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Poesia Moderna & Contemporânea

Conceituação da modernidade:

 A arte moderna, para além de filha da idade crítica, é também crítica de si mesmo;
 Acredita-se que tudo o que é velho pode-se transformar em novo, partindo do
pressuposto de que o moderno é formado a partir da negação de tradições e,
consequentemente, da formação de novas tradições;
 A arte moderna veio para apagar e ressignificar oposições entre o antigo e o
contemporâneo e entre o distante e o próximo, por intermédio da crítica. Para tanto,
usou-se da obscuridade e da violação de regras tradicionais do fazer poético,
fundamentando suas próprias regras.

Lírica europeia do séc. XX:

 A lírica do século XX não é fácil de acessar devido ao seu caráter obscuro e enigmático.
Esse caráter da lírica gera no autor um sentimento de mistério e instigação, embora
careça de sentido definido. Essa junção da falta de compreensão e do fascínio podem
ser chamados de dissonância, uma vez que trazem uma tensão para o autor que gera
inquietude;
 A lírica europeia do século XX carregava consigo traços de origem arcaica, mística e
oculta associados à intelectualidade;
 A poesia moderna veio para transformar o mundo e a língua. O poeta passa a atuar
como uma inteligência que poetiza, como operador da língua e objetivava expor seu
modo irreal e único de enxergar o mundo;
 Em relação aos conteúdos, a poesia moderna explora um lado “estranho”, não-
familiar, visto que essa não se preocupa mais em descrever a realidade ou explorar o
lado emocional e interior do autor. Isso ocorreu pois, até o início do século XIX, a
poesia buscava refletir ou idealizar a sociedade, porém, em seguida, a poesia passou a
se opor à sociedade economicamente preocupada e passou a lamentar a decifração
científica do universo e a ausência de poesia. A partir daí, então, os poetas modernos
romperam drasticamente com a tradição;
 Entende-se que o objetivo, a vontade estilística dessa poesia é a dificuldade e, muitas
vezes, a impossibilidade da compreensão;
 Pode-se dizer que a poesia moderna foi construída com base em categorias negativas,
que vêm não para depreciar, mas sim para definir, como consequência do processo
histórico pelo qual a lírica moderna passou. O mais denso acúmulo de categorias
negativas encontra-se em Lautréamont: suas caracterizações soam como angústias,
confusões, degradações, trejeitos, domínio da exceção e do extraordinário,
obscuridade, fantasia ardente, o escuro e o sombrio, dilaceração em opostos
extremos. Nesse sentido, o espanhol Dámaso Alonso afirma que: "Não existe, no
momento, outro recurso do que designar nossa arte com conceitos negativos".;
 O romantismo francês pode ser definido como uma ponte que ligou o antigo
romantismo à Baudelaire, o primeiro lírico moderno renomado. Isso ocorreu porque as
tendências de melancolia e de dor cósmica injustificáveis que permeavam os poemas
românticos deram lugar a alegria e a serenidade dos pré-românticos, contrastando,
portanto, com o que viria a ser o modernismo posteriormente;
 Ao passo que o romance moderno nascera da fusão e da mistura, a princípio um tanto
informe e caótica, de vários gêneros literários, velhos e novos, mais tarde, por volta de
meados do século XIX, a poesia moderna se fixava como lírica segundo o modelo
oposto da pureza, da depuração, da interrupção dos nexos dialógicos e dinâmicos com
outros gêneros literários;
 Com o surgimento dos grupos e os movimentos de vanguarda, a inovação estética se
torna militante, transforma-se em manifesto, em propaganda, em ação organizada e o
conflito com o público se transforma numa tentativa de criar ou conquistar um novo
público. Assim, o que passa a estar em jogo é mais a situação social dos artistas
modernos do que a linguagem como estilo;
 Segundo Friedrich, a lírica que surgiu no Ocidente a partir da segunda metade do
século XIX constituía-se por: fantasia ditatorial, transcendência vazia, puro movimento
da linguagem, ausência de fins comunicativos, fuga da realidade empírica e fundação
de um espaço-tempo sem relações casuais e dissociado da psicologia e da história,
devendo ser entendida, portanto, como um organismo cultural e estilístico
autossuficiente;
 Desde o final do século XVIII, os sintomas de uma profunda modificação da cultura
artística se multiplicam e ganham impulso graças a uma reflexão nova sobre o conceito
de fantasia e de língua poética;
 “A obscuridade e o antagonismo do estilo moderno foram, assim, constituindo-se
paulatinamente numa espécie de jargão. A combinatória linguística tornou-se com o
tempo cada vez mais autônoma e livre de resistências. A transcendência vazia e a
agressividade dramática que Friedrich atribuía à lírica moderna perderam sua carga
dialética. Mas talvez Friedrich não percebesse inteiramente a relação entre a sua
descrição "estrutural" da poesia moderna como fuga da realidade e autonomia da
linguagem e os produtos dos novos vanguardistas, com seu jargão da modernidade e
sua abstrata concretude. Mais que iluminar o estado presente da "tradição do novo",
uma descrição a-histórica da poesia contemporânea e de sua novidade só contribuía
para criar o kitsch do moderno como forma vazia e intercambiável. Baudelaire o
compreendera antecipadamente.”;
 Com o passar do tempo, o racionalismo que sondava a modernidade se estendeu por
vários outros setores da cultura para além da leitura, mas foi renegado como forma de
valorizar a razão estética e da necessidade do domínio do poeta sobre seu processo
criador. Dessa maneira, o poeta volta seu olhar para o próprio processo de
composição poética, a partir da fundição de atitudes de poetas do passado e por
intermédio do autoquestionamento;
 Com essas transformações de atitude dos poetas, houve uma redução significativa no
número de leitores, visto que passou a restringir a um círculo de intelectuais;
 “No vazio assim aberto, beneficiada por aquela profusão de aparelhos, penetrou fácil-
fácil a música popular, que sugou o espaço do poema, como a arte cinética sugou o do
romance”.

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