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Notas de Aula

Equações Diferenciais Ordinárias de Primeira Ordem


Adriana H Borssoi

adrianaborssoi@utfpr.edu.br

junho de 2021

Estas Notas de Aula apenas direcionam o estudo ˆ Se considerarmos a variação contínua, instan-
em sala de aula, não substituem as referências bi- tânea, a formulação matemática será dP
dt ≈P
bliográcas indicadas do plano de ensino. O plano ou ainda, dP
dt = kP
de ensino e materiais complementares estão dispo-
níveis no Ambiente Virtual de Ensino e Aprendiza- Onde denimos as variáveis:
gem - MOODLE. P : população
t: tempo
dP
: taxa de variação instantânea da população em
1 Introdução dt

relação ao tempo e o parâmetro k: constante de


Nosso estudo começa com a interpretação das se- proporcionalidade.
guintes sentenças:
Algumas situações-problemas, para ilustrar o
"A variação de uma quantidade é uso de equações diferenciais, podem ser encontra-
proporcional à quantidade" das no Capítulo 3 de [1], disponível no material de
"A variação de uma população é proporcional à apoio no espaço da disciplina no Moodle.
população"
Denição 1: Equação Diferencial
A tradução dessa linguagem para a linguagem
De acordo com [2] Uma equação que contém
matemática leva a um modelo matemático.
as derivadas (ou diferenciais) de uma ou mais
ˆ Se considerarmos a diferença da população em variáveis dependentes em relação a uma ou mais
tempos distintos, P (t2 )−P (t1 ), a variação mé- variáveis independentes é chamada de Equação
dia é expressa por: P (t2 )−P (t1 )
t2 −t1 , que representa Diferencial (ED).
uma variação discreta.

1
As equações diferenciais são classicadas em: Toda função y = φ(x), denida em um intervalo

ˆ Equação Diferencial Ordinária (EDO) I que tem pelo menos n derivadas contínuas em
quando uma equação apresentar somente
I, as quais quando substituídas em uma equação
diferencial ordinária de ordem n reduz a equação
derivadas ordinárias de uma ou mais variáveis
a uma identidade, é denominada uma solução da
dependentes em relação a uma única variável
equação diferencial no intervalo.
independentes;

Intervalos de Denição: O intervalo men-


ˆ Equação Diferencial Parcial (EDP)
cionado na Denição 2 representa o domínio da
quando uma equação envolve as derivadas
solução e pode ser um intervalo aberto (a, b),
parciais de uma ou mais variáveis dependentes
um intervalo fechado [a, b], ou um dos intervalos
de duas ou mais variáveis independentes.
innitos, por exemplo, (a, ∞). Sempre que pensar
As notações mais usuais são: em solução há que se pensar no intervalo corres-
Notação de Leibniz:
2 3 n
pondente.
ˆ dx , dx2 , dx3 ,... ,
dy d y d y d y
dxn

ˆ Notação de linhas: y′ , y′′ , y′′′ , y(4) ,... , y(n)


Alguns Exemplos:
a) y = e0,1x é uma solução de
2 dy
dx = 0, 2xy no
A ordem de uma Equação Diferencial é indi- intervalo (−∞, ∞).
cada pela maior ordem de derivação que aparece
na equação. Uma EDO de ordem n tem como ex-
b)
 2
A equação diferencial dy
dx + y2 = 1 é
pressão geral
satisfeita pelas funções y1 (x) = sen(x) e y2 = 1.
dy d2 y d3 y dn y Vamos vericar...
F [x, y, , 2 , 3 , ..., n ] = 0
dx dx dx dx

onde F é uma função de uma variável indepen- c) Verique se y = 161 x4 é uma solução da EDO
dente e n + 1 variáveis dependentes. Ou seja,
dy
dx = xy 1/2 no intervalo (−∞, ∞).

essa equação representa a relação entre a variável


independente x e os valores de sua incognita y e d) Conrme se uma solução para a EDO
suas n primeiras derivadas. Quando conseguimos y − 2y + y = 0 no intervalo (−∞, ∞) pode ser
′′ ′

dn y
explicitar dx n na equação acima temos o que é
y = xex .
chamado de forma normal da EDO de ordem n.
Observe que todas as soluções indicadas nos
Denição 2: Solução de uma Equação itens de a a d representam soluções particulares
Diferencial Ordinária das respectivas EDO. Note ainda, que nos exem-

2
plos dados, cada equação diferencial tem a solução Por sua vez, o campo de direções é obtido quando
constante y = 0, −∞ < x < ∞. Esta solução, elementos lineares com a inclinação de f (x, y) em
identicamente nula no intervalo I, é denominada uma innidade de pontos forem plotados sistema-
de solução trivial. ticamente no plano cartesiano xy , como ilustra a
Figura 2, que representa o campo de direções da
Tomando o exemplo do item a), notamos que EDO
dy
dx = 0, 2xy . Na Figura 3 podemos obser-
além de y = e0,1x e da solução trivial, existe var o campo de direções juntamente com algumas
2

uma innidade de outras soluções, quais sejam, curvas integrais.


y = Ce0,1x , com C ∈ ℜ. Esta é denominada
2

Figura 2: Campo de Direções


solução geral da EDO. Algumas dessas soluções
podem ser visualizadas no gráco da Figura 1.

Figura 1: curvas integrais

Figura 3: Campo de direções e curvas

O gráco de cada solução de uma EDO é


chamado de curva integral.

Campo de Direções: Visualmente o campo


de direções ou campo de inclinações de uma Os campos de direções, além de contribuirem
EDO dy
dx = f (x, y) sugere a aparência ou a forma para um melhor entendimento das equações dife-
de uma família de curvas integrais da EDO. Uma renciais, também constituem um método gráco
curva integral deve acompanhar o padrão de uxo para conhecer suas soluções aproximadas.
do campo de direções.

3
Problema de Valor Inicial (PVI): Quando para garantir a existência e unicidade de uma
estamos interessados em obter uma curva integral solução, como enunciado a seguir:
especíca, dentre uma família de soluções, preci-
samos conhecer uma condição inicial imposta à Teorema: Existência de uma única Solu-
solução. ção
Se R é uma região retangular no plano xy denida
O PVI:  por a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d que contém o ponto
 dy = 0, 2xy (x0 , y0 ). Se f (x, y) e ∂f
são contínuas em R, existe

dx ∂y

y(x0 ) = y0
 algum intervalo I0 : x0 − h < x < x0 + h, h > 0,
contido em a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d, e uma única
nos informa que a solução y = ϕ(x) passa pelo
função y(x), denida em I0 , que é uma solução do
ponto (x0 , y0 ) e, com isso, é possível encontrar
problema de valor inicial.
a solução particular, como vemos no exemplo a
seguir.
Exemplo: Resolva o PVI e esboce a curva in-
tegral obtida juntamente com o campo de direções
Exemplo: Dado o PVI: da equação diferencial.
 
 dy = 0, 2xy

 dy = cos(x)

dx
dx
y(0) = 1

y(0) = 2

chegamos a conclusão que C = 1 na solução


y = Ce0,1x .
2
Como gerar um campo de direções?

Agora, verique qual é o valor de C para o PVI: Sugestão


Usando o software Geogebra (https://www.

 dy = 0, 2xy
 geogebra.org), digite no campo de entrada
dx

y(4) = 1
 o comando CampoDeDireções(<f(x,y)>)
substituíndo <f(x,y)> pela expressão do lado
Associados a problemas de valor inicial (também direito da EDO escrita na forma dy
= f (x, y).
dx
conhecidos por problema de Cauchy) expresso da
forma 
 dy = f (x, y)
Atividades para o Estudo: serão disponibili-

dx

y(x0 ) = y0 zadas no ambiente virtual.


temos um teorema que traz condições sucientes

4
2 Métodos de Resolução 1
y 2 e4y dy = xe3x dx, enquanto dy
dx = y + sen(x) não
é separável.
Vamos nos dedicar às técnicas de resolução de
Equações Diferenciais Ordinárias de Primeira
Exemplos: Resolver a equação diferencial ou
ordem, ou seja, equações da forma dy
= f (x, y)
dx
o problema de valor inicial (PVI) em cada item a
seguir, fazendo antes a separação das variáveis.
As técnicas que estudaremos nas próximas aulas
a) y ′ = 3y
são aplicadas à equações:
b) y ′ = −6xy
ˆ Variáveis Separáveis; c) (1 + x)dy − ydx = 0
d)
ˆ Exatas;

y ′ = y 2

PV I :
ˆ Lineares; y(0) = 3

ˆ Por substituição. e)

(e2y − y)cos(x) dy = ey sen(2x)

dx
2.1 Separação das Variáveis PV I :
y(0) = 0

Denição: Uma equação diferencial de primeira
ordem é dita separável, ou de variáveis separadas, As Figuras abaixo representam gracamente
se puder ser posta na forma parte da solução dos PVI dos itens d) e e), res-
 pectivamente.
dy
dx = g(x)h(y)
Figura 4: Soluções particulares dos itens d) e e)
ou na forma diferencial,

1
h(y) dy = g(x)dx

Onde, as funções g(x) e h(y) são contínuas em


algum intervalo de ℜ.

Neste caso, a solução geral é obtida integrando-


2.2 Equações Exatas
se cada lado da equação em relação a variável em
questão (x no lado direito e y no lado esquerdo). Denição: Uma EDO é exata se pode ser escrita
Por exemplos: dy
dx = xy 2 e3x+4y é de variáveis como M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0, em que M (x, y)
separáveis, pois, pode ser escrita na forma e N (x, y) são funções com derivadas parciais

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contínuas em uma região R do plano xy , tais que: somente de y .
∂M
∂y = ∂N
∂x Observe, por exemplo, que a equação do item
d) (x + yey ) dx
dy
= −yln(y) − ycos(x) não é
Quando esta condição é satisfeita, existe uma exata, mas, se multiplicarmos a equação por
função F (x, y) tal que ∂F µ(y) = y1 chegamos na equação do item a)
∂x = M e ∂y = N .
∂F

(cos(x) + ln(y))dx + ( xy + ey )dy = 0, que é exata!

A solução da EDO exata é dada implicitamente


por F (x, y) = c, em que c é uma constante. Exemplo: Resolver, por meio de um fator inte-
grante, a EDO (4x2 + 3cos(y))dx − xsen(y)dy = 0.

Exemplos: Verique se as EDO a seguir são


2.3 Equações Diferenciais Lineares
exatas e, em caso armativo, use o método para
resolvê-las: de Primeira Ordem

a) (cos(x) + ln(y))dx + ( xy + ey )dy = 0 Denição: Equação Linear Uma equa-


b) (6xy − y 3 )dx + (4y + 3x2 − 3xy 2 )dy = 0 ção diferencial de primeira ordem da forma
c) 2xydx + (x − 1)dy = 0
2
dy
a1 (x) dx + a0 (x)y = g(x) é chamada de equação
d) (x + dy
yey ) dx = −yln(y) − ycos(x) linear.

Fator Integrante Quando g(x) = 0, a equação linear é chamada


Uma EDO que a princípio não é exata, algumas de homogênea, caso contrário é chamada não
vezes pode ser convertida em uma EDO exata, por homogênea.
meio de um fator integrante adequado.
Dividindo ambos os membros por a1 (x) temos a
Suponha que M (x, y)dx + N (x, y)dy = 0 não forma padrão de uma equação linear:
é exata, pois ∂M
∂y ̸= ∂x .
∂N
Em alguns casos, é dx
dy
(x) y = a (x) ou dx + P (x)y = f (x).
+ aa0 (x) g(x) dy
1 1

possível encontrar uma função µ(x, y) de modo


que µ(x, y)M (x, y)dx + µ(x, y)N (x, y)dy = 0 torna Resolução de uma EDO Linear de Pri-
a equação exata. Neste caso, a função µ(x, y) é meira Ordem:
denominada fator integrante da EDO dada.
i) Quando P (x) = 0
No entanto, para que a resolução de Neste caso, dy
dx = f (x) é resolvida por integração e
0 não y(x) =
R
µ(x, y)M (x, y)dx + µ(x, y)N (x, y)dy = f (x) + C
seja extremamente difícil, geralmente assumimos
que o fator integrante depende ou somente de x ou

6
dt + 4y = 5t.
c) t dy
ii) Caso Geral Exercício: De acordo com a Lei de Res-
Vamos considerar equações da forma friamento de Newton, a taxa de variação da
temperatura de um objeto é proporcional à
dy
+ P (x)y = f (x) diferença entre a sua temperatura e a do meio am-
dx
biente. A lei pode ser expressa por dT
dt = k(T −Ta ),
em um intervalo em que P (x) e f (x) são contínuas
onde k é a constante de proporcionalidade e Ta é
e P (x) ̸= 0.
a temperatura do meio ambiente.

Então, o primeiro termo da equação é uma com-


a) Expresse T (t), a temperatura em função do
binação envolvendo dy
e y e é "quase" a derivada
dx tempo, resolvendo por dois métodos diferentes.
de um produto de funções. Se fosse, a solução da
equação estaria reduzida a uma simples integração.
b) Em uma fábrica de rolamentos, o tratamento
Suponha então que exista uma função µ(x) que térmico das esferas (têmpera) é efetuado em um
multiplicada por dx
dy
+ P (x)y nos dê:
banho de óleo, sendo as mesmas submetidas a um
resfriamento brusco, posteriormente ao seu aqueci-
dy dy
µ(x)( dx + P (x)y(x)) = µ(x) dx + µ(x)P (x)y(x) mento em um forno. Ao sair do forno, as esferas de
dx [µ(x)y(x)].
dy d
µ(x)( dx + P (x)y(x)) = aço encontram-se a uma temperatura de 860o C e
são imersas em óleo à temperatura de 20o C . O res-
Resolvendo dµ(x)
dx = µ(x)P (x), que é de variáveis friamento da esfera ocorre por convecção forçada,
separáveis, chegamos que µ(x) = e , que para assegurar a transformação de fase sólida do
R
P (x)dx

é denominado fator integrante ou fator de aço, garantindo a propriedades mecânicas deseja-


integração. das, em particular, a dureza da mesma. Encontre
a temperatura da esfera após 60 minutos, sabendo
Aplicando o fator integrante à equação diferen- que T (20) = 348, 8o C .
cial linear dy
dx + P (x)y = f (x) e desenvolvendo-a,
chegamos à sua solução: 2.4 Substituições em Equações de

Primeira Ordem
R
y(x) = e− P (x)dx
f (x)dx + C
As substituições que estudaremos tem a nalidade
Exemplos: Resolver as equações diferenciais li- de reescrever EDO de primeira ordem em equações
neares: que possam ser resolvidas pelas técnicas anterior-
a) dy
dx − 3y = 6 mente estudadas.
b) dy
dx − 1
x+1 y = x2 − 1

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Referências
Equações Homogêneas [1] R. C. Bassanezi. Equações diferenciais
As equações homogêneas de 1ª ordem são equa- ordinárias-um curso introdutório. Coleção
ções que podem ser escritas como dy
dx = F ( xy ) em BC&T-UFABC Textos Didáticos, 2012.
que o lado direito da equação depende apenas de x.
y

Equações diferenciais com aplica-


[2] D. G. Zill.
ções em modelagem. Cengage Learning Edito-
Fazendo a substituição v = y
x ou y = vx, res, 2003.
derivando esta última igualdade em relação a x
obtemos dy
dx
dv
= x dx + v e assim, podemos rees-
crever dy
dx = F ( xy ) como uma expressão de v e x,
dv
x dx + v = F (v) ou ainda 1
(F (v)−v) dv = 1
x dx que é
uma equação de variáveis separáveis.

Após resolver esta última equação devemos


lembrar de substituir novamente v por y
x para
chegarmos a solução geral de dy
dx = F ( xy ).

Exemplo: Resolva (x2 +y2 )dx+(x2 −xy)dy = 0,


usando a substituição y = vx.

Equações de Bernoulli
As equações de Bernoulli são equações da forma
dy
dx + p(x)y = q(x)y n , com n ∈ ℜ.
Se n = 0 ou se n = 1 a EDO é linear e pode ser
resolvida sem substituição.

Para n ̸= 0 e para n ̸= 1 a substituição v = y 1−n


reduz qualquer equação de Bernoulli a uma equação
linear.

Exemplo: Encontrar a solução geral para a


equação dy
dx + x1 y = xy 2 .

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