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“Criar [...] é correr o grande risco de se ter a realidade” (Clarice Lispector, A paixão
segundo G. H.).
I
A compreensão da poesia brasileira contemporânea passa pelo crivo da pro-
fusão e configuração do sujeito, já que, ainda hoje, o lírico é balizado por sua es-
sência subjetiva. Herdada dos gregos da Antigüidade, essa forma de pensar a poesia
aponta, segundo Alcides Villaça (1991, p. 32), para uma “atividade ostensiva ou
implícita de um sujeito afetivo, certamente problemático em função de alguma
realidade que se particulariza em seu discurso”. Assim, sem desconsiderar o flanco
universal, parece impróprio alijar a poesia de seu locus recôndito, intimista e pesso-
al, se o objetivo é violar sua essência. Instala-se, aqui, a seguinte querela: a figurali-
dade do sujeito e, por conseguinte da subjetividade, nesses versos contemporâ-
neos, erigem-se na criação, na realidade ou no “entre-lugar” de ambas? É o que
buscaremos investigar em alguns poemas de Armando Freitas Filho.
3 Os poemas de Armando Freitas Filho aqui transcritos foram todos extraídos de sua poesia
reunida e revista: Máquina de escrever, vide referência.
134 A Cor das Letras – UEFS, n. 8, 2007
Texto
de avessos e retalhos
e a imagem sob a pele
é alinhavada: andaimes
de cartas, o castelo