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Instituto de Matemática - UFRJ

Cálculo 1 - Semipresencial
Aula 4 – Cálculo de limites e continuidade

Este material foi produzido no âmbito do projeto “Elaboração de material para disciplinas na
modalidade semi-presencial”, do Departamento de Matemática do IM/UFRJ.
Equipe:
Coordenação: Paulo Amorim

Participantes: Bruno Telch, Rafael Lobosco, Leonardo Damasceno

Nesta aula vamos começar por ver como calcular limites usando propriedades facilitadoras.
A ideia é deduzir como calcular limites de funções mais complicadas a partir do limite
de funções mais simples. Comecemos com as seguintes propriedades, relativas às funções
mais simples possı́veis:
Se C é uma constante e a P R, então

a) lim C “ C,
xÑa

b) lim x “ a.
xÑa

As propriedades acima tornam-se fáceis de entender quando pensamos nas definições


informais de limite, dadas na aula anterior. De fato, dizer que lim C “ C é dizer que
xÑa
quando x se aproxima de a, os valores de C se aproximam... de C. Mas isso é verdade,
pois o valor de C é sempre C!
Já na segunda propriedade, estamos afirmando que, quando x se aproxima de a, então os
valores de x se aproximam de a. Esperamos que o leitor possa convencer-se facilmente
que essa afirmação é verdadeira.

Leis do limite

Sejam f pxq e gpxq funções, e C uma constante. Então,


` ˘
a) lim f pxq ˘ gpxq “ lim f pxq ˘ lim gpxq, (Limite da soma)
xÑa xÑa xÑa

b) lim pCf pxqq “ C lim f pxq,


xÑa xÑa
` ˘
c) lim f pxqgpxq “ lim f pxq ¨ lim gpxq, (Limite do produto)
xÑa xÑa xÑa

f pxq lim f pxq


d) lim “ xÑa , desde que lim gpxq ‰ 0. (Limite do quociente)
xÑa gpxq lim gpxq xÑa
xÑa

Exemplo: Calcule
lim p2x2 ´ 3x ` 4q.
xÑ5

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Temos
lim p2x2 ´ 3x ` 4q “ lim 2x2 ´ lim 3x ` lim 4 ø paq
xÑ5 xÑ5 xÑ5 xÑ5
“ 2 lim x2 ´ 3 lim x ` 4 ø pbq
xÑ5 xÑ5
“ 2 lim x ¨ lim x ´ 3 ¨ 5 ` 4 ø pcq
xÑ5 xÑ5
“ 2 ¨ 5 ¨ 5 ´ 15 ` 4 “ 39.

Exemplo: Calcule
x3 ` 2x2 ´ 1
lim .
xÑ´2 5 ´ 3x
Temos

x3 ` 2x2 ´ 1 lim px3 ` 2x2 ´ 1q


xÑ´2
lim “ ø (d), pois lim 5 ´ 3x ‰ 0
xÑ´2 5 ´ 3x lim p5 ´ 3xq xÑ´2
xÑ´2
´1
“ . ø de modo semelhante ao exemplo anterior
11

Repare que em ambos os exemplos anteriores, terı́amos obtido o mesmo resultado subs-
tituindo simplesmente o valor onde estamos tentando calcular o limite, na expressão da
função. Por exemplo, no primeiro caso, se f pxq “ x3 ` 2x2 ´ 1, então verificamos que
lim f pxq “ f p5q. Funções com esta propriedade chamam-se funções contı́nuas:
xÑ5

Funções contı́nuas

Dizemos que uma função f pxq é contı́nua em a se

lim f pxq “ f paq.


xÑa

Note que esta definição requer implicitamente três coisas:

a) f está definida em a (ou seja, a pertence ao domı́nio de f )


b) lim f pxq existe, e
xÑa

c) lim f pxq é igual a f paq.


xÑa

Caso falhe alguma destas três condições, f pxq não será contı́nua em a.
Podemos também definir a noção de continuidade à esquerda e à direita, usando limites
laterais. Assim, dizemos que f pxq é contı́nua à esquerda em a quando

lim f pxq “ f paq,


xÑa´

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e que f pxq é contı́nua à direita em a se

lim f pxq “ f paq.


xÑa`

Portanto, uma função f é contı́nua em a se e somente se for contı́nua à esquerda e à


direita.
Seja I um intervalo de R, aberto ou fechado. Dizemos que f é contı́nua no intervalo
I se ela for contı́nua em todos os pontos de I. No caso de algum extremo do intervalo
ser fechado, então f deverá ser contı́nua à direita (no caso de um extremo esquerdo do
intervalo) ou à esquerda (no caso de um extremo direito).
As funções contı́nuas possuem muitas propriedades simpáticas, entre elas o fato de que
o cálculo do limite num ponto de uma função contı́nua se resumir à substituição desse
ponto na fórmula da função. Além disso, como veremos mais à frente, funções contı́nuas
são úteis pois certos teoremas importantes são válidos para elas.
Uma maneira útil de pensar nas funções contı́nuas é dizer que elas são aquelas em que se
pode desenhar o gráfico sem levantar o lápis do papel.
Exemplo:
Considere a função f pxq ilustrada no gráfico:

0
-0.5 0 0.5 1 1.5 2 2.5
-1

-2

Vemos que ela é descontı́nua em x “ 1. De fato, ela não tem limite lim f pxq, pois os seus
xÑ1
limites laterais nesse ponto são diferentes. Então, não tendo limite, ela não poderá ser
contı́nua em x “ 1. Observe, mesmo assim, que em qualquer ponto x ‰ 1 ela é contı́nua.
Além disso, ela é contı́nua à direita em x “ 1, pois

lim f pxq “ 3 “ f p3q,


xÑ1`

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porém não é contı́nua à esquerda em x “ 1, pois

lim f pxq “ 2 ‰ f p3q.


xÑ1´

x2 ´ 1
Exemplo: Considere f pxq “ . Comecemos por observar que o domı́nio de f é
x´1
Rzt1u. Por essa razão, f pxq não é contı́nua em x “ 1. Mas, neste caso, isso não impede
que calculemos o seu limite em x “ 1:

x2 ´ 1 px ´ 1qpx ` 1q
lim “ lim “ lim px ` 1q “ 2.
xÑ1 x ´ 1 xÑ1 x´1 xÑ1

(Note que neste exemplo, não poderı́amos usar a regra pdq das leis do limite, pois o limite
do denominador quando x Ñ 1 é zero. Ao tentarmos substituir x por 1 na expressão,
obterı́amos 00 , que não está definido). Pelo cálculo acima, vemos que f pxq na verdade é a
função que para x ‰ 1 vale x ` 1 (escrita de uma forma mais complicada), mas não está
definida em x “ 1.
Enunciamos agora, sem justificação, dois fatos importantes sobre funções contı́nuas.
As seguintes funções são contı́nuas em seus domı́nios: Polinômios, funções raci-
onais (isto é, quociente de dois polinômios), raı́zes, potências, funções trigonométricas,
exponenciais e logaritmos.
A composição de duas funções contı́nuas é contı́nua. Isto significa que, se gpxq
é contı́nua em a e f pxq é contı́nua no ponto gpaq, então pf ˝ gqpxq “ f pgpxqq é contı́nua
em x “ a. Em particular, atendendo à definição de continuidade, podemos afirmar que o
limite pode “trocar” com uma função contı́nua, ou seja,
´ ¯
lim f pgpxqq “ f lim gpxq .
xÑa xÑa

?
Exemplo: Considere f pxq “ x2 ` 1. Então,
? b ?
lim x2 ` 1 “ lim px2 ` 1q “ 5.
xÑ2 xÑ2
?
Esta é a maneira “correta” de calcular este limite, usando o fato que a função x é
contı́nua, e o fato que já sabemos calcular o limite de x2 ` 1. O que acontece na verdade
é que o limite “entra” dentro da raiz, como indicado — mas com a prática, omitimos esse
passo.
Exercı́cio: Considere a função
$
& 2 ´ x,
’ x ă ´1,
f pxq “ ax ` b, ´ 1 ď x ă 1,

% px ` 1q2 , x ě 1,

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Determine a e b de modo que f pxq seja contı́nua em todos os pontos.


Primeiramente, vemos que se x ‰ ˘1, então f é contı́nua, por ser polinomial. Então,
temos de garantir a continuidade em x “ ˘1. Temos

lim f pxq “ lim ´ p2 ´ xq “ 3,


xÑ´1´ xÑ´1

e
lim f pxq “ lim ` pax ` bq “ ´a ` b.
xÑ´1` xÑ´1

Então, necessariamente ´a ` b “ 3. Por outro lado,

lim f pxq “ lim` px ` 1q2 “ 4,


xÑ1` xÑ1

e
lim f pxq “ lim´ pax ` bq “ a ` b.
xÑ1´ xÑ1

Logo, devemos também ter a ` b “ 4. Assim, obtemos


# # #
b´a“3 b“3`a b “ 7{2
ðñ ðñ
a`b“4 2a ` 3 “ 4 a “ 1{2.

Assim, f pxq tem limite em x “ ˘1, pois os limites laterais são iguais. Além disso, o valor
do limite é igual ao valor da função em x “ ˘1. Logo, f é contı́nua em todos os pontos.
O gráfico de f fica:

7
6
2´x 5
4
3 px ` 1q2
2 x{2 ` 7{2
1
0
-2 -1.5 -1 -0.5 -1 0 0.5 1 1.5 2 2.5
-2

Sabendo que muitas das funções que aparecem usualmente são contı́nuas nos seus domı́-
nios, exploremos agora algumas técnicas de cálculo de limites.
Exemplo: Calcule
p3 ` xq2 ´ 9
lim .
xÑ0 x

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Temos
p3 ` xq2 ´ 9 9 ` 6x ` x2 ´ 9
lim “ lim
xÑ0 x xÑ0 x
2
6x ` x
“ lim “ lim p6 ` xq “ 6.
xÑ0 x xÑ0

Exemplo: Calcule
3x ´ 1
lim` .
xÑ1 x´1
Aqui, vemos que ao substituir x por 1, obterı́amos 02 , o que sugere que o limite será
infinito. Apenas precisamos saber se será `8 ou ´8: Quando x se aproxima de 1` (ou
seja, de 1 por valores maiores que 1), x ´ 1 é pequeno e positivo, mas 3x ´ 1 aproxima-se
de 2. Logo podemos afirmar que
3x ´ 1 3
lim` “ ` “ `8.
xÑ1 x´1 0
3x´1
Assim, vemos em particular que a função x´1
tem uma assı́ntota vertical em x “ 1.
Exemplo: Calcule ?
x2 ` 9 ´ 3
lim .
xÑ0 x2
0
Aqui, substituindo x por zero também ? não resulta, pois obtemos 0 . Podemos no entanto
multiplicar e dividir pelo conjugado, x2 ` 9 ` 3:
? ? ?
x2 ` 9 ´ 3 x2 ` 9 ´ 3 x2 ` 9 ` 3
lim “ lim ¨ ?
xÑ0 x2 xÑ0 x2 x2 ` 9 ` 3
x2 ` 9 ´ 9
“ lim 2 ? 2
xÑ0 x p x ` 9 ` 3q

xz2
“ lim 2 ? 2
xÑ0 xz p x ` 9 ` 3q
1
“ lim ? 2
xÑ0 x `9`3
1 ?
“b “ 1{6 ø x é uma função contı́nua.
lim px2 ` 9q ` 3
xÑ0

Exemplo: Mostre que lim |x| “ 0.


xÑ0

Como a função |x| está definida por partes, temos de calcular os limites laterais em x “ 0.
Temos
lim` |x| “ lim` x “ 0,
xÑ0 xÑ0
e
lim |x| “ lim´ ´x “ 0.
xÑ0´ xÑ0

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Logo, como os limites laterais em x “ 0 existem e são iguais, concluı́mos que lim |x| “ 0.
xÑ0

|x|
Exemplo: Mostre que lim não existe. Temos que, por um lado,
xÑ0 x

|x| x
lim` “ lim` lim` 1 “ 1,
xÑ0 x xÑ0 x xÑ0

e por outro,
|x| ´x
lim´ “ lim´ lim ´1 “ ´1,
xÑ0 x xÑ0 x xÑ0´
|x|
Assim, o limite lim não existe, pois os limites laterais, apesar de existirem, são distintos.
xÑ0 x
|x|
Vemos também que a função x
pode ser escrita como
#
|x| ´1, x ă 0,

x 1, x ą 0,

não estando definida para x “ 0:

1
|x|
0.5
x
0
-1 -0.5 0 0.5 1
-0.5
-1

Teorema do confronto ou do sanduı́che.

O teorema do confronto afirma que, se f, g e h são funções tais que

f pxq ď gpxq ď hpxq

e se lim f pxq “ lim hpxq “ L, então tem-se que lim gpxq “ L também.
xÑa xÑa xÑa

Assim, consigo encontrar o limite de gpxq desde que esta esteja “ensanduichada” entre
f pxq e hpxq, e estas duas tiverem o mesmo limite.
A conclusão do teorema do confronto continua válida mesmo que a ou L sejam infinitos.
` ˘
Exemplo: Ache o limite lim x2 sen x1 .
xÑ0

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Em primeiro lugar, observe-se que não podemos afirmar que


`1˘ `1˘
lim x2 sen “ lim x2 ¨ lim sen , Ð Errado!
xÑ0 x xÑ0 xÑ0 x
pois o segundo limite acima não existe. No entanto, temos que
`1˘
´1 ď sen ď 1,
x
e portanto,
`1˘
´x2 ď x2 sen ď x2 .
x
Assim, pelo teorema do confronto, e como lim ´x2 “ lim x2 “ 0, concluı́mos que
xÑ0 xÑ0
`1˘
lim x2 sen “ 0.
xÑ0 x
A função está ilustrada abaixo:

´1¯
2
f pxq “ x sen
x

x2 ´ 1
Exercı́cio: Determine as assı́ntotas horizontais ao gráfico de f pxq “ .
x2 ` 1
Como vimos na aula anterior, para achar as assı́ntotas horizontais, precisamos calcular os
limites em ˘8 da função. Mas, “substituindo x por `8” (o que nem sequer faz sentido,
pois `8 não é um número) obterı́amos 88
, que é uma indeterminação. Isso apenas quer
dizer que ainda não sabemos resolver o limite; temos de achar um outro artifı́cio para
transformar a fração numa outra, equivalente, que permita o cálculo do limite.
Neste caso, isso é feito pondo x2 em evidência no numerador e no numerador:
1 1
x2 ´ 1 xz2 p1 ´ x2
q 1´ x2
lim “ lim 1 “ lim 1
xÑ`8 x2 ` 1 xÑ`8 xz2 p1 ` q xÑ`8 1 `
x2 x2
1
1 ´ lim 2
1´0
xÑ`8 x
“ “ “ 1.
1` lim 12 1`0
xÑ`8 x

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Do mesmo modo, obtemos que o limite quando x Ñ ´8 é 1 também. Assim, a reta


x2 ´ 1
y “ 1 é assı́ntota horizontal da função f pxq “ 2 .
x `1
Exercı́cio: Calcule
3x2 ´ x ´ 2
lim .
xÑ`8 5x2 ` 4x ` 1

Colocando x2 em evidência no numerador e denominador,


1 2
3x2 ´ x ´ 2 3´ x
´ x2 3´0 3
lim “ lim 4 1 “ “ ,
xÑ`8 5x2 ` 4x ` 1 xÑ`8 5 ` ` 5`0 5
x x2

?
2x2 ` 1
Exercı́cio: Determine as assı́ntotas horizontais de f pxq “ .
3x ´ 5
Temos
? a
2x2 ` 1 x2 p2 ` 1{x2 q
lim “ lim
xÑ`8 3x ´ 5 xÑ`8 xp3 ´ 5{xq
a
|x| 2 ` 1{x2 ?
“ lim ø lembre que x2 “ |x|.
xÑ`8 xp3 ´ 5{xq
a
x 2 ` 1{x2
“ lim ø x ą 0, logo |x| “ x.
xÑ`8 xp3 ´ 5{xq
b
2 ` lim x12
xÑ`8 ?
“ ø x é uma função contı́nua.
3 ´ lim x5
xÑ`8
? ?
2`0 2
“ “ .
3´0 3
?
Podemos desde já dizer que f pxq tem uma assı́ntota horizontal em y “ 2{3. Vejamos o
limite em ´8. Temos
? a
2x2 ` 1 x2 p2 ` 1{x2 q
lim “ lim
xÑ´8 3x ´ 5 xÑ´8 xp3 ´ 5{xq
a
|x| 2 ` 1{x2 ?
“ lim ø lembre que x2 “ |x|.
xÑ´8 xp3 ´ 5{xq
a
´x 2 ` 1{x2
“ lim ø x ă 0, logo |x| “ ´x.
xÑ´8 xp3 ´ 5{xq
b
´ 2 ` lim x12
xÑ´8 ?
“ 5 ø x é uma função contı́nua.
3 ´ lim x
xÑ´8
? ?
´ 2`0 ´ 2
“ “ .
3´0 3

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?
Assim, f pxq tem duas assı́ntotas horizontais, y “ ˘ 2{3. A função está representada
abaixo:

1 ?
2x2 `1
f pxq “ 3x´5
0.5

0
-20 -10 0 10 20
-0.5

-1

Exercı́cio: Determine lim f pxq com


xÑ`8

2x2 `1
f pxq “ e x2 ´x`3 .

Como a exponencial ex é uma função contı́nua, temos que


2
2x2 `1 lim 2x `1
xÑ`8 x2 ´x`3
lim e x2 ´x`3 “e .
xÑ`8

Então, calculamos o limite no interior:

2x2 ` 1 2 ` 1{x2
lim “ lim “ 2.
xÑ`8 x2 ´ x ` 3 xÑ`8 1 ´ 1{x ` 3{x2

Assim,
2
lim 2x `1
lim f pxq “ e xÑ`8 x2 ´x`3
“ e2 .
xÑ`8

Exercı́cio: Determine lim e´x´cos x .


xÑ`8

Como a exponencial ex é uma função contı́nua, temos que


´ lim px`cos xq
lim e´x´cos x “ e xÑ`8
.
xÑ`8

Porém, para calcular lim px ` cos xq não podemos fazer


xÑ`8

lim px ` cos xq “ lim x ` lim cos x, Ð Errado!


xÑ`8 xÑ`8 xÑ`8

pois lim cos x não existe. Então, usamos o teorema do confronto. Temos
xÑ`8

´1 ď cos x ď 1 ðñ x ´ 1 ď x ` cos x ď x ` 1.

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Como
lim px ´ 1q “ lim px ` 1q “ `8,
xÑ`8 xÑ`8

concluı́mos que lim px ` cos xq “ `8. Logo,


xÑ`8

lim f pxq “ e´8 “ 0.


xÑ`8

´? ¯
Exercı́cio: Calcule lim x2 ` 1 ´ x . Aqui a técnica é multiplicar e dividir pelo
xÑ`8
conjugado:
`? ˘`? ˘
´?
2
¯ x2 ` 1 ´ x x2 ` 1 ` x
lim x ` 1 ´ x “ lim ?
xÑ`8 xÑ`8 x2 ` 1 ` x
x ` 1 ´ x2
2
“ lim ? 2
xÑ`8 x `1`x
1 1
“ lim ? 2 “ “ 0. Ð p‹q
xÑ`8 x `1`x `8
1 ?
p‹q: usamos a notação para expressar o fato seguinte: como x2 ` 1 ` x tende para
`8
1
`8 quando x Ñ `8, então o seu inverso, ?x2 `1`x , tende para zero.

Se quisermos, em vez de p‹q, podemos terminar o exercı́cio de duas maneiras alternativas:


1 1 1
lim ? 2 “ lim ¨a
xÑ`8 x ` 1 ` x xÑ`8 x 1 ` 1{x2 ` 1
1 1 1
“ lim ¨ lim a “ 0 ¨ “ 0,
xÑ`8 x xÑ`8 1 ` 1{x2 ` 1 2

ou ainda, observando que


1 1
0ď ? 2 ď ,
x `1`x x
e portanto, pelo teorema do confronto, lim ? 1 “ 0.
xÑ`8 x2 `1`x

Teorema do Valor Intermediário

O Teorema do Valor Intermediário (TVI) é mais um resultado útil que é válido para
funções contı́nuas. Ele é o equivalente matemático de dizer que, se eu for subir na pedra
da Gávea (que tem 842 metros de altura) partindo da praia, então necessariamente em
algum momento eu vou estar a, por exemplo, 500 metros de altura. Dito de outra forma,
dada qualquer altitude de N metros entre 0 e 842 metros, então existiu pelo menos um
momento em que a minha altitude foi N .

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Teorema 1 (Teorema do Valor Intermediário). Suponha que f é uma função contı́nua em


um intervalo fechado ra, bs, e seja N um número qualquer entre f paq e f pbq. Então, existe
algum ponto c em pa, bq tal que f pcq “ N .

Ilustração:

f pxq
f pbq

f paq

a c b

Exemplo: Mostre que a equação


4x3 ´ 6x2 ` 3x ´ 2 “ 0
tem pelo menos uma raı́z entre 1 e 2.
A função f pxq “ 4x3 ´6x2 `3x´2 é contı́nua em todo o R, por ser um polinômio. Portanto,
é contı́nua no intervalo fechado r1, 2s. Temos que f p1q “ ´1 ă 0 e f p2q “ 12 ą 0. Assim,
pelo TVI, dado qualquer número N entre ´1 e 12, temos a garantia que existirá c entre
1 e 2 tal que f pcq “ N . Em particular, como zero está entre ´1 e 12, então existe algum
c entre 1 e 2 tal que f pcq “ 0.
Exemplo: Mostre que existe algum x onde cos x “ x.
Seja f pxq “ cos x ´ x. Então, achar uma solução de cos x “ x é equivalente a achar x tal
que f pxq “ 0. f é uma função contı́nua em R, por ser soma de duas funções contı́nuas.
Em particular, é contı́nua em qualquer intervalo fechado. Então, apenas precisamos de
encontrar um valor a onde f paq e f pbq tenham sinais contrários. Podemos tomar a “ 0
e b “ 10 (por exemplo). De fato, f p0q “ 1 ą 0, e f p10q “ cos 10 ´ 10. Temos que
´1 ď cos 10 ď 1, e portanto ´11 ď cos 10 ´ 10 ď ´9. Ou seja, f p10q ă 0. Aplicando o
TVI, concluı́mos que existe algum c entre 1 e 10 onde f pcq “ 0, como querı́amos. Observe
que poderı́amos ter escolhido outros a e b.
É muito instrutivo pensar sobre o que acontece quando alguma das hipóteses do TVI não
é verificada. Nesses casos, a conclusão pode não ser válida. Por exemplo, tome a função
definida em r0, 1s #
1, 0 ă x ď 1,
f pxq “
0, x “ 0.

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f pxq é contı́nua apenas em p0, 1s, mas não em r0, 1s. Portanto não tenho garantia que
o resultado do TVI seja verdadeiro, pois f não respeita a hipótese de ser contı́nua num
intervalo fechado. E de fato, dado qualquer valor N entre f p0q “ 0 e f p1q “ 1 (por
exemplo, 1{2), não existe nenum ponto onde f tome esse valor.

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