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Celio Estanislau
Universidade Estadual de Londrina
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All content following this page was uploaded by Mayron Piccolo on 13 February 2019.
1 MP recebe bolsa de Os transtornos alimentares constituem uma importante questão de saúde, apresentando altas taxas de
excelência do governo
suíço (FCS) para o mortalidade. Dentre tais transtornos, a Anorexia Nervosa (AN) apresenta as mais altas taxas (Arcelus et
doutorado. al., 2011). A compreensão dos fatores que regulam o comportamento alimentar saudável e seus transtornos
2 Rue P. A. de Faucigny,
2, CH- 1700 Fribourg,
pode contribuir para a prevenção e o tratamento. Aqui é apresentada uma introdução ao tema, com ênfase
Suíça nos sistemas que regulam a motivação para comer na anorexia.
mayron.piccolo@unifr.
ch
+41 26 300 97 12 Consumo de alimentos: uma atividade multideterminada
3 CE recebe bolsa
de pesquisa do CNPq
Comer é um dos comportamentos mais importantes na manutenção da sobrevivência. Acredita-se que
(proc. 307388/2015-8). o conhecimento relacionado ao consumo de alimentos seja a informação mais importante que se pode obter
sobre um animal (Rozin & Todd, 2015). Na maioria das espécies, a alimentação começa com um estresse
fisiológico em resposta à privação, seguido por uma fase de busca e seleção do alimento, dependendo
principalmente da disponibilidade e do potencial nutricional. Então, um estágio captura/coleta de alimentos
precede sua preparação e, finalmente, o consumo acontece, principalmente, para o provimento de um
aporte de nutrientes (Rozin & Todd, 2015). Em humanos, outras práticas relacionadas à alimentação são
observadas. Dessa forma, a alimentação passou a ser influenciada por fatores como religião, grupo familiar
e sociopolítico, por exemplo (Zucoloto, 2011).
Humanos e animais podem ter necessidades nutricionais muito semelhantes, no entanto, os padrões
alimentares podem distingui-los, assim como a diferentes grupos humanos (Zucoloto, 2011). Os animais
obtêm sua alimentação principalmente na natureza. Por outro lado, devido ao avanço da tecnologia e
da cultura, os humanos modernos também podem obtê-la de fontes secundárias, podendo produzir
diferentes tipos de itens (Tomaselo, 2003). Assim, houve uma transição de hábitos alimentares que
dependiam exclusivamente da disponibilidade - uma vez que a comida poderia tornar-se escassa devido
às condições climáticas, por exemplo - a uma nova condição em que pode haver abundância de escolhas.
O processamento de alimentos proveu muita variedade nas opções alimentares, de forma que, além da
disponibilidade, há diversas alternativas quanto ao valor nutricional, sabor e palatabilidade. Dessa forma,
os alimentos tornaram-se elementos reforçadores mais abrangentes do que simples geradores de energia.
Isso significa que em sociedades mais complexas, as pessoas comem não apenas para obter a quantidade
necessária de nutrientes para sobreviver, mas também por causa dos efeitos que os alimentos podem trazer
sobre seus comportamentos (Skinner, 1986).
36 O consumo de alimentos em algum estágio da evolução humana se tornou importante momento
de interação social. Segundo alguns evolucionistas, com o domínio do fogo, os primeiros humanos se
reuniam em torno dele para melhor utilizar os alimentos, eliminando possíveis toxinas. Além disso, com
o desenvolvimento da linguagem, é muito provável que esse contexto também consistisse em um encontro
social (Zucoloto, 2011). O ambiente mudou, mas humanos continuam se reunindo em torno dos alimentos,
e isso também pode estar relacionado às propriedades reforçadoras que a alimentação em grupo adquiriu.
Um estudo recente (Dunbar, 2017) investigou a conexão entre alimentação em grupo e a felicidade em 2000
participantes. Os resultados mostraram que aqueles que frequentemente comem socialmente se sentem
mais apoiados emocionalmente e também melhor sobre si mesmos.
Claramente, comer passou a ter funções além do equilíbrio entre energia gasta e energia ingerida na
espécie humana. Essa relação etologicamente atípica entre humanos e alimentos pode ter levado a algumas
consequências em termos de saúde, e especialistas concordam que essas mudanças de hábitos influenciaram
no desenvolvimento de doenças (Zucoloto, 2011). O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais (DSM-5, American Psychiatric Association, 2013) dedica uma seção inteira aos transtornos mentais
relacionados à alimentação. Eles são caracterizados como “distúrbio persistente de comportamento
alimentar ou ligado à alimentação que resulta no consumo de alimentos ou absorção alterada e que prejudica
significativamente a saúde física ou o funcionamento psicossocial” (p. 329). Um desses transtornos é a
Anorexia Nervosa, que é o transtorno com a maior taxa de mortalidade (Fichter & Quadflieg, 2016). Assim,
um enfoque especial será dado aqui a esse transtorno.
Conclusão
Sendo a anorexia um transtorno tão ameaçador para a saúde e desafiadoramente complexo em seus
determinantes, seu tratamento é objeto de controvérsia ainda. São indicados tratamento farmacológico
e psicoterapia. As indicações da divisão 12 da American Psychological Association, a qual é dedicada à
Psicologia clínica e tem como princípio norteador a prática da Psicologia baseada em evidências, são
de terapia cognitivo-comportamental e de tratamento baseado na família (American Psychological
Association, 2018).
É certo que muito ainda resta por ser compreendido nesse transtorno. A compreensão do funcionamento
dos sistemas moduladores do consumo de alimentos, incluindo o sistema de recompensa, e a determinação
das alterações nesse funcionamento podem ser de grande valia para o desenvolvimento de prognósticos
mais precisos e de tratamentos mais eficazes.
Referências
Abzaid, A., Liu, Z. W., Andrews, Z. B., Shanabrough, M., Borok, E., Elsworth, J. D., Roth, R. H., Sleeman, M.
W., Piccioto, M. R., Tschöp, M. H., Gao, X. B., & Horvath, T. L. (2006). Ghrelin modulates the activity
and synaptic input organization of midbrain dopamine neurons while promoting appetite. Journal of
Clinical Investigation, 116(12), 3229-3239.
Alonso-Alonso, M., Woods, S. C., Pelchat, M., Grigson, P. S., Stice, E., Farooqi, S., Khoo, C.S., Mattes, R.D.,
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American Psychiatric Association. (2013). Diagnostic and Statistic Manual of Mental Disorders (5th ed.).
Washington, DC.
American Psychological Association. Anorexia nervosa. Recuperado de https://www.div12.org/diagnosis/
anorexia-nervosa/ em 09/09/2018.