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REPORTAGEM
Colunista do UOL
08/12/2022 04h00
Imagine o cenário: uma luz espia acende no painel do seu carro e, ao chegar na concessionária, você descobre que o
conserto custa R$ 20 mil. É por essa situação que alguns proprietários de Nissan Kicks estão passando. O problema
está no módulo do ABS, que para de funcionar, e as concessionárias da marca têm lidado com a situação de
diferentes formas: enquanto algumas fazem o conserto sem custos, outras cobram caro.
A informação foi publicada pela revista Quatro Rodas e confirmada por UOL Carros. Em um grupo de
proprietários do veículo no Facebook, chamado de "Grupo Nissan Kicks", o número de pessoas relatando o
acendimento da luz espia do ABS, junto com a sinalização de controle de estabilidade desligado, é grande. Apesar
do mesmo sintoma, a resposta das concessionárias Nissan é diferente para cada caso.
O advogado Gabriel Yuri conta que, quando o problema apareceu em seu Kicks 2019, inicialmente, era
intermitente. "Acusava no painel do carro que os sistemas estavam desligados e, momentos depois, retornava a
funcionar. Tirei foto e questionei na concessionária. Na época, pediram para ficarmos observando. O problema ficou
grave, de passar dias sem funcionar, no último mês da garantia", lembra.
Quando o problema foi, de fato, detectado, o carro já havia saído da garantia, e o orçamento que Gabriel recebeu
para substituir o módulo do ABS foi de mais de R$ 20 mil. "Fui orientado a entrar em contato com o SAC e solicitar
a troca do módulo. O pedido foi aceito, mas pediram um prazo longo, pois a peça estava em falta devido à crise dos
semicondutores. Ao fim deste imbróglio, o módulo foi trocado sem custos. E o carro não apresentou problemas até
então", garante.
Ricardo Struckel Filho, participante do grupo do Facebook, passou por uma situação parecida, mas não recebeu as
mesmas informações. "A concessionária orçou em R$ 17.500 para consertar. Fui em uma oficina boa da cidade, que
conhece todos os ferros-velhos, e ficou R$ 2.500", conta.
Chyara Diógenes, outra proprietária de Kicks, teve que pesquisar em mais de uma autorizada para ter o conserto
sem custos. "A primeira vez que a luz do módulo e da estabilidade ligou foi no fim de 2021. Eu entrei em contato
com a concessionária que comprei, mas cobraram para olhar o carro e o serviço seria pago, já que não estava mais
na garantia. Aí levei em uma oficina e disseram que era só a calibração dos pneus, e deu certo por uns meses. Neste
ano, a luz voltou e entrei em contato com outra concessionária, a moça disse que estava realmente dando problema
em vários e que a Nissan tinha passado que era para receber o carro e ajeitar de graça."
André De Maria, engenheiro mecânico do Bocsh Car Service Autocentro Confiar e estudioso de vícios ocultos em
automóveis, explica que o problema apresenta um risco, pois o sistema de freio ABS, item de segurança obrigatório
desde 2014, fica inoperante. "O carro passa a funcionar como um veículo com freios comuns, sem ABS", esclarece.
O engenheiro afirma ainda que o defeito acontece na parte eletrônica que controla as válvulas do sistema de
frenagem, e que é característico de vício oculto.
"Pela quantidade de ocorrências, fica claro que trata-se de um vício. A prova disso é que, no caso de o carro ser de
alguém que realizou todas as revisões na concessionária, eles fazem a troca sem custos. Estamos falando de uma
peça que deveria durar a vida útil de um carro, não é item de desgaste", afirma.
O que diz a Nissan?
A coluna entrou em contato com a Nissan do Brasil, que afirmou que orienta a seus clientes que, caso a luz de freio
se acenda com o motor em funcionamento e com o freio de estacionamento liberado, é indicado que se pare o
veículo e seja feito o seguinte procedimento: "1. Verifique o nível do fluido do freio. Adicione fluido, se necessário
(consulte o manual do proprietário). 2. Se o nível estiver correto e a luz se manter acesa, será necessária a inspeção
do sistema em uma concessionária Nissan".
Ao ser conduzido a uma concessionária, a fábrica afirma que "o veículo passará por inspeção completa do sistema
de freios que, como todo sistema mecânico, pode sofrer desgastes, o que, nesse caso, demandaria possíveis reparos
ou ajustes. A Nissan reforça que não foi registrado um defeito de fabricação do componente".
A marca não respondeu sobre qual é a orientação dada à rede de autorizadas a respeito do pagamento do conserto. A
revista Quatro Rodas afirma que duas concessionárias, uma de São Paulo e outra do Rio de Janeiro, afirmam que "a
fabricante emitiu um alerta à rede informando sobre o processo de troca em garantia do atuador do módulo do
ABS".
A coluna entrou em contato com outras duas concessionárias, se passando por cliente, e a informação obtida foi de
que a troca da peça seria realizada sem custos, mesmo fora da garantia.
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OPINIÃO
Felipe Carvalho
Colunista do UOL
08/12/2022 11h00
Carros com motores turbos chegaram com mais força há pouco mais de uma década no nosso mercado. O primeiro
foi o Uno nos anos 90, seguido pelo Tempra e depois pelo Marea. O objetivo da Fiat era entregar as versões mais
rápidas e esportivas de cada um deles, sem muitos compromissos com emissões de poluentes ou baixo consumo de
combustível.
Possivelmente o primeiro a flertar com a eficiência, ou seja, bom desempenho com economia, tenha sido o
Volkswagen Gol 1.0 16v Turbo do começo dos anos 2000. Prometia performance de um Gol 2.0 com consumo mais
próximo de um 1.0. Deu certo, o carro era muito bom, mas não demorou para que sua complexidade mecânica
ganhasse má fama no mercado. O carro exigia mais atenção e gastos por parte dos proprietários, que passaram a
rejeitar a versão, tanto que logo saiu de linha.
Depois dessa experiência ruim com o Gol, o turbo perdeu suas forças no Brasil por um tempo, até começar a se
popularizar em motores de baixa cilindrada e hoje ser o queridinho do mercado de novos. Dos dez carros de passeio
mais vendidos neste ano, sete oferecem versões turbos.
Por exemplo, para um Chevrolet Camaro atingir os expressivos 63 kgfm de torque no seu motor aspirado, precisa de
um propulsor enorme, no caso um de 6,2 litros. Veja que o torque específico nesse caso é de 10,2 kgfm por litro,
nada muito diferente de qualquer outro carro moderno com motor naturalmente aspirado.
Já em um motor turbo o ar entra na câmara de combustão com uma pressão muito superior, e com isso o toque
máximo aparece com mais forte e mais cedo. São muitos os exemplos que superam os 20 kgfm por litro de fábrica,
o que já é bastante coisa, mas dá para vir além, bastando para isso aumentar a pressão do turbo.
Claro que essa relação não é infinita, chega a um ponto que é necessário aumentar o tamanho do motor também,
mas na prática o torque passa a estar mais relacionado com a pressão escolhida para o turbo.
As vantagens são muitas, pois a mistura de ar com o combustível é otimizada, melhorando muito a performance em
um motor pequeno, que tende a gastar menos combustível, além de conseguir baixa emissão de poluentes. É por isso
que muitos fabricantes estão optando por equipar seus carros, dos mais simples aos mais refinados, com motores
turbos.
Não faltam carros assim no mercado de usados. Para o primeiro dono fica só a alegria de curtir um veículo ainda
mais veloz, mas na medida em que o tempo vai passando e o automóvel passa por mais donos, a conta dessas
alterações vai estourar nas mãos de alguém.
Com um mercado de usados que é constantemente abastecido com carros turbos nos últimos anos, é de se imaginar
que muitos já estão no fim da vida.
Na prática não é o que tenho visto no mercado de usados. Muitas vezes os carros turbos usados são como bombas
prestes a explodir. Estão nas mãos de donos que só se preocupam em saber se tem combustível no tanque. Quando
isso acontece, o custo do reparo é compatível com a alta tecnologia e o rombo no bolso é grande.
Para motoristas comuns, sem aquele apelo de um autoentusiasta ou que prefere passar longe de problemas com o
carro, continuo recomendando os bons e velhos motores naturalmente aspirados. Não que possamos ser relapsos
com eles, mas é certo que são mais tolerantes.
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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
Você pensa que sabe trocar a marcha, mas esse vício mostra que não
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PAULA GAMA
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REPORTAGEM
Colunista do UOL
29/11/2022 04h00
O Ministério Público Federal (MPF), em conjunto com o Ministério Público do Estado de Minas Gerais, entrou com
uma Ação Civil Pública contra a FCA, que compreende Jeep e Fiat dentro do grupo Stellantis, por 22 problemas
encontrados em unidades do Jeep Compass fabricadas a partir de 2018. A causa, no valor de R$ 50 milhões, pede
que seja realizado um recall para consertar os danos e, se não for possível, a recompra de todos os exemplares
defeituosos.
UOL Carros teve acesso ao texto da Ação Civil Pública, assinada no último dia 22, que também responsabiliza a
Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) e a União por terem aprovado o projeto do veículo. Os problemas
apontados pelos promotores são baseados em reclamações de clientes e matérias jornalísticas.
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De acordo com o texto, os automóveis vêm apresentando 22 problemas (confira a lista no fim da matéria), entre
eles, aumento do curso do pedal de freio, perda de estabilidade em paradas bruscas, alto consumo de combustível,
falhas na parte elétrica, aumento da emissão de óxido de nitrogênio (Nox) e defeito na bomba de óleo.
A Jeep também é acusada de ter realizado dois recalls que "podem ter alterado as configurações dos veículos de
modo significativo e modificado as condições de dirigibilidade dos veículos, cujas consequências podem ser a causa
do aumento de emissão de poluentes e/ou do consumo de combustível". Como exemplo de consumidores lesados, a
procuradoria aponta 3.249 reclamações registradas no "Reclame Aqui", além de mais de 100 reclamações
registradas no Procon/SP entre 2020 e 2021.
A acusação define as atitudes da FCA como algo "absolutamente sério e condenável". "A fabricante tomou
conhecimento do defeito nos motores dos veículos ainda em 2018, por meio de reclamações dos consumidores.
Todavia, a empresa não se pronunciou sobre o assunto nem promoveu uma chamada de recall dos veículos nos
meios de comunicação", reclama.
Os procuradores explicam ainda, na petição, que para comercializar veículos no Brasil as montadoras precisam
atender às especificações legais de segurança veicular exigidas pelo Conselho Nacional de Trânsito (Contran) e pela
Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), e que cabe à secretaria verificar se o projeto atende às normas vigentes
de qualidade de fabricação e de níveis de poluentes emitidos.
"Sobressai que essa verificação não foi feita pelos técnicos da Senatran, situação que revela que os projetos
apresentados possuem falhas técnicas que comprometeram toda a produção. Além do mais, a FCA não informou à
Senatran os problemas verificados nos motores dos automóveis supracitados, bem assim as soluções adotadas para
correção", afirma o texto.
Na Ação Civil Pública, o Ministério Público Federal e o de Minas Gerais solicitam que a União Federal, por
intermédio da Secretaria Nacional do Consumidor, e a FCA promovam o recall de todos os veículos Jeep Compass
fabricados a partir de 2018. Na impossibilidade de conserto, o pedido é que a FCA promova a recompra das
unidades.
O MP também solicita a condenação das requeridas a indenizar o dano moral coletivo pelos danos causados aos
consumidores e ao meio ambiente. O valor da causa é de R$ 50 milhões.
À Senatran, os procuradores pedem que, para aprovação de novos projetos, seja realizada a avaliação por
profissionais técnicos integrantes do próprio órgão, que não poderão ter qualquer tipo de vínculo com montadoras
nos últimos 10 anos, para verificar a viabilidade dos projetos e se eles estão em conformidade com normas de
segurança viária e ambiental.
Em Uberlândia, a juíza federal substituta Daniela Alexandra Pardal Araujo analisou a Ação e decidiu que a
competência é de uma das Varas Federais da Seção Judiciária do Distrito Federal, para onde devem ser remetidos os
autos.
UOL Carros entrou em contato com a Jeep, que se limitou a dizer que "com relação às questões, esclarecemos que
não fomos citados oficialmente e trataremos do assunto em âmbito legal". A Senatran também afirma que ainda não
foi notificada, devendo se manifestar tão logo tenha acesso à íntegra do despacho.
FCA convoca recall
Recall também envolve unidades do Fiat Pulse
Imagem: Divulgação
Nesta segunda-feira (28), a FCA iniciou uma campanha de recall com 781 unidades da Fiat e 1.059 da Jeep, sendo
665 exemplares do Compass, ano/modelo 2022 e 2023. Além do SUV, exemplares de Pulse e Toro, ano/modelo
2022 e 2023, Fastback (2023), Commander e Renegade (2022 e 2023) foram chamados para agendarem
comparecimento a uma das concessionárias da rede a fim de que seja providenciada, gratuitamente, análise e, se
necessária, a substituição do conjunto da bomba de alta pressão de combustível dos veículos convocados.
De acordo com a FCA, foi identificada a possibilidade da quebra do parafuso de fixação da bomba de alta pressão
de combustível ao motor e, em casos extremos, poderá ocorrer o vazamento de combustível com risco de incêndio e
potenciais danos materiais, danos físicos graves ou até mesmo fatais aos ocupantes do veículo e/ou terceiros.
Esse não é o primeiro defeito dos veículos equipados com motores T200 e T270 reconhecido pelo grupo. Em
julho, UOL Carros noticiou que a Fiat e a Jeep emitiram um comunicado para sua rede de concessionários
autorizando a troca da bomba de óleo de carros com os motores turbo, que equipam os modelos Pulse, Toro,
Renegade, Compass e Commander.
A recomendação era para veículos produzidos entre janeiro e abril de 2022. Apesar de autorizar a substituição da
peça, a Stellantis não fez um chamado para recall, pois, segundo a marca, o defeito não apresenta risco à saúde ou à
segurança dos consumidores.
Ele também alerta que as versões Diesel possuem a transmissão ZF 9HP48/948TE (transmissão de 9 marchas), que
em alguns casos também podem estar presentes na Fiat Toro com motor Flex 2.4 TigerShark.
"Outra forma de demonstrar que o problema extrapola o modelo informado, Jeep Compass, está no caso das centrais
multimídia. A mesma central aplicada no Compass é aplicada em Jeep Renegade e em Fiat Toro", afirma o
engenheiro.
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