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A anorexia nervosa e os sistemas neurobiologicos que regulam o consumo de


alimentos

Chapter · February 2019

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4 authors, including:

Mayron Piccolo Chantal Martin-Soelch


Harvard University Université de Fribourg
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Celio Estanislau
Universidade Estadual de Londrina
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A anorexia nervosa e os sistemas neurobiológicos
que regulam o consumo de alimentos 3
Mayron Piccolo1,2
Unidade de Psicologia Clínica e da Saúde, Departamento de Psicologia,
Universidade de Fribourg, Suíça
Chantal Martin-Soelch
Unidade de Psicologia Clínica e da Saúde, Departamento de Psicologia,
Universidade de Fribourg, Suíça
Juraci de Cássia Araujo
Instituto Transmissão, Londrina
Celio Estanislau3
Universidade Estadual de Londrina

1 MP recebe bolsa de Os transtornos alimentares constituem uma importante questão de saúde, apresentando altas taxas de
excelência do governo
suíço (FCS) para o mortalidade. Dentre tais transtornos, a Anorexia Nervosa (AN) apresenta as mais altas taxas (Arcelus et
doutorado. al., 2011). A compreensão dos fatores que regulam o comportamento alimentar saudável e seus transtornos
2 Rue P. A. de Faucigny,
2, CH- 1700 Fribourg,
pode contribuir para a prevenção e o tratamento. Aqui é apresentada uma introdução ao tema, com ênfase
Suíça nos sistemas que regulam a motivação para comer na anorexia.
mayron.piccolo@unifr.
ch
+41 26 300 97 12 Consumo de alimentos: uma atividade multideterminada
3 CE recebe bolsa
de pesquisa do CNPq
Comer é um dos comportamentos mais importantes na manutenção da sobrevivência. Acredita-se que
(proc. 307388/2015-8). o conhecimento relacionado ao consumo de alimentos seja a informação mais importante que se pode obter
sobre um animal (Rozin & Todd, 2015). Na maioria das espécies, a alimentação começa com um estresse
fisiológico em resposta à privação, seguido por uma fase de busca e seleção do alimento, dependendo
principalmente da disponibilidade e do potencial nutricional. Então, um estágio captura/coleta de alimentos
precede sua preparação e, finalmente, o consumo acontece, principalmente, para o provimento de um
aporte de nutrientes (Rozin & Todd, 2015). Em humanos, outras práticas relacionadas à alimentação são
observadas. Dessa forma, a alimentação passou a ser influenciada por fatores como religião, grupo familiar
e sociopolítico, por exemplo (Zucoloto, 2011).
Humanos e animais podem ter necessidades nutricionais muito semelhantes, no entanto, os padrões
alimentares podem distingui-los, assim como a diferentes grupos humanos (Zucoloto, 2011). Os animais
obtêm sua alimentação principalmente na natureza. Por outro lado, devido ao avanço da tecnologia e
da cultura, os humanos modernos também podem obtê-la de fontes secundárias, podendo produzir
diferentes tipos de itens (Tomaselo, 2003). Assim, houve uma transição de hábitos alimentares que
dependiam exclusivamente da disponibilidade - uma vez que a comida poderia tornar-se escassa devido
às condições climáticas, por exemplo - a uma nova condição em que pode haver abundância de escolhas.
O processamento de alimentos proveu muita variedade nas opções alimentares, de forma que, além da
disponibilidade, há diversas alternativas quanto ao valor nutricional, sabor e palatabilidade. Dessa forma,
os alimentos tornaram-se elementos reforçadores mais abrangentes do que simples geradores de energia.
Isso significa que em sociedades mais complexas, as pessoas comem não apenas para obter a quantidade
necessária de nutrientes para sobreviver, mas também por causa dos efeitos que os alimentos podem trazer
sobre seus comportamentos (Skinner, 1986).
36 O consumo de alimentos em algum estágio da evolução humana se tornou importante momento
de interação social. Segundo alguns evolucionistas, com o domínio do fogo, os primeiros humanos se
reuniam em torno dele para melhor utilizar os alimentos, eliminando possíveis toxinas. Além disso, com
o desenvolvimento da linguagem, é muito provável que esse contexto também consistisse em um encontro
social (Zucoloto, 2011). O ambiente mudou, mas humanos continuam se reunindo em torno dos alimentos,
e isso também pode estar relacionado às propriedades reforçadoras que a alimentação em grupo adquiriu.
Um estudo recente (Dunbar, 2017) investigou a conexão entre alimentação em grupo e a felicidade em 2000
participantes. Os resultados mostraram que aqueles que frequentemente comem socialmente se sentem
mais apoiados emocionalmente e também melhor sobre si mesmos.
Claramente, comer passou a ter funções além do equilíbrio entre energia gasta e energia ingerida na
espécie humana. Essa relação etologicamente atípica entre humanos e alimentos pode ter levado a algumas
consequências em termos de saúde, e especialistas concordam que essas mudanças de hábitos influenciaram
no desenvolvimento de doenças (Zucoloto, 2011). O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM-5, American Psychiatric Association, 2013) dedica uma seção inteira aos transtornos mentais
relacionados à alimentação. Eles são caracterizados como “distúrbio persistente de comportamento
alimentar ou ligado à alimentação que resulta no consumo de alimentos ou absorção alterada e que prejudica
significativamente a saúde física ou o funcionamento psicossocial” (p. 329). Um desses transtornos é a
Anorexia Nervosa, que é o transtorno com a maior taxa de mortalidade (Fichter & Quadflieg, 2016). Assim,
um enfoque especial será dado aqui a esse transtorno.

Consumo de alimentos, homeostasia e recompensa


O consumo de alimentos cumpre funções essenciais à sobrevivência e diferentes sistemas estão
envolvidos na sua regulação. Diversas linhas de investigação indicam que a ingestão de alimentos é regulada
principalmente por dois sistemas, o homeostático e de recompensa (Enax & Weber, 2016; Lutter & Nestler,
2009; Saper, Chou, & Elmquist, 2002).
O sistema homeostático trabalha principalmente para manter um equilíbrio estável entre a ingestão
de alimentos e o gasto energético, o que permite uma estabilidade na gordura corporal e no peso (Enax &
Weber, 2016). Isso envolve hormônios periféricos que trabalham para se comunicar com o sistema nervoso
central, a fim de sinalizar sobre os estoques de energia disponíveis e assim regular a ingestão de alimentos, o
que se dá principalmente via modulação da motivação para comer (Lutter & Nestler, 2009). O hipotálamo é
uma região importante nesse processo. Inicialmente, achados de pesquisa com estimulação elétrica e lesão
de áreas hipotalâmicas em animais levaram ao entendimento de que ali haveria núcleos responsáveis pela
fome e pela saciedade. Estudos das últimas décadas, por outro lado, trouxeram novas interpretações aqueles
achados. De forma que hoje entende-se que o hipotálamo cumpre funções (dentre outras) na regulação
do metabolismo energético e, com isso, alterações em seu funcionamento (e. g. lesão ou estimulação dos
núcleos ventromedial e lateral) podem levar ao ganho ou perda de peso (Pinel, 2011).
Em indivíduos intactos isso ocorreria principalmente em resposta a dois hormônios: leptina e
grelina (Lutter & Nestler, 2009). A pesquisa mostrou que a leptina é a principal responsável por suprimir
a ingestão de alimentos (Enax & Weber, 2016). Esse hormônio adipócito envia sinais ao cérebro sobre
a energia disponível, o que cumpre um papel de feedback negativo para regular o consumo e o gasto de
energia (Zigman & Elmquist, 2003). Camundongos com deficiência de leptina, por exemplo, desenvolvem
obesidade, por outro lado, a administração de leptina reduz sua gravidade (Zhang et al., 1994).
Se, por um lado, a leptina está envolvida na supressão da ingestão de alimentos para manter a
homeostase, a Grelina, por outro lado, foi relatada como aumentada em animais em resposta à privação de
alimentos (Kojima et al., 1999), com pico antes das refeições em humanos (Cummings et al., 2002). Esses
achados sugerem que a grelina desempenha o papel de favorecer a ingestão de alimentos. Por exemplo, a
administração de grelina levou à ingestão de alimentos em seres humanos saudáveis, e seus níveis foram
correlacionados com o autorrelato da sensação de fome, independentemente das indicações relacionadas

CAP 3 Piccolo . Martin-Soelch . Araujo . Estanislau


37 ao tempo e alimentos (Cummings et al., 2004). Embora os papéis desses hormônios sejam muito claros
quanto às suas funções, seu envolvimento em condições como obesidade e anorexia nervosa ainda não foi
plenamente investigado (Klok, Jakobsdottir, & Drent, 2007).
A modulação da leptina e da grelina também desempenha um papel importante em relação à motivação
para obter alimentos, a qual é relacionada ao sistema de recompensa e à neurotransmissão dopaminérgica
(Lutter & Nestler, 2009). Pesquisas em animais mostraram que a leptina reduziu a liberação de dopamina
(DA) basal e estimulada por alimentos (Krugel, Schraft, Kittner, Kiess, & Illes, 2003). A administração de
grelina, por sua vez, estimulou a liberação de dopamina no estriado (Abizaid et al., 2006).
A ingestão de alimentos também pode ser regulada pelo sistema de recompensa (Enax & Weber, 2016;
Lutter & Nestler, 2009; Saper et al., 2002). Seu mau funcionamento tem sido implicado em vários distúrbios
(Blum et al., 2006). As recompensas têm sido definidas como eventos que se impõem à aquisição, geralmente
através da alocação de tempo e energia (Schultz, 2010), sendo na maioria das vezes relacionadas ao prazer
(Berridge & Kringelbach, 2008). Necessidades primitivas e primárias, (como, por exemplo, sexo) assim como
comportamentos mais complexos (como, por exemplo, jogo) estão relacionados ao sistema de recompensas
(Schultz, 2010). Segundo Berridge e Kringelbach (2008), a recompensa envolve três componentes principais:
o primeiro é o gostar, o que está diretamente relacionado ao prazer. O segundo componente envolve o
querer, o que está relacionado com a motivação para obter algo. O último componente de recompensa é a
aprendizagem, que envolve “associações, representações e previsões sobre recompensas futuras baseadas em
experiências passadas” (p. 458).
Pesquisas mostram a existência de um circuito neural envolvido no processamento da recompensa
(Schultz, 2000). Os neurônios relacionados à recompensa são distribuídos por diferentes estruturas cerebrais,
incluindo o sistema estriado (núcleo caudado, putâmen e estriado ventral), amígdala, córtex orbitofrontal,
núcleo accumbens, hipocampo, hipotálamo e núcleos dopaminérgicos mesencefálicos (Schultz, 2015). A
participação desses últimos no processamento de recompensas tem sido amplamente investigada (Arias-
Carrion, Stamelou, Murillo-Rodríguez, Menendez-González, & Poppel, 2010).
Na maioria dos casos, os neurônios dopaminérgicos estão contidos na área tegumentar ventral e na
substância negra (Arias-Carrion et al., 2010). A partir daí há projeções para o estriado, o córtex dorsal e pré-
frontal, tais projeções estão envolvidas em muitos comportamentos de busca de objetivos (Schultz, 2015),
incluindo busca, estocagem e consumo de alimentos. Há muito associada à parte prazerosa da recompensa
(gostar), a DA foi recentemente proposta como envolvida principalmente na motivação (querer) (Berridge,
2009). Além disso, a DA tem sido apontado como mediador fundamental na aprendizagem (Arias-Carrion
et al., 2010).
Especificamente, em relação à alimentação, observou-se que a DA está consideravelmente envolvida
no consumo. Da mesma forma que as drogas que causam dependência, os alimentos apetitosos estão
relacionados a um aumento de dopamina no sistema de recompensa (Alonso-Alonso et al., 2015). Vários
resultados revisados por Wise (2006) levam à conclusão de que, quando os métodos de supressão de
dopamina foram aplicados em modelos animais, as propriedades reforçadoras dos alimentos deixam de
ser observadas. Seja influenciando o gostar, o querer ou o aprendizado, o papel da dopamina está bem
estabelecido na ingestão de alimentos. Além disso, um estudo com humanos mostrou aumento da resposta
do estriado a alimentos apetitosos (Small, Jones-Gotman, & Dagher, 2003). Small e colaboradores (2003)
usaram a tomografia por emissão de pósitrons para testar a relação entre a liberação de dopamina e o
autorrelato de agradabilidade alimentar em humanos. Seus resultados não só mostraram aumento da
atividade dopaminérgica no estriado, mas também uma correlação direta entre a quantidade de dopamina
liberada e a percepção da palatabilidade alimentar em indivíduos saudáveis.
Além da dopamina, os circuitos opioides também estão envolvidos nos comportamentos alimentares
(Bakshi & Kelley, 1993; Tuulari et al., 2017). Injeções de opioides levaram à hiperfagia em ratos (Bakshi
& Kelley, 1993), além disso, também é relatado aumento da liberação de opioides no hipotálamo, córtex
cingulado anterior e no núcleo accumbens em resposta à ingestão de alimentos saborosos (Colantuoni

CAP 3 Piccolo . Martin-Soelch . Araujo . Estanislau


38 et al., 2001; Dum, Gramsch, & Herz, 1983). Mais recentemente, a liberação de opioides foi relatada em
resposta à ingestão de alimentos, independentemente da palatabilidade dos alimentos (Bakshi & Kelley,
1993; Tuulari et al., 2017).
Será que esses diferentes reguladores do consumo apresentam alterações nos transtornos alimentares?
Essa é uma questão que começa a ser abordada em pesquisas. É sabido que os níveis de leptina aumentam
proporcionalmente à quantidade de gordura (Lutter & Nestler, 2009) e, embora pessoas com obesidade
apresentem grandes quantidades de gordura, elas parecem ter reduzida sensibilidade a sua sinalização em
comparação a indivíduos controles de peso normal (Lustig, Sen, Soberman, & Velasquez-Mieyer, 2004).
Nesse sentido, tem sido relatado que a obesidade promoveria uma resistência à leptina, levando a um
aumento de ganho de peso (Myers, Leibel, Seeley, & Schwartz, 2010). Na anorexia, por outro lado, há uma
baixa taxa de gordura corporal, o que, por sua vez, leva a um distúrbio na secreção de leptina e uma variedade
de alterações devidas a essa anormalidade (Hebebrand, Muller, Holtkamp, & Herpertz- Dahlmann, 2007).
No entanto, até o momento, pouco se conhece relacionando fome e leptina em indivíduos com anorexia.

O sistema de recompensa e a anorexia nervosa


Com primeiro relato científico datado do final do século XIX, a anorexia chamou a atenção devido à
emaciação característica de alguns de seus pacientes. Algumas jovens pacientes apresentavam sintomas de
difícil interpretação a partir de outras categorias de doenças. Elas estavam extremamente abaixo do peso,
apresentavam amenorreia de longa duração e tinham baixo funcionamento vital. Tudo isso poderia ser
explicado por uma anorexia (i.e., falta de apetite) que levou à privação de comida e, consequentemente,
ao enfraquecimento de todas as funções vitais (Gull, 1873). Desde então, um grande esforço tem sido feito
para uma melhor compreensão dessa condição, apesar de ainda haver muito por fazer (Strober, 2005). Uma
das principais medidas utilizadas para diagnosticar anorexia é o índice de massa corporal (IMC; The Global
BMI Mortality Collaboration, 2016), uma medida usada para indicação do estado nutricional em adultos
e definida como o peso em quilogramas dividido pelo quadrado da sua altura em metros (kg / m2). O
DSM-5 (APA, 2013) traz três critérios principais para o diagnóstico de anorexia, e o IMC é utilizado como
uma referência: (a) uma restrição de ingestão de alimentos que inevitavelmente leva a baixo peso corporal
em comparação com outras pessoas no mesmo contexto e características; em segundo lugar, (b) intenso
medo de ganhar peso, o que leva a comportamentos persistentes que interferem no ganho, como exercícios
exagerados; e (c) uma perturbação na inferência do próprio peso corporal e da forma física, que leva a uma
falta de reconhecimento do baixo IMC atual.
Dois tipos diferentes de anorexia foram categorizados. O tipo restritivo envolve aquelas pessoas
que, em um período de três meses, não tiveram episódios de compulsão alimentar ou comportamentos
de purgação. O baixo peso neste tipo é mantido principalmente através da baixa ingestão de alimentos
e exercício excessivo. O tipo compulsão alimentar/purgativa inclui aqueles indivíduos que, também em
um período de três meses, se envolvem em episódios de compulsão alimentar ou purgação. Ele também
pode estar em remissão parcial, o que significa que um dos critérios não é mais atendido, ou em remissão
completa, quando nenhum critério for atendido. A gravidade do transtorno em adultos é avaliada levando-
se em consideração o IMC. O índice normal do IMC varia entre 18,5 e 24,9 kg/m2 (U.S. National Heart Lung
and Blood Institute & U.S. National Institutes of Health, 2000). Na anorexia, um IMC acima de 17 kg/m2 é
considerado de gravidade leve. Um anoréxico moderado é diagnosticado quando o IMC do paciente está
entre 16-16.99 kg/m2; para uma anorexia grave, 15-15.99 kg/m2; e a anorexia é considerada extrema quando
o IMC é igual ou menor que 14,99 kg/m2. A prevalência do transtorno é principalmente entre as jovens do
sexo feminino (0,4% - prevalência de até 12 meses), enquanto no sexo masculino é muito pouco conhecida.
A proporção estimada mulher/homem é de 10:1. Indivíduos que desenvolvem anorexia são mais comuns
em contextos culturais onde a magreza é reforçada socialmente. Há também uma prevalência de anorexia
entre profissões em que o mesmo padrão é valorizado, como entre modelos e no esporte de alto rendimento.

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39 Além disso, há um risco aumentado de desenvolvimento do transtorno entre parentes de primeiro grau de
alguém também acometido (APA, 2013).
A condição tem sido associada a vários aspectos psicossociais, tais como humor deprimido, retraimento
social, irritabilidade e redução de interesse por sexo (APA, 2013). Além disso, os indivíduos com anorexia
tendem a apresentar mais problemas interpessoais (Carter, Kelly, & Norwood, 2012), que também refletem
sobre seus contextos sociais, incluindo, mas não se limitando à disfuncionalidade familiar (Espindola &
Blay, 2009). Carter e colaboradores (2012) investigaram como questões interpessoais estão relacionadas
à anorexia e ao seu tratamento. Para tanto, avaliaram a correlação dos resultados do Inventory of Personal
Problems-32 (Horowitz, Alden, Wiggins, & Pincus, 2000) e o Eating Disorder Examination - Questionnaire
(EDE-Q; Fairburn & Beglin, 1994), de uma amostra de 218 indivíduos com anorexia (anorexia restritiva, n
= 132; anorexia com compulsão alimentar/purgativa, n = 86) com aquele obtido a partir de grupo controle.
Eles relataram uma associação entre anorexia e problemas interpessoais (principalmente relacionados à
submissão, não-assertividade e inibição social), que tenderam a diminuir após um tratamento interdisciplinar.
Além disso, relatou-se que a anorexia normalmente apresenta comorbidade com transtornos afetivos e de
ansiedade (Halmi et al., 1991), os sintomas desses últimos emergindo antes de seu início (APA, 2013).
Além disso, o transtorno obsessivo-compulsivo ocorre principalmente em indivíduos com o tipo restritivo
de anorexia (APA, 2013). Isso pode estar também associado ao fato desses pacientes apresentarem maior
índice de anedonia (Keating, Tilbrook, Rossell, Enticott, & Fitzgerald, 2012). Davis e Woodside (2002)
compararam o grau em que os pacientes com anorexia relatam prazer relacionado às sensações físicas.
Seus resultados mostraram que, em comparação com controles saudáveis e pessoas com bulimia nervosa,
os participantes com anorexia eram muito mais anedônicos, sugerindo um padrão de ativação alterado
em regiões relacionadas à recompensa. De fato, respostas comportamentais de pacientes com anorexia
nervosa a diferentes probabilidades de ganho monetário indicaram um padrão de humor diferente daquele
mostrado pelo grupo controle (Picolo et al., 2019). O humor em resposta à perda variou de acordo com
a probabilidade de perda/ganho apenas nos controles, enquanto no grupo com anorexia nervosa menor
variação foi vista. Por exemplo, ao perder em rodadas que envolviam alta probabilidade de ganho, o grupo
controle apresentava maior reatividade, enquanto nenhuma diferença entre as categorias foi observada na
população estudada.
Em nível de neuroimagem, Wagner e colaboradores (2007) testaram a ativação anterior do corpo estriado
ventral para ganhar e perder uma recompensa em mulheres diagnosticadas com anorexia. Seus resultados
mostraram ativação semelhante em ambas as condições, permitindo entender que, independentemente de
perder ou ganhar, sua resposta cerebral era semelhante. É importante notar que esses resultados foram
em resposta à recompensa monetária. Respostas comportamentais à recompensa também têm apontado a
mesma relação. A ativação alterada também foi observada em resposta a estímulos alimentares (Wagner et
al., 2008), confirmando uma capacidade diminuída de sentir prazer entre esses pacientes em comparação
com a população geral.
A anorexia envolve um padrão alimentar muito particular, conforme demonstrado pelos critérios
diagnósticos (APA, 2013). A pesquisa mostra baixa ingestão de carboidrato entre esses pacientes, maior
ingestão de proteína (Russell, 1967) e menor ingestão de gordura em comparação com controles (Beumont,
Chambers, Rouse, & Abraham, 1981). Beumont e colaboradores (1981), por outro lado, mostraram que
a ingestão de carboidratos não é significativamente diferente em comparação à de controles saudáveis. É
possível estimar que essas diferenças possam ser devidas aos diferentes tipos de anorexia, entretanto, nesses
estudos, essa distinção não foi feita. Um cruzamento comum, no entanto, é que todos esses estudos relatam
uma baixa ingestão energética em comparação com o gasto energético comum a esses pacientes e em
comparação com controles saudáveis (Huse & Lucas, 1984). Resultado semelhante foi relatado em pacientes
mesmo depois de um tratamento multidisciplinar de acompanhamento de um ano (Nova et al., 2001). Nova
et al. (2001) investigaram os pacientes com anorexia tipo restrição ao longo de um ano, avaliando três
momentos diferentes: após um mês, após seis meses e após um ano do início do tratamento para peso,

CAP 3 Piccolo . Martin-Soelch . Araujo . Estanislau


40 além de mensurar os níveis basais. O que a pesquisa mostrou foi que a maior mudança entre os pontos de
tempo em relação aos hábitos alimentares ocorreu principalmente após um mês, tendendo a retornar aos
níveis basais após esse período (todas as outras avaliações no período não atingiram níveis significativos
de mudança), o que indica que o consumo ainda estava abaixo da adequação nesses momentos. Um fato
interessante que relatam é que a ingestão de proteína entre esses pacientes foi mantida durante todo o
estudo. É importante notar que, no final do ano de tratamento, todos os pacientes ainda estavam abaixo do
que é considerado um IMC normal. Assim, olhando para esses resultados, é seguro afirmar que, embora a
baixa ingestão de carboidrato possa ou não ser um problema na anorexia, os pacientes geralmente comem
menos do que a quantidade mínima em relação ao seu gasto energético (principalmente gordura), enquanto
os níveis de ingestão de proteína permanecem elevados, mesmo em comparação com controles saudáveis.
Pesquisas têm apontado para uma desregulação dopaminérgica como um dos fatores responsáveis por
esse padrão de alimentação tão peculiar à anorexia (Barbato, Fichele, Senatore, Casiello, & Muscettola, 2006;
Bergen et al., 2005; Davis & Woodside, 2002; Ehrlich et al., 2014; Wagner et al., 2007). Por exemplo, usando
a taxa de piscar dos olhos, uma medida periférica da atividade dopaminérgica central, Barbato et al. (2006)
mostraram processamento de dopamina alterado em pacientes com anorexia tipo restritiva. Além disso, tem
sido hipotetizado que um mau funcionamento do sistema dopaminérgico pode estar por trás da manutenção
de comportamentos de privação de alimentos na anorexia. A constante ausência de alimentos, levando a
um estado de fome, provocaria uma resposta fisiológica ao estresse, ativando o eixo hipotálamo-hipófise-
adrenal, que, por sua vez, ativaria os neurônios dopaminérgicos, de modo a reforçar comportamentos não
alimentares (Bergh & Södersten, 1996). Piazza et al. (1993) mostraram que níveis fisiológicos de estresse
podem de fato ter propriedades de reforço. Ratos auto-administrariam corticosterona, hormônio que está
ligada ao estresse e potencializa as propriedades reforçadoras das drogas de abuso, mesmo que isso signifique
sofrer o estresse menor das injeções intravenosas.

Conclusão
Sendo a anorexia um transtorno tão ameaçador para a saúde e desafiadoramente complexo em seus
determinantes, seu tratamento é objeto de controvérsia ainda. São indicados tratamento farmacológico
e psicoterapia. As indicações da divisão 12 da American Psychological Association, a qual é dedicada à
Psicologia clínica e tem como princípio norteador a prática da Psicologia baseada em evidências, são
de terapia cognitivo-comportamental e de tratamento baseado na família (American Psychological
Association, 2018).
É certo que muito ainda resta por ser compreendido nesse transtorno. A compreensão do funcionamento
dos sistemas moduladores do consumo de alimentos, incluindo o sistema de recompensa, e a determinação
das alterações nesse funcionamento podem ser de grande valia para o desenvolvimento de prognósticos
mais precisos e de tratamentos mais eficazes.

Referências
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CAP 3 Piccolo . Martin-Soelch . Araujo . Estanislau


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