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Como ficou aposentadoria especial para quem trabalha com produto

cancerígeno?
O Decreto 8.123/13 estabelece que a simples proximidade de um agente
cancerígeno será suficiente para requisitar o tempo especial de aposentadoria.
“Foi uma vitória para muitos trabalhadores; a principal mudança é que a
simples exposição a agentes cancerígenos será suficiente para comprovação.

O ano de 2020 foi de consolidação e de entendimentos sobre


a caracterização de Aposentadoria por Condições Especiais
de Trabalho por agentes cancerígenos. Uma atualização do
Decreto 3048/99, com as novas regras trazidas pela Reforma
da Previdência.
Caro leitor do SST Online,

Estou muito muito gratificado que estejas consumindo conteúdos em forma de


texto. O hábito da leitura está cada vez mais raro hoje em dia!

Um dos assuntos que gosto muito de conversar é sobre a Aposentadoria Especial e


seus diferentes aspectos: técnico, legal e jurídico.

Puxando para a área de Saúde e Segurança do Trabalho (SST), que trabalha


muito com os aspectos técnicos e legais da Aposentadoria Especial, exige-se um
conhecimento multidisciplinar para fazer a caracterização do trabalho especial no
LTCAT.

Os aspectos técnicos são fundamentais. E geram bastante discussão.

Um destes pontos que gera polêmica, era a caracterização do serviço especial


quando havia exposição a agentes cancerígenos listados no Grupo I da LINACH.

O Texto do RPS antes de 30/06/2020 (Decreto


10.410)
A publicação do Decreto 10.410, alterou o Regulamento da Previdência Social –
RPS (Dec. 3.048/99).

A maior parte dessas alterações trazidas novo Decreto são apenas atualizações
necessárias. No final de 2019, foi aprovada a Reforma da Previdência através da
Emenda Constitucional n˚ 103 e fez com que fosse necessário atualizar o RPS.

As novas regras trazidas pela Reforma de 2019 foram incorporadas ao RPS através
do Decreto 10.410/2020.

Além dessas atualização, o Dec. 10.410 também trouxe alteração no


texto relacionado à caracterização dos serviço especial por exposição aos agentes
reconhecidamente cancerígenos,

Até a 30/06/2020, quando houve a atualização, o texto de Decreto 304/99 sobre


avaliação de Agentes Cancerígenos estava assim:

Art. 68
§ 4 A presença no ambiente de trabalho, com possibilidade de exposição a
o

ser apurada na forma dos §§ 2 e 3 , de agentes nocivos reconhecidamente


o o

cancerígenos em humanos, listados pelo Ministério do Trabalho e Emprego,


será suficiente para a comprovação de efetiva exposição do
trabalhador. (Redação dada pelo Decreto nº 8.123, de 2013)
Este trecho deixava muito vaga a caracterização da Aposentadoria Especial pela
exposição a carcinogênicos. Não mencionava um parâmetro de nível de risco,
tampouco mencionava a proteção oferecida por EPI e EPC.

Por causa deste texto, existiam entendimentos de que a simples presença desses
agentes no ambiente do trabalho, com possibilidade de exposição, já tornava o
trabalho o especial independente da concentração/intensidade do agente.
Além disso, a Instrução Normativa n˚ 77/2015 mencionava que a avaliação deveria
desconsiderar o uso de EPI, “uma vez que os mesmos não são suficientes para elidir
a exposição a esses agentes, conforme parecer técnico da FUNDACENTRO” IN n.
77/2015, Art. 284.

Sendo assim, mesmo com o uso eficaz de Equipamentos de Proteção Individual


(EPIs), como barreira de proteção ao agente nocivo, o trabalho
seria enquadrado como especial.

A nova redação trazida ao RPS pelo Dec. 10.410, consolida alguns entendimentos e
ajuda a uniformizar pensamentos.

O Novo RPS – Decreto 3048/99


A partir de 1˚ de Julho de 2020, quando foi oficializada a atualização do RPS , o
novo texto do Dec. 3048/99 sobre agentes cancerígenos é o seguinte:

Art. 68

4º Os agentes reconhecidamente cancerígenos para humanos, listados pela


Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, serão
avaliados em conformidade com o disposto nos § 2º e § 3º deste artigo e
no caput do art. 64 e, caso sejam adotadas as medidas de controle previstas na
legislação trabalhista que eliminem a nocividade, será descaracterizada a efetiva
exposição. (Redação dada pelo Decreto nº 10.410, de 2020)

Esta nova redação já menciona a possibilidade do uso de EPI ou EPC para


descaracterizar a Aposentadoria Especial de agentes cancerígenos. Ao meu ver, este
entendimento sempre deveria ter sido utilizado mesmo antes do Decreto 10.410.
Afinal, o Art. 57 da Lei 8213/91 sempre determinou que a fosse considerada a
existência de tecnologia de proteção coletiva ou individual que diminua a
intensidade do agente. E essa determinação já era válida para todos os agentes
nocivos, inclusive os cancerígenos.

Embora o novo Decreto tenha deixado as regras um pouco mais claras, ainda assim
este trecho é um pouco vago na forma e parâmetros de avaliação dos agentes
cancerígenos.

Sugestão de Conduta na avaliação dos agentes


cancerígenos
Como o Decreto 3048/99 (RPS) não traz parâmetros claros para a caracterização da
Aposentadoria Especial relacionada aos agentes cancerígenos, precisamos analisar
com calma as normas técnicas e jurídicas relacionadas.

Primeiramente, a base fundamental para a caracterização da Aposentadoria Especial


é a condição de trabalho que prejudiquem a saúde ou a integridade física do
trabalhador. Tanto a nossa Constituição Federal como a Lei 8213/91 fazem essa
exigência.

Ou seja, se o nível de exposição do trabalhador ao agente nocivo cancerígenos for


baixo, a Aposentadoria Especial está descaracterizada.

E como saber se a exposição é baixa ou irrelevante?

Para fazer um julgamento e conclusão sobre a exposição ao agente cancerígeno,


precisamos juntar o máximo de informações e parâmetros possíveis. Entre elas

 Medições da concentração do agente;


 Limites de exposição ocupacional atualmente recomendados;
 Informações médicas;
 Dados históricos;
 Estudos correlacionando Agente Nocivo X Doença, entre
outros.

Quanto mais subsídios, maior será o embasamento técnico para a conclusão da


exposição para fins de Aposentadoria Especial no LTCAT.

Por outro lado, mesmo juntando bastante informação, em determinadas


situações não será fácil decidir se existe, ou não existe, condições que prejudiquem a
saúde ou integridade física do trabalhador.

Sendo assim, procure o máximo de informações sobre o agente nocivo cancerígeno


que você está avaliando e, sempre que possível, faça uma avaliação quantitativa da
concentração do agente.

O Decreto 3048/88 deixa a falsa impressão de que uma avaliação qualitativa é


suficiente para julgar a exposição do trabalhador. Talvez seja para profissionais que
tenham experiência anteriores com determinado agente.

Mas se você tiver dúvidas, faça a medição da concentração do agente. Precisamos


saber o grau de risco ao qual o trabalhador está exposto.

Ao meu ver, a Lei 821/91 determina que não é qualquer exposição a


agentes nocivos que caracteriza a aposentadoria especial. E essa regra vale também
para os agentes carcinogênicos.

E você, qual sua opinião sobre a caracterização da Aposentadoria Especial para


agentes cancerígenos? Conte pra gente!
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Eder Santos
Professor e Consultor de SST Fundador do sstonline.com.br
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O Decreto 10.410 de 30 de junho de 2020 alterou o Decreto Decreto nº 3.048, de 6 de
maio de 1999. Uma das alterações foi em relação aos agentes cancerígenos que
possam constar do LTCAT – Laudo Técnico de Condições Ambientais de Trabalho.
Antes dessa alteração todos os agentes reconhecidamente cancerígenos devem ser
tratados como disposto a legislação vigente à época da exposição. Algumas
considerações extraídas do Manual de Aposentadoria Especial:
O Decreto n° 8.123, de 2013, alterou o § 4º do art. 68 do Decreto nº 3.048, de 1999, e
considerou que a presença no ambiente de trabalho, com possibilidade de exposição
de agentes nocivos reconhecidamente cancerígenos, será suficiente para
comprovação da efetiva exposição do trabalhador.
Com a publicação da Portaria Interministerial MTE/MS/MPS n° 9, de 2014, contendo a
Lista Nacional de Agentes Cancerígenos para Humanos – LINACH, tais agentes foram
classificados de acordo com os seguintes grupos:
a) Grupo 1: carcinogênicos para humanos;
b) Grupo 2 A: provavelmente carcinogênicos para humanos; e
c) Grupo 2 B: possivelmente carcinogênicos para humanos.Nesses grupos da LINACH
constam agentes que possuem registro no Chemical Abstracts Service (CAS) e outros
em que o CAS não se aplica.
Para análise do enquadramento de atividade em condições especiais são
considerados agentes reconhecidamente cancerígenos, aqueles do Grupo 1, que têm
registro no CAS e constam no Anexo IV do Decreto nº 3048, de 1999. Agentes
reconhecidamente cancerígenos: são os agentes elencados no grupo 1 da LINACH que
tenham registro no Chemical Abstracts Service – CAS, e que estejam contidos no
Anexo IV do Decreto nº 3.048, de 1999.
Com base na Nota Técnica n° 00001/2015/GAB/PRFE/INSS/SAO/PGF/AGU, para
enquadramento dos agentes reconhecidamente cancerígenos será considerado o
período trabalhado a partir de 8 de outubro de 2014, data da publicação da Portaria
Interministerial nº 9, de 2014, no DOU. A partir de 8 de outubro de 2014, com a
publicação da Portaria Interministerial nº 9, de 2014, e com base na Nota Técnica n°
00001/2015/GAB/PRFE/INSS/SAO/PGF/AGU, em relação aos agentes nocivos
reconhecidamente cancerígenos do Grupo 1 da lista da LINACH, que possuam o CAS, e
que constem no Anexo IV do Decreto n° 3.048, de 1999, a utilização de EPC e/ou EPI
não elide a exposição aos agentes comprovadamente cancerígenos, mesmo que
considerados eficazes. Se reconhecidamente cancerígenos pela legislação brasileira,
além de avaliação qualitativa, não serão consideradas as tecnologias de proteção,
mesmo se eficazes, de acordo com Memorando-Circular Conjunto nº
2/DIRSAT/DIRBEN/INSS, de 23 de julho de 2015.
Para que o período seja reconhecido como atividade especial, o agente nocivo,
obrigatoriamente, deve constar nos anexos dos decretos previdenciários e a exposição
precisa ser indissociável da produção do bem, ou da prestação do serviço, em
decorrência da subordinação jurídica a qual se submete o trabalhador.
Resumindo o entendimento anterior:
Para análise do enquadramento de atividade em condições especiais os agentes
reconhecidamente cancerígenos devem:
I – estar presentes no ambiente de trabalho com possibilidade de exposição;
II – pertencer ao Grupo 1;
III – possuir registro no CAS;
IV – constar no Anexo IV do Decreto nº 3.048, de 1999;
V – ser avaliados qualitativamente;
VI – ser enquadrados independentemente da adoção de EPC e/ou EPI eficazes; e
VII – constar em períodos trabalhados a partir de 8 de outubro de 2014.
Os agentes químicos listados no Anexo 11 da NR-15 e que não constem no Grupo 1 da
LINACH ou que constem mas não possuam CAS, continuarão sendo analisados de
forma quantitativa. As poeiras minerais do Anexo 12 da NR-15, caso constem no
Grupo 1 da LINACH, possuam o CAS e constem no Anexo IV do Decreto nº 3.048, de
1999, serão analisados qualitativamente, não havendo, portanto, limites de tolerância;
e o uso de EPI/EPC não elide a exposição. Os agentes químicos relacionados no Anexo
13 da NR-15 continuarão sendo analisados de forma qualitativa e, caso não constem
no Grupo 1 da LINACH, a utilização de EPC e/ou EPI poderá ser considerada para
atenuação/eliminação da exposição.
Lembrando que Art. 68 do Decreto 3048/99):
“2º A avaliação qualitativa de riscos e agentes prejudiciais à saúde será comprovada pela
descrição:
I – das circunstâncias de exposição ocupacional a determinado agente ou associação de
agentes prejudiciais à saúde presentes no ambiente de trabalho durante toda a jornada de
trabalho;
II – de todas as fontes e possibilidades de liberação dos agentes mencionados no inciso I; e
III – dos meios de contato ou exposição dos trabalhadores, as vias de absorção, a
intensidade da exposição, a frequência e a duração do contato.“.
(Atualizem os seus modelos de LTCAT).
No entanto, com a alteração do Decreto 3048/99:
“Art. 68. A relação dos agentes químicos, físicos, biológicos, e da associação desses
agentes, considerados para fins de concessão de aposentadoria especial, é aquela
constante do Anexo IV.
§ 4º Os agentes reconhecidamente cancerígenos para humanos, listados pela Secretaria
Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia, serão avaliados em
conformidade com o disposto nos § 2º e § 3º deste artigo e no caput do art. 64 e, caso
sejam adotadas as medidas de controle previstas na legislação trabalhista que eliminem a
nocividade, será descaracterizada a efetiva exposição.”
A partir de 01/07/2020 a adoção de medidas de controle previstas na legislação
trabalhista que eliminem a nocividade descaracterizará a efetiva exposição e a
atividade deixará de ser especial. As medidas de controle previstas na legislação são:
a) Medidas Administrativas ou de Organização do Trabalho (MAO);
b) Tecnologia de Proteção Coletiva (TPC);
c) Tecnologia de Proteção Individual (TPI).
Lembrando que para o agente físico não cancerígeno ruído a adoção da Tecnologia de
Proteção Individual (TPI) não pode ser considerada para descaracterizar a atividade
como especial.
Para os agentes nocivos de análise quantitativa, é preciso saber o valor da
concentração presente no ambiente de trabalho para que seja possível definir o Fator
de Proteção ou garantir a eficácia da Tecnologia de Proteção Individual (TPI), além da
gestão de EPI exigida no PPP – Perfil Profissiográfico Previdenciário.
Medidas preventivas ou de controle ideais são as Medidas Administrativas ou de
Organização do Trabalho (MAO) e as Tecnologia de Proteção Coletiva (TPC), quando
comprovadas por meio dos monitoramentos ambientais e biológicos. No caso das
Tecnologia de Proteção Coletiva (TPC), a eficácia ao longo do tempo também deve ser
garantida por meio de um Programa de Inspeção e Manutenção.
Fonte da imagem que abre o artigo: Heitor Borba
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