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Estrutura de Lewis
e Geometria Molecular...
...mas não necessariamente por essa ordem!
M Á RIO VA L E N T E * , H E L E NA MO RE IR A
Os alunos mostram frequentemente dificuldades na previ- prever a geometria molecular de uma molécula simples,
são de geometrias moleculares, até para moléculas muito envolvendo elementos representativos – constituida por
simples. Estas dificuldades estão, muitas vezes, ligadas um átomo central e vários átomos ou pares de electrões
com a determinação prévia da correspondente estrutura não partilhados em seu redor – e que serve de ponto de
de Lewis (ou da fórmula estrutural), que é usualmen- partida para a determinação posterior da correspondente
te tida como ponto de partida essencial para a referida fórmula estrutural da molécula, que auxiliará na previsão
previsão. Apresenta-se, neste artigo, um modo fácil de das ordens de ligação.
Introdução riféricos pode-se, com vantagem, inver- este se encontra no Quadro de Classifi-
ter o processo acima mencionado, de cação Periódica.
A geometria molecular é um parâmetro
forma a prever a geometria molecular e,
de importância fundamental para a pre- (2) Define-se qual o átomo central,
posteriormente, tomar o resultado como
visão da polaridade de uma molécula. que é, usualmente, o menos electrone-
ponto de partida para a determinção
Esta, por sua vez, permite inferir sobre o gativo (à excepção do hidrogénio que,
tipo e intensidade das interacções inter- da correspondente fórmula estrutural, em circunstâncias normais, não pode
moleculares que se podem estabelecer eliminando algumas das dificuldades ser o átomo central). Podem surgir di-
entre moléculas no composto puro, ou apresentadas pelos alunos. ficuldades quando todos os átomos são
com átomos, ou moléculas de outras iguais (por exemplo, no ozono, O3), e
substâncias. Contudo, a previsão da Previsão de geometrias então qualquer um deles poderá ser
geometria molecular, até de moléculas moleculares considerado o central e os outros serão
simples, representa frequentemente um periféricos, ou em algumas excepções
problema que muitos alunos do ensino A geometria de uma molécula pode ser (por exemplo, no óxido de dicloro, Cl2O)
secundário e, por vezes do superior, não determinada, de acordo com o método para as quais o átomo (ligeiramente)
conseguem superar [1, 2, 3]. Estas difi- proposto, da seguinte forma: mais electronegativo é o central.
culdades estão usualmente relacionadas
(1) Procede-se à contagem do número (3) Determina-se o número total de
com a suposta necessidade de determi-
total de electrões de valência presen- electrões dos átomos periféricos, con-
nar, previamente, a estrutura de Lewis
tes numa molécula, que corresponde ao siderando que têm a sua camada de va-
(ou a fórmula estrutural) para as molé-
número total dos electrões de valência lência completamente preenchida. Na
culas. De facto, é frequente em livros
dos átomos participantes, tendo, no en- prática, esta contagem resume-se sim-
de texto de todos os níveis, assumir-se
tanto, atenção à carga. Numa molécula plesmente a dois electrões para cada
que a previsão da geometria molecular
catiónica (por exemplo, no nitrónio, átomo de hidrogénio e oito electrões
é posterior à determinação da estrutura
NO2+), cada carga positiva corresponde para cada átomo de qualquer outro ele-
de Lewis. Ora, não é necessariamente
à saida de um electrão de valência, e mento.
assim [4]...
numa molécula aniónica (por exemplo, (4) Calcula-se o número de electrões
Para o caso de moléculas pequenas no nitrito, NO2¯), cada carga negativa não partilhados pertencentes ao átomo
(neutras ou iónicas), envolvendo ele- corresponde à entrada de um electrão central, que corresponde à diferença
mentos representativos, constituídas por
de valência na contagem. Este passo entre o número total de electrões de
um átomo central e vários átomos pe-
não é difícil de dominar pelos alunos, na valência presentes na molécula (deter-
medida em que se relaciona com facili- minado no primeiro passo) e o número
Colégio D. Duarte, Rua Visconde de Setúbal, 86,
Porto, 4200-497, Portugal
dade o número de electrões de valência total de electrões dos átomos periféricos,
(*E-mail: madmage1@yahoo.com) de cada átomo com o grupo em que se considerando que têm a sua camada
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de valência completamente preenchida Tabela 1 Geometrias adoptadas em função do número e tipo de domínios electrónicos que rodeiam
o átomo central (# DEL: n.º de domínios electrónicos ligantes; # DENL: n.º de domínios electrónicos
(determinado no terceiro passo).
não ligantes; # TDE: n.º total de domínios electrónicos).
Referências
-se ainda que se torna possível estimar temente da sua ordem formal) entre o Press (ed.), Oxónia, 1998; R. Chang,
ângulos de ligação a partir do número e átomo central e um átomo periférico, Química, 5.ª edição, McGraw Hill (ed.),
Lisboa, 1994
tipo de domínios ligantes e não ligantes como um domínio electrónico.
que rodeiam o átomo central. Ao longo 10. L. Suidan, J.K. Badenhoop, E.D. Glen-
2. A minimização das diferenças de
do processo o aluno vê-se confrontado denring e F. Weinhold, Journal of Che-
cargas formais entre os átomos nas es-
com a noção de carga formal e com a mical Education, 72 (1995) 583-586
truturas de Lewis (e fórmulas estrutu-
possibilidade de ocorrência de resso-
rais) tem sido considerada, em muitos 11. O.W. Curnow, Journal of Chemical Edu-
nância.
artigos [8] e livros de texto [9], como cation, 75 (1998) 910-915
A desvantagem deste método centra- originando representações mais pró-
-se na dificuldade da aplicação a mo- ximas da realidade da molécula. No
léculas com várias possibilidades de entanto, também há quem privilegie a
escolha para átomos centrais. Contudo, obediência à regra do octeto [10], ba-