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Aula: 27

Temática: Da leitura à redação

Exercícios

Em 1996, em sua prova de Redação, a FUVEST solicitou aos candidatos


que desenvolvessem a seguinte proposta:

1- Leia atentamente os textos dados, procurando identificar a questão ne-


les tratada.
2- ESCREVA UMA DISSERTAÇÃO EM PROSA, relacionando os dois textos
e expondo argumentos que sustentem seu próprio ponto de vista.

Texto 1
Entre os Maoris, um povo polinésio, existe uma dança destinada a proteger
as sementeiras de batatas, que quando novas são muito vulneráveis aos
ventos do leste: as mulheres executam a dança, entre os batatais, simulan-
do com o movimento dos corpos o vento, a chuva, o desenvolvimento e o
florescimento do batatal, sendo esta dança acompanhada de uma canção
que é um apelo para que o batatal siga o exemplo do bailado. As mulheres
interpretam em fantasia a realização prática de um desejo. É nisto que con-
siste a magia: uma técnica ilusória destinada a suplementar a técnica real.
Mas essa técnica ilusória não é vã. A dança não pode exercer qualquer efei-
to direto sobre as batatas, mas pode ter (como de fato tem) um efeito apre-
ciável sobre as mulheres. Inspiradas pela convicção de que a dança protege
a colheita, entregam-se ao trabalho com mais confiança e mais energia. E,
deste modo, a dança acaba, afinal, por ter efeito sobre a colheita.
George Thomson)

Texto 2
A ciência livra-nos do medo, combatendo com respostas objetivas esse ve-
neno subjetivo. Com um bom pára-raios, quem em casa teme as tempesta-
des? Todo ritual mítico está condenado a desaparecer; a função dos mitos
se estreita a cada invenção, e todo vazio em que o pensamento mágico
imperava está sendo preenchido pelo efeito de uma operação racional.
Quanto à arte, continuará a fazer o que pode: entreter o homem nas pausas
de seu trabalho, desembaraçada agora de qualquer outra missão, que não
mais é preciso lhe atribuir.
(Hercule Granville)
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112 LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO
Uma proposta de trabalho como a acima transcrita pressu-
põe, em primeiro lugar, a leitura atenta dos textos para que
haja, realmente, uma boa compreensão da questão neles
tratada. Observe que tal questão deve ser bem entendida, pois o candidato
deverá, depois, fazer uma redação (dissertação em prosa) relacionando
os dois textos, dando seu próprio ponto de vista sobre essa questão e
argumentando.

Os exercícios abaixo são um roteiro para o entendimento dos textos – isto


é, o primeiro passo para uma boa execução da tarefa proposta.

1- O texto 1 trata de um costume tradicional dos Maoris: qual é esse cos-


tume? Qual é sua finalidade?

2- Quando as mulheres dançam: o que seus gestos simulam? o que seus


gestos, na verdade, representam?

3- Segundo o autor, o florescimento do batatal não depende só desse ri-


tual, mas também de outras medidas práticas. Então, qual é a função do
ritual?

4- Como pode ser sintetizado o ponto de vista de George Thomson sobre


os rituais mágicos?

5- No texto 2, Hercule Granville diz que todo ritual mítico está condenado
a desaparecer. Como ele justifica seu ponto de vista?

6- No último período do texto, há uma referência à arte: o que “arte” tem


em comum com “ritual mítico” que possa justificar essa aproximação? a
que tipo de arte se refere o autor?

7- Comparando os dois textos, indique:

a) o assunto comum por eles tratado;


b) o tema de cada um deles;
c) o ponto de vista de cada um deles;
d) a exemplificação escolhida pelos autores e a pertinência dela para o
ponto de vista de cada um.

8- As duas opiniões que aparecem nos textos dados são excludentes ou


podem ser conciliadas? Justifique.

9- Para desenvolver a proposta que antecede os textos de George Thom-


son e Hercule Granville, os estudantes poderiam assumir três pontos de
vista diferentes. Quais são eles?
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LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTO 113
10- Se você tivesse sido um candidatado da FUVEST-96, qual dos pontos
de vista você teria defendido?

11- Elabore um esquema de sua dissertação. O roteiro que segue é uma


sugestão de procedimento:

a) Introdução : apresentação do tema e do ponto de vista


Para descobrir seu ponto de vista, transforme o tema em pergunta e, em
seguida, responda à pergunta.

b) Desenvolvimento : apresentação dos argumentos


Para descobrir seus argumentos, indague por que você pensa desse modo:
Por que ... ?

Faça isso três vezes. As respostas obtidas serão os seus principais argu-
mentos.

c) Conclusão : considerações finais (retomada do tema e deduções


que se podem fazer dos argumentos)

Trabalhe com capricho. Este exercício é uma etapa importante para que
você produza textos cada vez melhores. As sugestões dadas aqui são vá-
lidas para outros tipos de trabalho de produção textual.

Para enriquecer esta proposta, sugiro a leitura do trecho


abaixo.

O mito e o mundo moderno

MOYERS: Por que mitos? Por que deveríamos importar-nos com os mitos?
O que eles têm a ver com minha vida?

CAMPBELL: Minha primeira resposta seria: “Vá em frente, viva a sua vida,
é uma boa vida – você não precisa de mitologia”. Não acredito que se
possa ter interesse por um assunto só porque alguém diz que isso é im-
portante. Acredito em ser capturado pelo assunto, de uma maneira ou de
outra. Mas você poderá descobrir que, com uma introdução apropriada, o
mito é capaz de capturá-lo. E então, o que ele poderá fazer por você, caso
o capture de fato?


Joseph Campbell. O poder do mito. Com Bill Moyers. Org.Betty Sue Flowers. Tradução
de Carlos Felipe Moisés. São Paulo:Associação Palas Athena, 1990.p.3-4. Apud Renato
Aquino. Interpretação de textos. 4ª ed. Niterói: Impetus, 2004.
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Um de nossos problemas, hoje em dia, é que não estamos familiarizados
com a literatura do espírito. Estamos interessados nas notícias do dia e nos
problemas do momento. Antigamente, o campus de uma universidade era
uma espécie de área hermeticamente fechada, onde as notícias do dia não
se chocavam com a atenção que você dedicava à vida interior, nem com
a magnífica herança humana que recebemos de nossa grande tradição
– Platão, Confúcio, o Buda, Goethe e outros que falam dos valores eternos,
que têm a ver com o centro de nossas vidas. Quando um dia você ficar
velho e, tendo as necessidades imediatas todas atendidas, então se voltar
para a vida interior, aí bem, se você não souber onde está ou o que é esse
centro, você vai sofrer.

As literaturas grega e latina e a Bíblia costumavam fazer parte da educa-


ção de toda gente. Tendo sido suprimidas, toda uma tradição de informa-
ção mitológica do Ocidente se perdeu. Muitas histórias se conservaram,
de hábito, na mente das pessoas. [...]

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