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II Congresso de Pesquisa e Extensão da FSG

http://ojs.fsg.br/index.php/pesquisaextensao

ISSN 2318-8014

EFEITOS DO USO DE SALTO ALTO NAS ALTERAÇÕES OSTEOMUSCULARES

Camila Morgana Mallmann1, Franciele Reche2, Lisiane Viganó3, Simone Silveira Costa4
1,2,3,4
Acadêmicas do Curso de Fisioterapia da Faculdade da Serra Gaúcha

Gisele Oltramari Resumo


Fisioterapeuta graduada pela Universidade Introdução: Os sapatos de salto alto, não são mais somente
Luterana do Brasil – ULBRA. Especializada em
Fisioterapia Traumatológica e Ortopédica. acessórios do pé, mas uma parte essencial da beleza da mulher que
Mestre em Gerontologia Biomédica pela
Pontifícia Universidade Católica – PUC – RS. refletem a sua personalidade. Porém, a maioria das mulheres
ignoram os efeitos negativos do salto alto no sistema
musculoesquelético. Objetivos: O objetivo primário da pesquisa é
Palavras-chave: verificar se uso frequente do salto alto provoca alterações
Salto Alto. Flexibilidade. Dor. osteomusculares. Os objetivos secundários são avaliar a dor de
Encurtamento Muscular.
indivíduos que usam salto alto, e avaliar a flexibilidade da cadeia
posterior com o uso de salto alto. Metodologia: Foi aplicado um
questionário prévio, que nos forneceu informações para o cálculo do
índice de massa corporal, acerca de possíveis critérios de exclusão e
a graduação da dor. Caso a voluntária apresentasse alguma das
características de exclusão, a avaliação não teria continuidade. Se a
voluntária estivesse enquadrada dentro dos critérios de inclusão,
seriam aplicados os demais instrumentos para a coleta de dados:
EVA, avaliação postural modificada pelos pesquisadores, segundo
SANTOS (2001), e o teste de flexibilidade de cadeia muscular
posterior contido na ficha de avaliação postural. Resultados e
Discussão: A maioria das voluntárias avaliadas (60%) apresentou
idades entre 15 e 30 anos; apenas 40% apresentou idades superiores
a 30 anos. A dor foi referida por 80% das mulheres avaliadas, sendo
classificada como dor moderada. A maioria delas relatou a presença
de dor na região posterior das pernas e nos pés ao fim do dia, após a
retirada do calçado de salto alto. Também, referiram a dificuldade
em utilizar calçados sem salto, pois sentem a dor do alongamento da
musculatura que já está encurtada. Por fim, 70% das voluntárias
avaliadas apresentaram a cadeia muscular posterior encurtada.

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Conclusão: Diante da presente pesquisa, os resultados


demonstraram que mulheres usuárias freqüentes de salto alto
apresentam a cadeia muscular posterior encurtada. Esse
encurtamento, além de ser ocasionado pelo uso de salto alto, pode
estar relacionado à idade avançada, no caso de mulheres mais velhas.

1 INTRODUÇÃO

Em uma sociedade em que a mulher está cada vez mais atarefada em busca do seu
sucesso profissional e da sua satisfação pessoal, é de praxe que a elegância e a sofisticação
são indispensáveis em seu dia a dia. Para tanto, o ato de caminhar deixou de ser uma prática
funcional e tornou-se uma forma de a mulher mostrar-se “mais atrativa”.
Os sapatos de salto alto não são mais somente acessórios do pé, mas uma parte
essencial da beleza da mulher que refletem a sua personalidade. Porém, a maioria das
mulheres ignoram os efeitos negativos do salto alto no sistema musculoesquelético
(PANNELL, 2012).
Acredita-se que o sapato deveria servir para aprimorar as funções do pé, protegendo, e
não impedindo a transmissão das informações das pressões sobre os pontos adequados de
apoio. Com base em critérios de funcionalidade e não de estética, deveria evitar dores,
encurtamento muscular e possíveis alterações posturais. No entanto, o salto alto torna
impossível com que as mulheres consigam tocar inicialmente o chão com o calcanhar, ao
apoiar o pé ao chão com o calçado de salto alto o pé escorrega para frente, estreitando a
largura do pé, essa nova posição impõe enorme descarga de peso na base dos metatarsianos,
sendo uma região muito mais frágil que o calcâneo. Na região posterior da perna encontram-
se a musculatura do tríceps sural, tendo como função impulsionar o corpo para frente quando
andamos. Com o calcanhar mantido elevado o tempo todo, devido ao uso de salto alto, esse
grupo muscular tem grande tendência a retrair-se, causando o encurtamento. Existem
mulheres que não conseguem mais andar com os pés descalços, devido essa retração, onde
referem dores nas panturrilhas que podem refletir até a coluna (SANTOS, 2005).
AVILA et al (2007), em seu estudo, apresenta que 70% das mulheres começam a
utilizar salto alto entre os 13 e 16 anos de idade, demonstrando que esse uso inicia-se em fase

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de pós-puberdade, onde as estruturas dos pés ainda estão se desenvolvendo. O resultado deste
estudo mostra que a sensação de desconforto e dores nos pés está aparente na grande maioria
das mulheres usuárias de salto alto, independente da freqüência do uso. Esses desconfortos
são referidos na região do médio pé, podendo estar relacionado com fato de que o formato do
calçado de salto alto não ser adequado para as características morfológicas.
Segundo SALGADO et al(2008), o uso de salto alto causa poucas modificações na
postura das mulheres, independentemente da freqüência do uso e do tipo de salto utilizado.
Em seu estudo foram avaliadas 20 mulheres que utilizam salto alto todos os dias e 20
mulheres que fazem o uso esporadicamente. Os resultados foram constituídos pela análise da
biofotogrametria computadorizada, que demonstrou diferenças entre o grupo que usa salto
com freqüência e o grupo que usa salto em ocasiões sociais, nota-se que apenas o ângulo que
analisa o posicionamento da cabeça, apresenta diferença em todos os tipos de calçados, para
esse ângulo quanto menor sua medida mais a cabeça é anteriorizada, também demonstrou que
o uso do salto agulha modificou o alinhamento do joelho direito em mulheres que não usam
salto alto com freqüência e a posição do tornozelo foi modificada no plano sagital com o uso
de diferentes calçados. O autor relata que o estudo foi realizado com mulheres jovens, seria
interessante uma amostra de mulheres que fazem o uso de salto alto há muitos anos para
verificar se há ocorrências de modificações.
SÁ et al (2011), em um estudo acerca das alterações lombo-pélvicas provenientes do
uso de salto alto, concluíram que o uso de calçados de salto promove retificação da lordose
lombar com subsequente diminuição da inclinação pélvica anterior.
CASARIN (2005) avaliou a postura e a atividade eletromiográfica do gastrocnêmio e
dos eretores da espinha em vinte e quatro voluntárias, sendo quatorze usuárias habituais de
salto alto por, aproximadamente, oito horas diárias e dez usuárias de salto alto duas a três
vezes por semana por, aproximadamente, três horas diárias. Como resultado, observou-se
retificação da curvatura lombar, que foi proporcional ao aumento da altura do salto e ao
tempo de permanência sobre ele, não tendo sido constatadas diferenças significativas entre os
dois grupos. Através da eletromiografia, ficou claro que os músculos da perna apresentaram
maior atividade eletromiográfica do que os eretores da espinha no grupo de voluntárias que
utilizavam salto alto habitualmente. Já, no grupo que utilizava salto alto esporadicamente não
observou-se diferenças relevantes na atividade eletromiográfica destes dois músculos.
Perante ao questionamento das alterações osteomusculares provocadas pelo uso
frequente de salto alto, o objetivo primário da pesquisa é verificar se uso frequente do salto

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alto provoca alterações osteomusculares. Os objetivos secundários são avaliar a dor de


indivíduos que usam salto alto, e avaliar a flexibilidade da cadeia posterior com o uso de salto
alto. Mediante o cenário do comprometimento musculoesquelético possivelmente
desencadeado pelo uso de calçados de salto alto, justifica-se a realização desta pesquisa.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Na região posterior da perna encontram-se a musculatura do tríceps sural, tendo como


função impulsionar o corpo para frente quando andamos. Com o calcanhar mantido elevado o
tempo todo, devido ao uso de salto alto, esse grupo muscular tem grande tendência a retrair-
se, causando o encurtamento. Existem mulheres que não conseguem mais andar com os pés
descalços, devido essa retração, onde referem dores nas panturrilhas que podem refletir até a
coluna(SANTOS, 2005).
Um estudo relacionando dores nos pés em mulheres com a frequência do uso de salto
alto constatou que a sensação de desconforto e dores nos pés está aparente na grande maioria
das mulheres usuárias de salto alto, independente da freqüência do uso. Esses desconfortos
são referidos na região do médio pé, podendo estar relacionado com fato de que o formato do
calçado de salto alto não ser adequado para as características morfológicas (AVILA et al,
2007).
Segundo SALGADO et al (2008), o uso de salto alto causa poucas modificações na
postura das mulheres, independentemente da freqüência do uso e do tipo de salto utilizado.
Através da biofotogrametria computadorizada, encontrou diferença em todos os tipos de
calçados apenas no ângulo que analisa o posicionamento da cabeça. Também demonstrou que
o uso do salto agulha modificou o alinhamento do joelho direito em mulheres que não usam
salto alto com freqüência e a posição do tornozelo foi modificada no plano sagital com o uso
de diferentes calçados. Em contrapartida, alguns autores (CASARIN, 2005; SÀ et al, 2011)
concluíram que o uso de salto alto causa retificação da lordose lombar.

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3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo observacional transversal, envolvendo os aspectos posturais, de


flexibilidade e de dor das usuárias de salto alto.
Foi utilizada uma amostra de conveniência formada por indivíduos do sexo feminino,
com idades entre vinte e cinquenta anos, que fazem uso de salto alto entre três e cinco dias por
semana, em um total de seis a nove horas diárias. Estas mulheres, diretoras e funcionárias,
serão abordadas na DELL ROSA COMERCIAL VAREJISTA LTDA e CONFECÇÕES
ALEMORNI.
Após a aprovação da pesquisa pelo CEP/CONEP, as pesquisadoras entraram em
contato com a população alvo. Mediante convite realizado, e após aceitação da amostra, as
voluntárias foram esclarecidas sobre os procedimentos inerentes ao estudo e, após terem
concordado em participar, assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE),
formulado de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Foram
recrutadas 10 amostras, de acordo com os contatos realizados previamente.
Participaram do projeto de avaliação 10 indivíduos do sexo feminino, com idades
entre vinte e cinquenta anos, que fazem uso de salto alto entre três e cinco dias por semana,
em um total de seis a nove horas diárias, e que concordaram com a assinatura do termo de
consentimento livre e esclarecido. Foram considerados diferentes modelos de salto, com
altura de seis centímetros ou mais.
Foram excluídas desta pesquisa amostras que não tem idades entre vinte e cinquenta
anos, que não utilizam salto alto, que usam salto alto menos de três ou mais de cinco vezes
por semana, que usam salto alto menos do que seis ou mais do que nove horas diárias e que
utilizam salto menor do que seis centímetros de altura. Também foram excluídas todas as
voluntárias que apresentaram IMC acima de 24,9 kg/m² ou abaixo de 18,5 kg/m², por não
apresentarem peso saudável, segundo a Organização Mundial da Saúde, voluntárias com
diagnóstico de artrite; artrose; osteoporose; diabetes; fibromialgia; processos inflamatórios;
limitações articulares decorrentes de traumas, fraturas ou luxações articulares recentes; bem
como alterações neurológicas. Ainda, foram excluídas as voluntárias que estiverem sob efeito
de analgésicos, antiinflamatórios e/ou miorelaxantes. Não participaram da pesquisa os
indivíduos que não concordaram com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e/ou
optaram por não participar.
Para o desenvolvimento desta pesquisa, foram utilizados os seguintes instrumentos:

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Todos os indivíduos responderam a Ficha de Avaliação, formulada pelos


pesquisadores, onde constam dados do perfil clínico da paciente e de identificação. Esta ficha
foi aplicada em entrevista única, na qual as participantes foram questionadas verbalmente.
Após, as voluntárias incluídas no estudo foram submetidas a uma avaliação, composta por um
exame físico. Para a visualização de possíveis critérios de exclusão, contendo o índice de
massa corporal (IMC), além das características sócio-demográficas da população;
A seguir, foi utilizada a Escala Visual Analógica (EVA), que consiste em um
instrumento que “mede” quantitativamente a intensidade da dor de um paciente. É
representada por uma linha de 10 centímetros com descritores em cada extremidade. Os
pacientes são orientados a marcarem através da linha a representação da intensidade da dor
que estão experimentando no momento. É medida e registrada a distância na linha da âncora
inferior para cima até a marca do paciente. Quanto maior a distância, a partir da âncora
inferior, maior a intensidade da dor referida pelo paciente (PALMER; EPLER, 2000);
Em relação à postura, foi realizada uma Avaliação postural modificada pelos
pesquisadores, segundo SANTOS (2001), a qual reuniu desvios e avaliações posturais pré-
existentes na literatura, organizando uma ficha de avaliação com anotações simplificadas e
rápidas. Acrescentou, com o passar do tempo, avaliações clínicas pesquisadas pela medicina
ortopédica e avaliações específicas de técnicas de tratamento de caráter universal. Para a
interpretação de um diagnóstico geral, na ficha de avaliação são abordados os seguintes itens:
pelve, tronco, cintura escapular, coluna cervical, membros inferiores e flexibilidade geral;
Em seguida os indivíduos realizaram o Teste de flexibilidade da cadeia muscular
posterior, incluso na avaliação postural modificada pelos pesquisadores, segundo SANTOS
(2001). É um exame realizado com o objetivo de avaliar o encurtamento da cadeia muscular
posterior, observando-se a amplitude, o posicionamento, ângulos (tibiotársico e coxofemoral),
joelhos, cuvettelombossacral, retificações vertebrais, posição cervical e distância mão-chão.
Foi realizada uma abordagem na DELL ROSA COMERCIAL VAREJISTA LTDA e
CONFECÇÕES ALEMORN, na cidade de Caxias do Sul, com funcionárias e diretoras dos
estabelecimentos, usuárias de salto alto de seis centímetros ou mais, e com idades entre vinte
e cinquenta anos. O estudo foi relatado à voluntária, que pôde optar pela participação na
pesquisa, preenchendo e assinando o termo de consentimento livre e esclarecido.
Foi aplicado um questionário prévio, que nos forneceu informações para o cálculo do
índice de massa corporal, acerca de possíveis critérios de exclusão e a graduação da dor. Caso

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a voluntária apresentasse alguma das características de exclusão, a avaliação não teria


continuidade.
Se a voluntária estivesse enquadrada dentro dos critérios de inclusão, seriam aplicados
os demais instrumentos para a coleta de dados: EVA, avaliação postural modificada pelos
pesquisadores, segundo SANTOS (2001), e o teste de flexibilidade de cadeia muscular
posterior contido na ficha de avaliação postural.
Os dados coletados foram armazenados em um banco de dados criado através do
Microsoft Office Excel, versão 2010, e analisados através do pacote estatístico SPSS, versão
16.0 para Windows.
Para análise dos dados quantitativos, foi utilizada a estatística descritiva observacional,
com medidas de freqüências, médias e desvios-padrões das seguintes variáveis independentes:
idade, peso, altura, IMC, dor, flexibilidade e alteração postural.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os dados obtidos por meio da aplicação dos questionários prévios e das avaliações da
dor e da flexibilidade da cadeia muscular posterior estão descritos nas tabelas 1 e 2. Os dados
referentes à avaliação postural modificada pelos pesquisadores, segundo SANTOS (2001),
não foram utilizados para a realização dessa pesquisa, haja vista que os objetivos secundários
do presente estudo são avaliar a dor de indivíduos que usam salto alto, e avaliar a flexibilidade
da cadeia posterior com o uso de salto alto.

Tabela 1. Características sócio-demográficas da população estudada.

Variável População Total


(n=10)
Sexo
Masculino 0 (0%)
Feminino 10 (0%)

Idade
Entre 15 e 19 anos 2 (20%)
Entre 20 e 25 anos 2 (20%)
Entre 26 e 30 anos 2 (20%)
Acima de 30 anos 4 (40%)

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Peso
Entre 50 e 59kg 5 (50%)
Entre 60 e 69kg 4 (40%)
Entre 70 e 79kg 1 (10%)
Acima de 80kg 0 (0%)

Altura
Entre 1,50 e 1,59m 3 (30%)
Entre 1,60 e 1,69m 7 (70%)
Entre 1,70 e 1,79m 0 (0%)
Acima de 1,80m 0 (0%)

IMC
Abaixo de 17(Muito baixo peso) 0 (0%)
Entre 17 e 18,49 (Abaixo do peso) 0 (0%)
Entre 18,5 e 24,99 (Peso normal) 9 (90%)
Entre 25 e 29,99 (Acima do peso) 1 (10%)

Tabela 2. Dor e flexibilidade das usuárias de salto alto estudadas.

Variável População Total


n=10

Dor
Leve 2 (20%)
Moderada 8 (80%)
Intensa 0 (0%)

Uso de medicação para dor


Sim 2 (20%)
Não 8 (80%)

Patologias ortopédicas
Não apresenta 8 (80%)
Escoliose 2 (20%)

Flexibilidade cadeia posterior


Encurtamento 7 (70%)
Preservada 3 (30%)

A maioria das voluntárias avaliadas (60%) apresentou idades entre 15 e 30 anos;


apenas 40% apresentou idades superiores a 30 anos. Segundo JÚNIOR (2004), a flexibilidade
aumenta durante a infância e até o princípio da adolescência e depois diminui, ao longo da
vida. É possível que a flexibilidade diminua com o aumento da idade, mas a regressão pode
ocorrer simplesmente porque fazemos cada vez menos exercícios de alongamento à medida
que envelhecemos. É possível também que a flexibilidade diminua por uma combinação das

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duas causas. Ainda, segundo o mesmo autor, a redução da flexibilidade parece caracterizada
pelo envelhecimento e, mais fortemente, pela falta de exercícios de alongamento. Uma vez
instalado o encurtamento muscular limita a habilidade da fibra muscular em transmitir a
energia mecânica com eficiência.
90% das amostras apresentaram IMC dentro da normalidade, sendo que a voluntária
classificada como acima do peso (10%) foi incluída em nossa pesquisa, haja vista que a
alteração no IMC ocorreu devido à grande quantidade de massa magra relacionada à prática
diária de exercícios físicos.
A dor foi referida por 80% das mulheres avaliadas, sendo classificada como dor
moderada. A maioria delas relatou a presença de dor na região posterior das pernas e nos pés
ao fim do dia, após a retirada do calçado de salto alto. Também, referiram a dificuldade em
utilizar calçados sem salto, pois sentem a dor do alongamento da musculatura que já está
encurtada.
Um estudo relacionando dores nos pés em mulheres com a frequência do uso de salto
alto constatou que a sensação de desconforto e dores nos pés está aparente na grande maioria
das mulheres usuárias de salto alto, independente da freqüência do uso. Esses desconfortos
são referidos na região do médio pé, podendo estar relacionado com fato de que o formato do
calçado de salto alto não ser adequado para as características morfológicas (AVILA et al,
2007).
Duas das participantes afirmaram sentirem dor na coluna; uma na coluna torácica, e
outra na coluna lombar. Essas voluntárias são portadoras de um desvio da coluna vertebral, a
escoliose. Porém, segundo CAILLIET (2001), acredita-se que a escoliose é uma manifestação
de envolvimento nervoso da divisão primária posterior, fazendo com que os músculos
ipsilaterais se contraiam. Também, ele afirma que há uma teoria de que a escoliose seja um
mecanismo reflexo por meio do qual a coluna vertebral se flete para o lado oposto do
encarceramento do nervo, pela contração do músculo paravertebral. Ainda, segundo o mesmo
autor, postulou-se que a escoliose é causada por uma perna mais curta, mas foi refutada sua
relação com a dor lombar ou com a hérnia discal lombar.
20% das amostras referiram dor leve, podendo estar essa classificação relacionada ao
uso de antiinflamatórios e relaxantes musculares. 80% das amostras que referiram dor
moderada não fazem uso de medicação (antiinflamatórios, analgésicos, relaxantes
musculares) e não apresentam patologias ortopédicas associadas.

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Nociceptores, terminais periféricos de fibras aferentes primárias que percebem a dor,


podem ser ativados por vários estímulos, como calor, ácidos ou pressão. Os mediadores
inflamatórios liberados a partir de células não neuroniais durante a lesão tecidual aumentam a
sensibilidade dos nociceptores e potencializam a percepção da dor. Acredita-se que a reversão
da sensibilização periférica representa a base mecânica para os componentes periféricos da
atividade anlgésica dos AINEs. AINEs também tem ações centrais importantes na medula
espinal e no cérebro (BRUNTON; CHABNER; KNOLLMANN, 2012).
Por fim, 70% das voluntárias avaliadas apresentaram a cadeia muscular posterior
encurtada.
Conforme SANTOS (2005), o salto alto torna impossível com que as mulheres
consigam tocar inicialmente o chão com o calcanhar, ao apoiar o pé ao chão com o calçado de
salto alto, o pé escorrega para frente, estreitando a largura do pé, essa nova posição impõe
enorme descarga de peso na base dos metatarsianos, sendo uma região muito mais frágil que o
calcâneo. Na região posterior da perna encontram-se a musculatura do tríceps sural, tendo
como função impulsionar o corpo para frente quando andamos. Com o calcanhar mantido
elevado o tempo todo, devido ao uso de salto alto, esse grupo muscular tem grande tendência
a retrair-se, causando o encurtamento. Existem mulheres que não conseguem mais andar com
os pés descalços, devido essa retração, onde referem dores nas panturrilhas que podem refletir
até a coluna.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da presente pesquisa, os resultados demonstraram que mulheres usuárias


freqüentes de salto alto apresentam a cadeia muscular posterior encurtada. Esse encurtamento,
além de ser ocasionado pelo uso de salto alto, pode estar relacionado à idade avançada, no
caso de mulheres mais velhas.
Também, diante dos achados, a dor está presente na maioria das usuárias de salto alto,
sendo localizada na região posterior das pernas e nos pés, quando elas estão descalças ou
utilizando calçados sem salto.
Não podemos afirmar que o uso freqüente de salto alto causa dor na região da coluna
torácica e lombar, pois apenas duas voluntárias apresentaram dor nesses locais.
Sugere-se que seja realizada uma minuciosa análise da avaliação postural modificada
pelos pesquisadores, segundo SANTOS (2001), que foi aplicada às voluntárias, para que se

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possa também relacionar a dor e o encurtamento muscular com as possíveis alterações


posturais presentes nas usuárias de salto alto.

6 REFERÊNCIAS

BRUNTON, L. L.; CHABNER, B. A.; KNOLLMANN, B. C. As Bases Farmacológicas da


Terapêutica de Goodman e Gilman. 12° ed., Porto Alegre: AMGH Editora, 2012.

CAILLIET, R. Síndrome da Dor Lombar. 5° ed., Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.

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Básicas de Saúde de Novo Hamburgo /RS. Trabalho de Conclusão de Curso. Centro
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http://ged.feevale.br/bibvirtual/Monografia/MonografiaMelissaCararo.pdf

CASARIN, C. A. S.; A Influência do Calçado de Salto Alto Sobre a Lordose Lombar


Associada aos Músculos Lombares e Gastrocnêmio. Dissertação. Universidade Estadual de
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http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?view=vtls000383439

JÚNIOR, A. A. Flexibilidade e Alongamento. Barueri, SP: Manole, 2004.

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SANTOS, A. Diagnóstico Clínico Postural: Um Guia Prático. São Paulo: Summus, 2001.

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SANTOS, A.; Postura Corporal: Um Guia Para Todos. São Paulo: Summus, 2005.

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