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A poesia moderna e a revolução da linguagem poética.

A França do século XIX passava por uma grande mudança coma passagem da Idade
Moderna para a Contemporânea, é o tempo de novas formas de viver. “Neste cenário nasce
a ideia de abrir-se a um debate sobre representação política, liberdade pública e a função
dos poderes”.” Os poetas começam a se questionar sobre a sociedade francesa e como ela
influencia na linguagem e na forma de se portar de um país.”
“A linguagem é forma como as pessoas se comunicam com o mundo, compartilhando assim
sentidos que são configurados por determinada língua e que apenas existem nela. Aquilo
que vem de fora e nos atinge como sujeitos e nos atravessa é a língua. Essa linguagem traz
um corte do mundo lhe impondo uma ordem. Uma vez nomeado um objeto se torna tal
porque a linguagem o nomeou lhe dando assim lugar no sistema. Assim que isso acontece,
essa coisa acaba perdendo sua complexidade, se reduzindo a esse determinado traço que a
língua selecionou a partir dos quais se pode reconhecer o objeto. Com o reconhecimento
tudo se torna uma redução.”
“Desse modo, a literatura moderna vem para derrubar essa língua e o sentido imposto por
ela. A responsabilidade da literatura vem para desmontar esses conceitos, com um
estranhamento, em um mundo singular, prestando um trabalho na formação da linguagem
e nos seus limites em relação aos sentidos.”

No texto de Walter Benjamin “Sobre Alguns Temas em Baudelaire”, o autor descreve a


opinião de alguns artistas em relação a linguagem poética, ele cita “Flores do mal "de
Baudelaire que “traz críticas a modernidade, em um panorama sobre amor, morte,
inquietude, etc. O autor teve como público-alvo pessoas que tinham dificuldades na
compreensão da poesia lírica.” A força de vontade e a concentração desses leitores não se
estende, eles preferem os prazeres sensíveis o intuito artista era ser compreendido”. Com
esse acontecimento ele mudou a forma de fazer poesia, dando espaço para as diferentes
formas de compreensão do seu público.

“Desde o final do século passado, a filosofia vinha realizando uma série de tentativas para se
apropriar da “verdadeira” experiencia, em oposição aquela que se manifesta na vida
normatizada, desnaturada das massas civilizadas.” O autor Bergson tem uma filosofia que
tenta detalhar a experiencia da natureza complementar da reprodução espontânea da
memória.” Na sua obra” Matiere et Mémoire (Matéria e Memória)”,” a literatura do autor
destaca ideia de filosofia do ponto de vista relacionado com a investigação cientifica, se
orientando pela biologia. "Nela a memória está interligada com a experiencia tanto na vida
privada como na coletiva”. “Essa obra define caráter e da experiência na forma na duração,
fazendo com que o espectador entenda qual apenas o autor é adequado para tal
experiencia.”
Em contrapartida Proust na sua obra “Em Busca do Tempo Perdido”, identifica
terminologicamente a sua opinião divergente.” A memória pura da teoria bergsoniana se
transforma, em Proust, na mémoire involontaire. Ato contínuo, confronta esta memória
involuntária com a voluntária, sujeita à tutela do intelecto.” ao falar do episódio da
madeline, ele traz a ideia de memória voluntária;” e as informações sobre o passado, por ela
transmitidas, não guardam nenhum traço dele."
No poema” Correspondências” de Baudelaire temos o trecho:

A Natureza é um templo onde vivos pilares


Deixam filtrar não raro insólitos enredos;
O homem o cruza em meio a um bosque de segredos
Que ali o espreitam com seus olhos familiares.

Como ecos longos que à distância se matizam


Numa vertiginosa e lúgubre unidade,
Tão vasta quanto a noite e quanto a claridade,
Os sons, as cores e os perfumes se harmonizam."

Walter Benjamin diz que “O significado que estas correspondances têm para Baudelaire
pode ser definido como uma experiência que procura se estabelecer ao abrigo de qualquer
crise. E somente na esfera do culto ela é possível. Transpondo este espaço, ela se apresenta
como "o belo". Neste, o valor cultuai aparece como um valor da arte,”
Para concluir Walter diz “As Flores do Mal foram a última obra lírica a exercer influência no
âmbito europeu; nenhuma outra posterior ultrapassou as fronteiras mais ou menos restritas
de uma língua. A isto se acrescente ainda que Baudelaire concentrou sua força criativa
quase inteiramente neste livro. E, finalmente, não se pode refutar o fato de que alguns
dentre os seus temas considerados na presente análise colocam em questão a possibilidade
mesma de uma poesia lírica. Estes três fatos determinam Baudelaire historicamente. Eles
mostram com que firmeza Baudelaire assumia sua causa. Estava plenamente cônscio de sua
missão. E de tal modo que designou como sua meta "criar um padrão". E via nisso a
condição para todo e qualquer lírico futuro. Tinha pouco apreço por aqueles que não se
mostravam à altura dela. "Tomais caldo de ambrosia? Comeis costeletas de Palos? Quanto
se -paga por uma lira na casa de penhores?'. O lírico de auréola tornou-se antiquado para
Baudelaire. Reservou-lhe o lugar de figurante em uma prosa intitulada Perda da Auréola. Só
mais tarde o texto se tornou conhecido. Por ocasião da primeira classificação das obras
póstumas, foi excluído como "impróprio para publicação". E permaneceu até hoje
despercebido na literatura sobre Baudelaire.”
Bibliografia.
https://www.planocritico.com/critica-as-flores-do-mal-de-charles-baudelaire/
https://letraycultura.wordpress.com/2019/07/04/poesia-moderna-e-a-relacao-com-a-
linguagem-victor-hugo-mallarme-pennequin-deguy/

BENAJAMIN, W., Sobre Alguns Temas em Baudelaire, tradução Brasiliense.pdf

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