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AVISO SOBRE DIREITOS AUTORAIS

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62 C u r s o d e D ír e í t o P e n a l B r a s i l e i r o ® Lus z Rects P r a d o

D outrina dições necessartas para a formação de uma


ordem jurídica, o aspecto normativo é a
O homem, por sua propna natureza, condição necessária e suficiente""
vive e coexiste em comunidade {relatio aâ
Ao regular ou organizaravida do homem
àlterum). O Direito regula o convívio social,
em sociedade (= vida social, convivência
assegurando-lhe as condições mínimas de
social ou relações sociais), o Direito se
existência, de desenvolvimento e de paz.
apresenta em geral sob forma de modelos
Tanto assim e que sociedade e Direito se
de conduta extenonzados em normas de
pressupõem mutuamente (ubi societas ibi
determinação (dever-ser). Enquanto ordem
jus ct ibijus ubi societas)* O Direito ê algo
de convivência humana, o Direito positivo
consubstanciai a toda sociedade, sendo
-conjunto de regrasjurídicas vigentes em
certo também que esta üiüma não pode
uma determinado espaço e tempo - pro
sobreviversem aquele. A essa relaçãosooal
põe ao indivíduo “uma diretiva para o seu
entre sujeitos, à qualjã fazia alusão Aristó
comportamento para com os outros, mas
teles, denomina-se alteridade.1
também o confirma na sua confiança no
Como obra do homem, desenvolve-se comportamento dos outros; não constitui
emumcontinuoprocessohistónco-culturai apenas em obrigação, mas tambémlegitima
esocial, conformando aexperiênciajurídíca e autoriza. Cria ou ‘funda’, assim, entre os
-d e natureza axiológica—, na qual os fatos homens relaçõesde espécie peculiarissima:
são afendos em seus vínculos objetivos mvisiveis, inacessíveis à percepção senso-
de significado, senado ou fim {expressão nal, e contudo eficazes. O Direito temeficá
normativo-fática).2 cia por serconsiderado como determinante
A experiênciajurídica como experiência pela grande maicna dos homens, por estes
normaáva coloca o mdividuo “diante do reconhecerempraticamente asuapretensão
mundo de relações entre objetos humanos de vigência, na medidaemalinhamoseuagir
organizados estavelmente em sociedade pelo Direito, mesmo semserem coagidos a
mediante o uso de regras de conduta. A tal em cada caso.É assim‘reaFcomo ‘modo
imersubjetividade e a organização são con- geral de agir;;.è uma ‘ordem de vida' conti
nuamente observada pelos homens com a
consciência do seu caráter vinculatóno, e
L Vide Lega2.yLaca^!cra,L. FilosbJiackJDerecho,
que por isso se mantém-um ‘ser‘ que tem
p. 184-185: Del Vecchiq, G. Filosofia do
a significação de um ‘devido”*. *
DirzltOt p. 363 e ss.; Reale, M.. Lições preli
minares de Direito, p. 50,56. Toda realidade ou experiênciajurídíca
X Cf. Reale, M. O direilp como experiènaa, p. encerra valores relativos a certo momento
31-33. Com clareza explicita este último histórico e social. Como tudo que ê ela
autor que “o direito comocxpcriênciajurlàica borado pelo homem detêm plenitude de
concreta, isto et como realidaãehislònco-cui-
sentidos ou de fins, deve ser portadora
turaí, eníjucmíoatiml e concr£üxmení£presente
á consciência em geral, tanto em seusaspectos de uma teleologia prôpna. Encontra-se
teoréticos como práticos I..J constitui o com inserta no mundo da cultura—espintuái e
plexo de vàloraçõcs e comportamentos que os histórica—, como parte da experiência que
homensrealizamem seuvivercomum, aírfinun- compreende as obras humanas.5
âo-lkes umstgnificadQsuscetíveláeqtialificação
jurídicano plano teorèiico, ecorreiatammte, o
valor objetiva das làetas, normas, instituições 3. Bobbio, N. Teoria general dei Derecho, p. 31.
e providências técnicas vigentes emfunção 4. Iâbehz, K ., Metodologia da ciência do Di r e i t o ,
daquela tomada de consciência teorêticã e dos p. 208-209.
fins Humanos a que se destinam’' ( a t„p . 31 5. Cf. L ega zy Lacamura, L. Fi b sof i a d ei Der ech o,
- grifo no originai). p. 47 ess.
í. D i r e i t o P e n a i 63

Convêm ter em conta amda que essa ordena de forma contràna a um bem que
realidade estâ conectada com a noçâo de eticamente não pode ser afetado de ne
poder, visto quepoder e Direito se pressu nhum modo.7
põem reciprocamente, como numa relação O conjunto ou sistema de normas jurí
de causa e efeito. Isso significa: o poder dicas vigentes em determinada sociedade
soberano estatal tem o monopólio do uso dá lugar ao ordenamento jurídico. Por
legitimo e organizado da força através ou
sistema jurídico se entende um complexo
por meio do Direito {poder coercitivo),6
normativo dinâmico, portadorde coerência
Todavia, vincula-se também â ideia de e unidade, ou, no dizer de Bobbio, “uma
proteção aos direitos fundamentais. A nor- totalidade ordenada, um conjunto de entes
majuridica emanada do poder competente entte os quais existe certa ordem” 8Cotn-
deve ter como pnmazia a garantia do res põe-se de estrutura (relação hierárquica)
peito marredãvel aos direitos individuais e repertório (elementos normativos ou
e sociais fundamentais do homem. normas jurídicas).9
Reafirma-se a noçâo do Direito como Trata-se, portanto, de umcorpoou grupo
objeto cukurai, histõnco e socialmente de elementos, de entidades, relacionados10
situado, pleno de significado ( = referência entre si, ou seja, que formam parte e inte
axio lógica),pertencente à ética mtersubje-
ragem no contexto de um todo ordenado
tiva, de cunho normativo jurídico.
hierarquicamente (relações de subordina
Como ordem jurídica, é importante ção e coordenação).11Como sistema geral,
fator de estabilidade e de harmonia nas
relações sociais, enquanto soluciona os 7. Cf. Wpi-ZEl, H. Derecho natural y positivism o
conflitos individuais e sociais, impondo, ju ríd ico. In: Est údi os àe Fi l o so f i a de Derecho
por assim dizer, uma ratio à própria reali y Derecho Penal, p. 198-199.
8. Bobbio, N . Teona do ordenamento j u r íd i c o , p.
dade humana.
71.
Nessa linha de pensar, a tarefa primor 9. Assinou FerhazJúnior, T. S. Conceit o de sisiema
dial e de maior relevância da lei positiva no Direit o, p. 7ess.: Idem. Introdução ao estado
ê de superar e conter a ameaça latente de do Di re i t o, p. 163 e ss.
luta de todos contra todos, propiciando 10. O orden a m en to tem caráter rela cion ai e
uma ordem que assegure a vida e a con disciplina a relação dos h om ens com seus
semelhantes, e com as coisas. Ássim , já em
vivência de todos os homens. Justamente
Tomás DEÁqujNo-oíiáonon csí sui?$rantia, sed
porque dá íugara uma ordem que conserva
r e i a t ío -(S u m tn a Th eolõgica, i, 1 1 6 ,2 ).
a existência, è que obnga, 11. A r e ía ç io d e coordenação significa que “ a
O Direito é ao mesmo tempo poder introdu ção de uma nova norm a m odifica
protetor e valor obrigatório, sendo que todo o sistem a e, de sua v e z, cada norm a
extrai seu significado de sua relação com as
como poder coage e como valor obnga.
demais normas d o ordenam ento" e a relação
Tão somente o valor pode obngar e o faz
desubordinação querctízerque “asnormasde
em termos éticos. A força obrigatória da um oídenamemoitâoestãodispostas somente
lei jurídica termina no momento em que d e m odo horizontal sobre um m esm o piano
em relação d e coordenação recíproca, mas
6. Baiaaímnaçãodeque “o Diratoeuin sistema estão dispostas também verticalm en te em
de força, um sistema cuja singularidade con um aielação deprogressiva subordinação, de
siste era poder assegurar o cumprimento de forma quecadanorraa obtêm sua validade de
suas normas mediante a força, precisamente uma outra norm a d e m v d (ou grau) superior
porque ele mesmo é expressão de uma força até alcançar a norm a fundam entai que dá
cujo uso regula* CPr j e t o Sanc h ís . I_ Ápuníes validade a todo ordenamento e lh e confere
àe t eor i a àcl Derecho, p. 17). unidade” (L u mia , G., op. a t., p. 55-56).
C u r s o d e D i r e i t o P e n a l B r a s i l e i r o ° L u i z R eg i s P r a d o

seus elementos têm carater dinâmico12 e tmdo do conteúdo das simples normas
interdependente, sendo dotado de umdade. com a finalidade de construir conceitos
coerência e completude relativas. Isso não sempre mais gerais, e classificações ou
infirma que cada seior ou ramo do Direito divisões da matéria inteira” e, no terceiro
tenha suasprôpras peculiaridades, variáveis significado, sistema tem a ver com coe
segundo a maior ou menor especificidade xistência, com compatibilidade, wdiz-se
do objeto ou da gnósea.13 que um ordenamento jurídico constitui
Então, segundo o enfatizado, o sistema um sistema porque não podem coexísnr
nele normas incompatíveis” 15
jurídico e uma forma de disciplinar a vida
no seio do grupo social —ou a utilização Fica patente assim que o Direito se
de meios racionais para captar e traduzir desenvolve equilibrando uma exigência
a unidade e a ordenação da experiência de ordem sistemática (elaboração de um
social14 em um pais e em determinado ordenamento juridico) c outra de cunho
momento histónco, afirmando-se aposi- pragmático (busca desoluçõessocialmente
tividade do Direito como fator básico da justas e aceitáveis). Tem ele uma função
segurançajurídica e do Estado de Direito. social a ser cumprida, não podendo ser
Esclareça-se que na linguagem jurídica, concebido, de modo realista, sem referência
ã sociedade que deve reger.16
sistema é tido como sinônimo de orde
namento jurídico. Costuma-se alinhar O sentido das aludidas umdade e coe
três significados para o termo sistema: rência sistemáticas consiste no fato de que
na primeira acepção, que se baseia no todo ordenamento jurídico esteja infor
sistema dedutivo, “diz-se que um dado mado pela ideia de fim comum, ou seja, a
ordenamento è um sistema enquanto todas realização ou a asseguração dedeterminado
as normasjurídicas daquele ordenamento estado social.17
são denvãveis de alguns princípios gerais Com efeito, o ordenamento jurídico
(ditos ‘princípios gerais do Direito'), con deve ser a representação legal-formal de
siderados da mesma maneira que os pos um conjunto de valores inerentes a deter
tulados de um sistema científico”; numa minada sociedade, num período histónco
segunda, sistema é usado “para indicar e em certo espaço geográfico.
um ordenamento da matem, realizado É exatamenteessabaseaxaoiõgica quelhe
através do processo mdutivo, isto é, par- dá a imprescindível legitimidade, sua razão
deser. Não existe como um fimem si mesmo,
12. Para a noção dcsistem a estático cdeststem a mas para a consecução de valores essenciais
dinüm ico. vid e Khlsen, H . Teoria p u r a ào
ao homem e ksociedade (v.g. Justiça. digni
Di r r i t o , p. Iõ3-264e 267-374, respectivamen
te; Bosato, N . Te o n a ào ordenamento j u r i à i c o ,
dade humana, liberdade, igualdade).
p. 71-72.
13. Ainda que a ídeia de sistema ju ríd ico seja 1. C o n c e r to , fu n ç õ e s e c a r a c te re s
resultado da atividade â o legislador racionai,
não cabe identificá-lo more geomct ricc com O Direito Penal ê o setor ou parcela do
sistema lógico-Xormai. N o cam po do D ireito ordenamentojuridico público que estabe-
im peraalõgka mat erial, impregnada de dados
axioíógicos edenatm esa flexível {v.g., íògica 15. Boamo, N. Te o n a do or dm a m en tojuridico, p.
da persuasão de Perelman; iõgtca do concreto 75-80.
d e E ng is c h ; tópica dc V ie h w e g ). 16. Cf. Peresaían, Ch. La gi qt i ej u r i à t quc, p. 173-
14. Cf. Canasis, C-W , Pensamento sistemático t 175.
conceito âc si st a na m ciência ào Di r e i t o , p. 17. Nawiasky, Hans. Te o n a general d cl D c r c d i o ,
69. p. 26.
1. D i r e i t o P e n a l 65

lece as ações ou omissões delitivas, comi- O Direito Penai é visto como uma ordem
nando-lhes determinadas conseqüências de paz pübüca e de tutela das relações so
jurídicas - penas ou medidas de seguran ciais, cuja missão e proteger a convivência
ça (conceito formal) .l8 Enquanto sistema humana, assegurando, por meio da coação
normativo ,mtegra-se por normasjurídícas estatal, a mquebrantabilidadeda ordemju
(mandatos, proibições e permissões) que rídica.21Para sancionar as condutas lesivas
cnam o injusto penai, suas respectivas o uperigosas a bensjurídicos fundamentais,
conseqüências e formas de exclusão. aleipenalse utiliza de peculiares formas dc
De outro lado, refere-se, também, a reação - penas e medidas de segurança.
comportamentos considerados altamente Nesse particular aspecto, cabe salien
r e p r o v á v e is ou danosos ao organismo so tar que, m-ais que um instrumento de
cial, que afetam gravemente bensjurídicos controle social normativo - pnraãrio e
mdispensãveis a sua própna conservação formalizado —, assinaia-se à lei penai uma
e progresso (conceito matenal). função deproteçãoe degaranaa. Entretanto,
temsido destacado, com razão, queo Direito
Á função primordial desse ramo da
Penal esta. se convertendo, cada vez mais,
ordemjurídica radica na proteção debens
em um instrumento de $reçâo ouonoi tação
jurídico-penais—bens do Direito - essen
social, sobretudo em maténa de tutela de
ciais ao indivíduo e à comunidade.39
bensjurídicos transmdividuais.-
Paxacumprir tal desiderato, em um Esta
Do ponto de vista objetivo, o Direito
do democrático de Direito, o legisladorsele
Penal (jus poenaíc) significa não mais do
ciona osbens especialmente relevantes para
que um conjunto de normas que definem os
avida social e5porisso mesmo, merecedores
delitos eassanções que lhes correspondem,
da tutela penal. A noção de bem jurídico
onentando, também, sua aplicação. Já em
implica a realização de um/juízo positivo
sentido subjetivo (jiispumendi), diz respeito
de valor acerca de determinado objeto ou
ao direito de punir do Estado (principio da
situação social e de sua relevância para o
soberania), correpondente á sua exclusiva
desenvolvimento do ser humano.20
faculdade de impor sanção criminaldiante
da prática do delito. Fundamenta-se no
18. Segundo a conhecida form ulação de Fíianz
von Lisrr.. o Dítcuo Penal “ c o conjunto das
cntèno de absoluta necessidade e encontra
normas jurídicas estabelecidas pelo Estado, limitaçõesjurídico-políticas,especialmente
que associam ao cn m e com o fato, a pena, tios princípios penais fundamentais.B
co m o legitim a conseqüência” { Tr a i a à o de Ademais, convêm observar que o Di
DcruchoPcnal, I,p. 5). Explica C arloF íore que
reito Penal tem natureza autônoma ou
o Direito Penal “ ú consum ido p elo conjunLo
das normas do ordenam ento ju ríd ic o que
constituova (função valorativa), mas tam
preveem e disciplinam a aplicação de urna bém sanciona tana, principalmente em
medida sancionatona decarãterjuridico-pe- determinadas areas (v.g., tutela de bens ou
nal (sanção cnm m al), com o conseqüência de interesses difusos ou coletivos).
determinado comportamento” (Di rit t oPcnaíc,
A respeito dessa natureza constitutiva e
l, p. 1). Também, nesse sentido, M e ger, E. 2
Dcr ccho Penai, p. 27. sancionatána, convém, de logo, evidenciar
19. C f. P r a d o , L, R. Bem j u r i d i c o -p c n à l c que o Direito Penal opera, no contexto mais
Const it uição, p. 18 ss.; Cerezo M ír J . Cu r so
d £DârcchoPena l cspa nol,l ,p. 13css-;W eu el, 21. Jescheck, H -H . Tratado dc Dcrccho Penal , 1,
H .,o p . eu., p. l i css. p. 3-5.
20. Pr ad o , L. R., op. a t., p. 73-74. Vide, sobre o 22. V ide a respeito. Mantovani, E Di r i t t o Penale.
assunto, o p rincípio da exclusiva proteção p. 23.
dc bens ju ríd icos - Parte l, Cap. 11. 23. V ide Pane 1, Cap. H.
66 C u r s o de D j r e ít o Pe n a i B r a s i l e i r o ° Luiz Regi s P r a d o

amplo do ordenamentojurídico,com todos 2. Ciência d o Díreito Penal, Política


os demais ramos do Direito, mima relação Criminal e Crímínología
de complementaridade recíproca.
Sem adentrar no vasto campo da enci
Desse modo, tem-seque o Direito Penal clopédia das ciências penais,25faz-se mister,
elabora, em gerai, seus próprios conceitos, entretanto, conceituar ciência do Direito
e que, também, em certashipóteses. íímita- Penal, política criminal e crimmologia,
se a uma função sancionatána, amda que
Á primeira tem por escopo elaborar e
subordinada ãs suas peculiaridades.
desenvolverumsistema.visandoamterpre-
Ê certo,entretanto, que os conceitos oti tar e aplicaro Direito Penal, de modo lógico
pressupostos oriundos de outros setores íformaí ematerjal) eracional.A ciêncianor
do ordenamento jurídico são examinados mativa penaPé constituída pelo conjunto
de forma autônoma pelo Direito Penal, de conhecimentos (normas e prmcipios),
de conformidade com suas exigências e ordenados metodicamente. Aqui, é indis
finalidades (v,g., pnncípios fundamentais pensável a síntese dialética entre sistema e
do Direito Penal). problema, istoè,umpensamento-problema
O Direito Penal è, portanto, indepen em smtonia com o sistema, para cumpnr
dente em seus efeitos {sanção penal) e sua missão de ciência prática e de excluir
relativamente dependente em seus pres o acaso e a arbitrariedade na aplicação do
supostos (preceito incriminador).2* Direito.27Recebe também a denominação
Por derradeiro, è conveniente traçar de dogmática penal, visto que parte de nor
a distinção entre o Direito Penal comum, mas positivas, consideradas como dogma,
também denominado de Direito Penal para a solução dos problemas. Não deve
nuclear, e o Direito Penal especial. O pn- ser confundida, por isso, levianamente,
meiro è representado pelo Código Penal com dogmatismo no sentido de aceitação
brasileiro (Decreto-lei 2.848/1940,alterado acritica de uma verdade absolutae imutável,
pela Lei 7.209/1984) - composto de uma de todo incompatível com a própria ideia
Parte Gerai tarts. 1.° a 120 e de uma Parte de ciência. Então, no contexto dogmático,
Especial (arts. 121 a 361) — enquanto o têmlugar a interpretação, a sistemaàzação
e, ainda, a critica mtrassistemáüca.
segundo ê constituídopela legislação penal
especial ou extravagante (v.g.. Decreto- Apolítica criminal objetiva,primordial
lei 3.688/1941 - Lei das Contravenções mente, a análise critica (metajurídica) do
Penais; Lei 8.072/1990 - Lei dos Cnmes direito posto, no senado de bem ajustâ-lo
Hediondos; Lei9.605/1998-Lei dos Cnmes aos ideaisjuridàco-peimis e dejustiça. Está
Ambientais).
25. Vide, sobre as ciências penais, com rtqueza de
Adverte-se, nesse contexto, que a dou- detalhes JjmenezdeAsüa, L. Trat ado de Deredio
tmiammtasvezescosmmatotuiaramatèna Penal, 1, p. 8 7 e ss. N a doutrina brasileira,
penai, em razão deseu particulaiissimo ob vjd e, p o r exem plo, Bruno, à . Direito Penal,
jeto de estudo, como, por exemplo, Direito 1,p. 40 ess.; G a ro a , B. instituições dc Direito
Penal Econômico, Direito PenalEmpresa- Penai, I, p. 25 e ss.; Noronha, E. M . Di re i t o
Pena l , l,p . 12ess.; Luna, E. da C. Capít ulos de
nal, Direito Penal Ambiental, Direito Penai
Di re i t o Penai, p. 1 e ss.; Fragoso, H. C. Lições
do Consumidor (etc.), o que não deixa de àe Di re i t o Pena l , RG .t p. 11 e ss.
ser Direito Penal, em nada alterando seus 26. Adogmátícajuríàico-penatscapresenta.para
prmcipios e bases teorèticas essenciais. JMÉNEZ.DSA s úa , como uma ciência cultural,
normativa, vaíorauva e finalista <op. cu„ p.
24. Cf. Maurach, R. Tr a t a do à t Derecho Penal, I, 34 ).
p. 33. 27. C f . W a m , H., op. a c , p. 11.
i. D i r e i t o P e n a l 67

intimamente ligada à dogmática, visio que abrangendoasociologxajuridica, a eaologia


na interpretação e aplicação da lei penal cnmmai e a penologia.32
interferem cnténos de poiíüca-cnminal.23 A cnmmologia tem como pnncipal
Baseia-se em considerações filosóficas, so
função o estudo das causas do delito e,
ciológicas e políticas, e, de oportunidade,
secundariamente, busca alternativas para
para prop or modificações no sistema penal
responderão fenõmenocnminai, no sentido
vigente, abrangendo, então, “o conjun
de preveni-lo e de controlá-lo. Nessa ma té-
to de procedimentos pelos quais o corpo
na, reveste-se de particular importância a
social organiza as respostas ao fenômeno
problemática da elaboração legislativa das
cnminaP19
leis penais, vistosenmprescindível verificar
De seu lado, a cnmmologia vem a ser
porque determinados fatos são definidos
ciência empinca, de cunho mterdis-
como delitos e outros não.33
ciplinar, que estuda o fenômeno criminal
utilizando-se principalmente do método Para alguns, o Direito Penai se dedica ao
causaí-explicativo. Ocupa-se das circuns estudo de todas as conseqüênciasjurídicas
tâncias humanas e sociais relacionadas do delito, e á cnmmologia interessam os
como surgimento, a prática ea maneira de aspectossintomáricos, individuais esociais
evitar o crirae7assim como do tratamento do delito e da delinqüência.34
dos criminosos.38 Na busca de uma distinção entre Direito
Em senado estnto, a crmunologia se Penal e cnmmologia, afirma-se que aquele
limita á investigação empírica do delito vem a ser uma disciplina normativa que
t da personalidade do delinqüente, et era declara “o que deve ser”, ao passo que a
senüdo lato, incluí, também, a análise do crmunologia ê uma ciência empírica que
conhecimento expenmental-científico estuda “o que é” Dal, a grande diferença
sobre as transformações do conceito de de seus métodos, embora tenham o mes
delito fcmmnaiizaçâo) esobre aluta contra
mo objeto: enquanto o primeiro se utiliza
o mesmo, o controle da restante conduta
dos métodos característicos da ciência do
social desviada, assimcomo a investigação
Direito (análise interpretativa das fontes
dos mecanismos de controle policiais e
do Direito esintese teonca de seus dados),
dajustiça.31
a segunda recorre aos métodos empíricos
De modo amplo, tem-se conceituado específicos das ciências sociais, adaptan
a cnmmologia como a ciência que estu
do-os à complexidade particular de seu
da a infração enquanto fenômeno social,
objeto.35
28. Cf. C erezo M ir,J., op. c í l , p. 77-78. Hmiealídade, a ciência do Direito Penal
29. Deuias-Makty, M, Les grands systèmes de ou dogmática penal, a política criminal e
poiitiquecnm m dle, p. 13. a cnmmologia são ciências que se distin
30. Goppínger, H- Cr ím i n o l o gi a , p. 1 e ss. C om o
guem, mas que não se separam; antes se
ciência d e constatação, busca descrever a
conduta cram nosa, investigar as causas do completam.
cm n e e estudar o delinqüente fLarguíer, j .
Cn m m o l o gi e ct Science pènit ent iaxre, p. 3 e 32. Cf. Sutherland, E.: Cressey, D. Príncipes de
ss.). cr i m i n ól ogi e, p. 11.
31. K a ís e r , G . Cn m m o ío g i a , p. 20-21. D e sua 33. Cf. Serrano MaJixo, A . Int rodução à C r i m i -
vez, Hermarm Mannheim conceitua a cn- nologia , p. 24-26.
miooiogia, lat o scnsu, como o estudo do cri 34. C f. PeU ez, M . Int rodução ao estudo d a a im i-
me, da penologia e da prevenção criminal nologia , p. 86.
ÍCn m i n o h g i a comparada, 1, p. 21). 35. C f. Gassiu, R. Cri m i n ól ogi e, p. 14.

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