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CASOS PRÁTICOS DE DIREITO COMERCIAL II

2023/2024

CONTRATOS DE DISTRIBUIÇÃO

CASO PRÁTICO

Aníbal andou de farmácia em farmácia, na zona centro do país, durante 5 anos,


a promover a venda dos produtos cosméticos da prestigiada marca “Beauty for
ever”, da sociedade com o mesmo nome (BFE – Beauty for ever, S.A.). A rotina
era sempre a mesma, definida por um manual de procedimentos extremamente
detalhado, preparado pela BFE. De acordo com tal manual, distribuído a cada
distribuidor no início da sua colaboração com a BFE, os distribuidores deviam
limitar-se a explicar aos donos das farmácias as maravilhas operadas por cada
um dos produtos constantes do catálogo, o quão fácil é vendê-los a senhoras
descontentes com o peso da idade e o quão rentáveis são, dada a diferença entre
o preço de aquisição e o preço de venda ao público. Do manual constavam
instruções específicas quanto a encomendas e pagamentos: não podiam
“aceitar” encomendas ou pagamentos, mas apenas “transmitir” internamente
os pedidos dos clientes, a processar pelo departamento operacional. Do manual
constavam ainda regras claras quanto à apresentação: fato cinzento e gravata
sóbria, sapatos engraxados, cabelo curto e penteado, “sem modernices”; não
podiam usar brincos, piercings ou outros adereços que desvirtuassem a imagem
que se pretendia sóbria. Deviam apresentar-se com um cartão de visita da
empresa e não podiam usar, nos seus contactos com os clientes, outro endereço
de e-mail que não o da empresa.

Do contrato assinado por Aníbal em 2018 constava (i) um prazo de 2 anos; (ii)
um direito de exclusivo na zona centro do país, (iii) que a sua remuneração se
resumiria à comissão de 7,5% do preço de cada produto vendido pela BFE às
farmácias contactadas por Aníbal, incluindo esta comissão a compensação pela
clientela criada pelo que, findo o contrato, nada mais terá a haver da BFE; e (iv)

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uma obrigação de não concorrência por um prazo de 5 anos após a cessação do
contrato.

Em janeiro de 2023, Aníbal conheceu Carlota que tem a mania que é rebelde e
rapidamente fez dele “gato-sapato” e, em fevereiro, fez várias tatuagens e
adotou um penteado “radical” para demonstrar que estava à altura do desafio.
Os donos das farmácias com quem contactava diariamente começaram a olhá-lo
com desconfiança.

Entretanto, Carlota convenceu Aníbal a promover junto das farmácias,


juntamente com os produtos da BFE, umas “ervas medicinais”, por si
plantadas, que, segundo a mesma, sendo misturadas com chá, produziam um
efeito rejuvenescedor imediato. Alguns farmacêuticos compraram as ervas que
rapidamente demonstraram ser um sucesso entre as senhoras de idade que,
diziam, as faziam sentir mais jovens do que algum dia foram. Descobriu-se em
junho que, entre tais ervas, havia canabis com fartura...

1. Em outubro de 2023, a BFE escreveu a Aníbal, pondo fim imediato ao


contrato. Aníbal, incrédulo, disse que a BFE não tinha fundamento para
isso: queria continuar a trabalhar e a receber as comissões a que tinha
direito.

2. Segundo Aníbal, mesmo que o contrato ficasse sem efeito, ele teria de ser
compensado pela clientela que criou. Afinal de contas, a BFE continuaria
a receber os proveitos do seu trabalho por muitos e bons anos: as
farmácias que ele “mimou” ao longo de anos continuariam a fazer
encomendas sobre encomendas...

3. O advogado de Aníbal sustentou ainda que este deveria reclamar à BFE


a comissão contratualmente prevista por cada produto vendido por esta
às farmácias do centro do país através da loja online criada em 2019.

4. Em novembro de 2023, a BFE reclamou um pagamento em atraso à


Deolinda Farmácia da Mouraria, Lda. Esta afirmou que já pagou a
Aníbal em maio desse ano, pelo que nada deve à BFE.
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5. Na sua carta de resposta, a Deolinda Farmácia da Mouraria, Lda.
reclamou ainda uma compensação pelo facto de a BFE não ter entregado
os produtos por si encomendados 4 meses antes e que Aníbal garantiu
que seriam entregues no mês seguinte.

6. Entretanto, em novembro de 2023, Aníbal decidiu montar o seu próprio


negócio, aproveitando um contacto da ECB - Empresa Cosmética
Brasileira, S.A. que queria introduzir os seus produtos no mercado
português, aproveitando os contactos que Aníbal tinha nas farmácias do
centro do país. Para o efeito, Aníbal deveria comprar os produtos à ECB
e depois revendê-los pelas farmácias. Usaria para o efeito as marcas, os
materiais publicitários e as amostras da ECB. Aníbal não sabia se podia:
lembra-se de uma qualquer obrigação de não concorrência no contrato
com a BFE e ligou ao seu advogado a perguntar.

7. As coisas correram bem entre a ECB e Aníbal desde junho. Contudo, no


final de outubro, a ECB enviou uma carta a Aníbal denunciando o
contrato com uma antecedência de 10 dias. Aníbal está novamente
incrédulo: fez investimentos avultadíssimos na promoção dos produtos
da ECB e na constituição de stocks, de acordo com o plano de negócios
desenhado em conjunto com a ECB.

8. Carlota, quando percebeu que Aníbal não teria onde cair morto, logo o
trocou por Fausto, jovem empresário de sucesso que pretende abrir um
restaurante igualzinho aos H4 que estão já espalhados por Lisboa e não
sabe que contrato deve celebrar para o efeito

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