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nopsis Quattuor Evangeliorum Graece et Latine, Fr. Jerónimo d e A z a m b u j a (Oleastro) O. P.: Os cânones bíblicos e o
prefácio ao Pentateuco. Biblos. 5 5 ( 1 9 7 9 ) 1 8 3 - 1 9 5 . IDEM - Subsídios
Coimbra, 1955; Atlas histórico do Novo Testamento, para a história da exegese bíblica em Portugal. Revista da Universidade
Coimbra, 1967; Gramática grega do Novo Testa- de Coimbra. 2 9 ( 1 9 8 1 ) 3 3 9 - 4 1 9 . IDEM - Fr. Heitor Pinto no contexto da
mento, Coimbra, 1961; Manuel Augusto Rodrigues, cultura da Renascença. I n S I M P Ó S I O « A SOCIEDADE E A CULTURA DE C O I M -
Actas. C o i m b r a. 1 9 8 2 . IDEM - A obra exegéti-
BRA NO R E N A S C I M E N T O » -
Gramática elementar de hebraico, Coimbra, 1967; ca de D. Jerónimo Osório no contexto do h u m a n i s m o, da R e f o r ma e da
José Nunes Carreira, O plano e a arquitectura do Contra-Refonna. Theologica. 2 : 1 8 ( 1 9 8 3 ) . V I L E L A . Albano - U m exege-
templo de Salomão à luz dos paralelos orientais, ta português do Concílio de Trento: Oleastro. Brotéria. 6 9 ( 1 9 7 4 ) 1 6 - 2 8 .
Porto, 1969; Francolino José Gonçalves (com ou-
tros), Toponymie palestinienne, Louvain-la-Neuve, EXORCISMO. A crença na possessão demoníaca, ou
1988; José Augusto Ramos defendeu uma tese (Uni- seja, na possibilidade de que certos espíritos diabóli-
versidade de Lisboa, 1988) sobre O sufixo verbal cos podem atormentar os homens, animais ou até
não-causativo em hebraico antigo no contexto semí- coisas e lugares, é muito remota. O exorcismo (vo-
tico do Noroeste; com participação original portu- cábulo estritamente ligado a práticas cristãs) é uma
guesa coordenada por José Nunes Carreira saiu o cerimónia durante a qual um ministro da Igreja
Atlas Bíblico de J. B. Pritchard (ed.), Lisboa, 1996. (exorcista) emprega alguns meios considerados efi-
Na exegese: António Augusto Tavares, Da mariologia cazes para expulsar o Diabo de um determinado lo-
à cristologia, Lisboa, 1972; Joaquim Carreira das Ne- cal que ele real ou supostamente infesta. Jesus Cris-
ves, A teologia da tradução grega dos Setenta no Li- to, que os textos bíblicos apresentam com alguma
vro de Isaías (cap. 24 de Isaías), Coimbra, 1973; Ma- frequência a conjurar demónios, a expelir diabos de
nuel Isidro Alves, II Cristiano in Cristo: la presenza corpos de paralíticos, de mudos ou de avaros (Ma-
dei Cristiano davanti a Dio secondo S. Paolo, Braga, teus iv, 23-24 e viu, 32; Lucas xi, 14; Marcos, i, 32-
1980; Ressurreição e Fé Pascal, Lisboa, 1991; Fran- -34 e 39), poder que, ainda durante a sua vida, trans-
colino José Gonçalves, Lexpédition de Sennacherib mitiu aos apóstolos (Lucas x, 17-20), é a origem do
en Palestine dans la littérature hébraíque ancienne, exorcismo tal como o pratica a Igreja. O estudo dos
Louvain-la-Neuve, 1986; Anacleto de Oliveira, Die exorcismos desde a Alta Idade Média aos nossos
Diakonie der Gerechtigkeit und ver Versöhnung in der dias - o conhecimento preciso dos rituais neles ob-
Apologie des 2. Korinterbriefes: Analyse und Ausle- servados, os tratados que regulamentavam a sua prá-
gung von 2 Kor 2, 14-4, 6; 5, 11-6,10, Munique, tica, uma noção mais precisa dos agentes que os exe-
1990; João Lourenço, Sofrimento e glória de Israel: cutavam e das clientelas que os buscavam - é um
Is 53 e sua interpretação no judaísmo antigo, Lisboa, campo quase inexplorado que carece de estudos pro-
1996; Armindo dos Santos Vaz, A visão das origens fundos e abrangentes, não só em Portugal como na
em Génesis 2, 4b-3, 24, Lisboa, 1996. De âmbito mais generalidade do espaço europeu. Deste modo, a in-
abrangente: Joaquim Carreira das Neves, Jesus de Na- cursão que aqui se esboçará constitui um esforço da
zaré, quem és tu?, Braga, 1980; José Nunes Carreira, síntese actualmente possível, baseada quase exclusi-
História antes de Heródoto (Pentateuco, Jos-2 Rs), vamente na interpretação de fontes primárias e cen-
Lisboa, 1993; Mito, mundo e monoteísmo (Gn, Ex, trada na Época Moderna. Nesta época, a prática de
Sam-Rs), Mem Martins, 1993; Filosofia antes dos exorcismos e o recurso dos fiéis a este «remédio»
Gregos (Pr, Jb), Mem Martins, 1994. propiciado pela Igreja foi abundante, ao que por cer-
JOSÉ NUNES CARREIR A to não será estranha a pastoral da Igreja, tanto católi-
ca como protestante, onde o Diabo tinha um lugar
BIBLIOGRAFIA: C A R D O S O , Arnaldo Pinto - Da Amiga à Nova Aliança: Re- destacado. Durante o período da Reforma protestan-
lações entre o Antigo e o Novo Testamento em Sebastião Barradas
(1543-1615). Lisboa: I N I C , 1 9 8 7 . C A R R E I R A , José Nunes Filologia e
te (v. PROTESTANTISMO) houve algum debate sobre o
critica no Comentário de Francisco Foreiro (15227-1581): Subsídios sentido do exorcismo entre os dois grandes blocos
para a história da exegese quinhentista. Coimbra, 1 9 7 4 . IDEM - Dois religiosos que se opuseram. Os reformados acha-
mestres de Antigo Testamento em Coimbra: Frei Heitor Pinto e Paulo
de Palácios e Salazar. Didaskalia. 6 ( 1 9 7 6 ) 3 8 1 - 3 9 4 . IDEM - Tradição e
vam-no um acto mágico e condenavam-no radical-
inovação no comentário de Frei Luís de Sotomaior ao Cântico dos Cân- mente, persistindo na linha de que a religião deveria
ticos. Didaskalia. 9 ( 1 9 7 9 ) 1 5 5 - 2 0 8 . IDEM - Camões e o Antigo Testa- ser um fenómeno puramente interior. Os católicos,
mento. Ponta Delgada, 1 9 8 2 . IDEM - U m a peça de liturgia tridentina:
sermão de Frei Francisco Foreiro aos padres conciliares. Didaskalia. 25 por seu turno, usaram-no para exacerbar o poder da
( 1 9 9 5 ) 1 5 5 - 1 6 7 . F A R I A , Francisco Leite de - As muitas edições de obras Igreja de Roma sobre o Maligno. Era doutrina co-
de D. Jerónimo Osório. Lisboa: Academia Portuguesa da História, mum o sustentar-se que os exorcismos tinham gran-
1981. IDEM - As muitas edições de obras de Frei Heitor Pinto. In
IV CENTENÁRIO de Frei Heitor Pinto (15267-1584). Lisboa: Academia de eficácia contra doenças induzidas pelo demónio.
Portuguesa da História, 1991. LEITE, Serafim - Portugal: Sciences sa- Assim, muitos casos de possessos que foram exorci-
crées. In DTC. 1 2 / 2 ( 1 9 3 5 ) 2 6 2 5 - 2 6 2 8 . M A R T I N S , Mário - A Bíblia na
literatura medieval portuguesa. Lisboa: ICALP, 1979. Biblioteca Bre-
zados por sacerdotes católicos eram usados como
ve. MARQUES, A. A. Martins - A obra exegética de Fr. Jerónimo de apologia do poder da Igreja de Roma, e recorde-se
A z a m b u j a . Theologica. 2: 1 ( 1 9 6 6 ) 123-150. 293-327. RAINHARDT, que com a crença na proliferação de bruxas e feiti-
Klaus - Die biblischen Autoren Spaniens bis zum Konzil von Trient. Sa-
lamanca, 1976. IDEM - Biblische K o m m e n t a r e spanischer Autoren des
ceiras (v. B R U X A R I A ) que marcou esses tempos, mui-
16. und 17. Jahrhunderts: Autorenn. Revista Espahola de Teologia. 41 tos se julgavam possuídos pelo Diabo. Esta crença
( 1 9 8 1 ) 9 1 - 1 4 6 . IDEM - Autoren B. Revista Espahola de Teologia. 4 3 no exorcismo como uma solução eficaz e ortodoxa
(1983) 27-55. RAMOS, José Augusto - Tradução interconfessional da Bí-
blia em português. Cadmo. 3 ( 1 9 9 3 ) 8 7 - 1 0 5 . R E C K E R T , Stephen - A pa-
para aliviar certos males deve ser devidamente subli-
ráfrase vicentina do Miserere (edição, notas e comentários). Revista da nhada, pois constitui um traço muito importante da
Faculdade de Letras. 5 : 1 3 - 1 4 ( 1 9 9 0 ) 4 4 1 - 4 5 3 . R O D R I G U E S , Manuel Au- consciência do poder da Igreja, que era frequente
gusto - A cátedra de Sagrada Escritura na Universidade de Coimbra:
Primeiro século (1537-1640). Coimbra, 1 9 7 4 . IDEM - D. Pedro de Fi- nos países católicos da Europa do Sul em geral, e em
gueiró e a sua obra exegética. Didaskalia. 5 ( 1 9 7 5 ) 1 3 3 - 1 5 3 . IDEM Al- Portugal de modo particular. Um caso concreto ocor-
guns aspectos da obra de Fr. Jerónimo de A z a m b u j a (Oleastro). Revista rido em 1753 comprova-o bem. Nesse ano, uma mu-
Portuguesa de História. 1 7 ( 1 9 7 7 ) 2 5 - 3 6 . IDEM - A obra exegética de
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EXORCISMO
lher da diocese de Coimbra contou na Inquisição que tadas isoladamente quer em compilações (uma edi-
«falavam nela almas do outro mundo» e que por isso ção do Malleus Maleftcarum de 1615 continha as
tinha recorrido aos exorcismos da Igreja que, em sua obras de Menghi e de Stampa e circulou ainda um
opinião, não tinham sido eficazes. Bastante indigna- Thesaurus exorcismorum, editado em Colónia cm
do com esta conclusão um inquisitor perguntou-lhe: 1608, que incluía obras de Menghi, Polidoro, Vis-
«se sabe que sam tam poderosos os exorcismos e re- conti e Stampa). No século xvni ainda se descobrem
médios da Igreja pella auctoridade que tem os minis- qualificadores do Santo Ofício a invocar Thyraeo,
tros delia e poder que Deos lhe deu que havendo fe Visconti ou Polidoro para justificar os seus parece-
nos exorcismos ficam as criaturas livres do demó- res. A pressão provocada pelo elevado número de
nio?» ( P A I V A - Bruxaria, p. 111). O papel de relevo energúmenos e o abundante contingente de exorcis-
que o exorcismo tinha na vida do tempo pode me- tas criavam um bom mercado para que surgissem
dir-se através do largo número de manuais de exor- textos portugueses que ensinassem a administrar os
cismos que desde a segunda metade do século xvi e exorcismos. Por outro lado, o cânon ritual estabele-
até ao século xvui foram sendo publicados. São cido no Ritual Romano de Paulo V, aparecido em
igualmente demonstrativos desta importância do 1614, impondo alguma ordem nos ritos de bênção e
exorcismo as referências colhidas em processos da de exorcismo da Igreja, determinava regras nesta
Inquisição* ou em devassas das visitas pastorais matéria que punham em questão certas práticas vei-
(v. VISITAÇÕES) ao largo número de exorcistas que ac- culadas nos tratados de finais de Quinhentos. Estes
tuavam por todo o pais, havendo inclusivamente no- dois motivos concorreram para o aparecimento de
tícias pontuais de que alguns tinham clientelas co- novos tratados, a partir da segunda metade do sé-
piosas. A noção de que todo o mal podia ter uma culo xvii, que acabaram por ser traduzidos para por-
origem diabólica e de que as bruxas eram aliadas do tuguês e tiveram grande circulação. Estão neste caso
Maligno encarregadas de o espalhar pelos povos fa- o manual do padre italiano Cândido Brognolo, edita-
zia com que quase todas as doenças «estranhas», ou do em 1651 e traduzido em 1727 (com nova edição
para as quais a medicina do tempo (tanto popular co- logo em 1729) pelo arrábido Frei José de Jesus Ma-
mo erudita) não tinha solução, fossem apodadas de ria, com o título de Brognolo recompilado e substan-
malefícios diabólicos que só saravam pelo poder do ciado com aditamentos de gravíssimos authores; o
exorcismo, pelo que seriam aos milhares os que se do espanhol Benito Remígio Noydens, traduzido em
presumiam atacados pelo Demónio. De facto, alguns 1694 por Manuel Rodrigues Martins, e novamente
exorcistas propunham-se aliviar todo o género de editado em 1718 com o título de Practica de exorcis-
males, como mulheres a quem lhes secava o peito tas e ministros da Igreja, presumivelmente o de
depois de parirem, pessoas que estavam doidas, que maior circulação no século xvni, a julgar pelas refe-
tinham dores no estômago, hemorróidas, surdez, do- rências que lhe são feitas em casos dc exorcistas
res nos olhos, etc. Tendencialmente os possessos condenados pela Inquisição portuguesa; e finalmente
eram maioritariamente mulheres. Em relação aos tra- o do jesuíta italiano Giovanni Pinamonte, traduzido
tados de exorcismos que compendiavam as regras e acrescentado com um prólogo pessoal e com os
seguidas pelos exorcistas, não se conhece nenhum exorcismos do Ritual Romano de Paulo V, surgido
da autoria de portugueses. Os que mais abundante- em 1736, pelo padre João Baptista de Reboredo, que
mente circularam entre nós durante os séculos xvi a saiu com o título O exorcista bem instruído. Ainda
xvni, período aúreo da produção deste género de tex- deste período, mas sem terem sido traduzidos e sem
tos, tinham origem italiana ou espanhola. A única terem conhecido a difusão dos tratados de Brognolo,
excepção a esta regra era a obra do jesuíta alemão Remígio e Pinamonte, contam-se os textos do padre
Petro Thyraeo intitulada Daemoniaci... (1594). italiano Floriano Canale, Del modo di conoscer et
A presença deste texto entre os Portugueses demons- sanare i maleficiati (conhece-se edição de Bréscia,
tra a sua actualização nesta matéria, pois a obra de de 1674) e de um Frei Luís de la Concepcion, da Or-
Thyraeo, conjuntamente com os tratados do francis- dem dos Trinos Descalços, Pratica de conjurar en
cano italiano Girolamo Menghi (Flagellum daemo- que se contienen exorcismos y conjuros contra los
num e Fustis daemonum), editados durante os anos maios espíritos (Alcalá, 1673). A prática do exorcis-
70 do século xvi, eram dos mais citados por todos os mo seguia grosso modo os preceitos discriminados
que abordavam a questão da possessão e do exorcis- nos manuais acima citados e constituía na generali-
mo. Ainda pelos finais do século xvi saíram outros dade dos casos uma cerimónia espectacular. Dado
textos. Em 1585 foi editada a Pratica exorcistarum, que o volume de pessoas que se queixavam de esta-
do franciscano italiano Valério Polidoro; em 1597 rem possuídas pelo demónio era avassalador, um dos
saiu em Como a primeira edição da Fuga Satanae, primeiros avisos que se fazia aos exorcistas era o de
do italiano Pietro Antonio Stampa; em 1600 foi pu- antes de mais se certificarem de que estavam perante
blicado o trabalho do italiano Zacarias Visconti inti- um verdadeiro energúmeno e não ante um embuste,
tulado Complementum artis exorcisticae. Note-se ou ante alguém com padecimentos melancólicos que
que durante o século xvni algumas destas obras, no- teria tendência para se julgar possesso. O parecer de
meadamente as de Menghi, foram condenadas pela médicos chegava a ser recomendado. Esta profusão
Igreja e integralmente proibidas ou parcialmente de energúmenos, no entendimento de um qualifica-
censuradas, por se considerar conterem ideias pouco dor jesuíta do Santo Ofício, em 1713, era algo que
ortodoxas. No entanto, entre a data do seu apareci- ele sempre estranhara e que atribuía a duas ordens de
mento e boa parte do século xvii, serviram de guia e razões, deixando entender como no século xvni exis-
de cânon a muitos exorcistas portugueses, quer edi- tiria uma corrente no interior da Igreja muito caute-
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