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Resumen: En este artículo demostramos, a través del análisis de algunos poemas del
Romancero Gitano, del poeta García Lorca, la existencia, en el ámbito de la poesía moderna,
de una tendencia poética que llamamos hermetismo, de la que Lorca forma parte. Este
hermetismo remite a una línea de creación que permea toda la modernidad, partiendo del
Romanticismo, pasando por el Simbolismo y algunas poéticas modernistas no precisamente
alineadas con las experiencias de vanguardia más radicales. Se sostiene aquí que este
hermetismo, en Lorca, fue una alternativa encontrada para la formulación de la homopoética
en un entorno socioliterario adverso.
Tanto neste parágrafo quanto em outros, observa-se a relevância que atribui Friedrich
à autonomia que a poesia obtém ao desprender-se da sua capacidade comunicativa. Logo,
Friedrich vai delimitar os elementos que, a seu parecer, provocam o hermetismo a nível
formal, que são: mudança da função das preposições, dos adjetivos e advérbios e das formas
verbais temporais e modais; alteração da ordem normal dos períodos; tendência a frases
abertas, que por exemplo, podem ser formada somente com nomes aos quais não acompanha
nenhum verbo; orações subordinadas às quais não sucede nenhuma principal; substantivos
usados sem artigo; uso de palavras que se explicam apenas pela raiz, mas que não são usadas,
etc.
Friedrich também se refere à recepção e reação do leitor, em uma definição que nos
parece bastante acertada, já que alude à mistura de atração e estranheza que pode produzir o
texto hermético. Afirma Friedrich: “Sua obscuridade o fascina, na mesma medida em que o
desconcerta. A magia de sua palavra e seu sentido de mistério agem profundamente, embora a
compreensão permaneça desorientada” (p. 15).
Para Friedrich, Mallarmé (aquele que abre-se aos “raios primitivos da lógica”) é um
dos baluartes destas novas concepções, e atribui ao poeta as seguintes características:
El mariquita organiza
los bucles de su cabeza.
El mariquita se adorna
con un jazmín sinvergüenza.
Note-se que esse tema reaparece no poema San Miguel. Como o mariquita, o
“arcangel domesticado”, esse rapaz belo que aguarda na torre, se enfeita, de adorna e se olha
ao espelho enquanto
Sobre este último verso, Luis Antonio de Villena afirma que “viene aquí bien
recordar que pluma (en el argot homosexual) vale por gesto llamativo, típico de quien
pudiera ser calificado de mariquita”. O tom provocador com o que Lorca tinge a imagem de
San Miguel vai além. Correlacionando o arcanjo-efebo a uma certa artificialidade (que nós
lembra a imagem de um dandi), o poema se encerra com a visão do arcanjo ensaiado,
devolvido à “alcoba de su torre”, ficando posto um elogio à graça masculina-efébica, a qual
Lorca não poderia louvar se não fosse através de metáforas sublimes, para poucos e
herméticas. Binding comenta sobre a justaposição entre o religioso e o homosexual do poema:
Os rapazes são aprendizes de Tobias e “Merlines de cintura”, isto é, que possuem uma
beleza física que enfeitiça, o que em Andaluzia recebe o nome “juncalismo”. As águas do rio
Guadalquivir ficam a“alisar” esse “romano torso desnudo”. Essa mistura de elementos
bíblicos com a mágica e imagens da cultura cigana-andaluza vai ser um tópico em todo o
Romancero, como vemos neste e também no próximo poema da tríade, San Gabriel.
Certamente, San Rafael é o poema mais enigmático dos três dedicados aos Arcanjos.
As metáforas são ressoantes e herméticas: “Pétalos de lata débil”, “vendedores de tabaco” e
aquela que mais está presente no poema, encarnada na figura do peixe solitário “que a las dos
Córdobas junta”. Luis Antonio de Villena não duvida em associar a figura desse “pez” a um
símbolo fálico. Sem descartar essa interpretação, propomos que Lorca, para acentuar as
imagens de Tobias e do próprio São Rafael, faz referência na imagem do peixe à historieta
bíblica do rapaz israelita, Tobias, e seu protetor, o Arcanjo Rafael, tão bem retratada na
conhecida pintura de Filippino Lippi, “San Rafael guiando a Tobías”. No quadro, o anjo
Rafael é quase feminino e o jovem Tobias segura sua mão com confiança.
O terceiro poema arcangélico, San Gabriel, é um louvor à graça masculina juvenil, à
graça efébica. Os primeiros versos do poema dão conta de imprimir a beleza do terceiro
arcanjo, que entrará no jogo sacro-profano proposto pelo poeta:
A riqueza linguística dos versos de Lorca é aqui alçada à descrição sensual de uma
beleza juvenil, camuflada na história dos ciganos e dos arcanjos. Através dos poemas
analisados, em um exercício de desocultação, observa-se a trajetória de auto-expressão de
Lorca. O poeta passeia pelo religioso e pelo pagão, propondo uma poética homoerótica que
sugere uma união entre si próprio, a sua Andaluzia morisca e católica, e o estético e o belo
dos corpos masculinos.
Referências bibliográficas
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novembro de 2011. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?
v=uw0xOPL5_7I&t=1851s>.