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Cálculo 1 - Semipresencial
Aula 4 – Cálculo de limites e continuidade
Este material foi produzido no âmbito do projeto “Elaboração de material para disciplinas na
modalidade semi-presencial”, do Departamento de Matemática do IM/UFRJ.
Equipe:
Coordenação: Paulo Amorim
Nesta aula vamos começar por ver como calcular limites usando propriedades facilitadoras.
A ideia é deduzir como calcular limites de funções mais complicadas a partir do limite
de funções mais simples. Comecemos com as seguintes propriedades, relativas às funções
mais simples possı́veis:
Se C é uma constante e a P R, então
a) lim C “ C,
xÑa
b) lim x “ a.
xÑa
Leis do limite
Exemplo: Calcule
lim p2x2 ´ 3x ` 4q.
xÑ5
Temos
lim p2x2 ´ 3x ` 4q “ lim 2x2 ´ lim 3x ` lim 4 ø paq
xÑ5 xÑ5 xÑ5 xÑ5
“ 2 lim x2 ´ 3 lim x ` 4 ø pbq
xÑ5 xÑ5
“ 2 lim x ¨ lim x ´ 3 ¨ 5 ` 4 ø pcq
xÑ5 xÑ5
“ 2 ¨ 5 ¨ 5 ´ 15 ` 4 “ 39.
Exemplo: Calcule
x3 ` 2x2 ´ 1
lim .
xÑ´2 5 ´ 3x
Temos
Repare que em ambos os exemplos anteriores, terı́amos obtido o mesmo resultado subs-
tituindo simplesmente o valor onde estamos tentando calcular o limite, na expressão da
função. Por exemplo, no primeiro caso, se f pxq “ x3 ` 2x2 ´ 1, então verificamos que
lim f pxq “ f p5q. Funções com esta propriedade chamam-se funções contı́nuas:
xÑ5
Funções contı́nuas
Caso falhe alguma destas três condições, f pxq não será contı́nua em a.
Podemos também definir a noção de continuidade à esquerda e à direita, usando limites
laterais. Assim, dizemos que f pxq é contı́nua à esquerda em a quando
0
-0.5 0 0.5 1 1.5 2 2.5
-1
-2
Vemos que ela é descontı́nua em x “ 1. De fato, ela não tem limite lim f pxq, pois os seus
xÑ1
limites laterais nesse ponto são diferentes. Então, não tendo limite, ela não poderá ser
contı́nua em x “ 1. Observe, mesmo assim, que em qualquer ponto x ‰ 1 ela é contı́nua.
Além disso, ela é contı́nua à direita em x “ 1, pois
x2 ´ 1
Exemplo: Considere f pxq “ . Comecemos por observar que o domı́nio de f é
x´1
Rzt1u. Por essa razão, f pxq não é contı́nua em x “ 1. Mas, neste caso, isso não impede
que calculemos o seu limite em x “ 1:
x2 ´ 1 px ´ 1qpx ` 1q
lim “ lim “ lim px ` 1q “ 2.
xÑ1 x ´ 1 xÑ1 x´1 xÑ1
(Note que neste exemplo, não poderı́amos usar a regra pdq das leis do limite, pois o limite
do denominador quando x Ñ 1 é zero. Ao tentarmos substituir x por 1 na expressão,
obterı́amos 00 , que não está definido). Pelo cálculo acima, vemos que f pxq na verdade é a
função que para x ‰ 1 vale x ` 1 (escrita de uma forma mais complicada), mas não está
definida em x “ 1.
Enunciamos agora, sem justificação, dois fatos importantes sobre funções contı́nuas.
As seguintes funções são contı́nuas em seus domı́nios: Polinômios, funções raci-
onais (isto é, quociente de dois polinômios), raı́zes, potências, funções trigonométricas,
exponenciais e logaritmos.
A composição de duas funções contı́nuas é contı́nua. Isto significa que, se gpxq
é contı́nua em a e f pxq é contı́nua no ponto gpaq, então pf ˝ gqpxq “ f pgpxqq é contı́nua
em x “ a. Em particular, atendendo à definição de continuidade, podemos afirmar que o
limite pode “trocar” com uma função contı́nua, ou seja,
´ ¯
lim f pgpxqq “ f lim gpxq .
xÑa xÑa
?
Exemplo: Considere f pxq “ x2 ` 1. Então,
? b ?
lim x2 ` 1 “ lim px2 ` 1q “ 5.
xÑ2 xÑ2
?
Esta é a maneira “correta” de calcular este limite, usando o fato que a função x é
contı́nua, e o fato que já sabemos calcular o limite de x2 ` 1. O que acontece na verdade
é que o limite “entra” dentro da raiz, como indicado — mas com a prática, omitimos esse
passo.
Exercı́cio: Considere a função
$
& 2 ´ x,
’ x ă ´1,
f pxq “ ax ` b, ´ 1 ď x ă 1,
’
% px ` 1q2 , x ě 1,
e
lim f pxq “ lim ` pax ` bq “ ´a ` b.
xÑ´1` xÑ´1
e
lim f pxq “ lim´ pax ` bq “ a ` b.
xÑ1´ xÑ1
Assim, f pxq tem limite em x “ ˘1, pois os limites laterais são iguais. Além disso, o valor
do limite é igual ao valor da função em x “ ˘1. Logo, f é contı́nua em todos os pontos.
O gráfico de f fica:
7
6
2´x 5
4
3 px ` 1q2
2 x{2 ` 7{2
1
0
-2 -1.5 -1 -0.5 -1 0 0.5 1 1.5 2 2.5
-2
Sabendo que muitas das funções que aparecem usualmente são contı́nuas nos seus domı́-
nios, exploremos agora algumas técnicas de cálculo de limites.
Exemplo: Calcule
p3 ` xq2 ´ 9
lim .
xÑ0 x
Temos
p3 ` xq2 ´ 9 9 ` 6x ` x2 ´ 9
lim “ lim
xÑ0 x xÑ0 x
2
6x ` x
“ lim “ lim p6 ` xq “ 6.
xÑ0 x xÑ0
Exemplo: Calcule
3x ´ 1
lim` .
xÑ1 x´1
Aqui, vemos que ao substituir x por 1, obterı́amos 02 , o que sugere que o limite será
infinito. Apenas precisamos saber se será `8 ou ´8: Quando x se aproxima de 1` (ou
seja, de 1 por valores maiores que 1), x ´ 1 é pequeno e positivo, mas 3x ´ 1 aproxima-se
de 2. Logo podemos afirmar que
3x ´ 1 3
lim` “ ` “ `8.
xÑ1 x´1 0
3x´1
Assim, vemos em particular que a função x´1
tem uma assı́ntota vertical em x “ 1.
Exemplo: Calcule ?
x2 ` 9 ´ 3
lim .
xÑ0 x2
0
Aqui, substituindo x por zero também ? não resulta, pois obtemos 0 . Podemos no entanto
multiplicar e dividir pelo conjugado, x2 ` 9 ` 3:
? ? ?
x2 ` 9 ´ 3 x2 ` 9 ´ 3 x2 ` 9 ` 3
lim “ lim ¨ ?
xÑ0 x2 xÑ0 x2 x2 ` 9 ` 3
x2 ` 9 ´ 9
“ lim 2 ? 2
xÑ0 x p x ` 9 ` 3q
xz2
“ lim 2 ? 2
xÑ0 xz p x ` 9 ` 3q
1
“ lim ? 2
xÑ0 x `9`3
1 ?
“b “ 1{6 ø x é uma função contı́nua.
lim px2 ` 9q ` 3
xÑ0
Como a função |x| está definida por partes, temos de calcular os limites laterais em x “ 0.
Temos
lim` |x| “ lim` x “ 0,
xÑ0 xÑ0
e
lim |x| “ lim´ ´x “ 0.
xÑ0´ xÑ0
Logo, como os limites laterais em x “ 0 existem e são iguais, concluı́mos que lim |x| “ 0.
xÑ0
|x|
Exemplo: Mostre que lim não existe. Temos que, por um lado,
xÑ0 x
|x| x
lim` “ lim` lim` 1 “ 1,
xÑ0 x xÑ0 x xÑ0
e por outro,
|x| ´x
lim´ “ lim´ lim ´1 “ ´1,
xÑ0 x xÑ0 x xÑ0´
|x|
Assim, o limite lim não existe, pois os limites laterais, apesar de existirem, são distintos.
xÑ0 x
|x|
Vemos também que a função x
pode ser escrita como
#
|x| ´1, x ă 0,
“
x 1, x ą 0,
1
|x|
0.5
x
0
-1 -0.5 0 0.5 1
-0.5
-1
e se lim f pxq “ lim hpxq “ L, então tem-se que lim gpxq “ L também.
xÑa xÑa xÑa
Assim, consigo encontrar o limite de gpxq desde que esta esteja “ensanduichada” entre
f pxq e hpxq, e estas duas tiverem o mesmo limite.
A conclusão do teorema do confronto continua válida mesmo que a ou L sejam infinitos.
` ˘
Exemplo: Ache o limite lim x2 sen x1 .
xÑ0
´1¯
2
f pxq “ x sen
x
x2 ´ 1
Exercı́cio: Determine as assı́ntotas horizontais ao gráfico de f pxq “ .
x2 ` 1
Como vimos na aula anterior, para achar as assı́ntotas horizontais, precisamos calcular os
limites em ˘8 da função. Mas, “substituindo x por `8” (o que nem sequer faz sentido,
pois `8 não é um número) obterı́amos 88
, que é uma indeterminação. Isso apenas quer
dizer que ainda não sabemos resolver o limite; temos de achar um outro artifı́cio para
transformar a fração numa outra, equivalente, que permita o cálculo do limite.
Neste caso, isso é feito pondo x2 em evidência no numerador e no numerador:
1 1
x2 ´ 1 xz2 p1 ´ x2
q 1´ x2
lim “ lim 1 “ lim 1
xÑ`8 x2 ` 1 xÑ`8 xz2 p1 ` q xÑ`8 1 `
x2 x2
1
1 ´ lim 2
1´0
xÑ`8 x
“ “ “ 1.
1` lim 12 1`0
xÑ`8 x
?
2x2 ` 1
Exercı́cio: Determine as assı́ntotas horizontais de f pxq “ .
3x ´ 5
Temos
? a
2x2 ` 1 x2 p2 ` 1{x2 q
lim “ lim
xÑ`8 3x ´ 5 xÑ`8 xp3 ´ 5{xq
a
|x| 2 ` 1{x2 ?
“ lim ø lembre que x2 “ |x|.
xÑ`8 xp3 ´ 5{xq
a
x 2 ` 1{x2
“ lim ø x ą 0, logo |x| “ x.
xÑ`8 xp3 ´ 5{xq
b
2 ` lim x12
xÑ`8 ?
“ ø x é uma função contı́nua.
3 ´ lim x5
xÑ`8
? ?
2`0 2
“ “ .
3´0 3
?
Podemos desde já dizer que f pxq tem uma assı́ntota horizontal em y “ 2{3. Vejamos o
limite em ´8. Temos
? a
2x2 ` 1 x2 p2 ` 1{x2 q
lim “ lim
xÑ´8 3x ´ 5 xÑ´8 xp3 ´ 5{xq
a
|x| 2 ` 1{x2 ?
“ lim ø lembre que x2 “ |x|.
xÑ´8 xp3 ´ 5{xq
a
´x 2 ` 1{x2
“ lim ø x ă 0, logo |x| “ ´x.
xÑ´8 xp3 ´ 5{xq
b
´ 2 ` lim x12
xÑ´8 ?
“ 5 ø x é uma função contı́nua.
3 ´ lim x
xÑ´8
? ?
´ 2`0 ´ 2
“ “ .
3´0 3
1 ?
2x2 `1
f pxq “ 3x´5
0.5
0
-20 -10 0 10 20
-0.5
-1
2x2 `1
f pxq “ e x2 ´x`3 .
2x2 ` 1 2 ` 1{x2
lim “ lim “ 2.
xÑ`8 x2 ´ x ` 3 xÑ`8 1 ´ 1{x ` 3{x2
Assim,
2
lim 2x `1
lim f pxq “ e xÑ`8 x2 ´x`3
“ e2 .
xÑ`8
pois lim cos x não existe. Então, usamos o teorema do confronto. Temos
xÑ`8
´1 ď cos x ď 1 ðñ x ´ 1 ď x ` cos x ď x ` 1.
Como
lim px ´ 1q “ lim px ` 1q “ `8,
xÑ`8 xÑ`8
´? ¯
Exercı́cio: Calcule lim x2 ` 1 ´ x . Aqui a técnica é multiplicar e dividir pelo
xÑ`8
conjugado:
`? ˘`? ˘
´?
2
¯ x2 ` 1 ´ x x2 ` 1 ` x
lim x ` 1 ´ x “ lim ?
xÑ`8 xÑ`8 x2 ` 1 ` x
x ` 1 ´ x2
2
“ lim ? 2
xÑ`8 x `1`x
1 1
“ lim ? 2 “ “ 0. Ð p‹q
xÑ`8 x `1`x `8
1 ?
p‹q: usamos a notação para expressar o fato seguinte: como x2 ` 1 ` x tende para
`8
1
`8 quando x Ñ `8, então o seu inverso, ?x2 `1`x , tende para zero.
O Teorema do Valor Intermediário (TVI) é mais um resultado útil que é válido para
funções contı́nuas. Ele é o equivalente matemático de dizer que, se eu for subir na pedra
da Gávea (que tem 842 metros de altura) partindo da praia, então necessariamente em
algum momento eu vou estar a, por exemplo, 500 metros de altura. Dito de outra forma,
dada qualquer altitude de N metros entre 0 e 842 metros, então existiu pelo menos um
momento em que a minha altitude foi N .
Ilustração:
f pxq
f pbq
f paq
a c b
f pxq é contı́nua apenas em p0, 1s, mas não em r0, 1s. Portanto não tenho garantia que
o resultado do TVI seja verdadeiro, pois f não respeita a hipótese de ser contı́nua num
intervalo fechado. E de fato, dado qualquer valor N entre f p0q “ 0 e f p1q “ 1 (por
exemplo, 1{2), não existe nenum ponto onde f tome esse valor.