Você está na página 1de 10

O PRINCÍPIO DA IGUALDADE NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA DE 1976 (...

) - Pedro Filipe Gomes Rodrigues

O princípio da igualdade na Consti-


tuição da República Portuguesa de
1976 – a concretização (?) do princí-
pio da igualdade na participação po-
lítica
The principle of equality in the Constitution of the Por-
tuguese Republic of 1976 - the implementation (?) of
the principle of equality in the politic participation
constitutional text, in the most diverse
Pedro Filipe Gomes Rodrigues areas.
Advogado/Jurista. Doutorando em Direito – Ciências Jurtídico Políticas
E-mail: pfgomesr@gmail.com The law of parity seeks – or intends – an
DOI: https://doi.org/10.34628/pcya-ry45 implementation of this principle in poli-
tical participation, and it must be ques-
Sumário: versidade de Lisboa. A Constituição por- tioned whether and to what extent such
Agradecimento. tuguesa define e estabelece o princípio da implementation takes place.
Nota Prévia. igualdade como princípio basilar do nosso Keywords: Fundamental rights; Equali-
1. Introdução. ordenamento, e a sua aplicação encontra- ty; Gender equality; Dignity of human
a. Escolha do tema. b. Delimitação do ob- -se repercutida ao longo do texto consti- person; political participation; Parity
jeto de estudo. tucional, nas mais diversas áreas. Law.
2. Uma questão de direitos fundamentais: A lei da paridade procura – ou pretende –
A dignidade da pessoa humana. uma concretização desse princípio na par-
3. O princípio da Igualdade. ticipação política, devendo questionar-se “Todos os seres humanos nascem livres e
a. Aproximação ao conceito. se e até que ponto tal concretização se iguais em dignidade e em direitos. Dota-
b. Nas Constituições portuguesas anterio- verifica. dos de razão e de consciência, devem agir
res à Constituição de 1976. uns para com os outros em espírito de fra-
c. Na Constituição da República Portu- Palavras-chave: Direitos fundamentais; ternidade.”
guesa de 1976. Igualdade; Igualdade de Género; Digni- Artigo 1.º da Declaração Universal dos
4.Concretização do Princípio da Igualdade dade da Pessoa Humana; participação Direitos Humanos
na participação política. política; Lei da Paridade.
a. A lei da paridade. “Todos os seres humanos nascem livres e
b. Concretização ou contradição. Abstract: This text reproduces the report iguais em dignidade e em direitos. Dota-
Conclusão. presented, for the purposes of final eva- dos de razão e de consciência, devem agir
Bibliografia. luation, at the I Post-Graduate Course in uns para com os outros em espírito de fra-
Equality Law, organized by the Private ternidade.”
Resumo: O presente texto reproduz na Law Research Center of the Faculty of Artigo 1.º da Declaração Universal dos
íntegra o relatório apresentado, para efei- Law of the University of Lisbon. The Direitos Humanos
tos de avaliação final, no I Pós-Gradua- Portuguese Constitution defines and es-
ção em Direito da Igualdade, organizado tablishes the principle of equality as the “Movements seeking to change the world
pelo Centro de Investigação em Direito basic principle of our legal system, and often begin by rewriting history, thereby
Privado da Faculdade de Direito da Uni- its application is reflected throughout the enabling people to reimagine the future.

POLIS nº 3 (II série) Janeiro / Junho 2021 83 |


O PRINCÍPIO DA IGUALDADE NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA DE 1976 (...) - Pedro Filipe Gomes Rodrigues

Whether you want workers to go on a ge-


neral strike, women to take possession of “E esta é a questão es- terística das pessoas (ainda que cultural e
não biológica), como um sistema de relacio-
their bodies, or oppressed minorities to
demand political rights – the first step is
sencial que, maiori- namento social que vai buscar chão definitó-
rio ao «pretexto» sexual (biológico), ou ain-
to retell their history. The new history will
explain that ‘our present situation is nei-
tariamente, tem sido da acentuando o seu traço de representação
simbólica de dominação (“desigualdade”).1
ther natural nor eternal. Things were di-
fferent once. Only string of chance events
ignorada nos deba- Uma outra questão a que a autora acima
citada faz referência, é a habitual identi-
created the unjust world we know today. If
we act wisely, we can change that world,
tes sobre questões de ficação de conceitos entre desigualdade e
diferença, quando se abordam questões de
and create a much better one.’ This is why igualdade: querer tor- género, sendo isso, nas palavras da autora,
Marxists recount the history of capita- um erro de princípio que inquina todo o res-
lism; why feminists study the formation nar tudo igual, todas tante raciocínio. Refere TERESA BELE-
of patriarchal societies; and why African ZA que “as palavras desigualdade e diferen-
Americans commemorate the horrors of as pessoas «iguais» ça são tomadas como sinónimos. Por isso se
the slave trade. They aim not to perpetuate diz que querer a igualdade e a diferença é
the past, but rather to be liberated from it.” faz com que não se contraditório.”2
In “Homo Deus – A Brief History of Continua a autora explicando que “a desi-
Tomorrow”, Yuval Noah Harari discuta ou questione gualdade é não mera dissemelhança, a mera
verdadeiramente a diferença, mas a hierarquia, a subordina-
ção. É exactamente esta característica da
Agradecimento criação de categorias “desigualdade” entre géneros – porventura
incindível da sua própria existência e con-
Num trabalho ou relatório de um curso de
pós-graduação não é habitual – do que te-
discriminatórias.” ceptualização – que escapa, por vezes, em
afirmações daquele tipo. O que está em causa
nho visto e feito – ter uma parte inicial de- não é tornar as pessoas iguais (no sentido de
dicada aos «agradecimentos», ao contrário questões de igualdade. semelhantes, isto é, não diferentes) mas des-
do que sucede com as dissertações de mes- Com relevância para o tema, importa dife- fazer a criação, em boa parte legal, de uma
trado e teses de doutoramento. renciar os conceitos de «sexo» e de «géne- hierarquia entre pessoas.”3 (negrito nosso)
Contudo, não podia deixar de iniciar este ro», dado que se trata de realidades diferen- E esta é a questão essencial que, maioritaria-
trabalho final com um reconhecido agra- tes. Acompanhando TERESA PIZARRO mente, tem sido ignorada nos debates sobre
decimento à Professora Doutora Marga- BELEZA, diremos que: questões de igualdade: querer tornar tudo
rida Silva Pereira, por quem tenho uma “Na distinção mais usual entre sexo e géne- igual, todas as pessoas «iguais» faz com que
admiração e respeito, pessoal, académico ro, sexo é um conceito referido à Biologia, não se discuta ou questione verdadeiramen-
e intelectual; a quem devo muito do meu descrito como qualidade natural conotada te a criação de categorias discriminatórias.
percurso académico no mundo do direito. com uma forma de reprodução sexuada, Este é o paradigma igualitário a que se refe-
Um agradecimento pelo convite e pelo de- própria de muitas espécies de seres vivos. re TERESA BELEZA, o qual não questiona
safio que me dirigiu, e que muito me hon- Na espécie humana, distingue homens de nem “problematiza a percepçção da diferença
rou, para participar neste primeiro curso mulheres, sendo qualquer ambiguidade ou como constitutiva dessa diferença.”4
de pós-graduação em direito da igualdade: indefinição neste campo considerada do Como refere a autora, que importa reter
cara Professora, minha mestre, orientadora foro patológico (…). para o presente trabalho – e com relevân-
e mentora, muito obrigado! Contraposto a “sexo”, o conceito de “gé-
nero”, palavra cujo uso se expandiu neste 1 TERESA PIZARRO BELEZA, “Direito das Mul-
Nota Prévia contexto em anos recentes por influência heres e da igualdade social – A construção jurídica das
da sociologia anglófona, correspondência à Relações de Género”, Almedina, 2010, p. 63.
Importa, antes de mais, e de modo a cla- construção social e cultural, historicamente 2 TERESA PIZARRO BELEZA, “Direito das Mul-
heres e da igualdade social – A construção jurídica das
rificar alguns aspetos de entendimento que contingente (e por isso mesmo susceptível Relações de Género”, Almedina, 2010, p. 88.
nos parecem relevantes para todo o desen- de alteração) de forma de comportamento 3 TERESA PIZARRO BELEZA, “Direito das Mul-
volvimento e compreensão do trabalho que e de identidade que são atribuídas como heres e da igualdade social – A construção jurídica das
a seguir apresentamos, esclarecer algumas apropriadas a pessoas de cada um dos dois Relações de Género”, Almedina, 2010, p. 88.
4 TERESA PIZARRO BELEZA, “Direito das Mul-
questões de princípio que temos como pres- sexos reconhecidos pelo Direito. heres e da igualdade social – A construção jurídica das
supostos da forma como olhamos para as O género pode ser descrito como uma carac- Relações de Género”, Almedina, 2010, p. 91.
| 84 POLIS nº 3 (II série) Janeiro / Junho 2021
O PRINCÍPIO DA IGUALDADE NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA DE 1976 (...) - Pedro Filipe Gomes Rodrigues

cia para todas as questões de igualdade – o inquietações: a de considerar que o ponto nossa resposta – à questão que colocamos
“preciso constantemente lembrar que o que nuclear – no sistema jurídico português – do no título do presente trabalho sobre se a lei
se opõe à igualdade não é a diferença, mas a princípio da igualdade (e, assim, do direito da paridade é uma concretização ou uma
hierarquia, a dominação”5. da igualdade) é a Constituição, Lei funda- violação do princípio da igualdade. Pode-
mental que contém em si a organização do mos adiantar, desde já, que temos uma rela-
1. Introdução nosso sistema social, político, económico e ção de amor-ódio com a mesma, e que pro-
judicial, que, depois, é concretizada nas di- curaremos explicar no ponto próprio.
É deveras preocupante que, na segunda dé- versas leis, de que a chamada lei das quotas
cada do século XXI, seja ainda necessário re- é um exemplo. Segui, assim, a premissa do 2. Uma questão de direitos fundamentais: A
visitar, pensar, e – principalmente – debater geral para o concreto. dignidade da pessoa humana
o princípio da igualdade. Mas não o é apenas
na sua atualidade e futuro. É-o, ainda, na sua b. Delimitação do objeto de estudo Existem direitos que são inerentes à própria
origem, na sua evolução, na sua (a meu ver, natureza humana, que a pessoa humana
óbvia) razão de ser. Na sua concretização. O presente trabalho pretende proceder a possui6 pelo simples facto de o ser. Alguns
uma análise do enquadramento jurídico- desses direitos, enraizados em princípios bá-
a. Escolha do tema -constitucional do princípio da igualdade, sicos e basilares, relevam para o tema que
partindo das suas raízes mais amplas no nos propomos tratar no presente trabalho,
A escolha do tema de um trabalho é, pro- princípio da dignidade da pessoa humana pelo que iremos agora tratar desses direitos
vavelmente, o ponto mais importante de – pedra angular do sistema constitucional e dos princípios em que se fundamentam,
qualquer trabalho académico; é ele que português, bem como fazer uma pequena uma vez que os direitos fundamentais – que
delimita o âmbito de trabalho e fornece as aproximação á lei da paridade, enquanto é disso que se trata – assentam em princí-
linhas orientadoras da investigação. Para sistema de quotas para a participação das pios que são, em si mesmos, universais, es-
mim tem sido, habitualmente, obvio, quase mulheres na vida política, questionando se tando o direito à igualdade – aqui em estu-
que tem sido o tema a escolher-me, mais do tal constitui uma concretização do princípio do – intimamente ligado com o princípio da
que eu a escolher o tema. da igualdade, ou se, pelo contrário, consti- dignidade da pessoa humana, constituindo,
Desta vez a escolha, ou melhor, a determi- tui uma violação dessa mesma igualdade. por isso, uma sua concretização.
nação do tema foi uma tarefa um pouco O princípio da igualdade tem sido frequen- No nosso ordenamento jurídico os direi-
mais complicada. Existiam duas áreas que temente utilizado pelo Tribunal Constitu- tos fundamentais (no que aqui importa
me despertavam muito interesse, e ambas, cional como suporte e fundamento das suas referimo-nos, essencialmente, aos direitos,
na minha humilde opinião, necessitavam decisões. Mas, por outro lado, por parte liberdades e garantias) encontram-se posi-
de ter sido mais desenvolvidas: a igualdade da doutrina tem sido – parece-me – enca- tivados, maioritariamente, na Constituição
na Constituição da República Portuguesa, rado como um dado adquirido, como algo da República Portuguesa (CRP), sendo es-
e a igualdade no direito penal. Mas havia, que está «arrumado» na Constituição sem tes direitos fundamentais universais e (ten-
igualmente, outra área que foi muito bem muito desenvolvimento e inovação nas dencialmente) absolutos por inerentes à
exposta e abordada na respetiva sessão e aproximações ao mesmo – basta vermos os própria natureza humana7. É, também, na
que me despertou interesse: igualdade e manuais de direito constitucional para che- CRP que encontramos indicados os princí-
quotas (esta com ligação á área de jurídico- garmos a essa conclusão.
-políticas, em que estou a fazer doutora- É preciso trazer o princípio da igualdade 6 O facto de possuir sabemos que não é sinónimo de
mento). Isto demorou a escolha do tema, para o centro do debate, e esse mérito é gozar desses direitos. O próprio direito da igualdade
é prova disso mesmo. A sua conquista é um processo
quase escolher entre dois amores. inteiramente atribuído a este curso de pós- contínuo.
Optei por deixar – por agora – a questão -graduação em Direito da Igualdade, que, 7 A Declaração Universal dos Direitos Humanos refere,
penal. Mas escolhi o caminho complicado de forma inovadora e inquietante, nos faz logo nos seus considerandos iniciais, que “Consideran-
– por isso mais desafiante (espero ser bem- pensar sobre o assunto, percebendo a sua do que, na Carta, os povos das Nações Unidas procla-
mam, de novo, a sua fé nos direitos fundamentais do
-sucedido) – de juntar duas áreas, a meu abrangência a todas as áreas do direito. homem, na dignidade e no valor da pessoa humana,
ver relacionadas: o direito da igualdade na Assim, para analisarmos o princípio da na igualdade de direitos dos homens e das mulheres e
Constituição da República Portuguesa e a igualdade na Constituição de 1976, faremos, se declararam resolvidos a favorecer o progresso social
como referido, uma abordagem do princípio e a instaurar melhores condições de vida dentro de
sua concretização na participação política. uma liberdade mais ampla.”
A escolha foi, assim, consequência de duas da dignidade da pessoa humana, para, de- E consagra no seu artigo 1.º que “Todos os seres hu-
pois, fazermos uma aproximação ao concei- manos nascem livres e iguais em dignidade e em di-
to inerente ao princípio da igualdade e ao reitos.” A liberdade e a igualdade entre todos os seres
5 TERESA PIZARRO BELEZA, “Direito das Mul- humanos são afirmadas, consagradas como os primei-
heres e da igualdade social – A construção jurídica das
respetivo enquadramento constitucional. ros dos direitos humanos, condição essencial de todos
Relações de Género”, Almedina, 2010, p. 95. Por fim, procuraremos dar uma resposta – a eles, inerentes ao nascimento.

POLIS nº 3 (II série) Janeiro / Junho 2021 85 |


O PRINCÍPIO DA IGUALDADE NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA DE 1976 (...) - Pedro Filipe Gomes Rodrigues

pios estruturantes do nosso sistema – jurí- da Constituição portuguesa: o princípio da princípio constitucional e como regra constitu-
dico e político – desde logo o princípio da dignidade da pessoa humana.”11 cional. Nesta última hipótese, à luz da praxis
dignidade da pessoa humana. Este é o princípio base e estruturante do constitucional, ela pode desempenhar e tem
Diz-nos JOSÉ CARLOS VIEIRA DE AN- qual decorrem e no qual se suportam os di- desempenhado um papel de critério último.
DRADE que “aquilo a que se chama ou que reitos fundamentais, que, ao mesmo tempo, Porém, o conteúdo da norma da dignidade
é lícito chamar direitos fundamentais pode, são consequência e dão consistência a esse da pessoa humana está, antes de mais, dis-
afinal, ser considerado por diversas perspe- princípio basilar. seminado por toda uma série de princípios,
tivas. De facto, os direitos fundamentais Como refere JOSÉ DE MELO ALEXAN- subprincípios e regras, desde logo, pelos di-
tanto podem ser vistos enquanto direitos DRINO, “A dignidade da pessoa humana reitos fundamentais e, em seguida, por toda
naturais – perspetiva filosófica ou jusna- encontra-se inscrita logo no artigo 1.º da a engenharia constitucional do Estado de
turalista; como podem ser referidos aos di- Constituição e no artigo 1.º da DUDH, é Direito preparada para a defender. Por essa
reitos mais importantes das pessoas, num reevocada algumas vezes [vejam-se os ar- razão, na generalidade das situações, o que
determinado tempo e lugar, isto é, num tigos 13.º, n,º 1, 26.º, n.º 2, ou 67.º, n.º 2, interessa apurar é se houve ou não violação
Estado concreto ou numa comunidade de alínea e), da CRP] e tem, ao longo de todo o desses princípios, subprincípios e regras, que
Estados – perspetiva estadual ou constitu- texto constitucional, múltiplos afloramen- gozam de uma preferência aplicativa que con-
cional; como ainda podem ser considerados tos directos (como nos artigos 24.º, 25.º ou some a norma da dignidade. (negrito nosso)14
direitos essenciais das pessoas num certo 26.º) e indirectos (na generalidade das nor- A dignidade da pessoa humana concretiza-
tempo, em todos os lugares ou, pelo menos, mas de direitos fundamentais e nas próprias -se, pois, através dos direitos fundamentais,
em grandes regiões do mundo – perspetiva normas sobre direitos fundamentais).12 razão pela qual se encontram estes “á cabe-
universalista ou internacionalista.”8 Embora se trate de um princípio de difícil ça” da lei fundamental.
Diz-nos a história que os direitos fundamen- definição e cujo conteúdo não é fácil de de- Assim, a dignidade da pessoa humana en-
tais remontam aos estoicos em cujas obras finir por não ser algo de estático, dir-se-á contra as suas raízes, ao nível do ordena-
já existiam referências a ideias de dignidade que a dignidade da pessoa humana “repre- mento jurídico interno, antes de mais, na
e de igualdade.9 senta uma síntese, dotada de elevado grau CRP, sendo este um princípio estruturante
Existem, assim, e isso parece ser pacífico de generalidade e abstração, dos principais de qualquer Estado dito civilizado.
(senão mesmo unânime) na doutrina, um desenvolvimentos teológicos, filosóficos, Estabelece o artigo 1.º da CRP que «Por-
núcleo restrito de direitos fundamentais aos ideológicos e teorético-políticos resultantes tugal é uma República soberana, baseada
quais é atribuída a qualidade de direitos na- da reflexão multisecular em torno da pes- na dignidade da pessoa humana e na von-
turais, sendo esse núcleo restrito aos “direi- soa e do significado que as suas capacida- tade popular e empenhada na construção
tos diretamente ligados à dignidade da pes- des, exigências e objetivos espirituais, mo- de uma sociedade livre, justa e solidária.»
soa humana e de que são paradigma figuras rais racionais, emocionais, físicos e sociais, (negrito e sublinhado nossos)
como o direito à vida, à integridade pessoal juntamente com as suas limitações e neces- Esta afirmação logo no início da nossa
ou à liberdade (física e de consciência).”10 sidades, devem assumir na conformação da Constituição tem, obviamente, implicações
Ora, “a consagração de um conjunto de di- comunidade política.”13 no modo de encarar a pessoa humana, de-
reitos fundamentais tem uma intenção es- Escreve JOSÉ DE MELO ALEXANDRI- vendo ter em conta o indivíduo enquanto
pecífica, que justifica a sua primariedade: NO, sobre a importância do princípio da dig- tal, no modo como este se perspetiva a si
explicitar uma ideia de Homem, decanta- nidade da pessoa humana, o seguinte: próprio e à sua vida.15
da pela consciência universal ao longo dos “Elemento que encima toda a ordem cons- A dignidade da pessoa humana, enquanto
tempos, enraizada na cultura dos homens titucional e não surgindo na Constituição princípio fundamental, conformador e orien-
que formam cada sociedade e recebida, por como direito fundamental, a dignidade da tador da República implica toda uma aten-
essa via, na constituição de cada Estado pessoa humana é susceptível de ser aperce-
concreto. Ideia de Homem que, no âmbito bida designadamente como valor ético, como 14 JOSÉ DE MELO ALEXANDRINO, “Direitos Fun-
da nossa cultura, se manifesta juridicamen- valor social, como valor constitucional, como damentais – Introdução Geral”, Princípia Editora,
Lda., 2007, pp. 61-62.
te num princípio e valor, que é o primeiro 15 Neste sentido J. J. GOMES CANOTILHO, “Direito
11 JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE, “Os Di- Constitucional e Teoria da Constituição”, 7ª edição,
8 JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE, “Os Di- reitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de Edições Almedina, Coimbra, 2003 – “O que é ou que
reitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976”, 3.ª edição, Edições Almedina, SA, 2007, p. 83. sentido tem uma República baseada na dignidade da
1976”, 3.ª edição, Edições Almedina, SA, 2007, p. 15. 12 JOSÉ DE MELO ALEXANDRINO, “Direitos Fun- pessoa humana? A resposta deve tomar em considera-
9 JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE, “Os Di- damentais – Introdução Geral”, Princípia Editora, ção o princípio material subjacente à ideia de dignida-
reitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de Lda., 2007, p. 60. de da pessoa humana. Trata-se do princípio antrópico
1976”, 3.ª edição, Edições Almedina, SA, 2007, p. 16. 13 JONATAS MENDES MACHADO, “Liberdade de que acolhe a ideia pré-moderna e moderna de dignitas-
10 JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE, “Os Di- Expressão – Dimensões Constitucionais da Esfera -hominis (Pico della Mirandola) ou seja, do indivíduo
reitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de Pública no Sistema Social”, Coimbra, 2002, pp. 358- conformador de si próprio e da sua vida segundo o seu
1976”, 3.ª edição, Edições Almedina, SA, 2007, p. 37. 359. próprio projecto espiritual (plstes et fictor).”
| 86 POLIS nº 3 (II série) Janeiro / Junho 2021
O PRINCÍPIO DA IGUALDADE NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA DE 1976 (...) - Pedro Filipe Gomes Rodrigues

ção no modo como se encara a pessoa huma- sobre Direitos Humanos. Também a Orga- Esta exigência é, atualmente, absolutamen-
na, e atribui responsabilidades especiais quer nização Internacional do Trabalho (“OIT”) te compreensível, pois – fora um pensamen-
por parte das entidades públicas quer das tem um papel fundamental neste âmbito to igualitário e igualitarista – que, por com-
entidades privadas no sentido da conforma- Como refere JOSÉ DE MELO ALEXAN- pleto nos afastamos – conceder tratamento
ção da vida de cada indivíduo e das presta- DRINO, “Para o Tribunal Constitucional igual ao que é intrinsecamente desigual po-
ções que sejam, em cada momento e em cada o princípio da igualdade é um valor consti- derá – ou será – em si mesma fonte de maio-
sociedade, exigidas para a realização física e tucional que modela todo o ordenamento res desigualdades, funcionando, desse modo,
espiritual dessas mesmas pessoas. jurídico, designadamente como critério de em sentido contrário do que se pretende:
Mas implica, igualmente, uma relação de interpretação desse ordenamento e da Cons- aumentaria as desigualdades em vez de fo-
duplo sentido, de reciprocidade dos próprios tituição (…)”16 mentar a igualdade. Há, pois, neste entendi-
indivíduos entre si para, cada um na sua me- Este princípio constitui, nas palavras de mento, uma dimensão material do conceito
dida, ser respeitador e conformador dessa JOSÉ DE MELO ALEXANDRINO, o de igualdade, através da qual se procura não
mesma dignidade, atribuindo a cada pessoa “principal eixo do sistema dos direitos. descurar elementos sociais, culturais e mes-
uma responsabilidade para com o outro. Talvez também por isso constitua um mo históricos, essenciais para uma total per-
Implica, também, como se referiu acima, e dos mais complexos problemas do direito ceção e compreensão da situação concreta
no que ao direito à igualdade diz diretamen- constitucional.”17 sobre a qual se pretende legislar.
te respeito, uma especial atenção por parte Trata-se, como referido, de um princípio Acompanhando MELO ALEXANDRINO
do Estado, enquanto legislador, de modo a constitucionalmente consagrado no artigo e VITAL MOREIRA, nas obras já citadas,
assegurar que, na elaboração das leis, não 13.º da CRP, onde se diz, no número um, que o princípio geral da igualdade, constitucio-
coloca em causa esta dignidade que se quer “todos os cidadãos têm a mesma dignidade nalmente consagrado, não é um direito das
assegurar com essas mesmas leis. Tal im- social e são iguais perante a lei.”, enuncian- pessoas, mas antes um dever do Estado de
plica que não sejam colocados em causa, do, assim, nesta norma, o “princípio geral especial fundamentação de todas as situa-
na própria lei – ou, indiretamente, através de igualdade, que a CRP logo associa à dig- ções que, havendo um fundamento mate-
da própria lei, pelos efeitos que causa – os nidade (a mesma dignidade social)”.18 rial, se verifique uma contradição – poten-
princípios e direitos através dias quais se dá Da norma constante do número do artigo cial ou real – com o princípio da igualdade.
conteúdo e forma a este princípio universal. 13.º, e continuando a acompanhar o mesmo Assim, do número um desta norma consti-
autor, “se pode deduzir a igualdade na apli- tucional retira-se a conclusão de que os ci-
3. O princípio da Igualdade cação do Direito e a igualdade na criação do dadãos têm o direito a tratamento igual na
Direito; no primeiro sentido, as normas de- criação do direito e na sua aplicação, pelo
a. Aproximação ao conceito vem ser interpretadas e aplicadas sem fazer que as leis devem – têm a obrigação consti-
distinções entre os destinatários – sem olhar tucional – defender todas as pessoas de igual
Decorrência direta – no nosso entendimen- às pessoas; no segundo, no seu conteúdo, a modo, e o direito deve ser interpretado e apli-
to – do princípio da dignidade da pessoa lei deve proteger todas as pessoas (equal pro- cado de igual modo a todos, sem distinção.
humana – a que nos referimos no ponto an- tection and benefit of the law) de forma in- Acrescenta, depois, no número dois da mes-
terior – é o princípio da igualdade, objeto trinsecamente igual.”19 ma norma, (alguns d)os critérios a ter em
direto de estudo no presente trabalho, cons- A evolução da interpretação deste conceito, conta e que constituem elemento identifi-
titucionalmente consagrado, e cuja invo- na criação do Direito, mas também, e prin- cador de discriminação proibida, entre os
cação tem sido frequente por parte do Tri- cipalmente, na sua criação, levou a que pas- quais se refere que ninguém pode ser benefi-
bunal Constitucional para fundamentação sasse a ser entendida a igualdade com uma ciado ou prejudicado em razão do sexo.
de muitas das suas decisões, afirmando-se, exigência de tratamento igual do que é igual Na verdade, esta número dois não proíbe
também desse modo, a relevância social, ju- e tratamento desigual do que é desigual. as discriminações de uma forma geral, mas
rídica, e mesmo política deste princípio. proíbe todas as discriminações que sejam
O preâmbulo da Carta das Nações Unidas, infundadas, constituindo os fatores indica-
16 JOSÉ DE MELO ALEXANDRINO, “Direitos Fun-
bem como o da Declaração Universal dos damentais – Introdução Geral”, Princípia Editora, dos na norma uma lista aberta de elementos
Direitos Humanos reconhecem que tanto Lda., 2007, p. 71. indiciadores de discriminação infundadas.
mulheres como homens são sujeitos de di- 17 JOSÉ DE MELO ALEXANDRINO, “Direitos Fun- Contudo, tratando-se, como se trata, de um
damentais – Introdução Geral”, Principia Editora, princípio geral, o mesmo cede perante leis
reitos e detentores de direitos iguais entre Lda., Estoril, 2007, p. 69.
si. Esses direitos foram mais tarde reforça- 18 JOSÉ DE MELO ALEXANDRINO, “Direitos Fun- especiais que estabeleçam uma diferencia-
dos pelos Pactos Internacionais das Nações damentais – Introdução Geral”, Princípia Editora, ção devidamente fundamentada e legítima.
Unidas sobre Direitos Civis e Políticos e Lda., 2007, p. 73. As categorias suspeitas, elencadas no núme-
19 JOSÉ DE MELO ALEXANDRINO, “Direitos Fun-
sobre Direitos sociais, Económicos e Cultu- damentais – Introdução Geral”, Princípia Editora,
ro dois do artigo 13.º. funcionam como uma
rais, bem como pela Conferência de Viena Lda., 2007, p. 73. presunção de que, estando perante uma
POLIS nº 3 (II série) Janeiro / Junho 2021 87 |
O PRINCÍPIO DA IGUALDADE NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA DE 1976 (...) - Pedro Filipe Gomes Rodrigues

daquelas categorias, estaremos, em princí- E continua a mesma autora defendendo que as causas, que pela sua natureza pertence-
pio, perante uma discriminação proibida, “(…) o Direito pode – deve, por responsa- rem a juízos particulares, na conformidade
funcionando, por isso, como parâmetro de bilidade histórica – ajudar a desfazer essas das leis.”. Também os artigos 12.º e 15.º da
interpretação das normas. hierarquias, não só proibindo tratamentos Constituição de 1822 consagram a igualda-
Importa salientar, como refere MELO discriminatórios inferiorizantes, mas so- de de «todos os portugueses».
ALEXANDRINO, que o artigo 13.º da bretudo obrigando as devidas instâncias Na Carta Constitucional de 1826, refere o
CRP, embora se encontre integrado na par- a tomar medidas que contrariem a real si- artigo 145.º, parágrafo 12., que «A lei será
te que a Constituição dedica aos direitos, tuação de inferioridade social: sejam elas a igual para todos (…)».
liberdades e garantias, não enuncia qual- introdução de “quotas” para a participação A Constituição de 1838 consagrava o princí-
quer direito fundamental. Enuncia, sim, política das mulheres ou dos imigrantes, a pio da igualdade no artigo 10.º, ao referir que
um princípio estruturante do Estado de Di- abertura de casas de abrigo para as vítimas «A lei é igual para todos», bem como, no arti-
reito, e que, por isso mesmo, é limite e fio de violência conjugal, a ajuda directa ou in- go 20.º, que «Ficam abolidos todos os privilé-
condutor da ação do Estado na proteção da directa às pessoas cuja idade ou deficiência gios que não forem essencialmente fundados
dignidade das pessoas. torna a satisfação de necessidades básicas em utilidade pública», consagrando assim a
Por entender ter relevo para o presente tra- problemáticas, ou, no plano mais directa- eliminação de formas de diferenciação não
balho, importa ter presente, principalmente mente relacionado com a questão económi- fundamentada entre pessoas. Referia, ainda,
no que à criação do direito diz respeito – por ca, a promoção de atribuição de bolsas de no artigo 30.º que «Todo o Cidadão pode ser
estar antes da interpretação e da aplicação do estudo a alunos mais carenciados.”21 admitido aos cargos públicos, sem mais dife-
direito, mas também por ser da criação (ou E este é um aspeto relevante para o presen- rença que a do talento, mérito e virtudes.»
da eliminação) de direito que aqui estamos a te trabalho, pois é um dado adquirido que - uma importante referência ao mérito, mes-
tratar – a noção de igualdade que a evolução homens e mulheres são intrinsecamente di- mo que o fosse apenas formal.
histórica (a que acima nos referimos) nos veio ferentes (embora haja já quem tente defen- Por sua vez, a Constituição de 1911 consa-
trazer, no sentido de tratar de modo igual o der o contrário) e, como tal, essas diferenças grava, de forma expressa, no número 2 do
que é intrinsecamente igual e de modo desi- devem ser tidas em conta por se repercuti- seu artigo 3.º que «A lei é igual para todos,
gual o que é intrinsecamente desigual. rem, necessariamente, nos comportamentos mas só obriga aquela que for promulgada
De modo certeiro escreveu TERESA PI- sociais que cada individuo adota. nos termos da Constituição.», e explicita-
ZARRO BELEZA que “Para além da ve- va, depois, no número 3, que «A República
rificação relativamente elementar de que b. Nas Constituições portuguesas anteriores Portuguesa não admite privilégio de nasci-
a igualdade declarada e até promovida na à Constituição de 1976 mento, nem foros de nobreza, extingue os
lei encontra inúmeros obstáculos na sua títulos nobiliárquicos e de conselho e bem
aplicação prática, há no entanto todo um O princípio da igualdade constitui, como assim as ordens honoríficas, com todas as
outro mundo de questões que só pode ser já referimos, um princípio estruturante do suas prerrogativas e regalias.»
compreendido – em rigor: pensado – se o pa- constitucionalismo, bem como do Estado de Por fim, a Constituição de 1933 consagrava,
radigma em que raciocinamos se alterar ao Direito, enquanto elemento essencial da li- no seu artigo 5.º, que «O Estado português
ponto de colocar as mulheres (ou a catego- berdade e da ideia de justiça, sendo estes ele- é uma República unitária e corporativa, ba-
ria socio-discursiva de género) no centro da mentos comuns dos direitos fundamentais. seada na igualdade dos cidadãos perante a
indagação jurídica, por um lado. Mas tam- Logo nas Bases da Constituição de lei, no livre acesso de todas as classes aos be-
bém se formos capazes de ver que, se o Di- 1821consta, no artigo 11.º, o princípio de nefícios da civilização e na interferência de
reito não controla definitiva ou isoladamen- que “a lei é igual para todos”, sendo que, todos os elementos estruturais da Nação na
te a vida social e os seus valores, também desde esse momento, em todas as Constitui- vida administrativa e na feitura das leis.»
não se limita, ao contrário do que se afirma ções portuguesas e na Carta Constitucional, É, assim, evidente que, em todos os tex-
com frequência, a plasmar em letra de lei as que se seguiram a esse documento, consa- tos constitucionais desde 1822, o princípio
conceções socialmente dominantes ou tidas graram o princípio da igualdade. da igualdade tem sido um elemento estru-
como tal. O Direito – as leis, a jurisprudên- Na Constituição de 1822 é afirmado, no ar- tural do sistema jurídico-constitucional
cia, as práticas jurídicas de variados níveis tigo 9.º, que “A lei é igual para todos. Não se português, que foi, depois, estruturado e
– tem (teve, historicamente) um papel cons- devem portanto tolerar privilégios do foro aprofundado na Constituição atual, com a
titutivo importante na produção discursiva nas causas cíveis ou crimes, nem comissões seguir se apresentará.
de uma hierarquia entre pessoas: homens/ especiais. Esta disposição não compreende
mulheres (…)”.20 c. Na Constituição da República Portugue-
Relações de Género”, Almedina, 2010, p. 61. sa de 1976
21 TERESA PIZARRO BELEZA, “Direito das Mul-
20 TERESA PIZARRO BELEZA, “Direito das Mul- heres e da igualdade social – A construção jurídica das
heres e da igualdade social – A construção jurídica das Relações de Género”, Almedina, 2010, pp. 61-62. A igualdade de género, ou seja, entre mulhe-
| 88 POLIS nº 3 (II série) Janeiro / Junho 2021
O PRINCÍPIO DA IGUALDADE NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA DE 1976 (...) - Pedro Filipe Gomes Rodrigues

res e homens (nos termos que acima ficaram ralidade dos deveres (embora saibamos que é liberdade de exercício associado da profissão,
expostos), corresponde a uma equiparação de comum invocar a igualdade para exigir o res- nos termos previstos no artigo 46.º.
direitos, liberdades, igualdade de oportunida- peito de direitos, mas já não para cumprir os Um caso específico desta liberdade de esco-
des, participação e valorização entre mulheres deveres inerentes à qualidade de cidadão). lha de profissão, e da imposição ao Estado
e homens, em diversos domínios (v.g. político, Acompanhando JORGE MIRANDA, na sua de ações específicas para a promoção da
económico, pessoal, familiar, laboral). constituição anotada, o princípio da igualda- igualdade neste campo, é a possibilidade de
De forma a garantir a plenitude deste prin- de assume uma vertente negativa, que proí- imposição de discriminações positivas em
cípio, torna-se necessária a sua regulação, be quaisquer privilégios e discriminações, e favor de um determinado sexo – em detri-
tanto a nível nacional como comunitário, uma vertente positiva, que abrange cinco mento do outro, menos representado – ou,
quer dum ponto de vista positivo – assente dimensões: o tratamento igual de situações por exemplo, o caso de quotas mínimas que
na igualdade de direitos e deveres – como iguais, o tratamento desigual de situações garantam o acesso a determinados grupos,
dum ponto de vista negativo – tendo por substancial e objetivamente desiguais, o tra- como sejam pessoas com deficiência.
base a proibição de discriminação. tamento das situações relativamente iguais Também o direito de sufrágio é, nos termos
Como ficou exposto no ponto anterior, o ou desiguais de acordo com o princípio da do artigo 49.º, universal para todos os cida-
princípio da igualdade tem sido uma pre- proporcionalidade, o tratamento das situa- dãos, consistindo numa concretização dos
sença constante nos textos constitucionais ções não apenas como existem mas como de- princípios da generalidade e da igualdade.
portugueses. vem existir e, finalmente, a consideração do O artigo 59.º reafirma o princípio da igual-
O texto da Constituição de 1976 começa princípio da igualdade não como uma “ilha”, dade – princípio fundamental – rejeitando
por consagrar, na alínea h) do número 1 do mas na sua relação com os valores e padrões qualquer discriminação em função da ida-
artigo 9.º, que foi introduzida pela sétima materiais da Constituição. de, sexo, raça, cidadania, território de ori-
revisão do texto constitucional, em 1997, A Constituição consagra, igualmente, o gem, religião, convicções políticas ou ideo-
que a promoção da igualdade entre homens princípio da igualdade na família, casamen- lógicas, relativamente a trabalhadores Esta
e mulheres é uma tarefa fundamental do to e filiação, ao estabelecer, no número 3 do norma fixa um conjunto de direitos dos
Estado, habilitando, assim, constitucional- artigo 36.º, a igualdade entre os cônjuges, trabalhadores, relevantes na promoção da
mente os poderes públicos a adotar políticas estabelecendo aqui uma especificidade da igualdade de género, nomeadamente a de-
de discriminação positiva – como é o caso igualdade de direitos e deveres entre homens finição do princípio «trabalho iguala salário
da lei paridade, a chamada lei das quotas e mulheres. A adoção do princípio da igual- igual», bem como a conciliação entre a vida
– com o objetivo de concretizar a igualdade dade dos cônjuges, logo na Constituição de profissional e familiar.
entre homens e mulheres. Compete, assim, 1976, impõe o princípio da direção conjunta A norma constante do artigo 59.º determi-
ao Estado promover a igualdade, enquan- da família e rompe com a discriminação das na, impõe, a criação de condições que ga-
to princípio geral, mas também a igualda- mulheres na esfera familiar na Constituição rantam a igualdade de oportunidades, par-
de concreta entre homens e mulheres, não de 1933 – alteração que implicou, depois, ticularmente relativamente às mulheres.
só perante a lei – igualdade formal – mas alterações profundas em diversa legislação Também relativamente à família, a Consti-
igualdade concreta, real. ordinária, como seja o Código Civil de 1966. tuição faz marcar presença o princípio da
Através desta norma do artigo 9.º, a cons- Do mesmo modo, o princípio da igualdade igualdade, ao estabelecer no artigo 67,ç,
tituição impõe ao Estado a eliminação das tem «ramificações» na liberdade de escolha especificamente no número dois, algumas
desigualdades materiais e formais através da profissão e acesso à função pública, nos bases de políticas públicas que têm como
de ações concretas. Mas também limita a termos estabelecidos no artigo 46.º da CRP, objetivo a promoção da igualdade de géne-
atuação do Estado, fazendo depender a ao definir o direito a “(…) escolher livre- ro, como seja a criação e o acesso a uma rede
validade dos seus atos do respeito por este mente a profissão ou o género de trabalho nacional de creches e de outros equipamen-
princípio da igualdade. (…)”, proibindo, assim, a discriminações – tos de apoio à família; a incumbência do Es-
O artigo 13.º da Constituição, a lei funda- legais – no acesso às diferentes profissões. tado de assegurar o direito ao planeamento
mental consagra, aqui de forma expressa, o A liberdade de escolha da profissão tem ne- familiar e à promoção do exercício da ma-
princípio da igualdade, tendo como suporte cessárias implicações noutras liberdades, ternidade e paternidade responsáveis; e, por
e fundamento a igual dignidade de todos os como seja a liberdade de aprender para obter fim, a definição como objetivo a promoção
cidadãos. Está, assim, ancorada a igualda- as habilitações literárias necessárias ao exer- da conciliação da vida familiar e profissio-
de na dignidade das pessoas – como atrás cício da profissão pretendida, prevista no ar- nal, bem como a possibilidade de discrimi-
tivemos oportunidade de analisar. tigo 43.º, a liberdade de deslocação e residên- nações positivas a favor da família.
Também neste artigo, no número dois, se cia no território nacional, prevista no número O princípio da igualdade c encontra-se,
traduz a regra da generalidade de direitos e um do artigo 44.º, a liberdade de emigração igualmente, consagrado relativamente á
imposição de deveres, isto é, atribui a todos a – prevista no número dois do artigo 44.º -, a igualdade dos pais e das mães, nos termos
generalidade de direitos, mas também a gene- liberdade de escolha do local de trabalho e a do artigo 68.º, numa decorrência direta do
POLIS nº 3 (II série) Janeiro / Junho 2021 89 |
O PRINCÍPIO DA IGUALDADE NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA DE 1976 (...) - Pedro Filipe Gomes Rodrigues

princípio da igualdade entre homens e mu- “Tendo presente que as mulheres consti- proposta em 1998, que visava uma maior
lheres, estabelecida no número dois do arti- tuem mais de metade da população e do igualdade de sexos nas listas apresentadas às
go 13.º, a que já nos referimos atrás. É atri- eleitorado nos Estados membros mas con- eleições legislativas e europeias, tendo sido
buída ao Estado – e à sociedade em geral tinuam a estar seriamente sub-representa- chumbada por parte do Parlamento. Dois
– a obrigação constitucional de proteção, das na tomada de decisão política e pública grandes argumentos foram apresentados:
em igualdade, dos pais e das mães, na sua em grande número dos Estados membros; um deles (a nosso ver o mais relevante) foi
relação com os filhos. Tendo presente que, não obstante a exis- de que a paridade deveria ser alcançada sim,
Por fim, a Constituição estabelece, no artigo tência de igualdade de jure, a distribui- mas através do mérito, e não através da im-
109.º, relativamente á participação política ção do poder, responsabilidades e acesso posição de quotas. Um outro argumento foi
dos cidadãos, uma imposição da promoção, a recursos económicos, sociais e culturais que a imposição de quotas, com o pretexto
por parte do Estado, da participação das entre mulheres e homens é ainda muito de eliminar uma desigualdade criaria outras.
mulheres e dos homens no exercício dos di- desigual, devido à persistência de modelos Em 2006 o Parlamento volta a debater a
reitos políticos e cívicos, bem como a obri- tradicionais na repartição de papéis; questão da paridade, tendo sido, então,
gação de não discriminação em função do Consciente de que o funcionamento dos apresentadas três propostas legislativas,
sexo no acesso aos cargos públicos. Este ar- sistemas eleitorais e das instituições po- acabando, por ser, então, aprovada a Lei da
tigo vem incluir o conceito de direitos cívi- líticas, incluindo os partidos políticos, Paridade acima identificada.
cos – a par dos direitos políticos – alargando pode gerar obstáculos à participação das De acordo com a Lei da Paridade, todas as
o âmbito de aplicação deste artigo 109.º, e, mulheres na vida política e pública; listas de candidaturas apresentadas à As-
assim, a possibilidade de fundamentação, Considerando que a participação equilibra- sembleia da República para o Parlamento
por parte do Estado, de medidas de discri- da das mulheres e dos homens na tomada de Europeu e para as autarquias terão de ser
minação positiva. decisão política e pública é parte integrante compostas de modo a promover a parida-
Verifica-se, assim, uma evolução clara no dos direitos da pessoa humana, representa de entre homens e mulheres. Na sua versão
princípio da igualdade, através da inclusão, um elemento de justiça social e uma condi- inicial, entendia-se por paridade a repre-
ou previsão de medidas de discriminação ção necessária para o melhor funcionamen- sentação mínima de 33,3%de cada sexo nas
positiva, passando-se de uma igualdade que to de uma sociedade democrática; listas, sendo que, na sua redação atual, nos
não aceita qualquer tipo de discriminação, (…) termos do n.º 1 do artigo 2.º, entende-se por
para um princípio da igualdade que utili- paridade a representação mínima de 40%
za as discriminações ao serviço da defesa Considerando que, no próprio interesse da de cada um dos sexos. Verificou-se, assim,
dessa mesma igualdade. Entra aqui, como democracia não é mais possível ignorar a uma evolução no sentido de aumentar a
defendeu TERESA BELEZA no texto que competência, capacidades e criatividade existência de igualdade na representação de
citámos no início – o conceito de combate à das mulheres e que, por outro lado, é preci- cada um dos sexos.
desigualdade enquanto hierarquização, e já so tomar em conta a perspectiva de género A lei estabelece, no n.º 2 do mesmo artigo
não enquanto diferença. e incluir mulheres de diferentes estratos e 2.º, que, para cumprimento da regra da pari-
A seguir analisaremos uma das medidas de idades na tomada de decisão política e pú- dade, não podem ser colocados mais de dois
discriminação positiva, procurando perce- blica a todos os níveis;” candidatos do mesmo sexo, consecutivamen-
ber se estamos, ou não, perante uma con- E, de seguida, recomendava aos Estados te, na ordenação de cada uma das listas.
cretização do princípio da igualdade. Membros “que se comprometam a promo-
ver uma participação equilibrada de mulhe- b. Concretização ou contradição
4. Concretização do Princípio da Igualdade res e homens reconhecendo publicamente
na participação política que uma partilha igual do poder de decisão Como ficou demonstrado em cima, foram re-
entre mulheres e homens de diferentes es- movidas as barreiras formais que poderiam
a. A lei da paridade tratos e idades fortalece a democracia.” existir para a real concretização da igualdade
Em cumprimento desta recomendação, o de oportunidades entre homens e mulheres,
Em 12 de março de 2003, o Comité de Mi- Estado português aprovou a «Lei da Pari- sendo claro, contudo, que tal não produziu
nistros do Conselho da Europa adotava dade nos Órgãos Colegiais Representativos os objetivos pretendidos, tendo-se verificado,
uma recomendação aos Estados Membros do Poder Político» (a seguir abreviadamen- então discriminação onde essas barreiras for-
sobre participação equilibrada de mulheres te» Lei da paridade»), através da Lei Orgâ- mais forma eliminadas. Por esse motivo tem
e homens na tomada de decisão política e nica n.º 3/2006, de 21 de agosto, que tem a sido referido que é necessário, além da garan-
pública. sua redação atual dada pela Lei Orgânica tia formal de igualdade de oportunidades,
Essa recomendação começava por afirmar n.º 1/2019, de 29 de março. uma garantia de alcançar essa igualdade na
que: Contudo a aprovação desta lei não linear prática, sendo nesse contexto que são avan-
nem pacífica, tendo tido a sua primeira çadas medidas de ação afirmativa, sendo o
| 90 POLIS nº 3 (II série) Janeiro / Junho 2021
O PRINCÍPIO DA IGUALDADE NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA DE 1976 (...) - Pedro Filipe Gomes Rodrigues

sistema de quotas, nas suas diferentes apro-


ximações ao problema, a medida mais usual “ Considerando que, rido alguém, homem ou mulher, com o curri-
culum melhor, mais adequado a determinada
(de discriminação positiva).
O sistema português foi construído de for-
apesar da eliminação função, pelo simples facto de ser homem ou
mulher, temos sérias dúvidas de tal não po-
ma neutra, estabelecendo um mínimo para
cada sexo, procurando, deste modo, contor-
das barreiras for- der ser entendido como uma discriminação
infundada, nos termos do artigo 13.º da CRP.
nar o argumento de estas medidas serem
discriminatórias para os homens. Este ar-
mais à igualdade Embora seja compreensível a razão de ser
e a necessidade – transitória – de uma lei
gumento, na nossa opinião – embora pos-
sa vir a ser válido – não será o verdadeiro
de oportunidades da paridade, parece-nos que, ainda assim,
em termos legais, em termos jurídicos não
argumento contra esta medida. e a revogação das podemos deixar de considerar que estamos
perante uma contradição, mais que uma
Na nossa opinião, qualquer medida de dis-
criminação positiva, no caso concreto o es- discriminações opera- concretização do princípio da igualdade.
tabelecimento de quotas para o exercício do A dignidade da pessoa humana é, em si
direito de participação política, tem em si da pela CRP, tal não mesma, o único e bastante argumento para
mesmas contradições genéticas. defender qualquer situação de desigualda-
A primeira é facilmente percetível. Para se se verificou bastante de. Sabemos hoje que são mais as mulheres
procurar eliminar uma discriminação recor- com melhores e mais elevadas qualificações
re-se a outra, com o risco de, não sendo esta para a materialização – académicas e profissionais. Sabemos que
discriminação – positiva – definida com re-
gras de controlo eficazes e temporárias, per- da igualdade – não esse tem sido um caminho lento, mas que,
pelo mérito, sem quotas, as mulheres se
petuar uma medida que possa já não fazer
sentido, e esteja, isso sim, a limitar o funcio- hierarquização – entre afirmaram na vida académica, o mesmo de-
vendo suceder em todos os demais campos,
namento da democracia.
A segunda contradição encontra-se no facto
homens e mulheres, como seja a participação política.

de, com o objetivo de fomentar a participa-


ção política das mulheres, de criar igualda-
podemos concluir ser Conclusão

de de oportunidades de acesso a órgãos de


decisão política, estamos a limitar a liber-
compreensível a razão No presente trabalho pretendemos proce-
der a uma análise do enquadramento jurí-
dade de escolha, forçando o exercício de um
direito. Estamos a violar o princípio demo-
de ser e a invocada ne- dico-constitucional do princípio da igualda-
de, partindo das suas raízes mais amplas no
crático da liberdade de exercício e de esco-
lha, dando preferência às mulheres forçan-
cessidade de uma lei princípio da dignidade da pessoa humana,
bem como fazer uma pequena aproxima-
do a sua inclusão. da paridade.” ção á lei da paridade, enquanto sistema de
Mas, na nossa opinião, o argumento mais quotas para a participação das mulheres na
sério – e que afeta a própria dignidade da vida política, questionando se tal constitui
pessoa humana, a que acima nos referimos dade da mulher que fica colocada em causa. uma concretização do princípio da igualda-
– é o facto de se preterir o mérito face ao gé- Parece-nos, pois, eventualmente em total de, ou se, pelo contrário, constitui uma vio-
nero, violando o princípio da igualdade (que contra corrente com o pensamento maioritá- lação dessa mesma igualdade
se pretende defender), violando o princípio rio, que uma qualquer discriminação positiva Não há como duvidar que a Constituição da
da dignidade da pessoa humana assumindo não deixa de ser uma discriminação, que tem República Portuguesa teve e tem um papel
o risco de estar a optar – por imposição legal de ser sempre combatida. A defesa da igual- fundamental, na promoção da igualdade de
– pela inclusão em listas de candidaturas de dade deve, obviamente, ser defendida, prote- género e das políticas públicas desta área,
pessoas que poderiam ou não delas constar. gida, promovida, mas não a todo o custo. promovendo a eliminação de barreiras for-
A lei da paridade – por mais justa e necessá- Se a Lei da paridade tivesse, por exemplo, mais à igualdade de oportunidades.
ria que seja a razão da sua existência, e disso previsto que, em caso de igual mérito, em si- A aprovação da Constituição de 1976 consti-
não se duvida – marca sempre com o selo da tuações de curricula iguais, deverá ser dada tuiu o primeiro grande momento, com a re-
dúvida se determinada pessoa – no caso de- preferência à mulher até que se atinja uma vogação da discriminação que, na vigência da
terminada mulher – foi incluída na lista por- situação de igualdade. Numa tal situação Constituição de 1933, na família, no acesso ao
que tinha mérito e curriculum para a função essa seria uma boa opção para combater a emprego e às profissões, no acesso à educação,
ou se, pelo contrário, o foi por ser mulher e a desigualdade – no sentido de hierarquização, na participação cívica e política, depois apro-
lei a isso obrigava. É, pois, a própria digni- apontado por Teresa Beleza. Agora ser prete- fundado em cada revisão constitucional.
POLIS nº 3 (II série) Janeiro / Junho 2021 91 |
O PRINCÍPIO DA IGUALDADE NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA PORTUGUESA DE 1976 (...) - Pedro Filipe Gomes Rodrigues

Considerando que, apesar da eliminação das BELEZA, TERESA PIZARRO, A mulher lho, Volume III, Direitos e Interconstitu-
barreiras formais à igualdade de oportuni- no código penal de 1982, in «Colectânea de cionalidade: entre Dignidade e Cosmopoli-
dades e a revogação das discriminações ope- textos de parte especial do direito penal», tismo, Coimbra Editora, Coimbra, 2012.
rada pela CRP, tal não se verificou bastante AAFDL, Lisboa, 2008.
para a materialização da igualdade – não MIRANDA, JORGE/MEDEIROS, RUI,
hierarquização – entre homens e mulheres, ___________________________, Direito Constituição Portuguesa Anotada, Tomo I,
podemos concluir ser compreensível a razão das mulheres e da igualdade social – A cons- Coimbra, Coimbra Editora, 2005.
de ser e a invocada necessidade de uma lei trução Jurídica das Relações de Género, Al-
da paridade. Contudo, parece-nos que, ainda medina, Coimbra, 2010. MIRANDA, JORGE, Manual de Direito
assim, em termos legais, em termos jurídicos Constitucional – Direitos Fundamentais,
não podemos deixar de considerar que esta- CANOTILHO, J. J. GOMES / MOREIRA, Tomo IV, 5ª edição, Coimbra, Coimbra Edi-
mos perante uma contradição, mais que uma VITAL, Constituição da República Portu- tora, 2012.
concretização do princípio da igualdade. guesa Anotada, Artigos 1º a 107º, Volume I,
A dignidade da pessoa humana é, em si 4ª Edição revista, Coimbra Editora, Coim- MIRANDA, JORGE, As Constituições
mesma, o único e bastante argumento para bra, 2007. Portuguesas, de 1822 ao texto actual da
defender qualquer situação de desigualda- Constituição, 5.ª edição, Livraria Petrony,
de. Sabemos hoje que são mais as mulheres CANOTILHO, J. J. GOMES, Direito cons- 2004.
com melhores e mais elevadas qualificações titucional e Teoria da Constituição, 7ª edi-
– académicas e profissionais. Sabemos que ção, Coimbra, Almedina, 2003. NOVAIS, JORGE REIS, As Restrições aos
esse tem sido um caminho lento, mas que, Direitos Fundamentais não expressamente
pelo mérito, sem quotas, as mulheres se GARCIA, MARIA GLÓRIA F. P. D., Estu- autorizadas pela Constituição, Coimbra,
afirmaram na vida académica, o mesmo de- dos sobre o princípio da igualdade, Coim- Coimbra Editora, 2003.
vendo suceder em todos os demais campos, bra, Almedina, 2005.
como seja a participação política. NOVAIS, JORGE REIS, Os Princípios
Constitucionais estruturantes da Repúbli-
GOUVEIA, JORGE BACELAR, Manual ca Portuguesa, Coimbra, Coimbra Editora,
Bibliografia de Direito Constitucional, 4.ª edição, revis- 2011.
ta e atualizada, Volume II, Coimbra, Alme-
ALEXANDRINO, JOSÉ DE MELO, Dire- dina, 2011. PINTO, EDUARDO CRUZ/ ALBUQUER-
tos fundamentais: Introdução Geral, Prin- QUE, MARTIM EDUARDO CORTE
cipia Editora, Lda, Estoril, 2007. HARARI, Yuval Noah, “Homo Deus – A REAL DE, Da Igualdade – Introdução à
Brief History of Tomorrow”, Vintage, Pen- Jurisprudência, Coimbra, Almedina, 1993.
ALEXY, ROBERT, (traduzido por Virgílio guin Random House, London, 2016.
Afonso da Silva), Teoria dos Direitos Fun- SOUSA, MARCELO REBELO DE/ALE-
damentais, 2.ª edição, s/l, Malheiros Edito- HESPANHA, ANTÓNIO MANUEL, Ca- XANDRINO, JOSÉ DE MELO, Constitui-
res, 2011. leidoscópio do Direito. O Direito e a Justiça ção da República Portuguesa Comentada,
nos dias e no mundo de hoje, 2ª edição, ree- Lisboa. Lex, 2000.
AMARAL, MARIA LÚCIA, A Forma da laborada, Coimbra, Almedina, 2009.
República. Uma introdução ao estudo do TELLES, INOCÊNCIO GALVÃO, Intro-
direito constitucional, Coimbra, Coimbra KELSEN, HANS, A Justiça e o Direito Na- dução ao estudo do Direito, 11ª edição, Vo-
Editora, 2005. tural, tradução de João Baptista Machado, lume I, Coimbra, Coimbra Editora, 2010.
Almedina, Coimbra, 2009.
____________________, «O Princípio da www.dgsi.pt
Igualdade na constituição Portuguesa», in MACHADO, JONATAS MENDES, Liber-
Estudos em Homenagem ao Professor Dou- dade de Expressão – Dimensões Constitu-
tor Armando M. Guedes, Coimbra, Coim- cionais da Esfera Púbica no Sistema Social,
bra Editora, 2004. Coimbra, 2002.

ANDRADE, JOSÉ CARLOS VIEIRA MELO, HELENA PEREIRA DE, O geno-


DE, Os Direitos Fundamentais na Consti- ma humano e o direito: determinismo vs.
tuição Portuguesa de 1976, 3ª edição, Edi- Liberdade” in Estudos de Homenagem ao
ções Almedina, SA, 2007. Prof. Doutor José Joaquim Gomes Canoti-
| 92 POLIS nº 3 (II série) Janeiro / Junho 2021

Você também pode gostar