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Cálculo II

Equações Diferenciais

Maria Elfrida Ralha


Departamento de Matemática
(Universidade do Minho)

MI: Psicologia

Ralha, M. E. (DMat) Cálculo Aplicado à Psicologia II fevereiro 2020 1 / 23

Índice

1 Equação Diferencial
Denições e Exemplos

2 Problema: População íctica


Solução Geral, Solução Particular, Condição Inicial & Problema
de Valor Inicial

3 Equações diferenciais de 1.ª ordem


Equações diferenciais & Campos de Direções

4 Equações diferenciais, de 1.ª ordem, com variáveis separáveis

5 Equações diferenciais lineares, de 1.ª ordem

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Equação Diferencial1 : (O que é?)

[Equação Diferencial] Equação diferencial, de ordem n, é uma


equação da forma

F(x, y, y 0 , y 00 , · · · , y (n) ) = 0,
onde a incógnita é a função denida por y = y(x).
Uma solução de uma equação diferencial é qualquer função
y = ϕ(x) que satisfaça a equação diferencial.

Nota
Numa equação diferencial,

a incógnita é uma função!

estão envolvidas as derivadas da função incógnita.

1 Uma equação diferencial pode representar sistemas biológicos, físicos, químicos ou sociais denidos, por
exemplo, em intervalos (reais) de tempo ou de espaço.
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Equação Diferencial (Outras denições)

[Ordem], de uma equação diferencial, é a ordem da maior das


derivadas presentes na equação.
[Grau], de uma equação diferencial, é o maior grau das derivadas
presentes na equação.
Uma solução de uma equação diferencial, num intervalo I =]α, β[, é
qualquer função y = ϕ(x), denida em I e que satisfaça a equação
diferencial.
Uma equação diferencial linear é qualquer equação diferencial que se
pode escrever na forma
an (x).y (n) (x) + an−1 (x).y (n−1) (x) + · · · + a1 (x).y 0 (x) + a0 (x).y(x) = f (x),

onde as funções coecientes de y e das suas derivadas ak (x), com


K = 0, · · · , n podem ou não ser funções constantes, bem como podem
(ou não) ser funções lineares1 .
1 Só as funções y e as suas derivadas determinam a linearidade de uma equação diferencial.
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Exemplos / Exercícios
As mais simples equações diferenciais expressam-se na forma1 :

dQ
= g(x).
dx

dy
Resolva-se = 3x 2 + 5.
dx
1 Mostre que a função denida por y = sen x é solução (particular) da equação diferencial

y 00 + y = 0.

2 De que ordem e de que grau são as seguintes equações diferenciais:


 2
dP dy dy
• = 2P. • +3 + 2y = ex . • (y 00 )3 + y = 0. • y (4) − 8y 00 = sen t.
dt dx dx
3 Mostre que a célebre equação Newtoniana (2.ª Lei do Movimento dos corpos),

F = ma

é, também, uma equação diferencial.


1 Designá-las de "simples" não signica que para todas elas somas capazes de encontrar, analiticamente as
soluções (como se verá mais adiante). Outras equações diferenciais que se podem reduzir a estas são denidas por
f (x).y 0 (x) = g(x).
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Introdução

Nota
A taxa de variação, de uma função, é um instrumento valioso na
modelação de fenómenos físicos, económicos, sociais e biológicos.
Podemos, basicamente, modelar os problemas que envolvem as mudanças/
variações de uma determinada função P
de forma discreta, isto é, estudando

Pt+1 − Pt

.
de forma instantânea, ou seja, estudando as derivadas de P :
nomeadamente
P 0 (t)

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Problema: o efeito da pesca, numa determinada espécie íctica1

Modelar uma população de peixes, (em função do tempo)

Seja P uma determinada população de peixes (em milhões de unidades)...

Sem pesca, uma determinada população


de peixes cresce 20%, ao ano.
Com a atividade piscatória regulada, os
pescadores recolhem 10 milhões de peixe,
ao ano.

∴ Taxa de variação de P = Taxa de crescimento − Taxa da pesca


(sem pesca)
1 A taxa de variação, particularmente a instantânea, é um instrumento poderoso para se modelarem processos
de variação populacional que ocorrem, por exemplo, em Ciências Sociais e da Vida.
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Taxa de variação de P = Taxa de crescimento − Taxa da pesca

Nestas condições, podemos escrever uma equação diferencial:


dP
= 20% · P − 10
dt

A resolução da equação diferencial é combinada com uma condição inicial . Suponha-se P(0) = 60!
Exercício:
a) Complete-se a seguinte tabela:
t 0 1 2 3 4 5 ···
p(t) 60 ··· ··· ··· ··· ···

b) Que comparação podemos fazer entre este modelo matemático


"discreto" e o modelo "contínuo" expresso pela equação
diferencial?
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dP
= 20% · P − 10
dt

Questão: Haverá uma solução para a equação diferencial


dP
= 20% · P − 10 ?
dt

Seja P denida por


P(t) = 50 + Ce0.20t , ∀C ∈ R

Exercício: Vericar que, qualquer função P assim denida, é solução da equação


dP
diferencial = 20% · P − 10.
dt

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P(t) = 50 + Ce0.20t , ∀C ∈ R

Representem-se gracamente algumas das funções denidas por


P(t) = 50 + Ce0.20t , ∀C ∈ R

Para C = −20, C = −2, C = 0, C = 2 e


C = 10.
Qual destas curvas satisfaz a condição inicial
denida anteriormente, isto é, P(0) = 60?

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dP
De = 20% · P − 10 até P(t) = 50 + Ce0.20t , ∀C ∈ R
dt

A solução geral da equação diferencial


dP
= 20% · P − 10
dt
é uma família de funções, P , denida por

P(t) = 50 + Ce0.20t , ∀C ∈ R.

A solução particular P(t) = 50 + 10e0.20t , é solução da equação diferencial,


juntamente com a condição inicial de que P = 60, quando t = 0.

∴ A equação diferencial e a condição inicial, juntas, dizem-se um problema


de valor inicial1 .

1 Também se chama, por vezes, um problema de Cauchy.


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dy
Equações diferenciais da forma = f (x, y)
dx
A equação diferencial da forma
dy
= f (x, y) (1)
dx

é uma equação diferencial de primeira ordem, cuja incógnita é a função y = y(x).


A resolução de (1) pressupõe obter uma função y , a partir de uma determinada
informação sobre a sua derivada1 .
No caso particular de f (x, y) ser independente de y ; isto é, quando (1) se
pode escrever na forma2

y 0 = g(x) (2)
∴ A solução geral da equação diferencial (2) é
Z
y(x) = g(x) dx + C.
E se não for possível encontrar essa primitiva?
1 Tal como no caso do anterior problema, sobre a atividade piscatória.
2 Com g uma função contínua.
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Campo de Direções: Interpretação geométrica de Equações Diferenciais

Nota
Inúmeras situações reais podem descrever-se à custa de equações diferenciais mas muitas
das equações diferenciais que modelam o mundo não têm resolução exata.
Exemplo: y 0 (x) = sen(x 2 )
É possível obter informações sobre a solução de uma determinada equação diferencial,
sem que de facto tenhamos resolvido essa equação diferencial.
O método descoberto por L. Euler (1707 − 1783) a que chamamos dos campos
direcionais é um método gráco/ geométrico de representação de soluções de uma
equação diferencial da forma
y 0 = f (x, y).
O gráco constrói-se a partir de um referencial, onde marcamos uma grelha de pontos de
coordenadas (x0 , y0 ). A cada ponto, (x0 , y0 ), associamos um segmento de reta (com ou
sem setas indicativas do sentido do deslocamento) cujo declive
y 0 (x0 )
conhecemosa porque o sabemos igual ao número real expresso por
f (x0 , y0 ).

a Conforme determinado pela equação diferencial em causa: y 0 = f (x, y).

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Campo de Direções
∴ A situação modelada pela equação diferencial y 0 (x) = f (x, y) é interpretada/ substituída por
um modelo geométrico/ gráco de um campo direcional.

y 0 (x) = f (x, y) ←→

Nota
Linha Isóclina é o lugar geométrico dos pontos nos quais as soluções da
equação diferencial têm o mesmo declive. Ou seja,
para denirmos uma linha onde o declive é constante partimos de
y 0 (x) = f (x, y), e resolvemos f (x, y) = K (com K ∈ R).
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Curvas/Soluções, Isóclinas & Campo de Direções

Exemplo 1: Contruamos um campo de direções1 para a equação diferencial y'(x)=x.

Esbocemos algumas linhas isóclinas. Qual o entendimento (adicional) que retiramos da


isóclina denida por x = 0?

Representem-se algumas tangentes ao longo das linhas isóclinas. Porquê?

O vector que usamos, em cada ponto da grelha (ao longo de cada isóclina), tem
componentes (1, x). Porquê?

O que representam as curvas "verde" e "vermelha", no contexto da equação diferencial?


1 Num campo de direções quantas mais tangentes traçarmos, mais facilmente poderemos imaginar/ traçar a
curva/ solução da equação diferencial.
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Campo de Direções: y 0 (x) = y 2 (2 − y)(1 + y)

Exemplo 2: Reita sobre a gura (esboçada com recurso a uma ferramenta computacional)1

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Campos de Direções: y 0 (x) = y − x & y 0 (x) = sen(x 2 )

Exemplos 3

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Campo de Direções: Porquê? Para Quê?

Nota
Esboço de Soluções Uma vez que os segmentos construídos (com ou
sem setas) num Campo Direcional são, de facto,
tangentes às verdadeiras curvas-solução da equação
diferencial, usamo-los para esboçar os grácos das
soluções.
Comportamento a longo prazo Em algums casos estamos menos
interessados nas próprias soluções de uma equação
diferencial do que estamos em saber como é que essas
soluções se comportam à medida que a variável t
aumenta. Um Campo Direcional apropriado oferece-nos
também essa informação.

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Equações Diferenciais, de 1.ª ordem, com variáveis separáveis

Equação Diferencial, de 1.ª ordem, com variáveis separáveis é


uma equação diferencial da forma1
dy h(x)
=
dx g(y)
e resolve-se separando algebricamente as variáveis e integrando ambos os
membros da equação, isto é, procedendo da seguinte maneira2 :

dy h(x)
= ⇐⇒ g(y) dy = h(x )dx ⇐⇒
dx g(y)
Z Z
⇐⇒ g(y) dy = h(x) dx

dy 2x
• Ex : Encontre a solução geral da equação diferencial = 2
dx y
1 Note-se que esta forma pode, em particular, revestir-se de outras que lhe são equivalentes.
2 A justicação para este procedimento envolve, em particular, a denominada "regra da cadeia".
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Equações diferenciais lineares de 1.ª ordem

Seja

y 0 + a(x)y = b(x), (3)

onde a e b são funções reais de variável real, denidas e contínuas num intervalo
I ⊂ R, uma equação diferencial linear de primeira ordem.

Exercício: Qual das seguintes equações diferenciais é linear (de primeira


ordem)?
1 y 0 + (cos x)y − ln x = 0.
2 y 0 + cos y = y.

A equação diferencial da forma

y 0 + a(x)y = 0,

diz-se a equação homogéna associada a (1).

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P'(t)=20%P(t)-10
• Atente-se, justicando cada uma das seguintes equivalências e salvaguardando
as excepções
dP P(t)
P 0 (t) = 20%P(t) − 10 ⇐⇒ = − 10 ⇐⇒
dt 5
dP P(t) − 50
⇐⇒ = ⇐⇒
dt 5
dP dt
⇐⇒ = ⇐⇒
P(t) − 50 5
dP dt
Z Z
⇐⇒ = ⇐⇒
P(t) − 50 5
1
⇐⇒ ln |P(t) − 50| = t + C ⇐⇒
5
t
⇐⇒ P(t) − 50 = e 5 +C ⇐⇒
t
⇐⇒ P(t) = Ce 5 + 50
c.q.d.

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y'(x)+a(x).y(x)=b(x) ?
• Assumamos, por momentos, que existe uma função µ a que chamaremos fator
de integração e usemo-la para multiplicar ambos os membros da equação
diferencial1

y 0 (x) + a(x).y(x) = b(x) ⇐⇒ µ(x) [y 0 (x) + a(x).y(x)] = µ(x).b(x) ⇐⇒


⇐⇒ µ(x).y 0 (x) + µ(x).a(x).y(x) = µ(x).b(x)

E se a escolha da função µ fosse tal que µ0 (x) = µ(x).a(x)?


No 1.º membro estaria a derivada de um produto! Qual?

y 0 (x) + a(x).y(x) = b(x) ⇐⇒ ... ⇐⇒


⇐⇒ µ(x).y 0 (x) + µ0 (x).y(x) = µ(x).b(x) ⇐⇒
0
⇐⇒ [µ(x).y(x)] = µ(x).b(x)
1 Reconheçamos que, nestas condições, temos µ 6= 0 e percebamos o que acontece com a "inclusão" desta
função µ.
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y'(x)+a(x).y(x)=b(x) (*)
(*) Recordemos que a nossa incógnita é a função y

y 0 (x) + a(x).y(x) = b(x) ⇐⇒ ...


⇐⇒ [µ(x).y(x)]0 = µ(x).b(x) ⇐⇒
Z
⇐⇒ [µ(x).y(x)] + C = µ(x).b(x) dx ⇐⇒
Z
µ(x).b(x) dx + C
⇐⇒ ∴ y(x) = , C∈R
µ(x)

• Falta, tão somente, exprimir a função µ:

µ0 (x)
µ0 (x) = µ(x).a(x) ⇐⇒ = a(x) ⇐⇒
µ(x)
Z
⇐⇒ ln |µ(x)| + K = a(x) dx ⇐⇒
R
a(x) dx+K
⇐⇒∴ µ(x) = e ⇐⇒
R
a(x) dx
⇐⇒ ∴ µ(x) = Ke , K∈R

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