Lucas, analisaremos superficialmente Isaías 61,1-2, que em nosso
entendimento é o ponto de partida na compreensão da narrativa de Lucas.
O Espírito do Senhor Iahweh está sobre mim porque Iahweh me Tira pra anunciar aos
oprimidos, deixa-los ser livre e unir o coração destruído, para proclamar ao cativo a
libertação e ao algemado libertação, para convocar do sono a benevolência em direção a
Iehweh e no dia da vingança o nosso Elohim consolara a todos os enlutados.5
[...] com duas exceções designa abrir os olhos (Is 42.20, o abrir os ouvidos; Is 61.1, abrir
uma prisão para aqueles que estão presos [cf. Lc 4.18-19]) [...] Quando peqah se refere
a abertura dos olhos dos homens, quase sempre é Deus o sujeito do verbo (HARRIS;
ARCHER JUNIOR; WALTKE, 1998, p. 1231).
Os três oráculos de salvação 60, 61 e 62 se devem a um único profeta dos primeiros anos
do pós-exílio, o qual se inspira bastantes no Dêutero-Isaías, do qual extrai frases inteiras
e mais ou menos ao pé da letra [...] e utilizou determinadas expressões [...] ou expôs a
mesma ideia com termos semelhantes[...] Muitas vezes, no entanto, ele coloca nas palavras
um significado novo, reinterpretado no sentido de Jerusalém e de seus habitantes, certas
frases que se referem a Deus.
Quando o povo judeu voltou para sua terra, aparentemente estava livre, e a orga-
nização da terra, as grandes construções e a restauração política, pareciam favoráveis a ideia
de liberdade. “As circunstancias políticas favorecem a esperança de restauração da comuni-
dade dispersa.” (ASURMENDI, 1988, p.86). Porém, o Trito Isaias defende uma liberdade
conquistada, a terra ainda era disputada, a identidade precisava ser restaurada e algumas
estruturas políticas já estavam organizadas no processo de exploração do povo. O Trito Isaias
demonstra que a liberdade era ainda um processo. A salvação aparece aqui como uma ca-
racterística territorial e cultural, onde o próprio oráculo se apresenta como representante de
Iahweh, para fazer com que as pessoas enxergassem uma nova perspectiva de liberdade.
Nesse sentido, quando Jesus lê o texto, temos uma noção das ideias transmitidas
pelo Trito Isaias. Contudo, a comunidade lucana se utiliza da tradução grega deste texto que
vai nos trazer ainda outras perspectivas.
Os judeus sob os Ptolomeus. Nem bem Alexandre morreu, seu império começou a
desintegrar-se, enquanto seus generais brigavam entre si, procurando obter todas as
vantagens que pudessem. Desses generais, só dois nos interessam: Ptolomeu (Lagi) e
Seleuco (1). O primeiro assumiu o controle do Egito e estabeleceu sua capital na nova
cidade de Alexandria, que em breve tornou-se uma das maiores cidades do mundo.
O outro assenhorando-se da Babilônia (em 312/11), estendeu seu poder em direção
ao oeste até a Síria e em direção ao leste até o Irã; suas capitais ficava em Selêucida,
sobre o Tigre, e Antioquia, na Síria – esta ultima em breve também iria tornar-se uma
grande metrópole. Ambos, rivais, cobiçavam ardentemente a Palestina e a Fenícia. Mas
Ptolomeu, depois de muitas manobras, cujos detalhes não nos interessam, teve sucesso.
Quando a situação política se estabilizou, depois da batalha de Ipsos (3011), esta área
ficou sob seu complemento domínio (BRIGHT, 1978, p.493).
Filadelfo não foi guerreiro. Doente, de temperamento calmo, apreciava a vida literária.
Organizou uma biblioteca e um museu, os maiores daqueles tempos. Reuniu as mais
raras, as mais preciosas obras do mundo. Intelectuais e artistas de toda partes recorriam
aos seus tesouros escritos. “Alexandria, diz J.C. Rodrigues, tornou-se um cadinho de
fusão entre as ideias hebraicas e gregas”. A Septuaginta apareceu nesse período.
O Espírito do Senhor está sobre mim do qual ungiu por causa de mim a se proclamar
aos pobres, tendo enviado a mim para curar para si aqueles que têm esfregado ao cora-
ção e ter proclamado aos cativos a libertação e também aos cegos a recuperação de vida.
Aqui não queremos fazer uma análise detalhada do texto, mas compará-lo com o
texto hebraico e buscar sua intencionalidade em seu tempo. Em primeiro lugar, as palavras
que se referiu libertação, fori traduzida de maneira diferente. A primeira palavra shelara “
enviar, mandar embora, soltar”, foi traduzida por iasasthai, “curar, melhorar, restaurar”; a
segunda derôr, que significa “libertação, liberdade, refere à libertação de escravos”, foi tradu-
zida por áfesin, “libertação, perdão, cancelamento de uma obrigação” e a terceira peqah-qôah,
que significa “ato de abrir, abertura (de cárcere), libertação, abrir os olhos”, foi traduzida por
anáblepsin “recuperação da vida”.
Percebemos aqui três sentidos distintos, a “cura, cancelamento de uma obrigação
e recuperação de vida” isto, segundo Sellin e Fohrer (2007, p.721), foi uma influência do
Pentateuco, escrito no século III a.C. e dos profetas. Nesse período Roma, já havia dominado
Cartago ou estava preste a dominar, a insegurança territorial era evidente e o povo sofria várias
instabilidades. Compreendemos que a primeira era a pobreza que a Septuaginta trata como
enfermidade, uma enfermidade que precisa de cura; a segunda, a septuaginta resgata a ideia
de cativos, buscando a liberdade dos poderes dominantes, pois os mesmos eram sujeitos ao
controle das estruturas dominantes e, por fim, busca relacionar o “abrir os olhos” com a ce-
gueira que é a ausência de uma vida autônoma. Percebe-se que os tradutores buscam, mesmo
em uma cultura helênica, preservar características da identidade judaica. “Nem os Ptolomeus
nem os Selêucidas interferiram nas atividades culturais e religiosas internas do povo que vivia
na Palestina” (KOESTER, 2005, p.213), porém eles se relacionavam com a cultura helênica,
pois “as cidades foram os principais agentes de helenização”. Isso pode ser percebido quando,
observamos que o nome de Iahweh não é traduzido como nome próprio, talvez para que
o mesmo não seja inserido no panteão grego e dessa forma inferiorizá-lo. “Para começar, a
polêmica profética contra a idolatria formaram em muitos judeus a convicção de que a sua
adoração monoteísta era amplamente superior ao politeísmo e sincretismo que os rodeavam”
(MEEKS, 1992, p. 49). Iahweh passa a ser traduzido por Kurios, que traduzimos como “Se-
nhor”, mas a palavra equivalente a “senhor” no hebraico é Adonai, acreditamos que a preocu-
pação com a tradução buscava também uma luta contra a idolatria, visto que a Transjordânia
não era povoado apenas por judeus.
Uma parte dos habitantes das cidades era constituída por macedônicos e gregos, mas pre-
dominavam semitas helenizados: sírios, fenícios, árabes, e naturalmente também israelitas.
A consequência foi a importação de elementos culturais gregos ou orientais helenizados,
de um novo estilo de vida e de cultos estrangeiros. Os deuses cultuados nessas cidades
eram divindades orientais com nomes gregos (p. ex., Astarte como Afrodite em Ascalon)
ou deuses gregos, como Dionisio em Citópolis, cujas moedas trazem o nome Nisa, berço
mitológico de Dioniso, como nome oficial da cidade (KOESTER, 2005, p.213).
O Egito possuía muitos interesses nessa região, por ser um polo intermediário entre
a Mesopotâmia, porém a “Judeia encontrava-se no meio destes interesses egípcios, como um
enclave santo e era administrada com relativa independência. Ficou como nos dias de Ne-
emias: um relativamente inoportuno Estado sacerdotal. (REICKE, 1996, p.65). Isso talvez
O Espírito do Senhor está sobre mim do qual ungiu por meio de mim a se proclamar aos
pobres, tendo enviado a mim para ter proclamado aos cativos a libertação e também aos
cegos a recuperação de vida a enviar a aquele que tendo sido quebrado pela libertação a
proclamar o ano aceitável do Senhor. (Lucas 4,18-19)
O midraxe, que nasce como ensinamento oral e se tornará tradição, oral, origina-se, por
conseguinte, da necessidade e da determinação de extrair da fixidez da palavra escrita,
lições sempre novas e constante cambiantes, de modo a manter vivo o espírito do texto
escrito, numa aderência estreita aos problemas contingentes e na tentativa de prevenir
problemas futuros (LIMEIRA, 1998, p. 19).
É importante deixar claro que o que Jesus faz é dar um novo olhar para o texto de
Isaías, na realidade ele busca ressaltar o sentido do texto, não que o Midraxe não o fizesse, mas
sua interpretação estava mais voltada para a manutenção da tradição do que para um processo
transformador na comunidade atual. Neste processo, observamos os debates entre Jesus e os
fariseus, “Jesus interpelou os fariseus e estes também o interpelaram. Os textos evangélicos
levaram para o passado a agudez de um conflito com os fariseus inexistente no tempo de Je-
sus, presente quando da redação dos evangelhos” (MIRANDA; MALCA, 2001, p.77). Neste
sentido, precisamos reparar algumas injustiças em relação aos fariseus, pois alguns debates
estabelecidos no Novo Testamento não retratam o contexto imediato (contexto da narrativa,
período histórico narrado), mas o contexto mediato (contexto em que o livro foi escrito).
Lohse (2000, p.188) afirma que a profecia de Jesus sobre Jerusalém deve ser considerada
como histórica (neste caso, uma descrição do ato histórico já acontecido), pois no momento
da escrita elas já haviam se cumprido. Isso significa que os confrontos e as falas de Jesus no
Evangelho de Lucas espelham o passado, mas revela o presente da comunidade.
Para entender o que Jesus estava fazendo, precisamos compreender a estrutura lin-
guística do Novo Testamento. “Há no grego do Novo Testamento, traços hebraicos inques-
tionáveis, resultado da influência do Antigo Testamento hebraico e da Septuaginta” (BIT-
TENCOURT, 1993, p. 50). Bittencout (1993, p. 50) defende que o Antigo Testamento é
uma espécie de Léxico (Léxico - acervo de palavras de um determinado idioma) do Novo Tes-
tamento, pois muitas terminologias só podem ser entendidas através do Antigo Testamento.
Pace (2012), em sua obra Il Carisma, la fede, la chiesa: Introduzine allá sociologia
del cristianesimo, deixa claro que o que Jesus fez não foi montar uma nova religião, pois o
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judaísmo já era plural. Stegemann e Stegemann (2004, p. 177) também retratam esse mesmo
principio do contexto religioso judaico:
Como já sabemos ficou evidente, o pluralismo religioso não era em absoluto simplesmente
idêntico às tendências dos fariseus, essênios e saduceus, que distinguimos com base na
tradição antiga. Pelo contrario, o judaísmo do período helenístico-romano caracteriza-se
por um amplo espectro de grupos, movimentos e correntes muito diversos com forma
social mais ou menos definidos.
Assim os debates estabelecidos por Jesus e os líderes religiosos não eram apenas uma
desconformidade com os líderes religiosos, os debates não eram pessoais, mas favoreciam a
liberdade de expressão e a demonstração de uma nova perspectiva.
Como já havíamos afirmado anteriormente o texto lido por Jesus em Lc 4,18-19,
possui algumas alterações: primeiro ele suprime “para curar para si aqueles que têm esfregado
ao coração” e posteriormente acrescenta “aquele que tendo sido quebrado pela libertação a
proclamar”. É importante lembrar que os contextos de cada texto são muito diferentes. A par-
tir das observações dos originais entendemos que, na Septuaginta, os tradutores se referem e
conclama ao arrependimento, a expressão “esfregar o coração” pode ser traduzido como “ras-
gar o coração” ou “abrir o coração”. A grande preocupação era fazer com que os judeus não se
esquecessem de Deus. Na comunidade lucana, a realidade era completamente diferente, Jesus
se refere aos libertos, ele retrata que os que foram quebrantados pela libertação, deveriam pro-
clamar o “ano aceitável do Senhor”. É importante ressaltar que a ideia de libertação foi estabe-
lecida em uma relação interna, gerando proporções externa; aqui entendemos que o ano acei-
tável do Senhor corresponde a ideia de reino, os que compreenderam a mensagem deveriam
difundir uma nova ideia de comunidade, distinta da pax romana. Observa-se que aqui há uma
distinção na ideia de “messias” que no Trito Isaias era o proclamador do Dia do Senhor, que
seria a restauração da nação; na Septuaginta o proclamador continua sendo Isaias, na ideia de
que o Dia do Senhor seria a restauração da identidade do povo. Aqui Jesus se coloca como
messias, porém os proclamadores são os “quebrantados de coração”, que deveriam anunciar o
ano aceitável do Senhor, quando livraria os indivíduos da opressão do império. Jesus retira os
convertidos de uma ação passiva e os coloca como agentes de transformação.
A visão messiânica proposta por Jesus estabelecia uma relação dialética com as de-
mais concepções messiânica. As ideias messiânicas se estabeleciam em várias vertentes, em
vários provérbios e em várias tradições judaicas. Lima (1998, p. 13) nos traz quatro provér-
bios judaico, Jesus buscam dialogar com a ideia messiânica exposta por estes provérbios: a)
“Messias não veio, não está vindo e não virá; é preciso ir ao seu encontro”, b) “Messias deveria
vir logo após ter chegado”, c) “Messias chegará quando aquele que deve precedê-lo garantir
uma boa acolhida no seio do gênero humano, proporcionando a oportunidade de chegar, de
se revelar e não obstante isso, de sobreviver em paz” e d) “a chegada do messias não coincidirá
com um fim apocalíptico de mundo e nem com uma milagrosa transformação angelical de
todos os seres vivos”. Podemos perceber aqui que os princípios messiânicos se fundamentam
em uma percepção do messias, aqui Jesus não tem objetivo de contraria a tradição, mais de
fazê-la percebida na comunidade.
Percebe-se que Jesus não nega totalmente os provérbios estabelecidos pela tradição,
mas ele coloca a visão messiânica como um grande projeto libertador. Jesus ressalta, aqui,
Para Donini (1988, p. 164) a condição da população era simplesmente para nascer,
trabalhar, reproduzir-se e morrer, subordinados as necessidades estatais. Quando observamos
a mensagem de Jesus e as estruturas impostas pelo império, percebemos que a vida total das
pessoas era afetada de várias formas, tanto na tentativa de inferiorizar bem como humilhar,
segundo Hosley (2004, p.36) havia varias praticas punitivas do império, entre elas a arre-
cadação dos tributos e a exibição dos estandartes do exercito romano aos povos derrotados,
para ele essas praticas também devem ser vistas como formas de humilhação. Percebemos que
Jesus busca uma liberdade de corpo e mente, isso pode ser entendida como uma enfermidade,
Meeks (1997, p. 131), distingue essa enfermidade em duas modalidades:
Os problemas com o corpo eram de duas modalidades. Por um lado, ele estava sujeito a todo
tipo de contingências. Pode ficar para sempre doente ou ferido; necessita constantemente de
ser suprido de alimento, bebida e sono; pode ser torturado, aprisionado ou posto à morte. Por
outro lado, ele parece ter, como alguém disse, uma consciência de si mesmo: manando para fora
dele surgem os impulsos e paixões que podem dominar a razão e anular o julgamento prudente.
Percebemos que Jesus busca estabelecer uma cura espiritual, que se distingue de
uma “paz interior”, pelo contrário Jesus a consciência de sua situação proporciona uma mo-
vimentação para a comunidade, para os quebrantados de coração, essa comunidade estabe-
leceria um propagação da mudança de mente do oprimido, estabelecendo uma reação conta
a ideia de paz estabelecida pelas estruturas dominantes. A representação messiânica, não se
estabelece em um campo metafísico, mais em um processo concreto nas relações sociais.
Abstract: in Luke 4,18 -19, we can see that Jesus reads the book of Isaiah in chapter 61, however
we can see that the text will read an addition and deletion of the original text. As the New Tes-
tament is written in Greek the description of reading is copied from the Septuagint. This article
seeks to answer why this narrative changes the original text and its implications in power relations.
We will seek to identify the intentions of the texts in all circumstances and they: a) Isaiah text, b)
Septuagint and c) Luke text. From this perspective we seek to converge all narratives as interpreted
by Jesus in confrontation with the power relationship of his time.
Notas
1 Comunidade Lucana - Teoria que defende que o Evangelho de Lucas não foi escrito por um autor,
mais por uma comunidade do cristianismo originário. Ver mais em: Ferreira (2012).
2 “O termo ‘Septuaginta’ (LXX) designa a tradução grega da Bíblia Hebraica.” (KOESTER, 2005,
p.250)
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