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# 19.1
20 09 - 10 $ / 10 €
Doenças
intestinais
• Como tratar… Diarreia crônica em gatos • Diagnóstico laboratorial da doença intestinal
em cães e gatos • Ultrassonografia do intestino delgado em pequenos animais
• Cirurgia de emergência do trato gastrintestinal • Alergia/intolerância alimentar
• Giardia e Cryptosporidium como infecções emergentes em animais de companhia
• Parasitas intestinais em cães e gatos
CapaBrasil171:Focus 17.1 13/04/10 19:22 Página 2
O grande objetivo
dos pesquisadores que
trabalham para a Royal
Canin é compartilhar nosso
conhecimento com os
nossos colegas da
comunidade veterinária,
através de variados
artigos e livros.
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Focus_19_1_Brasil:Focus 13/04/10 19:27 Página 1
SUMÁRIO
# 19.1
VETERINARY 2009 - 10$/10€
A Veterinary Focus é publicada em inglês, francês, alemão, chinês, italiano, polonês, português,
espanhol, japonês, grego e russo.
Ilustração da capa: ovo do parasita gástrico Physaloptera spp.
Alergia/intolerância alimentar p. 36
Richard Harvey e Edward Hall
ALEMANHA ARGENTINA AUSTRÁLIA ÁUSTRIA BAHREIN BÉLGICA BRASIL CANADÁ CHINA CHIPRE COREIA CROÁCIA DINAMARCA EMIRADOS ÁRABES UNIDOS ESLOVÉNIA ESPANHA ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA ESTÓNIA FILIPINAS FINLÂNDIA FRANÇA GRÉCIA
HOLANDA HONG-KONG HUNGRIA IRLANDA ISLÂNDIA ISRAEL ITÁLIA JAPÃO LETÓNIA LITUÂNIA MALTA MÉXICO NORUEGA NOVA ZELÂNDIA POLÓNIA PORTO RICO PORTUGAL REINO UNIDO REPÚBLICA CHECA REPÚBLICA DA ÁFRICA DO SUL REPÚBLICA
ESLOVACA ROMÉNIA RÚSSIA SINGAPURA SUÉCIA SUIÇA TAILÂNDIA TAIWAN TURQUIA
AGRADECIMENTOS: A ROYAL CANIN DO BRASIL AGRADECE AO PROF. DR. RICARDO DUARTE PELA COLABORAÇÃO
NA REVISÃO DESTA EDIÇÃO DA REVISTA VETERINARY FOCUS
Consultores Editoriais Editor Tradução para outras línguas : Morada: 85, avenue Pierre Grenier
• Drª Denise A. Elliott, BVSc(Hons), PhD, Dipl. • Dr. Richard Harvey, PhD, BVSc, DVD, • Drª Imke Engelke, DVM (Alemão) 92100 Boulogne – França
ACVIM, Dipl. ACVN Comunicações Científicas, FIBiol, MRCVS • Drª María Elena Fernández, DVM (Espanhol)
Royal Canin, EUA • Drª Eva Ramalho, DVM (Português) Telefone: +33 (0) 1 72 44 62 00
Secretário Editorial • Dr Giulio Giannotti, DVM (Italiano)
• Dr Philippe Marniquet, DVM, Director de
• Laurent Cathalan • Prof. Dr. R. Moraillon, DVM (Francês)
Comunicações Científicas, Royal Canin, França • Dr. Matthias Ma, DVM (Chinês) Impresso na União Europeia
lcathalan@buena-media.fr
• Drª Pauline Devlin, BSc, PhD, Directora- • Dr. Ben Albalas, DVM (Grego) ISSN 0965-4577
Assistente Veterinária, Royal Canin, RU • Dr. Atsushi Yamamoto, et al., DVM (Japonês) Circulação: 100,000 cópias
• Ellinor Gunnarsson
• Drª Franziska Conrad, DVM, Comunicações • Dr. Boris Shulyak, PhD (Russo) Depósito legal: Fevereiro 2009
Científicas, Royal Canin, Alemanha • Drª Luciana D. de Oliveira (Português)
Ilustração • Drª Ana Gabriela Valério (Português)
• Drª Julieta Asanovic, DVM, Dipl. FCV, UBA, Publicado por Aniwa S. A. S.
• Youri Xerri • Drª Wandrea S. Mendes (Português)
Comunicações Científicas, Royal Canin,
Argentina Impresso no Brasil por:
Publicado por: Buena Media Plus Intergraf Ind. Gráfica Ltda.
CEO: Bernardo Gallitelli
As autorizações de comercialização dos agentes terapêuticos para uso em animais de companhia variam muito a nível mundial. Na ausência de uma licença
específica, deve ser considerada a publicação de um aviso de prevenção adequado, antes da administração de tais fármacos.
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COMO TRATAR...
Diarreia crônica
em gatos
um diagnóstico e instituir tratamento específico.
Etiologia
A Tabela 1 apresenta uma lista dos diagnósticos diferenci-
ais possíveis para a diarreia crônica no gato. Para uma
revisão mais extensa, o leitor deve consultar as
referências (1-3). As causas mais frequentes são o
Olivier Dossin, DVM, PhD, parasitismo (especialmente os protozoários, uma vez que
Dipl. ECVIM-CA não são considerados nas vermifugações de rotina), a
doença inflamatória intestinal (DII), o hipertiroidismo e o
Medicina Interna, Universidade de Illinois,
Illinois, USA linfoma alimentar. Em um estudo, a hipersensibilidade
alimentar foi descrita como sendo responsável por cerca de
O Dr. Dossin é formado pela Escola Veterinária de
Toulouse, em 1987, onde exerceu sucessivamente as 30% dos casos (4). A hipersensibilidade alimentar é uma
funções de assistente clínico, de professor assistente e condição muito difícil de diferenciar da DII, especialmente
professor associado em Medicina Interna de Pequenos quando a maioria dos gatos afetados apresenta alterações
Animais. Finalizou o seu Doutorado em neurofarmacologia histológicas compatíveis com inflamação intestinal crônica
molecular, na Universidade de Toulouse, em 1999. Sua
(4) e também porque o diagnóstico definitivo implica a
principal área de interesse clínica e pesquisa é a
gastrenterologia canina. Dr. Olivier Dossin obteve o seu realização de uma exposição provocativa com a dieta
certificado do ECVIM (European College of Veterinary inicial, que é frequentemente rejeitado pelos proprietários.
Internal Medicine), em 2003. Atualmente, é professor Ao contrário da maioria dos casos de DII, demonstrou-se a
assistente de Medicina Interna de Pequenos Animais na remissão dos sinais clínicos ao fim de 2 a 3 dias após a
Universidade de Illinois. As principais áreas de pesquisa
alteração dietética em gatos com sensibilidade alimentar
estão focadas nos testes de função do intestino delgado e
(4).
nas doenças gastrintestinais crônicas em cães e em gatos.
Os testes laboratoriais de rotina devem incluir hemograma Três casos clínicos são apresentados a seguir ilustrando a
e perfil bioquímico incluindo a determinação da T4, abordagem da diarreia crônica em gatos.
especialmente no caso de gatos idosos. O objetivo é excluir
as doenças metabólicas e qualquer consequência possível Caso clínico 1
de doença intestinal primária, tal como a hipoalbuminemia, Foi levada à consulta uma gata castrada, com 8 anos de
a hipocolesterolemia ou outros distúrbios eletrolíticos. idade, sem raça definida (SRD), com história de diarreia
Aumentos moderados nos valores da ALT e da FA estão, crônica de 4 meses de duração. A gata tinha sido
com frequência, presentes no hipertiroidismo e na vermifugada anteriormente (incluindo praziquantel/
inflamação intestinal crônica. pirantel e milbemicina), e foram instituídas alterações
dietéticas, incluindo dieta de alta digestibilidade com fonte
O próximo passo, no caso de não se ter obtido qualquer de proteína alternativa, bem como antibioticoterapia com
resultado específico com os testes anteriores, consiste na metronidazol durante um mês (10 mg/kg BID). A partir
pesquisa de possíveis doenças pancreáticas, incluindo a da anamnese o que se pode concluir é que a diarreia
insuficiência pancreática exócrina e a pancreatite crônica, parecia ter origem mista (intestino delgado e intestino
COMO TRATAR...
Tabela 2.
Caracterização da diarreia crônica de intestino delgado e grosso em gatos
Intestino delgado Intestino grosso
Fezes
Volume por defecação Aumentado Diminuída ou normal
Muco Ausente (exceto ileíte) Frequentemente presente
Melena Pode estar presente Excepcionalmente presente
Hematoquezia Ausente Frequentemente presente
Esteatorreia Presente na má digestão ou na Ausente
má-absorção
Defecação
Normalmente ligeiramente aumentado Aumento (várias defecações de
Frequência até 4 vezes por dia pequenos volumes de fezes)
Ausente Presente
Tenesmo Ausente Normalmente presente; por vezes
Urgência fora da caixa de areia
Outros sinais
Pode estar presente Pode estar presente
Flatulência/borborigmos Pode estar presente Raro
Perda de peso Pode estar presente Pode estar presente
Vômito
grosso) com aumento do volume das fezes por vezes para pesquisa de Cryptosporidium spp. e de Trichomonas
associado a tenesmo/urgência e muco. O proprietário não fetus, cujos resultados foram negativos para ambos os
notou qualquer alteração no comportamento da gata, que parasitas. Durante o questionário aos proprietários concluiu-
continuava bastante ativa, sem sinais de vômito, porém foi se que a gata tinha contato esporádico com um outro gato
constatada a presença de polifagia nas últimas semanas. A errante. Recomendou-se o tratamento de ambos os gatos
gata vivia num ambiente fechado com acesso limitado a com fembendazol (50 mg/kg, SID) durante um período de 4
um pátio e sempre sob controle do proprietário. No exame dias e a reavaliação da condição fecal após o tratamento. Foi
físico, a gata apresentava-se alerta e responsiva, mas com também recomendada a desinfecção da caixa de areia e de
peso abaixo do normal (índice de condição corporal de 2- todas as zonas de passagem com solução de amônia
3/9 e peso corporal de 2,5kg) A palpação abdominal revelou quaternária. Recomendou-se a realização de banho e
a presença de alças intestinais repletas de gás/fluído sem secagem a ambos os gatos, para evitar a possível presença de
qualquer dor ou dilatação marcante. O exame físico cistos na pelagem.
apresentou-se normal.
Os exames fecais posteriores apresentaram-se negativos ao
A realização de um esfregaço fecal com fezes frescas (Figura final do tratamento, assim como 3 semanas após o fim do
1) e de técnica de flutuação revelaram a presença de tratamento. Não foi descrita a ocorrência de recidiva por
infecção por Giardia, com mais de 500 cistos por grama de mais de um ano após o tratamento.
fezes. Os resultados dos testes de FeLV e FIV foram negativos,
o hemograma e o perfil bioquímico de rotina não revelaram Este caso ilustra bem que o parasitismo deve estar sempre no
anomalias. A gata foi tratada com metronidazol numa topo da lista dos diagnósticos diferenciais no caso de diarreia
dosagem de 25 mg/kg, BID, durante 10 dias. Quando os crônica em gatos. A Giardia é frequentemente observada
proprietários nos contataram por telefone, dois dias após o porque a maioria dos programas de vermifugação
início do tratamento, a diarreia tinha sido controlada, no realizados na rotina em gatos não são eficazes contra a
entanto, 10 dias após o fim do tratamento a diarreia Giardia. A prevalência descrita para a giardíase em gatos
recidivou. A pesquisa dos parasitas fecais revelou que a gata varia entre 2,4% até 10,2% nos testes de flutuação ou nos
ainda se encontrava severamente infectada com Giardia. testes de antígenos fecais (6-9), contudo, foi descrita como
Neste momento, as fezes foram submetidas ao teste de PCR sendo de cerca de 80% em técnicas de PCR fecais, na
Figura 1.
Trofozoítos de Giardia num esfregaço
de fezes frescas. Cortesia do Dr. Alan
Paul, Universidade de Illinois.
Austrália (7). A recidiva após o primeiro tratamento pode ser persistente, são Isospora felis, Cryptosporidium parvum e o
explicada pela provável recontaminação do ambiente da Trichomonas fetus. Curiosamente, um estudo reportou
gata pela presença de cistos persistentes, ou pelo transporte associação com diarreia e Giardia spp. e Cryptosporidium
de cistos por parte do gato que a gata tinha contato. A spp., mas não em gatos infectados com Isospora spp. ou
persistência dos cistos foi igualmente descrita como Toxocara cati (8). Deste modo, a diarreia não constitui um
sendo devida ao seu transporte na pelagem dos gatos (2). No preditor confiável quanto à excreção ativa de parasitas
entanto, esta recidiva pode ainda ser explicada pela intestinais.
ocorrência de resistência ao metronidazol, uma vez que as
fezes apenas foram pesquisadas para a presença de Nos casos de diarreia crônica, onde não existir diagnóstico
Giardia no final do período de tratamento. Por este mesmo específico após os resultados dos primeiros testes
motivo, decidiu-se alterar o tratamento e iniciar o diagnósticos e quando não puder ser feita pesquisa fecal
fembendazol. Mesmo que o fembendazol tenha sido eficaz completa dos parasitas (3 flutuações fecais por
neste caso em particular, o tratamento de escolha para a centrifugação), é indicado tratar o animal por meio de
giardíase felina continua a ser o metronidazol, o qual foi vermifugações simultâneas com metronidazol, de modo a
recentemente descrito como sendo muito eficaz no termo da combater a infecção por Giardia spp., antes de partir para
excreção dos cistos num grupo de gatos cronicamente testes GI específicos como a endoscopia ou a cirurgia para a
infectados (10). O fembendazol não está ainda aprovado em realização de biopsias.
gatos, mas permitiu o fim da excreção em apenas 4 de 8
gatos com infecção concomitante de Giardia e de Caso clínico 2
Cryptosporidium (11). Outro estudo demonstrou que o Foi levado à consulta um gato castrado de 9 anos de idade
fembendazol é seguro até 5 vezes a dose recomendada em com diarreia e perda de peso durante os últimos 5 meses. O
gatos adultos saudáveis (12) mas foi descrito num gato, proprietário comentou também que o gato tinha vomitado
recentemente, uma possível reação de hipersensibilidade cerca de 3 vezes por semana durante as últimas 4 semanas.
idiossincrática severa (13). De fato, a Giardia necessita O gato era o único animal a viver na casa e era estritamente
de algum teor de umidade para sobreviver e é susceptível um gato domiciliado. As mudanças dietéticas e o período de
morrer apenas com o ar seco. Mas, o controle de cistos tratamento com antibióticos não resultaram em qualquer
persistentes no ambiente é com frequência um problema. melhoria da sua condição clínica. O gato tinha sido
Os cistos morrerão se expostos a temperaturas acima dos vermifugado duas vezes durante as últimas 6 semanas com
55°C. Os desinfetantes que contêm compostos de amônia fembendazol (50mg/kg, BID, durante 4 dias) pelo Médico
quaternária são considerados os melhores desinfetantes no Veterinário. Os testes de FeLV e FIV originaram resultados
controle da Giardia embora alvejante em cloro numa negativos 6 semanas antes da consulta. No exame físico, o
diluição de 1:32 em água seja igualmente eficaz (2). Além gato apresentava-se alerta e responsivo, mas o índice de
dos nematódeos, os outros parasitas fecais que devem ser condição corporal estava diminuído (2/9). Não foram
pesquisados, especialmente em gatos jovens com diarreia palpadas hipertrofias na zona da glândula tiróide. A
COMO TRATAR...
pressão sanguínea sistólica foi de 210 mmHg tendo sido diarreia crônica em gatos e que o hipertiroidismo deve ser
determinada de modo consistente e repetido através da excluído antes de avançar o trabalho diagnóstico, mesmo se
ultrassonografia com Doppler. O exame de fundo do olho o gato não apresentar qualquer aumento de volume cervical
apresentou-se normal e à auscultação não foram observados palpável e especialmente se tiver mais de 7 anos de idade.
sons cardíacos anormais. O exame de fezes foi negativo em
três amostras diferentes de fezes. O hemograma estava Caso clínico 3
normal, no entanto a avaliação do perfil bioquímico Uma gata castrada de 8 anos de idade e sem raça definida
completo revelou um aumento da ALT (140 U/L – intervalo (SRD) foi levada à consulta com história de diarreia
de referência: 15-80 U/L) e da FA (130 U/L – intervalo de recidivante ao longo dos últimos 8 meses. A gata também
referência: 12-85 U/L). A avaliação da urinálise não apresentava perda gradual de peso. O seu apetite era
revelou qualquer anomalia no teste bioquímico (tira de variável e apresentava vômito esporádico mas não mais do
urina) e a densidade urinária foi determinada com um que 3 vezes por semana. A diarreia muitas vezes era acom-
refratômetro, obtendo-se leitura de 1,042. Na panhada da presença de sangue vivo e continha muco. Não
ultrassonografia abdominal não foi indicada qualquer foram observados sinais de tenesmo nem de urgência em
alteração. Diante desses resultados, os principais defecar, no entanto a gata defecava 2 a 3 vezes por dia, com
diagnósticos diferenciais para este gato com diarreia crônica tenesmo ocasionalmente. Os testes de FeLV e FIV foram
e aumento concomitante das enzimas hepáticas são: negativos. Tinha sido recomendada vermifugação pelo
veterinário, com associação de praziquantel e pamoato de
• doença hepatobiliar crônica; pirantel duas vezes, com um mês de intervalo e sem
• pancreatite crônica; qualquer melhoria. Da mesma maneira, após um mês de
• DII ou neoplasia intestinal e hipertiroidismo. tratamento com metronidazol não houve melhoria da
condição clínica da gata e as alterações dietéticas não
A presença concomitante de hipertensão sem qualquer outro induziram alteração clínica. O exame físico foi considerado
sinal de insuficiência renal colocou o hipertiroidismo no normal, a gata não estava desidratada. As alças intestinais
topo da lista dos diagnósticos diferenciais. O valor da T4 estavam ligeiramente espessadas à palpação abdominal.
total plasmática era 75 nmol/L (intervalo de referência: Face a esta apresentação clínica de uma gata com 8 anos de
15-52 nmol/L) confirmando assim o diagnóstico de hiper- idade e diarreia do intestino grosso, os principais
tiroidismo. Foi realizada uma cultura urinária devido à diagnósticos diferenciais iniciais são:
maior frequência de infecção do trato urinário em gatos com
hipertiroidismo (14). O resultado foi negativo. O gato iniciou • parasitismo, especialmente Giardia levando em
tratamento com metimazol na dosagem de 2,5 mg BID e consideração a história de vermifugação recente;
com amlodipina numa dose de 0,625 mg SID para a • causas metabólicas, especialmente o hipertiroidismo e
hipertensão, uma vez que os valores obtidos para a as doenças hepáticas;
pressão sanguínea foram suficientemente altos para causar • pancreatite crônica ou insuficiência pancreática exócrina;
preocupação sobre possível lesão orgânica. A pressão • doença intestinal primária, incluindo inflamação intestinal
sanguínea sistólica foi novamente determinada após uma crônica e neoplasia.
semana, sendo de 166 mmHg, e a diarreia tinha melhorado,
embora a fezes fossem ainda de baixa consistência. Foi O hemograma estava normal, exceto a presença de anemia
realizada uma ecocardiografia que não demonstrou sinais não regenerativa moderada a qual foi considerada estar
de hipertrofia cardíaca. O valor de T4 total foi novamente associada a uma doença crônica. Com base na referência de
determinado após 3 semanas de tratamento sendo de 30 presença de sangue vivo nas fezes foi realizado um perfil de
nmol/L. Deste modo, o gato foi mantido com a dose coagulação o qual se encontrava dentro dos valores normais.
inicial de metimazol. Não foi observado qualquer aumento As flutuações fecais realizadas em três amostras fecais
nas concentrações plasmáticas de creatinina e de uréia no diferentes e um teste antigênico para Giardia foram todos
perfil bioquímico e os valores de ALT e de FA encontravam-se negativos. O perfil bioquímico somente revelou existência de
dentro do intervalo normal. Na presente data as fezes diminuição da concentração plasmática de albumina (20
encontravam-se normais, a pressão sanguínea sistólica era g/L – intervalo de referência: 25-38 g/L), com valores de
de 156 mmHg e o gato foi mantido com amlodipina. globulina normais, ligeiro aumento na FA plasmática
(110U/L – intervalo de referência: 12-85 U/L), e valores de
Este caso demonstra que as doenças metabólicas devem T4 normais. A urinálise não revelou qualquer perda de
estar sempre na lista de diagnósticos diferenciais para a proteína e a densidade urinária específica foi de 1,038. Em
Figura 2.
Ultrassonografia abdominal do caso clínico 3. Imagem de uma
alça do jejuno medial evidenciando o espessamento da parede
(3.1mm). O espessamento está localizado na camada muscular
externa e toda a margem externa da serosa se encontra irregular. Figura 3.
Cortesia do Dr. Robert O’Brien, Universidade de Illinois. Imagem endoscópica do duodeno do caso clínico 3. Notar a
irregularidade da mucosa e com granularidade aumentada.
suma, esta gata apresenta diarreia com hipoalbuminemia normal, mas uma quantidade importante de distorções
conco-mitante. Assim, as principais causas possíveis foram observadas na biopsia. O patologista não conseguiu
incluem doença hepática, possivelmente associada a excluir a possibilidade de linfoma devido à natureza
pancreatite crônica, enteropatia com perda de proteína muito superficial das biopsias. Mesmo a coloração imuno-
(devido a inflamação crônica ou a neoplasia intestinal histoquímica das biopsias (15) não foi definitivamente
primária) e insuficiência pancreática exócrina. A conclusiva entre ambas as condições. As mucosas do
insuficiência hepática foi excluída após a realização de teste estômago e do cólon foram consideradas normais. Levando
de dosagem pré e pós-prandial dos ácidos biliares. em consideração o possível diagnóstico de linfoma, foi
decidido realizar biopsias profundas antes de iniciar
A ultrassonografia abdominal não demonstrou alterações qualquer tratamento imunossupressivo. Foram alvo de
hepáticas ou pancreáticas, mas a mucosa do intestino del- biopsia os três segmentos do intestino delgado, um linfo-
gado não se encontrava normal, havendo concomitante nodo hipertrofiado, o pâncreas e o fígado. As biopsias
hipertrofia dos linfonodos mesentéricos (Figura 2). A TLI hepáticas e pancreáticas foram consideradas normais e as
felina sérica estava dentro do intervalo de referência normal, biopsias do intestino delgado confirmaram o diagnóstico
excluindo assim a hipótese de insuficiência pancreática, prévio de inflamação intestinal crônica (Figura 4). As
contudo a cobalamina sérica estava bastante diminuída (190 biopsias profundas excluíram a possibilidade de linfoma. Foi
ng/L – intervalo de referência 290-1499 ng/L). A admitido diagnóstico definitivo de DII nesta gata. Deste
concentração de folato sérico estava dentro dos valores modo, foi tratada com prednisolona numa dosagem de 2
normais. Devido ao estado clínico ruim e à diarreia mista foi mg/kg, BID, durante 5 dias; depois 1,5 mg/kg, BID, durante
efetuada gastroduodenoscopia e colonoscopia. Apenas a uma semana e 1 mg/kg, BID, durante uma semana. O
mucosa duodenal foi considerada anormal, verificando-se animal foi reavaliado após 3 semanas, as fezes ainda
a presença de granularidade e de friabilidade aumentadas estavam amolecidas, mas em melhores condições. Não foi
(Figura 3). Foram realizadas biopsias no estômago, no observado tenesmo nem muco, tendo a gata aumentado
duodeno descendente, no cólon e, de modo aleatório, no 0,4 kg até aquela data. Após 6 semanas, a concentração de
íleo. Foi iniciada uma dieta de eliminação à base de soja cobalamina sérica encontrava-se dentro do intervalo de
hidrolisada e instituiu-se como antibioticoterapia o referência. Assim, iniciou-se a administração de
metronidazol numa dosagem de 10 mg/kg, BID, durante 4 cobalamina de 250 µg, via SC, a cada 4 a 6 semanas. A
semanas. Devido à baixa concentração sérica de cobalamina, dose de prednisolona foi progressivamente diminuída e três
foi administrada vitamina B12 (250 µg/kg uma vez por meses depois a gata estava clinicamente normal. Foi
semana, por via SC durante 6 semanas). O resultado mantida com esteróides (1mg/kg a cada dois dias) e com
histológico foi consistente com inflamação linfo- dieta de eliminação durante mais de 6 semanas após
plasmocítica crônica do intestino delgado, com presença de remissão completa dos sintomas. Desde então foi mantida
infiltração muito importante e alterações na arquitetura com a dieta de eliminação, contudo pequenas recidivas
COMO TRATAR...
Tabela 3.
Fármacos utilizados para o tratamento de DII
em gatos
Fármacos Dosagem
Terapêutica dietética
Dieta com proteína
nova ou proteína
hidrolisada
Alimento de alta
digestibilidade
Antibióticos
Metronidazol 7-10mg/kg, PO, BID
Oxitetraciclina 10-20mg/kg, PO, BID
Doxiciclina 5mg/kg, PO, BID
Fármacos imunossupressores
Prednisolona 1-2mg/kg, PO, BID durante
4-7 dias como dose inicial.
A seguir, diminuir lentamente
de acordo com a melhoria
Figura 4. clínica (pelo menos 2-3 meses
Aspecto histopatológico da biopsia de camada completa do de tratamento)
jejuno do caso clínico 3. A arquitetura das vilosidades está 1-4mg/kg, BID (controlar
Ciclosporina
destruída com friabilidade e fusão ocasional das extremidades através dos níveis)
das vilosidades, dilatação ligeira dos lácteos centrais e fibras
musculares lisas proeminentes. A lâmina própria encontra-se Clorambucil 1-2mg/m2 PO, a cada dois
dias com desmame
infiltrada de modo intenso e difuso por um número elevado de
linfócitos maduros e de células plasmáticas que fragilizam as
criptas concentrando-se numa banda espessa de 7 a 9 células. Outros
São igualmente observados números elevados de linfócitos Cobalamina 250µg/semana, SC, durante
6 semanas, a seguir
intra-epiteliais. O epitélio da mucosa encontra-se ligeiramente 250µg/mês, SC durante um
atenuado por enterócitos cubóides que normalmente não ano
possuem borda em escova distinta. Cortesia do Dr. Luke Borst,
da Universidade de Illinois. Sulfasalazina 10-20mg/kg, PO, BID
recentes obrigaram a um tratamento esporádico com Iniciar as alterações dietéticas e o metronidazol. Utilizar os
fármacos imunossupressores apenas em caso de falha do trata-
metronidazol ou com prednisolona associada a um período mento prévio, com excepção dos casos severos em que há
de suplementação com cobalamina. perda de proteína (hipoalbuminemia), sendo recomendável
iniciar a terapia imunossupressora como uma primeira linha de
tratamento. A primeira escolha do tratamento imunossupressor
A DII constitui um diagnóstico de exclusão e após terem sido
é a prednisolona.
excluídas todas as outras causas possíveis de inflamação
crônica (e.x. tumor, parasita, infecção, alergia alimentar raramente é eficaz, devendo por isso ser associado, pelo
ou doença sistêmica). A etiologia da DII continua sendo menos no início, a um período de antibioticoterapia.
especulativa em gatos, mas é considera-se estar associada
a reação de hipersensibilidade da mucosa intestinal. A DII Um estudo recente em gatos demonstrou que o número total
pode desenvolver-se como consequência da perda de de bactérias aderentes à mucosa estava correlacionado com
tolerância do sistema imunológico intestinal a i) antígenos o índice histológico de DII (17). Além disso, o número de
intraluminais, tais como microbiota intestinal normal ou Enterobacteriaceae, de E. coli e de Clostridium spp.
de componentes alimentares; ou ii) antígenos ocasionais aderentes estava correlacionado com uma super-regulação
intraluminais, tais como bactérias não residentes ou de citocinas de mRNA e com os sinais clínicos (17). Estas
parasitas (16). evidências levantam a hipótese de que as bactérias podem
estar envolvidas na patogênese da DII em gatos e confir-
Concomitante ao tratamento da DII é recomendada a mam que os antibióticos são de grande utilidade no trata-
alteração dietética. Esta alteração pode implicar em dieta de mento desta condição.
eliminação, dieta de proteína selecionada ou ainda dieta de
alta digestibilidade. Por si só, o tratamento dietético Em caso de falha da combinação de modificação dietética e
antibioticoterapia, devem ser utilizados fármacos imunos- qualquer deficiência de modo a normalizar o metabolismo e
supressores. É recomendado iniciar o tratamento pelos reduzir os sinais clínicos (18). Este caso de DII é incomum
corticosteróides e depois associar, ou substituir, outro devido o surgimento da hipótese de linfoma nas biopsias
fármaco em caso de falha terapêutica utilizando apenas os colhidas por endoscopia, o que nos levou a realizar biopsias
corticosteróides (Tabela 3). profundas, de modo a aprofundar a exploração.
Recentemente foi descrito que as biopsias endoscópicas não
A deficiência em cobalamina é frequente em gatos com são adequadas para fazer a distinção entre a DII e o linfoma
doença gastrintestinal nos EUA, especialmente nos casos de no intestino delgado (21). Neste caso em particular, as
DII e de linfoma alimentar (18,19). No entanto, a preva- biopsias profundas excluíram a possibilidade de linfoma,
lência de hipocobalaminemia pode ser inferior em outros o que foi considerado prioritário antes de se iniciar um
países como o RU (20). Devido a hipocobalaminemia estar tratamento com corticosteróides devido ao risco de
associada a distúrbios metabólicos severos, esta deve ser resistência secundária à quimioterapia.
avaliada em gatos com sinais GI crônicos e deve ser corrigida
REFERÊNCIAS
1. Hall EJ, German AJ. Diseases of the small intestine. In: Ettinger SJ, 12. Schwartz RD, Donoghue AR, Baggs RB, et al. Evaluation of the safety
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Diagnóstico laboratorial
da doença intestinal em
cães e gatos
proteína.
2. Testes complementares específicos
• TLI sérica – insuficiência pancreática exócrina
Exame fecal • Folato e cobalamina (vitamina B12) séricos – doença do
As fezes dos animais com diarréia devem ser examinadas intestino delgado
para parasitas intestinais (incluindo giardia, coccidios, • Teste da permeabilidade intestinal – doença do intestino
delgado em cães
ancilóstomo e os tricurideos) e bactérias potencialmente
• Inibidor α1–protease fecal – enteropatia perdedora de proteína
patogênicas (incluindo a Salmonella e o Campylobacter). • Biopsia e histopatologia intestinal – endoscopia ou laparotomia
A presença de parasitas ou de bactérias patogênicas não
significa necessariamente que estes sejam responsáveis pelos
sinais clínicos, uma vez que alguns animais podem também
ser portadores, mas o tratamento deve ser considerado antes
de outras investigações adicionais. No entanto, como existe o
particular risco de tornar-se portador no caso da Salmonella
Tabela 3.
spp., esta deve ser apenas tratada quando estiver perante a
Característica de diarreia do intestino delgado ou
uma doença intestinal severa ou quando existir evidência grosso
de envolvimento sistêmico.
Sinais clínicos Intestino delgado Intestino grosso
Na etiologia da doença gastrintestinal em cães e gatos Fezes
muitos enteropatógenos primários tem sido implicados
Volume Aumentado >3 vezes Aumentado 1-3 vezes
como causadores e particular atenção têm sido dada à Muco Raro Frequente
Salmonella spp. e ao Campylobacter spp., os quais podem ser Sangue Raro Frequente
Gordura/alimento Algumas vezes Não
facilmente identificados numa cultura fecal. A detecção
de enterotoxinas tem sido utilizada como meio de Defecação
identificação de sorovares potencialmente enteropatogê-
Urgência Não Sim
nicas de Clostridium (1), contudo, a sua relevância, Tenesmo Não Sim
Frequência 3-5 vezes/dia >5 vezes/dia
particularmente na doença intestinal crônica, não é ainda
clara. No entanto, existem sinais que indicam que deve
Perda de peso Algumas vezes Raro
ser considerada a hipótese de E.coli enteropatogênica,
devido ao fato de já terem sido identificadas cepas
Figura 1.
Mecanismo de lesão do intestino por E.coli
enteropatogênica (EPEC), o qual envolve a
remoção das microvilosidades da superfície
das células epiteliais do intestino destruindo
a sua função de absorção.
Célula do epitélio
intestinal
portadoras de genes patogênicos em cães e gatos, através da causar doença clínica aguda. No entanto, as suas proprie-
utilização de técnicas de biologia molecular (2-4). Estão dades como a adesão à superfície pela EPEC ou invasão da
comercialmente disponíveis ensaios PCR para estes genes mucosa podem promover a colonização a longo prazo
patogênicos e são absolutamente necessários para a correta predispondo a ocorrência de doença crônica ou o estado de
distinção entre a E.coli não patogênica e a E.coli portador. Os casos crônicos podem ser difíceis de controlar,
enteropatogênica, a qual pode ser facilmente ignorada, uma que pode ser devido a uma série de fatores incluindo o fraco
vez que não é possível a sua identificação através das suporte de uma resposta deficiente do hospedeiro, a
técnicas microbiológicas de rotina. resistência aos antibióticos, ou a reinfecção a partir do meio
ambiente.
A E.coli enteropatogênica (EPEC) parece ser o tipo mais
comum de E.coli patogênica e em cães existem evidências Neste caso, deve ser considerada como adjuvante do
de que podem mesmo causar diarreia aguda ou diarreia tratamento, uma vacina oral autógena de E.coli preparada a
crônica (4).Funcionam através de um mecanismo de adesão partir do isolamento de E.coli daquele animal em particular,
e destruição ou lesão AE (“attaching- effacing”) o qual lhes como forma de ajudar a prevenir a recolonização (5). Esta
permite remover as microvilosidades dos enterócitos abordagem tem demonstrado ser eficaz no controle da
causando diarreia osmótica devido ao comprometimento diarreia nos ambientes de risco, como o caso dos canis de
da função de absorção (Figura 1). criadores e dos hotéis caninos.
As E.coli secretoras de citotoxinas secretam estes
compostos que são letais para as células do epitélio É muito provável que existam ainda mais cepas de E.coli
intestinal, causando hemorragia e ulceração, mimetizando enteropatogênicas para serem identificadas. Esta afirmação
potencialmente a enterocolite severa causada por bactérias é reforçada pelo recente estudo que revelou que a colite
invasoras. As E.coli enterohemorrágicas (EHEC, VTEC – granulomatosa presente nos cães de raça Boxer está
produtoras de verotoxinas) são as mais estudadas neste associada à colonização intra-mucosa por E.coli aderentes e
grupo, o qual inclui igualmente as E.coli enteroagregantes invasivas que se assemelham no genótipo aos sorovares
(EAEC) e as E.coli secretoras de CNF - fator citotóxico extra-intestinais (6).
necrosante. As E.coli enteroinvasivas (EIEC) podem invadir a
mucosa do intestino delgado distal e o cólon causando O Trichomonas fetus é um protozoário que também emergiu
enterocolite aguda. Esta é tipicamente manifestada por recentemente como causa potencial de diarreia persistente e
diarreia acompanhada pela presença de sangue e muco, e intratável em gatos (7). Os sinais clínicos são consistentes
pode resultar em sepse fatal caso os organismos penetrem com a colonização do cólon, apresentando-se classicamente
a barreira intestinal. A E.coli enterotoxigênica (ETEC) não como uma diarreia do intestino grosso sem perda de peso.
causa lesão intestinal mas secreta toxinas que possuem um Este parasita parece afetar principalmente gatos jovens e
efeito bioquímico específico. Estas atuam como secretagogos filhotes provenientes de gatis, e trata-se de outro organismo
originando uma diarreia aquosa rica em eletrólitos. cuja identificação é melhor conseguida através da técnica de
PCR.
Todas estas E.coli patogênicas apresentam o potencial de A pesquisa microscópica de fezes para a presença de
Ausência de Figura 2.
Folato transportadores de
desconjugase folato Mecanismo de absorção do folato. O folato
poliglutamato é degradado pela folato
desconjugase na porção proximal do
intestino delgado onde o folato mono-
glutamato pode, em seguida, ser absorvido
Fraca por transportadores de folato. A ausência
absorção de transportadores de folato resulta na
de folato absorção mínima de folato no intestino
Folato delgado distal e do cólon.
poliglutamato
Absorção
de folato
absorção do folato monoglutamato por transporte ativo. intestino delgado, o que raramente ocorre em cães com IPE.
Deste modo, uma diminuição do folato sérico é sugestivo de Em contraste, a absorção normal de cobalamina alimentar
lesão da porção proximal do intestino delgado, uma vez que ocorre especificamente na porção distal do intestino delgado
esta é a principal porção onde ocorre a absorção do folato e envolve um mecanismo muito mais complexo que os
alimentar. Existem inúmeras causas para a ocorrência de outros nutrientes (Figura 3). Isto ocorre porque a
lesão desta porção do intestino, entre elas, a sensibilidade cobalamina é uma molécula muito grande e não é capaz de
dietética que afeta particularmente a porção proximal do atravessar a barreira do epitélio intestinal por difusão ou por
intestino delgado, onde se encontram em maior concentra- transporte ativo, processos de absorção utilizados por outros
ção os antígenos dietéticos intraluminais, p.ex. enteropatia nutrientes. Em vez disso, a sua absorção envolve a
por sensibilidade ao glúten nos Setter Irlandeses. Outras combinação da cobalamina a uma proteína de ligação
causas alternativas possíveis de lesão intestinal proximal específica para a cobalamina denominada “fator intrínseco”
incluem a doença inflamatória intestinal idiopática e o (IF - intrinsic factor). Subsequentemente, um segundo local
linfoma. de ligação do fator intrínseco liga-se a receptores
específicos presentes apenas na superfície das células
Nos gatos, as concentrações de folato sérico abaixo do intestinais do íleo. Esta ligação induz a endocitose de
normal estão frequentemente associadas a anomalias mediação celular do complexo IF-cobalamina para o
morfológicas inequívocas do intestino delgado, particular- interior dos enterócitos ileais, o que facilita a passagem da
mente a “doença inflamatória intestinal”. Os gatos com IPE cobalamina do lúmen intestinal para o sangue. O IF é
podem também apresentar baixas concentrações séricas de sintetizado pelo estômago na maioria dos animais, incluindo
folato sugerindo a existência de doença concomitante do os humanos. Contudo, o pâncreas é um importante local de
síntese do IF no cão (12), e constitui o único local de síntese efeitos deletérios relacionados com as suas concentrações,
no gato (13). As proteases pancreáticas degradam igual- bem como com a composição da microbiota, incluindo a
mente as proteínas R não específicas do estômago que, de demonstração do aumento da permeabilidade intestinal
outra forma, se ligariam à cobalamina e não permitiriam a (ver abaixo) em Beagles com SIBO mas aparentemente
sua ligação ao IF. Na IPE, a interferência com a produção saudáveis (17). A recuperação dependerá de diversos fatores
do IF pancreático e das proteases pancreáticas pode resultar incluindo a dieta e a capacidade de defesa da mucosa do
na deficiência de cobalamina em cães e na deficiência hospedeiro, bem como o estado clínico dos animais, uma
particularmente severa de cobalamina em gatos, enfati- vez que a sobrecarga bacteriana intestinal pode variar entre
zando a necessidade de excluir o diagnóstico de IPE durante indivíduos.
da interpretação dos resultados da cobalamina. A
diminuição da cobalamina sérica pode ser um indicador de As baixas concentrações de cobalamina sérica e/ou elevadas
lesão da porção distal do intestino delgado e, quando de folato sérico podem constituir indicador indireto de
acompanhada por baixas concentrações séricas de folato, é SIBO em cães, desde que tenham sido eliminadas as outras
sugestiva de doença difusa, potencial e relativamente severa causas possíveis destas alterações, tais como a
que afeta a porção proximal e distal do intestino delgado. insuficiência pancreática (Tabela 4). Na verdade, o SIBO
As baixas concentrações de cobalamina sérica no gato é uma causa particularmente frequente de déficit de
parecem ser relativamente frequentes e indicadoras de cobalamina em cães, devido à presença de elevadas
doença intestinal severa, particularmente de doença quantidades de bactérias na porção proximal do intestino
inflamatória intestinal ou de linfoma (14). Surpreendente- delgado, em particular anaeróbios incluindo Clostridium
mente, a possibilidade de doença do intestino delgado no e Bacteroides spp., capazes de se ligarem e utilizarem a
gato pode passar facilmente despercebida, particularmente cobalamina de modo que esta não esteja disponível para
se não existirem sinais clínicos óbvios que apontem para a a absorção no intestino delgado distal (Figura 4). As
existência de uma doença GI, como vômito ou diarreia. Pode elevadas concentrações séricas de folato no SIBO são
ser muito vantajoso realizar testes de folato e de cobalamina resultantes da capacidade que muitas das bactérias
em gatos com perda de peso como principal sinal clínico, intestinais possuem em sintetizar folato, o qual pode ser
particularmente em gatos de meia idade e gatos idosos absorvido e assim contribuir para a concentração sérica
com suspeita de hipertiroidismo. quando estas bactérias estão presentes no intestino del-
gado proximal (Figura 4).
As baixas concentrações de cobalamina sérica e/ou elevadas
de folato sérico no cão podem ser um indicador do Em contraste, o folato é fracamente absorvido no intestino
supercrescimento bacteriano intestinal (SIBO – small delgado distal e no cólon, deste modo as bactérias presentes
intestinal bacterial overgrowth) na porção proximal do nestes locais originam uma contribuição relativamente
intestino delgado (15,16), igualmente conhecido como pequena para o folato sérico. Enquanto que o aumento do
“diarreia responsiva a antibióticos” (Figura 4). O SIBO é folato sérico, por si, pode sugerir SIBO, um elevado nível de
uma condição relativamente frequente em muitas raças de folato sérico acompanhado por um nível reduzido de
cães grandes e, classicamente, apresenta-se em animais cobalamina é particularmente indicador de SIBO no cão. O
jovens como uma diarreia crônica intermitente do intestino SIBO constitui um problema secundário frequente em cães
delgado, que pode ser acompanhada por perda de peso com IPE e pode resultar no aumento do folato sérico, além
corporal ou incapacidade de aumento de peso. As alterações de contribuir para uma redução da cobalamina causada pela
histológicas das biopsias intestinais estão apenas presentes deficiência em IF e em enzimas pancreáticas (Figura 3). O
numa pequena parte dos casos. SIBO não é uma síndrome clínica tipicamente encontrada
em gatos, mas potenciais bactérias intestinais podem ligar-se
Contudo, estudos bioquímicos demonstraram a presença e contribuir para uma redução da cobalamina sérica. Con-
de lesão distinta da mucosa, a qual é reversível após tudo, após descartada a hipótese de insuficiência pancreática
antibioterapia e não é, normalmente, detectada na (IPE), a baixa concentração de cobalamina sérica é
histopatologia de rotina (15,16). provavelmente indicadora de doença do intestino delgado
Enquanto existe ainda alguma controvérsia no que diz no gato.
respeito à concentração de bactérias, considerada como
normal na porção proximal do intestino delgado, há A má-absorção hereditária seletiva de cobalamina em
evidências substanciais que demonstram que as bactérias cães pode resultar numa deficiência severa de cobalamina
intraluminais e os produtos por elas segregados possuem causada por uma anomalia do receptor do IF nas células
Figura 4.
Mecanismo do aumento do folato sérico e da
Síntese do Folato sérico
diminuição da cobalamina sérica (vitamina
folato aumentado
B12) no supercrescimento bacteriano intestinal
(SIBO) em cães. As bactérias intestinais
podem sintetizar o folato, podendo este ser
absorvido no intestino delgado proximal, e
podem combinar-se com a cobalamina
resultando na falha da sua absorção no íleo.
Ligação à Má-absorção da
cobalamina cobalamina
epiteliais do íleo. Esta condição é relativamente rara mas foi Teste da permeabilidade intestinal
bem descrita nas raças Schnauzer Gigante, Border Collie, A avaliação da permeabilidade intestinal é um procedimento
Pastor Australiano e Beagle (18,19). Esta hipótese deve ser extremamente sensível, não-invasivo, que pode ser mais útil
considerada como uma explicação possível para os níveis do que uma simples biopsia intestinal na detecção e na
muito reduzidos de cobalamina sérica, particularmente abordagem da doença do intestino delgado em cães. Os
em cães jovens com menos de um ano de idade e que resultados da biopsia podem parecer normais apesar
apresentem sinais clínicos de mau desenvolvimento, da lesão intestinal (p.ex. supercrescimento bacteriano), ou
possivelmente acompanhados por sinais clínicos GI e as alterações histopatológicas podem ser não-específicas,
anemia crônica não-regenerativa. não dando indicação da causa (p.ex. doença inflamatória
intestinal, que pode ser devida a sensibilidade alimentar, a
Por fim, perante todas estas possibilidades de combinações, supercrescimento bacteriano ou ainda ser idiopática). De
o leitor pode questionar como será possível fazer um forma oposta, o teste da permeabilidade intestinal pode
raciocínio lógico frente aos resultados destas vitaminas? Como detectar lesões intestinais sutis a graves nos cães e pode
abordagem prática na maioria dos cães, frente a um ajudar a determinar a causa da lesão quando utilizada para
resultado de baixos teores de folato, deve considerar-se monitorar a resposta ao tratamento. Infelizmente, esta
inicialmente a possibilidade de sensibilidade alimentar e, abordagem não parece ser útil em gatos, os quais
nos cães com cobalamina reduzida, considerar inicialmente normalmente apresentam uma permeabilidade intestinal
o diagnóstico de SIBO, particularmente se simultaneamente muito elevada em comparação com os cães. Estudos
existirem elevadas concentrações de folato. Se o folato e a realizados com 51Cr-EDTA estabeleceram claramente o
cobalamina estiverem reduzidos deve pensar-se em doença potencial valor do teste da permeabilidade em cães, no
do intestino delgado mais grave e potencialmente difusa. No entanto surgiram impedimentos práticos associados à
gato, deve se prestar particular atenção à presença de baixos utilização de um indicador radioativo (17,20). Subsequen-
teores de cobalamina, os quais podem indicar doença temente, foram desenvolvidos procedimentos envolvendo a
intestinal relativamente grave – a qual deve ser pesquisada administração oral de solução de glicose contendo lactulose
tanto em gatos com ou sem sinais óbvios GI – e ficará e ramnose, e a análise destes açucares numa coleta total de
surpreendido com a quantidade de gatos que apresentam urina ao fim de um longo período de tempo ou, de modo
doença GI e que facilmente passaria despercebida. mais conveniente, numa amostra única de sangue coletada 2
Relembre que a cobalamina, em particular, é necessária para horas após a administração da solução (21,24).
manter muitas funções celulares, incluindo a integridade e a
função do trato gastrintestinal. Assim, os cães e os gatos com O princípio deste teste de açúcar encontra-se ilustrado na
déficits importantes podem não responder ao tratamento Figura 5: o intestino delgado normal está delineado por
de uma alteração subjacente, até que estes sejam corrigidos vilosidades tipo dedo de luva cobertas por células epiteliais
pela administração parenteral de cobalamina, o que em de absorção, as quais formam uma barreira eficaz entre o
alguns casos implica a administração para toda a vida, por lúmen e lâmina própria. Existem duas vias potenciais para a
exemplo, nos cães com má-absorção hereditária de transferência passiva de moléculas através desta barreira:
cobalamina e nos gatos com IPE. • A permeabilidade paracelular entre células epiteliais é
Figura 5. Lúmen
Princípio do teste de açúcar via oral para a
Lactulose: permeabilidade paracelular
avaliação da permeabilidade intestinal. A
lesão intestinal pode causar o aumento da
permeabilidade paracelular à lactulose e a Ramnose: permeabilidade transcelular
diminuição da permeabilidade transcelular
à ramnose, resultando no aumento da
relação lactulose/ramnose na urina ou no
sangue.
Lâmina própria
Figura 6.
Resultados da permeabilidade intestinal num
cão com sensibilidade alimentar. A figura
evidencia uma elevada relação lactulose/
ramnose inicial que diminui em função da 0.16
Rácio lactulose/ramnose
normalmente baixa, uma vez que as ligações celulares raça Golden Retriever com sinais clínicos de vômito e
de oclusão (tigh junctions) formam tampões eficazes, diarreia crônicos. A elevada permeabilidade antes do
impedindo a passagem de moléculas patogênicas de tratamento indicava lesão intestinal, a qual se resolveu
maiores dimensões: prova = lactulose. através de uma dieta de exclusão à base de frango e arroz e
• A permeabilidade transcelular através das células epiteliais que recidivou com a introdução da dieta de provocativa,
é normalmente elevada, uma vez que esta via permite a indicando uma verdadeira sensibilidade alimentar (21).
absorção de pequenos nutrientes: prova = ramnose.
Os testes de permeabilidade têm demonstrado ser parti-
A interferência com as tight junctions resulta no aumento cularmente úteis na avaliação da severidade da lesão da
da permeabilidade da lactulose, ao passo que a perda das mucosa quando existe supercrescimento bacteriano (SIBO)
microvilosidades ou das vilosidades resulta na redução da bem como na abordagem a longo prazo (22). A permea-
área de superfície e, assim, na diminuição da permea- bilidade intestinal encontra-se aumentada em cerca de 50 a
bilidade da ramnose. O resultado final é o aumento da 60% dos casos clínicos de SIBO, mesmo quando não existem
relação lactulose/ramnose no sangue e na urina colhidos anomalias histológicas, e reduz classicamente com a realiza-
após administração oral destes açúcares. ção de antibioterapia oral durante um mês (a oxitetraciclina
é especialmente bem sucedida, mas o metronidazol e a
A aplicação deste teste na identificação de sensibilidade tilosina constituem também alternativas eficazes)
dietética como uma causa de lesão intestinal encontra-se (Figura 7). A normalização da permeabilidade intestinal na
ilustrada na Figura 6, na qual se demonstram na urina a sequência de antibioterapia é um indicador da recuperação
relação destes açúcares num cão com 3 anos de idade, da bem sucedida da mucosa lesionada e que os antibióticos
Figura 7.
Resultados da permeabilidade intestinal em
0.5 11 cães com supercrescimento bacteriano do
Razão lactulose/ramnose
0.1
0
Pré-tratamento Pós-tratamento
devem ser descontinuados. A Figura 8 demonstra que os linfoma intestinal e na linfangiectasia, que consiste numa
cães que continuam com permeabilidade elevada após 1 anomalia da drenagem linfática. Esta condição pode ter
mês de tratamento apresentam 3 vezes maior probabilidade implicações nutricionais, podendo agravar a má-absorção
de sofrer recidiva, independentemente de uma aparente associada à lesão da mucosa. No entanto, uma perda de
resposta clínica ao tratamento, sendo por isso recomendada albumina que exceda a taxa de síntese hepática, apesar da
a manutenção da antibioterapia. As diferenças são mais existência de reabsorção e de disponibilidade dos
significativas após os primeiros 3 meses de tratamento, uma aminoácidos constituintes, pode resultar em diminuição
vez que os cães com permeabilidade elevada apresentam da albumina sérica com consequente formação de
uma probabilidade 8 vezes superior de sofrer recidiva. Uma ascite, de efusão torácica e de edema. A avaliação da
permeabilidade elevada persistente em cães com resposta perda de proteína pode assim, ser útil na detecção da
clínica debilitada devem ser sujeitos a investigações afecção intestinal, idealmente antes que ocorra uma
adicionais para uma possível causa subjacente, como por hipoproteinemia significativa, e pode igualmente
exemplo a doença inflamatória intestinal. confirmar se os níveis baixos de albumina sérica são ou
não devidos a enteropatia por perda de proteína, após a
Avaliação da perda intestinal de proteína exclusão de nefropatia com perda de proteína e de
A perda de proteína para o interior do trato gastrintestinal doença hepática através dos testes rápidos disponíveis.
pode ocorrer numa diversidade de doenças intestinais, Foi desenvolvido o teste fecal do inibidor da α1–proteinase
principalmente na doença inflamatória intestinal, no
(α1–PI) de modo a conseguir avaliar a perda de proteína de que não afetam regiões de intestino acessível por
origem intestinal, uma vez que o α1–PI é uma proteína sérica endoscopia, pode ser necessária a realização de biopsias
com dimensões muito semelhantes às da albumina e, por profundas através de laparotomia.
isso, é liberada para o trato gastrintestinal a uma taxa
comparável à da albumina (25). Ao contrário de muitas Esta abordagem foca-se numa classificação de doenças
proteínas, este inibidor da protease consegue resistir à intestinais baseadas na aparência histológica, e não
proteólise no trato gastrintestinal e passa inalterado nas tanto na causa, o que obviamente pode apresentar
fezes. Idealmente, a excreção deve ser determinada ao limitações quando se visa um tratamento eficaz. Em
fim de 24 horas, mas um método mais prático consiste particular, é importante relembrar que a doença
no teste da concentração do α1–PI em cada uma de três inflamatória intestinal (DII) constitui meramente uma
amostras diferentes, embora estas necessitem ser descrição histológica, representando provavelmente uma
congeladas antes serem submetidas ao ensaio. manifes-tação comum de doenças com uma variedade de
causas, envolvendo potencialmente o intestino delgado e
Biopsia intestinal e histopatologia grosso. Foi demonstrada a existência de associações bem
A biopsia intestinal e a histopatologia podem parecer um definidas entre a presença de parasitas e de bactérias
passo definitivo no diagnóstico de doença intestinal. patogênicas, o supercrescimento bacteriano intestinal
Contudo, com frequência os resultados podem ser negativos (SIBO) e a sensibilidade alimentar, mas em muitos casos
ou equívocados, embora seja possível concluir alterações não foi possível identificar a causa.
morfológicas, tais como a doença inflamatória intestinal, o
linfoma e a linfangiectasia. Quando a endoscopia não se
encontra disponível, e em especial mais para as doenças
localizadas do que propriamente para as doenças difusas,
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Ultrassonografia do
intestino delgado em
pequenos animais
Técnicas de exame
Idealmente, o paciente deve permanecer em jejum desde a
noite da véspera do dia do exame, de modo a reduzir a
interferências causadas pelo conteúdo gástrico e gás
intraluminal. No entanto, pode ser possível obter uma
qualidade de imagem adequada nos cães que não foram
submetidos a jejum. O gás intraluminal causa artefatos,
como a reverberação, a cauda de cometa e a sombra
Amalia Agut, DVM, PhD, Dipl. ECVDI acústica. Não é necessária sedação mas, quando indicada,
Faculdade de Veterinária, Departamento de
deve evitar-se ao máximo a administração de xilazina, uma
Medicina e Cirurgia Animal, Universidade de
Múrcia, Espanha vez que provoca estase gástrica, conduzindo a massiva
distensão gasosa (1).
A Dr.ª Agut é formada pela Universidade de Zaragoza, em
Espanha, em 1981 obteve o seu título de doutora
em 1984. Em 1985, integrou a Universidade de Múrcia O animal é classicamente posicionado em decúbito dorsal,
onde é atualmente Professora de Radiologia. Em 1998, embora o tipo de decúbito dependa do nível de stress e
obteve o seu Diploma do Colégio Europeu de Imagiologia desconforto do paciente, bem como das preferências do
Diagnóstica Veterinária (ECVD – European College of
técnico. Pode igualmente se realizar o exame com o
Veterinary Diagnostic Imaging). As principais áreas de
interesse da Dr.ª Agut centram-se na área de paciente em estação, ou ainda em decúbito lateral através
ultrassonografia de pequenos animais. de uma janela na mesa de suporte, o que pode revelar-se
muito útil. Este posicionamento permite que o fluido
intraluminal seja direcionado para a parede do estômago
PONTOS-CHAVE ou do trato intestinal, onde funciona como janela acústica
➧ O exame ultrassonográfico do intestino delgado tornou- (2).
se um procedimento de rotina na abordagem clínica
das doenças intestinais. São utilizados transdutores de 5 MHz, 7,5 MHz ou de
➧ A principal limitação da ultrassonografia do trato frequências superiores, sendo que os transdutores de
intestinal consiste na presença de gás luminal. frequências superiores oferecem melhor resolução das
camadas da parede intestinal (1,2). Os transdutores com
➧ Devem ser realizadas radiografias antes do exame
ultrassonográfico para avaliar a quantidade, a um tamanho de superfície reduzido são úteis para a
localização e o padrão do gás intestinal. avaliação do duodeno proximal quando o transdutor tem
de ser colocado sob a caixa torácica ou entre as costelas (2).
➧ O exame ultrassonográfico pode fornecer informação
sobre espessura e estratificação da parede intestinal,
do peristaltismo e dos conteúdos luminais. Anatomia ultrassonográfica do
intestino delgado
O duodeno localiza-se no lado direito do abdome, tendo o
seu início entre as últimas costelas e seguindo distalmente
Figura 1. Figura 2.
Camadas ultrassonográficas da parede intestinal. Imagem ultrassonográfica da junção ileocólica num gato. s
(submucosa), m (muscular).
ao longo da parede corporal direita. As outras porções do hiperecogênicas (3). A camada mucosa é a camada de
intestino delgado são examinadas movendo-se a sonda da maior espessura da parede intestinal, contudo o íleo em
direita para a esquerda e da esquerda para a direita, e gatos pode ser identificado por apresentar uma camada
depois em direção crânio-caudal, de modo a inspecionar a submucosa mais espessa, hipoecogênica e irregular
totalidade do intestino delgado. Os diferentes segmentos (Figura 2) (4).
do intestino delgado são assim visualizados em corte
sagital, transversal e em vários cortes oblíquos, Espessura da parede intestinal
dependendo da posição do transdutor e do trato intestinal A espessura da parede intestinal é determinada fazendo a
(2). O íleo pode ser identificado pela sua localização medição entre a superfície serosa ecogênica externa e a
clássica, isto é, no lado direito do abdome crânio-medial e interface mucosa/lúmen (Figura 1). Nos cães, a parede
pela sua relação com o cólon ascendente e com o ceco. No intestinal apresenta uma espessura de cerca de 2 a 6 mm,
trato intestinal devem ser identificadas as diferentes dependendo do tamanho do cão e do segmento do intes-
camadas e a espessura da parede, o peristaltismo e os tino delgado (Tabela 1 e 2) (5), enquanto que nos gatos é
conteúdos luminais (1). descrita uma espessura de cerca de 2 mm (Tabela 1) (6).
Tabela 1. Tabela 2.
Intervalos de valores normais do espessamento Intervalos de valores normais do espessamento da
da parede (mm) para os diferentes segmentos do parede (mm) para as diferentes segmentos do
trato intestinal em gatos (4) e em cães (2). trato intestinal em cães, com base no peso
corporal (5).
Espessamento Gatos Cães Peso Duodeno Peso corporal Jejuno
da parede (mm) corporal (kg) (kg)
Duodeno 2,0 - 2,4 3-6 < 20 < 5,1 < 20 < 4,1
Jejuno 2,1 - 2,5 2-5 20 - 29,9 < 5,3 20 - 39,9 < 4,4
Íleo 2,5 - 3,2 2-4 > 30 <6 > 40 < 4,7
A A
B B
Figura 3. Figura 4.
Padrões luminais: A.- Ultrassonografia em corte longitudinal de A.- Ultrassonografia em corte transversal e B.- Longitudinal de
um duodeno normal. Podem ser observados os padrões de muco uma intussuscepção jejunal num cão de raça Pastor Alemão de 5
(m) e de gás (g). B.- Ultrassonografia em corte transversal de anos de idade. Os anéis hipo e hiperecogênicos com centro
segmentos do jejuno. É perceptível o padrão de fluido. hiperecogênico (gordura) são consistentes com a imagem
ultrassonográfica clássica das intussuscepções.
central hiperecogênico representa o sequestro de muco e A intussuscepção consiste na invaginação de uma porção
de pequenas bolhas de ar na interface mucosa-lúmen. do intestino, designada intussuscepto, para o interior do
Quando existe fluído no lúmen intestinal (“padrão de lúmen de uma porção intestinal adjacente, designada por
fluído”) é observada uma área anecogênica entre as intussuscipiente. As intussuscepções ocorrem normalmente
paredes do intestino que aparece como tubular nos no jejuno, nas junções ileocólicas ou ileocecais ou, ainda,
cortes de eixo longo, e circular nos cortes de eixo curto. no cólon (colocólicas), raramente envolvendo o estômago
As alças do intestino delgado repletas de gás criam uma e o duodeno. Ocorrem com maior frequência em filhotes
interface muito ecogênica resultando na formação de de cães e gatos, secundária a uma doença intestinal pri-
sombra acústica ou reverberação (“padrão de gás”) (7). mária, como a enterite secundária a parasitismo intestinal,
a infecções bacterianas ou virais. Em pacientes idosos, as
Peristaltismo intussuscepções podem ocorrer próximo de pseudo-cistos,
O número médio de contrações peristálticas observadas no de linfonodos aumentados, de corpos estranhos ou de
duodeno proximal são de quatro a cinco por minuto, tumores (2). As intussuscepções apresentam um aspecto
enquanto que no jejuno e no íleo são de duas contrações ecográfico que, na maioria dos casos, permite fazer um
por minuto (7). diagnóstico definitivo com elevado grau de confiança (8).
Figura 6.
O corpo estranho linear surge como uma interface linear hiper-
ecogênica no interior do lúmen intestinal (setas).
B
Corpos estranhos
Os corpos estranhos são a principal causa de obstrução
Figura 5. mecânica em pequenos animais. A distensão do intestino
Corpos estranhos intestinais. A. -No lúmen de uma alça intestinal delgado com fluído, com gás ou com uma combinação dos
encontra-se uma tetina de borracha surgindo como duas linhas dois é um indicador de íleo paralítico (obstrução). O grau
ecogênicas ovóides (setas). B. -No lúmen do intestino está de distensão intestinal depende se a obstrução é parcial
presente um caroço de pêssego, apresentando-se como uma
interface curva com pequenas protuberâncias associadas a ou completa assim como da duração e da localização da
forte sombra acústica. obstrução. Quando a totalidade do intestino delgado se
apresenta dilatada, é importante fazer a diferenciação
concêntricos hiper e hipoecogênicos em torno de um entre a doença intestinal difusa (p.ex., infecção por Parvo-
centro hiperecogênico que representa o mesentério vírus) e uma obstrução do intestino delgado distal. A
invaginado (Figuras 4A e 4B), enquanto que nos cortes visualização de uma porção reduzida de intestino delgado
longitudinais são normalmente visíveis linhas paralelas normal e não distendido (distal à obstrução) é um sinal
hiper e hipoecogênicas. Os padrões de ultrassonográficos indicador da presença de uma obstrução distal (1).
podem variar de acordo com o comprimento do intestino
envolvido, com a duração do processo e com a orientação Alguns corpos estranhos, como bolas ou pedras, são facil-
do plano de ultrassonografia em relação ao eixo da mente identificados por ultrassonografia devido à sua
intussuscepção (9). Assim, em algumas circunstâncias este forma característica e à presença de sombra acústica. No
aspecto concêntrico ou estratificado surge distorcido entanto, as bolas podem variar em termos de
não sendo facilmente reconhecido devido à presença de ecogenicidade, dependendo das suas propriedades físicas
inflamação e de edema. De um modo geral, a presença (Figura 5A). A maioria dos corpos estranhos produz uma
de um fino anel hipoecogênico externo nesta interface brilhante associada a forte ocorrência de
formação tipo alvo está associada a intussuscepções sombra. Ocasionalmente, o contorno da interface pode
redutíveis. O aparecimento de fluído no ápice das intus- ajudar a identificar o tipo de corpo estranho presente no
suscepções, a ausência de atividade peristáltica intestinal, intestino (Figura 5B) (2). O aspecto ultrassonográfico da
bem como o aumento dos linfonodos na porção invagi- parede intestinal perfurada por corpos estranhos, tal
nada do intestino são compatíveis com intussuscepções como madeira, é o de um espessamento local e a perda
focal das camadas. Além disso, em associação à perfuração A presença de parasitas gastrintestinais pode mimetizar o
pode notar-se a presença de gordura mesentérica aspecto de um corpo estranho linear (7,12). O padrão
hiperecogênica, de efusão peritoneal, de gás livre no ultrassonográfico de um nematóide gastrintestinal é o de
abdome, de intestino repleto de fluído bem como de uma estrutura hiperecogênica sem sombra acústica e com
redução da motilidade (11). centro hipoecogênico (13).
Os corpos estranhos lineares são frequentemente encon- Doença intestinal inflamatória (DII)
trados em gatos, mas podem igualmente ser observados A DII foi clinicamente definida como um conjunto de dis-
em cães. O tipo de material estranho ingerido inclui fios, túrbios gastrintestinais associados a inflamação crônica
celofane, peças de roupa, meia-calça e peças de roupa do estômago, intestino e/ou cólon, de patogênese e etiolo-
íntima. Este tipo de obstrução mecânica apresenta um gia desconhecidas. Histologicamente, a DII caracteriza-se
pregueado harmônico ou um aspecto de pregas do por infiltração difusa celular inflamatória na camada
intestino delgado. Nas radiografias devem ser mucosa. Estas populações celulares são classicamente
diagnosticados recorrendo a ultrassonografia através da dominadas por linfócitos e células plasmáticas, mas
identificação deste aspecto de pregas (ou plicatura) podem igualmente incluir eosinófilos, neutrófilos e macró-
característico do intestino delgado. Os sinais fagos (14).
ultrassonográficos consistem nos movimentos de padrão
anormal do intestino e na presença de uma interface A espessura da parede intestinal tem sido utilizada como
linear hiperecogênica no interior do lúmen (Figura 6). O um critério para a determinação da atividade (manifes-
intestino afetado pode estar dilatado com fluido ou com tação clínica da doença) em humanos com doença intes-
gás, ou ainda apresentar-se apenas espessado e tinal inflamatória. Contudo, nos cães, a espessura da
aglomerado. No caso dos corpos estranhos lineares parede não foi ainda considerada como específica ou
gastroduodenais, o material estranho pode ser observado sensível o suficiente para diagnóstico da doença intestinal
no estômago (12). A existência de complicações inflamatória (Figuras 7 e 8) (15,16). Deste modo, as
secundárias associadas a um corpo estranho linear, como a determinações da espessura da parede, por si só, podem
peritonite, deve ser considerada sempre que seja conduzir a resultados falso-negativos em cães com infla-
detectada a ocorrência de gás livre ou de fluído no mação da parede intestinal (16). Além da espessura, a
abdome, ou ainda se o mesentério se encontra alteração da estratificação da parede parece ser um sinal
hiperecogênico com fraco detalhe ultrassonográfico e com importante que permite diferenciar a infiltração neoplásica
presença de linfangiectasia. A aspiração do fluído da infiltração granulomatosa (17). No entanto, a perda de
peritoneal livre pode revelar-se de grande utilidade para estratificação foi também descrita em casos de enterite
avaliar a presença de peritonite (12). grave ou em casos de infiltração hemorrágica, necrosante
Figura 7. Figura 8.
Imagem ultrassonográfica em corte transversal de segmentos Imagem ultrassonográfica em corte longitudinal de um segmento
intestinais repletos de fluído. A espessura e o aspecto da parede do jejuno de um cão com enterite linfoplasmocitária. A parede
estão normais. Este cão apresentava enterite por Parvovírus. intestinal apresenta-se ligeiramente espessada, embora, o seu
aspecto seja normal. É observada uma pequena quantidade de
fluído no lúmen do intestino.
Linfoma
O linfoma alimentar (envolvendo o trato gastrintestinal
e/ou linfonodos mesentéricos) é um dos mais comuns em
ocorrência para o linfoma felino (20). Em cães e gatos, os
sinais ultrassonográficos mais frequentes são o
espessamento transmural associado a perda difusa da
estratificação da parede normal, a redução da
ecogenicidade da parede, a diminuição localizada da A
motilidade e a hipertrofia dos linfonodos regionais
(Figuras 11A-11C) (21). Nos gatos, o linfoma alimentar
pode afetar o trato intestinal sem danificar completa-
mente a estratificação da parede (2).
Adenocarcinomas
Os adenocarcinomas são considerados como sendo o
tumor gastrintestinal mais comum em cães. Os sinais
ultrassonográficos que se observam com maior
frequência são o espessamento transmural com perda
completa da estratificação, associado por vezes a
linfadenopatia (Figuras 12A-12C). Na maioria dos casos,
foi descrito o acúmulo de fluído proximal ao espessamento
intestinal associada a íleos localizados (22).
B
O carcinoma intestinal apresenta aspecto
ultrassonográfico semelhante ao linfoma intestinal, (20)
mas a extensão da lesão tende a ser menor no carcinoma
que no linfoma, sendo o íleo paralítico mais frequente no
carcinoma que no linfoma. Assim, estas lesões devem ser
alvo de biopsia guiada por ultrassom de modo a obter
diagnóstico definitivo (2).
A
Figura 13.
Ultrassonografia em corte longitudinal do duodeno num cão com
um tumor muscular liso. A formação é ecogênica e homogênea.
Leiomiossarcomas
Os leiomiossarcomas ocorrem, com frequência, como
grandes formações complexas. Estes tumores têm origem
intramural e crescem para o exterior da serosa como
massas grandes, excêntricas e extraluminais ou, menos
frequentemente, crescem para o lúmen intestinal. Devido
à sua distribuição e às suas grandes dimensões, é difícil
avaliar a origem anatômica da formação (23).
Internamente estas formações podem apresentar um foco
B anecogênico e hipoecogênico que pode estar
correlacionado com áreas de necrose e de hemorragia,
explicando o seu aspecto ecogênico complexo (23).
Hematologicamente, a alteração mais comum nos
leiomiomas é a anemia. Para confirmar a natureza
mesenquimatosa destas lesões pode ser realizada uma
aspiração percutânea guiada por ultrassom ou uma
biopsia de tecidos. No entanto, o trajeto de biopsia deve ser
escolhido com cuidado de modo a evitar cavidades
anecogênicas e subsequente derrame ou hemorragia (20).
Outros tumores
Os fibrossarcomas, os mastocitomas, os hemangiossar-
comas, os pólipos adenomatosos e os tumores carcinóides
não-funcionais tendem a ser tumores invasivos focais
C apresentando-se como formação fracamente ecogênicas
ou como espessamentos focais com perda da
estratificação. Não existe nenhuma imagem
Figura 12.
ultrassonográfica específica que ajude a diferenciar os
A.- Ultrassonografia em corte longitudinal, B.- e transversal de
um segmento do jejuno num cão com carcinoma. Na parede, diversos tipos de tumores (2), assim o diagnóstico final
existem várias formações arredondadas que prolapsam para o quanto ao tipo de tumor deve ser sempre confirmado
interior do lúmen. C.- Os linfonodos mesentéricos apresentam-se por histopatologia recorrendo a endoscopia, a cirurgia
hipertrofiados.
ou a aspiração/biopsia guiada por ultrassom (20). constituem procedimentos alternativos seguros como
opção às técnicas de biopsia endoscópica ou cirúrgica.
Biopsia guiada por ultrassom A regra principal consiste em cuidadosamente localizar
As técnicas de aspiração de agulha fina ou de biopsias de e evitar o lúmen, uma vez que o extravasamento do
tecidos de massas intestinais guiadas por ultrassom conteúdo intestinal pode ser uma complicação séria (2).
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Cirurgia de
emergência do trato
gastrintestinal
antes da anestesia. No entanto, é importante ter em
mente que a estabilização completa do animal pode não
ser possível até que a alteração subjacente (por exemplo,
peritonite) seja resolvida. Deve ser dada preferência aos
agentes anestésicos com efeitos depressores mínimos
nos sistemas cardiovascular e respiratório. As zonas do
abdome ventral e do tórax caudal devem ser tosadas e
preparadas com assepsia cirúrgica e deve proceder-se a
David Holt, BVSc, Dipl. ACVS administração de antibióticos de largo espectro sempre
Escola de Medicina Veterinária da Universidade da que se suspeite ou se antecipe uma contaminação
Pensilvânia, Filadélfia, EUA bacteriana da cavidade peritoneal. É realizada uma
O Dr. Holt formou-se, em 1983, em Ciências Veterinárias incisão de comprimento extenso, desde o processo
pela Universidade de Sidney e exerceu clínica até 1985.
xifóide até caudalmente ao umbigo. Deve efetuar-se
Completou estágio na Escola de Medicina Veterinária da
Universidade da Pensilvânia entre 1985 e 1986, após o qual laparotomia exploratória completa bem como o exame
exerceu clínica na Austrália durante um ano. Entre 1987 e sequencial de todos os órgãos. O tratamento definitivo
1990, o Dr. David Holt completou residência em cirurgia na dependerá do órgão afetado e da natureza da doença.
Escola de Medicina Veterinária da Universidade da
Pensilvânia. É atualmente Professor e Chefe da Seção de
Durante a cirurgia, o clínico deve preocupar-se em rea-
Cirurgia na Escola de Medicina Veterinária da Universidade
da Pensilvânia e Diplomado do Colégio Americano de
lizar uma exploração abdominal completa e evitar focar-
Cirurgiões Veterinários. se numa única lesão óbvia. A cirurgia gastrintestinal de
emergência requer a avaliação rigorosa da viabilidade
intestinal e a técnica correta para o melhor resultado
clínico. É de extrema importância uma abordagem pós-
A
cirurgia gastrintestinal de emergência coloca ao
clínico uma série de desafios. Os animais operatória rigorosa, incluindo monitoramento fisio-
podem, por exemplo, apresentar desidratação lógico cuidadoso, algum índice que seja utilizado para
grave e instabilidade cardiovascular secundária à prevenir potenciais complicações e nutrição apropriada.
presença de vômito frequente, sequestro de fluído no
intestino, ou perfuração intestinal causando peritonite e Esôfago
sepse. Pode ocorrer pneumonia por aspiração como Deve suspeitar-se de corpos estranhos esofágicos em
resultado da existência de vômito e regurgitação. qualquer animal que apresente história de regurgitação.
Durante a reanimação inicial, o clínico deve determinar Estes corpos estranhos tendem a alojar-se em pontos de
a natureza do problema e decidir se a cirurgia está ou estreitamento no esôfago, ou seja, a entrada do tórax, a
não indicada. O animal deve estar o mais estável possível base do coração e imediatamente cranial ao esfíncter
Figura 1. Figura 2.
Extremidades proximal (lado esquerdo) e distal do esôfago Anastomose das extremidades proximal e distal do esôfago
torácico após ressecção de uma área do esôfago torácico torácico caudal utilizando suturas de pontos simples
caudal perfurado por um corpo estranho, neste caso um osso. separados com polidioxanona (PDS) 3/0.
esofágico caudal. Os corpos estranhos esofágicos devem esôfago necessitam de intervenção cirúrgica imediata.
ser considerados como emergências, uma vez que a
contração dos músculos esofágicos exercida em torno A cirurgia é uma opção a considerar quando não é
de um corpo estranho piora a isquemia da mucosa e possível a remoção dos corpos por endoscopia, sendo a
aumenta a probabilidade de perfuração esofágica. Na abordagem cirúrgica ditada pela localização do corpo
maioria dos casos, deve ser inicialmente tentada a estranho. Os corpos estranhos alojados no esôfago
remoção não cirúrgica. No entanto, a remoção cervical são abordados por incisão cervical na linha
endoscópica dos corpos estranhos esofágicos torácicos média ventral, enquanto que os corpos estranhos
está contra-indicada em animais com sinais de alojados na base do coração são abordados através de
perfuração esofágica. Nestes animais, a insuflação do toracotomia lateral direita do quarto espaço intercostal,
esôfago com ar resultante da manipulação do corpo de modo a evitar a artéria aorta. Os corpos estranhos
estranho com o endoscópio conduz a pneumotórax de localizados no esôfago torácico caudal são abordados
tensão imediata e a ao comprometimento cardio- através de toracotomia esquerda do sétimo ou oitavo
respiratório grave. Os animais com perfuração esofágica espaço intercostal; os corpos estranhos no esôfago distal
nem sempre apresentam sinais radiográficos de podem, por vezes, ser retirados por manipulação através
pneumotórax ou de pneumomediastino. Podendo ser de uma incisão de gastrotomia. A esofagotomia
apenas visível uma ligeira efusão pleural em radiografias longitudinal é realizada e a parede esofágica na zona do
torácicas simples como único sinal de perfuração eso- corpo estranho é inspecionada quanto à existência de
fágica. Deve proceder-se a realização de radiografias de perfuração e a incisão posteriormente fechada segundo
contraste nos casos em que o diagnóstico de perfuração um padrão de sutura de aproximação de pontos simples
seja uma suspeita. separados, com fio de polidioxanona (PDS) 3/0 ou 4/0.
Na maioria dos casos, a endoscopia pode ser utilizada Ocasionalmente, pode ser necessária a ressecção esofá-
para remover corpos estranhos esofágicos. Nestes casos, gica quando a pressão exercida por um corpo estranho
introduz-se um endoscópio rígido ou flexível até o corpo tenha causado necrose esofágica transmural substancial.
estranho e insufla-se ar através do endoscópio para Neste caso, faz-se uma dissecção do esofago na área da
distender a parede do esôfago e afastá-la do corpo perfuração para torná-lo completamente livre do medias-
estranho, o qual pode ser pinçado e removido, ou em tino, pois com frequência, a pleura visceral do pulmão
casos de corpos estranhos localizados no esôfago distal, encontra-se frequentemente aderida à área da
estes podem ser gentilmente empurrados para o interior perfuração esofágica. O esôfago é movimentado no
do estômago. O esôfago é depois distendido novamente sentido proximal e distal à área perfurada, procede-se à
e inspecionado quanto a eventuais lesões na mucosa. As ressecção do tecido necrótico (Figura 1), extremidades
lesões que envolvem toda a espessura da parede do saudáveis são suturadas numa única camada com uma
Figura 4. Figura 5.
Enterotomia num gato suturado com suturas aposicionais Uma porção pregueada do intestino delgado contendo um
de pontos simples separados com polidioxanona 4/0. corpo estranho linear. Notar que o intestino foi isolado do
restante abdomen.
de modo a prevenir a sua migração ou perfuração. Em totalidade do trato gastrintestinal, a área afetada é
grande parte dos casos, isto é facilmente conseguido através isolada do restante cavidade peritoneal com esponjas de
da utilização de endoscópio flexível. laparotomia umedecidas. Nos casos em que o intestino se
encontra intacto, o corpo estranho é removido através de
Ulcerações e hemorragias gástricas estão ocasional- incisão realizada na borda antimesentérica do intestino
mente associadas a neoplasia gástrica, a tumores masto- imediatamente distal ao corpo estranho. Este
citários, a gastrinomas, ao estresse e ao tratamento com procedimento assegura, deste modo, que a linha de sutura
corticosteróides exógenos. Contudo, os casos de hemor- seja colocada numa parte intacta do intestino delgado. A
ragia severa ocorrem com maior frequência após a enterotomia é suturada com sutura de aproximação de
ingestão de medicação anti-inflamatória não esteroidal. pontos simples separados, utilizando-se fios de sutura
A cirurgia é uma opção nos casos de hemorragia severa e PDS 3/0 em cães médios e grandes, e PDS 4/0 em cães
nos casos em que a terapêutica médica falha. O animal pequenos e gatos (Figura 4). Nos casos em que o intestino
deve ser estabilizado recorrendo-se a transfusões de apresenta viabilidade questionável, deve realizar-se a
concentrado de glóbulos vermelhos e plasma. É essencial ressecção de área significativa do intestino delgado,
efetuar-se com alguma pressa uma endoscopia que procedendo-se depois a uma anastomose topo-a-topo. A
permita diferenciar uma hemorragia focal, que pode ser área pode ser ‘’reforçada’’ através do envolvimento com
favorável ao tratamento cirúrgico, de ulceração e omento (omentalização) ou através de um pedaço de
hemorragia gástrica difusa. Procede-se à exploração da serosa.
cavidade peritoneal, realiza-se incisão extensa de
gastrotomia e examina-se a mucosa gástrica Os corpos estranhos lineares colocam algumas dificul-
procedendo-se à ressecção das úlceras hemorrágicas dades específicas (Figura 5). O clínico deve examinar a
focais. língua cuidadosamente; o autor tem assistido a vários
casos nos quais o fio atravessa o frênulo lingual, o qual
Intestino delgado cicatriza posteriormente. Na laparotomia, a área pre-
A causa mais frequente de distúrbio do intestino delgado gueada do intestino deve ser isolada da restante cavidade
que obriga a cirurgia de emergência é a presença de peritoneal antes de cortar a "âncora" existente sob a língua.
corpos estranhos. Os sinais clínicos, o grau de desi- A superfície mesentérica das alças intestinais pregueadas
dratação e o desequilíbrio eletrolítico e ácido-básico pode ser perfurada, mas evitando o extravasamento do
verificado nas obstruções do intestino delgado variam seu conteúdo, até que a pressão no fio seja liberada e as
com a localização, a duração e a severidade da obstru- pregas aliviadas. Deve ser removida a totalidade do
ção. Muitos corpos estranhos podem ser detectados à comprimento do fio, sendo algumas vezes, necessário
palpação abdominal, contudo, as radiografias simples e, efetuar diversas enterotomias. As porções do intestino
por vezes, as de contraste são de grande utilidade na com perfurações mesentéricas múltiplas devem ser
obtenção de um diagnóstico de obstrução. Uma vez que a resseccionadas e os topos do intestino unidos por
cirurgia implica um exame detalhado e sequencial da anastomose.
abundante de solução eletrolítica equilibrada, a qual pequenos animais. No tratamento bem sucedido da
deve depois ser completamente aspirada. Finalmente, o peritonite, revelam-se de extrema importância a obtenção
abdome é suturado, drenado ou deixado aberto de um diagnóstico rigoroso, tal como o reconhecimento
dependendo da quantidade de contaminação peritoneal da existência de fluido peritoneal e de perda de proteína,
e do grau de inflamação peritoneal localizada ou de hipovolemia, da ocorrência de Síndrome de Resposta
generalizada. Inflamatória Sistêmica (SIRS)/ sepse, e a realização de
uma reanimação eficaz. A peritonite séptica pode
O prolapso retal ocorre mais frequentemente em ani- resultar de várias causas, nas quais se incluem a
mais jovens, com mau desenvolvimento ou parasitados, perfuração intestinal, a extensão de uma infecção
associados com tumores em gatos idosos e seguida de urogenital (ruptura de uma piometra ou de um abcesso
reparação de hérnia perineal em cães. Os sinais clínicos prostático), o derrame de bile a partir do ducto biliar, a
são óbvios, no entanto, é essencial fazer a distinção entre ruptura da vesícula biliar ou dos ductos hepáticos
o prolapso e o prolapso do ânus e do reto contendo uma biliares, a presença de feridas penetrantes ou a
intussuscepção do íleo. O prolapso deve ser amputado contaminação cirúrgica.
caso se encontre necrosado, caso contrário, o prolapso
retal é apenas reduzido. O edema é removido através de A suspeita do diagnóstico é feita com base na anamnese
ligeira pressão e massagem utilizando um tecido do animal, nos sintomas clínicos e nos sinais observados
suavemente umedecido com solução salina. Após a durante o exame físico. Deve suspeitar-se fortemente de
redução, é efetuada no ânus sutura em bolsa de fumo peritonite em qualquer animal com evidência de gás
pouco apertada, podendo esta ser removida após 3 a 5 peritoneal livre em radiografias abdominais, desde que
dias. É necessária a administração de sedativo de modo a se saiba que o animal não foi sujeito a uma laparotomia
prevenir o tenesmo. Recomenda-se a administração ao exploratória recente. O diagnóstico definitivo de peritonite
longo de vários dias de dieta de elevada digestibilidade, pode ser conseguido através de citologia e análise do
bem como o tratamento de qualquer eventual infecção fluido peritoneal. A suspeita da presença de fluido livre na
parasitária (por exemplo, por Trichuris spp.). Em cavidade peritoneal é feita com base na perda de detalhe
animais com prolapso recorrente, deve ser realizada patente em radiografias abdominais simples, podendo
colopexia. Para tal, recorre-se a laparotomia caudal na através de ultrassonografia ser confirmada a existência
zona da linha média ventral e é identificado o cólon de fluido e este recolhido para análise. A presença de
descendente. O cirurgião deve exercer uma ligeira tração bactérias intracelulares numa amostra de fluido
cranial no cólon enquanto um assistente – sem peritoneal é diagnóstico de peritonite. Do mesmo modo,
necessariamente assepsia cirúrgica – ajuda a reduzir o considera-se diagnóstico de peritonite quando a
ânus e o reto prolapsados. Uma vez reduzido o prolapso, concentração de glicose no fluido peritoneal é igual ou
o cólon descendente é suturado à parede abdominal inferior a 20 mg/dL, ou ainda inferior à concentração de
utilizando dupla camada de suturas em pontos simples glicose sanguínea (7).
separado de modo a garantir a fixação (Figura 6) (6).
É necessário proceder à reanimação agressiva com crista-
Pâncreas lóides e colóides endovenosos antes da anestesia e da
A cirurgia pancreática de emergência está normalmente cirurgia. Em Medicina Humana, os objetivos de uma
limitada à drenagem ou à remoção de abcessos. O cirur- reanimação inicial incluem pressão venosa central de 8 a
gião deve estar bem familiarizado com a anatomia do 12 mmHg, pressão arterial média > 65 mmHg, fluxo
suporte vascular pancreático, de modo a evitar a lesão urinário > 0,5 mL/kg/hora e saturação de oxigênio
dos vasos que irrigam o duodeno e o estômago, da papila venoso central ou venoso misto > 70% (8). Deve
pancreática ou do ducto biliar comum. O melhor proceder-se à administração de antibioterapia de amplo
procedimento para o tratamento dos abcessos consiste espectro por via intravenosa, enquanto se aguardam
na abertura da cavidade do abcesso, na lavagem interna os resultados da cultura e do teste de sensibilidade das
abundante da cavidade e, por fim, no preenchimento da amostras coletadas durante a laparotomia exploratória.
cavidade com omento.
Nos casos de peritonite generalizada séptica, o controle
Peritonite da fonte de contaminação peritoneal permanece como o
A peritonite séptica é uma condição grave e potencial- principal objetivo da laparotomia de exploração. Uma
mente fatal que coloca inúmeros desafios ao clínico de vez alcançado este objetivo, deve proceder-se a lavagem
abundante da cavidade peritoneal com solução eletro- A drenagem da peritonite localizada (prostática ou
lítica levemente aquecida, de modo a remover a maior abcessos pancreáticos) foi extensamente substituída
parte da contaminação peritoneal. É extremamente pela omentalização. A drenagem total da cavidade
importante aspirar todo o líquido de lavagem da cavi- peritoneal pode ser conseguida através de drenagem
dade peritoneal antes de realizar a sutura da cavidade aberta da cavidade, na qual o fio de sutura é aposto de
(9). modo frouxo permitindo criar um intervalo de 3 a 6 cm
entre as margens da incisão cirúrgica e são aplicados
A drenagem peritoneal pós-operatória está sempre sobre a incisão materiais de pensos estéreis. Também
indicada nos casos de produção pós-operatória têm sido utilizados para a drenagem peritoneal os
significativa de fluido devido à impossibilidade de drenos fechados de sucção e, mais recentemente, os
controlar a origem da contaminação, de peritonite dispositivos de fecho assistidos a vácuo. Não existem
generalizada ou de peritonite severa localizada. Os estudos aleatórios, duplo-cegos que comparem as recupe-
mecanismos de defesa peritoneal podem ser inibidos por rações (p.ex. sobrevivência) dos animais com peritonite
presença de um extenso volume de fluido, seja pela tratada com estes diferentes métodos de drenagem. As
efusão em curso, ou pela presença de fluído da descrições de casos clínicos de animais com peritonite
lavagem residual. A fagocitose bacteriana que ocorre tratada com fechamento primário, com drenos de sucção
no fluido está dependente da presença de opsoninas fechados e com drenagem peritoneal aberta, possuem
que podem sofrer depleção. Um volume abundante de todas taxas de sobrevivência razoavelmente
fluido pode limitar a localização da contaminação e comparáveis.
acelerar a absorção sistêmica de bactérias e de
endotoxinas.
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Alergia/intolerância
alimentar
Richard Harvey, BVSc, DVD, Dipl. ECVD, Edward Hall, MA, Vet MB, PhD,
CBiol, FIBiol, PhD, MRCVS Dipl. ECVIM-CA, MRCVS
Centro Veterinário, Cheylesmore, Coventry, RU Escola Veterinária da Universidade de Bristol, RU
O Dr. Harvey é formado pela Universidade de Bristol, em O Dr. Hall é Professor de Medicina Interna de Pequenos
1978 obteve o seu Diploma Europeu em Dermatologia Animais na Escola Veterinária da Universidade de Bristol,
Veterinária. Realizou doutorado no qual se dedicou ao onde é Chefe da Divisão de Estudos de Animais de Companhia.
estudo da distribuição de bactérias na pele canina. O Dr.
Formou-se em Cambridge, estagiou na Filadélfia e em
Richard Harvey exerce clínica de pequenos animais em
Liverpool, e é Diplomado pelo ECVIM-CA (European College
Conventry, RU.
of Veterinary Internal Medicine – Companion Animals). As
principais áreas de interesse e pesquisa centram-se na
gastrenterologia de pequenos animais. Atualmente, o Dr. Hall
é Presidente da Associação Veterinária Britânica de Pequenos
Introdução Animais, BSAVA (Bristish Small Animal Association), e é co-
Designações como “reação adversa ao alimento” ou editor de ambas as edições do Manual de Gastroenterologia
“hipersensibilidade alimentar” são nomenclaturas que Canina e Felina, da BSAVA.
implicam em uma reação fisiológica ou a presença de
manifestações clínicas causadas por uma resposta ou
reação anormais a uma substância ingerida. O sinal clínico (intolerância), (Tabela 1). Na grande maioria dos casos, o
pode refletir tanto uma resposta imunológica (verdadeira clínico é incapaz de diferenciar a etiologia e, por isso, é
alergia) como uma reação química ou tóxica preferida a designação de reação adversa ao alimento,
apesar da utilização comum das designações de alergia
PONTOS-CHAVE alimentar ou de hipersensibilidade alimentar.
Tabela 1.
Classificação dos mecanismos pelos quais uma substância ingerida pode resultar em sinais clínicos
Patogênese Notas
Imunológica (alergia)
Mediada por IgE Considerada como a etiologia mais frequente
Mediada por célula
Não-classificada
Reações idiossincráticas Sem exposição prévia necessária mas pode ser de mediação imunológica
Não-imunológica (intolerância)
molecular, o que reflete a relativa trivialidade da doença. A consultas de dermatologia a alergia alimentar são menos
alergia alimentar, em humanos, é com frequência frequentes que a atopia ou que a hipersensibilidade
hereditária e afeta, predominantemente, crianças e jovens causada por ectoparasitas, mas é mais frequentemente
adultos, podendo ser fatal (1). Em Medicina Veterinária, observada que a alergia a fármacos ou a dermatite alérgica
não é conhecido qualquer fator hereditário, não existe de contato. Foram descritos valores de incidência para os
qualquer predisposição racial e, na maioria dos casos, casos dermatológicos que variam de 1% a 10% (2) (Tabela
ocorrem sinais clínicos gastrintestinais (GI) e/ou 2).
dermatológicos (2) crônicos. Por este motivo, a relevância
da vasta oferta de literatura sobre este tópico em humanos A alergia alimentar pode ocorrer nos cães de qualquer
é ainda desconhecida para os clínicos veterinários. idade, mas os sinais clínicos podem começar antes do
primeiro ano de idade numa proporção de: 33% em 51
Apesar de certas raças de cães (e.x. Labrador, Shar Pei, casos (3), 51% em 25 casos (4), 48% em 14 casos (5) e
Boxer e Pastor Alemão) apresentarem um risco maior que
as outras, não existe dados estatísticos que suportam esta
observação (2). Não foi observada predisposição por sexo. Tabela 2.
Diagnósticos diferenciais com base nas
Aspectos clínicos manifestações clínicas cutâneos de alergia
Ocorrência alimentar em cães e gatos
A ocorrência da reação adversa ao alimento em Medicina Cães
Veterinária é controversa e difícil de determinar. Por
• Atopia
exemplo, muitos proprietários podem suspeitar que o • Hipersensibilidade à picada de pulga
início dos sinais clínicos GI intermitentes seja resultado • Erupção causada por fármacos
• Foliculite estafilocócica superficial recorrente
do alimento que fornecem ao seu animal, o qual mudam • Ectoparasitismo
• Dermatite de contato
imediatamente. Se isto resolver o problema, então o caso • Defeitos de queratinização
nunca entrará na história veterinária e resultará em
subestimação da incidência. De fato, uma revisão recente Gatos
sobre alergia alimentar em cães e gatos (2) não
• Hipersensibilidade à picada de pulga
encontrou dados sobre incidência dos sinais clínicos GI • Ectoparasitismo
• Dermatofitose
relacionados com a alergia alimentar. Pelo contrário, • Atopia
poucos proprietários fazem uma ligação entre o alimento • Alopecia psicogênica
• Pioderma superficial
que oferecem aos seus animais e uma condição cutânea, • Erupção causada por fármacos
• Acne felina
desta maneira os valores da ocorrência são de maior
confiança. A maioria dos autores concorda que as
Figura 1. Figura 2.
Alopecia muito focalizada e auto-mutilação no membro Alopecia simétrica e hiperpigmentação na zona caudal dos
anterior de um cão mestiço Pastor Alemão. membros posteriores num Terrier.
36% em 30 casos (6). É óbvio que em cães jovens o recorrente pode tratar-se de uma manifestação de alergia
alimento alergênico não pode ter sido fornecido durante ou de intolerância alimentar, embora seja raro.
muito tempo, mas de modo interessante, em dois dos
estudos (3,4) existiram casos em que o componente O prurido, as crostas e as escoriações na cabeça e no
alergênico da dieta foi fornecido durante mais de 2 anos pescoço são as manifestações clínicas mais frequentes de
antes do início dos sinais clínicos presentes. Ainda reação adversa ao alimento nos gatos. Outros sinais
mais significativo é o fato de não haver evidência de dermatológicos nos gatos podem incluir a presença de
desenvolvimento de sinais clínicos nos casos seguidos de escamas ou de crostas localizadas ou generalizadas, de
alteração alimentar recente (2). Os estudos de alergia dermatite miliar, de áreas de alopecia simétricas ou
alimentar em gatos descrevem as mesmas evidências localizadas, presença de granuloma eosinofílico, bem
(7,8). como de eritema do pavilhão auricular e de otite externa.
ALERGIA/INTOLERÂNCIA ALIMENTAR
Figura 4.
Imagem video-endoscópica do duodeno descendente de um cão
Figura 3. de 7 anos de idade e de raça Labrador Retriever com diarréia
Alopecia e crostas em consequência de auto-mutilação intensa responsiva à dieta e melena intermitente, evidenciando a
na cabeça de um cão de raça Chihuahua. presença de uma mucosa irregular e de hemorragias lineares.
Presença de sinais histológicos de enterite eosinofílica.
composta por ingredientes únicos aos quais o animal não Finalmente, deve ser relembrado que mesmo que um teste
tenha sido previamente exposto. A recorrência dos sinais ELISA produza um resultado sugestivo, é sempre neces-
é constatada quando a dieta inicial (exposição sário percorrer um processo de diagnóstico baseado em
provocativa) é iniciada e a remissão é novamente dieta de eliminação e em exposição provocativa, caso se
conseguida quando a dieta de eliminação é novamente pretenda identificar o antígeno.
administrada (recuperação).
Seleção da dieta
Não há qualquer evidência que aponte que os testes A maioria dos animais domésticos são alimentados com
sorológicos sejam de utilidade no processo diagnóstico dietas comerciais, ou estas fazem parte integrante, pelo
(10-14). Os testes ELISA ou RAST (Rádio AllergoSorbent menos, de uma proporção da sua alimentação. Além disto,
Test) in vitro demonstraram ter uma sensibilidade muito são permitidas guloseimas, restos de refeições, barras para
baixa. A sensibilidade de um teste consiste na sua mastigar, etc., o que torna quase impossível a identificação
capacidade em detectar verdadeiras reações positivas com de todos os potenciais alérgenos alimentares.
base na dieta de provocativa. Como exemplo, os clínicos Consequentemente, a utilização de dieta com ingredientes
normalmente consideram que os animais reagem a poucos, alimentares bem definidos (como por exemplo, dieta à
ou a um ingrediente. No entanto, a maioria dos resultados base de pato e arroz) pode, por ventura, ser apropriada ou
de ensaios in vitro indicam sensibilidades, ou pelo menos não, sendo um problema semelhante ao observado no caso
títulos elevados de IgG ou IgE, a múltiplos componentes da alimentação caseira. Na teoria, é possível a utilização do
alimentares, sendo difícil estabelecer se o título reflete uma teste ELISA para ajudar a identificar uma dieta apropriada.
condição de hipersensibilidade ou apenas uma exposição Por exemplo, nos casos em que os animais são alimentados
(14). Um outro problema é que os ensaios in vitro apenas com dieta muito variável, pode ser bastante difícil
avaliam o título sorológico de imunoglobulina. Se a identificar ingredientes inéditos facilmente disponíveis. Se
intolerância for de natureza química, enzimática ou o teste ELISA conseguir identificar a presença de IgG e de
tóxica, então o ensaio não representa qualquer valor. IgE a determinados constituintes da dieta, poderão ser
O exame histopatológico da pele ou das amostras de tecido evitados pelo menos esses constituintes. Contudo, se a
GI podem revelar a existência de infiltração celular ou presença de IgG e de IgE para um determinado
inflamação consistente com reação imunomediada ou componente alimentar confirma a presença de alergia
alérgica. Contudo, isto não constitui diagnóstico definitivo alimentar, é uma situação completamente diferente. Além
e não permite a identificação do alérgeno. disso, o custo de realizar um teste ELISA é, por vezes,
ALERGIA/INTOLERÂNCIA ALIMENTAR
Problemas/Complicações
De um modo geral, a falha na resposta reflete a ausência de 1. o animal possui intolerância alimentar e uma outra
sensibilidade alimentar, embora, em alguns casos seja doença (normalmente atopia) requerendo pesquisa
necessária uma fase de eliminação com duração total de 12 adicional;
semanas para a remissão dos sinais clínicos, devendo 2. a dieta é de natureza anti-inflamatória, quer dizer, não é
igualmente ser verificada a complacência dos proprietários alergia alimentar, mas a dieta apresenta, por exemplo,
(guloseimas, alimentos para pássaros, zonas de um teor elevado em AGE (ácidos graxos essenciais) o
alimentação alternativas (em especial no caso dos gatos)). que faz com que o prurido seja suprimido.
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Giardia e Cryptosporidium
como infecções emergentes
em animais de companhia
por helmintos, parece ainda existir um aumento marcado
da sua incidência. No entanto, um outro grupo de para-
sitas, os protozoários, vêem aumentando a sua impor-
tância, fato que pode resultar de um fenômeno genuina-
mente emergente ou simplesmente porque a metodologia
diagnóstica vem sendo melhorada ao longo dos tempos
(1). Atualmente, os protozoários representam o grupo de
parasitas encontrado com maior frequência. Dessa
Alain Villeneuve, DVM, PhD maneira, no nosso laboratório, na primeira metade do
Universidade de Montreal, Faculdade de Medicina ano de 2008, foram encontrados protozoários em 21,2%
Veterinária, Saint-Hyacinthe, Quebec, Canadá das amostras fecais obtidas de 709 cães, tendo sido
O Dr. Villeneuve concluiu a graduação em 1978 e o encontrados ovos de helmintos em 5,2% dessas amostras.
doutorado em Parasitologia em 1990, na Universidade de
Em gatos, 18,5% das amostras fecais obtidas a partir de
Montreal, no Quebec, Canadá. Atualmente, é Professor
226 gatos continham protozoários e 5,3% continham
Adjunto no Departamento de Patologia e Microbiologia, na
Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de helmintos. Infelizmente, não pode ser ignorado o risco que
Montreal. O Dr. Alain Villeneuve é membro de muitas este cenário representa tanto para a saúde humana quanto
associações profissionais, incluindo a Associação Mundial animal, especialmente quando de um modo geral, os
para os Avanços da Parasitologia Veterinária (World protocolos profiláticos de rotina não estão todos direcio-
Association for the Advancement of Veterinary Parasitology),
nados para estas infecções.
a Associação Americana de Parasitologistas e a Sociedade
Americana de Dirofilariose (American Heartworm Society).
Dirigiu e participou de vários projetos de pesquisa sobre a Neste contexto, existem duas espécies que merecem parti-
eficácia de fármacos no setor alimentar e em animais de cular atenção, a Giardia (Figura 1) e o Cryptosporidium
companhia. O Dr. Villeneuve publicou inúmeros artigos em (Figura 2). Os resultados laboratoriais demonstram a sua
jornais científicos e um livro sobre zoonoses parasitárias,
elevada prevalência, especialmente em animais jovens.
sendo igualmente um orador frequente tanto no âmbito
Além disto, as terapêuticas nem sempre são bem
nacional como no âmbito internacional. As suas atuais
áreas de pesquisa envolvem doenças zoonóticas. estabelecidas e a sua transmissão aos humanos são
pobremente caracterizadas.
As espécies etiológicas
A
tualmente, os animais de companhia ocupam Particularmente para a Giardia, foram identificados em
uma parte importante na vida das pessoas, por gatos, o grupo A-I e F (2) e, mais raramente, os grupos B,
um lado porque existem cada vez mais animais D e E, enquanto que nos cães foram identificados os
de companhia, por outro porque existe uma maior grupos AI, BIII, C e D (3). A espécie de Cryptosporidium
proximidade entre o proprietário e o seu animal de encontrada em gatos é a C. felis (4); esta apresenta ele-
estimação. Neste contexto, torna-se prioritário ter animais vada especificidade ao hospedeiro, tendo apenas sido
de companhia saudáveis, particularmente no que diz res- encontrada em gatos e, em casos muito raros, em
peito à presença de parasitas. Após décadas de investi- humanos. O genótipo C. canis parece ser o dominante nos
gação e de tratamento curativo e preventivo da infecção cães (5-6).
Prevalência
A prevalência destas infecções varia grandemente,
dependendo da população em teste e da técnica utilizada
(Tabela 1). No nosso laboratório, através da utilização de
uma técnica de rotina de exame fecal, na qual se recorre à
centrifugação numa solução saturada de sulfato de zinco,
obteve-se prevalência de Giardia de 7,9 e de 10,7% em
gatos e cães, respectivamente, e prevalência de
Cryptosporidium de 5,7 e de 9,0%, respectivamente nas
mesmas espécies.
Infecções Figura 1.
Estas infecções são difíceis de caracterizar, especialmente Cistos de Giardia, centrifugação em sulfato de zinco (Ampliação
na presença de infecção concomitante. Estão geralmente x400).
associadas a diarréia do intestino delgado, particularmente
em animais jovens (7,8). A giardíase tem sido
caracterizada como diarreia aguda ou crônica,
intermitente ou contínua, auto-limitante (7,9), em que o
apetite permanece inalterado e o vômito é considerado
muito raro (10).
Tabela 2. Tratamentos
Apesar de bem conhecidas, parecem ocorrer ocasional-
Características dos animais em fase de
eliminação de cistos de Giardia mente dificuldades com os tratamentos para a giardíase,
mesmo ainda não sendo considerados resistentes. No
Gatos Cães
tratamento são utilizadas duas substâncias, até mesmo
Amostras contaminadas 7,4 (n = 94) 23,5 (n = 242) concomitantemente, o fembendazol e o metronidazol
(%), animais <1 ano (www.capcvet.org). Dentre as razões mais prováveis para a
Amostras contaminadas 0,9 (n = 108) 2,3 (n = 419) falha de tratamento incluem-se os erros de diagnóstico, a
(%), animais >1 ano
presença de infecções concomitantes não tratadas ou a re-
Frequência por campo <10 oocistos <10 oocistos
microscópico utilizando (em 61% dos (em 56% dos infecção originada a partir do ambiente onde o animal vive
uma lente animais) animais) ou da sua pelagem. É recomendável exigir um nível
objetiva de 40x
mínimo de desinfecção dos objetos contaminados através
Infecções parasitárias 22,3 (n = 18) 48,7 (n = 76) da lavagem destes em água quente ou num programa curto
concomitantes (%)
na máquina de secar, ou ainda através da utilização de
desinfetantes à base de amônia quaternária durante um
período mínimo de 15 minutos. No último dia de
Tabela 3.
tratamento é também recomendável dar um banho no
Características dos animais em fase de
eliminação de oocistos de Cryptosporidium animal de modo a ajudar a eliminar quaisquer parasitas
ainda presentes na sua pelagem.
Gatos Cães
Amostras contaminadas 15,9 (n = 94) 23,5 (n = 242) É sugerido o tratamento da criptosporidiose em animais
(%), animais <1 ano que apresentem depressão severa do sistema
Amostras contaminadas 2,7 (n = 108) 2,1 (n = 419) imunológico, envolvendo o uso experimental de
(%),animais >1 ano
paromomicina (Humatin®, Morris Plan (ainda não
Duração da excreção > 6 semanas > 6 semanas disponível no Brasil) numa dosagem de 125 mg/kg/dia
Frequência por campo 10-100 oocistos <10 oocistos PO, BID, durante 5 dias, ou nitazoxanida (Annita®,
microscópico de ampliação
utilizando uma lente Farmoquímica) numa dosagem de 25 mg/kg/dia PO, BID,
objetiva de 40x durante 7 a 28 dias) (16).
Infecções parasitárias 23,6 (n = 17) 50 (n = 74)
concomitantes (%)
Existem alguns riscos associados à utilização destes
medicamentos, tais como a insuficiência renal e surdez,
reportadas durante o tratamento com paromomicina em
animais muito jovens, e o vômito durante o tratamento
sensibilidade de 91,2%, enquanto que a sensibilidade dos com nitazoxanida em gatos (17). O tratamento de
outros dois testes (teste de centrifugação e teste Snap determinadas infecções concomitantes pode revelar-se
Giardia) foi de 85,3% (11). A especificidade de todos os eficaz na eliminação do parasita através de um efeito
testes foi superior a 99,4%. A sensibilidade do teste Snap indireto; desta maneira, num estudo clínico, o tratamento
Giardia em cães foi igualmente de 92% (14). Contudo, o da giardíase felina propiciou igualmente o fim da
procedimento para identificação de Giardia através de eliminação de Cryptosporidium em vários animais (18).
exame microscópico exige um certo grau de experiência
(15). Transmissão ao Homem
Uma vez que os cistos de Giardia e os oocistos de
A especificidade do teste Prospect T para Cryptosporidium Cr yptosporidium tornam-se infecciosos logo após a
em gatos(Prospect T Cryptosporidium Microplate Assay; eliminação pelas fezes, estas infecções são altamente
Remel Microbiology Products, Lenexa, KS) foi de 71,4%, contagiosas, mesmo para humanos. Hunter e Thompson
enquanto que a especificidade obtida com um teste de revisaram estudos epidemiológicos e avaliaram o risco de
imunofluorescência direta (MeriFluor Cryptosporidium infecção por Cryptosporidium associada a animais de
Direct Immuno-fluorescence Test Kit, Meridian Bioscience companhia (risco de 0,6 a 2,19) e concluíram que o
Inc, Cincinnati, OH) foi de 21,4% (11). Até à data, não contato com um animal de estimação tem pouco efeito e,
foram realizadas avaliações semelhantes em cães. além do mais, pode fornecer proteção contra a infecção
(19). Contudo, devido esta infecção ser quase
exclusivamente limitada a animais com menos de um ano proprietários dos animais e de relembrá-los da
de idade, os estudos epidemiológicos poderiam ter importância da coleta de todos os dejetos dos seus
produzido diferentes observações caso este critério animais, especialmente dos animais mais jovens, em
tivesse sido considerado. Da mesma forma, o fato dos qualquer zona pública e sobretudo ao redor das áreas de
gatos eliminarem maior número de oocistos que os cães, habitação.
conduz ao aumento da probabilidade de infecção humana
através do contato com gatos. Vários estudos, incluindo os Recomendações veterinárias
de Cama, et al. (20), Matos, et al. (21) e a revisão de Raccurt, Como medida de precaução, deve ser recomendado o
et al. (22) demonstraram que a infecção com espécies tratamento de todos os animais jovens infetados com
animais é um evento relativamente comum e que pode Giardia (2) e, melhor ainda, dada a sua prevalência, pode
resultar em sinais clínicos graves em pacientes com HIV. mesmo ser recomendado o tratamento preventivo de todos
A transmissão de Giardia de animais para humanos é os animais com menos de um ano de idade, bem como dos
também uma realidade. Num estudo Alemão, verificou-se animais de companhia recentemente adotados.
que 88% (n = 60) dos cães provenientes de uma região Quanto ao Cryptosporidium, é impossível instaurar um
urbana eliminaram o Grupo AI que é transmissível aos tratamento preventivo efetivo o que, deste modo, nos força
humanos (23), e um estudo Americano, 6 de 17 gatos a enfatizar as medidas de higiene. É recomendado o
testados (35%) excretaram o Grupo AI. tratamento de todos os cães infectados, independente-
Estas duas infecções representam um risco real para mente do baixo risco de zoonose (1).
a saúde pública sendo, por isso, importante alertar
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GUIA DESTACÁVEL
Parasitas intestinais
em cães e gatos
Stanley Marks, Professor de Medicina de Pequenos Animais, BVSc, PhD,
Dipl. ACVIM (Medicina Interna, Oncologia), Dipl. ACVN
Robin Houston, MS
Universidade da Califórnia, Davis, Hospital Universitário de Medicina Veterinária
(Veterinary Medical Teaching Hospital), Davis, Califórnia, EUA
minutos antes de transferir para uma lâmina de vidro através da utilização de alça ou de vareta de vidro
para observação. constitui o método muito pobre de transferência do
menisco e reduz a sensibilidade de qualquer técnica de
Transferência do menisco flutuação, devido o fato de apenas uma pequena porção
O menisco deve ser transferido, levantando a tampa de parasitas recuperados serem verdadeiramente
diretamente da superfície do fluido após 10 minutos e o transferidos para a lâmina de observação.
colocando numa lâmina. A transferência do menisco
Ovos de Toxocara canis (os três grandes redondos), (85 x Ovo Uncinaria stenocephala (75 x 45µm) com cistos de Giardia
75µm) e ovos do ancilostomídeo Ancylostoma caninum (os (mais pequenos) (18 x 10µm) no fundo do campo.
dois ovóides) (60 x 43µm).
Ovos do nematódeo Toxascaris leonina (80 x 70µm). Ovo do nematódeo Toxocara spp. (T), oocistos de
Cryptosporidium spp. (C) e cistos de Giardia spp. (G).
Ovo do tricurídeo Trichuris vulpis (80 x 38µm). Ovo do parasita gástrico Physaloptera spp. (55 x 32µm).
✂
Conjuntos de ovos do ostódeo Dipylidium caninum (200 x Ovo do trematódeo Nanophyetus salmincola (90 x 45µm).
150µm).
Oocistos de Isospora felis (esporulado e não esporulado), (42 x Ovo do nematódeo Toxocara cati (75 x 65µm) e oocisto de Isospora
35µm). felis (42 x 6µm).
Cistos de Giardia spp. (18 x 10µm). Cistos de Giardia spp. e oocistos de Cryptosporidium spp. em
observação por imunofluorescência*.
Oocisto de Cryptosporidium spp.; coloração ácida-rápida de Trofozoítos de Trichomonas fetus (até 25 x 15µm), (ampliação de
Ziehl-Neelsen modificada (5 x 5µm). 100x e de 400x).
REFERÊNCIAS
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✂
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www.ivis.org em 7 línguas diferentes. Veterinary Focus disponibiliza informação
State-of-the-Art em medicina canina e felina.
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