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ELIMINAÇÃO DE TRATAMENTO TÉRMICO USANDO RESFRIAMENTO CONTROLADO

Wyser José Yamakami, Maria Beatriz Reis


UNESP, Faculdade de Engenharia – Campus Ilha Solteira, Departamento de Engenharia Mecânica
Av. Brasil, 56, Bairro Centro, Caixa Postal 31, CEP 15385-000, Ilha Solteira, SP
wyser@dem.feis.unesp.br, mbreis@aluno.feis.unesp.br

Introdução
Na busca por uma maior flexibilidade, rapidez e economia nos processos de conformação plástica dos
metais, propõe-se a substituição dos tratamentos térmicos convencionais pelo resfriamento controlado do
material imediatamente após a conformação a quente (Henning, 1989) (Chine, 1996) (Kaspar, 1997). Desse
modo, aproveita-se o calor retido pelo material, de forma a garantir uma taxa de resfriamento que permita a
formação de uma microestrutura desejada, economizando tempo e energia, proporcionando uma diminuição
dos custos, lead time e, conseqüentemente, flexibilizando o processo produtivo.

Objetivos
O objetivo é estudar a viabilidade da substituição da normalização pelo Resfriamento Controlado de um
aço forjado a quente de forma a flexibilizar seu processo produtivo.

Metodologia
Para os ensaios de compressão a quente, os corpos de prova (CDPs) foram usinados com diâmetro de
6,35 mm e comprimento de 9,5 mm. O material, aqui denominado “aço experimental”, tem a seguinte
composição química: 0,15/0,20 % C; 1,10/1,30 % Mn; 0,25 % (máx.) Ni; 0,90/1,10 % Cr; 0,15 % (máx.) Si;
0,035 % (máx.) P; 0,02/0,04 % S; 0,25 % (máx.) Cu; 0,02/0,07 % Al e Ca permitido.
Os ensaios de compressão a quente foram realizados em uma máquina MTS – 810 a 1000 °C, com
deformação total e taxa de deformação de 0,86 e 3,75 s-1, respectivamente.
Imediatamente após os ensaios de compressão a quente, os CDPs foram submetidos a duas condições de
resfriamento: ao ar e em forno a 600 °C. O CDP é mantido durante um tempo pré-definido de 25 ou 35
minutos.
Os CDPs foram preparados para a observação da microestrutura ao longo de sua seção longitudinal. O
ataque químico foi feito com Nital 2% por aproximadamente 10 segundos. A análise micrográfica das
amostras foi realizada em um microscópio óptico – Neophot 32. A dureza Brinell foi medida com penetrador
de esfera de aço, com diâmetro de 2,5 mm, com uma carga de 625 N.

Análise dos Resultados


Na curva tensão versus deformação característica do ensaio de compressão a quente, observou-se que o
material sofre uma recristalização dinâmica, caracterizada por um pico de tensão e posterior diminuição com
a deformação, ocorrida durante a compressão do CDP.
A definição da temperatura e taxa de resfriamento que permita a formação de uma microestrutura
formada por perlita e ferrita distribuídas uniformemente com uma dureza entre 163 e 187 Brinell, é baseada
do Diagrama de Transformação em Resfriamento Contínuo (Atkins, 1980).
Segundo o diagrama, para a obtenção de uma microestrutura ferrítica (F) – perlítica (P) é necessário que
a taxa de resfriamento esteja abaixo de 28 °C/min para um resfriamento a partir da região austenítica até a
temperatura ambiente.
Baseado no diagrama de transformação em resfriamento contínuo espera-se que ao atingir 600 °C,
permanecendo nesta temperatura por 25 ou 35 minutos, todas as transformações microestruturais tenham
sido finalizadas passando tão somente pelo campo ferrítico-perlítico, como desejado para formação destas
microestruturas.
Uma análise das microestruturas das amostras resfriadas nas diferentes condições após ensaio de
compressão a quente na MTS é apresentada a seguir.
No resfriamento em forno a 600 °C observa-se, tanto para os tempos de 25 e 35 minutos, uma
microestrutura composta por perlita e ferrita distribuídas uniformemente ao longo do CDP, com tamanhos de
grãos variados, verificando-se ferrita dentro de alguns grãos perlíticos – ferrita intragranular, como mostra a
50 µm 15 µm
(a) (b)
Figuras 1 a,b – (a) Perlita e ferrita distribuídas uniformemente. Compressão a quente seguida de resfriamento em
forno a 600 °C e (b) microestrutura preponderantemente bainítica. Resfriamento ao ar após compressão a quente.

Fig.1a. Observa-se uma orientação da microestrutura ao longo das linhas de escoamento geradas no processo
de compressão do material.
No resfriamento ao ar a microestrutura apresentada é preponderantemente bainítica, sendo observados
alguns pontos com ferrita primária distribuída ao longo do material, como se observa na Fig.1b.
Esta observação está coerente com o diagrama de transformação em resfriamento contínuo que, para as
dimensões do CDP citadas anteriormente, prevê a formação de uma microestrutura predominantemente
bainítica, associada à ferrita e, em menor percentagem, perlita e martensita quando o aço austenitizado é
submetido a um resfriamento ao ar ambiente.
Os valores de dureza Brinell (HB) / (desvio padrão) para os tempos de 25 e 35 minutos, no forno a 600
°C são de, respectivamente, 166,5 / (4,5) e 159,6 / (3,7), enquanto que, para o resfriamento ao ar, são de
269,1 / (15,6). Os valores apresentados mostram que a dureza dos CDPs mantidos por 25 e 35 minutos são
estatisticamente iguais, estando dentro da faixa de 163 a 187 HB definida para a normalização.
O valor médio de dureza para a condição de resfriamento ao ar foi maior em relação às demais
condições, de acordo com o esperado para taxas de resfriamento maiores. Uma maior taxa de resfriamento
tende a produzir microestruturas como ferrita acicular, perlita fina e bainita, cuja dureza é superior às
observadas para resfriamentos mais lentos.
No processo convencional de normalização as peças devem resfriar após o forjamento a quente até a
temperatura ambiente para então serem transportadas e colocadas manualmente sobre esteira transportadora
que passa através do forno a 950 °C por um tempo de 2 (duas) horas, sendo em seguida resfriadas ao ar.
No resfriamento controlado, tanto a temperatura – 600 °C – quanto o tempo de permanência da peça
nela são significativamente menores em relação às duas horas gastas na normalização, permitindo uma
grande economia de energia elétrica.

Conclusões
O “aço experimental” sofre uma recristalização dinâmica durante o ensaio de compressão a quente.
É viável substituir a normalização pelo resfriamento controlado em forno a 600 °C, o que permite uma
significativa redução do tempo de processo e consumo de energia elétrica.
O resfriamento em forno a 600 °C mostrou-se adequado para obtenção de uma microestrutura perlítica-
ferrítica com distribuição uniforme, com dureza média dentro da faixa estabelecida para a normalização.
O resfriamento ao ar, leva a formação de uma microestrutura preponderantemente bainítica.

Referências Bibliográficas
Atkins, M. “Atlas of Continuous Cooling Transformation Diagrams for Engineering Steels”, American
Society for Metals, Metals Park, Ohio, British Steel Corporation, Sheffield, England, pp. 96.
Chine, R. S.; Heitmann, W. E.; Bhattacharya, D. “Microalloyed steel bars and forgings”, Journal of Metals,
pp. 26-33, may 1996.
Henning, H. J. “New developments boost forging performance”, Machine Design, pp. 97-101, august 10,
1989.
Kaspar R.; Baquet, I. G.-; Schrelber, N.; Richter, J.; Nußbaum, G.; Kothe, A. “Application of
thermomechanical treatment on medium-carbon microalloyed steels continuosly cooled from forging
from forging temperature”, Materials Technology, Steel Research, 68, No. 1, pp. 27-31, 1997.

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