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Convêm ter em conta amda que essa ordena de forma contràna a um bem que
realidade estâ conectada com a noçâo de eticamente não pode ser afetado de ne
poder, visto quepoder e Direito se pressu nhum modo.7
põem reciprocamente, como numa relação O conjunto ou sistema de normas jurí
de causa e efeito. Isso significa: o poder dicas vigentes em determinada sociedade
soberano estatal tem o monopólio do uso dá lugar ao ordenamento jurídico. Por
legitimo e organizado da força através ou
sistema jurídico se entende um complexo
por meio do Direito {poder coercitivo),6
normativo dinâmico, portadorde coerência
Todavia, vincula-se também â ideia de e unidade, ou, no dizer de Bobbio, “uma
proteção aos direitos fundamentais. A nor- totalidade ordenada, um conjunto de entes
majuridica emanada do poder competente entte os quais existe certa ordem” 8Cotn-
deve ter como pnmazia a garantia do res põe-se de estrutura (relação hierárquica)
peito marredãvel aos direitos individuais e repertório (elementos normativos ou
e sociais fundamentais do homem. normas jurídicas).9
Reafirma-se a noçâo do Direito como Trata-se, portanto, de umcorpoou grupo
objeto cukurai, histõnco e socialmente de elementos, de entidades, relacionados10
situado, pleno de significado ( = referência entre si, ou seja, que formam parte e inte
axio lógica),pertencente à ética mtersubje-
ragem no contexto de um todo ordenado
tiva, de cunho normativo jurídico.
hierarquicamente (relações de subordina
Como ordem jurídica, é importante ção e coordenação).11Como sistema geral,
fator de estabilidade e de harmonia nas
relações sociais, enquanto soluciona os 7. Cf. Wpi-ZEl, H. Derecho natural y positivism o
conflitos individuais e sociais, impondo, ju ríd ico. In: Est údi os àe Fi l o so f i a de Derecho
por assim dizer, uma ratio à própria reali y Derecho Penal, p. 198-199.
8. Bobbio, N . Teona do ordenamento j u r íd i c o , p.
dade humana.
71.
Nessa linha de pensar, a tarefa primor 9. Assinou FerhazJúnior, T. S. Conceit o de sisiema
dial e de maior relevância da lei positiva no Direit o, p. 7ess.: Idem. Introdução ao estado
ê de superar e conter a ameaça latente de do Di re i t o, p. 163 e ss.
luta de todos contra todos, propiciando 10. O orden a m en to tem caráter rela cion ai e
uma ordem que assegure a vida e a con disciplina a relação dos h om ens com seus
semelhantes, e com as coisas. Ássim , já em
vivência de todos os homens. Justamente
Tomás DEÁqujNo-oíiáonon csí sui?$rantia, sed
porque dá íugara uma ordem que conserva
r e i a t ío -(S u m tn a Th eolõgica, i, 1 1 6 ,2 ).
a existência, è que obnga, 11. A r e ía ç io d e coordenação significa que “ a
O Direito é ao mesmo tempo poder introdu ção de uma nova norm a m odifica
protetor e valor obrigatório, sendo que todo o sistem a e, de sua v e z, cada norm a
extrai seu significado de sua relação com as
como poder coage e como valor obnga.
demais normas d o ordenam ento" e a relação
Tão somente o valor pode obngar e o faz
desubordinação querctízerque “asnormasde
em termos éticos. A força obrigatória da um oídenamemoitâoestãodispostas somente
lei jurídica termina no momento em que d e m odo horizontal sobre um m esm o piano
em relação d e coordenação recíproca, mas
6. Baiaaímnaçãodeque “o Diratoeuin sistema estão dispostas também verticalm en te em
de força, um sistema cuja singularidade con um aielação deprogressiva subordinação, de
siste era poder assegurar o cumprimento de forma quecadanorraa obtêm sua validade de
suas normas mediante a força, precisamente uma outra norm a d e m v d (ou grau) superior
porque ele mesmo é expressão de uma força até alcançar a norm a fundam entai que dá
cujo uso regula* CPr j e t o Sanc h ís . I_ Ápuníes validade a todo ordenamento e lh e confere
àe t eor i a àcl Derecho, p. 17). unidade” (L u mia , G., op. a t., p. 55-56).
C u r s o d e D i r e i t o P e n a l B r a s i l e i r o ° L u i z R eg i s P r a d o
seus elementos têm carater dinâmico12 e tmdo do conteúdo das simples normas
interdependente, sendo dotado de umdade. com a finalidade de construir conceitos
coerência e completude relativas. Isso não sempre mais gerais, e classificações ou
infirma que cada seior ou ramo do Direito divisões da matéria inteira” e, no terceiro
tenha suasprôpras peculiaridades, variáveis significado, sistema tem a ver com coe
segundo a maior ou menor especificidade xistência, com compatibilidade, wdiz-se
do objeto ou da gnósea.13 que um ordenamento jurídico constitui
Então, segundo o enfatizado, o sistema um sistema porque não podem coexísnr
nele normas incompatíveis” 15
jurídico e uma forma de disciplinar a vida
no seio do grupo social —ou a utilização Fica patente assim que o Direito se
de meios racionais para captar e traduzir desenvolve equilibrando uma exigência
a unidade e a ordenação da experiência de ordem sistemática (elaboração de um
social14 em um pais e em determinado ordenamento juridico) c outra de cunho
momento histónco, afirmando-se aposi- pragmático (busca desoluçõessocialmente
tividade do Direito como fator básico da justas e aceitáveis). Tem ele uma função
segurançajurídica e do Estado de Direito. social a ser cumprida, não podendo ser
Esclareça-se que na linguagem jurídica, concebido, de modo realista, sem referência
ã sociedade que deve reger.16
sistema é tido como sinônimo de orde
namento jurídico. Costuma-se alinhar O sentido das aludidas umdade e coe
três significados para o termo sistema: rência sistemáticas consiste no fato de que
na primeira acepção, que se baseia no todo ordenamento jurídico esteja infor
sistema dedutivo, “diz-se que um dado mado pela ideia de fim comum, ou seja, a
ordenamento è um sistema enquanto todas realização ou a asseguração dedeterminado
as normasjurídicas daquele ordenamento estado social.17
são denvãveis de alguns princípios gerais Com efeito, o ordenamento jurídico
(ditos ‘princípios gerais do Direito'), con deve ser a representação legal-formal de
siderados da mesma maneira que os pos um conjunto de valores inerentes a deter
tulados de um sistema científico”; numa minada sociedade, num período histónco
segunda, sistema é usado “para indicar e em certo espaço geográfico.
um ordenamento da matem, realizado É exatamenteessabaseaxaoiõgica quelhe
através do processo mdutivo, isto é, par- dá a imprescindível legitimidade, sua razão
deser. Não existe como um fimem si mesmo,
12. Para a noção dcsistem a estático cdeststem a mas para a consecução de valores essenciais
dinüm ico. vid e Khlsen, H . Teoria p u r a ào
ao homem e ksociedade (v.g. Justiça. digni
Di r r i t o , p. Iõ3-264e 267-374, respectivamen
te; Bosato, N . Te o n a ào ordenamento j u r i à i c o ,
dade humana, liberdade, igualdade).
p. 71-72.
13. Ainda que a ídeia de sistema ju ríd ico seja 1. C o n c e r to , fu n ç õ e s e c a r a c te re s
resultado da atividade â o legislador racionai,
não cabe identificá-lo more geomct ricc com O Direito Penal ê o setor ou parcela do
sistema lógico-Xormai. N o cam po do D ireito ordenamentojuridico público que estabe-
im peraalõgka mat erial, impregnada de dados
axioíógicos edenatm esa flexível {v.g., íògica 15. Boamo, N. Te o n a do or dm a m en tojuridico, p.
da persuasão de Perelman; iõgtca do concreto 75-80.
d e E ng is c h ; tópica dc V ie h w e g ). 16. Cf. Peresaían, Ch. La gi qt i ej u r i à t quc, p. 173-
14. Cf. Canasis, C-W , Pensamento sistemático t 175.
conceito âc si st a na m ciência ào Di r e i t o , p. 17. Nawiasky, Hans. Te o n a general d cl D c r c d i o ,
69. p. 26.
1. D i r e i t o P e n a l 65
lece as ações ou omissões delitivas, comi- O Direito Penai é visto como uma ordem
nando-lhes determinadas conseqüências de paz pübüca e de tutela das relações so
jurídicas - penas ou medidas de seguran ciais, cuja missão e proteger a convivência
ça (conceito formal) .l8 Enquanto sistema humana, assegurando, por meio da coação
normativo ,mtegra-se por normasjurídícas estatal, a mquebrantabilidadeda ordemju
(mandatos, proibições e permissões) que rídica.21Para sancionar as condutas lesivas
cnam o injusto penai, suas respectivas o uperigosas a bensjurídicos fundamentais,
conseqüências e formas de exclusão. aleipenalse utiliza de peculiares formas dc
De outro lado, refere-se, também, a reação - penas e medidas de segurança.
comportamentos considerados altamente Nesse particular aspecto, cabe salien
r e p r o v á v e is ou danosos ao organismo so tar que, m-ais que um instrumento de
cial, que afetam gravemente bensjurídicos controle social normativo - pnraãrio e
mdispensãveis a sua própna conservação formalizado —, assinaia-se à lei penai uma
e progresso (conceito matenal). função deproteçãoe degaranaa. Entretanto,
temsido destacado, com razão, queo Direito
Á função primordial desse ramo da
Penal esta. se convertendo, cada vez mais,
ordemjurídica radica na proteção debens
em um instrumento de $reçâo ouonoi tação
jurídico-penais—bens do Direito - essen
social, sobretudo em maténa de tutela de
ciais ao indivíduo e à comunidade.39
bensjurídicos transmdividuais.-
Paxacumprir tal desiderato, em um Esta
Do ponto de vista objetivo, o Direito
do democrático de Direito, o legisladorsele
Penal (jus poenaíc) significa não mais do
ciona osbens especialmente relevantes para
que um conjunto de normas que definem os
avida social e5porisso mesmo, merecedores
delitos eassanções que lhes correspondem,
da tutela penal. A noção de bem jurídico
onentando, também, sua aplicação. Já em
implica a realização de um/juízo positivo
sentido subjetivo (jiispumendi), diz respeito
de valor acerca de determinado objeto ou
ao direito de punir do Estado (principio da
situação social e de sua relevância para o
soberania), correpondente á sua exclusiva
desenvolvimento do ser humano.20
faculdade de impor sanção criminaldiante
da prática do delito. Fundamenta-se no
18. Segundo a conhecida form ulação de Fíianz
von Lisrr.. o Dítcuo Penal “ c o conjunto das
cntèno de absoluta necessidade e encontra
normas jurídicas estabelecidas pelo Estado, limitaçõesjurídico-políticas,especialmente
que associam ao cn m e com o fato, a pena, tios princípios penais fundamentais.B
co m o legitim a conseqüência” { Tr a i a à o de Ademais, convêm observar que o Di
DcruchoPcnal, I,p. 5). Explica C arloF íore que
reito Penal tem natureza autônoma ou
o Direito Penal “ ú consum ido p elo conjunLo
das normas do ordenam ento ju ríd ic o que
constituova (função valorativa), mas tam
preveem e disciplinam a aplicação de urna bém sanciona tana, principalmente em
medida sancionatona decarãterjuridico-pe- determinadas areas (v.g., tutela de bens ou
nal (sanção cnm m al), com o conseqüência de interesses difusos ou coletivos).
determinado comportamento” (Di rit t oPcnaíc,
A respeito dessa natureza constitutiva e
l, p. 1). Também, nesse sentido, M e ger, E. 2
Dcr ccho Penai, p. 27. sancionatána, convém, de logo, evidenciar
19. C f. P r a d o , L, R. Bem j u r i d i c o -p c n à l c que o Direito Penal opera, no contexto mais
Const it uição, p. 18 ss.; Cerezo M ír J . Cu r so
d £DârcchoPena l cspa nol,l ,p. 13css-;W eu el, 21. Jescheck, H -H . Tratado dc Dcrccho Penal , 1,
H .,o p . eu., p. l i css. p. 3-5.
20. Pr ad o , L. R., op. a t., p. 73-74. Vide, sobre o 22. V ide a respeito. Mantovani, E Di r i t t o Penale.
assunto, o p rincípio da exclusiva proteção p. 23.
dc bens ju ríd icos - Parte l, Cap. 11. 23. V ide Pane 1, Cap. H.
66 C u r s o de D j r e ít o Pe n a i B r a s i l e i r o ° Luiz Regi s P r a d o